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329 Revista da ABPN • v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 • p. 329-350 A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NEGRA Eliã Siméia Martins dos Santos Amorim 1 Resumo: Pretende-se discutir a literatura infanto-juvenil e as relações entre emoção-cognição na construção identitária, indicando que tal processo não é algo definido, estático, antes pelo contrário; as nossas formas de nos encontrarmos com nós mesmos se dão ao longo da vida, por processos inconscientes e que se transformam à medida que preenchemos nossas expectativas. Neste sentido, percebe-se que a literatura infanto-juvenil contribui de forma contundente; entretanto a literatura negra ainda não tem a visibilidade e penetração devida nas escolas; contribuindo para que docentes não utilizem este instrumento em seu cotidiano, permitindo que ideologias de branqueamento, exclusão e discriminação perdurem em seu interior através das leituras preconceituosas encontradas em livros infantis de origem europeia e/ou tecidas com visões estereotipadas acerca da negritude e dos valores identitários negros. Palavras-Chave: Identidade Negra. Literatura Infanto-Juvenil. Negritude. CHILDREN'S AND ADOLESCENT LITERATURE AND THE BLACK INDENTITY CONSTRUCTION Abstract: We intend to discuss children's and adolescent literature and the relationship between emotion-cognition in identity building, indicating that such process is not something defined, static, on the contrary; our ways of find ourselves occur throughout life, by unconscious processes that transforms as we fill our expectations. In this sense, we realize that the children and adolescent’s literature contributes forcefully; however the black literature does not yet have proper visibility and penetration in schools; contributing to teachers do not use this instrument in their daily lives, allowing ideologies of whitening, exclusion and discrimination endure in its interior through the prejudiced readings found in children's books of European origin and/or woven with stereotypes about blackness and black identity values. Keywords: black identity, children's and adolescent literature, blackness. LA LITTÉRATURE ENFANTS-JUVÉNILE ET LA CONSTRUCTION DE L’IDENTITÉ NOIR Résumé: Le but ici est discuter la littérature enfants-juvénile et les relations entre l'émotion- 1 Possui Doutorado em Educação pela Universidad del Mar - UDELMAR, Chile (2012). Mestrado em Tecnologias da Informação e Comunicação na Formação em EaD - UFC (2007). Pesquisadora nas áreas de Identidade Negra, Percepção Ambiental e Novas Tecnologias na Educação. É professora assistente da Universidade do Estado da Bahia. Atua em cursos de graduação e Pós-graduação. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em identidade negra, alfabetização, literatura infanto-juvenil, valores, ensino de Geografia, escola e cidadania. E-mail: [email protected]
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A Literatura Infanto-juvenil e a Construção Identitária Negra

Dec 18, 2015

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A Literatura Infanto-juvenil e a Construção Identitária Negra
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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    A LITERATURA INFANTO-JUVENIL

    E A CONSTRUO IDENTITRIA NEGRA

    Eli Simia Martins dos Santos Amorim1

    Resumo: Pretende-se discutir a literatura infanto-juvenil e as relaes entre emoo-cognio na

    construo identitria, indicando que tal processo no algo definido, esttico, antes pelo contrrio;

    as nossas formas de nos encontrarmos com ns mesmos se do ao longo da vida, por processos

    inconscientes e que se transformam medida que preenchemos nossas expectativas. Neste sentido,

    percebe-se que a literatura infanto-juvenil contribui de forma contundente; entretanto a literatura

    negra ainda no tem a visibilidade e penetrao devida nas escolas; contribuindo para que docentes

    no utilizem este instrumento em seu cotidiano, permitindo que ideologias de branqueamento,

    excluso e discriminao perdurem em seu interior atravs das leituras preconceituosas encontradas

    em livros infantis de origem europeia e/ou tecidas com vises estereotipadas acerca da negritude e

    dos valores identitrios negros.

    Palavras-Chave: Identidade Negra. Literatura Infanto-Juvenil. Negritude.

    CHILDREN'S AND ADOLESCENT LITERATURE AND THE BLACK

    INDENTITY CONSTRUCTION

    Abstract: We intend to discuss children's and adolescent literature and the relationship between

    emotion-cognition in identity building, indicating that such process is not something defined, static,

    on the contrary; our ways of find ourselves occur throughout life, by unconscious processes that

    transforms as we fill our expectations. In this sense, we realize that the children and adolescents literature contributes forcefully; however the black literature does not yet have proper visibility and

    penetration in schools; contributing to teachers do not use this instrument in their daily lives,

    allowing ideologies of whitening, exclusion and discrimination endure in its interior through the

    prejudiced readings found in children's books of European origin and/or woven with stereotypes

    about blackness and black identity values.

    Keywords: black identity, children's and adolescent literature, blackness.

    LA LITTRATURE ENFANTS-JUVNILE ET LA CONSTRUCTION DE

    LIDENTIT NOIR

    Rsum: Le but ici est discuter la littrature enfants-juvnile et les relations entre l'motion-

    1 Possui Doutorado em Educao pela Universidad del Mar - UDELMAR, Chile (2012). Mestrado em

    Tecnologias da Informao e Comunicao na Formao em EaD - UFC (2007). Pesquisadora nas reas de

    Identidade Negra, Percepo Ambiental e Novas Tecnologias na Educao. professora assistente da

    Universidade do Estado da Bahia. Atua em cursos de graduao e Ps-graduao. Tem experincia na rea de

    Educao, com nfase em identidade negra, alfabetizao, literatura infanto-juvenil, valores, ensino de

    Geografia, escola e cidadania. E-mail: [email protected]

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    cognition dans la construction de l'identit, en indiquant que ce processus n'est pas dfini, statique,

    bien au contraire; notre formes de nous trouvons avec nous mmes se donnent au long de la vie, par

    des processus inconscients qui transforment comme nous remplissons notre attentes. En ce sens, on

    peroit que la littrature enfants-juvnile contribue avec force; mais la littrature noire n'a pas

    encore la visibilit et la pntration dans les coles; en contribuant aux enseignants qui n'utilisent

    pas cet instrument dans leur vie quotidienne, en permettant que lidologies de blanchiment, l'exclusion et la discrimination perdurent l'intrieur travers les lectures prjudice trouvs dans les

    livres enfants d'origine europen et/ou tiss avec visions les strotypes sur la ngritude et des

    valeurs de l'identits noirs.

