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PEDAGOGIA LITERATURA INFANTO-JUVENIL
144

Modulo Literatura Infanto-juvenil

Sep 03, 2015

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Midiã Ellen

Literatura Infanto-juvenil - EAD
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  • PEDAGOGIALITERATURA

    INFANTO-JUVENIL

  • Universidade Estadual de Santa Cruz

    ReitorProf. Antonio Joaquim da Silva Bastos

    Vice-reitoraProf. Adlia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

    Pr-reitora de GraduaoProf. Flvia Azevedo de Mattos Moura Costa

    Diretora do Departamento de Cincias da EducaoProf. Raimunda Alves Moreira Assis

    Ministrio daEducao

  • Ficha Catalogrfica

    L776 Literatura infanto-juvenil: pedagogia mdulo 5, vo- lume 1, EAD / Elaborao de contedo: Sandra Maria Pereira do Sacramento, Inara de Oliveira Rodrigues. [Ilhus, BA]: EDITUS, [2011]. 141p. : il.

    ISBN 789-85-7455-260-6

    1. Literatura infantojuvenil Estudo e ensino. I. Sacramento, Sandra Maria Pereira do. II. Rodri- gues, Inara de Oliveira. III. Pedagogia. CDD 809.89282

  • Coordenao UAB UESCProf. Dr. Maridalva de Souza Penteado

    Coordenao do Curso de Pedagogia (EAD)Dr. Maria Elizabete Sauza Couto

    Elaborao de ContedoProf. Dr. Sandra Maria Pereira do SacramentoProf. Dr. Inara de Oliveira Rodrigues

    Instrucional DesignProf. Msc. Marileide dos Santos de OliveraProf. Msc. Cibele Cristina Barbosa CostaProf. Msc. Cludia Celeste Lima Costa Menezes

    RevisoProf. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira

    Coordenao de DesignProf. Msc. Julianna Nascimento Torezani

    DiagramaoJamile A. de Mattos Chagouri OckJoo Luiz Cardeal Craveiro

    Capa Sheylla Toms Silva

    PedagogiaEAD . UAB|UESC

  • PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS

    SAIBA MAIS

    Aqui voc ter acesso a informaes que complementam seus estudos a respeito do tema abordado. So apresentados trechos de textos ou indicaes que contribuem para o aprofundamento de seus estudos.

    LEITURA RECOMENDADA

    Indicao de leituras vinculadas ao contedo abordado.

    PARA CONHECER

    Aqui voc ser apresentado a autores e fontes de pesquisa a fim de melhor conhe-c-los.

    VOC SABIA?

    Esses so boxes que trazem curiosidades a respeito da temtica abordada.

  • Sumrio

    UNIDADE IA LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A FORMAO DOS

    ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS

    1 INTRODUO ......................................................................... 132 A LITERATURA INFANTIL E OS ESTADOS-NAO ................... 143 CINCIA E RAZO NO CONTEXTO DA LITERATURA INFANTIL . 15ATIVIDADES ................................................................................. 22RESUMINDO ................................................................................. 22REFERNCIAS .............................................................................. 23

    UNIDADE II A QUESTO DO CNONE E A LITERATURA

    INFANTO-JUVENIL

    1 INTRODUO ......................................................................... 272 O LITERRIO: DO MUNDO GREGO S COMUNIDADES IMAGINADAS ......................................................................... 283 A LITERATURA INFANTIL E SUA FUNO PROPEDUTICA ...... 31ATIVIDADES ................................................................................. 39RESUMINDO ................................................................................. 40REFERNCIAS ............................................................................... 40

    UNIDADE IIILITERATURA INFANTO-JUVENIL E O LUDOS

    1 INTRODUO ......................................................................... 432 DE ARISTTELES AO LUDOS .................................................. 443 A CRIANA COMO PERSONAGEM NA LITERATURA INFANTIL .. 49ATIVIDADES ................................................................................ 52RESUMINDO ................................................................................. 54REFERNCIAS ............................................................................... 55

    PARTE I

    Prof. Dr. Sandra Maria Pereira do Sacramento

  • UNIDADE IVA LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A REPRODUTIBILIDADE TCNICA

    1 INTRODUO ......................................................................... 572 A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E SEU ESTIGMA ............... 58ATIVIDADES ................................................................................. 66RESUMINDO ................................................................................. 69REFERNCIAS ............................................................................... 69

    UNIDADE VA LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A FORMAO

    DO ESTADO BRASILEIRO

    1 INTRODUO ......................................................................... 712 A FORMAO DO ESTADO-NAO BRASILEIRO ..................... 723 A LITERATURA INFANTIL E OS DADOS CONTEUDSTICOS ...... 75ATIVIDADES ................................................................................. 77RESUMINDO ................................................................................. 80REFERNCIAS ............................................................................... 80

    PARTE II

    Prof. Dr. Inara de Oliveira Rodrigues

    UNIDADE VIA LEITURA NA ESCOLA E NA SOCIEDADE:

    PAPEL E IMPORTNCIA DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

    1 INTRODUO ......................................................................... 832 LOBATO, O STIO E MUITAS HISTRIAS POR CONTAR ........... 843 LEITURA COMO PRTICA SOCIAL ........................................... 91ATIVIDADES ................................................................................. 95RESUMINDO ................................................................................. 97REFERNCIAS .............................................................................. 98

  • UNIDADE VIIA DIMENSO DO IMAGINRIO NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

    1 INTRODUO ......................................................................... 1012 MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS HISTRIAS E OS VERSOS ................................................................................. 1023 IMAGINRIO, FANTASIAS E MARAVILHAS ............................. 107ATIVIDADES ................................................................................. 115RESUMINDO ................................................................................. 121REFERNCIAS ............................................................................... 121

    UNIDADE VIIIAS ESTRATGIAS LITERRIAS E OS DIFERENTES SUPORTES

    DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

    1 INTRODUO ......................................................................... 1232 ESTRATGIAS LITERRIAS: A INTERTEXTUALIDADE NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL ........................................... 124

    2.1 Conhecendo alguns autores e pressupostos .............. 1242.2 A literatura infanto-juvenil, a intertextualidade e outras estratgias literrias ...................................... 128

    3 LIVROS, MDIAS, REDE: OS ITINERRIOS ABERTOS DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL ........................................... 133ATIVIDADES ................................................................................. 138RESUMINDO ................................................................................. 139REFERNCIAS .............................................................................. 140

  • AS AUTORAS

    Prof. Dr. Sandra Maria Pereira do Sacramento

    Doutora em Letras Vernculas, pela Universidade Fede-

    ral do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenadenou at 2011.1

    o Programa de Ps-Graduao em Letras: Linguagens e

    Representaes da Universidade Estadual de Santa Cruz

    (UESC), Professora Associada Ctedra UNESCO de Lei-

    tura, Professora Plena em Teoria da Literatura do DLA/

    UESC. Possui vrios textos publicados em peridicos na

    rea de Letras, disponveis on line.

    Prof. Dr. Inara de Oliveira Rodrigues

    Doutora em Letras (Teoria da Literatura) pela Pontifcia

    Universidade Catlica do Rio Grande do SUL (PUCRS),

    professora do curso de Letras e Vice-Coordenadora do

    Programa de Ps-Graduao em Letras: Linguagens e

    Representaes da Universidade Estadual de Santa Cruz

    (UESC). Possui artigos publicados em peridicos na rea

    de Letras e desenvolve pesquisas no campo das literatu-

    ras de lnguas portuguesas.

  • DISCIPLINALITERATURA INFANTO-JUVENIL

    Literatura infanto-juvenil: discusses sobre o panorama

    histrico e gnero literrio e suas caractersticas. Produ-

    o literria. A prtica da leitura na escola e na socieda-

    de. Pesquisa sobre literatura infanto-juvenil na escola,

    na biblioteca (livros, gibis etc.), na televiso, CDROM e

    sites. A dimenso do imaginrio na Literatura Infantil e a

    intertextualidade.

    CARGA HORRIA: 60h

    EMENTA

    Prof. Dr. Sandra Maria Pereira do SacramentoProf. Dr. Inara de Oliveira Rodrigues

  • 13PedagogiaUESC

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    de

    1 INTRODUO

    Nesta unidade, vamos mostrar a voc a relao estabelecida

    entre os estados nacionais europeus e o incio da literatura infantil.

    A literatura infanto-juvenil, como se concebe hoje, tem sua origem

    vinculada ao nascimento dos estados-nao burgueses europeus,

    a partir do sculo XVIII, com a valorizao dos ideais forjados de

    tradio dos capitalistas, ento em ascenso.

    UNIDADE I

    A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A FORMAO DOS ESTADOS NACIONAIS

    EUROPEUS

    OBJETIVOIdentificar as relaes entre a origem dos estados-nao europeus e da literatura infantil, com destaque para os seus principais representantes.

  • 14 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formao dos estados nacionais europeus

    2 A LITERATURA INFANTIL E OS ESTADOS-NAO

    Para o Estado-nao, a lngua nacional e o limite territorial eram vistos como elementos indispensveis, capazes de imporem uma

    identidade nao (RENAN, 1997). Entretanto, de acordo com Nelly

    Novaes Coelho, em Panorama Histrico da Literatura Infantil /Juvenil:

    Quando hoje falamos nos livros consagrados como clssicos infantis, os contos-de-fada ou contos mara-os-de-fada ou contos mara-vilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou nas f-bulas de La Fontaine, praticamente esquecemos (ou ignoramos) que esses nomes no correspondem aos verdadeiros autores de tais narrativas. So eles alguns dos escritores que, desde o sculo XVII, interessados na literatura folclrica criada pelo povo de seus res-pectivos pases, reuniram as estrias annimas, que h sculos vinham sendo transmitidas, oralmente, de gerao para gerao, e as transcreveram (COELHO, 1991, p.12).

