A FORMAO HISTRICO-TERRITORIAL DO MATO GROSSO, AS
TRANSFORMAES E IMPACTOS DECORRENTES DA EXPANSO DA SOJA1
Alessandra da Silva Lobato2
Danilo Raiol de Carvalho3
Marcela Alves da Silva4
Miguel S de Souza Brito5
Resumo
O presente artigo busca compreender como ocorreu o processo de formao histrico-
territorial do Estado do Mato Grosso. Para compreender tal processo torna-se necessrio
entender este espao desde o perodo colonial aos dias atuais. Busca-se analisar o panorama
econmico deste Estado no contexto nacional, enfocando a expanso do complexo sojeiro em
reas de fronteira agrcola nacional. Alm disso, destacamos, tambm, os impactos ambientais
e socioeconmicos que a atividade sojeira tem provocado no espao, tanto o espao rural
quanto o espao urbano. Observa-se que estes impactos tm afetado diretamente os diferentes
atores sociais que de alguma forma participam do processo.
Palavras-chave: Mato Grosso; Soja; Logstica; Impactos.
Summary
This article seeks to understand how the process was the socio-territorial state of Mato
Grosso. To understand this process it is necessary to understand this space since the colonial
period to the present day. It analyzes the economic outlook of the State in the national
context, focusing on the expansion of the complex soy growers in areas of national
agricultural frontier. Moreover, we note also the environmental and socioeconomic impacts
that the activity has caused soy growers in space, both rural and urban areas. It is observed
that these impacts have directly affected the different social actors that somehow participate in
the process.
Keywords: Mato Grosso; Soy; Logistics; Impacts.
1 Artigo apresentado na disciplina Geografia da Amaznia do curso de Geografia da Universidade Federal do
Par, ministrada pela professora Dr. Maria Goretti da Costa Tavares. 2 Graduanda do curso de Geografia da UFPA. E-mail: [email protected]
3 Graduando do curso de Geografia da UFPA. E-mail: [email protected]
4 Graduanda do curso de Geografia da UFPA. E-mail: [email protected]
5 Graduando do curso de Geografia da UFPA. E-mail: [email protected]
Introduo
O presente artigo tem como objetivos compreender como se deu o processo de
formao histrico-territorial do Estado do Mato Grosso, j que este Estado tem passado por
uma srie de transformaes sejam elas polticas, econmicas, sociais e ambientais. Para
compreender tal processo, foram levantadas informaes desde o perodo colonial aos dias
atuais, destacando o panorama econmico do Estado no contexto nacional, enfocaremos a
expanso do complexo sojeiro em reas de fronteira agrcola nacional. Buscaremos
compreender, tambm, como se tem configurado a logstica e a infraestrutura do complexo
sojeiro neste Estado. Alm disso, apontaremos as principais transformaes que os impactos
ambientais e socioeconmicos deixam neste espao seja no espao urbano, seja no espao
rural.
Observa-se que a atividade sojeira tem proporcionado transformaes no espao mato-
grossense, devido expanso do meio tcnico-cientfico-informacional, Santos (1979), o que
proporcionado mudanas significativas neste Estado.
Nota-se que esta reestruturao produtiva da agropecuria, Elias (2006), tem
proporcionado uma expanso dos sistemas de objetos e dos sistemas de aes, pois De um
lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se do as aes e, de outro lado, o
sistema de aes leva criao de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes.
assim que o espao encontra sua dinmica e se transforma. (SANTOS, 2002, p.63)
Para desenvolver o presente trabalho foram realizadas pesquisas bibliogrficas de
autores de renome, para adquirir embasamento terico sobre o assunto desenvolvido, anlise
de dados estatsticos, comparativos, obtidos em sites especializados, artigos, trabalhos e livros
voltados para a rea, com o intuito de fornecer aos leitores recursos suficientes para um
melhor entendimento do trabalho.
O artigo est estruturado em duas partes, alm da introduo e das consideraes
finais. Na primeira parte trataremos da formao histrico-territorial do Estado de Mato
Grosso, no perodo Colonial, Imperial e Republicano, perodo este no qual ocorreu a diviso
do Estado do Mato Grosso, em dois Estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
J na segunda parte trataremos do complexo sojeiro, que envolve a logstica e a
infraestrutura necessria para a manuteno do mesmo, alm disso, destacarmos, tambm, os
impactos ambientais e socioeconmicos decorrentes desta atividade.
