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Feb 12, 2017

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    VOLUME I

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA, PROJETO E MEIO AMBIENTE

    MARIANA PIRES GURGEL CALDAS

    SOBRE FORMAS E PROCESSOS

    PROJETO DE UM CONDOMNIO DE CASAS A PARTIR DE PRINCPIOS DA

    GRAMTICA DA FORMA

    VOLUME I

    Natal

    2014

  • MARIANA PIRES GURGEL CALDAS

    SOBRE FORMAS E PROCESSOS

    PROJETO DE UM CONDOMNIO DE CASAS A PARTIR DE PRINCPIOS DA

    GRAMTICA DA FORMA

    Dissertao submetida ao Mestrado Profissional em

    Arquitetura, Projeto e Meio Ambiente do programa de Ps-

    Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Universidade

    Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a

    obteno do ttulo de MESTRE.

    Orientadora: Professora Doutora Maisa Veloso

    Coorientador: Professor Doutor Marcelo Tinoco

    Natal

    2014

  • Catalogao da Publicao na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de

    Arquitetura

    Caldas, Mariana Pires Gurgel.

    Sobre formas e processos: projeto de um condomnio de casas a partir

    de princpios da gramtica da forma./ Mariana Pires Gurgel Caldas.

    Natal, RN, 2014.

    127f. : il.

    Orientador(a): Masa Veloso.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do

    Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura.

    1. Habitao Arquitetura Dissertao. 2. Projeto de arquitetura

    Dissertao. 3. Gramtica da forma Dissertao. 4. Modulao

    Dissertao. 5. Processo de projeto Dissertao. I. Veloso, Maisa. II.

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.

    RN/UF/BSE15 CDU 728.1

  • NIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA, PROJETO E MEIO AMBIENTE

    SOBRE FORMAS E PROCESSOS

    PROJETO DE UM CONDOMNIO DE CASAS A PARTIR DE PRINCPIOS DA

    GRAMTICA DA FORMA

    MARIANA PIRES GURGEL CALDAS

    BANCA EXAMINADORA:

    Professora Doutora Masa Dutra Veloso PPGAU/ UFRN (Presidente Orientadora)

    Professor Doutor Rubenilson Brazo Teixeira PPGAU/ UFRN (Examinador interno)

    Professora Doutora Maria Gabriela Caffarena Celani Unicamp (Examinador externo)

  • Dedico este trabalho minha famlia,

    especialmente ao meu marido, Giuliano.

  • AGRADECIMENTOS

    Obrigada, Giuliano, por ter sido meu coorientador informal, sugerindo e me

    escutando na medida certa das minhas necessidades, sempre com muita ateno e interesse

    pelo que fao. Todas as nossas conversas esto, de alguma maneira, documentadas aqui.

    Obrigada, Ludmila, pela parceria em todos os momentos. Hoje, com a experincia que

    tivemos nesse Mestrado Profissional, alm da que j possumos dividindo os trabalhos do

    escritrio, posso dizer que sei o que generosidade, amizade e parceria.

    Obrigada, meu pai Tarcsio e minha me Ione, incentivadores entusiasmados, sempre

    dispostos a ajudar em todos os sentidos para que este sonho se concretizasse. Obrigada, meus

    irmos, Nanda e Bruno, simplesmente por saber que esto ao meu lado para o que der e vier.

    Obrigada, meus orientadores, professora Masa Veloso e professor Marcelo Tinoco.

    Ela, por ter me apresentado gramtica da forma e acreditado em mim desde o incio. Ele,

    por todas as referncias apresentadas e as questes levantadas durante o processo. Alm disso:

    pelas risadas, interesse, dedicao, pelo exemplo que me deram de como orientar e por terem

    me ensinado a ser orientada.

    Obrigada, professor Aldomar Pedrini e professora Bianca Arajo, pelos valiosos

    ensinamentos transmitidos na rea de Conforto Trmico e de Desempenho Acstico,

    respectivamente.

    Obrigada, professor Rubenilson Teixeira, por acompanhar com muito interesse o

    desenvolvimento deste trabalho, fazendo observaes importantes desde a Qualificao.

    Obrigada tambm professora Gabriela Celani por ter gentilmente disponibilizado as

    primeiras informaes sobre a gramtica da forma.

    Obrigada, amigos do LabCon e do Lapis, que sempre estiveram dispostos a me acolher

    em reunies e pesquisas.

    Obrigada, meus amigos Henrique Ramos, Fabrzio Caldas e Daniel Nicolau, por me

    fornecerem informaes essenciais para que este trabalho fosse se delineando de forma

    correta.

    Obrigada, Tlio, pela ajuda na etapa das maquetes de estudo. Voc 10!

    Obrigada, Rebeca, a estagiria mais prestativa de todos os tempos! Voc foi muito

    importante, no s por ter produzido alguns desenhos deste trabalho, mas por ter segurado as

    pontas no escritrio.

  • Obrigada, amigos e clientes, que compreenderam meus momentos de ausncia por

    estar me dedicando a este trabalho. Obrigada pelos momentos de escape tambm.

    Obrigada a todos os professores e colegas do Mestrado Profissional. Todas as trocas

    de ideias, apresentaes, desabafos e festas marcaram nosso ltimo um ano e meio e

    contriburam para o xito desta dissertao.

    Meu sincero obrigada a todos que fizeram parte deste processo e me ajudaram a

    construir trao a trao, linha a linha, a histria a seguir.

  • RESUMO

    Com a inteno de se estudar e desenvolver o processo de projeto com base em uma

    metodologia especfica apresenta-se, como objeto deste trabalho, o projeto de um condomnio

    de casas na cidade de Natal a partir da aplicao de princpios da gramtica da forma,

    utilizados em seu processo de concepo. A gramtica da forma um mtodo de projeto

    desenvolvido na dcada de 1970 por George Stiny e James Gips, utilizado tanto para a anlise

    como para a sntese de projetos, com o objetivo de se criar um vocabulrio formal, atravs

    de operaes matemticas e/ou geomtricas. Aqui, a metodologia foi utilizada no processo de

    sntese de projeto, numa relao entre subtraes formais e a programao arquitetnica das

    casas. Como resultado, chegou-se proposio de cinco configuraes de unidades

    habitacionais, diferentes entre si no tocante forma e programao arquitetnica,

    distribudas em trs grupos geminados, que se repetem at o total final de nove volumes

    arquitetnicos. Alm dos estudos de ventilao do condomnio e das simulaes de

    sombreamento das edificaes, foram realizados estudos de flexibilidade espacial e de

    desempenho acstico. Um dos objetivos especficos da dissertao, o mapeamento do

    processo de projeto, foi composto no s pelo registro dos condicionantes formais (elaborao

    e aplicao de regras), mas tambm por aspectos fsicos, ambientais, legais e de

    sustentabilidade no que se refere, por um lado, otimizao do sombreamento e da ventilao

    passiva para climas quente-midos e, por outro, modulao e racionalizao da

    construo.