    No texto abaixo, apresentamos mais informaes sobre o conceito de Estado-Nao. Leia com ateno e converse com um colega sobre o mesmo.

    Estado-nao: quando se pensa em Estado-Nao, estamos longe de tratar de uma experincia poltico-institucional simples. Muitas vezes no paramos para indagar sobre o quanto o seu surgimento alterou as relaes inter-humanas por todo nosso planeta. Em primeiro lugar, deve-se romper com qualquer linha de abordagem que insira a experincia histrica do Estado-Nao numa longa du-rao ligada aos Estados dos monarcas absolutos europeus. Contando de hoje, a experincia histrica do Estado-Nao ainda no completou dois sculos, tal como o Brasil mal tem 150 anos. Em segundo lugar, no rigor do conceito e da cronologia, a formao do Estado antecede ao surgimento daquilo que definimos como burocracia. Inicialmente, a experincia do Estado-Nao circunscrita Europa e s suas projees coloniais no sculo XIX, sendo antecipada cultural-mente pelos debates intelectuais e polticos do contexto do Iluminismo, quando houve a gradativa transformao no sentido que se dava noo de Razo na prtica administrativa, que passou da condio de mero clculo/ratio para aque-la de fora constituidora das coisas. Nesse sentido, e somente nesse sentido, o Estado da Razo do final do sculo XVIII, diferentemente da Razo de Esta-do dos sculos XVI e XVII, no seria mais um simples mecanismo resultante da soma das partes atravs de um pacto, como pretendera Thomas Hobbes (1588-1679) em 1651 com seu Leviathan, mas a coisa pblica em que os objetivos pblicos deixavam de ter nos corpos estamentais de privilgios os suportes ou intermedirios da ao poltico-administrativa estatal. Portanto, o Estado da Razo de finais do sculo XVIII pressups um tipo novo de poder/po-tncia pblica que aos poucos abandonou uma atitude jurisdicionalista (centrada na acomodao das partes de privilgio) e tornou-se apenas disciplina (ou seja, atitude constituidora da natureza de suas partes). Tal mudana de paradigma historicamente indissocivel do processo de burocratizao formao de um corpo de agentes da administrao separados patrimonialmente dos meios ad-ministrativos e da uniformizao legislativa e fiscal do Estado.

    Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/035/35evianna.htm

    SAIBA MAIS

  • 15PedagogiaUESC

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    de

    3 CINCIA E RAZO NO CONTEXTO DA LITERATURA IN-FANTIL

    Alm dessas informaes, tambm podemos acrescentar os

    textos da tradio oriental e mesmo da grega, que foram trazidos

    pelos estados modernos, em forma de adaptao, como As Mil e

    Uma Noites, que chegou ao continente europeu no sculo XVIII; por

    Galland; da mesma forma que La Fontaine, ainda no sculo XVII, traduz as fbulas de Esopo, com a presena de animais falantes sempre com moralidade, como, por exemplo, A galinha dos ovos de

    ouro, A cigarra e a formiga, A Raposa e a Cegonha, entre outras.

    Leia mais sobre os escritores falados acima e sua importncia para a Literatura Infantil do Ocidente.

    Galland: Antoine Galland, escritor francs nascido no sculo XVII, introduziu no Ocidente inmeras histrias de tradio oral do Oriente. Galland nasceu em uma famlia de camponeses na provncia de Somme, em 1646, e morreu em 1715. Ele era especialista em Histria, manuscritos antigos, lnguas orientais e moedas. Galland esteve no Oriente, a convite do rei francs Lus XIV, com v-rias personalidades da poltica, das letras e da cincia. Era um colecionador de manuscritos e, em sua passagem pela Sria, descobriu os originais de As Mil e Uma Noites, feitos entre 1704 e 1717. O escritor levou-os para a Frana, tra-duziu e publicou os contos mais importantes dessa obra e, ainda, acrescentou alguns outros, que circulavam oralmente como o de Ali Bab e os Quarenta Ladres. Para no chocar seus contemporneos, Galland retirou do texto as passagens picantes. O sucesso foi imediato. Essa traduo de Galland no a nica, mas a mais famosa. Especialmente nesse livro, a histria de Ali Bab foi adaptada por Luc Lefort. Homem excepcional, seu dirio testemunha a pai-xo pelo saber e pela verdade. Durante toda sua vida, Galland foi um homem simples. Ele foi um pouco a imagem da obra que nos fez descobrir.

    Fonte: http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=biblioteca.biografia&id_autor=83

    La Fontaine: francs de origem burguesa, nascido na regio de Champagne, foi autor de contos, poemas, mximas, mas com as fbulas ganhou notorieda-de mundial. Resgatando fbulas do grego Esopo (sculo VI a. C.) e do romano Fedro (sculo I d. C.), os textos de La Fontaine no apresentam grande origina-lidade temtica, mas recebem um tempero de fina ironia. O autor francs no s tornou mais atuais as fbulas de Esopo, como tambm criou suas prprias, dentre elas A cigarra e a formiga e A raposa e as uvas. Contemporneo de Charles Perrault, frequentava a corte do Rei Sol - Lus XIV, de onde extraiu informaes para sua crtica social. Integrou o chamado Quarteto da Rue du Vieux Colombier, composto tambm por Racine, Boileau e Molire. Participou da Academia Francesa com ingresso em 1683, em que sucedeu o famoso po-ltico Colbert, a quem se opunha ideologicamente. Estreou no mundo literrio em 1654 com uma comdia. A publicao da primeira coletnea de fbulas data de 1668, sucedida de mais onze, lanadas at 1694. No prefcio dessa primeira coletnea, deixa bem clara suas intenes na constituio dos textos: Sirvo-me de animais para instruir os homens. Morreu aos 73 anos sendo considerado o pai da fbula moderna. As narrativas de La Fontaine esto per-

    PARA CONHECER

  • 16 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formao dos estados nacionais europeus

    meadas de pensamentos filosficos com forte moralidade didtica e, apesar de to antigas, mantm-se vivas at hoje.

    Fonte: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/lafontaine/lafontaine.htm

    Esopo: foi um clebre fabulista grego, provavelmente nascido no ano de 620 a. C. Segundo o historiador Herdoto, Esopo teria nascido na Trcia, regio da sia Menor, tornando-se escravo na Grcia. Outro historiador, Herclites do Ponto, afirma ser o roubo de um objeto sagrado a causa da morte do fabulis-ta. Como era costume no caso de sacrilgios, Esopo teria sido atirado do alto de um rochedo. Discute-se a sua existncia real, assim como acontece com Homero. Assim, h ainda alguns detalhes atribudos biografia de Esopo, cuja veracidade no se pode comprovar: seria aleijado, com dificuldades de fala e seria um protegido do rei Creso. Levanta-se a possibilidade de a obra esopia-na ser uma compilao de fbulas ditadas pela sabedoria popular da antiga Grcia. Seja l como for, o realmente importante a imortalidade das fbulas a ele atribudas. As primeiras verses escritas das fbulas de Esopo datam do sc. III d. C. Muitas tradues foram feitas para vrias lnguas, no existindo uma verso que se possa afirmar ser mais prxima da primordial. Destaca-se, entre os estudiosos da obra esopiana, mile Chambry, profundo conhecedor da lngua e da cultura gregas. Chambry publicou, em 1925, Aesoi - Fabu-lae, em que trabalha com 358 fbulas. Caractersticas das fbulas esopianas: narrativas, geralmente, curtas, bem-humoradas e relacionadas ao cotidiano; encerram em si uma linguagem simples, pois se dirigem ao povo; contm sim-ples conselhos sobre lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho; a moral representada por um pensamento, nem sempre relacionado diretamente narrativa; personagens so, basicamente, animais que apresentam compor-tamento humano

    Fonte: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/esopo/esopo.htm

    A clebre fbula A Raposa e as Uvas, atribuda a La Fontaine,

    , na verdade, uma traduo do grego para o francs. Veja a sua

    reproduo abaixo:

    A Raposa e as Uvas

    Certa raposa matreira,

    que andava toa e faminta,

    ao passar por uma quinta,

    viu no alto da parreira

    um cacho de uvas maduras,

    sumarentas e vermelhas.

    Ah, se as pudesse tragar!

    Mas l naquelas alturas

    no podia alcanar:

    Ento falou despeitada:

    - Esto verdes essas uvas.

    Verdes no servem pra nada!

  • 17PedagogiaUESC

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    de

    Como no cabem quatro mos em duas luvas,

    H quem prefira desdenhar a lamentar.

    (La Fontaine)

    Nesses textos, sempre em uma linguagem metafrica,

    os animais tm um comportamento humano, como falar, ter

    ressentimentos e covardia; trazem em seu final uma mensagem moral,

    de cunho pedaggico; tambm em forma figurativa, conotativa, que,

    quando passada para a linguagem de denotao, presta-se a uma

    aplicao prtica. Em outras palavras, Como no cabem quatro mos

    em duas luvas, H quem prefira desdenhar a lamentar., quer dizer

    que, diante do inevitvel, por conta, talvez, da incapacidade, mais

    fcil desdenhar a assumir a incompetncia.