    Mots-cls: l'identit noire, Littrature Enfants-Juvnile; Ngritude.

    LA LITERATURA INFANTO JUVENIL Y LA CONSTRUCCIN IDENTITARIA

    NEGRA

    Resumen: Se pretende discutir la literatura infanto juvenil y las relaciones entre emocin-cognicin

    en la construccin identitaria, indicando que tal proceso no es algo definido, esttico, antes lo

    contrario; las nuestras formas de encontrarmonos con nosotros mismos se dan al largo de la vida,

    por procesos inconscientes y que cambian a la medida que rellenamos nuestras expectativas. En este

    sentido, se percibe que la literatura infanto juvenil contribuye de manera contundente; entretanto la

    literatura negra an no tiene la visibilidad y la penetracin necesaria en las escuelas; contribuyendo

    para que los docentes no utilizan esta herramienta en su cotidiano, permitiendo que ideologas de

    blanqueamiento, exclusin y discriminacin perduren en su interior a travs de la lecturas

    prejuiciosas encontradas en los libros infantiles de origen europea y/o tejidas con visiones

    estereotipadas acerca de la negritud y de los valores identitarios negros.

    Palabras-clave: Identidad Negra; Literatura Infanto-juvenil; Negritud.

    EMOO E COGNIO A PARTIR DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

    A criana que fui chora na estrada.

    Deixei-a ali quando vim ser quem sou.

    Quero ir buscar quem fui, onde ficou.

    (Fernando Pessoa)

    Estudos e concepes filosficas e cientficas pautadas em epistemologias

    Behaviorista e/ou Inatista Maturacional colocam cognio e emoo em campos

    diferenciados, que pressupem processos de compreenso tambm distintos. Neste estudo,

    pretende-se discutir que ambos fazem parte de um nico processo; discutindo luz das

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    Teorias da Modificabilidade Cognitiva (FEUERESTEIN, 1994) e Inteligncia Emocional

    (MAYER, CARUSO; SALOVEY, 1999) e (GOLEMAN, 1995), considerando-as de

    importncia fundamental para a compreenso dos sujeitos e na possibilidade de permitir a

    incluso de alunos, atravs de um trabalho efetivo que leve em conta a mediao de

    pertencimento e competncia.

    As teorias que pretendem desvelar as emoes e de que forma interferem no

    desenvolvimento cognitivo dos indivduos no novo; porm, nas ltimas dcadas tem sido

    alvo de maiores indagaes e interesse; derivando polmicas, no somente no campo

    educacional, antes, contudo, a preocupao com o sujeito integral, holstico, vem

    despertando interesse de cientistas e pesquisadores em todo o mundo.

    A relao mente/emoo ora discutida em campo filosfico e cientfico pressupe

    dualidade, ou mesmo hierarquia, onde as emoes sugerem um desafio a ser vencido; uma

    batalha do esprito contra enfermidades que podem levar loucura ou perda da razo.

    Na Repblica, Plato (427 a.C - 347 a.C) sugere que, o carter sensato e disposto

    liberta das paixes e sentimentos selvagens e delirantes (2002, p. 13). E as compara,

    sugerindo a teoria das trs almas (Livro III, 415 a-e) mas o deus que vos modelou, queles

    dentre vs que eram aptos para governar, misturou-lhes ouro na sua composio, motivo

    por que so mais preciosos; aos auxiliares prata; ferro e bronze aos lavradores e demais

    artfices (p 109 a 110); num conceito de almas diferenciadas hierarquicamente, sendo

    concupiscvel (bronze), irascvel (prata) e a racional (ouro); onde emoes valem menos

    que o raciocnio.

    A metafsica aristotlica (384 a.C. - 322 a.C) concebe o ente como um ser composto

    de matria (hyl) e forma (eidos), encontrando-se no acidente a mudana das caractersticas

    do ser, e no movimento, advindo das experincias sensveis o sentido do prprio ser; ou

    seja, no existe essncia inata. Tudo experincia. Sartre (1905 1980) retoma tal conceito

    ao afirmar que o homem mesmo quem produz aquilo que , por sua liberdade.

    Em Freud (1973) pensamento e emoo concorrem num sentido de ego cogitans

    contra o ego agens como condio de autopreservao e autodesenvolvimento, numa

    sugesto de que sendo duas substncias especficas e independentes podem duelar entre

    si. Conceitos estes fortemente defendidos por Kant (1724 1804) que considerava as

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    paixes como "enfermidades da alma ou um cncer", denotando uma hierarquia entre a

    razo e as emoes, pois estar submetido s emoes e s paixes sempre uma doena

    do nimo, porque as duas excluem o comando da razo. Em uma e outra, elas degradam-se

    em violncia (KANT apud CENCI, s/d, p.5).

    Diferentemente, na contemporaneidade, encontramos em Piaget (1896-1980),

    Vygotsky (1896 -1934), Wallon (1812-1904), tericos da Psicologia, o conceito de que a

    afetividade e a cognio so inseparveis. O sentido de unicidade (Aristotlico) ou

    dualidade da matria/esprito (DESCARTES, 1596 1650 apud INTERNET

    ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY, s.d) encontram na interao os pontos divergentes

    quanto episteme, pois, embora divergentes quanto s substncias (afeto e cognio),

    ambas esto intrissecamente relacionadas e indissociveis.

    Segundo Vygostsky, (2007) os indivduos interagem com o ambiente sociocultural

    desde seu nascimento de onde vo construindo suas relaes afetivas e cognitivas, e por ele

    vo sendo moldados. Portanto, o contedo scio emocional ou afetivo nas linguagens,

    dos diferentes lugares, concorre no sentido de permitir o desenvolvimento dos sujeitos e

    suas cognies. No entanto, importante que se ressalte o papel das configuraes

    ontogenticas e sociogenticas, que se entrecruzam, permitindo que cada um seja figurante

    de sua prpria histria, uma vez que a linguagem egocntrica distinta a cada sujeito.

