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PESQUISA EM ADMINISTRAO: qualitativa ou quantitativa?
Richard Medeiros de Arajo 1
Fabrcio Pereira Gomes 2
Alba de Oliveira Barbosa Lopes3
RESUMO
As discusses entorno da cincia da administrao nunca saram da agenda de
pesquisa. Nesse contexto, os caminhos metodolgicos quantitativos e qualitativos na
busca pela construo do conhecimento so formas de concepo distintas de fazer
pesquisa. No primeiro instante, apesar de nascedouros distintos, as conjugaes
dessas duas perspectivas vm se mostrando uma sada coerente para auxiliar nas
respostas dos problemas cientficos que emergem no campo das organizaes.
Assim, esse paper continua uma discusso terica sobre como as caractersticas de
cada percurso metodolgico j descrito pode contribuir para avanos na apreenso
dos fenmenos no mundo das organizaes. Assim, percebe-se que os elementos
conceituais que circundam cada pesquisa qualitativa ou quantitativa podem ser
1 Bacharel em Cincias Administrativas, pela UnP, Especialista em Finanas pela UFRN, Mestre em
Administrao pelo PPGA - Programa de Ps -Graduao em Administrao da UFPB, e Doutor em Administrao pelo PPGA - Programa de Ps-Graduao em Administrao da UFRN - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Professor do Centro Universitrio FACEX UNIFACEX. E-mail: [email protected] 2 Possui Graduao em Turismo pela Universidade Federal da Paraba, Graduao em Administrao
pela Universidade Federal da Paraba e Mestrado em Administrao pela Universidade Federal da
Paraba. Atualmente trabalha na Petrobras - Petrleo Brasileiro - como Administrador Jnior. E-mail: [email protected] 3 3 Graduada e Mestre em Administrao pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora do
Instituto Federal de Pernambuco nos cursos de nvel tcnico, tecnolgico e especializao. doutoranda do programa de Ps-graduao em Administrao, na linha de pesquisa Gesto e
Polticas Pblicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]
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trabalhados como uma lgica de complementao e convergncia, especialmente
quando os objetos de investigao requerem amparos terico-metodolgicos de
maior robustez. No se deve descartar a possibilidade da complementaridade, mas
sim identificar sua possibilidade luz dos problemas de pesquisa que surjam nos
mais diversos contextos sociais.
PALAVRAS-CHAVE: ADMINISTRAO. METODOLOGIA CIENTFICA. PESQUISA
QUANTI-QUALITATIVA
INTRODUO
A administrao, enquanto cincia, data do incio do sculo XX. Foi a partir
dos estudos de Frederick Winslow Taylor, um engenheiro norte americano, que ela
comeou a ser estruturada. Esse perodo ficou conhecido como o da administrao
clssica. No segundo momento Jules Henri Fayol props um modelo cartesiano de
organizao e de gerenciamento. Esses dois estudiosos marcaram a gnese da,
hoje chamada, administrao cientfica. Depois, muitos pesquisadores comearam a
investigar o mundo organizacional e as correlaes de diversas variveis pertinentes
a esse meio. (ARAUJO e GOMES, 2004).
Com o decorrer do tempo, o tema administrao passou a ganhar cada vez
mais importncia na sociedade e no campo das cincias sociais. As empresas foram
crescendo numa escala vertiginosa e ganharam propores gigantescas. Esse
crescimento surpreendente do mundo organizacional teve influncia direta na vida
das pessoas, independentemente se estas tinham laos estreitos ou no com as
organizaes.
As mudanas sociais, iniciadas com a revoluo industrial, possibilitaram o
surgimento de uma nova era na humanidade. O modo da organizao, do trabalho,
da convivncia, do lazer, enfim, o prprio comportamento humano como um todo,
foi se adequando aos cenrios emergentes. Vivemos em uma sociedade de
organizaes onde as mesmas ocupam cada vez um espao importante na vida das
pessoas (ARAUJO e GOMES, 2004).
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Em decorrncia desse quadro, os pesquisadores foram, paulatinamente,
espertando o interesse em estudar o mundo das organizaes e consequentemente
da administrao.
Pesquisas comearam a ganhar grandes propores e importncia. Muitos
pesquisadores passaram a investigar o meio organizacional sob diferentes
perspectivas econmicas, sociais, tcnicas, polticas, entre outras. No nascedouro,
as pesquisas em administrao, influenciadas pelo paradigma positivista dominante,
adotaram uma filosofia de concepo de um mundo puramente pragmtico. Isso
ainda persiste at os nossos dias, na qual, muitas das pesquisas organizacionais
utilizam procedimentos metodolgicos estritamente quantitativos. No entanto, alguns
estudiosos vm chamando a ateno da comunidade cientfica para a necessidade
de ruptura desse paradigma. Cientistas esto apontando a importncia da
implementao de um modelo metodolgico alternativo que oriente as pesquisas em
administrao. (ARAUJO e GOMES, 2005).
Um pensamento menos estruturado que reconhea a complexidade do objeto
de estudo da administrao e do ser humano enquanto sujeito organizacional. Em
face da atual conjuntura mundial e das bruscas transformaes econmicas, sociais
e polticas pelas quais a humanidade vem passando, parece latente a necessidade
de um modelo investigativo que oferea no apenas constataes, ou, refutaes de
hipteses, mas que proporcione conhecimento aprofundado sobre as diversas
questes organizacionais.
Diante disso, a pesquisa qualitativa est buscando seu espao nas cincias
sociais. Isto ocorre no como uma contraposio aos mtodos quantitativos, mas
sim como um complemento a estes. O intuito de preencher as lacunas verificadas
nas pesquisas quantitativas e a unio dessas duas abordagens de pesquisa vem
sendo colocada como a sada para os problemas encontrados quando do uso
isolado de uma delas.