    PALAVRAS-CHAVE: Projeto de arquitetura; Gramtica da forma; Modulao; Processo de

    projeto.

  • ABSTRACT

    With the intention of studying and developing the design process based on a specific

    methodology, the object of this work is to present the design of a gated condominium

    community in Natal based on the application of principles of shape grammar, used in their

    design process. The shape grammar is a design method developed in the 1970s by George

    Stiny and James Gips. It is used for the analysis of the project as well as for its synthesis, with

    the goal of creating a "formal vocabulary" through mathematical and/or geometrical

    operations. Here, the methodology was used in the synthesis of the design process, through

    the relationship between formal subtractions and the houses architectural planning. As a

    result, five dwellings configurations were proposed, each one different from the other with

    respect to their shape and architectural programming, distributed in three twin groups, which

    are repeated until the final total of nine architectural volumes. In addition to studies of the

    condominiums ventilation and the buildings shading simulations, studies of spatial

    flexibility and acoustic performance were also performed. The mapping of the design process,

    one of the specific objectives of the dissertation, was composed not only by the record of

    formal constraints (the preparation and application of rules), but also by physical,

    environmental, legal and sustainability aspects in relation to, on one hand, the optimization of

    the shading and passive ventilation for hot and humid climates, and, on the other hand, the

    modulation and rationalization of the construction.

    KEYWORDS : architecture design; shape grammar; modulation; design process.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 2-1: Elementos de uma gramtica da forma ............................................................... 19

    Figura 2-2: Exemplo de uma gramtica das cores (Jardins Persas)........................................ 20

    Figura 2-3: Exemplo da aplicao de marcadores em regras de adio de uma gramtica

    bsica ................................................................................................................................... 20

    Figura 2-4: Operador no mundo projetual............................................................................. 21

    Figura 2-5: Representao grfica simplificada das operaes .............................................. 21

    Figura 2-6: Exemplo da operao algbrica subtrao .......................................................... 22

    Figura 2-7: Grelha bidimensional em projeto de Mies van der Rohe, esquerda, e Grelha

    tridimensional Do-mino, de Le Corbusier, para casas pr-fabricadas .................................... 25

    Figura 2-8: Modulao da planta da Casa Usoniana ............................................................. 26

    Figura 2-9: Diferentes combinaes para o mesmo elemento construtivo ............................. 26

    Figura 3-1: Cubo tripartido................................................................................................... 29

    Figura 3-2: Montagem a partir de imagens coletadas na internet, mostrando o incio do

    processo de projeto de cada casa .......................................................................................... 29

    Figura 3-3: Projeto da casa em relao s orientaes e destaque para a melhor situao ...... 32

    Figura 3-4: Implantao das casas geminadas em terreno hipottico. Destaque para a

    integrao dos blocos com o stio, alm da permeabilidade visual entre eles e do terreno ..... 32

    Figura 3-5: Volumetrias, tipos de plantas e possveis ampliaes ......................................... 33

    Figura 3-6: Corte esquemtico demonstrando as solues de sustentabilidade ambiental para a

    casa sobrado......................................................................................................................... 34

    Figura 3-7: Casa Passiva Dahoam Natur Residence, perspectiva explodida .......................... 35

    Figura 3-8: Aberturas envidraadas para a captao de luz e calor do sol no interior do

    apartamento ......................................................................................................................... 36

    Figura 3-9: Casa Passiva Dahoam Natur Residence .............................................................. 36

    Figura 3-10: Simpson-Lee House ......................................................................................... 37

    Figura 3-11: rea envidraada acima das esquadrias ............................................................ 38

    Figura 3-12: Estudo de inclinaes dos raios solares sobre a edificao ................................ 38

    Figura 3-13: Quarto com iluminao natural incrementada pela abertura envidraada acima

    das esquadrias ...................................................................................................................... 38

    Figura 3-14: Trelia metlica em casas de condomnio horizontal ........................................ 39

  • Figura 3-15: Utilizao do ao no projeto de um atelier ........................................................ 40

    Figura 3-16: Casa projetada por Bernardes e Jacobsen Arquitetura ....................................... 41

    Figura 4-1: Limites do bairro de Capim Macio, dentro do municpio de Natal ...................... 43

    Figura 4-2: Terreno, localizado em um trecho do bairro de Capim Macio inserido no Entorno

    do Parque das Dunas ............................................................................................................ 43

    Figura 4-3: O terreno e seus limites ...................................................................................... 45

    Figura 4-4: Solo e terreno murado, no seu ponto mais alto, com vista para o Parque das Dunas

    ............................................................................................................................................ 45

    Figura 4-5: Cartas solares do terreno .................................................................................... 46

    Figura 4-6: Planta do condomnio, ainda em fase de estudo da incidncia solar .................... 47

    Figura 4-7: Planta da casa, ainda em fase de estudo da incidncia solar ................................ 48

    Figura 4-8: Quadro com o programa arquitetnico do condomnio proposto (reas iniciais) . 51

    Figura 5-1: Quadro com categorias e palavras-chave utilizadas (Conceitos) ......................... 56

    Figura 5-2: Quadro de referncias, organizadas por modalidades de estudo .......................... 57

    Figura 5-3: Diagramas conceituais ....................................................................................... 58

    Figura 5-4: Croquis da casa e da implantao ....................................................................... 59

    Figura 5-5: Alguns croquis das tentativas de criao das regras ............................................ 60

    Figura 5-6: Confirmao do uso dos marcadores, da subtrao e das fachadas frontais das

    casas como elementos grficos ............................................................................................. 61

    Figura 5-7: Maquetes de isopor para estudo dos nveis das edificaes e circulaes ............ 62