    O sistema simblico e figurativo da linguagem ainda contribui para que

    cognitivamente, cada indivduo crie sua viso de mundo e dela faa suas leituras

    (FREIRE, 1979). Contudo, parece-nos, que determinados costumes, crenas, mitos,

    arqutipos fazem parte de um mundo social por onde somos mergulhados, e dos quais se

    torna, muitas vezes, impossvel nos dissociarmos dele.

    Ibaez (1989, p. 118) apud Traverso-Ypez (1999), afirma: "no a natureza do

    objeto, mas o tipo de relao em que o fenmeno est inserido, o que lhe confere sua

    dimenso social, e esta relao eminentemente simblica." (p. 1). Ou seja, o social do

    psiquismo humano no est determinado pela tipologia dos "objetos" (outros sujeitos), mas

    se constitui a partir da construo de um mundo de significados compartilhados num

    conglomerado humano, sendo, portanto, um processo social, cultural e historicamente

    situado. (TRAVERSO-YPEZ, 1999), que imbricados s habilidades cognitivas e as

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    formas de estruturar o pensamento representam o resultado das atividades praticadas, de

    acordo com os hbitos sociais da cultura em que o indivduo se desenvolve.

    Desta forma, as histrias pessoais funcionam como espelho das histrias da

    sociedade na qual os sujeitos se desenvolvem, pois para Vygotsky (2007) Uma palavra que

    no representa uma ideia uma coisa morta, da mesma forma que uma ideia no

    incorporada em palavras no passa de uma sombra. ( p. 1).

    Percebe-se que as linguagens dos alunos das classes populares refletem o meio

    scio cultural e econmico em que vivem e representam mais do que um discurso: so suas

    histrias de vida e perspectivas de futuro, que se estampam nos atos cotidianos e no

    prolongamento de insucessos, evidenciando as suas trajetrias escolares e fortalecendo a

    excluso, pela compreenso de que esto no lugar errado. De que a escola realmente no foi

    feita para eles, cabendo apenas confirmar o veredicto a eles predestinado: as ruas, os

    subempregos, a pobreza e o ciclo vicioso do fracasso na vida.

    Arroyo (2004) indica que As crianas e adolescentes em seus rostos violentos ou

    em seus gestos indisciplinados, mais do que revelar-se, revelam o lado destrutivo da

    civilizao(p.12). E continua: as trajetrias humanas condicionam as escolares. (idem,

    ibdem, p. 82).

    Desta forma, cabem-nos as questes:

    De que forma as crianas e pr-adolescentes negros compreendem suas origens?

    A literatura pode influenciar ou colaborar na formao da identidade da criana e do

    adolescente?

    Ou seja, a escola pode contribuir, atravs da linguagem, para modificao do

    equilbrio socioafetivo de alunos marcados pela inferiorizao e sentimentos de excluso?

    ainda Arroyo (idem) que denuncia o mal estar docente acerca destes alunos, que

    engrossam as fileiras do abandono e descaso e conclamam o encontro de novos paradigmas,

    pois reconhecer os educandos (as) como habitantes legtimos da escola implica em criar

    condies estruturais para que a ocupem como o seu territrio (p. 27).

    O que se prope a discutir se a linguagem escolar pode possibilitar o reverso da

    contracultura, e consequentemente, permitir a incluso dos alunos egressos das camadas

    populares, nos espaos sociais pelo sentimento de afeto e cognio fortalecidos.

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    Iniciaremos por discutir conceitos de linguagem cultural e escolar.

    A LINGUAGEM, COGNIO, AFETIVIDADE E IDENTIDADE

    Os estudos da neurofisiologia e neurocincias tm trazido contribuies relevantes

    para a compreenso do crebro humano, que em sua configurao encontra-se integrado a

    todo conjunto do corpo por circuitos bioqumicos e neurais recprocos em duas vias

    principais de interconexo. Primeiro por nervos motores e sensoriais perifricos, que

    transportam sinais de toda parte do corpo para o crebro, e do crebro para todas as partes

    do corpo e outra que transporta sinais qumicos (hormnios, neurotransmissores e os

    neuromoduladores) que a corrente sangunea. (DAMSIO, 1996).

    Alm de tais condies, o conceito de plasticidade cerebral remete capacidade de

    remodelar-se ou modificar-se em funo das necessidades individuais de adaptao.

    Segundo Sylwester (1995), a plasticidade fisiolgica permite aprendizagens para toda a

    vida e por outro lado as aprendizagens permitem modificaes cerebrais. O neurocientista

    Feuerstein (1988) afirma que:

    (...) uma interao qualitativa entre o organismo e seu meio ambiente. Esta

    qualidade assegurada pela interposio intencional de um ser humano que medeia

    os estmulos capazes de afetar o organismo. Este modo de interao paralelo e

    qualitativamente diferente das modalidades de interao generalizadas e difusas

    entre o mundo e o organismo, conhecido como contato direto com o estmulo (p. 7).

    Para ele, possvel alterar os processos mentais e scio afetivos da aprendizagem

    pela mediao docente; mesmo naqueles indivduos bloqueados ou desestruturados

    patologicamente, atravs do trabalho significativo nas zonas de desenvolvimento proximal

    (VYGOSTKY, 2007); atuando significativamente para a construo das estruturas a

    qualquer tempo ou idade do indivduo, uma vez que o organismo vivo e ativo.

    A Experincia da Aprendizagem Mediada - EAM - requer a presena de trs

    parmetros (que Feuerstein denomina de critrios de mediao) que so o objeto de ateno

    deliberada por parte do mediador: Intencionalidade e Reciprocidade, Transcendncia e

    Significado.