Esse papel se caracteriza como um ensaio terico. Foi realizado um
levantamento do acervo referente ao tema estudado. Para tanto foram consultados
livros, artigos cientficos, anais de congresso e revistas especializadas que tratavam
do assunto. A ideia trazer reflexes sobre a pesquisa em administrao, seguindo
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a ideia de Hatchuel (2005) ao destacar que a teoria da Administrao tem lidado
com a complexidade das cincias sociais como um campo de mltiplos paradigmas.
Para que se pudesse obter um entendimento mais acurado do tema, que
complexo, foi necessria essa busca em fontes variadas. Sendo assim, se acredita
ter conseguido abarcar fontes de naturezas diversas e, em razo disso, chegar a um
conhecimento mais abrangente do objeto pesquisado. A inquietude sobre esse tema
j constatado em Terence e Escrivo Filho (2006) e Cherobim et. Al (2003) quando
discutiam que a conjugao das abordagens de pesquisa a serem abordadas neste
ensaio um caminho e que pode ser trilhado pelo pesquisador sem a perda do rigor
cientfico.
1 PESQUISA CIENTFICA EM ADMINISTRAO
De acordo com Lakatos e Marconi (1996, p. 15), pesquisar no apenas
procurar a verdade; encontrar respostas para questes propostas, utilizando
mtodos cientficos. Por essa definio vemos que a pesquisa no algo simples.
Ela no pode ser entendida apenas como um simples processo investigativo, um
mtodo simplrio de inquirio. A pesquisa visa obter compreenses aprofundadas
acerca dos problemas estudados e requer um planejamento minucioso das etapas a
serem observadas, como seleo do tema de pesquisa, definio do problema a ser
investigado, processo de coleta, anlise e tratamento dos dados, e apresentao
dos resultados.
importante perceber que nem toda pesquisa cientfica, ou pelos menos,
nem toda pesquisa possui fins cientficos. Como afirmam Barros e Lehfeld (2003, p.
30) a pesquisa cientfica a explorao, a inquirio e o procedimento
sistemtico e intensivo que tm por objetivo descobrir, explicar e compreender os
fatos que esto inseridos ou que compem uma determinada realidade. Pode-se
ver que a pesquisa cientfica exige certo grau de formalidade e h alguns pr-
requisitos que devem ser observados para que a credencie como tal.
Para desenvolver qualquer pesquisa essencial que se tenha um mtodo
claramente definido e comprovadamente eficaz. De acordo com Fiorese (2003, p.
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27) o mtodo (metodologia) o conjunto de processos pelos quais se torna possvel
desenvolver procedimentos que permitam alcanar um determinado objetivo. De
forma anloga se pode dizer que o mtodo exerce para o pesquisador a mesma
funo do mapa para os viajantes.
Uma estrutura metodolgica bem definida condio sine qua non para a
realizao de uma pesquisa cientfica. Isso pode ser verificado nas palavras de
Arajo (1993, p. 19) quando diz que a cincia , portanto, metdica e que a mesma
pretende fornecer um modelo de realidade na forma de um conjunto de enunciados,
que permitem obter explicaes acerca de fenmenos e que so, alm disto,
suscetveis de algum tipo de confirmao ou refutao, enfim de validao. Bertero
(2006) tambm corrobora com essa opinio ao analisar a produo cientfica na rea
de administrao e expor que essas pesquisas possuem um grande desafio que
est relacionado com o aprimoramento metodolgico e aumento do rigor, uma vez
que a produo do pas tem crescido a cada ano, contudo ainda de pouco impacto
e pouco reconhecida internacionalmente.
O campo das cincias sociais, ao qual pertence a administrao, rico na
utilizao de mtodos variados de investigao, e no poderia ser diferente, pois a
organizao um dos principais objetos de estudo desse campo cientfico. Assim,
fica evidente a necessidade de empregar modelos investigativos abrangentes que
permitam compreender a complexidade e interao humana em suas mais
minuciosas nuanas.
A pesquisa cientfica em administrao ainda alvo de grandes discusses,
visto que ela no possui um mtodo de investigao prprio. Para desenvolver seus
estudos os cientistas organizacionais recorrem a modelos cientficos de pesquisa de
outras reas do conhecimento, tais como os de estatstica, matemtica, e mais
recentemente os de antropologia, sociologia e psicologia. Assim, aponta-se a
necessidade pela descoberta de uma metodologia que consiga contemplar os
diferentes aspectos das pesquisas organizacionais. Como lembra Santos (2007) a
Administrao uma cincia social recente que emprestou princpios de diversas
outras cincias como Sociologia, Economia, Psicologia, Cincia Poltica e mesmo da
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Antropologia. Desse modo, suas fronteiras so estendidas para acolher princpios
multidisciplinares.
Em virtude da prpria natureza racionalista que foi dada administrao, as
pesquisas nesse campo sempre utilizaram, em sua grande maioria, as metodologias
quantitativas de pesquisa. Assim como na grande maioria das cincias o paradigma
positivista esteve, e ainda est, fortemente presente nas metodologias de pesquisas
na rea da administrao. Dada a complexidade envolvida na rea da administrao
Whitley (1984) tece consideraes sobre as especificidades dos estudos no bojo da
administrao em relao a outros campos do conhecimento, apontando que o fato
do conhecimento ser produzido tanto na academia quanto nas organizaes
contribui para uma alta fragmentao dos estudos, um baixo grau de coordenao
de procedimentos e estratgias de pesquisa e, como consequncia um grau de
incerteza maior no que tange possibilidade de reproduzir os resultados,
prejudicando a qualidade da generalizao.