1- Formao Histrico-Territorial do Estado do Mato Grosso
O territrio brasileiro possui um processo diferenciado de ocupao, com
caractersticas prprias, e na regio Centro-Oeste no poderia ter sido diferente. Aps o
descobrimento dos Reinos de Portugal e Espanha, ocorreram divergncias entre a localizao
das divisas das terras, foi a partir deste momento que em 7 de julho de 1494, em Tordesilhas
foi modificada a linha definida neste tratado para 1.786,3 quilmetros de Cabo Verde, como
podemos observar na figura 1. No entanto, devido ao tamanho da linha demarcadora ser muito
extensa, e sem como saber por onde ela realmente passava esse tratado no entrou em
execuo. Com isso em 13 de janeiro de 1750 foi assinado pelos dois reinos outro tratado, o
Tratado de Limites de Conquistas, observe a figura 2, conhecido como Tratado de Madri, com
base no uti possidets, formando uma nova configurao para o territrio do Brasil colnia.
Figura 1: Mapa do Tratado de Tordesilhas.
Fonte: www2.mre.gov.br
A regio conhecida como Mato Grosso era subordinada capitania de So Paulo; no
entanto, com a entrada das bandeiras, observe a figura 3, e a descoberta do ouro em Cuiab,
foi que a Metrpole Portuguesa, por meio da carta Rgia de 9 de maio de 1748 criava a ento,
capitania do Mato Grosso, observe a figura 4.
Esta capitania foi criada por uma questo de segurana devido a relao de divergncia
na fixao dos limites da regio, por isso a capital da Capitania foi Vila Bela da Santssima
Trindade, que ficava nas margens do rio Guapor e no em Cuiab como queria o primeiro
Governador Antnio Rolim de Moura Tavares.
A economia no Perodo Colonial da capitania do Mato Grosso era denominada
agroexportadora onde predominava a pecuria extensiva paralela a atividade mineradora, que
foi a grande responsvel pelo povoamento do Mato Grosso, e que proporcionou a ocupao
urbana na rea de Cuiab, e que proporcionou tambm, a partir de 1736, a criao de outros
pequenos povoados como Diamantino, So Francisco, Santana, Rosrio, Coxim e Camapu.
Figura 2: Mapa do Tratado de Limites de Conquista.
Fonte: www2.mre.gov.br
Figura 4: Mapa da Capitania do Mato Grosso.
Fonte:http://www.cefaprojuina.com/portal/images/stories/amapadocuiaba.jpg
Figura 3: Mapa da entrada e das Bandeiras.
Fonte: www2.mre.gov.br
http://www.cefaprojuina.com/portal/images/stories/amapadocuiaba.jpgPor volta de 1765 houve um aumento da ameaa na fronteira por parte dos castelhanos
no sentido de se apoderarem da zona ribeirinha do Guapor, incentivados pelo vice-rei do Rio
da Prata (atual Paraguai) que era subordinado ao reino da Espanha. Assim, a partir de 1772 os
Governos que sucederam a Capitania de Mato Grosso trataram-na com base no uti possidetis
para consolidar os limites das fronteiras das colnias no oeste, com a posse e a conquista de
novos territrios, assegurando o domnio da margem direita do rio Paraguai, sempre
reforando as defesas das pequenas fortificaes e povoaes existentes nos limites da
Capitania.
Por volta de 1819 o governador Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho
solicitou a mudana da sede de Governo para Cuiab, pela insalubridade de Vila Bela, onde
ocorreram vrias febres endmicas, e por Cuiab ser bem mais urbanizada e saneada, com
este ato ele desagradou populao, assim como, tambm, as tropas, a nobreza e o clero, que
se juntaram e formaram um movimento que deps o Governador. Eles elegeram um
representante do povo para informar a D. Pedro I, prncipe regente do Brasil. Nesse perodo a
capitania estava submetida a uma dualidade governamental, sem resolver esse conflito,
quando chegou a noticia da proclamao da independncia e D. Pedro I como imperador, tal
fato foi muito comemorado na capitania j que os dois governos apoiavam D. Pedro I
acalmaram-se os nimos e est passou a ser a Provncia do Mato Grosso com um s governo.