    Figura 5-8: Croquis desenvolvidos depois da incorporao dos projetos do Dahoam Natur

    Residence e da Simpson-Lee House como referncias formais ............................................. 64

    Figura 5-9: Um dos grupos geminados, antes e depois da qualificao ................................. 66

    Figura 5-10: Representao simplificada do mapeamento do processo de concepo do

    projeto (antes da qualificao) .............................................................................................. 67

    Figura 5-11: Representao simplificada do mapeamento do processo de concepo do

    projeto (depois da qualificao)............................................................................................ 67

    Figura 5-12: Croquis iniciais para a implantao de casas isoladas no terreno ...................... 68

    Figura 5-13: Evoluo dos estudos de implantao a partir da primeira estimativa de rea para

    as casas. rea vendvel em torno de 3600m ........................................................................ 69

    Figura 5-14: Evoluo dos estudos de implantao aps estudo de ventilao e da nova

    estimativa de rea, com adensamento menor ........................................................................ 70

    Figura 5-15: Implantao apresentada banca de Qualificao, depois da manipulao de

    modelos volumtricos .......................................................................................................... 70

  • Figura 5-16: Procedimento utilizado para o estudo dos nveis do terreno .............................. 71

    Figura 5-17: Estudo 03: escolhido por cortar menos o terreno, em comparao com os outros

    ............................................................................................................................................ 71

    Figura 5-18: Quadro resumo, destacando os trs estudos realizados nas maquetes de isopor . 72

    Figura 5-19: Implantao final, depois de locados os grupos geminados, e das circulaes, dos

    acessos e dos equipamentos auxiliares definidos .................................................................. 73

    Figura 5-20: Croquis iniciais para as casas do condomnio ................................................... 74

    Figura 5-21: Evoluo da planta da casa (fachada frontal larga, intermediria e estreita,

    indicadas pelas setas vermelhas) .......................................................................................... 74

    Figura 5-22: Plantas baixas dos nveis trreo e superior da casa tipo A ................................. 75

    Figura 5-23: Estudo volumtrico para o padro de casas BB ................................................ 76

    Figura 5-24: Alteraes iniciais relativas cobertura das casas e a sua adequao ao terreno 77

    Figura 5-25: Novos estudos no que se refere aos protetores solares das fachadas .................. 78

    Figura 5-26: Penltimo estudo produzido para as casas ........................................................ 78

    Figura 5-27: Simulao da proteo solar nas quatro fachadas de um grupo geminado ......... 79

    Figura 5-28: Grupo geminado BB, em fase de estudo, decomposto em suas partes principais

    ............................................................................................................................................ 80

    Figura 5-29: Esquema da lgica utilizada para a composio da regra, baseada nos princpios

    da subtrao e dos marcadores ............................................................................................. 81

    Figura 5-30: Ambientes que poderiam ser subtrados atravs da regra, na casa tipo A .......... 82

    Figura 5-31: Quadro explicativo sobre a relao entre os 5 tipos de programa (retngulos

    coloridos) e a aplicao da regra nos ambientes possveis..................................................... 82

    Figura 5-32: Regras complementares para definir os grupos geminados ............................... 83

    Figura 5-33: Quadro resumo com as definies programticas depois de aplicadas todas as

    regras ................................................................................................................................... 83

    Figura 5-34: Quadro resumo com as regras utilizadas ........................................................... 84

    Figura 5-35: Flexibilidade proporcionada pelo terrao na casa B .......................................... 88

    Figura 5-36: Quadro dos elementos facilitadores da flexibilidade nos projetos dos grupos

    geminados ............................................................................................................................ 89

    Figura 5-37: O banheiro social pode ser adaptado a portadores de necessidades especiais e a

    cozinha pode ser integrada atravs de mvel ou de divisria mvel. Desenho sem escala

    definida ................................................................................................................................ 89

    Figura 5-38: Possveis modificaes no trreo das casas A, B e C. Desenho sem escala

    definida ................................................................................................................................ 90

  • Figura 5-39: Possveis modificaes no trreo das casas D e E. Desenho sem escala definida

    ............................................................................................................................................ 91

    Figura 5-40: Possveis modificaes no pav. superior da casa A. Desenho sem escala definida

    ............................................................................................................................................ 92

    Figura 5-41: Possveis modificaes no pav. superior da casa B. Desenho sem escala definida

    ............................................................................................................................................ 92

    Figura 5-42: Possveis modificaes no pav. superior da casa C. Desenho sem escala definida

    ............................................................................................................................................ 92

    Figura 5-43: Possveis modificaes no pav. superior da casa D. Desenho sem escala definida

    ............................................................................................................................................ 93

    Figura 5-44: Possveis modificaes no pav. superior da casa E. Desenho sem escala definida

    ............................................................................................................................................ 93

    Figura 5-45: Fachada posterior de uma das casas do condomnio, em estudo do isolamento

    promovido pelos materiais ................................................................................................... 94

    Figura 5-46: Estudo da atenuao sonora gerada por um muro de 3m de altura .................... 95

    Figura 5-47: Atenuao sonora qualitativa gerada pelo cinturo vegetal entre as casas ......... 96

    Figura 5-48: Quadro com valores de isolamento acstico registrados em campo .................. 97

    Figura 5-49: Indicaes de materiais para a parede de geminao e seus respectivos ndices de

    reduo sonora ..................................................................................................................... 97

    Figura 5-50: Corte esquemtico mostrando a composio da parede de geminao. Desenho

    sem escala definida .............................................................................................................. 98

    Figura 5-51: Croquis para estudo da rea de lazer ................................................................ 99

    Figura 5-52: Planta baixa final da rea de lazer .................................................................. 100

    Figura 5-53: rea de lazer e simulao das fachadas Sudeste e Nordeste no programa Ecotect

    .......................................................................................................................................... 100

    Figura 5-54: rea de lazer estudo final ............................................................................ 101

    Figura 5-55: Croquis de estudo para a guarita..................................................................... 102

    Figura 5-56: Guarita e simulao da fachada Noroeste no programa Ecotect ...................... 103

    Figura 5-57: Guarita estudo final ..................................................................................... 103

    Figura 5-58: Estudos para o muro externo do condomnio proposta semi-fechada e proposta

    final, vazada e com plantas................................................................................................. 104

