Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas
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IMAGENS PRELIMINARES DA REALIZAÇÃO VARIÁVEL DE /l/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE DO
BRASIL1 Marilucia Barros de OLIVEIRA2 Abdelhak RAZKY RESUMO: Trata o presente trabalho da realização variável de /l/ em posição prevocálica no Português Brasileiro (PB). Nesta pesquisa é focalizada a palatalização versus não-palatalização de /l/ a partir de dados de capitais de três regiões brasileiras, a saber: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A palatalização das oclusivas alveolares /t d/ já foi estudada em vários espaços do Brasil, embora ainda não se tenha um quadro geral dessa realização no PB. A palatalização da lateral alveolar /l/, diferentemente, raramente foi objeto de estudo no PB. De acordo com Oliveira (2007), talvez isso aconteça em função de sua realização restrita a alguns contextos lingüísticos e a determinadas localidades do país, mais especificamente no Pará. Os dados para esta pesquisa resultaram de coleta de dados implementada pelo Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB). A metodologia da pesquisa obedeceu à orientação da Geo-sociolingüística. Os dados avaliados são oriundos da aplicação do questionário fonético-fonológico. Os resultados da pesquisa serão apresentados sob forma de cartas lingüísticas nas quais se demonstrará a distribuição da palatalização nas capitais das três regiões citadas. Os resultados demonstram significativa diferença em relação à produtividade da realização palatalizada entre o Norte e as duas outras regiões estudadas, especialmente diante de contexto vocálico alto anterior [i j]. A palatalização da lateral alveolar em posição prevocálica se constitui a tendência no espaço da região Norte do país. PALAVRAS-CHAVE: Geografia Lingüística; Dialetologia; Palatalização; Lateral alveolar.
1 VARIAÇÃO DE /l/ NOS ATLAS LINGÜÍSTICOS
Para o estudo da variação de /l/ diante de [i] foram consultados dez atlas
lingüísticos publicados a partir de dados de falares do PB (português brasileiro). São
eles: Atlas Prévio dos Falares Baianos (AFPB, 1963), Esboço de um Atlas Lingüístico
de Minas Gerais (EALMING, 1977), Atlas Lingüístico de Sergipe (ALS, 1987), que
caracterizam os falares baianos, segundo Nascentes (1953), Atlas Lingüístico da Paraíba
(ALPB, 1985), Atlas Lingüístico do Paraná (1994), Atlas Lingüístico-etnográfico da
Região Sul (ALERS, 2002), Atlas Lingüístico Sonoro do Pará (ALISPA, 2003), Atlas
1 Esta pesquisa recebeu financiamento do CNPq e do Programa de apoio ao recém-doutor (PARD/UFPA). 2 Universidade Federal do Pará. Instituto de Letras e Comunicação-Faculdade de Letras. Av. Senador Lemos. Passagem São Luis n. 10C. CEP 66123-650. Belém- Pará-Brasil. [email protected].
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Lingüístico de Sergipe I (ALS II, 2005), Atlas Lingüístico do Amazonas (ALAM, 2004)
e Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul (ALMGS, 2007)3.
No AFPB, só há três registros de palatalização de /l/. No EALMING, no ALS I,
no ALPB, no ALPA e no ALS II não há registro de ocorrência dessa palatalização. No
ALERS I, ALMGS e no ALAM há registro de palatalização de /l/ na palavra família.
Essa ocorrência apresenta índice significativo de freqüência nos três últimos atlas
citados4. No ALAM a palatalização se manifesta por meio da variante palatalizada [lj] e
da variante palatal [], com predominância de ocorrência daquela sobre esta, 90% e
20%, respectivamente. Cabe completar que no ALMGS também foram encontrados
casos de palatalização na palavra cílios.
Notemos que nos espaços cobertos pelos atlas até agora citados só ocorreu
palatalização praticamente diante [j]5. De acordo com Oliveira (2007), esse contexto é
altamente favorecedor da palatalização no PB e em várias línguas do mundo, o que deve
explicar a palatalização diante desse contexto mesmo quando ocorre sua inibição diante
de [i] nos espaços consultados.