    Essa volta ao passado desempenhou um papel preponderante

    na busca de sedimentao dos valores ento em voga; pois, desde o

    sculo XVII, com a troca de eixo da ordem cosmolgica teocntrica

    pela antropocntrica, que a Europa sofreu srios abalos em seu

    pilar ideolgico medieval. Ocorreu a laicizao do saber, antes

    restrito viso dogmtica da Igreja, tendo levado Galileu, com o seu

    heliocentrismo, a permanecer em priso domiciliar por ter ousado

    questionar a f corrente de que a Terra era o centro do Universo, lugar

    escolhido por Deus para morada do homem. A Reforma Protestante

    de Lutero incide na Igreja outro duro golpe, quando esse questionou

    as aes papais, como a venda de indulgncias.

    A cincia engatinha, porm, atravs de seu mtodo

    investigativo, deixa de lado o saber contemplativo e volta-se para

    a realidade de forma experimental. F e razo passam a ter esferas

    distintas, a primeira condicionada metafsica, verdade revelada,

    e a segunda busca, atravs do mtodo rigoroso de explicao dos

    fenmenos, a verdade cientfica. Segundo o professor Antnio

    Cndido, em Formao da Literatura Brasileira (1976):

    Por Ilustrao, entende-se o conjunto das tendncias ideolgicas prprias do sculo XVIII, de fonte inglesa e francesa na maior parte: exaltao da natureza, divulgao apaixonada do saber, crena na melhoria da sociedade por seu intermdio, confiana na ao governamental para promover a civilizao e bem-estar coletivo. Sob o aspecto filosfico, fundem-se nela racionalismo e empirismo; nas letras, pendor didtico e tico, visando empenh-las na propagao das Luzes (CNDIDO, 1976, p.43-44).

    Tomando-se Ilustrao como sinnimo de Iluminismo, - que

  • 18 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formao dos estados nacionais europeus

    na Alemanha ganhou o nome de Aufklrung - percebe-se o quanto o movimento racionalista foi importante, no sentido da

    busca pela explicao das demandas, sejam elas no campo da

    representao governamental, cientfica ou religiosa.

    Tais indagaes passaram a ser embasadas no princpio

    da racionalidade, encerradas na expresso de Descartes: Penso,

    logo existo. O filsofo francs Descartes, trazendo do sculo

    anterior alguma coisa do mtodo de Galileu, eleva-o ao sentido

    primeiro do filosofar, com a dvida metdica, isto , a partir da

    dvida, da no certeza, investiga-se e chega-se descoberta e,

    mais do que tudo, com a possibilidade da demonstrao.

    Descartes, seguindo rigorosamente o caminho, o mtodo por ele estabelecido, comea duvidando de tudo, at reconhecer como indubitvel o ser do pensamento. na descoberta da subjetivi-dade que residem as variaes do novo tema. O filsofo passa a se preocupar com o sujeito co-gnoscente (o sujeito que conhece) mais do que com o objeto conhecido. [...]Outros filsofos, alm de Descartes, tambm se dedicam ao problema do mtodo, tais com Ba-con, Locke, Hume, Spinoza (ARANHA,1993, p. 154).

    Tal cenrio sustenta-se no triunfo da razo sobre a f, com contribuies de filsofos franceses como DAlembert, Diderot, Voltaire, Montesquieu e Rousseau chamados de enciclopedistas. No Discurso Preliminar da Enciclopdia, de 1751,

    afirma o primeiro:

    Descartes teve pelo menos a ousadia de ensinar os espritos bons a sacudir o jugo da Enciclop-dia, da opinio, da autoridade, em uma palavra, dos preconceitos e da barbrie; e por meio desta revolta,cujos frutos hoje recolhemos, prestou filosofia um servio talvez mais essencial do que todos os que deve aos seus ilustres sucessores [...] Embora acabasse por acreditar que podia explicar tudo, comeou, pelo menos, duvidando de tudo; e as armas de que nos servimos para combat-lo, embora contra ele,nem por isso lhe pertencem menos [...] (apud MOUSNIER et al., 1961, p.16).

    Logo, DAlembert mostrou que aqueles que criticaram

    Descartes, se valiam da mesma estrutura mental, ou seja, da

    Aufklrung: Iluminismo, Es-clarecimento ou Ilustrao (em alemo Aufklrung, em ingls Enlightenment, em ita-liano Iluminismo, em francs Sicle des Lumires, em espa-nhol Ilustracin) designam uma poca da histria in-telectual ocidental. No es-pao cultural alemo, um dos traos distintivos do Iluminismo (Aufklrung) a inexistncia do sentimento anticlerical que, por exem-plo, deu a tnica ao Ilumi-nismo francs. Os ilumi-nistas alemes possuam, quase todos, profundo in-teresse e sensibilidade re-ligiosas, e almejavam uma reformulao das formas de religiosidade. O nome mais conhecido da Aufklrung foi Immanuel Kant. Outros importantes expoentes do iluminismo alemo foram: Johann Gottfried von Her-der, Gotthold Ephraim Les-sing, Moses Mendelssohn, entre outros.Fonte: http://videociencia.word-press.com/historia/iluminismo/

    SAIBA MAIS

  • 19PedagogiaUESC

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    dvida, para chegarem a tal fim.

    Em Do contrato social, Rousseau atribui a obedincia Lei

    como a verdadeira liberdade, em nome da soberania:

    Aquele que recusar obedecer vontade geral a tanto ser constrangido por todo um corpo, o que no significa seno que o foraro a ser livre, pois essa a condio que, entregando cada cidado ptria, o garante contra qualquer dependncia pessoal (1973, p. 42).

    Esses pensadores foram bastante tributrios dos avanos

    ocorridos na Inglaterra, ainda no sculo XVII, amparados no

    tambm filsofo Locke, levando Revoluo Gloriosa de cunho

    liberal. Locke foi muito influenciado pelo pensamento de Descartes,

    logo depois, deixa o aparato da lgica, para se voltar para o

    dado psicolgico, no entendimento do ser humano. Entretanto,

    a ascenso da burguesia, no territrio franco, s ocorre com a

    chamada Revoluo Francesa de 1789.

    Finalmente, a sociedade francesa agitada por uma srie de convulses que se repercutem, gra-as analogia das circunstncias, por toda a Eu-ropa Ocidental. A resultante histrica das vrias foras que participaram na Revoluo Francesa o primeiro triunfo decisivo da alta burguesia no ter-reno poltico, ao cabo de uma sucesso de fases, em que o dinamismo revolucionrio pertenceu sucessivamente a uma frao de alta nobreza, noblesse de robe, aos camponeses, burguesia provinciana (Girondinos), aos pequenos burgue-ses (Terror de Robespierre) a outras camadas mais populares (Babeuf) (SARAIVA; LOPES, 1971, p.599).

    Por isso, torna-se importante destacar que o papel da

    famlia, como ncleo societrio, contrrio ao modelo estamental da monarquia, estabeleceu esferas de ao, de modo hierrquico,

    para o homem, para a mulher e para os filhos. E Pedro Paulo de

    Oliveira, em A Construo da Masculinidade, confirma a afirmao:

    A assimetria de poder na famlia era refora-da pela disposio da nova ordem em promover uma separao total entre homens e mulheres: pensava-se na poca que quanto mais feminina a mulher e mais masculino o homem, mais saud-veis a sociedade e o Estado. Nessa separao, a autonomia do gnero masculino contrastava com

    Estamental: relativo a estamento. Constitui uma forma de estratifi-cao social com cama-das sociais mais fecha-das do que as classes sociais; e mais abertas do que as castas (tipo de sociedades ainda presentes na ndia, no qual o indivduo desde o nascimento est obriga-do a seguir um estilo de vida pr-determinado), reconhecidas por lei e geralmente ligadas ao conceito de honra. His-toricamente, os esta-mentos caracterizaram a sociedade feudal du-rante a Idade Mdia.

    Fonte: .

    SAIBA MAIS

  • 20 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formao dos estados nacionais europeus

    a submisso feminina. A subjugao da mulher ia ao encontro da constituio de uma famlia nuclear para a qual o lar, com os afazeres domsticos e os cuidados com as crianas, se tornaria seu espao legtimo, en-quanto aos homens ficaria destinada a esfera pblica, a esfera do poder. Na sociedade burguesa as funes da mulher foram postas com clareza: me, educado-ra, controladora dos empregados (quando eles existi-rem), provedora de afeto e carinho (OLIVEIRA, 2004, p.49).

    Esse modelo comportamental vem a reboque de amplas

    mudanas na vida urbana europeia, de forma mais ampla, j que

    o campesinato, quase sempre, com o incio da industrializao, migra para os grandes centros europeus, como Paris e Londres, para

    formar a massa do operariado. Para se ter uma ideia da projeo do

    crescimento populacional nessas capitais europeias, no sculo XVIII,

    a populao das cidades representava 2%; enquanto que, em meados

    do sculo XIX, 42 % da populao europeia vivia em zona urbana

    (RMOND, 1976).

    A Alemanha e a Itlia optam pela unificao de seus territrios

    devido crescente industrializao e esse processo:

    Atendeu basicamente aos interesses de uma burguesia desejosa de formar um amplo mercado nacional para seus produtos. Assim ocorreu na Itlia, onde a unifi-cao partiu do Reino do Piemonte-Sardenha (Norte Industrial) para o Sul, destacando-se as figuras de V-tor Emanuel II e seu Ministro Cavour. Na Alemanha, a unificao econmica, atravs da Unio Aduaneira (Zollverein), antecedeu unificao poltica. Essa foi realizada sob a direo da Prssia em trs guerras sucessivas, que afastam a Dinamarca, a ustria e a Frana de seu caminho (AQUINO, 1993, p. 107).

