A Branquinha e o Joca
Conto coletivo do 5º C
EB 2, 3 Dr. José dos Santos Bessa
A Branquinha e o Joca
Conto Coletivo do 5º C
EB 2, 3 Dr. José dos Santos Bessa
Fevereiro 2012
Era uma vez, uma linda gata branca que vivia pacatamente numa cidade.
Era verão e os habitantes da casa, o senhor António e a dona Maria, que-
riam ir de férias para as Caraíbas. Fizeram as malas e até já tinham marca-
do o dia da viagem, quando descobriram que não era permitido levar a
gata para o Hotel Tropical.
A avó Carlota que adorava a Branquinha (assim lhe chamavam por ser
branca como a neve),choramingou com pena da gatinha e até chegou a
sugerir não ir de viagem para ficar a tratar dela. Mas o Senhor António e a
dona Maria recusaram-se a deixar a avó sozinha por ser idosa e doente, e
partiram todos juntos para as Caraíbas.
A gatinha ficou na varanda…
Ao fim de dois dias, saltou o muro e foi à procura de comida.
A cidade parecia um labirinto. Os carros movimentavam-se de um lado
para outro com muita velocidade, as ruas abriam caminhos em várias dire-
ções, os prédios eram tão altos que só de olhar para eles, a gatinha ficava
cheia de tonturas. Mas o pior era o barulho que não a deixava orientar… “
Vrumm”, “vrumm”, “pi” “piii!” E a Branquinha fugia aterrorizada, saltava
muros e atravessava estradas como se fugisse de um furacão.
A dada altura, fez-se um remoinho de pó e de folhas e ela foi levada pela
ventania durante horas. Quando o remoinho parou, deve ter caído e, ou
adormeceu de cansaço ou desmaiou.
Entretanto anoiteceu e a cidade ficou deserta. Só se ouviam algumas
folhas a voar ao som do vento. Por fim, a Branquinha acordou assustada e,
em jejum, foi procurar abrigo num beco. Alguns animais abandonados pas-
saram por ali, mas ignoraram a Branquinha.
Esta tentou adormecer, mas mal fechava os olhos, pensava em ataques de
lobos e em outras coisas más.
De repente, viu uma sombra. A forma era misteriosa… Branquinha afiou e
esticou as unhas para se preparar para atacar, quando ouviu:
-Ão! Ão! Ão!
A gatita sentiu um arrepio, pois sabia que os cães ficam ferozes quando
veem gatos, mas sentia-se tão sozinha que resolveu arriscar, fazendo
barulho para chamar atenção, mas sempre com as unhas afiadas e o pelo
eriçado, não fosse o diabo tecê-las.
O cão rapidamente olhou em redor e correu na sua direção. Era bonito e
castanho da cor de café.
- Não ladres, - pediu ela - tenho muito medo. A minha dona abandonou-me
para ir de férias…Como te chamas?
-Joca. Sou vadio porque os meus donos também me abandonaram, mas já
estou habituado à cidade.
- Eu é que não estou habituada – comentou ela um pouco mais calma- Tens
alguma coisa de comer? É que eu estou cheia de fome!
- Aqui não, mas já se arranja.
Andaram, andaram, até que encontraram um caixote do lixo.
- Aqui tens o teu jantar – disse o cão, sem cerimónias. Ela só de olhar,
deu-lhe vontade de vomitar, pois estava habituada a uma papinha na sua
tacinha… Mas para não ser ingrata, experimentou e até gostou das espi-
nhas.
O cão também aproveitou para roer uns ossos e no fim disse-lhe:
-Estás a ver aquela ponte ao dobrar da esquina? Lá debaixo há um monte
de relva fofinha. Queres dormir ali comigo?
No dia seguinte foram passear pela cidade.
A dada altura era preciso atravessar uma rua. O
cão dirigiu-se para junto dos semáforos e parou
em frente ao sinal vermelho. Logo a seguir, a luz
ficou verde e o Joca atravessou calmamente no
meio das pessoas. A Branquinha, meia ataranta-
da, atravessou com ele e perguntou:
- Porque é que os carros pararam? Ontem
nenhum parava e eu quase que ia sendo atrope-
lada por um autocarro.
Então o Joca explicou-lhe, que além de saber o
código da estrada, sabia ler e escrever.