Diferentemente dos resultados apresentados até agora, os resultados dos atlas
lingüísticos do Pará, ALiPA, em construção, e ALiSPA (2003), registram alta
produtividade de palatalização de /l/. Nas localidades consultadas, diferentemente do
que se verificou para as demais localidades cobertas pela pesquisa aos Atlas, a não-
3 Para mais detalhes sobre o ALiB e os Atlas lingüísticos já publicados, consultar www.alib.ufba.br. 4 Para detalhes sobre a palatalização de /l/ nos atlas lingüísticos citados, consultar Oliveira (2009), em preparação. 5 Mesmo no Pará, Estado onde a palatalização é muito produtiva, a palatalização sofre uma baixa de ocorrência quando /l/ não se encontra diante de [j]. Isso pode ser constatado em duas cartas lingüísticas produzidas por Oliveira e Razky (2009). Em familia, em que se encontra o contexto altamente favorecedor da palatalização, o fenômeno é categórico. Já em liquidação, palavra em que não se encontra esse contexto, a ocorrência de palatalização é reduzida (cf. ANEXO A e B).
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palatalização é que se constitui exceção. A ocorrência da lateral alveolar [l] inexiste
quando /l/ encontra-se diante de [j] no Pará, de acordo com o ALiSPA (2003).
Vejamos, abaixo, mapa adaptado de Oliveira (2007), quanto à distribuição de /l/
no espaço brasileiro, a partir dos atlas lingüísticos.
Mapa 01: Distribuição geográfica da palatalização de /l/ no Norte, Nordeste, Centro-Oeste Sul e Sudeste do Brasil. Fonte: Adaptado de Oliveira (2007).
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O mapa 01 revela que, no espaço brasileiro, a ocorrência da variante alveolar é
superior a da palatal. Apenas na região Norte a variante palatal sobrepõe-se à alveolar.
No espaço nordestino, há apenas duas ocorrências de palatalização, especificamente nas
formas [no AFPB. Já na região Sul, no
Mato Grosso do Sul e em Manaus há alto índice de palatalização, mas apenas no
vocábulo família.
A consulta aos atlas nos permite afirmar que, excetuando-se o Pará, os demais
falares não apresentam alta produtividade de palatalização de /l/. Nas outras regiões,
quando o fenômeno ocorre, apresenta baixíssima freqüência e geralmente acontece
diante de [j]. Essa rota diferenciada que faz o /l/ no falar paraense solicita estudos a
partir de dados novos, no sentido de verificarmos se dados recolhidos mais
recentemente apontam algum grau de difusão desse fenômeno, pelo menos no Norte,
região em que se localiza o Pará. É isso que pretendemos fazer neste artigo e é por lá
que começaremos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Antes de se procedermos ao mapeamento proposto, cabem algumas observações
sobre os pressupostos e passos que nortearam esta pesquisa.
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O presente estudo tem por base metodológica os procedimentos do Projeto ALiB6
que segue o referencial teórico da geografia lingüística multidimensional ou o que
denominamos de geo-sociolinguística. Para esta análise foram selecionadas seis capitais
da região Norte. São elas: Porto Velho (Rondônia), Rio Branco (Acre), Manaus
(Amazonas), Boa Vista (Roraima), Macapá (Amapá) e Belém (Pará). A capital do
Tocantins, embora integre a região Norte, não foi contemplada pelo projeto ALiB por
razões ligadas à história recente de Palmas que tem influência sobre seus aspectos
demográficos, culturais e referentes à forma de povoamento da área. Foram
consideradas também duas capitais da região Nordeste: Recife (PE) e Salvador (BA);
três da região Centro-Oeste: Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Campo Grande (MS). O
projeto ALiB prevê entrevistas com oito pessoas em cada capital. Entretanto, em
Cuiabá, Recife e Salvador foram computados dados de sete informantes, visto que um
em cada grupo de oito informantes dessas capitais apresentou problemas no áudio das
gravações. Ao todo foram entrevistadas 88 pessoas (48 no Norte, 24 no Centro-Oeste e
16 no Nordeste), estratificadas em quatro variáveis independentes: idade, sexo
escolaridade e localidade, de acordo com o quadro, abaixo.