    Como se v, a unificao de condados levou a estados

    europeus fortes, que necessitaram de parmetros comportamentais,

    contrrios aos do passado, coincidindo com o Romantismo literrio. E

    a mulher ganha destaque nessa diviso de papeis j que deve assumir

    uma funo pedaggica diante do filho, ainda que, socialmente, esteja

    condicionada ao marido e prole, isto , sua autonomia est em no

    ter autonomia nenhuma. o que Rousseau, filsofo do Iluminismo

    francs, vai sublinhar:

    A razo que leva o homem ao conhecimento de seus deveres no muito complexa; a razo que leva a mulher ao conhecimento dos seus ainda mais sim-

    Figura 1.1 - Cena da Famlia de Adolfo Augusto Pinto, 1891. Fonte: .

    Campesinato

    s.m. Conjunto de agri-cultores de uma re-gio, de um Estado. Condio dos campo-neses.

    Fonte: http://www.dicio.com. br/campesinato/

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    ples. A obedincia que deve aos filhos so conseqn-cias to naturais e to visveis de sua condio, que ela no pode, sem m-f, recusar sua aprovao ao sen-timento interior que a guia, nem desconsiderar o de-ver na inclinao que ainda no se alterou (ROUSSEAU, 2004, p.558).

    A construo do Estado-nao estruturou-se em bases

    etnocntricas e falocntricas e creditou ao homem, branco, burgus,

    europeu, a razo, o espao pblico e a cultura; enquanto mulher,

    coube a no-razo, o privado e a natureza. E a literatura da advinda

    traz as marcas de origem da pretenso de uma unidade republicana;

    uma vez que o princpio hierarquizador da modernidade, calcado em

    pares dicotmicos do pblico/privado; homem/mulher; adulto/criana;

    centro/periferia, alto/baixo, branco/negro, no levou em conta, na pauta

    da racionalidade ocidental, a alteridade encerrada nos segundos desses

    mesmos pares. Dessa sorte, os enredos das histrias infantis tendem

    a dissolver os conflitos, quase sempre, pela via do fantstico, sem que

    haja, de fato, interveno racional na ordem dos acontecimentos.

    Por exemplo, o conto Os sete corvos, dos irmos Jakob e

    Wilhelm Grimm, encerra os objetivos pedaggicos esperados para um

    texto voltado para o pblico infantil. Nele, a bondade da irmzinha fez

    com que os sete irmos voltassem a ser gente novamente, depois do

    encantamento a que foram submetidos pelo pai, ao se tornarem corvos

    porque se atrasaram para trazer a gua do poo para o batismo da

    menininha doente.

    A narrativa encerra os valores do catolicismo, isto , os enfermos

    no batizados devem receber o sacramento antes da morte, caso

    contrrio, se morrerem pagos, possvel no irem para o cu. A figura

    do pai se faz presente com sua autoridade; bastou esse dizer: - Tomara

    que eles todos virem corvos! (2002, p. 58), e automaticamente, as

    crianas viraram sete animais. Por outro lado, os pais, ao revelarem

    menina que os irmos tinham virado corvos, e explicarem que: o que

    aconteceu tinha sido um desgnio do cu, e que o nascimento dela no

    tinha culpa de nada (2002, p.61). Tal atitude encerra a crena no ente

    sobrenatural que determina o que acontece na Terra. Assim, a fala do

    pai d incio ao encantamento e o encontro do anel da menina por um

    dos irmos precipita o fim do encantamento: Mas quando o stimo

    corvo acabou de esvaziar seu copo, o anel caiu l de dentro. Ele olhou

    bem e reconheceu que era um anel do pai e da me deles... Ento,

    [...] a menina, que estava escondida atrs da porta, ouviu esse desejo,

    apareceu de repente e todos os corvos viraram gente outra vez (2002,

    p.63).

  • 22 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formao dos estados nacionais europeus

    ATIVIDADES

    Leia a fbula A Galinha dos ovos de ouro de La Fontaine e responda s questes propostas:

    A Galinha dos ovos de ouro

    Havia um homem quetinha uma galinha

    que punha ovos de ouro.

    Por avidez e burrice,pensou: se a galinha abrisse,

    encontraria um tesouro.

    Ah, cobia desastrada!Morta e aberta a galinha

    viu que l no tinha nada!

    Por excesso de ambio,Podes perder teu quinho.

    (La Fontaine)

    a) Por que o homem resolveu abrir a barriga da galinha?

    b) O narrador faz a seguinte exclamao: Ah, cobia desastrada! Desastrada o adjetivo atribudo cobia, isto , uma cobia capaz de causar um desastre. Voc concorda com o narrador?c) Transforme o ensinamento expresso em linguagem metafrica, conotativa, em linguagem denotativa, isto , aplicvel no cotidiano: Por excesso de ambio, Podes perder teu quinho.

    RESUMO

    Voc viu nesta Unidade I, que a literatura infantil tem sua origem nos

    estados-nao europeus, ainda no sculo XVIII, quando destacam a

    importncia de um territrio, uma lngua, como elementos da tradio

    nacional.

    ATIVIDADES

    RESUMINDO

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    Referncias:

    AQUINO, Rubim Santos Leo de; et al. Histrias das sociedades: das sociedades modernas s sociedades atuais. Rio de Janeiro: Ao Livro Tcnico, 1993.

    ARANHA, Maria Lcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introduo Filosofia. So Paulo: Moderna, 1993.

    CNDIDO, Antonio. Formao da literatura brasileira: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1976.

    COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histrico da Literatura/Juvenil: das origens Indo-Europias ao Brasil Contemporneo. So Paulo: tica, 1991.

    GRIMM, Jakob. Contos de Grimm: animais encantados. Apresentao, Traduo e Adaptao de Ana Maria Machado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

    LA FONTAINE, Jean de. Fbulas. Traduo de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Revan,1999.

    MOUSNIER, Roland; LABROUSSE, Ernest. O sculo XVIII, o ltimo sculo do antigo regime. ...(Org). Histria geral das civilizaes. Traduo de Vitor Ramos. So Paulo: DIFEL, (tomo V) 1961.

    OLIVEIRA, Pedro Paulo de Oliveira. A construo social da masculinidade. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: UFMG/IUPERJ, 2004.

    RMOND, Ren. O Sculo XIX: 1815-1914. Traduo de Frederico Pessoa de Barros. So Paulo: Cultrix, 1976.

    RENAN, Ernest. O que uma nao. In: ROUANET, Maria Helena. Nacionalidade em questo. Universidade do Rio de Janeiro: IL, 1997.

    ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emlio ou da educao. Traduo de Roberto Leal Ferreira. So Paulo: Martins Fontes, 2004.

    ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social; Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens e outros. Traduo de Lourdes Santos Machado. So Paulo: Abril Cultural, 1973. Col. Os pensadores.

    SARAIVA, Antnio Jos; LOPES, scar. Histria da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora, 1971.

    REFERNCIAS

  • 24 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formao dos estados nacionais europeus

    ANEXOS

    DAlembert: Foi muito influenciado por Descartes, conservando, portanto, a viso mecanicista do mundo, sendo a matria, constituda de tomos que se repelem continuamente.

    Fonte: www.algosobre.com.br/biografias/d-alambert.html)

    Diderot: Denis Diderot (1713-1784), filsofo francs. Elaborou juntamente com DAlembert a Enciclopdia ou Dicionrio racional das cincias, das artes e dos ofcios, composta de 33

    volumes publicados, pretendia reunir todo o conhecimento humano disponvel, que se tornou

    o principal vnculo de divulgao de suas ideias naquela poca. Tambm se dedicou teoria

    da literatura e tica trabalhista.

    Fonte: http://videociencia.wordpress.com/historia/iluminismo/

    Voltaire: Pode ser considerado como o filsofo que encerra o esprito do sculo XVIII. Por ser muito crtico da nobreza, foi exilado vrias vezes. Em um desses exlios, teve contato,

    na Inglaterra, com as ideias de Locke, onde escreveu as famosas Cartas Inglesas, tambm

    chamadas de Cartas Filosficas, criticando a poltica francesa. Foi um liberal convicto, ao

    defender os direitos civis, ainda que para aquele momento visse a necessidade do Despotismo

    Esclarecido, com a presena de filsofos junto ao rei.

    Fonte: www.pensador.info/autor/Voltaire/

    Montesquieu: Ainda que tenha nascido em uma famlia de nobres, tornou-se crtico da monarquia absolutista e do clero. Sua obra mais significativa foi O esprito das leis, em que

    prope uma teoria de governo, baseada no constitucionalismo e na separao dos poderes. A

    democracia como o filsofo concebeu via os poderes: executivo, legislativo e judicirio como

    instncias autnomas e comandadas por pessoas diferentes, para que fosse evitado o arbtrio

    e a violncia, levando-o a afirmar: Para que no se possa abusar do poder preciso que, pela

    disposio das coisas, o poder freie o poder.

    Fonte: www.suapesquisa.com/biografias/montesquieu.htm

    Rousseau: Alguns no veem o genebrino, radicado em Paris, como um enciclopedista racional, na medida em que valoriza a natureza, ainda que critique o poder absolutista, vindo

    a influenciar, j no Romantismo, seus escritores. Escreveu, entre outras obras: Discurso sobre

    a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, na qual defende os homens

    vivendo na natureza, sem a propriedade privada, responsvel pela misria e a escravido.

    Fonte: www.unicamp.br/.../cursos/rousseau2001/aso.htm

  • Suas anotaes

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    UNIDADE II

    A QUESTO DO CNONE E A LITERATURA INFANTO-JUVENIL

    OBJETIVOIdentificar como a literatura infantil, em seu incio, vincula-

    se tradio ocidental, na linha platnica, ao dar nfase a um contedo a ser ensinado.

