-
Redes, Ciberntica e Neuropoder- breve estudo do contexto
ciberntico actual
Rui Matoso
Resumo Na esteira de Norbert Wiener e de Marshall Mcluhan,
podemosentender as redes telemticas como ampliao do crebro e
dosistema nervoso central, dando assim origem conexo entre arede
neuronal e o ambiente ciberntico em que vivemos. Nestecontexto
operam duas formas de poder: o noopower (podercognitivo) e o
neuropoder (poder neuroplstico). Ambos resultamdas interferncias
psicotecnolgicas e dos mecanismos aditivosde feedback na estrutura
da rede neuronal e nas formas deproduo da conscincia e da
subjectividade.
Palavras-chave: Ciberntica Neuropoder Redes Feedback
Abril 2015
Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias
Doutoramento em Cincias da Comunicao
Rui Matoso 2015 | [email protected] |
http://grupolusofona.academia.edu/ruimatoso
RuiMquina de escreverDRAFT in progress
ESBOO em desenvolvimento
RuiMquina de escrever
RuiMquina de escrever
RuiMquina de escrever
RuiMquina de escrever
RuiMquina de escrever
-
Networks, Cybernetics and Neuropower
Absctract:___________________________________________
In the wake of Norbert Wiener and Marshall McLuhan , we
canunderstand the telematic networks , such as the expansion of
thebrain and central nervous system, thus giving rise to
theconnection between the neural network and cyber environment
inwhich we live. In this context operate two forms of power :
thenoopower (cognitive power) and neuropoder (neuroplastic
power).Both result from psicotechnologies and feedback mechanisms
inthe neural network structure and forms of production of
awarenessand interference on subjectivity.
Key-words: __________________________________________Cybernetics
- Neuropower- Networks - Feedback
-
NDICE1 - INTRODUO 42 - AMBIENTE E EXPERINCIA 2.1. O
DESENVOLVIMENTO DA NOO DE MEIO 52.2. PRAGMATISMO 6
2.3. CIBERNTICA E CONTROLO 82.4. ORGANOLOGIA UMA PERSPECTIVA
CRTICA DA CIBERNTICA 12
3. VIDA E POLTICA EM REDE3.1. DO CREBRO AOS SISTEMAS DINMICOS
COMPLEXOS A EXPANSO PS-CIBERNTICA DA IDEIA DE REDE E A SUA CRTICA
163.2. CONECTADOS, MAS A QUE PREO E SOB QUE CONDIES ? 213.2.1.
LGICA DA ADICO : FEEDBACK, RECOMPENSA E MULTITASKING 223.3. BIG
DATA, VIGILNCIA E AFFECTIVE COMPUTING 243.4. NOOPOWER (PODER
COGNITIVO) E NEUROPODER 28
-
1. INTRODUO
Este ensaio pretende analisar e problematizar o contexto
ciberntico actual, tendo em linha
de conta que as tecnologias de rede, designadamente a Internet e
as redes sociais, definem em
grande medida a nossa cultura tecnolgica, na qual as
psicotecnologias operam como extenses da
conscincia e da rede neuronal.
Deste modo, julgamos til tomar como ponto de partida o
desenvolvimento das noes de
ambiente e experincia, com maior nfase nas teorias da
Ciberntica, uma vez que a partir das
investigaes de Norbert Wiener que as noes de ambiente, interao e
experincia viro a ser
reequacionadas tendo em considerao novos desenvolvimentos
tericos e empricos. A regulao
e controlo dos fluxos de informao e dos mecanismos de feedback
positivo aplicados pela
Ciberntica investigao dos mecanismos de regulao homeosttica nos
seres humanos um dos
eixos principais da cibernetizao do humano e dos seus
ambientes.
Posteriormente, veremos como a expanso do pensamento ciberntico
de Wiener a diversos
modelos organizacionais formam a nossa contemporaneidade, e
deram origem a uma viso
organizacional subjacente aos modelos dos sistemas dinmicos, os
quais tomam como ponto de
partida o enunciado ciberntico da automatizao, auto-regulao e
controle (homeostase e
feedback). Neste contexto, teremos ainda de salientar as
investigaes do neurocientista Daniel
Levitin sobre o multitasking informtico e a existncia de centros
de recompensa (reforo positivo)
no crebro, que sendo estimulados atravs de impulsos elctricos
produzem neurotransmissores-
dopamina, criando assim hbitos aditivos.
Se convocarmos para esta anlise dos mecanismos de recompensa
neuronal as investigaes
cibernticas de Norbert Wiener, podemos deduzir que as designadas
redes sociais, funcionam como
indutores dos mecanismos de recompensa e de feedback, por
exemplo atravs da inveno do
boto like e dos comentrios associados.
Por fim, percorremos alguns aspectos do panorama ciberntico e
das tecnologias de rede
actuais, visando problemticas em aberto como o big data, a
computao afectiva, a militarizao
do ciberespao (vigilncia), mas que do corpo a uma governao
algortmica e a novas formas
(relaes) de poder: o noopower (poder cognitivo) e o neuropoder
(poder neuroplstico).
-
2. AMBIENTE E EXPERINCIA
Today, the technosphere, or the mediascape, is the only nature
we know.
Steven Shaviro
2.1. O DESENVOLVIMENTO DA NOO DE MEIO
A ideia de que o ser humano vive e interage em ambientes que o
condicionam contm
perspectivas distintas e complementares. No contexto da
sociologia da cultura usual afirmar-se
que o seres humanos vivem imersos como peixes num aqurio de guas
semiticas, tomando como
naturais os fluxos e as foras culturais que atravessam o
quotidiano. No quadro da modernidade, o
diagnstico avanado por Georg Simmel em As Metrpoles e a Vida
Mental1, elucidativo do
quanto o meio urbano contribuiu para a intensificao da estimulao
nervosa () exigindo uma
quantidade diferente de conscincia que aquela que lhe exigida
pela vida rural (Simmel, 2004:
76). No ter sido por acaso que a noo de meio, derivada do latim
medium, se imps como
factor estruturante nos estudos das cincias da comunicao.
Historicamente considerado, o termo foi importado da mecnica
para a biologia, na segunda
metade do sculo XVIII, surgindo na Enciclopdia, de dAlembert e
Diderot. Os mecanicistas
franceses designaram por meio o que Newton e antes dele,
Christian Huygens - entendia por
ter, o fluido (veculo da ao) que permeava os corpos e permitia a
interao distncia (Lei da
Atrao Universal). Na sua ptica, Newton considera o ter como
estando em contiguidade no ar,
no olho, nos nervos e nos msculos. Desse modo, seria pela aco de
um meio que se garantia a
ligao de dependncia entre a fonte luminosa percepcionada e os
movimentos orgnicos atravs
dos quais o homem reage a essa sensao.
Auguste Comte, ao propor uma teoria biolgica geral do meio, no
seu Cours de Philosophie
Positive, de 1838, desenvolve aquela noo como sendo o conjunto
total das circunstncias
exteriores necessrias existncia de cada organismo (Canguilhem,
2011: 143) , salientando a
relao de reciprocidade entre o meio e o organismo, ainda de
acordo com o princpio newtoniano
da aco e da reaco.
A partir de 1859, com a publicao de Origem das Espcies, Darwin
prope mais variveis
privilegiando a relao entre o vivente e o meio, concebida como
conjunto de foras fsicas, a
concorrncia vital e a seleo natural. Devido s suas viagens
exploratrias, Darwin est mais
1 A publicao original Die Grostdte und das Geistesleben de
1903.
-
prximo dos gegrafos, reconhecendo a importncia da diversidade
biogeogrfica do meio e a sua
influncia na constituio das circunstncias concretas que suportam
a vida.
A extenso da noo de meio escala planetria d-se por via do
naturalista Alexander von
Humboldt, na sua obra Kosmos (1845) apresentada uma sntese dos
conhecimentos tendo por
objecto a vida sobre a Terra e as relaes da vida com o meio
fsico envolvente. Esta mundiviso da
totalidade denota a abertura de um pensamento geofilosfico e da
relao entre a humanidade e o
planeta, abrindo assim caminho histria universal e
geopoltica.
Contudo, ser John B. Watson, que pela sua investigao no campo da
psicologia
comportamental estar na origem dos postulados da psicologia
behaviorista e, deste ponto de vista,
o meio define-se como um apriori investido de todos os poderes
na relao com os indivduos que o
habitam, assim, a situao do vivente equivale a uma condio
imposta, ou a um condicionamento
pr-determinado.
A articulao entre as formulaes oriundas do darwinismo,
behaviorismo e mecanicismo,
continuam ainda hoje operacionais na investigao das redes
telemticas e da interao homem-
mquina, sendo o conjunto de prticas experimentais e teraputicas
designado como
neurofeedback aquele que actualmente se evidencia como efeito de
um determinismo tecnolgico
behaviorista, designadamente no que respeita aos fenmenos de
condicionamento
desencadeados pela activao dos centros neuronais de recompensa e
pelo reforo do feedback2;
ou nas experincias de manipulao das emoes contgio emocional -
dos utilizadores da rede
social Facebook3.
2.2. PRAGMATISMO
A interao organismo-meio vir posteriormente a ser revertida nos
estudos de psicologia
animal de Von Uexkll4, nos quais dito que estudar um organismo
nas condies
experimentalmente construdas impor-lhe um meio, contudo, aquilo
que prprio do vivente
este construir o seu prprio meio (Canguilhem, 2011: 154). O
organismo assim considerado como
um ser ao qual nem tudo pode ser imposto, essencialmente porque
a sua existncia enquanto
organismo consiste em se propor ele mesmo s coisas e ao ambiente
envolvente.
A passagem de uma anlise centrada no condicionamento pelo meio a
uma outra perspetiva
2 Tal como refere Dwight E. Fultz, behaviorists are
well-positioned to develop a neuroscience-based source code inwhich
neural activity is described in behavioral terms, providing a basis
for behavioral conceptualization andeducation of neurofeedback
providers and their clients. (Fultz, 2009: 160)
3 Cf. o estudo Experimental evidence of massive-scale emotional
contagion through social networks (Kramer e outros, 2014).
4 Uexkll, J. Von (1909). Umwelt und Innenwelt der Tiere.
Berlin.