Quadro 01 – Amostra dos Informantes nas Capitais IDADE SEXO ESCOLARIDADE
MASC.(02)
ENS.FUND.(01) ENS. SUP. (01)
6A rede de pontos do ALiB é composta por 250 localidades distribuídas pelas 5 regiões do país, a saber: região norte - 23 pontos; região nordeste - 71 pontos; região sudeste - 79 pontos; região centro-oeste - 21 pontos e região sul - 41 pontos de inquérito. São 1100 informantes distribuídos eqüitativamente em duas faixas etárias: 18 a 30 anos e 50 a 65 anos, abrangendo os dois sexos. São quatro informantes por cidade, dois de cada faixa etária e de cada sexo, sendo que nas capitais são acrescentados mais quatro informantes de nível universitário envolvendo também as mesmas correlações de sexo e faixa etária. Em relação à escolaridade, todos os informantes devem ser alfabetizados, tendo cursado no máximo até a 4ª série do ensino fundamental, exceto o que já se apresentou acima em relação aos informantes das capitais. Os questionários para a constituição do corpus do ALiB foram elaborados pelo Comitê Nacional. Esses questionários são de três tipos: (1) Fonético–Fonológico (QFF) com 159 perguntas e mais 11 questões de prosódia; (2) Semântico-Lexical (QSL) com 202 perguntas e (3) Morfossintático (QMS), com 49 questões; a estes se somam 04 questões de pragmática, 04 questões para discurso semi-dirigido (relato de experiência pessoal, comentário, descrição e relato não pessoal), 06 perguntas metalingüísticas e um texto para leitura do gênero parábola (Parábola dos Sete Vimes).
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18 - 30 FEM. (02) ENS. FUND.(01) ENS. SUP. (01)
MASC. (02)
ENS.FUND.(01) ENS.SUP. (01)
30 - 65 FEM. (02) ENS. FUND.(01) ENS. SUP. (01)
Nosso objetivo é investigar o comportamento variável do /l/ em posição
prevocálica a partir de entrevistas realizadas por meio dos questionários fonético
fonológico (QFF) e semântico-lexical (QSL) do ALiB. Só o Norte apresenta, no
momento, dados do QSL avaliados nesta investigação.
A variável dependente é constituída da palatal [], da palatalizada [lj] e da
alveolar [l]. A palatal e a palatalizada são consideradas nesse trabalho como um
fenômeno só que chamamos de palatalização de /l/. Essa decisão de juntar a realização
palatal e palatalizada deve-se, de um lado, à dificuldade de se identificar as duas
variantes devido à alta proximidade dos traços envolvidos. Outro estudo está previsto
para descrever e controlar melhor essas duas realizações.
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Apresentaremos, inicialmente, os resultados por regiões. Isso não quer dizer que
os limites administrativos correspondam a isoglossas. Eles serão apresentados
separadamente porque estão em estágios diferentes de descrição e análise. Na região
Norte, já procedemos à descrição e análise dos dados do QFF e do QSL em todas as
capitais previstas no projeto. Daí, permitir uma análise mais detalhada. As duas outras
regiões ainda se encontram em fase de análise dos dados do QFF. Das sete capitais
previstas no Nordeste, avaliaram-se apenas dados de duas, a saber: Recife e Salvador.
No Centro-Oeste foram avaliadas dados das três capitais previstas: Cuiabá, Goiânia e
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Campo Grande. Ao todo, foram avaliados 628 dados; 337 dados do Norte e 291 das
duas outras regiões.
3.1 Imagens do Norte
Os resultados de freqüência obtidos, a partir da análise numérica dos dados,
revelaram que a palatalização é muito produtiva na região Norte. Obteve-se um
percentual de 84% de palatalização [ contra 16% da variante alveolar [l].
Mapa 02: distribuição da freqüência da palatalização de /l/ na região Norte
Conforme se pode verificar no mapa 02, a palatalização (P) de /l/ ocorreu em
todas as capitais da região Norte pesquisadas. Os resultados indicam, também, que ela
não aconteceu apenas no contexto de [j], como se verificou para alguns espaços
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cobertos pela pesquisa aos atlas lingüísticos. Esses resultados já demonstram que o
fenômeno apresenta produtividade diferente na região Norte.
Cabem, aqui, duas observações sobre essa diferença de resultados em relação
aos atlas publicados. É possível que isso esteja ligado à consulta a dados mais recentes.
