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Educação pela Arte e Literatura infanto juvenil. Paula Frade

May 30, 2018

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PaulaFrade
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    Mais vale a ignorncia do que uma falsa noo: a ignorncia a todo o tempo

    se corrige, enquanto que o erro falseia o conhecimento.

    Calvet Magalhes

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    Introduo:

    Muito do que ns somos vem do passado. Segundo Ortega Y Gasset, Negar o passado absurdo e ilusrio, porque o passado o natural do homem que volta a

    galope. O passado no est a e no se deu ao trabalho de passar para que o neguemos,

    mas para que o integremos (p.20).

    Desta forma, defendemos a tese de que a disciplina de Educao Visual e

    Tecnolgica tal qual apresentada e entendida no tempo presente, no mais do que

    resultado de um contnuo processo histrico. Nele esto implcitas as polticas e

    reformas educativas, concepes filosficas, estticas, sociais, pedaggicas, culturais,

    tecnolgicas e econmicas. Importante e urgente torna-se o entendimento e

    conhecimento de todo esse processo histrico, de forma a que o presente e as suas

    prticas lectivas, sejam reflexo de uma atitude consciente e clara.

    Como recorda o relatrio (da Comisso da Unesco_ A Educao para o sc.

    XXI), cabe ao mestre transmitir ao aluno o que a humanidade aprendeu sobre ela

    mesma e sobre a natureza e tudo o que ela criou e inventou de essencial. O rigor do

    mtodo, as ideias claras e distintas, o ensino das diferenas, a entreajuda, o apelo

    responsabilidade e autonomia_ eis o que encontramos no pensamento de grandes pedagogos, como S. Filipe de Nri (1515-1595), Comnio (1592-1670) ou Friedrich

    Froebel (1782-1852) .

    Um currculo apresentado tal qual o da disciplina que mencionamos, nem sempreorienta o professor para o caminho mais fcil e directivo. Questionamo-nos sobrediversos conceitos que se alteraram ao longo do tempo e que nos levam tambm ahipoteticamente perguntar se eventualmente mudaram as prticas pedaggicas. Naverdade, no documento Currculo Nacional do Ensino Bsico: CompetnciasEssenciais, editado pelo Ministrio da Educao no ano de 2001, no so apresentadasde forma explicita as competncias essenciais da disciplina de Educao Visual eTecnolgica. Ao longo dos anos o ensino do desenho foi tomando outras designaes eestrutura curricular, surgindo recentemente uma nova disciplina, como que umcasamento entre a Educao Visual e a Educao Tecnolgica. No nos esquecemostambm de lembrar os antigos trabalhos manuais (femininos, masculinos eposteriormente num sistema de coeducao). Relembramos que, no momento presente,aquando dos concursos nacionais de colocao de professores, a disciplina de Educao

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    Visual, ainda se entende por trs grupos distintos ( 05; 07 e 08). Situao que

    confirma a ambiguidade instalada. O conceito de currculo aberto e flexivel ser

    tambm entendido da forma clara?

    Com este trabalho no pretendemos dar respostas ou confrontar ideias, achamos

    simplesmente importante, lembrar que muito ainda deve ser feito, planeado, gerido,

    questionado e mudado, de forma a que seja notria e real uma verdadeira mudana.

    Conscientes do universo complexo em causa, limitamo-nos a apresentar aqui

    algumas prticas lectivas, actividades, projectos e formas de gerir o ensino no dia a dia,

    na sala de aula, que foram realizadas com sucesso.

    Estabelecemos um fio condutor no nosso trabalho, comeando nesse campo por

    querer transmitir a ideia de que uma simples histria ou imagem nos podem levar onde

    ns queremos. Conscientes de que muito do que se faz de bom, eficiente e eficaz nas

    nossas escolas por vezes esquecido e no se partilha, fazemos uma abordagem ao

    passado e ao presente recente.

    A histria Gustavo Azul , o bilhete para essa viagem.

    Numa sociedade onde informao, esprito cientfico e educao permanente se

    encontram revela-se indispensvel, contudo, preparar as pessoas para as mudanas e

    para as inovaes que emergem e se sucedem a um ritmo indito. As novas tecnologias

    de informao e comunicao introduziram, de facto, um novo ritmo e novas exigncias

    no contacto com o conhecimento. mobilidade fsica sucede-se tambm a mobilidadevirtual, e a nossa relao com o tempo e o espao altera-se profundamente. A sociedade

    torna-se educativa ou de aprendizagem_ e a educao tem de dar respostas permanentes

    e ao longo de toda a vida, redefinindo objectivos na formao inicial adequados s

    novas circunstncias ( MARTINS, Guilherme dOliveira (1998), p.37).

    Defendemos a tese de que na preparao para a mudana necessrio antes de

    mais, que cada um tenha noo do que deve ser mudado, do que pode ser mudado, e do

    que cada um pode mudar. Desta forma h que ter um maior envolvimento face a

    determinadas questes levantadas por ns e por todos aqueles que tm contribudo de

    uma forma dedicada para as questes das Cincias da Educao e do Sistema de Ensino

    no nosso pas.

    H que sentarmo-nos para conversar... querem beber um caf?

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    Reflexes sobre o ensino do desenho:

    Segundo Calvet Magalhes, evitemos atribuir s crianas todas as

    possibilidades que ns prprios temos, mas no rebaixemos o valor do poder do

    dinamismo mental infantil, que se encontra em perptuo estado de desenvolvimento

    interior e contnuo. Os crebros dos nossos alunos no so todos vazados do mesmo

    molde. Se tratarmos os alunos em srie, nunca os conhecero. Dem a cada um deles a

    possibilidade de se exprimir e de revelar as suas caractersticas individuais (p.8).

    Na ltima parte do nosso trabalho, apresentamos actividades em que tomamos

    em ateno precisamente este carcter nico inerente a cada aluno e a valorizao das

    suas capacidades e aprendizagens.

    As vrias correntes no constituem ciclos fechados, que se ignoram e destroem

    uns aos outros. Os sbios de uma poca no renegam os trabalhos dos seus

    predecessores e, pelo contrrio, apoiam-se neles, e assim aparece esse admirvel esforo

    colectivo que liga o presente ao passado. Seria dar prova de estreiteza de esprito e de

    falta de compreenso considerar apenas as correntes modernas e tudo ignorar quanto s

    tendncias que as precederam (Idem, p.9-10).

    No nosso trabalho, temos em ateno esta relao temporal, pretendemos

    tambm valorizar a importncia do trabalho e estudo de diversos filsofos e pedagogosque muito contribuiram para a mudana de mentalidades, prticas e mtodos de ensino.

    Numa actividade realizada no momento, pode estar reunida a abrangncia de muitas

    ideologias j professadas. Torna-se interessante aplicar determinados mtodos e prticas

    pedaggicas do passado, consoante o contexto e objectivos ou finalidades definidas.

    Tambm verdade que embora as vrias correntes no constituam ciclos fechados,

    por vezes, esto condicionadas pelo efmero e pelas modas. Ao serem postas em

    prtica ou tidas em considerao, determinadas correntes podero constituir uma das

    partes do fio condutor que nos leva a um futuro mais consciente.

    Como meio de expresso incomparvel, o desenho devia estar sempre presente

    no ciclo preparatrio. com o auxlio do desenho que a imaginao da criana toma

    corpo e se concretiza. pela ilustrao que um exerccio alcana todo o seu valor e

    significado.