-
que valoriza o agenciamento do vivente na construo da experincia
de imerso ser promovida
por John Dewey no mbito do desenvolvimento dos estudos da
interao social e da comunicao
interpessoal.
Ainda do ponto de vista de uma afeco pr-simblica na interaco com
o meio-ambiente,
Dewey define meio da seguinte forma: um meio constitudo pelas
interaes existentes entre as
coisas e uma criatura viva. Ele , em primeiro lugar o teatro das
aes realizadas e das
consequncias suportadas no decurso da interao; no seno em
segundo lugar que partes e
aspectos do meio se tornam objetos de conhecimento. Os elementos
que o constituem so objetos
de utilizao, de satisfao e de sofrimento, no objetos de
conhecimento5. No se trata portanto
de uma adaptao (darwinista) ao meio, mas de uma formulao da
experincia como resultado da
interao entre os seres vivos e a sua envolvente. A experincia,
no sentido formulado por Dewey,
portanto resultado de uma funo biolgica de interao entre o
organismo e o seu meio,
implicando adaptao ou ajustamento mas tambm transformao do meio
natural, social e
cultural.
Posteriormente Dewey utilizar o termo transao de modo a
salientar que a experincia
modulada na transao com um contexto que pode ser designado de
situao e combina atividade
e receptividade, fazer e afeo. Na experincia h uma associao
entre interior e exterior, sujeito e
objeto, agir e padecer () Na transao, os constituintes das
entidades interatuantes so eles
prprios susceptveis de sofrerem alterao (Babo, 2013: 227-228).
Conclui-se portanto que nesta
interao (transao) o equilbrio surge no de forma mecnica mas
devido tenso inerente a essa
dinmica, na qual o ser vivo perde e restabelece ciclicamente o
equilbrio com a envolvente (Dewey,
1934: 19-22).
Transposto para um contexto de esfera pblica e de comunicao
mediada, a noo de
experincia humana desenrola-se num meio sociocultural, repleto
de instituies, padres culturais
e num quadro de interao suportado em medias electrnicos ubquos.
neste medium que o
individuo constitui o seu processo de individuao psicolgica e
colectiva, atravs das mltiplas
dimenses da experincia (simblica, afectiva, biolgica, etc.).
A experincia o resultado, o sinal, e a recompensa de que a
interao do organismo e
ambiente uma transformao de interao em participao e comunicao,
pois, o fruto da
comunicao deve ser a participao. Este resultado equivale assim
ao significado de cultura, ou
seja, o produto no dos esforos dos indivduos perante um vazio,
mas da interao prolongada e
acumulativa com o meio ambiente (idem: 33).
5 Traduo de Isabel Babo-Lana (John Dewey, Logique, p.220-221,
apud Bidet, Qur et Truc (2011) , In John Dewey, La formacion des
valeurs, Paris:La Dcouverte, p.42.)
-
A linguagem e a mente como mediuns culturais- emergem assim como
amplificao das
energias empregues pelo humano na interao com o meio e os
indivduos e as coisas nele
presentes. A experincia, ao mesmo tempo biolgica e simblica,
resulta de uma dinmica de
trocas de energia e tenses que configuram um padro de associaes,
de entrelaamentos entre
indivduos, objectos, eventos e mundo, isto , de uma assemblage
of things da qual faz parte a
assemblage of organic human beings (Dewey,1929 :175).
2.3. CIBERNTICA E CONTROLO
Com a rpida difuso dos media electrnicos a partir da dcada de
1950, as noes de
ambiente, interao e experincia viro a ser reequacionadas tendo
em considerao novos
desenvolvimentos tericos e empricos. As investigaes de Norbert
Wiener (e Julian Bigelow) em
torno do funcionamento de automatismos militares durante a
segunda guerra, levaram-no ao
aprofundamento dos estudos em computao matemtica e da estatstica
aplicada noo de
mensagem6 como transmisso de impulsos eltricos nos computadores
e no sistema nervoso
central.
Com o apoio de Claude Shannon e da sua teoria matemtica da
comunicao, que permitiu
melhorias substanciais na codificao de sinais eltricos,
rapidamente a investigao de Wiener
tomou conscincia da analogia existente entre os problemas
presentes na comunicao, controlo e
mecnica estatstica (entropia) nas mquinas e nos organismos
vivos. Foi a este campo unificado da
investigao dos mecanismos de feedback que Wiener atribui a
designao de Ciberntica, pois
pela primeira vez ficara claro que mquinas de computao
ultra-rpidas representam um
modelo ideal do sistema nervoso (Wiener, 1948: 22).
A regulao e controlo dos fluxos de informao e dos mecanismos de
feedback positivo
aplicados pela Ciberntica investigao dos mecanismos de regulao
homeosttica nos seres
humanos um dos eixos principais da cibernetizao do humano e dos
seus ambientes. Wiener
chega mesmo a advertir que qualquer livro a ser publicado sobre
Ciberntica dever ter uma
discusso detalhada dos processos homeostticos (Wiener, 1948:
135). Outro eixo fundamental na
construo tcnica desta cincia est patente na opo de Wiener pela
digitalizao da informao
atravs do uso preferencial das mquinas numricas (mquinas
digitais baseadas na aritmtica
6 A noo ciberntica de mensagem, segundo Wiener, entendida
enquanto sinal transmitido por sistemas eltricos,mecnicos ou pelo
sistema nervoso central: The message is a discrete or continuous
sequence of measurable eventsdistributed in time precisely what is
called a time-series by the statisticians. (Wiener, 1948: 16). As
descoberts de Wiener foram posteriormente desenvolvidas por Claude
Shannon na sua teoria matemtica dacomunicao : A Mathematical Theory
of Communication (1948).
-
binria e lgebra booleana) em vez das mquinas analgicas7, bem
como no aperfeioamento
tecnolgico das capacidades de programao, memorizao e automatizao
de processos cujo
incremento nas velocidades de processamento levariam desejvel
substituio do gesto humano
por processos de automao. Este eixo da Ciberntica, apoiado nas
investigaes de John von
Neumann e de Alan Turing, foi o que permitiu a Norbert Wiener
afirmar que o sistema nervoso
humano e animal funcionam como sistemas de computao e controlo,
pois a rede neuronal
(neurnios-sinapses) funcionaria de forma anloga ao clculo
binrio: the all-or-none principle
(Wiener, 1948: 141-143).
Por outro lado, o entendimento de que o mecanismo de reflexo
condicionado (Pavlov), ou
de affective tone como Wiener prefere designar (Wiener, 1948:
150-151), um mecanismo
biolgico de feedback relacionado com os sistemas de aprendizagem
e de associao de ideias,
permitiu a Wiener especular acerca das capacidades de
aprendizagem dos computadores, levando-
o a firmar que a nova revoluo industrial consiste em substituir
o juzo e o discernimento humano
pelo das mquinas, neste sentido o computador surge j no como
fonte de poder, mas como fonte
de controlo e de comunicao (Wiener, 1954: 71).
A fuso ciberntica entre o crebro (e sistema nervoso central) e a
emergncia
fenomenolgica da mente8 (funes mentais, estados emocionais,
pensamento,...) referida em
diversos momentos por Wiener representa desde ento uma nova
linha de actuao do
behavorismo ciberntico (ciberbehaviourismo9), o qual tem vindo a
implementar-se como meio-
ambiente ciberntico imersivo e holstico (totalitrio ?), isto ,
que procura agir em todo o ciclo do
processo de feedback, automatizando a administrao de inputs
lgicos e afectivos (racionalidade e
emoo) na expectativa de recolher outputs calculveis e
preemptivos (algoritmos), e assim exercer
uma forma de controlo difuso e manter a homeostase nos
colectivos sociotcnicos (redes
telemticas).
O projecto Ciberntico vem sendo, desde a segunda metade do sc.
XX, alimentado pelas
industrias dos media e das tecnologias de rede, mas tambm pela
infraestrutura militar,
7 Wiener refere-se ao diferential analyzer de Vannevar Bush
(Wiener, 1948: 138)
8 Neste ponto no podemos esquecer os contributos de Walter Pitts
e Warren McCulloch (Embodiments of Mind, 1970 ed.Cambridge: MIT
Press) para o aprofundamento da ideia ciberntica de rede neuronal
artificial. Cf Orit Halpern The Neural Network: Temporality,
Rationality, and Affect in Cybernetics (artigo indito cedido pela
autora, aguarda publicao em: The Timing of Affect: Epistemologies
of Affection Edited by Marie-Luise Angerer, Bernd Bsel, and
Michaela Ott University of Chicago Press .
9 um neologismo criado pelo autor para se referir incluso da
racionalidade instrumental promovida pelosdispositivos actuais da
tecnocincia (vigilncia, bigdata, biopolticas, etc..) no percurso
histrico do behavorismo e dasua relao com outras correntes de
pensamento prximas: mecanicismo, positivismo, determinismo,
darwinismo,etc.
-
correspondendo ao que Julian Assange designa como militarizao do
ciberespao, como ter um
tanque de guerra dentro do quarto ou um soldado debaixo da cama,
ironiza Assange para
evidenciar a infiltrao das agncias de inteligncia militares na
nossa privacidade 10 (Assange, 2013:
10).
Aquilo que designamos aqui como ambiente ciberntico holstico ou
totalitrio pode ser
interpretado como a extenso do ciberespao totalidade da vida
(biofsica e psquica) na qual se
integram as biotecnologias, as biopolticas e as mltiplas
aplicaes da ciberntica (organizacional,
financeira, cognitiva, esttica, etc...) e corresponde
implementao de programas concretos ao
longo da histria e em geografias distintas (2 casos):
I) O projecto Cybersyn -sinergia ciberntica-11 desenvolvido e
dirigido pelo engenheiro
Stafford Beer, entre 1971 e 1973 no Chile durante o governo de
Salvador Allende, consistiu na
criao de um ambiente interativo para administrar e optimizar o
suporte a decises importantes a
serem tomadas no mbito da poltica econmica. A utilizao de
dispositivos de captura de
informaes: salas de videoconferncia, sistemas de redes
colaborativas e protocolos de interao
entre empresas, governo e outras organizaes, eram aplicados em
iniciativas emergentes como o
e-governo e a ciberntica organizacional.