Os olhos da gatita brilharam de espanto.
- O quê?! Inacreditável! Como é que aprendeste isso tudo?
- Frequentei uma escola para cães.
- Uau!! «Bueda fixe»!- exclamou a Branquinha.
A partir daí tornaram-se amigos inseparáveis
e passado algum tempo apaixonaram-se. Cer-
to dia, o Joca e a Branquinha iam a atravessar
uma rua, quando dois polícias se aproximaram
e um deles comentou:
- Este cão é muito educado e não traz trela,
por isso não deve ter dono. Já reparaste que
atravessou na passadeira? Dava-nos muito jei-
to um cão destes no nosso posto.
E num ápice, agarraram-no e meteram-no na carrinha da polícia.
A namorada do Joca miou, chorou, gritou, correu atrás deles, mas a car-
rinha desapareceu sempre a abrir.
Os dias tornaram-se sombrios e as noites muito frias…
- Tenho tantas saudades do colinho quentinho e fofinho da avó Carlota
junto à lareira, - lamentava-se a Branquinha.
O cão era mais resistente, pois estava habituada à vadiagem. Mas a sua
amada sofria muito por causa do conforto que tinha vivido em casa dos
seus donos.
Então o Joca teve uma ideia:
- Vamos à Biblioteca municipal e pomos um anúncio na internet: «Oferece
-se cão-guia para cegos. Grátis, apenas com uma condição, fazer-se
acompanhar por uma gata de estimação”.
- Achas que resulta? - perguntou a gata.
- Claro que sim, hoje em dia há muita gente a navegar na «net».
Três dias depois, lá estavam os dois à porta da biblioteca.
Puseram-se um de cada lado à espera de uma oportunidade para entrar.
Primeiro tentou o cão e ouviu logo «xó daqui!»
Teve que ser a Branquinha a entrar discretamente. Os gatos sempre são
mais pequenitos e as pessoas costumam ter mais medo dos cães.
Mas lá dentro a situação não foi muito fácil. Não havia maneira de a Bran-
quinha conseguir saltar para um computador sem dar nas vistas. Havia
muita gente e a gata viu-se obrigada a esconder-se atrás de um cortinado
à espera que as pessoas fossem almoçar. O seu coração não parava de
bater com tanta ansiedade. Mas, por fim, a sala ficou completamente vazia
e a gatinha não hesitou. Saltou para cima de um computador e, rapida-
mente escreveu o anúncio, porque tinha tido um bom professor (o cão).
O pobre do Joca já desesperava à entrada da biblioteca à espera do seu
amor, mas eis que ela saltou por uma janela e correu para o abraçar.
- Já está, missão cumprida! – exclamou ela cansada, mas feliz.
Alguns dias depois, tiveram que repetir a mesma aventura na biblioteca
para verificar se já tinham alguma resposta.
Tiveram muita sorte, pois alguém tinha respondido ao seu anúncio. Só
que a Branquinha teve que decorar a mensagem, palavra por palavra,
para repetir ao Joca, cá fora.
Encontrar a morada do senhor invisual, cujo filho respondera ao anúncio,
não foi difícil…
Quando a Branquinha e o Joca tocaram à campainha da casa, apareceu
um senhor de óculos escuros que usava uma bengala. Este acolheu-os
com delicadeza.
- Entrem, entrem, fiquem à vontade. O meu nome é Manuel e esta é a
minha esposa Olga.
A senhora também era cega, mas tinha um sorriso encantador.
O Joca lambeu-lhes o calçado, e a Branquinha enroscou-se nas pernas
deles a ronronar para mostrar a sua ternura.
Todos ficaram muito contentes e, a partir de então, o cão e a gata passa-
ram a ter casa, alimento e carinho.
Todos os dias, o cão passou a acompanhar na rua o cego e a esposa,
levado por uma trela
especial, o que ini-
cialmente o incomo-
dava, mas depressa
se habituou, pois
queria ser responsá-
vel. A senhora levava
sempre a Branquinha
ao colo, fazendo-lhe
festinhas.
A Branquinha e o Joca
Conto Coletivo do 5º C
EB 2, 3 Dr. José dos Santos Bessa
O Pequeno Grande © Projeto realizado nas disciplinas de
Língua Portuguesa e EVT Colaboração da Biblioteca Escolar
Fevereiro 2012