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    Alm disso, o desenho um poderoso instrumento de cultura geral e de cultura

    esttica, forma o esprito e o corao e desperta o pensamento do ideal. , sem dvida

    alguma, o meio mais poderoso, mais original, mais vivo e agradvel de a criana se

    exprimir, de exteriorizar os seus pensamentos e traduzir a prpria personalidade, pois

    inteiramente uma linguagem.Lngua e representao grfica so linguagem, expresso: no h entre ambas

    uma diferena essencial, mas antes uma diferena extrnseca. Poderamos dizer que se

    reproduz a imagem com palavras, e que se fala com representaes grficas; quer

    atravs das palavras ou do desenho temos a intuio daquilo que ocorre na conscincia

    daquele que nos falou com palavras ou com figuras. E s vezes pode bastar apenas a

    palavra, ou pode bastar apenas o desenho, ou ento pode a primeira necessitar do

    segundo, e este ter de complementar-se com a primeira.

    Como meio de aquisio de conhecimentos o desenho uma escola de ateno

    que exige constantemente o confronto do modelo com a sua interpretao ou

    reproduo. Os desenhos de crianas de diferentes anos do ciclo mostram bem os

    conhecimentos adquiridos sucessivamente. Quando um aluno do 2. ano desenha uma

    rosa vermelha do natural ou um besouro, adquire mais conhecimentos sobre flores ou os

    insectos do que num livro(Idem,p.10).

    Mais frente, ao apresentarmos alguns desenhos de alunos do 6 ano,

    verificamos que os mesmos transmitem precisamente a falta desse conhecimentocientfico face aos insectos.

    O desenho reflecte determinados conhecimentos ou a falta deles. Um aluno que

    nunca viu uma trmita, facilmente fantasia sobre a mesma, ou ento recusar-se- at

    mesmo a desenh-la. Defendemos portanto a observao e o contacto com o meio

    envolvente. Esse contacto sem dvida uma fonte de conhecimento.

    O desenho introduz ainda na aula um elemento de prazer. Todas as crianas

    gostam de desenhar e grande prazer para elas pintar a cores e realizar objectos egrande satisfao para o professor sentir uma classe entusiasmada e activa e verificar os

    seus progressos.

    Quanto ao objecto do ensino de desenho no ciclo preparatrio no formar artistas, masconcorrer com as outras disciplinas para formar a inteligncia e a personalidade dacriana. um instrumento de cultura exactamente como o clculo e a redaco. Paradesenhar preciso observar com mtodo e aplicao_ observao voluntria ereflectida. j um lugar-comum afirmar que o aprendizado do desenho

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    forma o gosto e desenvolve a habilidade visual e manual da criana, assim como

    lhe activa a imaginao, a vontade e o esprito de iniciativa.

    Alm do seu valor educativo e do prazer que oferecem, esta disciplina apresenta

    uma atraco prtica evidente. O desenho assume na vida actual um lugar

    preponderante. Cada vez existem menos profisses onde o desenho no seja til, seno

    indispensvel, pois o desenho faz a criana adquirir conhecimentos prticos que lhe so

    directamente proveitosos, qualquer que seja a sua profisso futura (Idem, p.10-11).

    Acabou a poca em que o desenho e a pintura eram considerados

    compartimentos estanques dos programas escolares, e em que se procurava somente

    desenvolver a segurana da mo e da vista, obrigando as crianas a reproduzir objectos

    dados. Quantas geraes aprenderam assim a desenhar desinteressadamente coisas

    sem interesse e, o que mais grave, a exercer a matria designada nos programas

    escolares sob o nome de arte.

    Aos olhos de certos professores essa averso das crianas pelo desenho

    apresentava determinadas vantagens, visto que permitia incutir o sentido da disciplina.

    Havia mesmo os que preconizavam ensinar s crianas fosse o que fosse, contando que

    fosse desagradvel. intil dizer que este mtodo era nefasto, porque, se visava

    sobretudo desenvolver na criana a habilidade tcnica e o sentido da disciplina,

    desprezava totalmente as ideias originais e as sensaes que nascem dos crebrosinfantis, abafando assim todos os germes do talento criador (Idem, p.16).

    Quis-se revolucionar o ensino de desenho, substituir os antigos mtodos por

    uma completa liberdade de expresso. Apuraram-se, no entanto, mtodos de ensino que,

    concedendo criana a necessria liberdade para se exprimir artisticamente,

    mantinham, no obstante, o grau de disciplina indispensvel (Idem, Ibidem).

    A ttulo de concluso, e referindo mais uma vez a relao temporal das diversas

    correntes e prticas pedaggicas, defendemos que as novas ideologias e concepes

    devem ser tomadas em condiderao como fazendo parte de um todo. Achamos que

    numa concepo de liberdade de expresso tambm devem estar presentes os

    metodologias defendidas no passado que exigiam rigor e mtodo, bem como a

    preocupao e valorizao do conhecimento adquirido pela observao e pelo desenho

    do modelo, entre outras.

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    Introduo ao Gustavo Azul

    A histria que se segue e por ns criada um exemplo de uma actividade quedesenvolve nos alunos uma educao pela arte e atravs da arte. No nossoobjectivo vincular ou estabelecer limites de interpretao, pelo contrrio, pretende-seabrir portas para um universo ilimitado e inesgotvel. Esta histria tambm matriaprima para fundamentar a abordagem transdisciplinar e interdisciplinar defendida no

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    projecto curricular de turma. O Gustavo Azul pode ser explorado nas mais

    diversas disciplinas, segundo os contedos a elas inerentes.

    Esta histria ao ter sido apresentada a alguns docentes de outras disciplinas, com

    o objectivo de ver a sua aplicabilidade, por unanimidade, revelaram muito interesse e

    sublinharam a riqueza de conhecimentos que poderiam ser desenvolvidos e actividades

    possveis de realizar. do conhecimento geral de todos os professores que por vezes

    complicado manter os alunos em silncio e atentos. Os alunos do 5 e 6 ano aos quais

    foi lida a histria, mostraram muito interesse pela mesma. Ouviram em silncio, riram,

    questionaram determinadas situaes e, no final, resumiram e fizeram as concluses das

    aprendizagens realizadas. Com o decorrer do tempo, a histria tornou-se mais complexa

    e extensa. Passados alguns meses, ouviram a continuao da histria, com o mesmo

    interesse e motivao. Quando um dia a professora referiu: Ficamos por aqui..., os

    alunos insistiram que a histria fosse lida at ao fim. Realizaram-se diversas

    actividades, todas elas avaliadas de forma muito positiva.

    Para alm de diversas pistas e temas que vo surgindo ao longo da histria

    capazes de serem transformados em actividades, existe tambm uma abrangncia de

    diversos contedos da disciplina de Educao Visual e Tecnolgica, como os materiais;

    o estudo da cor; o patrimnio construdo e natural; a energia; e tantos outros.

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    Gustavo Azul

    Em cima do estirador branco, do escritrio ao lado da sala, o lpis n.2 HB

    estava deitado a pensar:

    _Que maada no ter nada para fazer. Talvez possa realizar um desenho. Mas

    no sei desenhar. Talvez se fizer um risco possa abandonar esta ideia de no ter nada

    para fazer. Os lpis servem para escrever, no ? Mas tambm no sei escrever. No sei

    escrever e no sei desenhar. Acho que s sei fazer riscos. Gosto dos meus riscos, das

    minhas garatujas, de me mexer rapidamente na folha de papel. Vou fazer um rabisco.

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    Depois vou fazer outro, e outro, e outro. Tantos riscos que vou ficar tonto de

    tanto riscar. Posso rodopiar e imaginar que a folha branca uma pista de gelo. Vou

    danar na folha branca at gastar o bico e ter de pedir ajuda minha fiel amiga afia.

    _E eu? Nunca me tens em considerao. Disse a borracha branca.