    Figura 6-1: Implantao final ............................................................................................. 105

    Figura 6-2: Pisos de concreto para as vias e caladas do condomnio .................................. 106

    Figura 6-3: Piso para a rea da piscina (imagem ilustrativa) ............................................... 106

  • Figura 6-4: Poste com lixeira e banco ................................................................................. 107

    Figura 6-5: Mdulo de postes e bancos (rea de descanso) ................................................. 107

    Figura 6-6: Proposio final para o muro externo ............................................................... 108

    Figura 6-7: Condomnio de casas inserido em seu contexto urbano .................................... 108

    Figura 6-8: Modelos esquemticos alcanados aps a associao da aplicao das regras de

    subtrao e de agrupamento dos volumes, ao programa de necessidades ............................ 110

    Figura 6-9: Quadro com ilustraes dos tipos de grupo, em planta e modelados, com e sem os

    protetores solares (pele) ..................................................................................................... 110

    Figura 6-10: Croqui inicial e modelo de esquadria de vedao para as casas do condomnio

    .......................................................................................................................................... 111

    Figura 6-11: Estacionamentos das casas, cobertos por caramanches ................................. 112

    Figura 6-12: Exemplo de interior de casa com estrutura de concreto armado, vedao de tijolo

    macio e instalaes eltricas externas (imagem ilustrativa) ............................................... 112

    Figura 6-13: Espao destinado s Caixas dgua e s mquinas de ar-condicionado (espao

    residual na laje tcnica). Sem escala definida ..................................................................... 113

    Figura 6-14: Tijolo Langer, produzido em Macaiba ............................................................ 113

    Figura 6-15: Parede interna do tipo dry-wall ...................................................................... 114

    Figura 6-16: Vista do grupo geminado BB explodido ..................................................... 115

    Figura 6-17: Unidades habitacionais geminadas ................................................................. 116

    Figura 6-18: Corte esquemtido da casa B, destacando o bloqueio solar e a permeabilidade

    dos ventos .......................................................................................................................... 117

    Figura 6-19: Isotelha Isoeste em ao pr-pintado e recheio em EPS .................................... 117

    Figura 6-20: Demonstrao da permeabilidade dos ventos por baixo da cobertura do grupo

    geminado CD ..................................................................................................................... 118

    Figura 6-21: Fachadas frontal e posterior da rea de lazer .................................................. 119

    Figura 6-22: Volumetria final da guarita, com destaque para as fachadas frontal e lateral ... 120

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 5-1: Fluxograma sobre o processo de elaborao das regras ..................................... 85

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .....................................................................................................................................14

    PARTE I: REFERNCIAS PARA O PROJETO.........................................................................................18

    2 REFERENCIAL TERICO-CONCEITUAL ......................................................................................18

    2.1 A GRAMTICA DA FORMA COMO PROCESSO DE SNTESE DO PROJETO .................................................18

    2.2 A MODULAO E A COORDENAO MODULAR COMO ESTRATGIAS DE FLEXIBILIDADE NO EDIFCIO E DE

    SUSTENTABILIDADE ECONMICA E AMBIENTAL .............................................................................................23

    3 ESTUDOS DE REFERNCIA .............................................................................................................28

    3.1 ESTUDO DE REFERNCIA 01: CASAS CUBO, PETER EISENMAN............................................................28

    3.2 ESTUDO DE REFERNCIA 02: CASAS SOBRADO, CONCURSO HABITAO PARA TODOS .....................31

    3.3 ESTUDOS DE REFERNCIA 03 E 04: DAHOAM NATUR RESIDENCE E SIMPSON-LEE HOUSE .....................35

    3.4 ESTUDO DE REFERNCIA 05: O AO EM EDIFICAES DE PEQUENO PORTE EM NATAL E CIDADES

    VIZINHAS .....................................................................................................................................................39

    PARTE II: PROPOSTA PROJETUAL ........................................................................................................42

    4 CONDICIONANTES PROJETUAIS ...................................................................................................42

    4.1 REA DE INTERVENO E PBLICO ALVO .........................................................................................42

    4.2 ASPECTOS FSICOS E AMBIENTAIS .....................................................................................................45

    4.3 ASPECTOS LEGAIS ...........................................................................................................................48

    4.4 ASPECTOS FUNCIONAIS DAS CASAS E DO CONDOMNIO ......................................................................49

    4.5 ASPECTOS ORAMENTRIOS: ESTIMATIVAS DE REAS .......................................................................51

    5 CONCEPO E PROCESSO PROJETUAL ......................................................................................55

    5.1 RELATO GERAL DO PROCESSO ..........................................................................................................55

    5.2 CONDOMNIO: EVOLUO DAS IDEIAS PARA A IMPLANTAO LUZ DAS ESTIMATIVAS DE REA E DA

    VENTILAO ................................................................................................................................................67

    5.3 CASAS: EVOLUO DAS IDEIAS LUZ DA IMPLANTAO E DA GRAMTICA DA FORMA .......................73

    5.3.1 Regras a partir de princpios da gramtica da forma ..................................................................80

    5.3.2 Estudos de flexibilidade residencial ............................................................................................86

    5.3.3 Desempenho acstico do condomnio e das casas ........................................................................94

    5.4 REA DE LAZER E GUARITA .............................................................................................................99

    6 DETALHAMENTO DA PROPOSTA FINAL ................................................................................... 105

    6.1 DO CONDOMNIO ........................................................................................................................... 105

    6.2 DAS CASAS .................................................................................................................................... 109

  • 6.2.1 Desempenho termo-acstico ..................................................................................................... 116

    6.3 DAS EDIFICAES DE LAZER E GUARITA ......................................................................................... 118

    7 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................................. 121

    REFERNCIAS .......................................................................................................................................... 124

    APNDICES ............................................................................................................................................... 127

    APNDICE A: CLCULOS DE DESEMPENHO ACSTICO .................................................................................. 128

    APNDICE B: EXERCCIOS DE ESTEIRAS DE VENTOS ..................................................................................... 130

    APNDICE C: MEMRIA DE CLCULO DESENVOLVIDO NO ESCRITRIO ......................................................... 134

    APNDICE D: SIMULAES NO HELIODON E NO ECOTECT ............................................................................ 135

    ANEXOS...................................................................................................................................................... 137

    ANEXO A: CARACTERSTICAS DO BAIRRO DE CAPIM MACIO ........................................................................ 138

    ANEXO B: PLANO DIRETOR DE NATAL, CDIGO DE OBRAS DO MUNICPIO E NBR 15.575:13 ........................ 141

    ANEXO C: ROSA DOS VENTOS, INPE, 2009 ................................................................................................. 144

    ANEXO D: ESPECIFICAES DE MATERIAIS ................................................................................................. 145

  • 14

    1 INTRODUO

    A dissertao aqui apresentada tem como tema a aplicao de princpios da gramtica

    da forma ao processo de concepo do projeto de um condomnio residencial horizontal na

    cidade de Natal, com foco na criao de uma identidade arquitetnica para as casas, atravs da

    elaborao de uma diversidade de modelos volumtricos.