A partir desse momento histrico a Provncia do Mato Grosso, tentou se recuperar das
turbulncias que ocorreram no tempo da capitania, e seu primeiro presidente, Jos Saturnino
da Costa Pereira, alm de ter tido esta rdua tarefa de organizar a provncia, tambm se
preocupou com o isolamento da provncia. Ele insistiu bastante na construo de um arsenal
de marinha que permitiu uma melhor comunicao com o resto do Imprio, estabelecendo,
tambm, comunicao com So Paulo e com o Norte do Imprio pela navegao do rio Teles-
Pires, Araguaia e Guapor. neste perodo que evidenciando o que Gonalves (2001)
denominou como padro de ocupao amaznico, rio-vrzea-floresta, pois o rio teve uma
participao significativa para a formao deste territrio.
A provncia permaneceu com os mesmos limites territoriais da capitania, e a
insatisfao do Paraguai, tambm, permaneceu. Nota-se que os presidentes da provncia
sempre se preocuparam com a segurana e reforavam as guarnies nas fronteiras. Mas
neste momento que explode a guerra do Paraguai (1864- 1870), quando o Paraguai prende o
Brasileiro Marques de Olinda e invade o sul do Mato Grosso. A falta de conhecimento da
regio, o relevo acidentado, e o relevo alagado do pantanal dificultaram a guerra. Apesar disso
o Brasil ganhou a guerra configurando de vez o territrio da provncia do Mato Grosso.
No Ps Guerra a economia da provncia ficou um pouco debilitada, e com a abolio
da escravatura, pela princesa Isabel, houve uma crise aguda na economia, pois era
basicamente da lavoura e do pastoreio, com mo de obra basicamente escrava, que a produo
era sustentada. Assim, no fim do sculo XIX para inicio do sculo XX, buscou-se estruturar
as cidades e recuperar a economia com a introduo de novas atividades como a produo de
borracha e a produo de erva mate.
J no perodo republicano nota-se que entre as principais atividades econmicas que se
desenvolveram no agora Estado do Mato Grosso, no inicio do sculo XX, estavam produo
de borracha e a poaia na regio norte do Estado, alm da presena de usinas de acar em sua
parte central, enquanto na parte sul do Estado predominou a criao de gado e do cultivo da
erva-mate, observar a figura 5.
Figura 5: Mapa das principais atividades econmicas no espao Mato-grossense: Inicio
do Sculo XX.
Fonte: Abreu (2001).
Nota-se que neste perodo que iro surgir os fatores a favor da diviso do Estado. Os
fatores que alegados para a diviso do Mato Grosso foram: a diversidade e extenso territorial
que dificultava o desenvolvimento do Estado de forma igualitria e, tambm, o jogo poltico
existente para uma proposta de diviso estadual, este segundo pde ser observado durante a
Revolta Constitucionalista que durou 90 dias e proporcionou parte sul criar e instalar um
governo prprio, e no fim da dcada de 1970 e inicio da dcada de 1980 o presidente Ernesto
Geisel assinou a Lei Complementar n 31 dividindo Mato Grosso e criando o Estado de Mato
Grosso do Sul. A data virou marco de independncia da Regio Sul em relao capital
Cuiab.
Observa-se que a diviso do Mato Grosso em dois Estados ocorreu por meio de um
processo demorado, em que foram levados em considerao aspectos socioeconmicos,
polticos e culturais. Enquanto o Sul do Estado tentava a diviso, o norte endurecia e barrava
as intenes sulistas. O processo de ocupao e consolidao territorial tanto da parte norte
quanto do sul evidenciou diferenas e semelhanas que serviram de justificativa para a diviso
estadual.