Jackson (2006, p. 6) observa ainda a discusso sobre a diversidade de
mtodos (e suposta supremacia da rea quantitativa sobre a qualitativa, o que
comum na rea de administrao) no deveria ocorrer, uma vez adotada a
metodologia, pois quando isso ocorre, espera-se que esses j estejam definidos por
ela, ou seja, uma consequncia de deciso anteriormente tomada pelo pesquisador.
Isso porque, a metodologia (ou teoria como tambm denominam) constri um
esquema de referncia ex-ante que determina a ordem e relevncia dos fatos sob
uma lgica ontolgica e epistemolgica especfica.
Barbosa et al. (2012, p.11) observar que
mesmo reconhecendo as diferenas significativas entre os paradigmas tradicionais de pesquisa, no podemos esquecer que eles so construes sociais e histricas e, portanto, no so definitivos, tampouco inviolveis ou santificados. Tratar as diferenas entre eles de forma dialgica pode gerar novas possibilidades de compreenso para os fenmenos e oferecer aos pesquisadores outras formas (no melhores ou piores, talvez mais ricas) de produzir conhecimento
Diante da colocao dos autores citados anteriormente as escolhas
metodolgicas na pesquisa cientfica em administrao devem ser almejadas
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resguardando o que se denomina de coerncia terico-metodolgica, que garanta a
consistncia do conhecimento gerado e no evidencie nenhuma fragilidade no rigor
processual exigvel, assim a dialgica, dentro das diversas possibilidades, pode ser
um apontamento que auxilia nesses atos do pesquisador.
1.1 Abordagem de Pesquisa Quantitativa em Administrao
Os mtodos quantitativos de pesquisa se baseiam no paradigma positivista,
onde a racionalidade reina de forma absoluta. Este tipo de estudo, conforme
Creswell (1994) investiga os problemas humanos ou sociais baseados no teste de
teoria composto de variveis com nmeros e analisada com procedimentos
estatsticos a fim de determinar se as generalizaes preditivas da teoria so
verdadeiras. Demcrito, Descartes e Newton contriburam de forma decisiva para
que o pensamento cientfico alcanasse um elevado grau de linearidade.
O pensamento positivista influenciou inicialmente as pesquisas nas cincias
naturais e exatas e, onde a objetividade, ao que pode parecer, prpria desse
campo do conhecimento. Como afirma Alves (1996, p. 94): [...] nas cincias
chamadas exatas, os ingredientes tm qualidade e uniformidade garantida. No
que a cincia seja exata. O que ocorre que no h variaes.
Em reas do conhecimento como matemtica, fsica e qumica, por exemplo,
essa ideologia sempre gozou de muito respaldo, e isso acabou se espraiando para
outros campos do saber, incluindo a administrao e outras cincias sociais que no
possuam um mtodo de pesquisa prprio. Algumas das caractersticas do
pensamento positivista so a unidade do mtodo cientfico, o carter eminentemente
emprico e a forte influncia da matemtica. Alm disso, esta corrente defende a
iseno de valor do pesquisador no transcurso do seu trabalho, alegando que o
mesmo no pode contaminar os resultados da pesquisa com suas crenas, sua
percepo, ou seja, no permitido ao pesquisador, segundo essa metodologia,
fazer inferncias baseado na sua viso de mundo. Ele deve ser um sujeito neutro,
preocupado apenas em mensurar friamente os fatos observados.
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O propsito maior de uma pesquisa positivista , justamente, explicar a
ocorrncia de um determinado fenmeno. Para tanto, so uti lizados nesse tipo de
pesquisa, mtodos eminentemente quantitativos, ou seja, ancorados em nmeros
que tentam, to somente, representar uma realidade temporal observada. O mtodo
quantitativo de pesquisa tem no questionrio uma de suas grandes ferramentas. A
validade da pesquisa quantitativa depende da construo cuidadosa do instrumento
que requer o uso de medidas padronizadas e nas quais as perspectivas e
experincias das pessoas so limitadas pelo uso de respostas predeterminadas.
pelos resultados obtidos nessa tcnica de coleta de dados que so feitas as
indues, que hora confirmam as suposies inicialmente levantadas pelo
pesquisador, e hora as refutam.
A ideologia positivista , at os dias atuais, a base da pesquisa em administrao.
Apesar do objeto de pesquisa da administrao e das cincias sociais ser
diferente daqueles das cincias naturais e exatas, os mesmos mtodos
investigativos vm sendo, ao longo do tempo, empregados em ambos os campos.
Pode-se dizer que a organizao e o seu ambiente, interno e externo, o principal
objeto de estudo da administrao. Contudo, no podemos esquecer que as
organizaes so compostas por pessoas. Alis, no h organizao sem pessoas.
Pode sim haver casos raros de pessoas que no fazem parte de nenhuma
organizao. Portanto, certo dizer que a administrao tem basicamente trs
objetos de estudos: as pessoas no contexto organizacional, as organizaes
propriamente ditas, e as relaes entre as organizaes e seu ambiente.
Sendo assim, as pesquisas em administrao que utilizam uma metodologia
quantitativa, ao que se observa, muitas vezes acabam por suprimir a devida
importncia das pessoas nas empresas, fazendo com que alguns vieses sejam
facilmente identificados. Talvez isso decorra do fato de que as pessoas no podem
ser estudadas a partir, unicamente, de modelos estruturados, desprezando-se a
natureza dicotmica do ser humano (racionalidade x intuio). Se bem que at
mesmo nas cincias naturais e exatas h uma crtica ao uso indiscriminado dos
mtodos quantitativos, visto que algumas verdades antes tidas como absolutas se
mostraram vulnerveis (ARAUJO e GOMES, p. 4, 2005).
