AULA 1 (PRIMEIRA PARTE) TEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA 1 A DOUTRINA DE DEUS “Há algo muito proveitoso para a mente na contemplação do divino. É um assunto tão vasto que todos os nossos pensamentos se perdem em sua imensidão; é tão profundo que o nosso orgulho se afoga em sua infinidade. Podemos compreender e manejar outros assuntos, sentir algum tipo de satisfação com isto, e seguir nosso caminho pensando “vejam como sou sábio”. Mas, quando nos deparamos com essa ciência superior, descobrimos que nosso fio de prumo não pode ressoar a profundidade dela e que nossos olhos de águia não podem ver sua grandiosidade, e voltamos com a solene exclamação: “sou de ontem e nada sei”. Contudo, enquanto humilha a mente, pensar em Deus também a expande. Nada ampliará tanto o intelecto, nada magnificará tanto a alma do homem, quanto uma devotada, honesta e contínua investigação do grande assunto: Deus”. CHARLES SPURGEON 1 Por que devemos pensar corretamente a respeito de Deus? 2 “A adoração é pura ou vil conforme os pensamentos elevados ou inferiores que o adorador alimenta em relação a Deus. O que melhor revela a Igreja é o seu conceito de Deus, da mesma maneira que a sua mensagem mais significativa está naquilo que ela diz ou deixa de dizer a respeito dEle. Se soubéssemos exatamente o que nossos líderes religiosos mais influentes pensam hoje a respeito de Deus, talvez pudéssemos saber de antemão onde estaria a Igreja amanhã.” “Creio que o atual conceito cristão sobre Deus está tão decadente que se encontra profundamente abaixo da dignidade do Deus Altíssimo, constituindo para os crentes professos uma verdadeira calamidade moral. Todos os problemas do céu e da terra, mesmo que nos fossem apresentados juntos e de uma só vez, nada seriam em comparação ao problema esmagador de Deus: que Ele existe, como Ele é, e o que nós, seres morais, devemos fazer em relação a Ele.” “Os conceitos deturpados de Deus terminam por destruir o evangelho nos corações de todos aqueles que possuem esses conceitos.” “Acautelemo-nos para não aceitarmos no nosso orgulho a ideia de que a idolatria consiste apenas no ajoelhar-se perante objetos visíveis de adoração; e que os povos civilizados estão, portanto, livres disso. A essência da idolatria está nas ideias indignas que temos a respeito de Deus. Começa na mente e poderá ocorrer mesmo quando não seja praticado nenhum ato manifesto de adoração a uma imagem”. 1 Spurgeon, 1975, p.1. 2 Os trechos foram extraídos do livro “Mais perto de Deus”, de A.W. Tozer, Arte Editorial, pgs.7-11.
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o Ap 1:17 – “E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua
destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último” (exatamente as palavras
usadas por Jeová em Is 44:6).
b) Jesus possui os atributos de Deus
A título de exemplo: imutabilidade (Hb 13:8) e eternidade (Jo 8:58; Ap 1:17).
c) Jesus perdoa os pecados (Mt 9)
Como bem destaca Donald A. Carson “Se você faz alguma coisa contra mim e aí vem uma pessoa e diz: “Eu lhe perdoo”, que ousadia é essa? A única pessoa capaz de pronunciar genuinamente essas palavras é Jesus, porque o pecado, mesmo se cometido contra outras pessoas, é, antes de tudo e principalmente, um desafio a Deus e às suas leis. Os judeus imediatamente viram nisso uma blasfêmia”.
d) O Messias é Deus
O Messias é apresentado em Is 9:6 como “Deus Forte”. Ao se identificar como Messias Jesus estava reivindicando ser Deus.
e) Jesus aceitou adoração
O AT proíbe adorar qualquer ser que não Deus (Ex 20:1-5). Mas, em numerosas ocasiões Jesus aceitou adoração, revelando que Ele reivindicou ser Deus (por exemplo, Mt 8:2 e Jo 9:38).
f) O testemunho dos Apóstolos
O Apóstolo João afirmou que Jesus - o Verbo – é Deus (Jo 1:1). O mesmo apóstolo, em 1 Jo 5:20, escreveu que Jesus é o verdadeiro Deus. Tomé se dirigiu a Jesus com a seguinte expressão: “Senhor meu e Deus meu” (Jo 20:28), não sendo corrigido ou repreendido pelo Mestre. No mesmo sentido, o Apóstolo Paulo declara ser Jesus “o grande Deus e Salvador” (Tt 2:13).
O escritor aos Hebreus traz ainda uma declaração do próprio Deus Pai se referindo a Jesus como Deus (ver Hb 1:5-8).
g) O uso de parábolas
Na tese de doutorado de Cambridge sobre este tópico, Philip B. Payne observa que “das cinquenta e duas parábolas de narrativas de Jesus, vinte o descrevem na imagem que no Antigo Testamento se refere tipicamente a Deus. A frequência com que isto ocorre indica que Jesus se descrevia regularmente em imagens que eram particularmente apropriadas para descrever Deus”.6
Alguns questionam: “Por que a Bíblia chama Jesus de ‘Filho de Deus’, mas não O chama de ‘Deus Filho’, como querem os cristãos?”. Basta ler Jo 1:18, texto em que Ele é chamado de “Deus Unigênito” (ou seja, DEUS FILHO ÚNICO).