Deve-se atentar para o fato de que a regio Centro-Oeste ainda no era considerada
uma regio consolidada do ponto de vista do desenvolvimento capitalista nacional, ou seja, a
regio era considerada como um espao de transio entre o desenvolvimento capitalista
consolidado no Sudeste e a emergente fronteira de recursos da Amaznia. Este espao mato-
grossense seria o ponto de direcionamento para a efetivao de uma "especializao" e a
"descentralizao" das aes de planejamento do governo brasileiro, onde para o Estado do
Mato Grosso do Sul definiu-se o aprofundamento do processo agroindustrial com a
possibilidade de atrair unidades industriais para efetivar a desconcentrao industrial, por sua
vez o Estado do Mato Grosso permaneceu no conceito de "vazio", para o qual se incrementou
investimento em ocupao, passando o territrio do Mato Grosso a fazer parte das reas de
incentivos da SUDAM.
Ao elaborar polticas para a incorporao dos cerrados ao processo produtivo, o
Estado assumia a condio de indutor do desenvolvimento capitalista,
desenvolvendo aes diretas para a ocupao do territrio, a exemplo da abertura
das grandes vias. A terra barata facilitou os investimentos, os incentivos da SUDAM
e as linhas especiais de crdito atraram os investidores, principalmente do sul do
Brasil (BERNARDES, 2007, p.3)
Assim, as polticas de colonizao, ocupao e desenvolvimento do Mato Grosso
podem ser notadas a partir de projetos do governo federal que tinham como objetivos o
desenvolvimento do Estado. Dentre estes projetos de abertura de grandes vias podemos
destacar implantao e pavimentao da BR-163. Implantaram-se distritos industriais em
Cuiab e ocorreu a modernizao da agricultura e ocupao dos cerrados pela monocultura da
soja, que adquiriu uma grande importncia para a economia do pas e do Estado, tornando-se
um dos principais produtos de exportao.
2 - A chegada e o avano da soja no Estado do Mato Grosso
Para iniciarmos qualquer anlise da penetrao das terras agricultveis e da
potencialidade produtiva, dos rearranjos organizacionais aplicados a insero de commodities
agrcolas no territrio do Estado do Mato Grosso, no que corresponde a soja, torna-se
necessrio mencionar que a soja penetra no territrio mato-grossense vindo da parte sul do
Brasil, na qual chega como curiosidade botnica, inserindo-se o seu cultivo a partir da
segunda dcada do sculo XX, com os imigrantes japoneses, Bernardes et al (2003).
Nota-se que a insero do cultivo da soja no sul do Brasil favorecida em um
primeiro momento por aspectos fsicos, como o clima, a geologia, o relevo, alm da
disponibilidade de terras e proximidade dos ainda tmidos corredores de exportao de futuras
commodities agrcolas, dentre outros fatores que fazem o pioneirismo e o tradicionalismo do
cultivo da soja nos Estados do sul do Brasil, a exemplo de Rio Grande do Sul e Paran, no
limiar da dcada de 1940. A conquista de novas reas, potencialmente cultivveis, ganha
ascenso a partir da dcada de 1960 e 1970, quando temos ainda uma tmida produo sojeira
adentrando o bioma do cerrado brasileiro.
Segundo o IBGE, j em 1940 esta regio produziu 1529 T. Em 1960, dos 216033 T
produzidos pelo pas, 214759 (99,4%) correspondiam regio sul, e o Centro-Oeste
aparece no total nacional, embora com uma parcela nfima (101T, dos quais 98%
corresponde ao Mato Grosso). Em 1980, o Centro-Oeste a segunda regio
brasileira produtora de soja, com 1.509.967 T (10,9%) (...) Entretanto em 2000, a
regio Centro-Oeste lidera o ranking nacional da produo de gro (SILVA, 2005, p.
3)
fato que o avano do cultivo da soja expande a fronteira agrcola brasileira,
iniciando, como j mencionado o aumento da produo de commodities agrcolas. A soja a
partir deste contexto ganha espao na produo e na balana comercial brasileira, fazendo
com que se tenha certa preferncia, mediante a valorizao do produto no mercado
internacional, isso faz surgir agentes/atores que passam a articular e dinamizar este complexo
produtivo sojeiro, necessitado de articulaes logsticas e infraestruturais para que a dinmica
da fronteira possa continuar a sua mobilidade, o seu avano e mantendo, assim, o seu
crescimento na formao de um novo ciclo econmico brasileiro: o ciclo da soja.