II) O modelo ciber-urbanstico das Cidades Inteligentes (Smart
Cities), assente sobre a ideia
de pretender controlar as cidades atravs de centros de operaes
cibernticos (urban
computing12)- desenhados e produzidos pela IBM (unidade Smarter
Cities13)- torna evidente a
viragem computacional (computational turn) nos modelos de
governao com a qual j interagimos
constantemente. Rem Koolhaas, na conferncia Digital Minds for a
New Europe14, organizada pela
Comisso Europeia, questiona se as cidades inteligentes esto
condenadas estupidez? Enquanto
afirma que os cidados que a cidade inteligente diz servir, so
tratados como crianas (Koolhaas,
2014). Um das preocupaes referidas pelo arquitecto, prende-se
com a forma apoltica do modelo
de Cidade Inteligente, segundo o qual os tradicionais valores
europeus de liberdade, igualdade e
fraternidade foram substitudos no sculo XXI por conforto,
segurana e sustentabilidade.
10 Cf Assange: Google Is Not What It Seems.
http://www.newsweek.com/assange-google-not-what-it-seems-279447
(acedido a 3 de Abril de 2015)
11
http://www.cybersyn.cl/ingles/cybersyn/opsroom.html#|Cybernetic-Synergy,
12 http://research.microsoft.com/en-us/projects/urbancomputing/
;
http://www.spaceandculture.org/2009/05/13/models-of-urban-computing/
; http://en.wikipedia.org/wiki/Urban_computing ;
http://www2.cs.uic.edu/~urbcomp2013/urbcomp2014/index.html ;
http://www.situatedtechnologies.net/?q=node/77
13
http://www.ibm.com/smarterplanet/us/en/smarter_cities/overview/
14
http://ec.europa.eu/archives/commission_2010-2014/kroes/en/content/digital-minds-new-europe.html
-
Do lado da esfera pessoal e no que respeita s formas da
individualidade, a questo que se
coloca desde os primeiros momentos da Ciberntica por um lado o
da emergncia da inteligncia
artificial (incorporao maqunica da mente) e o da produo indutiva
de subjetividades dceis e
submissas aos dispositivos tecnobiopolticos, cuja psicopoltica
digital e Big Data se apoderam das
emoes para influenciar aces a nvel pr-reflexivo (neural turn),
pois, refere Byung-Chul Han,
que atravs das emoes que se chega s profundezas do quantified
self (Han, 2014:36), a
emoo representa um meio eficiente15 para estabelecer o controlo
psicopoltico do individuo. A
este novo regime de governamentabilidade e controlo das
subjectividades, capaz de instaurar
simultaneamente uma realidade virtual, a codificao digital da
vida e a reduo das incertezas pelo
tratamento algortmico da informao acumulada, Antoinette Rouvroy
caracteriza-o por se
fundamentar em dois processos complementares: o
data-behaviourism e a governao algoritmca
(Rouvroy, 2012).
de algum modo evidente que a Ciberntica foi construida sob
influncia do racionalismo
vigente na Europa desde o Sc. 17, nomeadamente da filosofia de
Ren Descartes que descreveu
minuciosamente analogias maqunicas para a explicao do
funcionamento do organismo humano,
invocando autmatos de mola e autmatos hidrulicos, recorrendo
assim s formas tcnicas mais
evidentes da sua poca. Os bilogos e filsofos mecanicistas viam
nas mquinas apenas teoremas
solidificados, exibidos in concreto por meio de uma operao de
construo inteiramente
secundria, simples aplicao de um saber consciente de seu alcance
e seguro de seus efeitos
(Canguilhem, 2011: 108). De igual modo, o darwinismo de Norbert
Wiener patente,
designadamente quando compara a fisiologia do sistema nervoso
com considervel semelhana
ideia de seleo natural (Wiener, 1961: 400).
Com o advento da Ciberntica a distino dualista entre
meio-ambiente e indivduo esbate-
se a favor da predominncia da interao e da interatividade
controlada por ciclos de feedback que
procuram garantir a homeostase do sistema/rede. Para este fim
foi necessrio constituir as duas
esferas de aco, pblica e privada, em sinergia e interdependncia,
sendo que poltica coube a
tarefa de implementar uma governao algoritmca, fundamentada na
anlise estatstica e preditiva
dos dados, desviando-a do conhecimento impuro, emprico e incerto
da realidade material e das
condies de vida concretas das populaes. s tecnologias
cibernticas cabe a misso de instalar
interfaces que permitam codificar a natureza como informao,
i.e., digitalizar e recompor a matria
sob a forma de hipstases computacionais (Martinho, 2011: 157),
onde o ambiente/contexto se d
15 Como referido anteriormente o estudo de manipulao das emoes
pela rede social Facebook, demonstroucabalmente a sua
eficincia.
-
como matrix computacional desenhado para a imerso osmtica do ser
digital16.
Se verdade que vivemos actualmente numa sociedade
hiper-mediatizada, saturada de
tecnologias ubquas como a Internet, e que isso forma a pele da
nossa cultura tecnolgica onde as
psicotecnologias operam como extenses da psique (Kerchov, 1997:
33); ento podemos afirmar
que o domnio das tecnologias de informao e comunicao promove um
ambiente ciberntico
propcio operacionalidade das psicotecnologias. Marshall Mcluhan
em Understanding Media- The
extensions of man (1964) j o havia afirmado a propsito da nova
era da electricidade, a partir da
qual seria estabelecido uma rede planetria anloga ao nosso
sistema nervoso central, no se
tratando apenas de uma rede eltrica, mas de um campo unificado
de experincia (Mcluhan,
1964: 384). Mcluhan refere ainda que o crebro o lugar de
integrao e traduo das impresses
e da experincia humana, permitindo-nos a interpretao dos
contextos em que nos situamos. Ora,
se o contexto envolvente psicotecnolgico, na interao entre
crebro e ambiente electrnico
que se formam sinergias automatizadas - inter-relao instantnea
entre crebros e computadores,
ao nvel da conscincia de si (conscious awareness). Assim, a
simulao de processos de conscincia
pelos computadores acontece ao mesmo tempo que a rede elctrica
global simula a condio
central do sistema nervoso (idem: 388).
Em suma, na interao entre crebro e computadores e ambientes
psicotecnolgicos,
sobrelevam alteraes na conscincia enquanto campo unificado de
experincia e na prpria
rede neuronal enquanto estrutura biolgica do crebro-, pois o
crebro tem de se calibrar
segundo as mtricas do ambiente em que vive, e as suas conexes
internas modificam-se
dinamicamente em sintonia com as perturbaes externas. neste
trabalho de adaptao
constante da rede neuronall (neuroplasticidade) que reside, de
acordo com Warren Neidich a
operacionalidade do neuropoder (Neidich, 2010: 545).
16 Cf Negroponte, Nicholas (1995). Being Digital. New York.
Alfred A. Knopf.
-
2.4. ORGANOLOGIA UMA PERSPECTIVA CRTICA DA CIBERNTICA
The man who wishes to dominate his fellows creates the android
machine.
Gilbert Simondon
conhecida a posio ctica de alguns tericos franceses
relativamente publicao da obra
de Norbert Wiener, Cybernetics or Control and Communication in
the Animal and the Machine
(1948). Gilbert Simondon e Georges Canguilhem representam um
posicionamento crtico face a
alguns dos seus aspetos. Simondon no seu livro Du mode
d'existence des objets techniques (1958)
discorda com a investigao de Wiener por esta ter partido de uma
classificao dos objetos
tcnicos em termos de espcie e gnero, contrapondo que uma cincia
da tecnologia no deve
proceder desse modo, porque no h espcies de autmatos: h
simplesmente objetos tcnicos;
estes possuem uma organizao funcional, e nelas diferentes graus
de automatismo so
realizados. (Simondon, 1980: 42). Simondon mantm aqui a sua
mxima discordncia quanto ao
postulado bsico da ciberntica: o de que seres vivos e objetos
tcnicos auto-regulados (princpio
da homeostase/feedback) so anlogos.
Numa conferncia de 1947, intitulada Mquina e Organismo, Georges
Canguilhem
apresentou uma perspetiva alternativa da relao homem-tcnica,
sustentada num possvel campo
de estudos designado Organologia. O problema, afirmava
Canguilhem, que as relaes da
mquina com o organismo, em geral, s foi estudado num sentido
nico, isto , a partir da estrutura
e do funcionamento da mquina j construda procurou-se explicar a
estrutura e o funcionamento
do organismo. Mas raramente se procurou compreender a prpria
construo da mquina a partir
da estrutura e do funcionamento dos rgos. A hegemonia cartesiana
da interpretao mecanicista
dos fenmenos biolgicos no permitiu, afirma Georges Caguilhem,
que a explicao da mquina
pelo organismo pudesse ter surgido. neste exato ponto que
Canguilhem avana com a hiptese,
na esteira de Raymond Ruyer17 de considerar as mquinas como rgos
da espcie humana: Uma
ferramenta, uma mquina so rgos e os rgos so ferramentas ou
mquinas (Canguilhem,
2011: 123). H contudo diferenas de finalidade: h mais finalidade
na mquina do que no
organismo, porque nela, a finalidade rgida e unvoca, univalente.
Uma mquina no pode
substituir uma outra mquina, no organismo, ao contrrio (...)
observamos uma vicarincia 18 das
17 Ruyer, Raymond (1946). lments de psycho-biologie. Presses
universitaires de France.
18 A vicarincia o que permite o funcionamento de algumas prteses
binicas da viso, no caso do dispositivoBrainPort faz-se uso das
clulas da lngua (papilas gustativas) como interface para transduzir
sinais elctricos quetransportam a imagem captada por uma cmara.
Vide http://www.wicab.com/en_us/ .
-
funes, uma polivalncia dos rgos. (idem: 125).
Para reforar a genealogia orgnica da tcnica, mais precisamente
uma filosofia biolgica da
tcnica, Caguilhem refere-se ainda ao trabalho de diversos
etngrafos (Leroi-Gourham19) entre
outros), pois so estes os que esto mais perto da constituio de
uma filosofia da tcnica da qual
os filsofos se desinteressaram, atentos que foram, em primeiro
lugar, filosofia das cincias.