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Por outro lado, um fator que alimenta essa utilizao exagerada de mtodos
quantitativos em administrao advm do conceito, geralmente distorcido, do que
organizao. A prpria ideia de que a organizao deve funcionar como um relgio
carrega em si uma objetividade que na prtica no vivenciada. Outro pensamento
que parece no se adequar realidade organizacional a teoria geral dos sistemas,
que ficou conhecida na administrao como abordagem sistmica. Esse
pensamento nasceu na biologia e representa os aspectos sistmicos peculiares
natureza biolgica do ser humano (BERTALANFFY, 1969). Em virtude da ausncia
de um mtodo prprio os cientistas organizacionais transportaram para a
administrao essa teoria, e toda objetividade que ela carrega.
Em contraposio a esse discurso funcionalista alguns autores criticam o uso
de tais mtodos nas pesquisas sociais. De acordo com eles, os mtodos
quantitativos so inapropriados para esse tipo de cincia, pois no conseguem
abarcar a complexidade das
questes que envolvem o ser humano. Assim, o emprego de mtodos apoiados
unicamente na ideologia positivista parece no atender grande parte das questes
que, diga-se de passagem, so imprescindveis melhor compreenso dos objetos
estudados na administrao. (ARAUJO e GOMES, p. 4, 2005).
O que se observa uma crescente preocupao dos pesquisadores desde a
dcada de 70, especialmente da rea humana, com todo o cenrio da pesquisa
cientfica. Isso pode ser evidenciado pelas palavras de Kaufmann (1977, p. 171):
Nos ltimos anos, o termo crise tem sido frequentemente aplicado ao estado da cincia em geral ou de cincias e grupos de cincias em particular. Houve uma crise na fsica, uma crise na psicologia, e acima de tudo uma crise nas cincias sociais sociologia, economia, jurisprudncia, etc. O termo se refere, em primeiro lugar, ao aparecimento de dvidas a respeito de leis e mtodos anteriormente encarados como firmemente estabelecidos. Mas, aplicado s cincias sociais, indica, alm disso, uma profunda insatisfao com os resultados da investigao social.
O estado de arte da metodologia cientfica apresenta um questionamento
acerca do encaminhamento positivista nas pesquisas sociais. Apesar do sucesso
dos mtodos quantitativos nas cincias naturais e exatas, j aconteceram diversos
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casos, como a queda de alguns conceitos verdadeiramente dogmticos, que no
resistem a uma investigao mais aprofundada e assim revelam sua fragi lidade.
O campo da administrao conviveu muito bem com os mtodos quantitativos
por um longo perodo, talvez at por falta de opo. Durante muito tempo esses
mtodos eram a nica alternativa que os pesquisadores dispunham para executar
seus trabalhos. Na verdade, o que ocorre que quando no se tem um instrumento
adequado para realizar uma determinada tarefa, se buscam meios alternativos.
isso que acontece com a cincia da administrao.
Por ela no dispor de instrumentos de pesquisa prprios, se v obrigada a
utilizar ferramentas de outros campos do conhecimento, e em decorrncia disso
surgem os vieses. Entretanto, no se pode desprezar todo o conhecimento
produzido pelas pesquisas quantitativas no campo das cincias sociais. Como
afirma Demo (1995, p. 133), em termos quantitativos, as cincias sociais j
dispem de bagagem aprecivel de pesquisa emprica e, por mais que existam
vcios, limitaes e tambm mistificaes, um produto de particular significado
metodolgico.
No obstante, incorreto generalizar que os mtodos quantitativos so
inadequados para pesquisas na rea da administrao. Como ela uma cincia que
envolve vrios campos do saber, economia, sociologia, contabilidade, filosofia, s
para citar alguns, existem casos em que esses mtodos so os mais indicados. H
de se observar s peculiaridades de cada estudo a fim de adequar as ferramentas
de investigao ao objeto estudado.
1.2 Abordagem de Pesquisa Qualitativa em Administrao
O estudo qualitativo exposto por Creswell (1994) como um processo de pesquisa
que busca entender problemas humanos e sociais baseados na construo de uma
descrio complexa e holstica do ponto de vista dos informantes. Se por um lado os
mtodos quantitativos se fundamentam no pensamento positivista, os mtodos
qualitativos tm uma orientao antipositivista, ou seja, so norteados pelo
paradigma interpretativo e sua validade e confiana dependem da habilidade
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metodolgica, da sensibilidade e da integridade do pesquisador. Dessa forma, a
racionalidade cede espao subjetividade. A viso reducionista se amplia para a
tentativa de entendimento aprofundado do objeto em estudo. (ARAUJO e GOMES,
p. 7, 2005).
Outra dissonncia entre essas duas abordagens que enquanto no
positivismo o fim em si o explicativo, o propsito das pesquisas que seguem o
paradigma interpretativo vai alm, necessrio interpretar os fatos em seus
contextos, entender as relaes existentes entre as varveis expostas,
intervenientes, ocultas etc.
A abordagem interpretativa emergiu como uma alternativa de superao dos
problemas identificados nos modelos de pesquisas positivistas. Solidificada em
princpios prprios, a ideologia antipositivista rebate os fundamentos da filosofia
funcionalista. Em princpio, o interpretativismo defende a utilizao de mtodos
variados como anlise de contedo, grounded theory, pesquisa ao, mtodos
etnogrficos, anlise de conversao, observao participante, entre outros. Em
campos de estudo como antropologia e sociologia, esses mtodos j vm sendo
empregados h bastante tempo. (ARAUJO e GOMES, p. 7, 2005).