    _Sabes que nunca me engano a fazer rabiscos. Um rabisco uma dana livre no

    papel. Talvez quando fizer um desenho...Certamente que um dia saberei desenhar.

    A borracha ficou mais tranquila. No entanto ainda respondeu: _ Porque no

    fazes um desenho agora? Fazes um rabisco, depois olhas para o rabisco e imaginas uma

    coisa qualquer.

    _ assim que se desenha? Perguntou o lpis.

    _Bem, acho que tambm pode ser assim. Respondeu a borracha.

    O lpis nmero dois HB saltitou sobre a folha de papel e mesmo ali respirou

    fundo e zs! Disse feliz: _ Fiz um rabisco. Mas no se parece com nada!

    _Ento tenta outro! Pode ser que tenhas mais sorte desta vez.O lpis deitou-se ligeiramente sobre o papel e desenhou uma linha sinuosa; uma

    linha curva fechada. _J est? Lembra-te alguma coisa?Perguntou a borracha. _Parece

    uma sombra... _Pois . Tambm concordo, parece uma sombra. Agora podes imaginar o

    que est frente da sombra. Eu acho que frente da sombra est um rapaz. _Eu tambm

    vejo um rapaz. Vou continuar a rabiscar. Disse o lpis n.2 HB.

    Durante algum tempo o lpis n.2 HB e a borracha branca divertiram-se a

    imaginar e a desenhar um rapaz. Depois de muitos rabiscos, nasceu um desenho.

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    _Que nome lhe vamos dar? Diz uma letra. Pediu o lpis.

    _G!

    _Gosto do G. Com o G escreve-se gelo. Sabes o quanto gosto de rabiscar na

    folha branca que parece uma pista de gelo! G tambm vem de gato. Os gatos tm

    bigodes. Com o G tambm se escreve gelado. Pois ...e os gelados so doces. Ah! Ah! Esabes que com o G tambm se escreve Gaspar. E Guilherme. Com o G tambm podes

    escrever Gonalo, Gaivoto, Gustavo! Disse o lpis n.2 HB.

    _Gosto de Gustavo, faz-me lembrar o gosto, o paladar, tudo do que gosto e tem

    cheiro. Gosto de Gustavo. Ento fica assim, o teu desenho chama-se Gustavo.

    O Gustavo nasceu de um rabisco feito num papel.

    Depois do rabisco veio o esboo de onde se podia ver um rosto de um rapaz.

    Depois do esboo veio a caneta preta que o contornou e o vestiu.

    _J acabaram? Posso ver como fiquei? Perguntou o Gustavo.

    _No. Disse o lpis n. 2 HB:_ Ainda no ests terminado. Gostava de te ver

    mais alegre, mais colorido. Precisas das cores.

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    _Onde posso ir encontrar cores?Perguntou o Gustavo. _Podes ser pintado com

    as canetas de feltro, os lpis de cera, os lpis de cor ou os guaches. Quais que

    preferes? Perguntou a lpis n. 2 HB.

    _Acho que prefiro os lpis de cor. O Gustavo chamou os lpis de cor que

    reunidos atriburam funes uns aos outros: _Tu pintas os cales. _Eu? Perguntou o

    verde._Sim, acho que os cales verdes tm piada!

    _E eu? Perguntou o amarelo.

    _Tu podes pintar o cabelo. O cabelo parecer raios de sol, com uma certa ideia

    de energia. Um cabelo elctrico! O vermelho fica para os sapatos...

    __No posso pintar outra coisa? _No. Disse o verde. Ficam-te bem os sapatos

    vermelhos. O bon ser violeta.

    _E eu? Perguntou o azul.

    _Tu, bem...Tu no sei. S sobras tu. Acho que s falta a cor de pele do rapaz.

    Respondeu o amarelo. Tu bem que podias pintar o corpo ou a pele do Gustavo.

    _Nunca vi um rapaz azul. _Eu tambm no.. disse o verde. Talvez seja uma ideia

    diferente, um rapaz azul, pinta-o de azul!

    Colorido o Gustavo espreguiou-se, soltou um bocejo e perguntou: _J

    terminaram?

    _Sim. Ningum se ops.

    _Posso sair da folha?

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    _Podes. Concordaram todos.

    _Vais para onde?

    _Gostava de ir voar, lentamente ao sabor do vento, depois pousar num stio

    diferente. Um stio novo.

    _Rasga-me uma folha de papel. Disse o bloco de desenho. Dobra a folha e

    transforma-a num avio de papel.

    O Gustavo subiu para o avio, disse adeus ao lpis de grafitti, borracha, aobloco de desenho e aos lpis de cor. Ajeitou o pio no bolso e disse obrigado.

    _Que tenham uma boa viagem! Disseram todos.

    _Adeus! Disse o avio de papel.

    Dito isto todos sopraram um bocadinho, at o avio sair da mesa ou do estirador

    a voar pela sala em direco janela. Ao longe o avio de papel tornava-se pequenino

    at se perder de vista.

    _Achas que ele vai voltar? Perguntou o lpis amarelo que era muito dado ao

    medo e ao perigo.

    _ Claro que vai. Respondeu o verde cheio de esperana.

    _ Olhem que para mim ele vai seguir a sua aventura que infinita! Respondeu o

    azul que pensava na imensido do mar e do cu.

    _ Ele vai encontrar um outro desenho ou rabisco, talvez encontre um stio novo e

    conhea o amor. No volta. Disse o vermelho apaixonado e atrevido.

    _ E tu roxo, qual a tua opinio? Ests a ficar muito estranho! Disse o verde.

    _ Tenho de ir fazer chichi, j volto!Os lpis de cor entraram devagarinho na embalagem de papel. A borracha

    arrumou-se no estojo e o bloco de desenho fechou-se. CRRRRRRR! Fez o fecho eclair

    do estojo que disse imperativamente: _ Por hoje j chega de desenhos!

    _ Vuuuuu! Vuuuu! Fez o vento no avio de papel.

    _ Para onde queres ir? Perguntou o avio.

    _ Para l daquela linha que separa o azul do azul. Respondeu o Gustavo.

    _ Hum... Mostrou-se o vento admirado.

    O avio sobrevoou o mar, a terra, os rios, as serras, as plancies, as grandes e

    pequenas cidades. Sempre para a frente, em direco linha.

    _ Ufa que j estou farto! Nunca mais chegamos l! O avio de papel j cansado

    disse: _ No queres escolher outro stio, esse parece-me ser muito longe!

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    Veio uma nuvem, depois outra, e outra ainda maior. O vento tentou afast-las, e

    soprou-as devagarinho.

    _ Vamos confundi-los. Disse a nuvem pequenina com o seu ar de estouvada.

    _ Vamo-nos disfarar de outra coisa qualquer! E dito isto as nuvens brancas

    comearam a tomar outras formas.

    _ Olha um urso a voar! Disse o avio.

    _ Olha um castelo! Disse o Gustavo.

    Mas como o vento no estava para brincadeiras, soprou mais um pouquinho,

    depois com mais fora, e por fim muito chateado disse imperativamente: _ Importam-se

    de ir embora? Dito isto a nuvem estouvada ficou muito irritada e comeou a ficar

    cinzenta. E todas as outras tambm. Depois ficou ainda mais escura. E as outrastambm. Depois ficou triste, soltou um soluo e comeou a choramingar. As outras

    tambm. E como gostavam de ficar assim em sintonia, comearam a chorar com mais

    intensidade. Soltaram gotas que caram em direco terra.

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    _ Est a chover! Disse o Gustavo.

    _No devias ter dito aquilo. Agora vamos ficar molhados.