(idem: 132). No campo da filosofia propriamente dita, as excepes
identificadas so Alfred
Espinas20 e Ernst Kapp21, cujo contributo essencial reside na
teoria da projeo orgnica, usada para
explicar a construo das primeiras ferramentas enquanto
prolongamentos dos rgos humanos em
movimento. Este essencialmente o mago da tese da tecnicidade
originria ou a lgica do
suplemento veiculada pela filosofia continental (Jacques
Derrida, Bernard Stiegler, Gilbert
Simondon, Georges Caguilhem, entre outros...), a tecnologia como
prtese constitutiva do humano.
Considerando a tcnica como um fenmeno biolgico universal, e no
apenas como uma
construo racional e instrumental do homem. Esta linhagem
filosfica tem a vantagem de mostrar
o homem em continuidade com a natureza por meio da tcnica,
reunindo numa nova rea de
investigao, denominada Binica, que estuda as estruturas e
sistemas biolgicos visando a sua
transferncia tecnolgica e aplicao a diversas reas cientficas e
das engenharias.
A relao entre o homem e as mquinas abertas as que funcionam com
margens de
indeterminao, recebem e enviam informao- uma relao transdutiva,
ou seja, de modulao
entre o potencial e o atual atravs da operao transdutiva gerada
pela conservao da informao
(Simondon, 2007: 158-160). Simondon no v as mquinas como
produtoras ou consumidoras de
informao, mas antes como transdutoras de informao. Uma margem de
indeterminao ou de
incompletude constitui por isso a tecnicidade inerente ao
conjunto tcnico (colectivo sociotcnico).
Com esta ressalva, Simondon pretendia tambm denunciar uma certa
viso fetichista da cultura
humanista enquanto modo de contemplao dos objetos estticos e,
simultaneamente, de excluso
dos objetos tcnicos. Uma atitude dualista
(tecnofilia/tecnofobia) face ao objeto tcnico exagerada
na relao idoltrica com a tcnica, cujo tecnicismo equivale
representao mtica do boneco
robtico antropomrfico; em suma, diz Simondon: o nosso objetivo
precisamente mostrar que
no existe tal coisa como um rob; que um rob no mais uma mquina
do que uma esttua um
ser vivo; que apenas um produto da imaginao, dos poderes
fictcios do homem, um produto da
19 Leroi-Gourham, Andr (1945). Milieu et Techniques. Paris.
Albin Michel.
20 Les origines de la technologie (1897)
21 Kapp, Ernst (1877). Grundlinien einer Philosophie der
Technik.
-
arte da iluso.22 (Simondon, 1980: 12).
A capacidade transdutiva partilhada pelo homem e pela mquina,
contudo o vivente que
na sua dimenso problemtica, geradora de devir e mediao, opera
segundo um teatro de
individuaes e que avana de meta-estabilidade em
meta-estabilidade. O indivduo no , por isso,
absolutamente condicionado pelo meio ou pela natureza
pr-individual.
a esta multiplicidade organizacional meta-estvel, binica,
transdutiva e transindividual
dos colectivos sociotcnicos que corresponde uma organologia
geral, na atualidade j traduzida
numa organologia expandida por diversas organologias especficas
e concretas. Por exemplo, a
organologia desenvolvida por Bernard Stiegler, por si designada
como Psicotecnologias da
Transindividuao23, vem sendo aplicada no centro de investigao
coordenado por Stiegler e
Vincent Puig no Centre Pompidou24.
Uma filosofia binica ento aquela que observa a vida tcnica
suscitada pela relao
informacional entre homem e mquina, mas de forma diferente da
Ciberntica, que visa a eficcia
no controle da comunicao, e diferentemente tambm de uma poltica
tecnocrtica que dissemina
o poder e a dominao por meio das mquinas. Se usarmos a metfora,
e mitologia, cyborg de
Donna Haraway, podemos invocar esta dualidade sob duas
perspetivas anlogas, a do ciborgue
como produto final da imposio de uma grelha de controlo25 sobre
o planeta - mais prxima da
Ciberntica; ou a do ciborgue como realidade social e corporal
sem receio de conexes com animais
e mquinas, composto por identidades fracturadas, identidades
parciais e at mesmo contraditrias
(Haraway, 1991) - mais prxima da Binica26.
22 A viso de Norbert Wiener exactamente a oposta: We are living
in an age in which automata have becomepart of our daily life. Most
of these automata have very little resemblance in their operation
to the livingorganisms which perform similar functions. (Wiener,
1961: 400).
23 Cf. Bernard Stiegler and Irit Rogoff Transindividuation.
http://www.e-flux.com/journal/transindividuation/ (acedido a 23
maro 2015)
24 http://www.iri.centrepompidou.fr/
25 Filmes como Matrix sos parecem inspirados nesta viso.
http://www.imdb.com/title/tt0133093/
26 Filmes como Blade Runner assemelham-se a esta concepo.
http://www.imdb.com/title/tt0083658/
-
3. VIDA E POLTICA EM REDE
The technical transformation has changed the conditions of
mental activity
and the forms of interaction between the individual and the
collective sphere.
Franco "Bifo" Berardi
3.1. DO CREBRO AOS SISTEMAS DINMICOS COMPLEXOS A EXPANSO
PS-CIBERNTICA DA IDEIA DE
REDE E A SUA CRTICA
As investigaes e teorias visionrias e delirantes27 de Norbert
Wiener tm dois aspectos
particularmente importantes para as teorias de rede actuais
(network theory e theory of
networks28). Por um lado a valorizao dada por Wiener mecnica
estatstica quntica
(probabilidades) na base de organizao do sistema nervoso,
organizao esta que no portanto
correlativa a uma rede permanente de ligaes anatmicas (nervos e
sinapses), e que designou
como neurologia estatstica ou wet neurophysiology (Wiener,
1961:407). Por outro lado, a opo
pela computao digital permitiu lidar com maiores quantidades de
informao (dados estatsticos)
e com o desenvolvimento da potncia de clculo, programao e
arquivo. Estes dois aspectos inter-
relacionam-se quando Wiener equipara o crebro a um computador
digital29.
A rede liquida30 uma metfora usada para assinalar a mobilidade e
a ubiquidade com
que nos conectamos hoje s redes telemticas, utilizando diversos
espectros de radiofrequncia e
atravs de sistemas de computao em nuvem - sem praticamente
necessidade de ligaes rgidas
ou fixas entre os ns. De algum modo as qualidades cibernticas
atrs referidas, so hoje
celebrados como caractersticas fundamentais das redes e da sua
expanso enquanto tecnologia
adequada aos modelos matemticos de sistemas complexos. A
evidncia pode constatar-se no
27 Cf. Stephen Pfohl, The Cybernetic Delirium of Norbert Wiener
. www.ctheory.net/articles.aspx?id=86 (acedido em 3 Abril 2015.
28 Cf A distino: Network theory refers to the mechanisms and
processes that interact with network structures toyield certain
outcomes for individuals and groups.(...) theory of networks refers
to the processes that determine whynetworks have the structures
they dothe antecedents of network properties. (Borgatti e Halgin,
2011:1168)
29 This led us to another comparison between the nervous system
and the computing machine, and led us, furthermore,to the idea that
since the nervous system is not only a computing machine but a
control machine, that we may makevery general control machines,
working on the successive switching basis and much more like the
control machinepart, the scheduling part of a computing machine,
than we might otherwise have thought possible. (Wiener,
1954:69)
30 Rede liquida por analogia com a modernidade liquida /
sociedade liquida de Zygmunt Bauman e com aexpresso neurofisologia
molhada de Wiener.
-
fenmeno the data explosion (Barabsi, 2012: 14), isto , no
incremento exponencial das
capacidades de armazenamento e de computao algortmica de dados,
com as suas mais diversas
aplicaes cientificas ou industriais; e cujo conceito de Big Data
inclui os processos de captura,
arquivo, tratamento e anlise de praticamente toda a informao
(dados, imagens, udio, etc..)
disponvel na rede Internet pelos seus utilizadores e respectivas
mquinas.
Contudo, devemos ainda procurar a expanso do pensamento
ciberntico de Wiener, e mais
especificamente no captulo X- Brain Waves and Self-Organising
Systems, da segunda edio de
Cybernetics: Or Control and Communication in the Animal and the
Machine (1961), a diversos
modelos organizacionais que formaram a nossa contemporaneidade,
designadamente atravs da
influncia de Arthur Tansley que concebeu a ideia de
ecossistemas31 para se referir interconexo
em rede, do crebro e do mundo natural, e crena da auto-regulao
destes sistemas.
Jay Forrester, tambm ele um dos pioneiros da Ciberntica,
desenvolveu a ideia de Tansley
aplicando-a isomorfia entre o crebro, cidades e sociedades, na
sua teoria dos sistemas dinmicos
entendidos como redes controladas por feedback no-linear e
geridos por computadores32.
Howard T. Odum e Eugene Odum ambos ecologistas investigaram os
ecossistemas
ecolgicos atravs da recolha intensiva de dados, construindo
posteriormente uma rede eletrnica
que simulava estes mesmos ecossistemas33. Posteriormente os
movimentos ecolgicos viriam a
adoptar estas propostas tericas e empricas que descreviam o
mundo natural como um sistema
dinmico holstico auto-regulado.
Na dcada de 1970 a identificao de novos problemas, como o
crescimento exponencial da
populao mundial, recursos naturais limitados e poluio, foram
tidos como impossveis de
resolver por sistemas hierrquicos convencionais. Jay Forrester
reafirmou a sua capacidade para
resolver as novas problemticas e aplicou a sua teoria de
sistemas desenhando um diagrama
ciberntico da estrutura do sistema mundial (Fig.1) . Este
diagrama foi transformado em modelo
computacional que previu o colapso da populao. A perspectiva de
Forrester constituiu a base do
modelo World334 desenvolvido por Donella Meadows, Dennis
Meadows, e Jrgen Randers, usado
pelo Clube de Roma35, e os resultados deste foram publicados em
Os Limites do Crescimento [The
31 Cf. Willis, A.J. (1997). "The Ecosystem: An Evolving Concept
Viewed Historically". Functional Ecology 11 (2): 268271
32 Cf Collected Papers of Jay W. Forrester. Pegasus
Communications (1975)
33 Modeling for all Scales: An introduction to System
Simulation. Academic Press. (2000)
34 Uma simulao deste modelo :
https://insightmaker.com/insight/1954/The-World3-Model-A-Detailed-World-Forecaster
35 http://www.clubofrome.org/
-
Limits to Growth (1972)].