    1 INTRODUO

    Nesta unidade, vamos mostrar a voc como certa literatura infantil mantm-se, por sua postura, na tradio do cnone literrio,

    quando se vincula concepo de ver o artstico comprometido com

    o conteudismo platnico; da mesma forma seu menos valor, ao ser

    associada ao popular, por sua origem; me ou criana.

  • 28 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A questo do Cnone e a Literatura Infanto-juvenil

    2 O LITERRIO: DO MUNDO GREGO S COMUNIDADES IMAGINADAS

    Ainda que a literatura infanto-juvenil tenha surgido na

    modernidade ocidental, vinculada aos interesses dos estados-nao

    europeus, faz-se necessrio retomar o conceito de literatura, para a

    tradio greco-latina, que se confundia com a gramtica (gramma),

    pois significava, assim como litteratus, a arte de conhecer a

    gramtica e a poesia. Chega ao sculo XVIII, vinculada noo

    de valor, portanto, ao ideolgico, na medida em que fazia parte

    da formao educacional do cidado. Ernest Curtius, em Literatura

    Europia e Idade Mdia Latina, justifica a ligao da literatura aos

    valores gregos:

    Porque os gregos encontraram num poeta o refle-xo de seu passado, de seus deuses. No possuam livros nem castas sacerdotais. Sua tradio era Ho-mero. J no sc. VI era um clssico. Desde ento a literatura disciplina escolar, e a continuidade da literatura europia est ligada escola (1957, p.38).

    Nada podia abalar essa integrao entre o potico e o poltico,

    pois a poesia, sendo simulacro, constitui imitao da aparncia e no da realidade, s se justificando se estivesse a servio da

    educao do povo grego. Com admisso da poesia em sua gora,

    que se adequasse Lei e razo humana, atravs dos hinos aos

    deuses e em louvor aos homens famosos.

    Plato, em dilogo com Glauco, afirma:

    Quanto a seus protetores, que, sem fazer versos, amam a poesia, permitiremos que defendam em prosa e nos mostrem que no s agradvel, mas tambm til, repblica e aos particulares para o governo da vida. De bom grado os ouviremos, porque com isso s temos a lucrar, se nos puderem provar que a se junta o til ao agradvel (PLA-TO,1994, p.403).

    Simulacro

    [Do lat. simulacru.]Substantivo masculino Ant. 1.Imagem de divin-dade ou personalidade pag; dolo, efgie. 2. Ao simulada para exer-ccio ou experincia:um simulacro de vestibular. 3.Falsificao, imitao: No passa de um simula-cro de heri. 4.Fingimen-to, disfarce, simulao. 5.Cpia ou reproduo imperfeita ou grosseira; arremedo: O cenrio de O Guarani era apenas um simulacro de flores-ta brasileira; Se, abas-tados e engrandecidos, viemos de humildes e po-bres, pretendemos mui-tas vezes fazer esquecer ao mundo o nosso bero; mas no abrigo familiar, deixada to viciosa ver-gonha, abrimos o larrio domstico e tiramos dele os deuses da meninice, grosseiros simulacros das imagens paternas (Alexandre Herculano, Opsculos, V, p. 34-35). 6.V. fantasma (3).

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    A filosofia platnica teve grande importncia para a tradio ocidental. Leia o que vai abaixo e depois se informe mais sobre esse grande filsofo e suas obras.PLATO: nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocrticos e abastados, de antiga e nobre casta. Ao seu temperamento artstico deu, na mocidade, livre curso, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-se na expresso esttica de seus escritos. Suas obras, at hoje, so objeto de anlise e apreciao, a mais conhecida, entretanto, A Repblica, em que defende, na forma de dilogo, um modelo aristocrtico de poder, governado pelos intelectuais.

    Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/platao.htm

    PARA CONHECER

    SAIBA MAIS

    O conceito de comunidades imaginadas trazido por Bene-dict Anderson embasa toda a argumentao desse estudio-so, nascido na China, filho de pais ingleses, para explicar como um modelo imposto, coletivamente, seguido por todos como algo tido como na-tural e espontneo.

    Comunidades imaginadas: o conceito que intitula uma obra de referncia para os estudiosos das identidades nacionais e os processos de construo da nao. Ander-son tem repensado as bases para o estudo da identidade nacional com um estudo te-rico e emprico sistemtico e aprofundado. Aqui, Anderson coloca que as comunidades nacionais so produto de um processo de desenvolvimento poltico, social e cultural que resulta na gerao de uma relao imaginria com seus concidados nas imediaes do Estado-Nao. A recupera-o do conceito de imaginao nega a conotao pejorativa do termo, em oposio reali-dade (realidade versus imagi-nao). Anderson examina a base material da imaginao para entender como se confor-ma uma comunidade nacional. Fonte: http://www.netsaber.com. br/resumos/ver_resumo_c_54197.html

    Coloca, portanto, o literrio a servio do ideolgico, na

    medida em que, para ter existncia reconhecida, necessita ser

    til sociedade grega na formao de seus concidados. A razo

    deve conter a emoo, contrria a qualquer manifestao do

    desejo, fazendo, entretanto, concesso ao Belo, Bom e Justo, ao

    colocar o artstico em comum acordo com a tica. A literatura do

    perodo romntico, por outro lado, endossar as ideias correntes

    burguesas, e coloca-se disponvel para compor as comunidades imaginadas (ANDERSON, 2008). O romantismo reflete a ambincia ento operante. O

    romantismo alemo, - ainda que a princpio a Alemanha no

    estivesse unificada - procura nas razes folclricas, na tradio

    das narrativas orais, uma forma de sedimentar o seu cnone,

    com o culto ao Volksgeist, com forte valorizao do dado local.

    Participantes do Crculo intelectual de Heidel-berg, Jacob e Wilhelm Grimm, - fillogos, gran-des folcloristas, estudiosos da mitologia germ-nica e da histria do Direito alemo recolhem diretamente da memria popular as antigas narrativas, lendas ou sagas germnicas, con-servadas por tradio oral. [...].Buscando encontrar as origens da realidade his-trica nacional, os pesquisadores encontraram a fantasia, o fantstico, o mtico... e uma gran-de Literatura Infantil surge para encantar crian-as do mundo todo (COELHO, 1991 p.140).

    , nesse cenrio, que Goethe prope o conceito de

    Literatura Universal (Weltliteratur), em ateno aos valores e

    crenas da modernidade europeia, sustentados na nao e em

    suas tradies, no progresso e na cincia.

  • 30 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A questo do Cnone e a Literatura Infanto-juvenil

    Dentro desse processo renovador, a criana desco-berta como um ser que precisava de cuidados espe-cficos para sua formao humanstica, cvica, espiri-tual, tica e intelectual. E os novos conceitos de Vida, Educao e Cultura abrem caminho para os novos e ainda tateantes procedimentos na rea pedaggica e na literria. Pode-se dizer que nesse momento que a criana entra como um valor a ser levado em con-siderao no processo social e no contexto humano (COELHO, 1991, p.139).

    Escritores como Charles Perrault, na Frana; os irmos

    Grimm, na Alemanha; Andersen, na Dinamarca; e Callodi, na

    Itlia; no hesitaram em voltar s razes folclricas medievais, na

    linha de ao presa ao ideal da construo dos estados-nao, com

    suas comunidades imaginadas. O idealismo romntico, ento, acabou

    por criar o mito da infncia, esta vista como a idade de ouro do

    ser humano, e, ao mesmo tempo, a adolescncia (COELHO, 1991).

    E a volta ao passado significou a pedra de toque necessria para

    que a burguesia se impusesse; ento, nada melhor do que a busca

    em tempos imemoriais de suas narrativas e de suas manifestaes

    populares, como acontece com as produes dos primeiros escritores

    voltados ao pblico infantil:

    Charles Perrault, no sculo 17, [na Frana] e os ir-mos Grimm, no incio do sculo 19, [na Alemanha] se apropriam dos contos de fadas. Estes relatos fundam-se preferencialmente numa ao de proce-dncia mgica, resultante da presena de um auxi-liar com propriedades extraordinrias que se pe a servio do heri: uma fada, um duende, um animal encantado (ZILBERMAN; MAGALHES, 1984, p.15).

    o que ocorre, por exemplo, em O Gato de Botas, de Charles

    Perrault, que traz em seu enredo o pragmatismo esperado para a

    nova sociedade. Como afirma Nelly Novaes Coelho, em Literatura

    Infantil: teoria, anlise, didtica (2000):

    Em pocas de consolidao, quando determinado sistema se impe, a intencionalidade pedaggica do-mina praticamente sem controvrsias, pois o impor-tante para a criao no momento transmitir valores para serem incorporados como verdades pelas novas geraes (2000, p.47).

    SAIBA MAIS

    Volksgeist: segundo a Escola Histrica, o povo um ser vivo marcado por foras interiores e silenciosas que segrega uma espcie de cons-cincia popular, o espri-to do povo (Volksgeist). O povo anterior e su-perior ao Estado e do esprito do povo que bro-ta tanto a lngua quanto o direito, consideradas produes instintivas e quase inconscientes que nascem e morrem com o prprio povo. No caso es-pecfico do direito, o cos-tume teria de ser mais importante do que a lei, porque o que emana do Volksgeist tem de estar numa posio superior aos prprios ditames do Estado.