    Sendo um otimista acerca das possibilidades humanas para aprender, Feurestein

    (1988) coloca na Privao Cultural ou ausncia/incapacidade de interaes sociais,

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    atravs da Sndrome de Privao Cultural as dificuldades na aprendizagem dos

    indivduos e para isto que a aprendizagem mediada aparece como sustentao para as

    experincias significativas, que permitem a construo da aprendizagem. Ele coloca:

    [...] ser otimista se sentir responsvel. Voc diz a um indivduo que ele pode se

    modificar, que ele pode chegar a um nvel mais alto de funcionamento, que ele pode

    chegar a uma independncia que lhe permitir contribuir, de maneira significativa,

    com a sociedade. Quando voc mostra que ele pode ser um indivduo consciente,

    responsvel por ele mesmo e por aquilo que acontece ao redor de si, quando voc

    postula esta modificabilidade, ento voc est engajado. Quando ns acreditamos

    que isso possvel, direito deles e dever nosso tornar isso possvel. (p. 34).

    Gomes (2002) elenca dois sentidos na mediao docente, pautadas na Teoria da

    Modificabilidade Cognitiva:

    1) Mediao do sentimento de pertencimento, que est relacionado forma como o

    indivduo se relaciona consigo mesmo e com o grupo, e tal fenmeno varia a cada grupo

    cultural, no sentido de identidade. Para Gomes, (2002):

    ... O ser humano, para manter sua sade mental, precisa sentir-se em casa, ou seja, pertencer a algo ser reconhecido e reconhecer, ser identificado e identificar seus pares e ter certa relao de ser parte de um todo maior, que o acolhe e o protege. Pertencer a algo, alm de nos descentrar de uma onipotncia egocntrica, acalenta

    um sentimento de prazer, de comunho, j que o ser humano no pode responder

    sozinho pelas suas questes existenciais.

    (...) A mediao do pertencimento enfatiza: veicula o mediado nas suas razes

    sociais e ensina-o a estabelecer laos e referncias psicossociais que iro ancorar,

    por sua vez, a construo de uma histria de vida com passado, presente e futuro. (s/p)

    Compreende-se que o pertencimento tambm algo que se ensina e aprende. No

    inato.

    2) Mediao do sentimento de competncia, pela elevao da autoestima, onde o sujeito

    se v capaz de realizar as aes exigidas pelo grupo social ao qual faz parte. Enriquecendo

    as possibilidades de novas construes e aprendizagens.

    Meyer, Caruso e Salovey (1999) tem mostrado que as emoes so importantes para

    pensar corretamente. Elas reorientam, priorizam e dirigem o pensamento, pois: facilitam as

    decises e julgamentos; a compreenso dos estados de nimo; organizam informaes e os

    estados emocionais.

    Goleman (1995) em seus estudos tem procurado mostrar a importncia de uma

    educao para o desenvolvimento emocional, ou metaemoo; no sentido de gerir seus

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    prprios sentimentos; organizar suas funes mentais; adaptar-se a novas situaes e

    ambientes culturais distintos e relacionar-se com os outros. Sem dvida, elementos

    indispensveis para o equilbrio mental e social dos indivduos.

    Os cinco passos por ele elencados, na construo desta educao emocional seriam:

    1. Desenvolver Empatia (capacidade de sentir o que o outro sente); 2. Reconhecer a emoo

    como oportunidade de intimidade e orientao; 3. Ouvir o outro, legitimando seus

    sentimentos; 4. Nomear e verbalizar emoes e por fim, 5. Impor limites, ajudando o outro

    a encontrar solues.

    Embora muitos tericos ainda se contraponham s Teorias da Inteligncia

    Emocional, como apontado por Muniz e Primi (2008), que indicam ser essa diferenciao

    entre inteligncia emocional e personalidade j vem sendo constatada em pesquisas

    anteriores: (BRACKETT, MAYER e WARNER, 2004; BUENO, 2003; COBRO, PRIMI,

    MUNIZ, 2006; DANTAS, 2004; LOPES et al., 2004; PRIMI, BUENO; MUNIZ, 2006).

    O que se observa tambm que tal rejeio se deve pelo ceticismo configurado por

    resqucios da Cincia Moderna, que subjuga as questes emocionais colocando-as num

    segundo plano por compreend-las como campo do esprito e no da mente. Contudo, h de

    perceber que tais teorias trazem luz um novo paradigma, necessrio e humano para as

    relaes entre alunos, professores e aprendizagens.

    A concepo de que cognio e afetividade so elementos dissociados e, portanto

    inerentes a algumas pessoas e outras no, tem levado a muitos enganos conceituais e na

    postura de docentes, que mesmo se inteno; acabam por excluir alunos dos meios de

    aprendizagem e da escola. Por crer que ambos funcionam e pertencem a uma mesma

    configurao ou estruturao cerebral, e que pode ser modificada, a partir das contribuies

    valiosas da neurologia e neurocincias; e de tericos como Feuerestein, Luria, Vygotsky,

    Piaget e outros contemporneos, cujo cerne epistemolgico centra-se na mediao e

    interao dos sujeitos com o meio cultural; que tal estudo se fundamenta.

    Contudo, cr-se que, muitos docentes no conseguem desvencilharem-se dos mitos

    do dom de aprender e com isto, ainda presencia-se nos seios das escolas o fenmeno do

    fracasso escolar, sentido e confirmado nas estatsticas da Amrica Latina e em especial, das

    brasileiras, atravs de seus rgos de avaliao institucional.

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    A mediao deve partir da ao da escola em contribuir com a mudana de

    paradigmas e principalmente, no compromisso de atos educativos que potencializem as

    aprendizagens dos alunos das camadas populares e dos que precisam ver-se competentes e

    includos na sociedade, produtores de conhecimento e partcipes da vida cidad.

    LITERATURA E NEGRITUDE

    Eu s existo porque ns existimos.

    tica Ubuntu

    Apesar dos tericos da literatura reconhecerem que os livros para crianas foram

    produzidos somente ao final do Sculo XVII e durante o Sculo XVIII, (ZILBERMAN,

    2003; SOUZA, 2006), a histria da humanidade revela que as representaes de mundo,

    dos seres e da natureza sempre estiveram permeadas de imaginao e fantasia, atravs dos

    contos, onde os seres fantsticos misturam-se realidade, permitindo a criao e a

    explorao do desconhecido, primeiramente de forma oral e, depois, nas sociedades

    letradas atravs de desenhos, histrias e relatos escritos.