A viso organizacional subjacente aos modelos dos sistemas
dinmicos tomava como ponto
de partida o enunciado ciberntico da automatizao, auto-regulao e
controle (homeostase e
feedback), sustentada na hiptese de Wiener de que os
computadores introduziram uma nova fase
da governao poltica e uma nova revoluo industrial que consistia
na substituio da deciso
humana pela da mquina, o que significaria a substituio de uma
lgica de poder hierrquica (dos
sistemas polticos convencionais) por uma lgica de controle e
comunicao horizontal (Wiener,
1954: 71).
Fig 1. Diagrama ciberntico do mundo, Jay Forrester (1971)
Rapidamente a ideologia New Age da auto-governao ciberntica das
redes (self-
organizing networks) expandiu-se a todos os quadrantes sociais,
influenciando, por exemplo, a
emergncia de comunidades (hippies) que aspiravam
auto-sustentabilidade e dissoluo das
hierarquias nas estruturas de poder. No campo da ecologia, James
Lovelock originava uma nova
corrente ecolgica a partir da publicao do best-seller Gaia: A
New Look at Life on Earth (1979),
introduzindo a ideia de planeta Terra como um hiper-organismo
auto-regulado. Enquanto Kevin
-
Kelly, considerado um profeta contemporneo da nova tecnologia e
das novas economias,
amplamente aclamado autor e editor da revista Wired36, invoca as
teorias dos caos, dos sistemas
dinmicos e da complexidade para vislumbrar um futuro
radicalmente diferente, com novas formas
de controle social e organizacional. Como exemplo, veja-se o
projecto Biosphere 237 , implementado
no deserto do Arizona e que toma como ponto de partida o
conceito vivisystems de Kelly. Neste
mundo utpico, o controle seria disperso por sistemas altamente
pluralistas, abertos e
descentralizados. Neste contexto tambm de salientar a revista
The Whole Earth Catalog38,
publicada por Stewart Brand entre 1968 e 1972, considerada um
cone da contra-cultura norte-
americana, focada em temas como a auto-suficincia, ecologia ou
holismo.
Uma parte substancial do desenvolvimento histrico da Ciberntica
at actualidade foi
registado no filme-documentrio All Watched Over by Machines of
Loving Grace39, da autoria do
realizador Adam Curtis, e inspirado num poema homnimo, de tom
irnico, escrito por Richard
Brautigan (1967), cujo ultimo verso diz assim:
I like to think
(it has to be!)
of a cybernetic ecology
where we are free of our labors
and joined back to nature,
returned to our mammal
brothers and sisters,
and all watched over
by machines of loving grace.
Contudo, apesar dos contributos tericos e empricos para o
pensamento da
complexidade40, estas concepes vm sendo criticadas41 pelas suas
posies naturalizantes e
deterministas.
No artigo intitulado Kevin Kelly's Complexity Theory: The
Politics and Ideology of Self-
Organizing Systems, Steve Best e Douglas Kellner (1999)
contestam a metafsica de Kelly42 da nova
36 http://www.wired.com/
37 http://www.biospherics.org/biosphere2/
38 http://en.wikipedia.org/wiki/Whole_Earth_Catalog
39
http://en.wikipedia.org/wiki/All_Watched_Over_by_Machines_of_Loving_Grace_%28TV_series%29
40 Cf. Morin, Edgar (1991). Introduo ao Pensamento Complexo.
Lisboa. Instituto Piaget.
41 Cf. Steven Shaviro, Against Self-Organization.
http://www.shaviro.com/Blog/?p=756 (acedido em 3 Abril 2015)
42 New Rules for the New Economy (Kelvin,1998).
-
economia e da nova tecnologia, argumentando que faz ilicitamente
uso metforas da natureza para
legitimar as novas formas de economia e organizao. Kelly defende
e legitima uma forma de
determinismo tecnolgico, deixando as dinmicas e as lgicas do
capitalismo de fora da imagem co-
evolutiva da tecnologia e natureza (Best e Kellner, 1999: 4). As
propostas apologticas e acrticas de
Kevin Kelly na defesa de um novo tipo de capitalismo soft, a par
da insistncia numa viso
sociolgica do darwinismo social, so igualmente contraditadas
pelas teorias oriundas do
construtivismo social da tecnologia43, que ao privilegiar e
reconhecer o conceito de flexibilidade
interpretativa dos artefactos refuta o determinismo tecnolgico,
justificando que os
desenvolvimentos tcnicos devem ser sujeitos anlise social desde
que no sejam vistos como
autnomos ou guiados metafisicamente por dinmicas internas
(Bijker, 1993: 118). Deste modo a
perspectiva da construo social da tecnologia contraria a
ontologia, a autonomia (independncia)
e a auto-regulao dos sistemas tecnolgicos, demonstrando pelo
contrrio que os artefactos
humanos se constroem em contextos de sistemas socioeconmicos
especficos.
A teorizao da sociedade e da economia com metforas biolgicas,
tais como auto-
organizao, auto-regulao, homeostase, feedback positivo, entre
outras, extremamente
arriscada pois perde-se facilmente de vista as enormes diferenas
entre os sistemas biolgicos e
sociais. Quer a naturalizao do societal, quer a determinao do
tecnolgico, enquanto
totalizaes das teorias dos sistemas complexos, pela ideologia
californiana, promovida pelos
digerati (tecnolibertrios), desde a Ciberntica de Wiener ao
Silicon Valley, est ancorada na
propaganda da automatizao global como valor absoluto da economia
ps-industrial. Contudo a
realidade social e econmica so bem distintas da tecno-utopia, as
crescentes desigualdades
sociais, a intensificao da explorao laboral ou o aumento da
pobreza e do desemprego, so sinais
evidentes de que as metforas softs do capitalismo tardio44
servem apenas para mascarar a
violncia das novas regras do capital financeiro. Franco Berardi
Bifo confirma que in the last thirty
years a new economy and new technologies have found their cradle
in California, nurturing a
technomentalist culture, and giving rise to a special brand of
social Darwinism which is expressed
well in books like Kevin Kellys Out ofControl. (Bifo, 2013:
9).
43 Este grupo de teorias mais amplamente reconhecido como Social
Construction Of Technology (SCOT). Cf. Do not despair: There is
Life after Construtivism (Bijker, 1993)
44 Fazendo uso da reconhecida frmula das trs fases do
capitalismo de Ernest Mandel (1972. Late Capitalism.Traduo de loris
De BresDer. Spatkapitalismus.Suhrkamp Verlag ), Fredric Jameson, em
Culture and FinanceCapital, descreve o capitalismo tardio como o
estdio especulativo da expanso financeira, uma espcie de
vrusdesenvolvendo-se numa epidemia lanada pela mquina capitalista,
ou seja, pela descodificao generalizada defluxos, pela
desterritorializao massiva e pela conjugao de fluxos
desterritorializados (Deleuze e Guattari, 1996:232), refletindo-se
na descodificao dos Estados pelo capital financeiro e pelas dvidas
pblicas (idem: 234).
-
3.2. CONECTADOS, MAS A QUE PREO E SOB QUE CONDIES ?
Ser que as vossas mquinas de pensar, de representar, sofrem
?
Jean-Franis Lyotard
No que foi dito acima procurou-se evidenciar o desenvolvimento
da noo de meio
entrecruzando duas genealogias principais, a biolgica e a
ciberntica, at ao ponto em que ambas
se fundem no ps-cibernetismo expandido a uma viso holstica das
redes telemticas de
comunicao e da economia, sob pano de fundo do fenmeno
globalizao, como defende Kevin
Kelly. A ideia de globalizao, enquanto conceito problematizado
por Manuel Castells, sinnimo
de sociedade em rede, sendo a tecnologia condio necessria mas no
suficiente para a
emergncia de uma nova forma de organizao social baseada em
redes, ou seja, na difuso de
redes em todos os aspectos da actividade na base das redes de
comunicao digital (Castells,
2006:17). A condio suficiente seria para os digerati a
auto-regulao do sistema ciberntico
expandido ao colectivo-sociotcnico (homens, mquinas, coisas,
natureza,...) combinado com o
laissez-faire neoliberal do capitalismo tardio. Em suma, nas
palavras de Kellner e Best: A free-
marketeer, Kelly posits capitalism as a complex system that will
steer itself into order, providing a
replay of Adam Smith's laissez-faire. Indeed, he sees Smith's
"invisible hand" not only in the market,
but in the Internet and the "Net" of life itself. (Best e
Kellner, 1999:5).
Toda esta linhagem ciberntica resultante das investigaes em
torno da comunicao e
controlo no animal e na mquina, no procurou outra coisa seno
dizer que esse controlo
fantasmagrico, que afinal ningum preside ao controle da mquina,
pois a mquina um hiper-
autmato auto-sustentvel e regula-se a si mesma-, numa total
mistificao dos sistemas complexos
econmico e poltico, nos quais como evidente operam entidades
concretas com intenes
prprias, corporaes multinacionais, idelogos e acadmicos, grupos
de poder influentes, bancos e
oligarcas financeiros, etc... cujas estratgias e aces postas em
prtica implicam certamente
conflitualidade social e poltica, apesar de todos os esforos no
sentido de consensualizar, estetizar
e uniformizar os modelos de governao, de regulao e de gesto.
Steven Shaviro vai mais longe na crtica ao darwinismo social e
auto-regulao das redes
cibernticas promovidos pelos tecnfilos New Age: Such is the soft
fascism of the corporate
network: it reconciles the conflicting imperatives of agressive
predation on one hand, and
unquestioning obedience and conformity on the other. (Shaviro,
2003: 4).
-
3.2.1. LGICA DA ADICO : FEEDBACK, RECOMPENSA E MULTITASKING
We shape our tools, and afterwards our tools shape us.