Concluindo o assunto, são perfeitas as palavras de C.S. Lewis:
“Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre moral, mas não aceito sua afirmação de ser Deus’. Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido – ou então o diabo em pessoa. Faça sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prostrar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.”7
4. O Espírito Santo é Deus
Obs. Apresentaremos inúmeros textos provando a divindade do Espírito Santo, porém, um
aprofundamento será feito em aula específica (Aula 11 - Pneumatologia).
a) O Espírito Santo é chamado de Deus
o At 5:3-4 – “Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para
que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a,
não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio
em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”
Note que mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus.
b) O Espírito Santo possui os atributos de Deus
Por exemplo: eternidade (Hb 9:14), onipresença (Sl 139:7) e onisciência (1Co 2:11).
5. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são pessoas
Cada um dos três da Trindade é citado como uma pessoa (Eu, Quem). Cada um tem todos os
atributos ou faculdades básicas da personalidade: mente, vontade e sentimento.
a) O Pai é uma pessoa
Ele possui intelecto - Mt 6:32 – “... Vosso Pai celestial bem sabe...”, faculdade emocional - Gn
6:6 – “... pesou-lhe o coração”, e poder de vontade -Mt 6:10 – “Seja feita a tua vontade...”.
“Deus é um ser que existe eternamente como três pessoas. Deus é tanto verdadeiramente três (pessoas)
quanto um (ser divino)”.11
Embora não seja uma doutrina de fácil compreensão, até porque estamos falando de Deus, o Eterno, é assim que Ele disse Ser:
- Há um e somente um Deus - Há três Pessoas distintas que são Deus: Pai, Filho e Espírito Santo - Ele é três pessoas (trindade de pessoas), mas Ele tem só uma essência (unidade de natureza)
Não é contraditório dizer que Deus é “um” e ao mesmo tempo “três”?
Não. Deus é “três” e “um” em sentidos diferentes. Duas proposições são contraditórias quando elas afirmam e negam algo:
1 - Da mesma coisa; 2 - Ao mesmo tempo; 3 - No mesmo sentido.
Todavia, em relação à Trindade...
1 – Deus é um em relação à sua essência; 2 – Deus é mais que um em relação às suas pessoas.
Portanto, a Trindade não é contraditória, pois unidade e trindade são sentidos ou relações diferentes.
“Não é um mais um mais um igual a três. É um vezes um vezes um igual a um”.12
O que significa dizer “a mesma essência”?
Ambos têm a mesma natureza. Assim, as três pessoas compartilham todos os atributos divinos essenciais.
A doutrina da Trindade no Antigo Testamento
Quando examinamos as Escrituras em sua totalidade, percebemos que a evidência da doutrina da Trindade
no Novo Testamente é muito mais clara do que no Antigo Testamento. Este entendimento mais claro do
Novo Testamento é devido ao caráter progressivo da revelação redentora de Deus. Sobre o assunto, afirma
Billy Graham que “A doutrina da Trindade está mais bem desenvolvida no Novo do que no Antigo
11
Roger Olson, História das Controvérsias na Teologia Cristã, p. 186-187. 12
Acrescentado o que já dissemos quando estabelecemos as verdades da doutrina da Trindade, as Escrituras nitidamente mostram a diversidade entre as pessoas da Trindade. Alguns poucos exemplos, dentre milhares:
A cena do batismo em que o Pai fala para o Filho e o Espírito desce sobre o Filho (Mt 3); Jesus se referiu ao Espírito Santo como “outro Ajudador” (Jo 14:16); Em Jo 17 Jesus orou ao Pai e falou da glória que Eles compartilharam antes da criação. São
necessárias pelo menos duas pessoas para compartilhar algo. Em Jo 5:31 o Pai é apresentado como alguém que testifica de Cristo: “Há outro que testifica
de mim”. A palavra “hetero” é usada aqui para esclarecer que é alguém diferente da pessoa que fala.
Na fórmula batismal (Mt 28:19) todos os três ficam sob um nome singular: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”;
A bênção apostólica em 2 Co 13:13 (ou 13:14), em que todos os nomes estão juntos no mesmo contexto, nitidamente diferenciados;
Enfim, há tantos textos diferenciando as pessoas da Trindade no mesmo contexto fático que, sem muitas dificuldades, o Modalismo foi considerado pela Igreja como ensinamento herético.
Para não restar qualquer sombra de dúvidas, apresentaremos os textos preferidos do Modalismo:
o Jo 10:30 – “Eu e o Pai somos um”;
Curiosamente, ao citar esse texto, os defensores do Modalismo não citam o versículo 29 que claramente distingue a Pessoa do Pai da pessoa do Filho: “Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”.
Ademais, esse texto nada mais faz do que corroborar a doutrina ortodoxa da Trindade. “Somos” (pluralidade) e “um” (unidade).
o Jo 14:9 – “Quem vê a mim vê o Pai”;
O mesmo erro é cometido. Texto tirado do contexto. Basta uma leitura dos versículos anteriores e posteriores ao versículo “9” que a distinção do Pai e do Filho fica patente.
Aliás, ler o evangelho de João é suficiente para afastar as premissas do Modalismo. Basta relembrar Jo 5:31 em que o Pai é apresentado como alguém que testifica de Cristo: “Há outro que testifica de mim”.
Para ambos os textos vale a boa e velha regra do “LEIA O CONTEXTO”.
c) Adocianismo
É a concepção de que Jesus viveu como homem comum até o seu batismo, quando Deus o
“adotou” como Filho, conferindo-lhe poderes sobrenaturais. Mesmo depois da adoção de Jesus
como Filho, eles não o julgavam detentor de uma natureza divina, mas apenas um homem sublime