    Meireles (1979) afirma que:

    A Literatura precede o alfabeto. Os iletrados possuem a sua Literatura. Os povos

    primitivos, ou quaisquer agrupamentos humanos alheios ainda s disciplinas de ler

    e escrever, nem por isso deixam de compor seus cnticos, suas lendas, suas

    histrias; e exemplificam sua experincia e sua moral com provrbios,

    adivinhaes, representaes dramticas vasta herana literria transmitida dos tempos mais remotos e de boca em boca. (p. 19-20)

    A literatura em que envolve a mitologia e/ou o sagrado descrita nas comunidades

    primitivas, onde os xams, sacerdotes, feiticeiros e sbios revelam segredos e ordenanas

    dos deuses ao povo, vide as comunidades que habitavam as regies do Oriente a. C (judeus,

    mulumanos, rabes, chineses, africanos e outros) e na Idade Antiga com os gregos,

    romanos, nrdicos e egpcios; perdurando at os dias de hoje em muitas, inclusive entre os

    ndios brasileiros.

    Os livros sagrados das religies judaico-crists contam acerca da criao do mundo,

    dos destinos da humanidade atravs de contos e histrias. O Cristo revelado na Bblia fala

    aos seus discpulos por meio de parbolas. De sorte que, compreendemos que a literatura

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    para o pblico infantil teve seu reconhecimento formal e registrado somente depois do

    Sculo XVII, mas de fato j existia, permeando as mentes e tornando ldica a construo

    do cotidiano.

    Com a concepo de que a criana era um ser diferente do adulto (ROUSSEAU,

    1973); e de braos dados com a Pedagogia, que a literatura infantil torna-se de fato um

    instrumento til na educao.

    Zilberman (2003) aborda que os primeiros livros com fins didticos traziam em seu

    bojo uma nova configurao familiar, cujo modelo aproximava os laos familiares, uma vez

    que o sentido de infncia passa a ser percebido diferentemente das necessidades do adulto;

    contudo, vieram tambm os meios de controle do desenvolvimento intelectual e emocional

    das mesmas; por defender as relaes de poder na sociedade; o modelo poltico burgus,

    em oposio nobreza feudal; a viso de um mundo centrado na famlia, seus valores do

    casamento institucionalizado como meio de assegurar legitimidade dos herdeiros e a

    educao destes, de forma enciclopdica. Viso esta percebida nas obras de Comenius -

    Orbis Pictus e Didtica Magna (1592-1670), Basedow - Livro dos Mtodos para Pais e

    Naes (1723-1793) e outros.

    Com a Idade Moderna e os apelos das camadas burguesas escolarizao de seus

    filhos, do status concedido infncia pelas ideias de uma pedagogia inovadora em

    Rousseau, Pestalozzi e Froebel (Sculo XVIII), contudo, o iderio econmico do

    liberalismo j consubstanciado socialmente; a literatura destinada aos jovens e infantes

    aparece como uma colnia da pedagogia, extirpada da arte, com finalidade pragmtica,

    comprometida com a inculcao dos valores de dominao e subservincia de uma classe a

    outras. (ZILBERMAN, 2003).

    Para Luz, (2008), Zilberman (2003), Bernard Charlot (1979), Meireles (1984); tem-

    se como consequncia imediata a valorizao da infncia como etapa diferenciada, que

    envolve fragilidade biolgica, fsica e psquica, cuja inocncia natural agrega maiores

    cuidados e proteo sobre sua formao de carter; contudo, alijada da produo econmica

    ser em dependncia total da vontade adulta, portanto vulnervel corrupo social.

    Neste sentido faz-se mister compreender que:

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    Os tratados pedaggicos so fechados, ideologicamente carregados de valores

    burgueses liberais (ARANHA, 1989; RIBEIRO, 1993; ROMANELLI, 1991);

    A escola atua como agncia credenciada formao acadmica, cujo currculo

    manipula os saberes que devem ser inculcados, acentua a diviso entre

    indivduo e sociedade e entre si, numa competio pelos esforos pessoais, sem

    levar em conta as diferenas e experincias individuais; contribui para a diviso

    de classes e de gnero; impede a formao de grupos variados e da diversidade

    prpria de cada lugar quando impe o critrio nico de aceitao: a escola

    para homens brancos e ricos. (BOURDIEU; PASSERON, 1976; ALTHUSSER,

    1983; FREITAG, 1986; MOCHCOVITCH, 2001);

    As relaes escola e vida contrariam a ordem natural, uma vez que se negado

    o social para introduzir o normativo, sem questionamentos, politicidade e

    crtica. (FREIRE, 1987).

    De igual forma, a literatura, refm da pedagogia burguesa, serve como instrumento

    de multiplicao da ordem em vigor,

    (...) seja pela atuao de um narrador que bloqueia ou censura a ao de suas

    personagens infantis; seja pela veiculao de conceitos e padres comportamentais

    que estejam em consonncia com os valores sociais prediletos; seja pela utilizao

    de uma norma lingustica ainda no atingida por seu leitor, devida falta de

    experincia mais complexa na manipulao com a linguagem. (ZILBERMAN,

    2003, p. 23)

    Que de acordo com Palo e Oliveira (2006) a ausncia de abstrao compensada

    pela concretitude, (...) que vai da operao mais simples mais complexa do pensamento

    (p. 6) e este o caminho pedaggico para a construo do conhecimento.

    Ainda para Zilberman (2003); a literatura enquanto arte sujeitou-se ao ensino

    pedagogizante cujo texto se revela como um manual de instrues; no entanto pode provar

    sua utilidade e beleza quando se tornar espao de reflexo social e da prpria condio do

    indivduo, pois a fico permite invadir e recriar a viso de mundo, por meio de smbolos e

    linguagem, que extrapola condicionantes de gnero, classe e da realidade circundante.

    Neste sentido, o contato direto com o texto implica em alargamento dos

    horizontes; que expressos pela (re) apropriao dos mitos, contos, fbulas, lendas ou pelo

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    relato de aventuras possvel perceber-se em que contexto se est inserido e com o qual

    pode vivenciar sua realidade, num processo de intercmbio entre cognio e emoo.