Marshall McLuhan
A relao entre o consumo de substncias psicotrpicas
potencialmente adictivas e a
cibercultura conhecida, diversos autores de ciberfico salientam
a confluncia entre a navegao
do ciberespao e estados mentais alterados. A noo de ciberespao
no Neuromante definida
como sendo uma alucinao consensual, vivida diariamente por
bilies de operadores legtimos
em todas as naes (Gibson, 2004:65).
O fenmeno adictivo designado como Internet addiction disorder
(IAD) actualmente
reconhecido como um assunto srio no campo da sade mental e da
ciberpsicologia dos
adolescentes. O estudo Abnormal White Matter Integrity in
Adolescents with Internet Addiction
Disorder: A Tract-Based Spatial Statistics Study45 confirma a
comparao com estudos anteriores -
dos danos provocados em estruturas neuronais do cortex prfrontal
em indivduos expostos a outro
tipo de substncias adictivas.
O multitasking informtico cada vez mais favorecido pela imerso
dos utilizadores nas redes
telemticas ubquas (tablets, smartphones,...), vem sendo
igualmente reconhecido como uma
prtica prejudicial ao funcionamento do crebro. De acordo com o
neurocientista Daniel J. Levitin,
em extractos retirados do seu novo livro divulgado pelo jornal
The Guardian46, a prtica de
multitasking aumenta a produo de cortisol - conhecida como
hormona do stress- tal como
favorece a libertao da hormona adrenalina, a qual pode
sobre-estimular o crebro causando
pensamentos confusos (mental fog or scrambled thinking). Assim,
Levitin postula que o
multitasking gera um efeito de adico atravs de um
feedback-de-dopamina (dopamine-addiction
feedback loop (.) It is the ultimate empty-caloried brain
candy), recompensando efectivamente o
crebro pela perda de foco e pela constante procura de estmulos
externos (Levitin, 2014: 88):
Each time we dispatch with an e-mail in one way or another, we
feel a sense ofaccomplishment, and our brain gets a dollop of
reward hormones telling us we
accomplished something. Each time we check a Twitter feed or
Facebook update, we
encounter something novel and feel more connected socially (in a
kind ofweird impersonal
45 Cf o estudo: Abnormal White Matter Integrity in Adolescents
with Internet Addiction Disorder: A Tract-Based SpatialStatistics
Study [
http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0030253
(acedido a 30 Maro 2015)]
46 Daniel J. Levitin, The Organized Mind: Thinking Straight in
the Age of Information Overload
http://www.theguardian.com/science/2015/jan/18/modern-world-bad-for-brain-daniel-j-levitin-organized-mind-information-overload
(acedido a 30 Maro 2015)
-
cyber way) and get another dollop of reward hormones. But
remember, it is the dumb,
novelty-seeking portion of the brain driving the limbic system
that induces this feeling of
pleasure, not the planning, scheduling, higher-level thought
centers in the prefrontal
cortex. Make no mistake: E-mail, Facebook, and Twitter checking
constitute a neural
addiction.
(Levitin, 2014: 91)
As investigaes de Daniel Levitin tomaram como de partida as dos
neurocientistas James
Olds e Peter Milner (McGill University) descritas em Reward
centers in the brain and lessons for
modern neuroscience (1954)47, a qual evidenciava a existncia de
centros de recompensa (reforo
positivo) no crebro, que sendo estimulados atravs de impulsos
elctricos produzem
neurotransmissores-dopamina.
Na hiptese de Marshall Mcluahn, da narcose tecnolgica de Narciso
(Mcluahn, 1964: 51) a
adio narctica resulta de uma resposta traumtica criada pela
sensao de amputao -
substituio protsica revelada pela expanso do crebro e sistema
nervoso central. Como se essa
expanso e conexo entre crebro e contexto ciberntico exterior
fosse demasiado violenta e hiper-
estimulante, e desse modo seriam disparados os alarmes biolgicos
produtores de um estado de
narcose que permita limitar os danos causados pelo
sofrimento.
Ora, se convocarmos para esta anlise dos mecanismos de
recompensa neuronal as
investigaes cibernticas de Norbert Wiener, podemos deduzir que
as redes sociais,
designadamente o Facebook, funcionam como indutores dos
mecanismos de recompensa e de
feedback, por exemplo atravs da inveno do boto like e dos
comentrios associados. Induzindo
assim formas de adico que na teoria ciberntica equivalem a
mecanismos de controlo, ou
control by informative feedback (Wiener, 1948: 133) que, como
referido anteriormente,
anlogo ao mecanismo de reflexo condicionado (Pavlov), ou de
affective tone como Wiener
preferiu designar (Wiener, 1948: 150-151).
Ironicamente Byung-Chul Han considera o Facebook como uma espcie
de igreja universal
do reino virtual, onde o boto like funciona como o men digital,
pois, cuando hacemos clic en el
botn de me gusta nos sometemos a un entramado de dominacin. El
smartphone no es solo un
eficiente aparato de vigilancia, sino tambin un confesionario
mvil (...) El neoliberalismo es el
capitalismo del me gusta. (Han, 2014:12-14). Ainda no campo da
crtica, foi recentemente criado,
Fevereiro 2015, o artigo Criticism_of_Facebook na
Wikipdia48.
47 http://neuroblog.stanford.edu/?p=3733
48 http://en.wikipedia.org/wiki/Criticism_of_Facebook
-
Se a esta vertente dos mecanismos cibernticos de recompensa
neuronal do Facebook lhe
acrescentarmos a vertente da manipulao de estados emocionais -
atravs da introduo de
notcias negativas no feed noticioso49 de cada utilizador,
rapidamente nos deparamos com uma
esfera ciberntica totalitria de controlo neuronal e manipulao
emocional um mecanismo
ciberbehaviourista. Se pensarmos em engenharia social numa web
semntica impregnada se
socialbots (social networking bot)50, ou na forma como os social
media se tornaram medias
confessionais - the social media confessional machine (Gehl,
2014:31) - a pergunta que
imediatamente nos ocorre : se possvel a uma rede social induzir
mecanismos aditivos e
manipular os estados emocionais, como demonstra o estudo da
Universidade de Cornell (Kramer,
Adam D. I., Guillory ,Jamie E. e Hancock, Jeffrey T. (2014),
possvel tambm influenciar as
intenes de voto em eleies polticas e fazer eleger candidatos?
Esta suspeita fundada at pelas
alegadas relaes com o programa DoD Minerva51 do departamento de
defesa norte-americano, e
pelas fundamentadas colaboraes com com o programa de vigilncia
Prism da National Security
Agency- segundo relata o Jornalista Glenn Greenwald que publicou
os documentos secretos de
Edward Snowden no jornal The Guardian52.
3.3. BIG DATA, VIGILNCIA E AFFECTIVE COMPUTING
I remember what the Internet was like before it was being
watched.
Edward Snowden (Citizen Four)
A designao redes sociais no deixa de ser paradoxal se atendermos
noo de Actor-
Network de Bruno Latour, na qual no existe dicotomia ontolgica
entre actor (ou actante) e rede
pois so dois elementos reversveis: It is in this complete
reversibilityan actor is nothing but a
network, except that a network is nothing but actorsthat resides
the main originality of this
theory. (Latour, 2011: 800). Do ponto de vista do controlo
ciberntico, esta indistino faz ainda
mais sentido no que respeita interao entre redes neuronais e
redes sociais, tal como visto
49 O feed de notcias do Facebook controlado pelo algoritmo
Edgerank [
http://sproutsocial.com/insights/facebook-news-feed-algorithm-guide/
(acedido a 1 Abril 2014)]
50 Software usado em redes sociais que simula o comportamento
humano robot social.
51 http://minerva.dtic.mil/index.html ;
http://www.theguardian.com/environment/earth-insight/2014/jun/12/pentagon-mass-civil-breakdown
;
http://www.theguardian.com/technology/2014/jul/04/facebook-denies-emotion-contagion-study-government-military-ties
52
http://www.theguardian.com/world/2013/jun/06/us-tech-giants-nsa-data
-
anteriormente. como se o problema identificado53 por Latour em
Technology is Society Made
Durable (Latour, 1991) tivesse sido ultrapassado, pois agora a
conexo telemtica rede ela
prpria constituinte (via mecanismos de feedback e recompensa
neuronal) da aco (programa) do
actor. O problema estudado por Latour , em suma, o problema da
descrio analtica da
articulao reticular entre elementos em interao e o modo como as
relaes se modulam sob
efeito das aes lanadas a cada momento na rede. Por esta razo, a
unidade de anlise passar a
ser tida como o conjunto sociotcnico (socio-technical ensemble)
termo j usado por Gilbert
Simondon em 1958. neste sentido que Latour afirma que o poder
(de impor uma inovao)
resultante do efeito de conjunto (rede) e no de aces promovidas
por elementos isolados.
Podemos assim entender a rede social Facebook (por exemplo) como
uma socio-technical-
network onde as trajetrias e as tradues se desenvolvem at
atingir momentos de estabilizao
(Latour, 1991: 129), s que esta estabilizao fruto de um abuso de
poder ciberntico,
fundamentalmente resultado da aplicao de software de engenharia
social (socialbots) e affective
processing a gigantescas bases de dados (Big Data) onde esto
arquivados os perfis, os contedos, a
agregao de metadata e os traos dos utilizadores, ou seja, como
refere Robert Gehl, these
archives comprise the products of affective processing; they are
archives of affect, sites of
decontextualized data that can be rearranged by the site owners
to construct particular forms of
knowledge about social media users. (Gehl, 2014: 43).
O conjunto de dados recolhidos no se confina apenas informao que
disponibilizamos
via Internet, inclui ainda os movimentos com carto de crdito,
posicionamento GPS, cartes
promocionais, autoestradas, uso de telemvel, elementos
biomtricos (biometric scanning),
reconhecimento facial, reconhecimento emocional54, vdeo
vigilncia, etc. Os dilemas de ordem
pragmtica que se nos colocam so diversos, mas focam-se
essencialmente nas questes de
privacidade, intimidade, subjectividade e corporalidade (data
body)55. Com a emergncia da
Internet of Things onde pessoas e coisas esto conectadas, at as
televises podem captar as nossas
53 O da pequena inovao (Latour, 1991: 104), onde Latour
desconstri o processo e os diversos atores do sistema: odono do
hotel (o inovador), as suas ordens (statements) e as pequenas
invenes (os programas: as chaves e o porta-chaves); os clientes e
os seus antiprogramas (resistncias s inovaes).