As teorias interpretativas defendem que o homem no pode ser estudado
matematicamente, pois ele de nascimento, um ser extremamente complexo, e por
essa razo no responde linearmente aos mesmos estmulos. Para Neves (1996, p.
1), a pesquisa qualitativa : [...] um conjunto de diferentes tcnicas interpretativas
que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de
significados. Tendo por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenmenos do
mundo social [...]. Como se pode inferir por essa definio, na pesquisa qualitativa
no h preocupao em produzir dados numricos manipulveis em frmulas
matemticas e destinados construo de grficos e tabelas que retratam de forma
reducionista os achados de pesquisa.
A utilizao de mtodos qualitativos de pesquisa est em pleno crescimento.
Como afirma Godoy (1995, p. 21) [...] hoje em dia a pesquisa qualitativa ocupa um
reconhecido lugar entre as vrias possibilidades de se estudar os fenmenos que
envolvem os seres humanos e suas intricadas relaes sociais, estabelecidas em
162
diversos ambientes. Com isso se percebe uma forte tendncia por uma maior
utilizao dos mtodos qualitativos de pesquisa, sobretudo no campo das cincias
humanas.
No caso especfico da administrao h um aumento no nmero de trabalhos
cientficos que vm fazendo uso de metodologias qualitativas. Um dos fatores desse
crescimento a obteno de resultados mais fidedignos, uma vez que nessa
tipologia metodolgica se prioriza a qualidade em detrimento da quantidade. Sendo
assim, os achados de pesquisa se mostram mais prximos da verdade dos
fenmenos.
A operacionalizao na adoo de um mtodo qualitativo se faz
dinamicamente ancorado pela anlise do fenmeno escolhido para ser estudado.
No h a necessidade nem a preocupao em registrar freqncias relacionadas
com o fenmeno, o que se busca um envolvimento ativo construtivo do
pesquisador em todo o processo de pesquisa, desde a formulao da questo de
pesquisa at as anlises dos achados. Um estudo qualitativo capaz de revelar
uma riqueza maior de dados, bem como facilita uma explorao maior de eventuais
contradies e paradoxos. Alguns dados s so coletados atravs de mtodos
qualitativos, por exemplo, a tonalidade de voz dos respondentes, as alteraes das
feies, as expresses corporais, as diferenas entre o discurso e o comportamento,
alm de outras.
A dimenso subjetiva do objeto de estudo s pode ser percebida mediante o
uso e mtodos qualitativos de pesquisa. Embora exista uma variedade de
instrumentos de coleta de dados, nenhum deles consegue suprimir o contato entre
pesquisador e pesquisado. A interao entre o cientista e o objeto primordial na
construo de uma teoria legitimamente fundamentada. Os benefcios da utilizao
da pesquisa qualitativa administrao so vrios, por exemplo, a utilizao da
pesquisa-ao para solucionar problemas administrativos, no sentido de interveno
participativa. Tambm pode se utilizar a observao participante para mensurar,
entre outras coisas, a reao de um consumidor ao provar um determinado produto,
ou seja, pode ser usada como uma ferramenta mercadolgica. Outra tcnica que
pode ser utilizada a etnografia para estudos de cultura organizacional que tentem
163
diagnosticar e gerenciar estrategicamente os modelos comportamentais das
pessoas.
O fato que hoje vem crescendo o nmero de trabalhos no campo da
administrao que utilizam mtodos qualitativos de pesquisa, pois em face s
mudanas por quais as organizaes vm passando h uma necessidade de no
apenas entender, as de compreender os fenmenos sociais vivenciados. Isso j
uma realidade muito forte em pases da Europa, por exemplo, os de lngua alem e
mais recentemente os pases anglo-saxnicos (FLICK, 2004). Se o homem o
principal objeto de estudo das cincias humanas, parece razovel reconhecer que
sua complexidade requer trabalho rduo para ser desvendada. A proposta das
metodologias qualitativas de pesquisa justamente preencher a lacuna ignorada
pela corrente quantitativa.
1.3 Pesquisa Quanti-Qualitativa em Administrao
Os mtodos que combinam coletas e anlise de dados quantitativos e
qualitativos so cada vez mais discutidos, contudo, sua utilizao ainda est em fase
de institucionalizao. Esse tipo de pesquisa, conforme Creswell e Plano Clark
(2011), tem sido desenvolvida e analisada profundamente em poucas reas como
educao, sociologia, psicologia e cincias da sade, portanto, este artigo que
busca discutir o emprego em administrao se torna relevante.
Podem ser percebidos duas situaes em relao aos chamados mtodos
mistos, multimtodos, estudos integrados ou pesquisas quanti-quali: situaes nas
quais um ou outro mtodo se sobrepe ao outro, ou seja, existe a predominncia
perceptvel e a situao onde existe uma integrao de abordagens metodolgicas e
a no justaposio de mtodos. O enfoque misto pode ser englobado no mbito
geral das cincias sociais como estratgia de triangulao metodolgica,
desenvolvido por Denzin (1989). Ressalta-se, contudo, que a triangulao pode
ocorrer no apenas entre mtodos e dados, mas entre pesquisadores e teorias
distintas.
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Em busca de uma definio mais precisa, recorre-se a Tashakkori e Creswell
(2007, p. 4) no editorial do primeiro nmero da revista Journal of Mixed Methods, os
quais descrevem este tipo de pesquisa como aquele em que o pesquisador coleta e
analisa dados, integra as concluses e faz inferncias usando ambas as abordagens
qualitativas e quantitativas em um nico estudo ou programa de investigao. O
que os autores ressaltam na definio o conceito de integrao j destacado no
pargrafo anterior.