    O principal motivo para a escolha deste tema de ordem pessoal: o desejo de morar

    em uma casa com as mesmas caractersticas das que foram elaboradas no projeto do

    condomnio desta dissertao, que dividem o mesmo terreno com outras, estando inseridas em

    uma rea de fcil acesso em relao aos demais bairros da cidade.

    Alm disso, deve-se tambm destacar a inquietao pessoal em relao ao ato de

    projetar no cotidiano do escritrio de arquitetura, em que, muitas vezes, o que poderia ser

    identificado como etapa de uma metodologia de projeto, transforma-se em resolues de

    problemas inesperados e em curto espao de tempo. Assim, como estimular a criatividade no

    processo de projeto dirio? Ou como aliar poesia e razo (PINTO, 2007, p. 67), no caso

    especfico da arquitetura? Foram essas as questes iniciais que motivaram a procura pelo

    Mestrado Profissional do PPGAU/UFRN e, no mbito das discusses e conhecimentos

    adquiridos nas suas disciplinas, notadamente de metodologia de projeto e de conforto e

    sustentabilidade ambiental, delineou-se de forma mais clara o objeto desta dissertao.

    Dessa maneira, como objeto deste trabalho, ser apresentado o anteprojeto de

    arquitetura de um condomnio residencial horizontal para um segmento da classe mdia,

    desenvolvido a partir da aplicao de princpios de uma metodologia especfica, associados ao

    processo de projeto individual, contemplando, tambm, princpios de sustentabilidade

    ambiental.

    A gramtica da forma, metodologia de projeto estudada, foi desenvolvida por George

    Stiny e James Gips na dcada de 1970, e utilizada para a anlise e a sntese de projetos,

    atravs da elaborao de regras formais que envolvem operaes matemticas e geomtricas,

    como adies e rotaes. No caso deste trabalho, princpios da gramtica da forma foram

    utilizados ao longo do processo de sntese projetual.

    Alm das regras elaboradas atravs de alguns princpios da metodologia escolhida,

    outros fatores complementaram as tomadas de decises durante o processo de concepo, tais

    como os condicionantes legais, fsicos e ambientais, indispensveis quando se pretende

    estudar um objeto com possibilidade de execuo real, e no apenas se trabalhar no campo

    dos estudos formais. Nesse contexto, ainda foram acrescentadas questes sobre a modulao e

  • 15

    a racionalizao do projeto, como possveis viabilizadoras da flexibilidade formal e funcional

    e de uma obra sem desperdcios, com menor impacto ao meio ambiente.

    Assim sendo, constituram-se como objetivos especficos desta dissertao:

    Mapear o processo de projeto individual, desenvolvido no decorrer do

    trabalho;

    Definir e aplicar regras de composio a partir de princpios da gramtica da

    forma ao processo de projeto;

    Aplicar princpios de sustentabilidade ambiental no projeto;

    Aplicar princpios de flexibilidade (formal e funcional) ao projeto residencial;

    Aplicar noes de coordenao modular e racionalizao construtiva no

    projeto de condomnio proposto para segmento da classe mdia natalense, com

    perfil predominantemente universitrio.

    O terreno escolhido para a implantao do condomnio residencial horizontal est

    situado no bairro de Capim Macio, na zona Sul da cidade de Natal, em uma rua que d acesso

    ao Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Sua localizao

    privilegiada, j que est inserido em um bairro hoje em dia considerado central na cidade,

    associada ao seu gabarito, limitado a seis metros de altura, e ao seu desnvel natural, de

    aproximadamente 7% ao longo de sua maior extenso, apresentaram-se como importantes

    elementos condicionantes da elaborao do projeto.

    Nesse contexto, importante destacar a vocao residencial existente no bairro e a

    especulao imobiliria sobre alguns de seus terrenos, que possuem grandes reas, associadas

    a um limite de gabarito que s permite a construo de no mximo dois pavimentos, e que,

    por isso, encontram-se sem uso. Dessa forma, como seria o projeto de um condomnio de

    casas para um terreno nessa rea, considerando-o para a classe mdia, representada por um

    pblico hipottico de professores universitrios, que buscam um estilo de vida mais

    sustentvel do ponto de vista ambiental e econmico?

    Os estudos de referncia sobre forma, processo de projeto, princpios de

    sustentabilidade e elementos construtivos (metlicos) aplicados a condomnios de casas foram

    desenvolvidos tanto de forma direta, com visita ao local, como de forma indireta, atravs de

    informaes coletadas em dissertaes, livros, artigos e stios na internet. Analisar projetos

    existentes foi imprescindvel para o entendimento do objeto e o desenvolvimento das casas

    aqui apresentadas. Tanto que, alm dos cinco estudos desenvolvidos, outras referncias so

    citadas no decorrer do texto.

  • 16

    O trabalho apresenta-se dividido em dois volumes. O primeiro, em forma de registro

    textual do projeto, com a explicitao de seu processo de concepo, desde a definio dos

    conceitos, partido arquitetnico e sua evoluo at se chegar proposta final, atravs do

    memorial descritivo e justificativo. O segundo, com as pranchas e os modelos tridimensionais

    do projeto em fase de anteprojeto, contendo desenhos tcnicos e esquemticos para o melhor

    entendimento da proposta.

    O Volume I, textual, foi dividido em duas partes. A primeira, composta por dois

    captulos, trata sobre as referncias utilizadas para o desenvolvimento do projeto. A segunda,

    que abrange os captulos quatro a oito, discorre sobre os condicionantes projetuais, o processo

    de projeto e o seu memorial.

