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IMAGENS PRELIMINARES DA REALIZAÇÃO VARIÁVEL DE /l/ EM POSIÇÃO PREVOCÁLICA NO NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE DO
BRASIL1 Marilucia Barros de OLIVEIRA2 Abdelhak RAZKY RESUMO: Trata o presente trabalho da realização variável de /l/ em posição prevocálica no Português Brasileiro (PB). Nesta pesquisa é focalizada a palatalização versus não-palatalização de /l/ a partir de dados de capitais de três regiões brasileiras, a saber: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A palatalização das oclusivas alveolares /t d/ já foi estudada em vários espaços do Brasil, embora ainda não se tenha um quadro geral dessa realização no PB. A palatalização da lateral alveolar /l/, diferentemente, raramente foi objeto de estudo no PB. De acordo com Oliveira (2007), talvez isso aconteça em função de sua realização restrita a alguns contextos lingüísticos e a determinadas localidades do país, mais especificamente no Pará. Os dados para esta pesquisa resultaram de coleta de dados implementada pelo Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB). A metodologia da pesquisa obedeceu à orientação da Geo-sociolingüística. Os dados avaliados são oriundos da aplicação do questionário fonético-fonológico. Os resultados da pesquisa serão apresentados sob forma de cartas lingüísticas nas quais se demonstrará a distribuição da palatalização nas capitais das três regiões citadas. Os resultados demonstram significativa diferença em relação à produtividade da realização palatalizada entre o Norte e as duas outras regiões estudadas, especialmente diante de contexto vocálico alto anterior [i j]. A palatalização da lateral alveolar em posição prevocálica se constitui a tendência no espaço da região Norte do país. PALAVRAS-CHAVE: Geografia Lingüística; Dialetologia; Palatalização; Lateral alveolar.
1 VARIAÇÃO DE /l/ NOS ATLAS LINGÜÍSTICOS
Para o estudo da variação de /l/ diante de [i] foram consultados dez atlas
lingüísticos publicados a partir de dados de falares do PB (português brasileiro). São
eles: Atlas Prévio dos Falares Baianos (AFPB, 1963), Esboço de um Atlas Lingüístico
de Minas Gerais (EALMING, 1977), Atlas Lingüístico de Sergipe (ALS, 1987), que
caracterizam os falares baianos, segundo Nascentes (1953), Atlas Lingüístico da Paraíba
(ALPB, 1985), Atlas Lingüístico do Paraná (1994), Atlas Lingüístico-etnográfico da
Região Sul (ALERS, 2002), Atlas Lingüístico Sonoro do Pará (ALISPA, 2003), Atlas
1 Esta pesquisa recebeu financiamento do CNPq e do Programa de apoio ao recém-doutor (PARD/UFPA). 2 Universidade Federal do Pará. Instituto de Letras e Comunicação-Faculdade de Letras. Av. Senador Lemos. Passagem São Luis n. 10C. CEP 66123-650. Belém- Pará-Brasil. [email protected].
Lingüístico de Sergipe I (ALS II, 2005), Atlas Lingüístico do Amazonas (ALAM, 2004)
e Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul (ALMGS, 2007)3.
No AFPB, só há três registros de palatalização de /l/. No EALMING, no ALS I,
no ALPB, no ALPA e no ALS II não há registro de ocorrência dessa palatalização. No
ALERS I, ALMGS e no ALAM há registro de palatalização de /l/ na palavra família.
Essa ocorrência apresenta índice significativo de freqüência nos três últimos atlas
citados4. No ALAM a palatalização se manifesta por meio da variante palatalizada [lj] e
da variante palatal [], com predominância de ocorrência daquela sobre esta, 90% e
20%, respectivamente. Cabe completar que no ALMGS também foram encontrados
casos de palatalização na palavra cílios.
Notemos que nos espaços cobertos pelos atlas até agora citados só ocorreu
palatalização praticamente diante [j]5. De acordo com Oliveira (2007), esse contexto é
altamente favorecedor da palatalização no PB e em várias línguas do mundo, o que deve
explicar a palatalização diante desse contexto mesmo quando ocorre sua inibição diante
de [i] nos espaços consultados.
Diferentemente dos resultados apresentados até agora, os resultados dos atlas
lingüísticos do Pará, ALiPA, em construção, e ALiSPA (2003), registram alta
produtividade de palatalização de /l/. Nas localidades consultadas, diferentemente do
que se verificou para as demais localidades cobertas pela pesquisa aos Atlas, a não-
3 Para mais detalhes sobre o ALiB e os Atlas lingüísticos já publicados, consultar www.alib.ufba.br. 4 Para detalhes sobre a palatalização de /l/ nos atlas lingüísticos citados, consultar Oliveira (2009), em preparação. 5 Mesmo no Pará, Estado onde a palatalização é muito produtiva, a palatalização sofre uma baixa de ocorrência quando /l/ não se encontra diante de [j]. Isso pode ser constatado em duas cartas lingüísticas produzidas por Oliveira e Razky (2009). Em familia, em que se encontra o contexto altamente favorecedor da palatalização, o fenômeno é categórico. Já em liquidação, palavra em que não se encontra esse contexto, a ocorrência de palatalização é reduzida (cf. ANEXO A e B).