Teddlie e Tashakkori (2003) citado em Plye et al (2012) destacam trs
abordagens relacionadas aos mtodos mistos: a) complementariedade; b) tenso
dialtica; c) assimilao. A primeira se refere s pesquisas que apresentam os
resultados qualitativos e quantitativos separadamente, mas os achados
apresentados por cada abordagem evidenciam que estes so complementares entre
si. A segunda abordagem ressalta que sempre haver divergncias entre os
resultados quantitativos e qualitativos e o que destacado no estudo no so os
achados em comuns e sim as discrepncias. Na terceira abordagem, os resultados
so assimilveis, ou seja, o que ressaltado no so as discrepncias, como
apresentado anteriormente, e sim s similaridades entre os achados.
Aps as consideraes dos dois tipos de pesquisa, na seo anterior,
apresenta-se um quadro resumo com os paradigmas das duas abordagens para em
seguida expor a idia central deste artigo que a possibilidade de mesclar as duas
abordagens, que no so excludentes, de forma a enriquecer as anlises
desenvolvidas. O quadro a seguir apresenta, de forma didtica, as principais
diferenas entre as pesquisas quanti e quali.
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Quadro 1: Pesquisas quantitativas e qualitativas
QUANTITATIVA QUALITATIVA
REALIDADE A realidade objetiva e
singular, afastada do
pesquisador
A realidade subjetiva e
mltipla
RELACIONAMENTO
O pesquisador independente
Pesquisador interage com a pesquisa
VALORES Imparcial Parcial
LINGUAGEM Formal, baseada em
definies, voz impessoal Informal, voz pessoal
PROCESSO DE
PESQUISA
Dedutivo Esttico (categorias isoladas
antes do estudo)
Indutivo Dinmico (categorias
identificadas durante o processo)
MTODOS Experimentos, surveys
Estudos etnogrficos, estudos de caso,
interacionalismo simblico, ground theory, estudos
fenomenolgicos Fonte: Baseado em Creswell (1994, p. 5)
Sob o paradigma quantitativo, como j exposto, um fenmeno s pode ser
mensurado objetivamente usando instrumentos especficos que contribuem para o
distanciamento e independncia do pesquisador em relao ao objeto de estudo. J
o paradigma qualitativo percebe mltiplas realidades que escapam do controle rgido
de um questionrio e que so expostas por meio das vozes e interpretaes dos
informantes. Nesse tipo de estudo, os pesquisadores interagem com o objeto
investigado e no qual os valores e ideias pr-concebidas influenciam a pesquisa.
As definies das categorias de anlise tambm so distintas nas duas
concepes metodolgicas. Nas pesquisas quantitativas, as teorias e hipteses so
testadas na relao causa e efeito e os conceitos e variveis so escolhidas antes
do estudo comear. O objetivo do estudo obter generalizaes que contribuam
para a teoria e para a predio, explicao e entendimento sobre o fenmeno. Na
pesquisa qualitativa, as categorias emergem dos pesquisados, no decorrer do
estudo, e a questo da exatido no cabe no estudo e por isso o pesquisador deve
informar os passos para a verificao com os informantes.
166
Para Arajo e Gomes (p. 7, 2005) O campo cientfico aponta uma tendncia
para o surgimento de um novo paradigma metodo lgico. Um modelo que consiga
atender plenamente as necessidades dos pesquisadores. Essa dicotomia positivista
x interpretativo, quantitativo x qualitativo, parece estar cedendo lugar a um modelo
alternativo de pesquisa, o chamado quanti-qualitativo, ou o inverso, quali-
quantitativo, dependendo do enfoque do trabalho. Apreende-se disto o que Creswell
(2007) focou quando descreveu que a possibilidade de se escolherem mtodos de
carter quantitativos, qualitativos ou ainda mistos, e destaca que os mtodos
qualitativos diferem dos quantitativos em relao nfase e forma, mas que no se
pode afirmar que sejam opostos.
Se por um lado, os pesquisadores das cincias naturais e exatas se mostram
avessos s metodologias qualitativas, por outro, os cientistas sociais comeam a
criticar o enfoque positivista (ARAUJO e GOMES, p. 7, 2005).
Apesar da clara oposio existente entre as duas abordagens (quantitativa x
qualitativa) muitos autores, especialmente os da rea social, colocam que o ideal a
construo de uma metodologia que consiga agrupar aspectos de ambas as
perspectivas, como o caso de Demo (1995, p. 231) quando diz que embora
metodologias alternativas facilmente se unilateralizem na qualidade poltica,
destruindo-a em consequncia, importante lembrar que uma no maior, nem
melhor que a outra. Ambas so da mesma importncia metodolgica.
Essa polarizao do mundo (bem x mal, amor x dio, grande x pequeno)
prpria da ideologia positivista. Essa postura de extremos parece ser danosa para a
cincia, pois s vezes dada ao objeto uma caracterstica que no condiz com sua
realidade, mas com o que est mais prximo dele. Assim como o ser humano
composto de duas dimenses, matria e esprito, tambm clara a idia de que
todas as coisas mundanas possuem, ao menos, uma representao objetiva e outra
subjetiva.
A viso reducionista que tem imperado no campo cientfico ocasiona uma
diminuio da importncia dos objetos. Esse aspecto meramente pragmtico da
pesquisa
167
quantitativa acaba subjugando o rea l valor dos estudos. Por outro lado, autores
defendem que a utilizao apenas de mtodos qualitativos no indicada, pois seria
muito penoso construir teorias abrangentes a partir de estudos isolados. Assim, os
aspectos objetivos so, por vezes, necessrios cincia. Se tomarmos por conta o
campo das cincias sociais, sobretudo a administrao, veremos que j uma
realidade a utilizao de abordagens mistas, ou seja, pesquisas que vm fazendo
uso de ferramentas de ambas as perspectivas. Um discurso recente defendendo a
importncia dos dois enfoques o de May (2004, p. 146):
[...] ao avaliar esses diferentes mtodos, deveramos prestar ateno, [...], no tanto aos mtodos relativos a uma diviso quantitativa-qualitativa da pesquisa social como se uma destas produzisse automaticamente uma verdade melhor do que a outra -, mas aos seus pontos fortes e fragilidades na produo do conhecimento social. Para tanto necessrio um entendimento de seus objetivos e da prtica.