    No que se refere aos captulos, o primeiro composto por esta introduo.

    No segundo, apresenta-se um breve referencial terico-conceitual, em que foi revisada

    a teoria da gramtica da forma, alm de estudado o conceito de modulao do projeto como

    uma estratgia de flexibilidade residencial e de sustentabilidade econmica e ambiental.

    No terceiro captulo, so apresentados os estudos de referncias projetuais, que

    contemplaram exemplos locais, regionais e internacionais.

    No captulo quatro so apresentados os aspectos que condicionaram o projeto em sua

    fase inicial, no que se refere rea de interveno, s questes ambientais, legais e

    programticas.

    No quinto captulo, o processo de concepo aparece mapeado, com o objetivo de

    representar, mesmo que de forma simplificada, como as etapas foram sendo superadas,

    marcando progresses e retornos.

    No captulo seis apresenta-se o memorial descritivo e justificativo, com nfase na

    descrio do partido arquitetnico, fruto do processo de concepo descrito no captulo

    anterior, composto pela opo pela modulao do projeto, pela adoo de solues formais

    baseadas em regras de uma gramtica e em princpios da arquitetura vernacular do Nordeste

    (beirais e varandas como meios de sombrear as fachadas, por exemplo) para a promoo do

    conforto trmico nas edificaes em climas quente-midos.

    Em seguida, so apresentados os captulos sete, com as consideraes finais; em

    seguida as referncias bibliogrficas e de internet utilizadas; alm dos apndices, com os

    estudos realizados, e os anexos, que trazem as normas consultadas.

    No Volume 02, as pranchas de representao grfica do projeto apresentam plantas

    baixas dos pavimentos dos trs grupos geminados de casas, suas respectivas plantas de

    cobertura, cortes, fachadas, e modelos tridimensionais, alm das pranchas das implantaes,

  • 17

    sendo uma com as coberturas das casas e a outra com as mesmas representadas em planta

    baixa. Alm disso, outros projetos foram desenvolvidos, como o da guarita e o do salo de

    festas.

  • 18

    PARTE I: REFERNCIAS PARA O PROJETO

    2 REFERENCIAL TERICO-CONCEITUAL

    Neste referencial terico-conceitual foram revisados os dois aspectos que mais se

    destacaram e deram suporte ao processo de projeto apresentado nesta dissertao. Um deles

    foi a gramtica da forma, o formalismo (CELANI ET AL., 2006) que embasou o estudo e a

    definio da forma das casas, atravs de regras definidas a partir dos princpios da subtrao e

    dos marcadores, explicitados no item seguinte.

    O outro tema abordado foi o da modulao como uma estratgia para o alcance da

    flexibilidade formal e funcional residencial, e da sustentabilidade econmica e ambiental.

    Assim, o texto apresenta alguns exemplos prticos da aplicao do mdulo e da coordenao

    modular no decorrer da histria, alm de uma sntese sobre o que foi publicado sobre o

    assunto por alguns autores nos contextos mundial, nacional e local.

    2.1 A GRAMTICA DA FORMA COMO PROCESSO DE SNTESE DO PROJETO

    No contexto deste trabalho de mestrado, pode-se dizer que a gramtica da forma foi

    adotada como um meio para se estudar relaes formais de uma maneira lgica,

    particularmente diferente do praticado no dia a dia do escritrio. Neste sentido, vlido

    destacar o que escreveu Mitchell (2008, p. 196) sobre o processo de composio formal:

    [] o processo de explorao projetual raramente se constitui em um processo

    indiscriminado de tentativa e erro, sendo normalmente guiado pelo

    conhecimento do arquiteto sobre como combinar as formas. Esse conhecimento

    pode ser explicitado de maneira uniforme e concisa, por meio da definio de

    regras de composio.

    Assim, atravs da busca por regras definidoras de formas a partir de suas relaes,

    que foi estudada a gramtica da forma, mtodo desenvolvido na dcada de 1970 por James

    Gips e George Stiny para descrever e gerar formas atravs de relaes matemticas ou

    geomtricas. Inicialmente, seus criadores, que se basearam na gramtica generativa de

    Chomsky1 (1957) e nos sistemas de produo do matemtico Emil Post (1943), imaginavam

    utilizar a gramtica no campo da escultura (tridimensional) e da pintura (bidimensional),

    atravs da elaborao de regras de composio que dariam origem a uma linguagem, criada

    1 O linguista Noam Chomsky, na dcada de 1950, criou uma gramtica prpria, formada, segundo Vaz (2009),

    [] por um vocabulrio constitudo de palavras ou smbolos e um conjunto de regras que especificam a

    combinao dos elementos para formar uma string (sequncia) de smbolos, ou sentenas, em uma linguagem.

  • 19

    como prpria e identificadora de uma srie de trabalhos. A ideia era que as regras de

    composio das formas fossem elaboradas antes das obras.

    De acordo com Gips e Stiny (1971) no primeiro trabalho sobre o assunto, as formas

    deviam ser criadas por uma gramtica atravs da aplicao sucessiva de regras sobre um

    elemento inicial. Assim, atravs de duas colunas, em que a da esquerda reservada forma

    inicial, e a da direita derivada, num sistema lgico de transformao do tipo se A B (Se A,

    ento B), o processo de aplicao de regras segue como descrevem seus criadores:

    (1) encontre a forma geometricamente semelhante ao lado esquerdo da regra,

    tanto no que se refere ao elemento acabado, como sua continuidade; (2)

    encontre as transformaes geomtricas (escala, translao, rotao,

    espelhamento), que fazem com que o lado esquerdo da regra se torne idntico

    sua parte correspondente na forma; e (3) aplique as transformaes ao lado

    direito da regra e o substitua pela parte correspondente da forma (GIPS; STINY,

    1971) (traduo nossa)

    Celani et al. (2006) traduzem de maneira muita didtica o incio do processo em questo,

    destacando os elementos de uma gramtica da forma (Figura 2-1):

    Figura 2-1: Elementos de uma gramtica da forma

    Fonte: Celani et al., 2006

    Derivadas da gramtica da forma, surgiram a gramtica paramtrica, em que, segundo

    Duarte, 2007 (apud Vaz, 2009, p. 45), uma regra parametrizada equivale a um conjunto de

    regras; e a gramtica das cores, que insere um terceiro elemento, o campo de cor, s regras

    (Knight apud Vaz, 2009, p. 47) (Figura 2-2).