    Zilberman (idem) afirma que:

    Da representao da criana no livro infantil decorrer o tratamento artstico de sua

    busca de identidade e lugar social. Se o resultado ficcional pode apresentar

    caminhos comprometidos com o leitor, na medida em que lhe propiciam o

    reconhecimento e a soluo para seus dilemas internos, o contrrio tambm pode

    ocorrer. (p. 102)

    Na atualidade, sem perder o formato pedaggico; e muitas vezes confundida com o

    livro didtico, a literatura infantil continua a servio de ideologias e de classes, mesmo que

    no percebidas pelo adulto interlocutor, narrador ou que se utiliza dos textos enquanto

    pretexto de lies que necessitam ser apreendidas pelos alunos. (PALO; OLIVEIRA,

    2006).

    So caractersticas da literatura infantil, cuja origem histrica est na adaptao:

    1 Do assunto: linguagem clara, objetiva, texto coerente com as necessidades

    infantis e principalmente que incorpora um contedo comportamental e

    doutrinrio aceitao de valores socialmente impostos;

    2 Da forma: visando prender a ateno do leitor, os personagens tm

    sequncias de encadeamentos lineares e marcantes, sem delongas e finalidades

    morais;

    3 Do estilo: frases curtas e com vocabulrio que no excede a compreenso do

    leitor;

    4 Do meio: presena de ilustraes e formato colorido, agradvel e prtico.

    Contudo, j possvel perceber na contemporaneidade uma ruptura com modelos

    socialmente impostos pela cultura burguesa em se tratando da literatura infantil brasileira, a

    partir de meados dos anos 70, do Sculo XX.

    So autores como Ruth Rocha, Elisa Lucinda, Ziraldo, Srgio Caparelli, Ceclia

    Meireles, Lygia Bojunga e tantos outros, que se percebem o imaginrio e o real frente a

    frente, com denncias sociais, o rompimento com a sacralidade dos contos de fadas e a

    aproximao com o real, sem, contudo, perder suas caractersticas de vanguarda quanto

    forma, estilo e meio, mesmo porque as crianas de hoje no se assemelham s da Idade

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    Mdia ou Moderna. Ou seja, investe-se na inteligncia e na sensibilidade da criana, agora

    sujeito de sua prpria aprendizagem e capaz de aprender do e com o texto. (PALO;

    OLIVEIRA, 2006, p. 12).

    Para Abramovich (1997) a literatura faz-se importante na vida das crianas porque

    principia sua aprendizagem num caminho absolutamente infinito de descoberta e

    compreenso de mundo (p. 16); uma vez que suscita o imaginrio; possibilita descobrir

    um universo de conflitos, impasses, solues e alternativas porque todos passam; desperta a

    curiosidade natural; ouvindo histrias que se pode sentir toda sorte de emoes (raiva,

    tristeza, alegria, euforia, pavor, insegurana, etc.); podem-se descortinar a Geografia,

    Histria, Filosofia, Poltica, Sociologia, tica sem a feio da sala de aula.

    Entretanto, ainda no final do Sculo XX; as figuras do negro e do ndio, partcipes

    da histria nacional, aparecem somente de forma folclorizada e mtica, alijada da realidade

    social e segundo Souza (2006) tais personagens no tm destaque na literatura infantil

    brasileira, e quando so mencionados, aparecem de forma jocosa, humilhante e

    inferiorizada; tal como em Monteiro Lobato (1956), que descreve a empregada Tia

    Anastcia de preta com alma de branco, uma vez que todos sabem que ela preta s por

    fora. (p. 166)

    Sem dvida, a literatura necessita demarcar os seus limites e fronteiras com o que

    no literatura ou formas no literrias, e da funo que ela exerce sobre contexto

    emancipatrio, reconhecimento e superao de problemas individuais e/ou sociais que

    provm o seu valor. Alm de que, como caractersticas intrnsecas esto: a presena do

    fantasioso, do imaginrio, do contedo onrico e imagtico imbricados; a peculiaridade de

    apresentar universo em miniatura. (ZILBERMAN, 2006; BETTELHEM, 2001). Acima de

    tudo preciso compreender como se d a literatura africana em suas matizes e de igual

    forma contemplar a figura dos negros e seus descendentes no acervo brasileiro no s pela

    importncia histrica que imprime, mas como meio de construo identitria.

    Literatura Africana e Afrodescendente

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    A literatura nas comunidades negras, pela sua tradio e histria, foi passada por

    muitos sculos atravs da oralidade. Os contos, canes, lendas e mitos reforam a cultura

    do grupo e transmitem o sentimento de pertencimento e identidade. Estas manifestaes

    tambm comprometidas com a luta de libertao do povo representam ainda hoje

    estratgias de luta.

    Debruados sobre a sapincia dos velhos africanos, enquanto guardies da memria,

    que nos grupos e comunidades eram, e ainda o so, cantadas e contadas em forma de

    versos, lendas e canes, a histria, os embates, os heris, a resistncia negra contra

    colonizadores. Em tais circunstncias, a literatura vem de certa forma, assegurar o direito

    fala, pois pela criao potica pode-se ocupar um lugar vazio apresentando uma contra fala

    ao discurso oficial, ao discurso do poder. (PROENA FILHO, 2004) e de certa forma, O

    canto potico planta e rega a memria coletiva (p. 1).

    Submetidos s disporas, os momentos dedicados literatura grupal e tais retratos

    vividos e poetizados no foram esquecidos. Luz (2008) indica que indivduos negros

    isoladamente ou em seus grupos registraram a histria e fora negra, divulgando a lngua de

    suas ancestralidades, publicando livros e contribuindo para a formao de acervos acerca da

    cultura essencialmente africana, a exemplo de Mestre Didi (1961) e as tradies do povo

    nag, no Brasil.

    No entanto, a historiografia nacional brasileira, por longos anos, nos fez acreditar na

    figura do negro ou da negra apticos, sem fora, indolentes e preguiosos, que faz parte de

    uma totalidade ideologizante, que busca ocultar o verdadeiro sentido do que ser africano ou

    afrodescendente.