    Dito isto o avio de papel comeou a ficar molhado e macio, pronto a desfazer-

    se, e disse assustado: _Ui, que isto est a acabar mal. O avio aterrou na calada de uma

    rua de pedra. Perto do capitel de um edifcio muito grande.

    _Atchiiiiiiiim! Espirrou o avio de papel agora amachucado.

    _ Estamos todos molhados. Agora sou um desenho esborratado! O azul

    misturou-se com o amarelo e tenho umas manchas verdes. Devamos procurar um stio

    seco para nos abrigar._ Boa ideia...Aaaatchiiiiimm! Disse o avio de papel.

    _ Se quizerem entrar posso arranjar-vos um local prximo do ar condicionado.

    Tm de se disfarar de panfleto ou mapa, ou de cartaz ou prerio, caso contrrio vo

    para o lixo! Ningum aqui gosta de ver papis no cho.

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    _ Quem s tu? Perguntou o Gustavo.

    _ Sou um bilhete da Galeria de Arte e do Museu.

    _ s engraado. Ests bem feito e pareces ser chique. _ Bem, sou um bilhete de

    cinco euros!

    _Hum! Por isso s importante? _ Bem, j fui, agora estou rasgado e quem quiser

    entrar tem de comprar um novo. Respondeu o bilhete.

    _ Ns gostvamos de entrar. Disse o Gustavo.

    _ Ento venham. Sigam atrs de mim. Disse o bilhete. Pararam em frente a umas

    ngremes escadas de pedra. Olharam para cima, assustados e respiraram fundo.

    _ Nunca chegaremos l! Ainda tentaram fazer uma escalada, mas nada havia a

    fazer.

    _ PssssT! PssssT! Fez o elevador.

    _ Sim, o que que queres?

    _ Vou subir para o 2 andar querem vir? Sem hesitarem, colocaram-se os trs a

    um cantinho, com uma expresso discreta e um certo ar de alvio. Aps as pessoas

    sarem, o Gustavo espreitou e disse: _ Vamos, podemos seguir em segurana!

    _ Quando entraram no espao amplo e iluminado exclamaram em coro: _

    Aaaaaa!

    _ Que lindo! Tenho a sensao que esta a minha casa! Disse o

    Gustavo de boca aberta._ Desculpa interromper, mas esta no a tua casa. a primeira

    vez que te vejo por aqui.

    O Gustavo olhou espantado para aquela rapariga que tinha um ar

    triste. Ou pensativo, ou um bocadinho chateada, ou outra coisa qualquer

    de que no me lembro a palavra certa, e perguntou-lhe: _ Quem s tu?

    _ Sou o desenho de uma rapariga. Chamo-me Lola. Fui

    desenhada por Picasso. E tu, o que s?

    _ Sou um desenho, feito a partir de um rabisco do lpis n. 2 HB.

    Ests bem desenhada. O teu lpis sabia bem o que estava a fazer. Pois

    olha, eu sou o primeiro desenho a srio do lpis n. 2 HB que estava

    sempre a rabiscar.

    _ E o que que esto a fazer neste stio? No me parece que tenham a pretenso

    de serem emoldurados na parede para exposio.

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    _ Estamos de passagem. a minha primeira viagem. No tivemos muita sorte

    com o tempo. Comeou a chover quando o vento irritou as nuvens e no lhes deu a

    importncia devida. Uma histria de amor mal resolvida, entendes?

    _ No. Nunca vi uma nuvem. Embora saiba o que o amor, nada tambm sei em

    relao ao vento. Mas comeo a gostar de ti. Tens coisas engraadas para contar.

    Aps alguns minutos, o Gustavo falou da sua viagem com o seu avio de papel.

    _ Se quizeres, tambm te posso contar coisas sobre a minha primeira viagem. Ou

    melhor, queres fazer uma viagem?

    _ Qual o destino? Achas que podemos ir para onde? Perguntou o Gustavo.

    _ Podes ir at ao Expressionismo, ao Cubismo, Pop Art, ao Barroco, ao

    Impressionismo, no sei, onde tu quizeres!

    _ Digo-te que a escolha mais difcil da minha vida! O nico stio que conheo

    bem o meu estirador branco, que fica numa casa em Trofa.

    _ Ento tenho uma ideia, podes fazer uma viagem sem destino. Segues a tua

    intuio e se no gostares, vais para outro lado, que te levar

    a outro diferente e assim, ser uma grande surpresa!

    _ Acho muito engraada a ideia. Por onde e quando

    posso comear? Perguntou o Gustavo.

    _ Agora. Primeiro encontras a ponta do fio. Trata-se

    do fio condutor de toda a tua viagem. Voltarei a encontrar-te

    em breve. Boa aventura! Disse Lola.

    _ Aaatchiiiiiimmmm! Eu acho que vou ficar por aqui.

    Disse o avio de papel.

    O Gustavo espreitou para aquele emaranhado de caminhos e, num plof

    escorregou num tnel. Assustado gritou: _AAAAAAiiiiiiiiii!

    Subiu, desceu e seguiu viagem at encontrar outro

    desenho, uma mulher de perfil e sentada:_ Acho que esfolei o

    joelho! Disse o Gustavo que tinha medo de rasgar o seu papel.

    _ Todos os que fazem esta viagem dizem que no muitofcil, mas apaixonante. Estou a pensar que estava a pensar que

    algum estava a pensar em ti. E pensando bem, no consigo

    pensar noutra coisa. Disse a mulher.

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    _ Claro, segues para onde quiseres, para qualquer stio, l! Mas primeiro tens de entrar

    no espelho mgico e tornares-te num menino que saiba pensar a srio. Tens de querer

    aprender para descobrir um mundo mgico e maravilhoso. Estou a pensar que_ A mim

    nunca me aconteceu isso! Respondeu o Gustavo.

    _ Estou a pensar que a mim tambm no!

    Dito isto o Gustavo perguntou: _ Sabes onde fica a

    aldeia mais prxima ontem pensei que o pensamento um

    lugar. Nesse lugar tu que pensas.

    _ Hum! O Gustavo estava baralhado e um pouco

    confuso de tanto pensar no que o desenho estava sempre a

    pensar.

    _ Entra no espelho. Do outro lado existe o mundo

    que procuras. Tenho a certeza que voltars. At breve!

    Disse a mulher. _ Opssss!!!! Aaaiiiiiiii !!!! Que engraado este

    lugar. Um espelho, uma porta, uma bola ou uma argola! Azul e redondo, como a forma

    do mundo. Ou mais ou menos, porque um crculo no igual a uma esfera, e tambm

    no igual a uma circunferncia! Hum, que estranho, estou a

    pensar que consigo pensar, mas pensar a srio! Ufa, que estou

    farto de andar e ainda no vi nada.Dito isto, o Gustavo avistou

    ao longe uma pintura.

    O Gustavo caminhou naquela paisagem de Outono e

    sentiu o cheiro da terra molhada. As folhas danavam com o

    vento at adormecerem na manta que cobria o cho. No ar

    sentia-se o perfume e a msica das cores. Ao longe avistou

    uma aldeia.

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    _Que stio mais engraado, mas no se v ningum com quem possa falar.

    _ Ccrcc! Respondeu a galinha.

    _ Que flores to coloridas. Estamos na Primavera? Perguntou o Gustavo.

    _ Ccrcc! Respondeu a galinha da frente que era mais comunicativa.

    _ Quem que mora nesta casa? Achas que posso entrar? Perguntou o Gustavo.

    _ Ccrcc! No sei. Se fores uma galinha no podes.

    _ No sou uma galinha. Sou um desenho feito a partir de um rabisco do lpis n. 2 HB.