    Fonte: http://farolpolitico.blo-gspot.com/2007/09/ esprito-do-povo-volksgeist.html

  • 31PedagogiaUESC

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    O conto O Gato de Botas reflete toda a necessidade de

    impor um modelo de homem empreendedor, que soubesse

    superar qualquer dificuldade. A narrativa gira em torno da

    diviso de uma herana: tendo o pai falecido, deixou para

    seus trs filhos, os seguintes bens - um moinho, para o mais

    velho; um burro, para o do meio; e um gato, para o mais

    novo. O que fazer com um gato? Logo, o gato colocou-se

    disposto a ajudar o seu dono:

    De hoje em diante meu destino

    ao meu dono servir.

    Hei de cobri-lo de ouro!

    Basta de me divertir!

    Com este saco de pano

    Vou para o bosque distante.

    Um crebro que trabalha

    Faz fortuna num instante.

    (Fbulas Encantadas)

    Figura 2.1. Edio de wallpaper Shrek. Gato de Botas

    A partir da, fez de tudo para promover o rapaz e, aps mil

    peripcias, acaba por aproxim-lo do rei e de sua filha, com quem se

    casa e vivem felizes para sempre. O que est subjacente a esse conto a

    valorizao da iniciativa, tpica dos valores burgueses ento em ascenso.

    No interessa sua origem, ou classe social, na qual voc nasceu, basta o

    talento, Um crebro que trabalha que Faz fortuna num instante. o

    self-made men do sistema liberal, capitalista, pois, a princpio, todos so

    iguais perante a Lei.

    3 A LITERATURA INFANTIL E SUA FUNO PROPEDUTICA

    A questo da literatura infanto-juvenil passa, necessariamente,

    por aquilo que se atribui como literrio e como no-literrio de acordo

    com a tradio ocidental, no qual esto includas as obras tidas como

    cannicas, ancoradas em pressupostos que vem desde a Grcia antiga. Nesse sentido, por um lado, essa literatura reedita a velha frmula, que

    vem de Plato do Docere cum delectare (= ensinar deleitando). Entretanto,

    desde o seu incio, padeceu de uma espcie de menos valia; talvez no

    tanto por seu vnculo aos valores correntes, mas por sua origem, isto , os

    contos populares apresentavam domesticidade e funo propedutica, em que a figura da me era chamada como a primeira preceptora do filho

  • 32 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A questo do Cnone e a Literatura Infanto-juvenil

    da burguesia e depois a escola assumia esse papel. Tal paradoxo,

    entre o iderio do Liberalismo e a promoo dos direitos da mulher,

    colocou-se de pronto, mesmo que o smbolo da Revoluo tenha sido

    a Marianne, eternizada em suas vestes desnudas por Delacroix.

    O conceito de cnone literrio esteve presente desde os gregos, como algo a ser seguido pelos escritores.

    Cannicas: relativo ao cnone; termo derivado da palavra grega kanon, que designava uma espcie de vara com funes de instrumento de medida; mais tarde, o seu significado evoluiu para o de padro ou modelo a ser aplicado como norma. , no sculo IV, que encontramos a primeira utilizao gene-ralizada de cnone: trata-se da lista de Livros Sagrados, que a Igreja crist homologou como transmitindo a palavra de Deus, logo representando a ver-dade e a lei que devia alicerar a f e reger o comportamento da comunidade de crentes. Aps a rejeio de certos livros, denominados apcrifos, o cnone bblico tornou-se fechado, inaltervel, distinguindo-se nesse aspecto do outro referente do cnone teolgico, o conjunto de Santos Padres a que a Igreja Catlica periodicamente acrescenta novos indivduos, atravs de um processo chamado canonizao. Importante para a histria posterior do conceito , pois, a ideia de que cannica uma seleo (materializada numa lista) de textos e/ou indivduos adotados como lei por uma comunidade e que lhe permitem a produo e reproduo de valores (normalmente ditos universais) e a imposi-o de critrios de medida que lhe possibilitem, num movimento de incluso/excluso, distinguir o legtimo do marginal, do heterodoxo, do hertico ou do proibido. Neste sentido, torna-se claro que um cnone veicula o discurso nor-mativo e dominante num determinado contexto, teolgico ou outro, e isso que subjaz a expresses como o cnone aristotlico, cnones da crtica etc. Acompanhando o processo de secularizao da cultura em marcha desde o Renascimento, o conceito e o termo vieram progressivamente a ser aplicados ao domnio da literatura, muitas vezes, sob a forma de expresses como os clssicos ou as obras-primas. O cnone literrio , assim, o corpo de obras (e seus autores) social e institucionalmente consideradas grandes, geniais, perenes, comunicando valores humanos essenciais, por isso, dignas de serem estudadas e transmitidas de gerao em gerao. Tal definio vlida, quer se trate de um cnone nacional, presumindo-se que o povo se reconhece nas suas caractersticas especficas, quer se trate do cnone universal, o que signi-fica de fato, dada prpria origem histrica da categoria literatura, um cnone eurocntrico ou, quanto muito, ocidental.Fonte: http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/C/canone.htm

    O quadro, constante da Figura 2.2, retrata os representantes

    da sociedade francesa da poca e a Liberdade, encerrada em uma

    mulher, seria uma espcie de sntese de todas as classes sociais.

    O conto A Dama e o Leo, dos irmos Grimm encerra as normas

    comportamentais a serem seguidas pelos gneros, com destaque

    para valores como conteno, recato e incentivo superao, e os

    dotes a serem preservados pela mulher: beleza, modstia, pureza.

    SAIBA MAIS

    Propedutica: adj. 1. Que serve de introduo; prelimi-nar.

  • 33PedagogiaUESC

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    de

    A narrativa apela sobremodo para o fantstico como soluo para

    os problemas existenciais enfrentados pelos personagens. Assim,

    a menina pobre casa com o Prncipe, que se transveste de vrios

    bichos, como leo:

    Ora, o leo era um prncipe encantado, que durante o dia era leo. Todo o seu squito tambm se cons-titua de lees. noite, porm, reassumia a forma humana (s/d, p.81).

    Entre outros animais, est a pomba:

    Mas o leo disse que seria perigoso demais, pois se um raio de luz tocasse nele o transformaria em pom-ba, e ele teria de voar durante sete anos.[...]- Durante sete anos devo voar pelo mundo disse-lhe a pomba.- A cada sete passos deixarei cair uma gota de sangue e uma pena branca, para te mostrar o caminho. Tu me seguirs e me libertars. Dizendo isso, a pomba voou e saiu pela porta. Ela seguiu-a e a cada sete passos a ave deixava cair uma gota de sangue e uma pequena pena branca, a fim de mostrar o caminho (s/d, p.82).

    Em certo momento, deixaram cair a pena branca e a gota

    de sangue, com a pomba desaparecida. Para resgat-la, a princesa

    correu mundo. Foi ao sol, lua, ao vento da noite, ao vento leste e ao

    oeste. A o vento sul disse:

    Figura 2.2. Delacroix La Libert guidant le peuple.1830.Fonte: .

  • 34 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A questo do Cnone e a Literatura Infanto-juvenil

    - Vi uma pomba branca. Voou para o mar Verme-lho, onde se tornou de novo um leo, pois que os sete anos se passaram. E o leo est sempre lutando com um drago que uma princesa encantada (s/d, p.83).

    E o vento deu-lhe mais conselhos, mas, infelizmente, quando

    o drago e a pomba tomaram a forma humana,

    ... a princesa que tinha sido drago se viu livre do encanto, tomou o prncipe nos braos, sentou-se nas costas do grifo e levou-o embora. E a pobre viajan-te, mais uma vez abandonada, sentou-se e ps-se a chorar (s/d, p.84).

    No entanto, logo tomou uma resoluo: Para onde o vento

    soprar eu irei, e enquanto o galo cantar eu procurarei e hei de ach-

    lo (p.84). E o vento levou-a a muitos lugares at chegar ao castelo

    aonde o prncipe e a princesa iam se casar. L, solicitou um encontro

    com o noivo e, enquanto esse dormia, falou ao seu ouvido: - Durante

    sete anos te segui. Estive com o sol, com a lua, com os quatro ventos,

    tua procura. Ajudei-te a vencer o drago, e agora me esquecers?

    (s/d, p.85).

    O prncipe, de incio, nada entendeu e perguntou ao camareiro

    que sons tinham sido aqueles, que ouvira durante a noite, ao que

    esse respondeu que lhe fora administrada uma droga sonfera, devido

    presena de uma pobre moa. Ento, o prncipe ordenou que

    permitisse a entrada novamente da moa em seus aposentos e que

    gostaria de tomar mais uma vez os comprimidos para dormir. Nesse

    tempo, ao comear a relatar sua histria, o prncipe reconheceu a voz

    de sua querida esposa e falou:

    - Agora estou realmente livre, pela primeira vez. Tudo foi como um sonho, pois a princesa estrangeira lanou-me um encanto pelo qual esqueci de ti. Mas o cu, numa hora feliz, afastou de mim aquela ceguei-ra (s/d, p.86).

    E foram felizes para sempre...

    Badinter assinala a condio a que foram relegadas as

    mulheres:

    Sem dvida, as mulheres foram as deixadas-por-conta da Revoluo. No momento em que o ideal re-

  • 35PedagogiaUESC

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    de

    volucionrio colocava a igualdade formal abaixo das diferenas naturais, ao sexo resta o ltimo critrio de distino. Os Judeus foram emancipados pelo de-creto de 27 de setembro de 1791, a escravido dos negros abolida (nas colnias francesas) em 4 de fe-vereiro de 1794, mas, apesar dos esforos de alguns, a condio das mulheres no foi modificada. Os di-reitos do Homem, direitos naturais ligados pessoa humana no as reconhece. O Cdigo Civil de Napoleo (1804) manteve a desi-gualdade dos sexos [...]. Aos homens, os direitos; s mulheres, os deveres. O imperador interveio pes-soalmente para restabelecer em sua plenitude a au-toridade do marido, ligeiramente abalada no fim do sculo XVIII. Insistiu para que, no dia do casamento, a mulher reconhecesse claramente que devia obedi-ncia ao marido (BADINTER, 1986, p. 212-14).