No campo da administrao h um contexto favorvel a utilizao de
metodologias de pesquisa que adotem um enfoque mltiplo. O cenrio
organizacional , ao mesmo tempo, complexo e mutante. Se estudar o ser humano
isoladamente j uma tarefa desafiadora, entend-lo no ambiente organizacional
uma tarefa ainda mais rdua. O meio organizacional j possui uma riqueza de
conhecimento considervel. Contudo, grande parte desse legado foi construdo
apenas com pesquisas empricas, mediante uma viso racional da organizao.
Sendo assim, alguns autores fazem srias crticas aos achados das pesquisas na
administrao, alegando que esse conhecimento superficial, frgil.
A administrao uma cincia multifacetada. Talvez ela seja a que congrega
mais saberes de outras cincias, e em virtude disso ela no tenha conseguido at
hoje criar um mtodo de pesquisa prprio. No estar errado dizer que a
administrao une os dois enfoques metodolgicos atravs dos seus vrios campos
de estudo. Se por um lado, a administrao tem a perspectiva quantitativa ao reunir
reas como contabilidade, matemtica, estatstica, economia, tecnologia da
informao, por outro, ela possui uma dimenso subjetiva muito forte em reas
como sociologia, filosofia, psicologia e antropologia. Sendo assim, no parece
apropriado um posicionamento em qualquer um dos extremos, sob pena de enviesar
os estudos.
168
Ao contrrio do que se imagina, as pesquisas na rea da administrao no
so fceis, ao menos que se queira ignorar uma de suas dimenses. Pesquisar em
administrao exige, antes de tudo, reconhecer a necessidade de uma metodologia
que permita ao pesquisador observar os diversos aspectos relacionados ao objeto
em questo. O atual perodo metodolgico da pesquisa em administrao reflete
justamente a tentativa de construo de uma abordagem que consiga abarcar as
duas dimenses dessa rea. Ao que tudo indica, no futuro se ter um mtodo muito
bem definido e posicionado ao centro dos dois enfoques. Essa postura central
possibilita um leque maior de ferramentas para a operacionalizao da pesquisa,
permitindo inclusive um deslocamento a um dos extremos, de acordo com as
peculiaridades de cada objeto.
Como observa Ghunter (2006, p. 203) ao tratar das especificidades da
pesquisa cientifica
Uma resposta ao problema de como lidar com os valores e o envolvimento emocional do pesquisador com o seu objeto por meio do controle das variveis do estudo. O contraponto feito entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa o de estudar um determinado fenmeno no seu contexto natural versus estud-lo no laboratrio. A primeira estratgia da pesquisa qualitativa implica em relativa falta de controle de variveis estranhas ou, ainda, a constatao de que no existem variveis interferentes e irrelevantes. Todas as variveis do contexto so consideradas como importantes. Na segunda estratgia da pesquisa quantitativa tenta-se obter um controle mximo sobre o contexto, inclusive produzindo ambientes artificiais com o objetivo de reduzir ou eliminar a interferncia de variveis interferentes e irrelevantes. Entre as variveis irrelevantes e potencialmente interferentes, incluem-se tanto atributos do pesquisador, por exemplo, seus valores, quanto variveis contextuais ou atributos do objeto de estudo que no interessam naquele momento da pesquisa.
preciso, portanto, inicialmente romper com os dois paradigmas, positivista e
interpretativo. Sair dos extremos e caminhar em direo ao centro, construo de
um novo paradigma que necessariamente englobe aspectos distintos. Em pesquisa
cientfica no se recomendam posicionamentos radicais. preciso reconhecer a
fragilidade das verdades. Como afirma Alves (1996, p. 165), podemos ter certeza
quando estamos errados, mas no podemos nunca ter a ce rteza de estarmos
certos.
169
Antes de finalizar, contudo, os autores deste artigo querem ressaltar que
apesar das inmeras vantagens da pesquisa mista, existem limitaes prticas de
combinao dos mtodos que dependero da habilidade dos pesquisadores, o
contexto da pesquisa e a disposio de recursos da pesquisa. Bryman (2007)
destaca que a grande dificuldade est relacionada com fuso de anlise de dados
qualitativos e quantitativos de forma a fornecer uma anlise integrada, mas que esta
pode ser minimizada ao focar a necessidade da realizao da pesquisa em mtodos
mistos. necessrio, tambm, que haja na equipe pesquisadores experientes para
orientar as conexes entre os dados quantitativos e qualitativos. Para ele, outra
dificuldade a falta de exemplos j consolidados de estudos com anlises
integradas que poderiam atuar como referncia para os futuros pesquisadores. As
foras e fraquezas das pesquisas esto sintetizadas no quadro a seguir, cabe,
portanto, ao pesquisador avaliar as potencialidades e as demandas das mesmas.