  • 20

    Figura 2-2: Exemplo de uma gramtica das cores (Jardins Persas)

    Fonte: Knight, 1989, apud Vaz, 2009

    No que se refere ao processo, Vaz (2009, p. 42) explica que marcadores podem ser

    empregados s regras, possibilitando o controle do processo de gerao e manipulao das

    formas em uma gramtica. Assim, marcadores (qualquer forma, letra ou smbolo grfico

    ponto, eixo, entre outros) que limitem a simetria da forma, a pr-ordenao das regras que

    sero utilizadas e o nmero de vezes que sero aplicadas, podem ser reconhecidos como

    restries necessrias para que no sejam obtidos resultados incoerentes no que se refere s

    caractersticas funcionais e formais dos projetos analisados ou em processo de sntese (Figura

    2-3).

    Figura 2-3: Exemplo da aplicao de marcadores em regras de adio de uma gramtica bsica

    Fonte: Knight, 1997, apud Vaz, 2009

  • 21

    Segundo Mitchell (2008, p.121), no que se refere a operaes projetuais, um operador

    pode ser definido como uma ferramenta que permite a manipulao de formas em um mundo

    projetual. Assim, um operador uma funo que ao ser aplicada altera o estado 1 (estado

    inicial), transformando-o em estado 2 (estado derivado). Graficamente, a sentena descrita

    pode ser representada pela Figura 2-4:

    Figura 2-4: Operador no mundo projetual

    Estado 1 operador Estado 2

    Fonte: Mitchell, 2008

    Os operadores podem ser encarados como transformaes no mundo projetual. Nesse

    sentido, as transformaes unrias mais comuns so, segundo Mitchell (2008, p.127), a

    rotao e a translao. As transformaes binrias, com as quais a partir da interao entre

    duas coisas se obtm uma terceira, podem ser exemplificadas com a subtrao, a unio e a

    interseco, conforme Gips e Stiny (apud Vaz, 2009, p. 37). Essas ltimas so conhecidas por

    operaes booleanas2.

    Assim, possvel visualizar o exposto atravs da Figura 2-5:

    Figura 2-5: Representao grfica simplificada das operaes

    Objeto 1 Operao unria Objeto 2

    Objeto 1 Operao binria Objeto 3

    Objeto 2

    Fonte: Mitchell, 2008

    No que se refere ao princpio da transformao subtrao, Vaz (2009, ps. 39, 40)

    explica, atravs das formas iniciais S1 e S2, em que S1 S2 resulta sempre numa subforma

    de S1, que o resultado formal ser composto por linhas presentes na primeira forma que no

    existem na segunda (Figura 2-6).

    2 George Boole (1815- 1864), em seu livro The laws of Thought, iniciou o estudo sistemtico da lgica atravs

    de um sistema algbrico, hoje conhecido como lgebra booleana.

  • 22

    Figura 2-6: Exemplo da operao algbrica subtrao

    Fonte: Stiny, 1975, apud Vaz, 2009

    Sobre a utilizao da gramtica da forma para a criao de novas linguagens

    (gramtica utilizada no processo de sntese de projeto), modo como foi trabalhada nesta

    dissertao, Vaz (2009, p. 60) afirma que o processo menos objetivo e mais livre que o de

    anlise, pois o conjunto soluo a ser alcanado ser a partir de regras criadas pelo prprio

    autor da gramtica, que possui a liberdade de modific-las se assim achar conveniente para a

    contemplao de seus objetivos. Na gramtica da forma utilizada como mtodo de anlise, um

    grupo de projetos se torna a referncia para a extrao das regras, num processo de descoberta

    de composies que sejam semelhantes s existentes no rol inicial.

    Foi a partir da compreenso da citao abaixo (MITCHELL, 2008, p. 122),

    Uma estratgia prtica para caracterizar operadores de projeto, de maneira incompleta porm til, supor que eles podem ser aplicados diretamente s

    formas, e identificar seus efeitos geomtricos imediatos sobre elas. Em seguida,

    possvel identificar seus efeitos indiretos, combinando-se os efeitos

    geomtricos com informaes sobre o mundo projetual, o que permite que se

    faam novas interferncias []

    associada busca constante por regras de composio formal, que se tornou possvel

    encontrar uma coerncia entre o princpio da utilizao de marcadores, o operador binrio

    (transformao) subtrao e o programa arquitetnico de base, resultando numa relao

    atravs da qual se criou uma linguagem formal para as casas do condomnio proposto.

    A gramtica da forma, desta maneira, apareceu no processo de sntese do projeto do

    condomnio residencial desta dissertao, atravs de dois princpios relacionados

    programao das casas, com subtraes formais e restries no que se refere esttica das

  • 23

    unidades conjugadas, bem como relao entre as casas vizinhas, como ser explicitado no

    captulo 5. Deve-se, desde logo, destacar que, apesar do recurso a esta importante

    metodologia, o estudo no foi puramente formal. Ele tambm levou em considerao os

    demais condicionantes projetuais como os aspectos legais, os fatores climticos e a topografia

    do lugar, que j estavam sendo analisados em paralelo aos estudos formais.

    2.2 A MODULAO E A COORDENAO MODULAR COMO ESTRATGIAS DE FLEXIBILIDADE

    NO EDIFCIO E DE SUSTENTABILIDADE ECONMICA E AMBIENTAL

    No mbito da discusso sobre sistemas estruturais e de vedao relacionados a

    princpios de sustentabilidade econmica e ambiental, cabe considerar a modulao como

    uma estratgia para a racionalizao da construo, que viabiliza o uso de produtos pr-

    fabricados/ industrializados de uma forma planejada e responsvel, e ao mesmo tempo,

    permite a flexibilidade das composies formais e de layouts.

    Segundo Greven e Baldauf (2007, p. 15), em seu trabalho sobre coordenao modular,

    o mdulo significa, de forma objetiva, a medida reguladora das propores de uma obra

    arquitetnica; ou a quantidade que se toma como unidade de qualquer medida.