    Sinalizam-se, assim, previamente, a ocupao dos lugares, em

    que a polis, da sociedade administrada, continuava sendo a seara do

    masculino, enquanto s mulheres ficava reservado, em uma espcie

    de no-lugar, o foyer, o emparedamento do restrito. Como afirma

    Almeida:

    A ideologia burguesa intentou mant-las confinadas no espao

    domstico, e essa domesticidade era desejada e mantida a todo custo.

    Positivistas e higienistas foram determinantes para conseguir alicerar

    a concepo da mulher-me, guardi dos lares, me extremosa,

    tudo o mais que se seguiu ideologicamente foi preservar o culto ao

    feminino e manter a mulher intocada dos efeitos nocivos da vida

    terrena, em um espao prprio, no qual dominavam os sentimentos,

    a espiritualidade e a superioridade do corao sobre a razo, o que

    significava o cerne de sua existncia (ALMEIDA, 2007).

    Enquanto a mulher ocupava o espao da invisibilidade,

    mulher-me, guardi dos lares, me extremosa, deixava o espao

    pblico livre para que o homem transitasse. Ento, a literatura

    infanto-juvenil surge nessa dimenso de dependncia aos valores do

    estado burgus, mas, a partir de uma no-cidad, mas importante

    no arranjo dos interesses postos, sobre uma criana. Ambos, me e

    filho, so considerados infantis, vistos como menores, por isso, sem

    voz, uma vez que infantil aquele, que no sujeito de sua prpria

    enunciao. O incentivo ao hbito de leitura ocorre paralelamente

    para a mulher e para a criana, como smbolo de civilidade urbana:

    [A] leitura, enquanto prtica difundida em diferen-tes camadas sociais e faixas etrias, isto , enquanto um procedimento de obteno de informaes [do] cotidiano e acessvel a todos, e no raro erudito,

  • 36 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A questo do Cnone e a Literatura Infanto-juvenil

    uma conquista da sociedade burguesa do sculo 18. A expanso do mercado editorial, a ascenso do jor-nal como meio de comunicao, a ampliao da rede escolar, o crescimento das camadas alfabetizadas todos estes so fenmenos que se passam entre o Iluminismo, sendo esta filosofia a sistematizao e culminncia do processo civilizatrio. O ler transfor-mou-se em instrumento de ilustrao e sinal de civi-lidade (ZILBERMAN; MAGALHES, 1984, p.21).

    A novela em verso Grislidis, de Charles

    Perrault, trata-se de uma fbula, no sentido de algo

    fantasioso, do folclore francs, em que tece elogios

    aos atributos femininos como a fidelidade, a pacincia

    e a submisso ao homem, bem nos moldes esperados

    para esse gnero. Grislidis no tem voz e o prncipe,

    ao procurar a sua pretendente, valorizava a submisso

    feminina ao esposo. o que ele afirma:

    Seus caminhos so tais, com tantas variantes,

    Que uma s coisa eu encontrarei

    Em que esto todas concordantes,

    em querer ditar a lei.

    Ora, estou convencido, em nenhum casamento

    Se pode ter felicidade

    Quando os dois tm autoridade;

    Se pois quereis que a ele d consentimento,

    Buscai-se jovem muito bela

    Livre de orgulho e de vaidade,

    De total obedincia total,

    De uma pacincia sem igual,

    E que no possua vontade;

    Quando a encontrardes, casarei com ela.

    (PERRAULT, 2007, p.22)

    Apesar de toda a maldade do prncipe, que, por cime, lhe

    rouba a filha e quase vem a se casar com ela, Grislidis, a pobre

    pastorinha, comporta-se com resignao:

    Sois vs o meu Esposo, e meu Mestre, e Senhor,

    (Diz ela suspirando e quase a esvaecer),

    E, embora seja horrendo o que estejais a dizer,

    Quero fazer-vos sabedor

    Figura 2.3 - La Lecture (1869-1870), de Berthe Morisot.Fonte: .

  • 37PedagogiaUESC

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    De que o que eu mais prezo vos obedecer.

    (PERRAULT, 2007, p. 40)

    Assim o prncipe chega a conceder a glria a Grislidis,

    reconhecendo-a como virtuosa, no por ela, mas por intermdio dele:

    Maior ser minha solicitude

    Em prevenir os seus desejos

    De que j foi a minha inquietude

    Em oprimi-la de atos malfazejos;

    E se por todo o sempre h de estar a memria

    Dos desgostos que o seu corao tem sopeado,

    Quero que ainda mais celebrem essa glria

    Com que a virtude imensa eu lhe terei coroado.

    (PERRAULT, 2007, p. 46)

    Tais atitudes so endossadas porque dos homens eram

    esperados vigor, coragem, perseverana, para que se tornassem

    vencedores. Por isso,

    Com a ascenso da burguesia, mais do que nunca a mulher passa a ser vista como um complemento do homem, que deveria ser aperfeioado e enobrecido pela afeio e o puro amor de uma mulher. Dessa foram ela se transforma em algo especialmente des-tinado satisfao masculina (OLIVEIRA, 2004, p. 73).

    O filsofo Michel Foucault, crtico da modernidade, questionou no a relao da verdade com as coisas, mas a forma como os

    discursos so institudos como princpio de verdade na sociedade,

    chamando ateno para como os jogos de verdade e excluso so

    engendrados, isto , organizados socialmente:

    Decifrar a histria das idias no tanto visar um es-tabelecimento do verdadeiro e sim perceber arranjos que articulam jogos de verdade e de excluso, que estabelecem o tolerado e o intolervel (apud DES-CAMPS, 1991, p.40).

    Para Foucault, o poder no se encontra em instncias

    fechadas, isto , em instituies, mas de forma difusa na estrutura

    social. Roberto Machado, estudioso da teoria foucaultiana, adverte,

    em Cincia e Saber: a trajetria da Arqueologia de Foucault (1981):

    Foucault: Michel Fou-cault (1926-1984) foi pro-fessor de Histria dos Sis-temas de Pensamento no Collge de France de 1970 a 1984. Autor das seguin-tes obras, nas quais ana-lisa a construo da ver-dade os biopoderes e as disciplinas - para o Oci-dente: Histria da loucu-ra (1961), As palavras e as coisas, uma arqueolo-gia das cincias humanas (1966), A Arqueologia do saber (1969), Vigiar e punir (1975) e Histria da sexualidade (1976).

    Fonte: HUISMAN, 2000, p.16, p. 270, p. 271, p.422, p. 568.

    PARA CONHECER

  • 38 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A questo do Cnone e a Literatura Infanto-juvenil

    O Estado no o ponto de partida necessrio, o foco absoluto que estaria na origem de todo tipo de po-der social e de que tambm se deveria partir para explicar a constituio dos saberes nas sociedades capitalistas (MACHADO, 1981, p.190).

    Alerta-nos, entretanto, que o poder do Estado institudo em

    uma sociedade tambm exerce sua coero, sobre os cidados, entre

    outras microfsicas, isto , aquilo que no percebido, mas que coage

    para a manuteno de uma verdade. Ento, as regras de sujeio

    disciplinar vo determinar as fronteiras do permitido e do no

    permitido, porque se embasam em pares que se opem: alto/baixo,

    claro/escuro, natureza/cultura, homem/mulher, centro/periferia. Em

    Vigiar e punir, Foucault vai nos dizer que as disciplinas atravessam o

    corpo social e a realidade mais concreta do ser humano o prprio

    corpo como uma rede, sem que suas fronteiras sejam delimitadas,

    atravs de:

    Mtodos que permitem o controle minucioso das operaes do corpo, que asseguram a sujeio con-stante de suas foras e lhes impem uma relao de docilidade-utilidade (FOUCAULT, 1977, p.139).

    Logo, os estados-nao impem uma norma comportamental

    a ser vigiada e punida, em nome da ordem a ser mantida, tanto no

    espao domstico quanto no pblico. Os primeiros textos voltados

    para as crianas estiveram atrelados ao estado-nao e, portanto,

    pedagogia, pois: O aspecto meramente ldico de um texto no

    justificava a publicao, apenas o critrio de utilidade educativa

    legitimava a difuso de histrias infantis (ZILBERMAN, 1984, p.41).

    A obra infantil, desse modo, assume o compromisso de

    transmitir as regras, atravs do sonho, de que a criana necessitava

    para transitar, de forma ajustada, na sociedade. Nesse sentido, a

    fatura esttica voltada para a petizada acaba por se encerrar em

    duas chaves, uma voltada para a manuteno da ordem dominante, o

    docere platnico; outra que enseja a ousadia, o delectare, devido ao

    mundo do faz de conta, entretanto, pleno de verossimilhana, isto

    , luz de Aristteles em Arte Retrica e Arte Potica (1964), aquilo

    que tem a aparncia da verdade, no literrio. Como afirma Coelho:

    Os que so impelidos mais fortemente pelas foras da renovao exigem que a literatura seja apenas entretenimento, jogo descompromissado (pois jus-tamente a atividade ldica que tem por funo de-sarticular estruturas estticas, j cristalizadas com o tempo) (COELHO, 2000, p.47).