54 Cf Affective computing and emotion recognition systems: The
future of biometric surveillance? (Joseph Bullington)
55 Exemplos: 1) o clculo dos seguros de sade podem ser baseados
em dados relativos ao nosso historial clnico eoutros de sade que j
tenham sido disponibilizados previamente s companhias de seguros.
Para nossa convenincia,dizem-nos, as empresas j sabem tudo o que
precisam de saber sobre ns. O problema que ns no sabemos o queeles
j sabem sobre ns, e nem sequer temos a certeza de que as informaes
esto corretas, desconhecendo assimcomo so tomadas as decises sobre
o nosso corpo, sade e doena. 2) A empresa qual nos candidatmos
exclui-nosda seleo prvia de candidatos devido a possuir informao
errada sobre o nosso historial clnico e potenciaisproblemas de
sade, ou no quer contratar empregados que fiquem doentes no
futuro.
-
conversas, como de facto j acontece56.Um dos aspectos em questo
prende-se com as assimetrias
de informao, pois aqueles que detm esses dados tm uma ferramenta
crucial que lhes permite
influenciar o comportamento das pessoas de quem os dados so
capturados e analisados, o
marketing um exemplo bvio que envolve formas subtis de
manipulao: criar desejos no
momento certo e no local exacto para que possam ser satisfeitos
pelos consumidores. Com os
governos e as foras de segurana acontece de modo idntico,
quantos mais dados obtiverem sobre
as pessoas, mais efectivo se torna o controlo. Esta situao,
afirma Felix Stalder, deixa inmeras
pessoas nervosas, por uma boa razo. De acordo com estudos
empricos realizados, a opinio da
grande maioria de entrevistados - pelo menos antes do pnico
social surgido na sequncia dos
atentados terroristas de 11 setembro de 2001 dizia-se "muito
preocupado" com o uso indevido
de dados privados57 (Stalder, 2002: 121).
Sobre as revelaes de Edward Snowden58 e os vazamentos de
documentos secretos que
comprovam a existncia efectiva e eficaz de um gigantesco sistema
de vigilncia global, o filme-
documentrio de Laura Poitras, Citizen Four59, um bom contributo
para o conhecimento do
dispositivo tecnolgico instalado, infraestruturas e programas de
vigilncia massiva.
Se conjugarmos os seguintes elementos: o termo affective tone
usado por Wiener para se
referir ao reflexo condicionado enquanto mecanismos cibernticos
de homeostase, de auto-
regulao das redes e sistemas complexos, de
biofeedback/neurofeedback; Os mecanismos aditivos
do multitasking e das redes sociais; o actor enquanto rede em
Latour e o processamento de Big
Data como afective processing / affective computing60, teremos
os ingredientes para entender que a
expanso emprica da Ciberntica na configurao das redes telemticas
atuais, designadamente
das suportadas na Internet (redes sociais, Google, Facebook,
etc.) se reificou efectivamente como
infraestrutura e potncia de controlo ciberntico, ou como dizem
Galloway e Thacker, the network,
it appears, has emerged as a dominant form describing the nature
of control today(...) Perhaps
there is no greater lesson about networks than the lesson about
control: networks, by their mere
56 Samsung's Smart TVs Are Collecting And Storing Your Private
Conversation
https://www.techdirt.com/articles/20150206/04532329928/samsungs-smart-tvs-are-collecting-storing-your-private-conversations.shtml
(acedido em 3 Abril 2015)
57 Fonte citada por Felix Stalder:
http://www.privacyexchange.org/survey/estudies/estudies.html
58 http://www.theguardian.com/us-news/edward-snowden
59 https://citizenfourfilm.com/
60 http://affect.media.mit.edu/ e Affective computing:
challenges (Rosalind Picard - MIT Media Laboratory) -
http://affect.media.mit.edu/pdfs/03.picard.pdf (acedido em 4
Abril 2015)
-
existence, are not liberating; they exercise novel forms of
control that operate at a level that is
anonymous and nonhuman, which is to say material.61 (Galloway e
Thacker,2007: 4-5).
Daqui emergiria certamente uma contradio paradoxal caso no nos
apoissemos numa
anlise crtica -, que como vimos anteriormente (3.1.) a expanso
do modelo ciberntico s redes
e sistema complexos, governao poltica e organizao social, teria
como fundamento teleolgico
uma sociedade livre de formas de poder hierrquico- o sonho
Wieneriano de substituir a
racionalidade e o juzo humano pelo do computador.
No one is in control afirmava Kevin Kelly ( (Best e Kellner,
1999: 5), contudo, face s
constelaes de poder e controlo realmente existentes na
actualidade, o sistema militar de
vigilncia62 do ciberespao e das redes telemticas, os normativos
de Kelly, e dos digerati em geral,
e a apologia do controlo total ciberntico e benfico das
estruturas sociais complexas e
ecossistemas (veja-se o j referido centro de controlo de Cidades
Inteligentes) apenas serve para
ofuscar e tornar invisvel o dispositivo de poder constitudo
pelas foras sociais, econmicas e
polticas em campo, bem os seus programas que viso submeter a
estrutura societal (trabalho,
sociabilidades, cultura, etc.) existente s novas regras do
capitalismo semitico-cognitivo63.
Note-se que no se trata de uma viso determinstica da tecnologia,
mas antes segundo
Latour e as teorias SCOT, de uma anlise social do campo de poder
tecnolgico e da sua capacidade
para reconfigurar o ambiente/contexto ciberntico das sociedades
actuais. Ou seja, devemos
entender a forma e o aspecto de como as tecnologias de rede
constituem e moldam o ambiente das
sociedades/colectivos actuais, sem com isso afirmar que essas
mesmas tecnologias so a sua razo
suficiente, i.e., que fundam e determinam esse mesmo ambiente.
Nesse sentido til ter em conta
que a existncia de redes, designadamente de redes telemticas, no
por si nem sinnimo nem
garantia de democracia. Para usar uma citao de Pit Schultz,
relativa topologia das redes,
decentralization, or the rhizomatic swarm ideology is value
free, useful for military, marketing,
terrorism, activism and new forms of coercion. It is not equal
to freedom, only in a mathematical
sense. (Galloway e Thacker,2007: 13).
61 Esta questo do poder da rede (network power) tem de ser
dialeticamente equacionada com a questo da soberania edo poder
poltico soberano, questo desenvolvida por Galloway e Thacker e por
muitos outros autores: ManuelCastells, Bragana de Miranda,
62 Cf. Surveillance and Society Journal
(http://www.surveillance-and-society.org/journal.htm ).
Surveillance StudiesNetwork (http://www.surveillance-studies.net/).
Julian Assange (Cypherpunks). Edward Snowden e Glen Greenwald- The
Guardian NSA files
(http://www.theguardian.com/us-news/the-nsa-files ) . Felix
Stalder, Opinion. Privacy isnot the antidote to surveillance
(http://library.queensu.ca/ojs/index.php/surveillance-and-society/article/view/3397/3360)
63 Esta apenas uma das muitas definies tericas em torno do
capitalismo tardio, haveria ainda que considerar as teses
acelaracionistas e a dromologia de Paul Virilio, o fast capitalism
de Ben Agger, etc.
-
3.4. NOOPOWER (PODER COGNITIVO) E NEUROPODER
No captulo dedicado a Noopower and the Social Media State(s) of
Mind, Robert W. Gehl
conclui que as redes sociais so instncias de noopower, pois
induzem interaces preditivas ou
seja baseadas na inter-relao entre metadata e big data e
respectivos perfis agregados a cada
actor-rede (Latour), vulgo, perfis de utilizadores- que por sua
vez modulam a ateno e a memria
dos sujeitos (Gehl, 2014:23). Uma outra forma de o dizer usando
a noo de polticas da
conscincia de Michel Foucault aplicado-a quilo que Gehl denomina
confessional medias,
estaramos assim deparados com uma forma de poder pastoral
fundada pelo cristianismo: this
form of power cannot be exercised without knowing the inside of
people's minds, without exploring
their souls, without making them reveal their innermost secrets.
It implies a knowledge of the
conscience and an ability to direct it. (Foucalt, 1982:
783).
A etimologia de noopower remete-nos para o prefixo de origem
grega nous que significa
inteligncia, intelecto ou mente, dando origem a vocbulos como
nosis, o processo da
inteleco, cognio ou insight. O termo noosfera vem sendo usado
como sinnimo de esfera da
inteligncia, mundo das ideias, num termo proposto pelo filsofo
francs Teilhard de Chardin (1881-
1955), para designar o mundo virtual, imaterial, formado por
ideias, conceitos e mitos; mas
tambm usado para designar projectos de ciber-inteligncia
colectiva-planetria64
No contexto ciberntico que aqui abordamos, o objecto do poder
noopower (que
arriscamos a traduzir por poder cognitivo) , por um lado os
produtos imateriais da inteligncia
(trabalho imaterial), e por outro a formao da subjectividade
(self). O foco do noopower na
mente humana, por sua vez, efeito da emergncia da noo-poltica
enquanto paradigma das
sociedades de controlo (Deleuze), tal como a biopoltica a forma
de governamentabilidade
associada s sociedades disciplinares (Foucault). nesta transio,
diz Maurizio Lazzarato, que as
tecnologias disponveis e os mecanismos de poder so
redireccionados do corpo (alvo da
biopoltica) para a mente (alvo das noo-polticas), i.e., da vida
material para a vida psquica,
particularmente para as memrias e para a ateno (Neidich, 2010:
539).
Contudo, ser ainda necessrio atender ao suporte material da
mente, ou seja, ao crebro e
s redes neuronais bem como s potencialidades da
neuroplasticidade65, i.e., capacidade do
sistema nervoso alterar-se, adaptar-se e moldar-se a nvel
estrutural e funcional ao longo do
desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experincias. O
poder que lida com a
64 Vide: http://noosphere.princeton.edu/ 65 Neural plasticity
refers to the ability of the components of neurons, their axons,
dendrites, and synapses, plus their
extended forms as neural network systems, to be modified by
experience. (Neidich, 2010: 547)
-
neuroplasticidade designado por Warren Neidich como neuropower
(neuropoder), enquanto
poder homogeneizante das subjectividades (noopoltica) por via da
modulao da potncia
neuroplstica, tendo por isso um papel fundamental na produo de
processos de ateno que por
sua vez traam determinados circuitos de memria, e desse modo
estabilizam-se em redes
neurononais algo anlogo aos processos de feedback, neste caso
neurofeedback.