A maior acelerao do domnio do territrio conquistado pela soja se d a partir da
dcada de 1970 com as polticas de colonizao dos governos militares, na tentativa de
minimizar as tenses sociais brasileiras e ocupar para futuramente explorar as potencialidades
de regies pouco dinamizadas economicamente. O Estado do Mato Grosso entra neste
cenrio, principalmente com a abertura de eixos rodovirios importantes na regio, a exemplo
da BR-163, ligando Cuiab Santarm. Deste modo surgiu o fenmeno da venda de lotes de
terras para colonos que perderam a capacidade de competio frente mecanizao da
agricultura nos Estados sulistas (em especial do Paran e do Rio Grande do Sul) (SILVA,
2005, p. 2).
A produo de soja tem se expandido pelo territrio brasileiro, principalmente ao
longo do Estado do Mato Grosso, observe no mapa da figura 6 a quantidade produzida de soja
no Brasil no ano de 1996.
Observe no mapa da figura 7 como ocorreu o aumento da quantidade produzida de
soja em 2006, 10 anos depois, percebe-se um aumento expressivo.
Figura 6: Mapa da quantidade produzida de soja em 1996.
Fonte: INCRA
2.1 - A logstica e a Infraestrutura do complexo sojeiro no Estado do Mato Grosso
O sucesso do complexo sojeiro ocorre principalmente devido s articulaes na qual
os diferentes agentes pblicos e privados convergem em sintonia para a maximizao
produtiva. Sendo estas articulaes mais aceleradas a partir da poltica de integrao nacional
nos governos militares, com maior volume aps a dcada de 1970, traduzindo a necessidade
de alcance de um supervit primrio. O poder pblico, nas suas vrias instncias favorece a
logstica e a infraestrutura bsica para a produo de commodities agrcolas, como o caso da
soja.
O que de fato se esperava ou espera-se da capacidade produtiva e do aproveitamento
agrcola da regio se traduziu na infraestrutura e na logstica deficitria durante o avano da
produo sojeira, com algumas deficincias apresentadas, principalmente no mbito do
escoamento da produo. A expanso das reas agrcolas, que impulsionou a formao de
um novo arranjo espacial dos setores produtivos, no foi acompanhada pela expanso do setor
de transportes (...) por um sistema virio eficiente (OJIMA, 2005, p.1). As necessidades
Figura 7: Mapa da quantidade produzida de soja em 2006.
Fonte: INCRA
surgem em uma velocidade superior s solues encontradas e eficincias para soluo dos
problemas de logstica que no domnio econmico esta sendo entendida como a
preparao continua dos meios (...) para a competio que se expressa num
fluxograma de um sistema de vetores de produo, transporte e execuo, ou seja,
um sistema de ordenamentos de lugares e regies privilegiados, condies
adequadas de transporte, comunicaes e energia (BECKER, 2004).
O Estado do Mato Grosso apresenta entre outras precariedades, decorrentes do
crescimento populacional principalmente um crescimento oriundo das correntes migratrias e
da rpida expanso agrcola (considerando o seu processo histrico de formao do territrio).
De certa forma pode-se considerar que um dos pontos a serem superados seria as
barreiras ligadas infraestrutura enfrentada pelos segmentos de logstica e transportes das
commodities agrcolas (BARROS; MODENESI; MIRANDA, 1997). Alm disso, deve-se
pensar em mecanismos para minimizar os impactos ambientais e socioeconmicos, pois o que
se percebe que os sistemas de objetos (SANTOS, 2002), que esto se expandindo no
territrio para viabilizar uma maior fluidez para os investimentos produtivos, tem
proporcionado uma verdadeira disperso espacial da produo, acirrando a diviso social e
territorial do trabalho e as trocas intersetoriais, resultando em diferentes arranjos produtivos
em todo o pas, tanto no campo como nas cidades (ELIAS, 2006, p. 281).
Mas ento de que maneira a soja se utiliza dos transportes para exportao?