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    Assim, o ldico, puro jogo, descola o texto infantil do

    pragmatismo tico-social, levando o leitor mirim aventura espiritual,

    fruio esttica.

    ATIVIDADES

    1. Comente a inteno de Charles Perrault, acerca de seus escritos,

    a partir da seguinte citao de Contes du temps pass, avec

    des moralits, publicado em 1697:

    ... Houve pessoas que perceberam que essas bagatelas no

    so simples bagatelas, mas que guardam uma moral til e que

    a narrao que as conduz no foi escolhida seno para fazer

    entrar (tal moral) de uma maneira mais agradvel no esprito,

    e de uma maneira que instrui e diverte ao mesmo tempo. Isso

    me basta para no temer o ser acusado de me divertir com

    coisas frvolas. Mas como h pessoas que no se deixam tocar

    seno pela autoridade dos antigos...

    2. Leia o conto Os dois Irmos, dos irmos Grimm, e, a partir

    dos fragmentos destacados a seguir, identifique o princpio

    pedaggico que encerra o contedo da narrativa:

    a) Era uma vez dois irmos, um rico e outro pobre. O rico era

    ourives, e malvado at no poder mais. O pobre ganhava a

    vida fabricando vassouras, e era bom e honesto (GRIMM,

    2002, p.25).

    b) Acontece que o ourives era esperto e sabia uma poro

    de coisas. Sabia que tipo de pssaro era aquele (GRIMM,

    2002, p.27).

    c) Fique sabendo que esse pssaro no era como os outros.

    Tinha uma coisa maravilhosa: quem comesse o corao e o

    fgado dele passaria a achar, todas as manhs, uma moeda

    de ouro debaixo do travesseiro (GRIMM, 2002, p.27).

    d) - No h nada de mal nisso disse o caador - desde que

    vocs continuem sendo bons e honestos e no comecem a

    ficar preguiosos (GRIMM, 2002, p.29).

    e) - Seria muito melhor se quem no tivesse lngua fossem

    os mentirosos. As lnguas de um drago so a presa do

    matador do drago (GRIMM, 2002, p.50).

    ATIVIDADES

  • 40 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | A questo do Cnone e a Literatura Infanto-juvenil

    f) A misericrdia mais importante que o direito. Pode

    ficar com sua estalagem. E tambm vou lhe dar mil moedas

    de ouro, de presente (GRIMM, 2002, p.52).

    g) Mas o caador era muito esperto. Arrancou trs botes de

    prata do palet e carregou a arma com eles, porque contra

    a prata no havia poder mgico (GRIMM, 2002, p.56).

    h) A ele ficou sabendo como seu irmo lhe tinha sido fiel

    (GRIMM, 2002, p.58).

    RESUMO

    Foram mostrados, nesta Unidade II, a origem do cnone literrio e

    o modo como a Literatura infantil inseriu-se na tradio ocidental,

    vinculada, ainda que a sua manuteno encerre uma certa

    desvalorizao em relao ao literrio, sem adjetivao, talvez por

    seu vnculo sua origem popular, figura da me, sem peso poltico,

    fora do lar, e criana, em sua dependncia ao adulto.

    Referncias

    ALMEIDA, J. S. de. Ler as letras: por que educar meninas e mulheres? So Bernardo do Campo: Universidade Metodista de So

    Paulo: Campinas: Autores Associados, 2007.

    ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexes sobre a origem e a difuso do nacionalismo. Traduo de Denise Bottman.

    So Paulo: Companhia das Letras, 2008.

    ARISTTELES. Arte Retrica e Arte Potica. Traduo de Antnio Pinto de Carvalho. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1964.

    BADINTER, Elisabeth. Um e o outro. Traduo de Carlota Gomes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

    RESUMINDO

    REFERNCIAS

  • 41PedagogiaUESC

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    de

    COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histrico da Literatura/Juvenil: das origens Indo-Europias ao Brasil Contemporneo. So Paulo: tica, 1991.

    COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, anlise, didtica. So Paulo: Moderna, 2000.

    CURTIUS, Ernest. Literatura Europia e Idade Mdia Latina. Traduo de Teodoro Cabral. Rio de Janeiro: INL,1957.

    DESCAMPS, Christian. As Idias Filosficas Contemporneas na

    Frana. Traduo de Arnaldo Marques. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.

    FOUCAULT, Michel. Fbulas Encantadas. So Paulo: Abril Cultural, 1970.

    FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Traduo de Luis Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1977.

    FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Traduo de Salma Tannus Muchail. So. Paulo: Martins Fontes, 1999.

    FOUCAULT, Michel. Histria da loucura. Traduo de Jos Teixeira Coelho. So Paulo: Perspectiva, 2003.

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Traduo de Lygia M. Pond Vassalo. Petrpolis: Vozes, 1977.

    GRIMM, Jakob. Contos de Grimm: animais encantados. Apresentao, Traduo e Adaptao de Ana Maria Machado. Ilustrao de Ricardo

    Leite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

    MACHADO, Roberto. Cincia e Saber: a trajetria da arqueologia de Michel Foucault. Rio de Janeiro: Graal, 1991.

    PLATO. A Repblica. Traduo de Jair Lot Vieira. So Paulo: EDIPRO,1994.

    ZILBERMAN, Regina; MAGALHES, Lgia Cademartori. Literatura infantil: autoritarismo e emancipao. So Paulo; tica, 1984.

  • Suas anotaes

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    UNIDADE III

    LITERATURA INFANTO-JUVENILE O LUDOS

    OBJETIVOCompreender como o texto infantil pode despertar o prazer

    esttico, distanciando-se, assim, de um contedo pedaggico

    de ensinamento.

    1 INTRODUO

    Nesta unidade, vamos apresentar a voc uma viso mais ldica do texto da literatura infantil e como esse capaz de despertar

    o prazer esttico em seu leitor.

  • 44 Mdulo 5 I Volume 1 EAD

    Literatura Infanto-Juvenil | Literatura Intanfo-juvenil e o Ludos

    2 DE ARISTTELES AO LUDOS

    Se voltarmos aos conceitos aristotlicos, podemos dimensionar

    a literatura infanto-juvenil alm da nfase conteudstica, isto , que destaca o contedo inserido na obra, na linha da tradio platnica.

    Aristteles, discpulo de Plato, distancia-se do mestre em suas colocaes acerca do artstico. para ele, a literatura verdadeira e

    sria, por princpio, uma vez que o poeta se ocupa do que poderia ter

    acontecido, segundo a verossimilhana ou a necessidade, e no com

    o que aconteceu, como o faz o historiador.

    Aristteles: nasceu em Estagira, na pennsula macednica da Calcdica (por isso tambm chamado de o Estagirita). Era filho de Nicmaco, amigo e mdi-co pessoal do rei Amintas 2o, pai de Filipe e av de Alexandre, o Grande. Arist-teles mudou-se para Atenas, ento o centro intelectual e artstico da Grcia, e estudou na Academia de Plato at a morte do mestre, no ano 347 a.C. Depois disso, passou algum tempo em Assos, no litoral da sia Menor (atual Turquia), onde se casou com Ptias, a sobrinha do tirano local. Sendo este assassinado, o filsofo fugiu para Mitilene, na ilha de Lesbos. Foi depois convidado para a Corte da Macednia onde, durante trs anos, exerceu o cargo de tutor de Ale-xandre, mais tarde o Grande. Em 355 a.C., voltou a Atenas e fundou uma escola prxima ao templo de Apolo Lcio, de onde recebeu seu nome: Liceu. O caminho coberto (peripatos) por onde costumava caminhar enquanto en-sinava deu escola outro nome: Peripattica. A escola se tornaria a rival e, ao mesmo tempo, a verdadeira herdeira da Academia platnica. Aristteles considerado um dos mais fecundos pensadores de todos os tempos. Suas investigaes filosficas deram origem a diversas reas do conhecimento. En-tre outras, podem-se citar a biologia, a zoologia, a fsica, a histria natural, a potica, a psicologia, sem falar em disciplinas propriamente filosficas como a tica, a teoria poltica, a esttica e a metafsica. As obras de Aristteles que sobreviveram ao tempo foram obtidas a partir de anotaes do prprio autor para suas aulas, de textos didticos, de anotaes dos discpulos, ou ainda de uma mistura de vrias fontes. De suas obras, destacam-se Organon, dedica-da lgica formal; tica a Nicmaco (cujo ttulo indica o tema; Nicmaco era tambm o nome de seu filho); Potica e Poltica.

    FONTE: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u190.jhtm

    No captulo IX da sua Arte Potica, que nos chegou de forma

    incompleta, afirma:

    [...] a poesia [isto , a literatura] mais filosfica e de carter mais elevado que a histria, porque a poesia permanece no universal e a histria estuda apenas o particular (ARISTTELES, 1964, p.278).

    Aristteles, ento, destaca a autonomia do artstico, na

    medida em que o v como uma unidade, um todo orgnico, em

    transcendncia com a realidade evocada. Por isso, o conceito de

    PARA CONHECER

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    3U

    nida

    de

    cpia, de mmesis, deve ser entendido semelhante a uma espcie de recriao no assujeitada aos princpios da racionalidade, uma vez

    que essa capaz de criar um mundo coerente em sua universalidade,

    com harmonia e perfeio.

    MMESIS ou MIMESE. do gr. mmesis, imitao (imitatio, em latim), desig-na a ao ou faculdade de imitar; cpia, reproduo ou representao da na-tureza, o que constitui, na filosofia aristotlica, o fundamento d