    _ Ccrcc. Disse a outra galinha, que na sua linguagem queria ir procurar minhocas

    e no lhe apetecia estar szinha.

    _ Gostava muito de ir procurar minhocas contigo. Mas no sei muito do assunto.Disse o

    Gustavo.

    _ Deixa estar. Afinal vou pr um ovo! Ccrcc! A galinha corou, fez um bocadinhode fora e num plof, libertou um ovo verde.

    _Nunca tinha visto um ovo verde! Parece de pedra. Disse o Gustavo espantado.

    _ Podes ficar com ele! E dito isto as galinhas foram embora.

    _ Obrigado... Disse o Gustavo com o ovo na mo, que afinal era mesmo de pedra.

    Talvez seja um ovo que nunca se quebre. Como a verdadeira amizade. Pensava ele.

    Aproximou-se da casa.

    Conta-me uma histria! Pediu a criana ao colo da me Era uma vez um mundo ondeexistiam pessoas que passavam os dias a sonhar. Viviam no mundo da criatividade e daexpresso. Sempre que tinham uma ideia, transformavam-na em pontos, linhas, formas,texturas e cores. Algumas tinham volume, luz e sombras. Esses homens criavam ummundo novo a partir do seu mundo interior e davam-no a conhecer aos outros homensde forma a que tambm eles experimentassem essa descoberta de se poder ser outracoisa para alm do que por diversas razes temos de ser. Num desses mundos existiaum cu azul onde as cabras se alimentavam dos cheiros fumantes das

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    chamins, em que se descobriam os odores do amor que as mes

    confeccionavam nas pequenas cozinhas. As cabras pousavam sobre as nuvens de forma

    a ouvirem o violinista que tocava para os noivos que sentiam um imenso amor pelooutro e estavam felizes por partirem numa viagem a dois para o resto das suas vidas.

    Nesse mundo existiam muitas cores, muitas flores e todos eram felizes.

    _ H__ Gostava tanto de conhecer esse mundo! E pensando nisso, o

    Gustavo voltou ao seu novelo de caminhos e avistou uma pequena

    aldeia. Aquele stio era muito bonito, mas como entretanto

    anoitecia, tinha de procurar um stio para dormir. Ou ir para outro

    lugar, onde as cores no estivessem ainda a dormir. Ao longe as

    cores quentes transmitiam uma sensao aconchegante de conforto.

    To agradveis como as pessoas, os anjos e a noiva que feliz voava

    no ar, ao som da msica, com as suas cabras e galinhas, com o

    violinista e as cores, o amor e a alegria.

    _Est noite, mas no est frio! Disse o Gustavo.

    _ Ento, podes ficar para a festa, ouvir a msica e danar.

    _Danar? Perguntou o Gustavo ao rapaz que

    acompanhava o pai.

    _ Sim, danar. Hoje dia de festa e estamos todos

    convidados para danar. Dito isto o rapaz fez trs acrobacias

    no ar e riu muito feliz: _ Anda. Disse ele. O Gustavo seguiu-

    os at ao outro lado da aldeia.

    _ Gostas do que vs?

    _ Sim, estou a gostar, sinto-me muito feliz aqui. _

    Ento podes ficar! Devemos ficar nos stios e com as pessoasque nos fazem realmente muito felizes.

    _ Tenho de seguir viagem. Disse o Gustavo ao rapaz, explicando-lhe de seguida

    a sua histria.

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    _ Gostei muito de te conhecer. Talvez um dia possa ver o teu lpis n. 2 HB e

    esse stio de onde vieste.

    _ Leite com chocolate! Apregoou o

    animal.

    _ Leite com chocolate! Hum! Apetecia-me

    tanto! Disse o Gustavo._ Ento podes beber.

    _ Tambm quero. Disse a Galinha que j

    estava na fila. O Gustavo limpou os seus bigodes

    de leite e a sorrir disse obrigado a todos e partiu.

    _ Queres comprar um jornal, para leres na viagem?

    _ No tenho dinheiro. Disse o Gustavo

    _ Ento, posso oferecer-te o da semana passada. As

    notcias so muito actuais porque falam de sonhos, de

    sentimentos e do amor.

    Assim, no se

    desperdia papel e, depois, poders passar a

    informao a outra pessoa que conheas na tua

    viagem. Parecia-lhe uma boa ideia. O Gustavo

    agradeceu e partiu.

    _Que stio to bonito, to verde e fresco!

    Olhou volta e como no viu ningum, rodopiou de

    felicidade at ficar tonto e cair para o lado. Ao longe

    avistou uma casa, mesmo ao lado de uma linha

    frrea ao pr do sol, onde circulava um comboio

    muito veloz. Era uma passagem de nvel. Anoitecia.

    O Gustavo permanecia sentado a ver os comboios a passar:

    _Talvez devesse ir para outro stio! Pensava ele.E assim fez. Sentado numa carruagem muitoconfortvel, olhava para uma bela senhora que lia umlivro. O Gustavo aproveitava tambm para ler o jornalda aldeia de Chagall. Que chapu to elegante. E,

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    pensando nisso reparou que tinha perdido o seu bon: _ Sou mesmo distrado! Onde o

    terei deixado?

    _ Eu tambm estou sempre a perder coisas. J perdi sonhos, o amor, a alegria e

    os momentos mais importantes da minha vida. Perco tudo, por engano ou

    distraco.Disse aquela senhora que estava muito triste. Quando estamos tristes

    devemos falar com os outros, ou ouvir. Sentou-se ao seu lado.

    _ Estamos a chegar. Podes ficar com o meu chapu porque gosto de ti e acho

    que vais ficar muito engraado.Disse a senhora Hopper.

    O Gustavo ofereceu-lhe o jornal, que falava dos sonhos

    e do amor. Saiu na estao seguinte e disse adeus acenando com

    o brao at deixar de ver o comboio.

    _ Hum! Que cheiro! Que stio to porco. As pessoas aqui

    no tomam banho? Pensou ele.

    _Olha s aquele senhor! Ele no sabe que no se faz

    chichi na rua e para o cho? Eu j fiz uma vez, mas estava muitoaflito e procurei um stio muito discreto.

    _ Ouve l, j te disse para vires arranjar o telhado da

    Estalagem. Arranja a palha idiota! Disse a mulher janela. Aquelas pessoas eram

    muito mal educadas. No se dizem asneiras ou disparates. O Gustavo decidiu sair dali.

    _ Dizes que est aqui escrito, Sacerdote Demonaco? s

    mesmo imbecil. Diz-me a pgina ou corto-te os bigodes!

    _ Estou a pensar, com o chapu de pensador. Mas deve

    estar estragado, porque as ideias no me ocorrem. Latim, Latim,

    estaschiops, oks, oks, pilimtruztruz! Acho que est no outro livro!

    Disse o monstro. Aqueles seres eram muito estranhos, e tambm

    no pareciam muito simpticos.

    O Gustavo decidiu sair daquele lugar e ir para outro;

    menos complicado para a sua compreenso de

    desenho.

    _ Gosto deste lugar, cheio de pontos elinhas de manchas e de cores alegres. Ascores primrias: o amarelo, o azul cianoe o magenta. As cores

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    neutras: o preto e o branco. Gosto deste lugar, cheio de formas geomtricas.

    Na varanda do Celeiro Vermelho estava sentada uma rapariga loira e muito

    bonita. Estava a ter uma conversa muito importante com o namorado. Que comovente

    aquele amor! Parecia um romance ao estilo americano. Os dois

    terminavam a sua breve conversa com um longo beijo romntico.Comovido, o Gustavo corou e foi para outro lugar. Seguiu viagem no seu

    novelo de caminhos. Mas decidiu no ir para muito longe.