Quadro2: Foras e fraquezas das pesquisas mistas
FORAS FRAQUEZAS
Palavras, imagens e narrativas pode
ser usado para acrescentar significado a nmeros da mesma forma que os nmeros podem ser
utilizados para adicionar a preciso palavras, imagens e narrativa
Pode ser difcil para um nico
pesquisador realizar pesquisas quantitativas e qualitativas simultaneamente
Pode responder a uma gama maior e
mais completa de perguntas de pesquisa porque o pesquisador no
se limita a um nico mtodo ou abordagem
O pesquisador tem que dominar vrios
mtodos e abordagens e compreender como integr-los de forma adequada
Um pesquisador pode usar os pontos fortes de um mtodo para minimizar
as deficincias de outro mtodo
Consome mais recursos
Pode fortalecer a evidncia de uma concluso por meio de convergncia
e comprovao de resultados, como tambm para aumentar a generalizao dos resultados
Fonte: Baseado em Johson e Onwuegbuzie (2004)
170
No existem modelos ou regras estabelecidas para a conduo deste tipo de
pesquisa, entretanto, a integrao deve ser prioridade, expressa especialmente na
apresentao dos achados. Sabe-se que demanda ao pesquisador mais
conhecimento, tempo e habilidades relacionadas ao desenvolvimento das anlises
quantitativas e qualitativas. Apesar dos obstculos existentes, contudo, os benefcios
da pesquisa quanti-quali podem compensar essas barreiras e este artigo espera ter
contribudo para demonstrar as potencialidades e possibilidades disponveis aos
pesquisadores da rea de administrao.
CONSIDERAES FINAIS
Constata-se os debates em torno do fazer cincia em administrao, cada
linha terica epistemolgica defende suas posies e argumentam com elementos
ontolgicos. Cabe ressaltar que o objeto do estudo da administrao e per si
complexo e no esttico o que exige avanos metodolgicos e instrumentais
conceituais que tragam baila a possibilidade de uma apreenso coesa e coerente
dos fenmenos estudados.
As metodologias qualitativas alternativas, ancoradas na ideologia
interpretativa, vm ganhando espao no cenrio cientfico, especialmente no campo
das cincias sociais. Elas trazem consigo a proposta de preencher as lacunas
deixadas pela ortodoxia metodolgica. (ARAUJO e GOMES, p. 10, 2005).
importante entender que o campo das cincias humanas no pode ser
visto sobre a mesma tica das cincias naturais e exatas. O objeto de estudo das
cincias sociais naturalmente mais complexo e, por isso, exige mtodos
investigativos prprios que respeitem suas peculiaridades.
A tendncia na cincia, no que diz respeito s metodologias de pesquisa, a
utilizao de abordagens mltiplas. Alguns autores argumentam que tanto o
paradigma positivista quanto o interpreta tivo no conseguem isoladamente oferecer
ferramentas apropriadas para as mais diferentes questes de pesquisa. Conforme
Laflamme (2007), toda viso hierrquica ou excludente das duas abordagens
prejudicial ao processo de pesquisa. A anlise qualitativa, no campo das cincias
171
humanas, completa a anlise quantitativa e vice-versa, j que elas permitem ter
acesso as informaes especficas que enriquecem o conhecimento.
A administrao uma das cincias que apresenta um dos mais elevados
nveis de multidisciplinaridade. Essa pluralidade cientfica da administrao permeia
reas quantitativas (matemtica, estatstica, contabilidade, economia) e reas
qualitativas (fi losofia, sociologia, psicologia). Assim, fica muito clara a complexidade
dessa matria, bem como a necessidade de empregar mtodos investigativos mais
apropriados.
Em razo da natureza complexa da administrao, que envolve variveis
mltiplas, parece inadequado o uso de metodologias que se baseiam, to somente,
em um paradigma metodolgico. preciso reconhecer que o objeto de estudo da
administrao de difcil entendimento, e, por isso, necessita de uma metodologia
que englobe os mais variados aspectos.
O deve ser buscado, dependendo do objeto de pesquisa, as metodologias
quanti-qualitativas, ou, quali-quantitativas. Os pesquisadores que antes se
colocavam nos extremos do continuum - positivismo / interpretativismo esto se
posicionando mais ao centro. Os resultados alcanados com o emprego dessas
metodologias alternativas apontam para uma maior fidedignidade e validao das
pesquisas. Se for certo que a verdade absoluta nunca alcanada, talvez a
utilizao de abordagens mltiplas possa, ao menos, aproximar os pesquisadores de
uma verdade temporal.
Nesse limiar, como lembram Barbosa et al. (2012) a Administrao deve
buscar a compresso pelo pluralismos e em contextos paradoxais explorando o
objeto de investigao conciliando suas respectivas posturas ontolgicas,
epistemolgicas e consequentemente metodolgicas . O que no se deve mais
caminhar por uma discusso excludente, pois quem perde a prpria cincia, uma
vez que necessita desses trs constructos para se validar e consolidar como o
passo a passo para os investigadores crticos e reflexivos.
172
RESEARCH ADMINISTRATION: qualitative or quantitative?
ABSTRACT
The discussions surrounding the management science never left the research
agenda. In this context, the quantitative and qualitative methodological approaches in
the search for knowledge construction are different ways to design research. At first
glance, though hatchers distinct conjugations of these two perspectives have been
shown a way to assist in the consistent responses of scientific problems that emerge
in the field of organizations. Thus, this paper continues a theoretical discussion about
the characteristics of each methodological approach already described can
contribute to advances in the apprehension of phenomena in the world of
organizations. Thus, it is clear that the conceptual elements that surround each
qualitative and quantitative research can be worked as a logical complementation
and convergence, especially when subjects research protections require theoretical
and methodological robustness. One should not rule out the possibility of
complementarity, but to identify its possibility in light of the research problems that
arise in various social contexts.
KEYWORDS: ADMINISTRATION. SCIENTIFIC METHODOLOGY. RESEARCHES
QUANTI-QUALITATIVE.
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