    Desta forma, o negro foi completamente esquecido nos livros de literatura e

    didticos, aparecendo sempre como algum que teve uma participao na fora produtiva

    do pas, em momentos recortados e isolados, tais como na agricultura aucareira e no

    processo abolucionista de rompimento escravagista. Fatos estes comemorados ou indicados

    nos livros, como perodos de pouca valia; em que a figura dos brancos sempre se destaca,

    inclusive da Redentora Isabel com sua pena urea que bondosamente os livra da

    escravido.

    Somente no Sculo XX; em especial a partir das dcadas de 20 e 30, a partir de uma

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    ateno voltada para a construo identitria procurou-se registrar a histria tipicamente

    nacional e desta forma, como meio de garantir a formao de valores, passa-se a escrever

    criana brasileira na sua linguagem, sobre sua gente, suas razes raciais e culturais. No

    entanto, a presena do negro na literatura brasileira no escapa ao tratamento

    marginalizador que, desde as instncias fundadoras, marca a etnia no processo de

    construo da nossa sociedade. (PROENA FILHO, 2004, p. 1)

    Os textos desta poca traduzem personagens negros pertencentes s sociedades

    arcaicas, ultrapassadas, atrasadas, ignorantes e primitivas, como um retrato do continente

    africano e de igual forma, a escravido representada como marca de vergonha e atraso,

    assim, como o corpo negro, as prticas e histria desta ou daquela nao.

    No incomum perceber a presena dos negros idosos e negras que se transformam

    em personagem constantes, como contadores de histrias, feiticeiros, benzedeiros ou

    cozinheiras para crianas brancas; meninos negros abandonados prpria sorte a fazerem

    molecagens como pequenos marginais; os homens e mulheres bem feitos de corpos, cujo

    valor est no tamanho de seus atributos sexuais e na fora primitiva do sexo. (GOLVA,

    2005).

    A viso passada pelas histrias sobre a cultura africana traz elementos bastante

    primitivos, carregados de valor afetivo, associados ingenuidade, estereotipia e

    simplificao, prprios de uma perspectiva folclorizada. Tais questes necessitam de uma

    reviso de forma que:

    Possamos compreender os mecanismos de excluso legitimados pela sociedade. Por

    exemplo, quando nos referimos literatura brasileira, no precisamos usar a

    expresso literatura branca, porm, fcil perceber que, entre os textos consagrados pelo cnone literrio, o autor e autora negra aparecem muito pouco, e, quando aparecem, so quase sempre caracterizados pelos modos inferiorizantes

    como a sociedade os percebe. Assim, os escritores de pele negra, mestios, ou

    aqueles que, deliberadamente, assumem as tradies africanas em suas obras, so

    sempre minoria na tradio literria do pas. (Proena Filho, 2004, p.13)

    Nota-se claramente uma viso estereotipada de cultura nos textos do incio do

    Sculo XX de escritores brasileiros que buscaram escrever na literatura infantil sobre os

    negros no Brasil. A exemplo, v-se na fala de D. Benta, personagem do Stio do Pica-Pau

    Amarelo, obra de Monteiro Lobato (1937), o reflexo deste pensar:

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    Ns no podemos exigir do povo o apuro artstico dos grandes escritores. O povo...

    Que o povo? So essas pobres tias velhas, como Nastcia, sem cultura nenhuma,

    que nem ler sabem e que outra coisa no faz em seno ouvir as histrias de outras

    criaturas igualmente ignorantes, e pass-las para outros ouvidos, mais adulteradas

    ainda. (p. 30)

    O povo representado pela pobreza negra, ignorante e infantilizada, crdula e de

    poucas oportunidades, a quem no adianta educar os sentidos e mente.

    A literatura infantil caracterizada pela criatividade de seus autores mantm o padro

    da imaginao e o uso do fantstico em suas representaes e Tales de Andrade (1919)

    anteriormente, induz que o negro precisa embranquecer e para isto utiliza-se da magia, do

    irreal e ilusrio para confirmar seu preconceito e racismo. No texto Prola da Manh, ele

    descreve como fazer tal ao:

    Tamil disse-nos que os primeiros homens que foram criados viviam margem de

    um grande rio, que fica para l!, Disse Prola da Manh, apontando para o norte.

    Eram todos pretos. Mas, alguns deles que sabiam nadar... Atravessaram o rio para o

    outro lado. A gua lavou-os e eles ficaram brancos. Desde ento, os homens brancos

    esto sempre a estender os braos, convidando os homens pretos a tambm

    atravessarem o rio (...) eu tambm desejava atravess-lo nado, a fim de tornar-me

    branca. (p. 32)

    Para Luz (2008) a literatura infantil brasileira utiliza os discursos mticos da

    religio, linguagens e figuras de forma severa e crtica, reprimindo-os em nome da

    civilizao; procurando atacar as fontes que asseguram o orgulho e identidade negra, como

    os valores de progenia e continuidade da existncia, utilizando-se de termos agressivos,

    injustos e indelicados como criolo doido, negra maluca, negra do balaio grande, cabelo

    ruim, macaca, negro feiticeiro; reduzindo todas as aes e valores negros ao mstico,

    perigoso, satnico, marginal. Tais barreiras e representaes ideolgicas visam

    desumanizar os africanos e seus descendentes e deix-los merc da manipulao das

    polticas genocidas. (p. 24).

    No entanto, no desta literatura que se pretende estabelecer como referencial

    cultura negra ou dos valores negros presentes em nossa histria, e base desta pesquisa uma

    vez que:

    O resgate dos mitos, a proximidade cultural com a frica, mas sem distores

    nostlgicas, e com outros pases em que a discriminao existe; o tempo escravo

    repensado, as revoltas, a situao do negro e de seus descendentes na construo

    socioeconmica do pas e sua marcada participao nos tempos heroicos da

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    formao da nacionalidade, as contribuies lingusticas colocadas em evidncia na

    nossa lngua portuguesa do Brasil, podem, entre outros traos, contribuir, atravs da

    transfigurao na literatura, para o melhor conhecimento e o redimensionamento da

    presena do negro na sociedade brasileira. So verdades e valores capazes de se

    opor vigorosamente aos esteretipos e preconceitos ainda vigentes no

    comportamento de muitos brasileiros. (PROENA FILHO, 2004, n. p)

    Se de fato a literatura brasileira conseguir romper esteretipos e ranos

    discriminatrios, poder marcar uma nova poca onde a literatura negra seja de fato

    brasileira, como marca identitria e no uma literatura "negra" ou "marrom". (PROENA

    FILHO, 2004).