    _ Iupiii! Queres jogar? Perguntou-lhe a Rapariga com Bola que

    nunca se cansava de jogar.

    _ Sim. Disse o Gustavo que de imediato se apresentou.

    _ Tenho um presente para ti. Toma! Disse o Gustavo.

    E dito isto ofereceu-lhe o ovo de pedra.

    _ No uma bola, mas tambm no tem arestas e muito bonito. Obrigado. A

    sorrir o Gustavo retomou viagem. Ao longe avistou uma rapariga que brincava com o

    seu arco.

    _ Onde vais? Perguntou-lhe o Gustavo. _Espera, quero ir

    contigo! O Gustavo seguiu a rapariga at sua casa. Sempre a

    correr, num jogo em que no se podia pisar as sombras.

    _ Quem pisar perde! Podes entrar, o pai j fez o jantar. Ele

    adora cozinhar. Gostas de pur de batata? _Sim. Respondeu oGustavo.

    _ Andas na escola?

    _ No. Nunca estive na escola. E tu? Perguntou-lhe o

    Gustavo.

    _ Eu ando no 6 ano. Gosto muito de todas as disciplinas,

    mas em especial das aulas de Educao Visual e Tecnolgica.

    _ E o que que aprendes nessa disciplina? Perguntou

    o Gustavo.

    _ Aprendo a valorizar as minhas ideias e as dos outros,a criar projectos, a saber olhar para o mundo minha volta deforma a descobrir sempre coisas novas e a conhec-lasmelhor. Aprendo a descobrir o belo do mundo que me rodeiae a intervir nele de forma consciente, atravs de muitos

    recursos e meios tcnicos. Aprendi que o mundo ao longo

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    do tempo tem mudado e que podamos ter um

    uma vida melhor se todos os homens

    procurassem o amor e a beleza nas pequenas

    coisas. O Gustavo estava encantado comaquela rapariga que era to bonita quanto

    inteligente e sensvel.

    _ Este o meu pai e esta a minha

    me. Disse a Rapariga de Tranas. _O meu pai chama-se Leopold Zborovski, e a

    minha me Lunia Czechovska.

    O jantar estava muito saboroso, e todos juntos ouviram atentamente a histria da

    viagem do Gustavo. _ Talvez um dia conhea o teu lpis n. 2 HB. Disse a rapariga a

    sorrir . O Gustavo despediu-se de todos e muito feliz voltou ao seu novelo de caminhos.

    _ Queres boleia? Perguntou-lhe o rapaz .

    Sem hesitar, o Gustavo voou sobre aquela terra de um novo

    mundo do fantstico, em cima de um ganso. Indo eu, indo

    eu a caminho de Viseu, encontrei o meu amor, ai Jesus que l

    vou eu. Ora zus truz truz, ora zs trs trs, ora chega, chega,

    chega, ora arreda l para

    trs!Assim cantavam as

    crianas em roda, que

    interromperam a brincadeira

    para nos dizerem adeus.

    _ Querem mais sopa

    de feijo?

    _No. J comi trs sopas de feijo. Respondeu osoldado. _Ai! Ai! Ai! Disse a mulher muito zangada: _ Vais voltar para a mesa porque

    falta de educao levantares-te sem pedires licena! Se queres ser um homem grande,

    tens de comer muita sopa!

    A mulher agarrou no homem e truz, colou-o mesa com fita cola. Abriu-lhe a boca eobrigou-o a comer a sopa toda.

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    _ Queres sopa? Perguntou o rapaz ao Gustavo.

    _ Quantas sopas tenho de comer?

    _ Muitas, at ficares grande.

    _ No, obrigado! Prefiro uma ma.

    _ Deixa-me ali naquele lugar. Disse o Gustavoao rapaz do Ganso.

    J cansado, adormeceu debaixo da rvore.

    _ Aiiiiii! Aiiiiii ! Chorava o rapaz.

    _ Sabes o que acontece aos meninos que tm

    demasiada imaginao? Ficam de castigo. _ Prometo

    que nunca mais conto histrias inventadas.Disse o

    menino.

    Naquele momento todas as pessoas paravam de ouvir ou contar histrias. O

    menino mgico das histrias fantsticas no podia sonhar porque levava uns grandes

    aoites no rabo. _Aiiii! Aiiii! Chorava o rapaz.

    _ Quem aquela mulher malvada que est a bater no mido? Perguntou o

    Gustavo rapariga que estava sentada na cama e que no conseguia adormecer por no

    ter uma histria.

    _ a me do Papo do Telhado. Sem histrias ningum vai conseguir

    adormecer! Dito isto comearam todos a fazer uma cara triste, depois ouviu-se umsoluo, depois veio o choro. Queremos ouvir uma histria!. Disseram em coro todas

    as pessoas que queriam dormir. Ouviu-se um soluo to grande que o telhado voou. O

    papo foi-se embora, e a me do papo foi atrs dele: _ Anda c! Tens ainda muitas

    criancinhas para assustar. Preguioso. Ai que vais levar um aoite nessa cabea de

    cebola!

    _Finalmente podemos ouvir uma histria! Disse a rapariga. Como o rapaz estava

    triste, o Gustavo contou a todos a sua histria e falou-lhes do

    seu amigo lpis n. 2 HB.

    _Que sonho! Pensou o Gustavo ao acordar! L fora o

    sol sorria.

    Seguiu viagem numa bela seara.

    _O que o amor? Perguntou o Gustavo mulher.

    _ O amor tudo o que de bom e belo existe. _ E o que

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    a beleza e a bondade? Perguntou o Gustavo._ No sei responder a isso, s sei sentir. Por

    vezes difcil encontrar as palavras certas para um sentimento. Queres uma ma?

    _Sim, obrigado. Respondeu o Gustavo que a saboreou com prazer. O Gustavo

    sentia-se com saudades de casa e decidiu voltar.

    _ Toma, trouxe-te uma ma! de Czanne! Disse o Gustavo ao seu avio. Ao

    longe, o Gustavo voava sobre o seu avio de papel, que por sua vez sobrevoava o mar.

    _Estamos quase a chegar! Mas dito isto apareceu o vento, atrs do vento vieram

    as chatas das nuvens e atrs das nuvens veio a chuva.

    _ Despacha-te ,disse o Gustavo para o avio de papel. Vai voltar a chover. O

    avio esticou-se para a frente, endireitou o seu bico de papel e Zssss! Entrou na

    janela da casa, e pousou levemente sobre o estirador branco.

    _ Chegmos a casa! Disse o Gustavo.

    _J tnhamos saudades vossas! Disseram os lpis de cor.

    _ Eu no disse que ele voltava?

    _ Sim verde, disseste.

    _ Queres ver o que fiz para ti?_Hum! Hum! Disse o Gustavo afirmativamente e acenando com a cabea.

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    _ Ento anda, os lpis de cor esto a terminar. Disse o lpis HB n.2.

    _Olha, fizemos um desenho! Disse a borracha branca.

    _ Como te chamas? Perguntou-lhe o Gustavo.

    _Maria.

    Dito isto olharam um para o outro, coraram um pouquinho e sorriram.

    _ Querem fazer um desenho? Perguntou a borracha.

    E dito isto comearam todos a pensar. Primeiro era preciso ter uma ideia, depois

    era necessrio fazer o primeiro rabisco, depois... Bem, depois j sabem! J vos contei a

    histria!

    _s verde.Disse o Gustavo Maria.

    _ E, tu s azul._ Gostas do azul? Perguntou o Gustavo.

    _ muito engraado.

    _ O teu verde tambm. Gosto do teu peixe.

    _ do mar. Disse a Maria a sorrir.