Mas pode ser, também, que ela só reafirme uma rota especifica que /l/ vem tomando não
só no Pará, mas na região Norte. De acordo com Oliveira (2007), quando não havia
praticamente registro de palatalização de /l/ nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, de
acordo com os dados dos atlas publicados entre as décadas de 50 e de 90, no Pará, de
acordo com Vieira (1983), já se registrava alto índice de palatalização de /l/. Por outro
lado, no ALPA (1994), não se encontrou registros de palatalização de /l/, mas, no
ALERS (2002), encontra-se registro dessa variação, o que pode indicar que o fator
tempo exerceu alguma interferência sobre esses resultados de palatalização. Para
elucidar esses resultados, talvez coubesse um levantamento sobre os registros de
variação lingüística das cinco capitais estudadas, no sentido de se verificar se lá, em
décadas anteriores, já se detectava o fenômeno.
O mapa 02 nos dá informação quanto à freqüência de palatalização em cada
capital. Se, por um lado, detectamos que a palatalização ocorre nas seis capitais
pesquisadas, por outro lado, verificamos que essa ocorrência apresenta diferença nos
diferentes espaços pesquisados. A freqüência de palatalização de /l/, em Belém, revela
que a lateral alveolar [l] é quase inexistente nessa cidade. Esses resultados corroboram
os resultados apresentados pelo ALiSPA (2003) e pelo ALiPA. De acordo com os
resultados desses atlas, a ocorrência da palatalizada é categórica diante de [j] e
significativamente superior à ocorrência [l] quando se encontra diante [i].
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Os resultados obtidos para Macapá são idênticos aos de Belém. Os referentes a
Manaus, 92% para a variante palatalizada e 8% para a alveolar já se distanciam um
pouco, mas a diferença ainda é pequena. Em Boa Vista, este resultado se distancia um
pouco mais dos índices obtidos para Belém e Macapá, capitais onde se detectou mais
ocorrência de palatalização. Temos 88% para a variante palatalizada 12% para a
variante alveolar.
Os resultados encontrados para Rio Branco e Porto velho são bastante diferentes
dos detectados para as demais capitais da região. Em Rio Branco, temos 30% de lateral
alveolar e 70% de palatalizada. Para Porto Velho, temos 34% de alveolar e 66% de
palatalizada. Apesar de nessas cidades a variante palatalizada ter sido superior à
alveolar, podemos dizer que os resultados dessas duas cidades diferem muito das
demais, pois nelas o índice de alveolar é bem superior aos encontrados em Belém,
Macapá, Manaus e Boa Vista.
É possível que essas diferenças e semelhanças de resultados estejam
relacionados à distancia e ao trânsito que há entre essas capitais. Geograficamente, Rio
Branco e Porto Velho estão muito próximas e o trânsito entre elas é mais facilitado do
que com as demais capitais. Há, por outro lado, bastante proximidade entre Belém e
Macapá e muito trânsito entre Belém, Macapá e Manaus. Há pessoas que moram em
Belém e trabalham em Macapá e vice-versa. Acrescente-se a isso a dificuldade de
acesso a Rio Branco e Porto velho que, inclusive, fazem fronteira com outros países.
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0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Porto Velho Rio Branco Boa Vista Manaus Macapá Belém
Gráfico 01: tendência de contribuição das capitais para a palatalização de /l/
O gráfico 01 ajuda a visualizar a contribuição de cada capital para a
palatalização. Mostra que ela vai diminuindo em direção à esquerda tal qual no mapa
02. Apresenta-se como mais produtiva nas capitais ao Norte, diminuindo em direção ao
Sul da região. A partir dessa figura, podemos verificar também que a palatalização,
mesmo diminuindo em direção ao Sul, sempre apresenta freqüência que está bem acima
de 50%. O menor índice detectado foi 66% para Porto Velho. Já nas duas primeiras
capitais, Belém e Macapá, os índices aproximam-se do efeito categórico.
A leitura do mapa apresentado mostra que a palatalização se estende às seis
capitais da região Norte, mas essa distribuição apresenta diferenças. As cidades que
apresentam mais proximidade e trânsito com Belém e que são de mais fácil acesso
revelam mais alto índice de palatalização. Passemos, agora, à apresentação e discussão
dos resultados bastante eliminares das duas outras regiões.
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3.2 Imagens do Nordeste, do Centro-Oeste e do Norte: comparações preliminares
Os resultados obtidos para as regiões Nordeste e Centro-Oeste se distanciam
significativamente dos encontrados para a região Norte. Enquanto no Norte se registrou
84% de palatalização, na região Centro-Oeste foi registrado índice de 46,15. No
Nordeste registrou-se 54,16.