    Lobo (1989) afirma que:

    Um dos aspectos primordiais que ao meu ver define a literatura negra, muito

    embora no seja um elemento norteador, em geral, dos estudos sobre o assunto, o

    fato de a literatura negra do Brasil ou afro-brasileira ter surgido quando o negro passa de objeto a sujeito dessa literatura e cria a sua prpria histria; quando o

    negro visto geralmente de forma estereotipada, deixa de ser tema para autores

    brancos para criarem sua prpria escritura no sentido de Derrida: a sua prpria

    viso de mundo. S pode ser considerada literatura negra, portanto, a escritura de

    africanos e seus descendentes que assumem ideologicamente a identidade de

    negros. (p. 91)

    Mrcio Barbosa (1985), coloca a questo: Pode-se falar de uma literatura negra?

    (p. 51). Quando falamos de sujeito na literatura negra no estamos falando de um sujeito

    particular; de um sujeito construdo segundo uma viso romntico-burguesa, mas de um

    sujeito que est abraado ao coletivo.

    preciso perceber que sujeitos da literatura negra tm a sua existncia marcada por

    sua relao, e por sua cumplicidade com outros sujeitos. Temos um sujeito que, ao falar de

    si, fala dos outros e, ao falar dos outros, fala de si. (ORLANDI, 1988, n. p)

    A pluralidade emerge quando se trata de recontar a histria negra africana ou

    afrodescendente onde as vozes so coletivas, prprias de um grupo marcado e resistente,

    que muito tem a mostrar, ou seja, Tudo adquire um valor coletivo. (DELEUSE;

    GUATARRI, 1997, p. 25).

    O que caracteriza uma literatura negra no somente a cor da pele ou as origens

    tnicas do escritor, mas a maneira como ele vai viver em si a condio e a aventura de ser

    um negro escritor. No podemos deixar de considerar que a experincia negra numa

    sociedade definida, arrumada e orientada por valores brancos pessoal e intransfervel.

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    E, se h um comprometimento entre o fazer literrio do escritor e essa experincia

    pessoal, singular, nica, se ele se faz enunciar enunciando essa vivncia negra, marcando

    ideologicamente o seu espao, a sua presena, a sua escolha por uma fala afirmativa, de um

    discurso outro diferente e diferenciador do discurso institucionalizado sobre o negro

    podemos ler em sua criao referncias de uma literatura negra.

    David Brookshaw (1983) reconhece que os escritores negros podem produzir

    internalizando e defendendo esteretipos contra eles mesmos, todavia faz uma ressalva:

    (...) O aspecto importante a emergir da obra dos escritores negros, como veremos,

    que, embora possam defender e mesmo internalizar esteretipos criados pela

    tradio branca a respeito deles, suas obras raramente limitam-se a isso, mas

    inevitvel e desejavelmente, transmitem um conhecimento mais ntimo da posio

    do negro na Amrica Latina e uma perspectiva mais pessoal e honesta de suas

    aspiraes. (p. 145-146)

    Assim, evidenciam-se, na sua trajetria no discurso literrio nacional, dois

    posicionamentos: a condio negra como objeto, numa viso distanciada, e o negro como

    sujeito, numa atitude compromissada. (PROENA FILHO, 2004, p. 1) Ou seja, tem-se

    uma literatura onde o negro objeto e de outro o sujeito de sua prpria histria.

    Apropriar-se de sua histria e de sua cultura, reescrev-la segundo a sua vivncia,

    numa linguagem que possa ser libertadora, o grande desafio para o escritor afro-

    brasileiro. Ele escreve, se comunica atravs de um sistema lingustico que veio aprision-lo

    tambm, enquanto cdigo representativo de uma realizao lingustica da cultura

    hegemnica.

    A literatura negra brasileira, ao apresentar um discurso outro que pretende uma

    autoapresentao do negro discordante de um discurso de representao do negro

    produzido pela literatura dominante.

    Entretanto, ainda se v que na literatura contempornea nomeada como Negra no

    h voz nem vez, uma vez que os brancos somam quase quatro quintos das personagens,

    com uma frequncia mais de dez vezes maior do que a categoria seguinte - negros. Em

    56,6% dos romances, no h nenhuma personagem no branca importante. Em apenas

    1,6%, no h nenhuma personagem branca. (DALCASTAGN, 2007, s/p).

    O que se espera que ao ser inserida no conjunto das produes contemporneas, a

    Literatura Negra Brasileira passe a ter o mesmo espao delegado s produes de contextos

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    Revista da ABPN v. 6, n. 13 mar. jun. 2014 p. 329-350

    brancos, pois ainda so consideradas como de menor valia ou ainda militante, pelo

    contedo tnico e social apresentado, os textos encontram dificuldade de se inserirem no

    mercado editorial e no so avaliados como literrios do ponto de vista da crtica

    tradicional, ou os que conseguem furar o bloqueio so tratados como material especfico, de

    pouca tiragem e por isto os preos so bem maiores e at extorsivos. (DOMINGOS

    RIBEIRO, 2008)

    O negro brasileiro no pode ser tratado como o outro, que tanto trabalhou pela

    grandeza da nao etc. e a quem se deve reconhecimento especial por isso, como no cabe

    agradecer aos brancos portugueses ou aos ndios, mas tambm no deve tratar-se como o

    outro em nome de sua autoafirmao. (PROENA FILHO, 2004).

    Como os demais grupos tnicos, ele parte da comunidade que fez e faz o pas. Se a

    luta em que se empenha se tornou e continua necessria, isto se deve, como sabido, ao

    fato de ter-se tornado alvo de tratamento social e historicamente discriminatrio.

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    Recebido em maro de 2014

    Aprovado em maio de 2014