A soja necessita de vrias solues para melhorar a logstica de transportes, que s
ser efetivada com um aproveitamento mais adequado dos fatores fsicos e hidrolgicos da
regio considerando modais que possam dar uma melhor possibilidade de escoamento da
produo como as hidrovias ou talvez ferrovias para que a dualidade custo/benefcio possa ser
mais bem analisada pela indstria sojeira. No entanto, as maneiras com que os diferentes
modais esto se manifestando ainda muito tmida, com exceo do rodovirio que o mais
utilizado e at mesmo, dependendo da regio, o nico aproveitado, mesmo com srias
deficincias que vem se resolvendo com articulaes infraestruturais entre o complexo
empresarial sojeiro e o poder publico estadual e federal. Nota-se que a expanso do sistema
virio foi muito significativa se comparado a perodos anteriores, havendo assim uma
reconfigurao no padro de organizao do espao, pois as rodovias passam a ter maior valor
estratgico do que os rios, evidenciando assim o que Gonalves (2001) chamou de segundo
padro de organizao do espao o estrada-terra firme-subsolo.
importante compreender a apropriao dos modais de transportes por esta logstica e
a maneira com que ela se manifesta Silva (2005), alm disso, devemos compreender as
articulaes e os conflitos de interesse entre os atores do complexo sojeiro dentro do Estado
do Mato Grosso. Essas articulaes pressionam o Estado no sentido de aplicar uma poltica
desenvolvimentista na criao e manuteno de infraestruturas principalmente no eixo
rodovirio da rea de influncia da BR-163 (Cuiab-Santarm) para o escoamento da
produo sojeira, no sentido de minimizar os custos com transportes e fortalecer grupos
empresariais que dinamizam a logstica do setor.
Assim nota-se, que com o asfaltamento da BR-163, a CARGILL ser diretamente
beneficiada (SILVA, 2005, p.8), porque seu acesso ao porto de Santarm ser otimizado.
Podemos perceber que as grandes corporaes controlam a produo de
commodities gerenciando a infraestrutura, a armazenagem e a compra e venda de
produtos. Como nenhuma delas produz soja, mas, terceiriza a produo (exceo
feita ao grupo MAGGI), a terra no condio crucial para expanso da empresa,
portos e estradas assumem maior valor estratgico (SILVA, 2005, p.8).
Projetos de infraestruturas esto sendo realizados no territrio mato-grossense, o
caso do asfaltamento da BR-163, observe na figura 8 na pg. 14, o mapa da rea de influencia
da BR-163. Nota-se que
A partir dos anos 90, a BR-163 mato-grossense vem constituindo uma das principais
fronteiras de expanso da agricultura moderna no cerrado, concentrando a maior
produo de gros nos municpios de Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum,
Nova Ubirat, Diamantino e Tapurah (BERNARDES, 2010, p. 3).
Estes projetos esto virando uma realidade para a produo sojeira, com a aprovao
de um pacote bilionrio do Governo Federal, fazendo expandir os cultivares de soja cada vez
mais para a Amaznia. A hidrovia Tapajs- Teles Pires, tambm, poder ganhar dinmica
neste pacote de infraestruturas. Tudo para aumentar a reproduo do capital proveniente desta
commoditie agrcola, pois
No conjunto do estado, os espaos da soja apresentam-se como um lcus
privilegiado de processo de homogeneizao a partir do capital produtivo,
expressando que certos espaos encontram-se submetidos a fluxos seletivos de
modernizao que transformam antigos espaos em espaos de administrao de
novas tendncias (BERNARDES, 2008, p.364).
Como se pode observar isso que est ocorrendo no campo brasileiro, em especial no
Estado do Mato Grosso.
Observa-se que nos ltimos vinte anos a soja tem sido uma das culturas que tem
apresentado o maior progresso dentro do contexto nacional. Isso foi possvel graas a vrios
fatores que vo desde condies naturais melhoria de infraestrutura e logstica.
Entretanto cabe ressaltar que a soja tem provocado profundas transformaes no
territrio. Tais transformaes esto ligadas ao surgimento e aumento de impactos ambientais
e socioeconmicos.
Ao tratarmos sobre os impactos ambientais provocados pela atividade sojeira vale
ressaltar que o Estado do Mato Grosso, assim como outros Estados da Amaznia Legal,
oferece condies fsicas para a expanso deste tipo de lavoura, tanto em reas de cerrado ou
de transio cerrado-floresta, quanto em zonas de campo, ou ainda em terras desmatadas e
reas degradadas pela pecuria (PASQUIS e VARGAS, 2009, p.4).