    _ Gostavas de ver o mar? Perguntou o Gustavo.

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    _ Sim.

    _ Ento um dia levo-te l!

    _ Hum, rasguem-me uma folha! Disse o bloco A3. _ Dobrem uma folha, e faam

    um barco de papel!_ Boa ideia. Disseram todos: Vamos fazer uma viagem!.

    A arte uma fonte de conhecimento, no s na medida em que d continuidade

    imediata obra das cincias e complementa as suas descobertas, como nomeadamenteas da psicologia, mas tambm na medida em que chama a ateno para as fronteiras

    onde a cincia falha, e entra em cena, quando se considera capaz de adquirir novos

    conhecimentos, inviveis fora do campo da arte. atravs dela que chegamos a

    conhecimentos que alargam o nosso saber, embora no tenham um carcter abstrato-

    cientfico (HAUSER, Arnold, 1973, p.9).

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    A actividade aqui apresentada foi realizada no mbito da disciplina de Educao

    Visual e Tecnolgica, no ano lectivo de 2000/2001, inserida no projecto Como esto o

    ar, a terra e o mar?, que participou no concurso de projectos temticos APEVT_

    LIPOR 2000/2001, subordinados aos temas O Ambiente e Que fim para os lixos?,

    para a rea Metropolitana do Porto. Este projecto, vencedor do segundo lugar a nvelnacional, foi desenvolvido com algumas turmas da Escola Bsica do 2 e 3 ciclos

    Antnio Bento Franco, na Ericeira.

    A personagem realizada, facilmente nos remete para a Maria que surge na

    histria Gustavo Azul. de salientar o uso de materiais de desperdcio e que aestrutura feita tendo em ateno a concretizao de uma marioneta de grandes

    dimenses.

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    Gustavo Azul II:

    Pequenos animais

    _ No ouviram o que eu disse? Rasguem-me uma folha e faam um barco de

    papel! Disse o Bloco A3.

    Ao longe, a um canto do estirador, o avio de papel sentava-se em cima de umlivro gordo. Fazia um beicinho de tristeza e olhando para o cho pensava: _ J no sou

    importante! Sou mais um desses papis que depois de usados ficam no esquecimento. E,

    quando estava prestes a libertar uma pequena lgrima de tristeza, o livro respondeu:

    _ Olha l! Devias lutar pelos teus direitos! No s pelos teus como por todos os

    direitos das rvores do mundo! Quanto mais papel se desperdiar, mais rvores so

    abatidas todos os dias.

    O avio de papel ficou impressionado com aquela verdade. Embora no fosse s por ele,

    cabia-lhe a grande tarefa de pensar em todas as rvores do mundo. Olhou para os seus

    amigos que terminavam de fazer as malas para a viagem e disse baixinho:

    _Tenho uma ideia! Mas ningum ouviu. E por tal voltou a repetir:

    _ Tenho uma ideia! Voltaram a no o ouvir.

    Ento, o avio de papel gritou muito alto: _ Tenho uma ideia!

    De imediato olharam todos admirados e perguntaram:

    _Uma ideia?

    _ Sim, uma ideia! Disse o avio de papel orgulhoso.

    _ Se quizerem, podem transformar-me novamente numa folha A3, podem voltar

    a dobrar-me e a realizar o barco de papel, assim, no ser necessrio outra folha de

    desenho.

    _ Boa ideia, disse o bloco.

    _ Mas eu gosto de ti assim. Disse o Gustavo.

    _ Estou habituado a olhar para ti com esse bico doido. Gosto de voar

    contigo.No sei se vou ser capaz de te imaginar como um barco de papel... Ainda porcima no gostas de gua e estiveste constipado...

    _ A mim parece-me uma excelente ideia! Disse a Maria.

    _ Ns tambm achamos. Disseram os lpis de cor em coro.

    _ Hum. Vou ter saudades tuas...assim, com essa forma. Mas comeo a gostar da

    ideia.

    Dito isto comearam todos a transformar o avio de papel num barco de papel.

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    _ J terminaram? Ui! No me faam ccegas!

    _ J ests terminado! Ficaste to engraado. Disse o Gustavo.

    _ Agora podemos lev-lo para a rua. No vai ser fcil! Tem de ser um trabalho

    de equipa...

    Depois de explicar o seu plano, o Gustavo deu a todos tarefas. Os lpis de cor

    azul e o verde deitaram-se de forma a fazerem uma rampa. A Maria e o Gustavo e olpis n.2 HB e a borracha, entraram para dentro do barco de papel. O Bloco folheou-se

    muitas vezes e muito rapidamente de forma a criar vento... o barco de papel voou pela

    janela e, como no tinha asas, caiu numa poa de gua, uma enorme poa de gua.

    _ Olha o mar! Disse a Maria. to engraado!

    _ No toques na gua seno esborratas as tuas cores de desenho! Disse o

    Gustavo preocupado com a Maria. _ No estamos no mar. Disse o Gustavo. Isto s

    uma pequena poa de gua que se formou com a chuva que caiu.

    _E o mar fica muito longe daqui?

    _ Croach. Croach. Croach. Tambm s verde! Mas no s uma r! Que espcie

    de animal s tu? Perguntou a r Maria que ficou muito assustada.

    _ No. No sou uma r, sou um desenho e o gustavo tambm. Estamos aqui na

    tua poa de gua porque queremos ver o mar.

    _ Sabes onde fica o mar? Perguntou o Gustavo r que estava sempre a olhar

    para o cu.

    _ Hum! Hum! No sei onde fica o mar! Sou um pouco distrada...

    Dito isto a Maria segredou ao ouvido do Gustavo: _ Porque que ele est a olhar

    para o cu?

    _ No sei respondeu o Gustavo que de seguida perguntou baixinho borracha:

    _ Sabes porque que ele est a olhar para o cu?

    _ Hum, no sei. Disse a borracha que perguntou baixinho ao lpis que se dobrou

    para a ouvir:

    _Sabes porque que ela est a olhar para o cu?_ No. No fao a mnima ideia. Disse o lpis n. 2 HB que disse ainda mais

    baixinho ao barco de papel:

    _ Sabes porque que a r est sempre a olhar para o cu?

    _ Acho que maluca! Disse o barco com ar de desconfiado.

    Enquanto todos olhavam para o cu, ouviu-se um

    barulho....ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ! ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!

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    _Afinal, a r estava a ver se via a mosca! Disse o Gustavo.

    A r era muito bonita, esguia e de pele lisa. Parecia no entanto muito chateada.

    _ Acho que no lhe devias dar importncia! Disse a Maria.

    _As raparigas so assim, gostam muito de inventar brincadeiras. Acho que o

    jogo da apanhada engraado. Porque que no tentas apanh-la?

    A r olhou para a Maria e disse-lhe muito chateada: _Porque aquela mosca muito tonta. Se a apanhar vou ter de a comer, tenho c uma fome!

    _ Argh! Que nojo! Gostas de moscas?

    _Sim, adoro comer moscas ao pequeno almoo, ao almoo e ao jantar. Como

    no tenho refeies s horas certas, como moscas sempre que posso.

    _ Eu no sou uma mosca! Sou um vespo! Disse o insecto ofendido que partiu

    amuado.

    A r ficou confusa. Precisaria de uns culos?

    _Vives aqui? Interrompeu o lpis n. 2 HB.

    _ No, vivo no tanque de pedra. E por falar nisso tenho de voltar. Esto l os

    meus girinos.

    _ O que um girino? Perguntou o barco de papel.

    _Um girino uma r beb que se parece com um peixe. No tem patas, tem

    cauda, e respira por guelras. O girino transforma-se. Primeiro desenvolve patas traseiras

    e, em seguida, patas dianteiras; as suas guelras transformam-se em pulmes para que

    possa respirar o ar.