O presente estudo tem por base metodológica os procedimentos do Projeto ALiB6
que segue o referencial teórico da geografia lingüística multidimensional ou o que
denominamos de geo-sociolinguística. Para esta análise foram selecionadas seis capitais
da região Norte. São elas: Porto Velho (Rondônia), Rio Branco (Acre), Manaus
(Amazonas), Boa Vista (Roraima), Macapá (Amapá) e Belém (Pará). A capital do
Tocantins, embora integre a região Norte, não foi contemplada pelo projeto ALiB por
razões ligadas à história recente de Palmas que tem influência sobre seus aspectos
demográficos, culturais e referentes à forma de povoamento da área. Foram
consideradas também duas capitais da região Nordeste: Recife (PE) e Salvador (BA);
três da região Centro-Oeste: Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Campo Grande (MS). O
projeto ALiB prevê entrevistas com oito pessoas em cada capital. Entretanto, em
Cuiabá, Recife e Salvador foram computados dados de sete informantes, visto que um
em cada grupo de oito informantes dessas capitais apresentou problemas no áudio das
gravações. Ao todo foram entrevistadas 88 pessoas (48 no Norte, 24 no Centro-Oeste e
16 no Nordeste), estratificadas em quatro variáveis independentes: idade, sexo
escolaridade e localidade, de acordo com o quadro, abaixo.
Quadro 01 – Amostra dos Informantes nas Capitais IDADE SEXO ESCOLARIDADE
MASC.(02)
ENS.FUND.(01) ENS. SUP. (01)
6A rede de pontos do ALiB é composta por 250 localidades distribuídas pelas 5 regiões do país, a saber: região norte - 23 pontos; região nordeste - 71 pontos; região sudeste - 79 pontos; região centro-oeste - 21 pontos e região sul - 41 pontos de inquérito. São 1100 informantes distribuídos eqüitativamente em duas faixas etárias: 18 a 30 anos e 50 a 65 anos, abrangendo os dois sexos. São quatro informantes por cidade, dois de cada faixa etária e de cada sexo, sendo que nas capitais são acrescentados mais quatro informantes de nível universitário envolvendo também as mesmas correlações de sexo e faixa etária. Em relação à escolaridade, todos os informantes devem ser alfabetizados, tendo cursado no máximo até a 4ª série do ensino fundamental, exceto o que já se apresentou acima em relação aos informantes das capitais. Os questionários para a constituição do corpus do ALiB foram elaborados pelo Comitê Nacional. Esses questionários são de três tipos: (1) Fonético–Fonológico (QFF) com 159 perguntas e mais 11 questões de prosódia; (2) Semântico-Lexical (QSL) com 202 perguntas e (3) Morfossintático (QMS), com 49 questões; a estes se somam 04 questões de pragmática, 04 questões para discurso semi-dirigido (relato de experiência pessoal, comentário, descrição e relato não pessoal), 06 perguntas metalingüísticas e um texto para leitura do gênero parábola (Parábola dos Sete Vimes).
significativa influência sobre os resultados. A análise detalhada dos fatores sociais
adotados no projeto ALiB poderão elucidar futuramente esses resultados preliminares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OOLLIIVVEEIIRRAA,, MMaarriilluucciiaa;; RRAAZZKKYY,, AAbbddeellhhaakk;; SSIILLVVAA,, WWiillkkeerr;; CCOOSSTTAA,, CCéélliiaannee.. IImmaaggeennss pprreelliimmiinnaarreess ddaa rreeaalliizzaaççããoo vvaarriiáávveell ddee //ll// pprreevvooccáálliiccoo nnoo EEssttaaddoo ddoo PPaarráá.. SSiiggnnuumm -- EEssttuuddooss ddaa LLiinngguuaaggeemm,, vv.. 1122,, nn.. 11,, pp.. 229977--332222,, jjuull.. 22000099.. RAZKY, Abdelhak et al. Atlas Lingüístico Sonoro do Pará. Universidade Federal do Pará. Belém, 2003. RIBEIRO, José et al. Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. I, 1977. ROSSI, Nelson. Atlas prévio dos falares baianos. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1963. VIEIRA, Maria de Nazaré. Aspectos do falar paraense. Belém: Universidade Federal do Pará: Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, 1983.