Figura 8: Mapa da rea de influncia da BR-163.
Fonte: Silva (2005)
Figura 9: Devastao do bioma cerrado ao longo de dcadas. Fonte: Oliveira (2009)
Entretanto como mencionado anteriormente, a soja tem provocado impactos no
territrio. Alguns destes impactos ambientais so: o aumento do desmatamento,
principalmente no bioma cerrado, observar na figura 9, a degradao do solo e agravamento
do quadro critico da disponibilidade de recursos hdricos, isso em decorrncia da irrigao.
(BRASIL, 1995 apud BARRETO, 2004, p. 5).
Outros impactos visveis so as eroses dos solos, o assoreamento de rios, a
eutrofizao dos rios, o nvel de cobertura e perda gradual da fertilidade dos solos, fogo
disseminado pelos minitornados que assolam a regio ou pelos prprios equipamentos usados
na colheita (MUELLER e BUSTAMANTE, 2002 apud PASQUIS E VARGAS, 2009, p.11).
So estes equipamentos, ou melhor, esta mecanizao que chega junto com a soja que tem
causado, tambm, impactos socioeconmicos, principalmente, para os pequenos produtores,
o que veremos mais adiante.
Nesse sentido nota-se que a larga escala da produo da soja representa uma enorme
presso sobre os recursos naturais e ecossistemas da regio (WWF, 1995 apud PASQUIS E
VARGAS, 2009, p.11).
Mas h de se destacar que o aumento dos impactos ambientais no Estado do Mato
Grosso decorrente, tambm, de polticas pblicas que tem estado sujeitas a concepes
contraditrias (BURSZTYN, 2001 apud PASQUIS e VARGAS, 2009, p.7), pois quando se
fala em polticas pblicas ambientais, observa-se que:
As formulaes se fazem atravs de propostas tcnicas perifricas ao desenho das
outras polticas pblicas, o que se tem mostrado insuficiente. Em outra vertente o
meio ambiente visto como uma oportunidade para captar recursos (...). Dessa
forma, o ambiente considerado restritivo ou lucrativo, e a sua incorporao ao
desenho do prprio processo de desenvolvimento e dos seus resultados fica
comprometida. (PASQUIS e VARGAS, 2009, p.8).
Ressalta-se, tambm, que estas polticas ambientais apresentam uma srie de
problemas que j comeam desde sua formulao, pois elas so elaboradas e implementadas
de cima para baixo (PASQUIS e VARGAS, 2009, p.8). Compreende-se, ainda, que nos
ltimos anos a logstica criada pela soja tem buscado se ampliar e isso de certa forma
preocupante, pois a abertura de novas estradas, ferrovias e hidrovias, possibilitada pela
implantao dos corredores de exportao, pode ameaar as poucas reas do cerrado ainda
preservadas e, consequentemente, a riqueza biolgica desta regio (BARRETO, 2004, p.6)
Dessa forma seria possvel pensar alternativas para que o cerrado no venha a
desaparecer em poucos anos?
Algumas alternativas possveis seriam, por exemplo, o plantio direto e a rotao de
culturas (HERNANI, 2002 apud BARRETO, 2004, p.5). So sistemas que esto crescendo
na regio do cerrado, principalmente em Mato Grosso.
No ano de 2003, o municpio de Sorriso (MT), sediou o stimo Encontro do Plantio
Direto no Cerrado, no qual foram mostrados os benefcios que este tipo de plantio
proporciona. Um exemplo desses benefcios quando estas tratam da palhada como uma
alternativa de cobertura do solo, que tem sido importante para a fixao do oxignio e
tambm para a quebra do impacto da chuva sobre o solo (TOMAZIN e ROSSETTO, 2005,
p.10).
Desse modo nota-se que a agricultura sustentvel passa a ganhar destaque, j que esta
no se preocupa somente com o aspecto econmico, mais tambm com o meio ambiente
Tomazin e Rossetto (2005).
inegvel que a soja foi/ uma das culturas que apresentou um crescimento
expressivo no cultivo e no segmento agroindustrial, isso tem justificado a importncia
econmica que esta atividade tem proporcionado ao pas ao longo destes ltimos anos.