Na sequncia das conferncias The Psychopathologies of Cognitive
Capitalism, promovidas
pelo ICI - Berlin Institute for Cultural Inquiry66, foi
publicado a antologia de textos em trs volumes,
nos quais se procura analisar o contexto terico Californiano no
que se refere aos estudos e
investigaes sobre tecnologias e ecologias da mente, bem como
perceber at que ponto as
psicopatologias do capitalismo cognitivo so responsveis por
sintomas como o sndroma de pnico,
deficit de ateno ou desordens psicolgicas relacionadas com a
memria. Neste ltimo aspecto,
refere Neidich, o novo foco de poder no estaria apenas na falsa
reproduo do passado (anloga
manipulao de arquivos), pois o territrio do neuropoder no tanto
a manipulao da memria
passada, mas a elaborao da memria futura (Neidich,
2013:226).
Retomando Foucault, parece-nos claro que as interferncias
psicotecnolgicas na estrutura
da rede neuronal (neuropoder) e nas formas de conscincia
(noopower/noopoltica), requerem
novas formas de resistncia cultural antagonistas das formas de
governamentabilidade ancoradas
na sujeio dos sujeitos submisso das subjectividades-. Tornam-se
cada vez mais importantes,
mais at do que as resistncias contra os mecanismos de dominao e
explorao. Neste aspecto,
das formas de governamentabilidade, Antoinette Rouvroy, no
artigo j citado, invoca a expresso
algorithmic governmentality como aquela que no permite processos
de subjectivao humana,
pois, a algorithmic governmentality is without subject: it
operates with infra-individual data and
supra-individual patterns without, at any moment, calling the
subject to account for himself.
(Rouvroy, 2012: 2).
66 https://www.ici-berlin.org/event/476/
-
REFERNCIAS
Assange, Julian (2013). Cypherpunks: Freedom and the Future of
the Internet. Or Books.
Babo-Lana, Isabel (2013). O acontecimento e os seus pblicos. In
Revista Comunicao e Sociedade, vol. 23,
pp. 218 - 235 .
Barabsi, Albert-Lszl (2012). The network takeover. In Nature
Physics . Vol 8, january 2012.
Beniger, James R. (1989). The Control Revolution: Technological
and Economic Origins of the Information
Society. Harvard University Press
Best, Steve e Kellner, Douglas (1999). Kevin Kellys Complexity
Theory: The Politics and Ideology of Self-
Organizing Systems. Organization & Environment. June 1999
12: 141-162. [http://www.uta.edu/huma/illuminations/best7.htm
(consultado em 31 maro 2015)]
Bifo, Franco Berardi (2013). The Minds We: Morphogenesis and the
Chaosmic Spasm Social Recomposition,
Technological Change and Neuroplasticity. In Boever, Arne De e
Neidich, Warren (Eds). The Psychopathologies
of Cognitive Capitalism: Part One. Berlin. Archive Books. Pp
7-32.
Bijker, Wiebe E. (1993). Do not despair: There is Life after
Construtivism. In Science, Technology & Human
Values, Vol 18 n 1, Winter 1993, 113-138. Sage Periodicals
Press.
Borgatti, Stephen P. e Halgin, Daniel S. (2011). On Network
Theory. In Organization Science. Vol. 22, No. 5,
SeptemberOctober 2011, pp. 11681181.
Caguilhem, Georges (2011). O Conhecimento da Vida. Rio de
Janeiro. Forense Universitria.
Caguilhem, Georges (1992). Machine and Organism. In
Incorporations. Edited by Jonathan Crary and Sanford
Kwinter. Zone Books. Pp 45-69.
Castells, Manuel (2006). A Sociedade em Rede: do Conhecimento
Poltica. In Castells, Manuel e Cardoso,
Gustavo (orgs). A Sociedade em Rede: do Conhecimento Poltica .
Lisboa. INCM.
Deleuze, Gilles e Guattari, Flix (1996). O Anti-dipo,
Capitalismo e Esquizofrenia. Lisboa. Asssrio & Alvim
Dewey, John (1929). Experience and Nature. London. George Allen
& Unwin, ltd.
Dewey, John (1934). Art as Experience. Perigee Books. New
York.
Foucault, Michel (1982). The Subject and Power. In Critical
Inquiry, Vol. 8, No. 4, (Summer, 1982),The University
of Chicago Press. Pp. 777-795.
Forrester, Jay Wright (1971). World Dynamics. Wriht-Allen
Press.
Fultz, Dwight E. (2009). The Current Status of Behaviorismand
Neurofeedback. In International Journal of
Behavioral Consultation and Therapy. Volume no. 5, issue no. 2.
Pp 160-164.
Galloway, Alexander R. e Thacker, Eugene (2007). The Exploit: A
Theory of Networks (Electronic Mediations Ser.
Vol. 21). Minneapolis. U Minnesota.
Gehl, Robert W. (2014). Reverse Engineering Social Media -
Software, Culture, and Political Economy in New
Media Capitalism. Filadlfia. Temple University.
Gibson, William (2004). Neuromante. Lisboa. Gradiva.
Han, Byung-Chul (2014). Psicopoltica- Neoliberalismo y nuevas
tcnicas de poder. Barcelona. Herder Editorial.
Haraway, Donna Jeanne (1991). A Cyborg Manifesto: Science,
Technology, and Socialist-Feminism in the Late
Twentieth Century. In Simians, Cyborgs and Women: The
Reinvention of Nature. Routledge. ISBN 0415903866.
-
Kerchov, Derrick de (1997). A Pele da Cultura. Uma Investigao
Sobre a Nova Realidade Electrnica. Lisboa.
Relgio D'gua Editores.
Koolhaas, Rem (2014) . Rem Koolhaas pergunta: As cidades
inteligentes esto condenadas estupidez? [Rem
Koolhaas Asks: Are Smart Cities Condemned to Be Stupid?] 30 Dec
2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Romullo
Baratto).
(http://www.archdaily.com.br/br/759569/rem-koolhaas-pergunta-as-cidades-inteligentes-estao-condenadas-a-estupidez.Acedido
a 27 Marco 2015)
Kramer, Adam D. I., Guillory ,Jamie E. e Hancock, Jeffrey T.
(2014). Experimental evidence of massive-scale
emotional contagion through social networks. In PNAS
(Proceedings of the National Academy of Sciences of the
United States of America). Junho 17, 2014 vol. 111 no. 24. [
http://www.pnas.org/content/111/24/8788.full.pdf (acedido
a26-03-2015) ]
Latour, Bruno (1991). Technology is Society Made Durable. In J.
Law (editor) A Sociology of Monsters Essays
on Power, Technology and Domination, Sociological. Review
Monograph N38, 103-132.
Latour, Bruno (2011). Networks, Societies, Spheres: Reflections
of an Actor-Network Theorist. In International
Journal of Communication 5 (2011), 796 810.
Levitin, Daniel J. (2014). The organized mind : thinking
straight in the age of information overload. New York.
DUTTON. Penguin Group. (verso ebook)
Mcluhan, Marshall (1964). Understanding Media- The extensions of
man. Routledge.
Neidich, Warren (2010). From Noopower to Neuropower: How Mind
Becomes Matter. In Cognitive
Architecture. From Biopolitics to Noopolitics. Architecture
& Mind in the Age of Communication and
Information. Deborah Hauptmann and Warren Neidich (Eds). 01 0
Publishers. Rotterdam.
Neidich, Warren (2013). Neuropower: Art in the Age of Cognitive
Capitalism. In Boever, Arne De e Neidich,
Warren (Eds). The Psychopathologies of Cognitive Capitalism:
Part Two. Berlin. Archive Books.
Rouvroy, Antoinette (2014). Privacy, Due Process and the
Computational Turn. Philosophers of Law Meet
Philosophers of Technology, Mireille Hildebrandt & Ekatarina
De Vries (eds.), Routledge.
Shaviro, Steven (2003). Connected: Or What It Means to Live in
the Network Society. Electronic Mediations /
Vol. 9. Minneapolis. U of Minnesota Press.
Simmel, Georg (2004). Fidelidade e Gratido e Outros Textos.
Lisboa. Relgio D'gua.
Simondon, Gilbert (1958). On the Mode of Existence of Technical
Objects. University of Western Ontario.
[https://english.duke.edu/uploads/assets/Simondon_MEOT_part_1.pdf
(Acedido a 25 maro 2015)]
Simondon, Gilbert (2007). EI modo de existencia de los objetos
tcnicos. Buenos Aires. Prometeo Libros.
Simondon, Gilbert (2009). La individuacin a la luz de las
nociones de forma y de informacin . Buenos Aires: La
Cebra Ediciones y Editorial Cactus.
Stalder, Felix (2002). Privacy is not the antidote to
surveillance. In Surveillance & Society 1(1): 120-124.
www.surveillance-and-society.org
Wiener, Norbert (1948). Cybernetics, or Control and
Communication in the Animal and the Machine. MIT
Press/John Wiley and Sons, NY.
Wiener, Norbert (1954). Men, Machines, and the World About. In
Medicine and Science. 13- 28. New York
Academy of Medicine and Science, ed. I. Galderston, New York:
International Universities Press. [Verso
utilizada:http://21stcenturywiener.org/wp-content/uploads/2013/11/Men-Machines-and-the-World-About-by-N.-Wiener.pdf
(acedido a 27 Maro
2015)]
-
Wiener, Norbert (1961).Cybernetics: Or Control and Communication
in the Animal and the Machine . Segunda
edio revista. Paris, (Hermann & Cie) e Cambridge. MIT
Press.
Wiener, Robert (1965). Perspectives in Neurocybernetics. In
Cybernetics of the Nervous System - Edited by the
Late Norbert Wiener and J.P. Schad. Elsevier Publishing Co.