    _Podemos ver os teus girinos? Perguntou a Maria entusiasmada com a ideia.

    _Sim, podem.

    Dito isto, a r colocou o barco de papel na cabea como se de um belo chapu se

    tratasse. No alto, todos gritavam de entusiasmo aquando os saltos da r.

    _Como que te chamas? Perguntou-lhe a borracha.

    _Chamo-me Caramela.

    Quando chegaram ouviram:_Buuuuu! Vou dizer me, isso meu!

    _ Ento apanha-me!

    _A ltima a chegar burra!

    _Buuuu! Snif! Snif! s mesmo de sangue frio! No sabes brincar! Vou

    dizer me!

    Ficaram todos de boca aberta perante a algazarra do tanque de pedra.

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    _ sempre assim! No se preocupem, daqui a pouco tempo esto todos ao meu

    colo a ouvir histrias e a cantar. So crianas, e so tantas que difcil colocar ordem

    nisto.

    Querem entrar na nossa casa?

    _No podemos. Somos de papel e vamos ficar molhados!

    _Hum...pois ! Mas o lpis pode. Gostava muito que fizesses um desenho naparede do tanque de pedra.

    Enquanto todos permaneciam sentados nas margens do tanque, o lpis n. 2 HB

    mergulhava no fundo. A r Caramela chamava todas as crianas girinas que em fila

    faziam danas na gua. Aps alguma ordem, todos se sentaram de frente para a parede

    e, a, o lpis realizou um desenho: A histria da transformao de um girino em r.

    _Vamos ficar assim? Perguntou o girino leopardo.

    _Sim. Disse a me. No tarda ters uma cauda maior, vais parecer um lagarto!

    _ Buuuuu! Eu no quero parecer um lagarto!

    Dito isto apareceu um lagarto verde num ramo de um arbusto.

    _Qual o problema? Ser lagarto muito bom!

    _Olha, que animal to engraado. Tambm verde! Disse a Maria.

    _ Sim, sou verde.

    _Queres entrar no tanque? Perguntou a av girina que era muito manhosa e

    irnica.

    _No quero estragar as minhas escamas! Prefiro apanhar uns belos banhos de

    sol. E, eu sou um rptil, no sou um anfbio. Por tal, respiro por pulmes e vivo na terra.

    Dito isto, o lagarto colocou um creme na sua cauda e muito vaidoso perguntou:

    _Gostam da minha nova cauda?

    _Hum! Hum! bonita! Disse o lpis n. 2 HB que se tentava secar ao sol perto

    do ramo do lagarto.

    _A minha primeira cauda partiu-se, a segunda ofereci-a, a terceira esqueci-me

    dela e, esta cresceu ontem. Estou sempre a mudar de cauda! Por falar nisso...Ao longe, o camaleo ao sair do ramo da rvore, deixa de ser castanho para tomar a cor

    verde da folha onde deita a cabea com uma expresso dorminhoca. Agarra numa folha

    de papel e comea a redigir um postal para o seu primo Heloderme que vive no Mxico.

    Tenho saudades das tuas receitas, das gulosices, dos chs. Continuas a ser um

    comilo? Ainda s conhecido como o monstro-de-gila? Aposto que ests mais velho,

    careca e gordo! D notcias e comprimentos Joaninha. Um abrao, Z.

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    _Chamo-me Luth como a minha av antepassada Luth. E este o caracol

    Mobilizzz. Z com trs zzz.

    Enquanto o lpis olhava envergonhado para a tartaruga Luth, sentiu uma

    mordidela no seu corpo de madeira.

    _Ui! Ests parva ou qu? Mas quem s tu? No me pareces ser uma afia, mas lque s muito agressiva s!

    _ Sou uma trmita; uma formiga branca, tenho fome e apeteceu-me mordiscar a

    tua madeira que por sinal muito saborosa....

    _Olha, trmita tonta, no voltes a fazer isso!

    _Eu gostava de morar na tua madeira!

    De viajar com vocs e de conhecer o mundo.

    _Parece-me perigosa, no achas?

    Perguntou baixinho a Maria ao ouvido do

    Gustavo.

    _Hum! Hum! Acho que melhor

    arranjar uma bela desculpa! Ouvi dizer que

    tambm comem papel. Disse a borracha

    baixinho.

    _Sabes trmita atrevida, ns vamos para o mar. E, o nosso barco de papel, no

    aguenta muito peso...se vieres connosco, vamos ao fundo e afogamo-nos... tens de

    construir a tua casa noutro pedao de madeira porque o lpis n.2 HB tem uma misso

    muito importante a cumprir.

    _Tenho? Perguntou o lpis que no tinha percebido a desculpa do Gustavo.

    E dito isto, a Maria deu-lhe uma cotovelada e l se foi novamente o lpis.

    Pum! Trs!

    _Aaaiiiiiiii!!!!! Mais uma e parto mesmo o bico. Disse o lpis depois de ter

    cado._Chiu! No faas barulho! s um pouquinho histrico no achas?

    _Desculpa, quem s tu? Perguntou o lpis.

    _ Sou um bicho da seda e estou a tecer o meu casulo. Preciso de me concentrar.

    No tardar muito, deixarei de ser uma larva e transformar-me.-ei numa

    borboleta acinzentada. J fiz um fio de seda com cem metros de comprimento. Estou

    muito cansada.

    Todos se esgueiravam na parede do tanque para ver a larva.

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    _Vai ficar muito bonita no achas?

    _Hum! Hum! Acho que sim.

    _ sempre a mesma coisa! Eu tenho carradas de trabalho! E a larva que

    sempre a boazinha e a linda da histria.A aranha estava muito chateada. Fazia um beicinho e sentada na sua teia, trocava

    as pernas numa pose muito elegante.

    _Borboletas! Bah! So umas tontas! Eu tambm teo a teia com a seda que

    fabrico do meu prprio corpo. Sai-me do corpinho de aranha, entendem?

    _Sim.Disse o Gustavo.

    _Ainda por cima fao sempre estas espirais maravilhosas e viscosas.

    _ verdade, a tua teia est muito bem feita. bonita e atrai a ateno. a tua

    casa?

    _No rabisca tonta! Uma teia uma armadilha, quando as moscas e os outros

    insectos so apanhados, eu transformo-os no meu almocinho!

    Aquela aranha era pouco simptica, um tanto ou quanto ciumenta e no era l de

    muita confiana. Assim, todos decidiram sair dali e ir para outro lugar.

    Anoitecia.

    A Maria bocejava e abraava-se ao Gustavo, encostando a cabea no seu ombro.

    _Sabes o que so as estrelas? Perguntava-lhe ela.

    _Sim, sei. Conto-te um dia. Sabers toda a histria do princpio do mundo. A

    histria dos planetas e das estrelas.

    A borracha encostava a sua cabea no colo do Gustavo que por sua vez estava

    encostado ao seu barco de papel que tinha no seu interior o lpis n. 2 HB que dormia

    tranquilamente e sonhava com o mar.

    _Finalmente que j noite! Disse a salamandra com a sua pele hmida e lisa.

    _Onde vais? Perguntou-lhe o Gustavo._Vou para a gruta, querem vir?

    _Queres ir Maria?

    _ Hum! Talvez esteja mais abrigado!

    Assim, a Salamandra deu boleia a todos, deixando-nos num stio muito

    agradvel e quentinho.

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    E, a histria continua ...Email [email protected]

    Trabalho realizado por: Paula Fradee com a colaborao de Jos Lima

    2005

    Paula fradehttp://paulafrade.deviantart.com/gallery/

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