Tabela 02: frequência de palatalização no Norte, Nordeste e Centro-Oeste NORTE
84%
NORDESTE
54,16
CENTRO-OESTE 46,15
BELÉM 95% RECIFE 54%34 CUIABÁ 50% MACAPÁ 95% SALVADOR 54% GOIÂNIA 54% MANAUS 92% CAMPO GRANDE 32,15%
BOA VISTA 88%
RIO BRANCO 70%
PORTO VELHO
66%
Na região Nordeste, o índice de palatalização é inferior aos encontrados na
região Norte. Enquanto, no Norte, a menor freqüência de palatalização foi de 66%, em
Porto Velho, em Recife e Salvador as freqüências são iguais a 54,34% e 54%,
respectivamente. Os resultados são bem aproximados entre os dois estados.
Esses resultados confirmam em parte os dados de Oliveira e Razky (2008). Para
os autores, a palatalização é um variante que marca o falar Nortista ao passo que a não-
palatalização parece caracterizar o falar de localidades do Nordeste do país, de acordo
com pesquisa bibliográfica aos atlas lingüísticos brasileiros.
Esta pesquisa evidencia, por outro lado, que o fator tempo, mas não só ele,
exerceu alguma influência sobre os resultados da palatalização de /l/ nas localidades
pesquisadas pelo ALiB. Os resultados atuais referentes ao Nordeste se distanciam
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significativamente dos encontrados nos atlas publicados no Nordeste entre as décadas
de 50 e 90. De acordo com os atlas publicados nesse período, a palatalização era
improdutiva nesse período. Segundo Oliveira (2007), no Atlas Prévio dos Falares
Baianos só foram encontradas três ocorrências de palatalização, especificamente em
cálice e malina (uma e duas vezes, respectivamente). No Atlas da Paraíba não há
ocorrência dessa variante para /l/ diante de [i]. Os atlas de Sergipe I e II também não
apresentam nenhuma realização dessa variante.
Os resultados encontrados nos demais atlas publicados também apontam baixa
ou nenhuma ocorrência de palatalização de /l/. Mesmo os publicados de 2000 até 2008,
atlas mais recentes, apontam a predominância do uso da variante alveolar [l] no PB,
excetuando-se os representativos do falar paraense. Esse quadro lingüístico só é
relativamente alterado quando /l/ se encontra diante de [j], em palavras como família,
sandália, cílios, etc (cf. OLIVEIRA E RAZKY, 2008).
Entretanto, cabe ressaltar que embora essa diferença de resultados exista, a
ocorrência de palatalização de /l/ ainda fica num nível neutro, pouco acima dos 50% nas
localidades nordestinas, diferentemente do que ocorre no Norte do país, onde se
apresentam até índices bem próximos dos categóricos.
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Mapa 02: freqüência da palatalização de /l/ no espaço brasileiro
Na medida em que se caminha em direção ao centro e ao sul do Brasil, a
palatalização vai diminuindo, conforme se pode acompanhar por meio da linha em
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verde (Rio Branco, Porto Velho, Cuiabá, Campo Grande). No extremo Norte a
palatalização se mantém forte (retângulo em vermelho). No Nordeste (linha amarela), os
índices se apresentam como neutros ou pouco acima deles.
Além do tempo, outro, dentre vários outros, deve ter alterado esses resultados no
Nordeste e Centro-Oeste: a metodologia adotada, mais especificamente as localidades
pesquisadas, todas urbanas; e a escolaridade. Os atlas publicados se atém praticamente
aos espaços rurais ou não capitais. A maioria deles também só leva em consideração a
educação básica: fundamental, na maioria, e ensino médio. Isso deve ter, de alguma
forma, interferido na diferença de resultados referentes à palatalização a partir de dados
mais recentes e estratificação diferenciada.