Entretanto, cabe ressaltar que apesar da soja ter proporcionado uma melhoria da
infraestrutura viria e da urbanizao das cidades, ela tambm causou o aumento dos
impactos socioeconmicos no s nas cidades, mais principalmente, no campo, como se j
no bastasse os impactos ambientais.
Verifica-se que os impactos socioeconmicos so resultantes do modelo atravs do
qual foram implantadas as culturas no Brasil, inclusive a soja (BARRETO, 2004, p.3). Tem-
se observado que os produtores familiares esto sendo excludos da atividade sojeira,
medida que muitos so expulsos de suas pequenas propriedades para dar lugar aos grandes
latifndios, alm disso, tem ocorrido uma fraca gerao de empregos, de produo de
alimentos e uma alta concentrao da posse da terra. Este modelo no qual observamos a
modernizao dos processos produtivos, juntamente com a presena dos latifndios e da
produo patronal, ficou conhecido como modernizao conservadora (EHLERS, 1994 apud
BARRETO, 2004).
A soja, por ser um tipo de agricultura altamente mecanizada, provocou uma forte
liberalizao da mo-de-obra do campo, isso ocasionou migraes. Como conseqncias
destas migraes houve uma ampliao da violncia e dos conflitos e o incremento da
urbanizao que trouxe consigo problemas de desemprego, subemprego e misria nas cidades
do Norte e Centro-Oeste (MUELLER, 1992 apud BARRETO, 2004, p.4).
E esta urbanizao que se intensificou a partir da modernizao da agricultura resultou
na criao de vrias cidades no Estado do Mato Grosso como Sinop (j mencionado), Sorriso,
Alta Floresta, Colder, entre outras. Estas cidades modificaram-se para atender as demandas
do campo, neste contexto que as aes aplicadas sobre o territrio iro causar a construo
dos objetos que a atividade sojeira necessita.
notrio como a implantao da agricultura moderna proporcionou um duplo
processo de re-organizao scio-espacial, pois o campo reestruturou-se como local da
produo mecanizada e as cidades equiparam-se para atuar como suporte para a efetivao
desse processo (ROMANCINI; RODRIGUES; SANTOS, 2006, p.3 e 4)
inegvel o papel que a soja exerceu no processo de urbanizao de algumas cidades,
entretanto tambm inegvel que ela foi/ geradora de mudanas sejam ambientais, sejam
mudanas nas estruturas socioeconmicas urbanas.
Desse modo percebe-se que a sojicultura provocou/provoca impactos socioeconmicos
no somente no campo, mas tambm nas cidades, pois como citado anteriormente, grande
parte destes pequenos agricultores que migram para as cidades (xodo rural), acabam se
inserindo em subempregos e no mercado informal, fortalecendo assim o circuito inferior da
economia, (SANTOS, 2004).
Consideraes finais
Ao longo deste trabalho pode-se perceber que a formao do territrio mato-grossense
foi acompanhada por transformaes socioespaciais que foram decorrentes, em parte, das
atividades econmicas que se desenvolveram nesta regio.
Se num primeiro momento tivemos a minerao e a pecuria como principais
atividades que dinamizaram a regio, atualmente percebido que este papel tem sido
desenvolvido pela atividade sojeira, que tem proporcionado a abertura de novos corredores de
exportaes, que servem para uma melhor ampliao do capital. Nota-se assim que o Estado
passa a criar infraestruturas que viabilizam o escoamento da produo fazendo com que a soja
ganhe uma valorizao maior.
No entanto compreende-se que esta atividade tem causado uma srie de
transformaes no espao sejam elas ambientais e socioeconmicas, pois esta atividade um
tipo de agricultura altamente tecnificada. Tem-se observado que ela no tem proporcionado
grandes avanos para os pequenos produtores e camponeses, pois A modernizao da
agricultura e as histricas questes fundirias serviram de base para a expulso de
camponeses (SILVA, 2005).
Cabe lembrar que esta atividade importante por gerar divisas para o pas, mas
necessrio lembrar tambm, que so necessrios que sejam criados mecanismos mais
eficientes para que os impactos ambientais e socioeconomicos sejam minimizados.
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