CONSIDERACÕES FINAIS
Nas capitais localizadas ao Norte do país essa tendência românica, a
palatalização, difunde-se mais rapidamente do que nas capitais do Nordeste e Centro-
Oeste estudadas. Entretanto, há que se dizer que essa difusão não se dá de igual forma
em toda a região Norte, já que os índices encontrados nas cidades localizadas em
fronteira com outros países apresentam índices de palatalização próximos dos
encontrados nas outras duas regiões estudadas. Se, de uma parte, conforme afirmam
Oliveira e Razky (2008), Rio branco e Porto Velho receberem índices mais baixos de
palatalização porque se encontram mais distantes dos maiores centros urbanos do Norte,
por outro lado, há que considerar que esses resultados se aproximam do encontrado em
dois grandes centros urbanos do país: Recife e Salvador. Isso nos levar a cogitar que a
avaliação que essa variante recebe alterna a depender do espaço em que é usada. Os
resultados indicam também que a metodologia adotada, além do fator tempo, exerceu
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significativa influência sobre os resultados. A análise detalhada dos fatores sociais
adotados no projeto ALiB poderão elucidar futuramente esses resultados preliminares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUILERA, Vanderci. Atlas Lingüístico do Paraná. Universidade Federal do Paraná. Londrina, 1994. ARAGÃO, Maria do Socorro & MENEZES, Cleusa P. Bezerra. Atlas Lingüístico da Paraíba: cartas léxicas e fonéticas. Brasília: UFPB/CNPq- Coordenação Editorial, 1985. CARDOSO, Suzana Alice Marcelino. Atlas lingüístico de Sergipe-II. Salvador: ADUFBA, 2005, VOL.I. CARDOSO, Suzana Alice Marcelino. Atlas lingüístico de Sergipe-II. Salvador: ADUFBA, 2005, VOL.I. CRUZ, Maria Luíza de Carvalho. Atlas Lingüístico do Amazonas (ALAM). Faculdade de Letras, UFRJ, Rio de Janeiro, Tese de Doutorado, 2004. FERREIRA, Carlota, FREITAS, Judith, MOTA, Jacyra, ANDRADE, Nadja, CARDOSO, Suzana, ROLLEMMBERG, Vera & ROSSI, Nelson. Atlas Lingüístico de Sergipe. Salvador: Universidade Federal da Bahia/Fundação Estadual de Cultura de Sergipe, 1987. KOCK, Walter, KLASSMANN, Mario Silfredo e ALTENHOFEN, Cléo Vilson. Atlas Lingüístico-etnográfico da Região Sul: Introdução. Porto Alegre/ Florianópolis/ Curitiba: Ed. UFRG/ Ed. UFSC/ Ed. UFPR, V. I, 2002. KOCK, Walter, KLASSMANN, Mario Silfredo e ALTENHOFEN, Cléo Vilson. Atlas Lingüístico-etnográfico da Região Sul: cartas fonéticas e morfossintáticas. Porto Alegre/ Florianópolis/ Curitiba: Ed. UFRG/ Ed. UFSC/ Ed. UFPR, V. II, 2002. NASCENTES, Antenor. Bases para a elaboração do atlas lingüístico do Brasil. Rio de Janeiro: MEC/Casa de Rui Barbosa, v. 2, 1953. OLIVEIRA, Dercir Pedro de. Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul. Campo Grande Mato Grosso do Sul – Editora UFMS, 2007. OLIVEIRA, Marilucia Barros de. Palatalização da lateral alveolar /l/ em posição prevocálica em Itaituba-PA. Maceió. 2007. 230 f. Tese (doutorado). Universidade Federal de Alagoas.
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas
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OOLLIIVVEEIIRRAA,, MMaarriilluucciiaa;; RRAAZZKKYY,, AAbbddeellhhaakk;; SSIILLVVAA,, WWiillkkeerr;; CCOOSSTTAA,, CCéélliiaannee.. IImmaaggeennss pprreelliimmiinnaarreess ddaa rreeaalliizzaaççããoo vvaarriiáávveell ddee //ll// pprreevvooccáálliiccoo nnoo EEssttaaddoo ddoo PPaarráá.. SSiiggnnuumm -- EEssttuuddooss ddaa LLiinngguuaaggeemm,, vv.. 1122,, nn.. 11,, pp.. 229977--332222,, jjuull.. 22000099.. RAZKY, Abdelhak et al. Atlas Lingüístico Sonoro do Pará. Universidade Federal do Pará. Belém, 2003. RIBEIRO, José et al. Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. I, 1977. ROSSI, Nelson. Atlas prévio dos falares baianos. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1963. VIEIRA, Maria de Nazaré. Aspectos do falar paraense. Belém: Universidade Federal do Pará: Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, 1983.
ANEXO A
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas
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Figura 03: Distribuição da palatalização em família Fonte: Oliveira e Razky (2009)
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas
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ANEXO B
Figura 06: Distribuição da palatalização em liquidação Fonte: Oliveira e Razky (2009)