    Assim, importante considerar a coordenao modular, que pode ser entendida como

    um sistema que qualificou a produo e a indstria da construo em vrios pases e que deve

    ser considerada, no momento atual, aliada a questes de sustentabilidade econmica e

    ambiental. Segundo os autores citados,

    As quest es econ micas dizem respeito reduo de custos em vrias etapas do

    processo construtivo quando do uso da Coordenao odular. Essa reduo de

    custos ocorre seja por otimizao do uso da matria-prima, seja pela agilidade

    no processo de deciso de projeto ou compra dos componentes, seja por

    aumento da produtividade, seja por diminuio das perdas. Com relao

    sustentabilidade, a utilizao da Coordenao Modular traz um melhor

    aproveitamento dos componentes construtivos e, em conseq ncia disso,

    otimizao do consumo de matrias-primas, de consumo energtico para

    produo desses componentes e, por fim, de sobras desses componentes em funo dos in meros cortes que sofrem na etapa de construo. (GREVEN;

    BALDAUF, 2007, p.12)

    com a coordenao modular que os estudos sobre a padronizao de medidas dos

    elementos da construo, a sua produo e montagem, alm da organizao do tempo e

    controle de custos durante a execuo da obra, at a sua posterior manuteno, podem ser

    relacionados e postos em prtica.

    No que se refere forma de utilizao do mdulo no decorrer da Histria, segundo

    Rosso, 1976 (apud Greven e Baldauf, 2007), os gregos imprimiram um carter esttico,

    atravs do dimetro da coluna como unidade bsica de harmonia; os romanos, esttico-

  • 24

    funcional, com a criao de padres de medidas com base antropomtrica, utilizadas tanto

    para componentes construtivos como para o planejamento das cidades; e os japoneses,

    funcional, em que, em linhas gerais, as dimenses dos ambientes seguiam a dimenses

    modulares dos tatames.

    Para melhorar o entendimento sobre mdulo, coordenao modular e a consequente

    racionalizao projetual, foram tambm revistas referncias de sua utilizao na prtica,

    atravs de alguns exemplos ao longo da histria. Nesse sentido, a primeira aplicao de

    coordenao modular foi registrada entre 1850 e 1851, no panorama da Revoluo Industrial

    na Europa, com a construo do Palcio de Cristal para a Exposio Universal de Londres.

    Nesse contexto, os processos de produo e construo, com a utilizao crescente do ferro e

    do vidro e sua produo em massa, passaram por estudos, revises e adaptaes. O Palcio de

    Cristal, assim, pde ser construdo em nove meses, com componentes pr-fabricados

    produzidos e montados no local, seguindo a dimenso da maior placa de vidro (240 cm) que

    era produzida, como mdulo determinante do reticulado da malha.

    No incio do sculo XX,

    [] a casa de eissenhof, a planta era modular, e na Casa Amplivel,

    Gropius obtinha o crescimento da edificao por adio de alguns corpos

    volumtricos. ara Grisotti (1 6 ), essas casas eram, at ento, os exemplos, em

    termos tecnolgicos, mais aprofundados sobre os estudos de modulao, pois

    nelas a escolha do mdulo teve uma precisa justificao tcnico-produtiva.

    Alm disso, foram realizados a Coordenao odular em tr s dimens es, a

    indicao das juntas, o estudo das esquadrias e dos equipamentos fixos,

    dimensionalmente coordenados com a malha de refer ncia, as preocupa es

    com os tempos e custos de montagem. Tudo isso demonstrava a qual grau de

    profundidade havia chegado a pesquisa de Gropius, seja no nvel terico, seja

    no estudo tecnolgico dos materiais e dos processos de fabricao. (GREVEN; BALDAUF, 2007, ps. 25 e 26)

    Para Gropius (1994, p. 1 7), ser racional ser literalmente razovel. o contexto da

    Bauhaus, a frase em destaque se apresentava tanto nas exigncias econmicas, como nas

    psicolgicas e sociais, sendo assim, j em 1919, na realidade da cidade industrial da poca,

    bastante atual e, por que no dizer, sustentvel do ponto de vista econmico e social.

    Na obra Ensaio sobre a razo compositiva, Mahfuz (1995) apresenta, em Como as

    partes so geradas, quatro mtodos de composio de projeto utilizados, de forma geral,

    combinados entre si. O mtodo Normativo insere o conceito de norma relacionado s decises

    estticas na forma de princpios reguladores assumidos pelos projetistas, sejam esses

    bidimensionais ou tridimensionais. Como exemplos, possvel citar a grelha bidimensional

    de Mies van der Rohe e a grelha geomtrica do sistema estrutural das casas Domino, de Le

    Corbusier, composta por lajes e uma escadaria (Figura 2-7). Este ltimo projeto, de 1914,

  • 25

    apresenta como soluo racional a sua fabricao atravs de elementos-padro combinveis

    entre si, o que permite uma variedade de composies no agrupamento das casas.

    Figura 2-7: Grelha bidimensional em projeto de Mies van der Rohe, esquerda, e Grelha

    tridimensional Do-mino, de Le Corbusier, para casas pr-fabricadas

    Fonte: Mahfuz, 1995

    Em outro momento, a reconstruo que deveria acontecer por causa do estrago

    causado pela Segunda Guerra Mundial foi o fenmeno que inspirou o alemo Ernst Neufert a

    criar um sistema de coordenao que no alterasse substancialmente a dimenso do tijolo

    utilizado poca, o sistema octamtrico. Baseada em seu estudo, a primeira norma alem

    sobre o assunto, a DIN 4172, foi elaborada em 1951. Desde ento at o ano de 1965,

    4.400.000 habitaes foram construdas na Alemanha de acordo com o sistema criado por

    Neufert. Atravs desses resultados, foi possvel comprovar a viabilidade da utilizao da

    coordenao modular naquele contexto.

    No que se refere flexibilidade formal e funcional, proporcionada pela utilizao do

    mdulo, so citados como exemplo os projetos das Casas Usonianas, de Frank Lloyd Wright,

    e os apontamentos de Holanda (1976), alm da contribuio de Finkelstein (2009), que

    acrescenta tambm sobre a aplicao do conceito na arquitetura do sculo XXI.

    Assim, seguindo a linha da racionalizao do projeto, relacionada economia da

    construo, as Usonian Houses, ou Casas Usonianas de F.L.Wright, surgiram durante a

    Grande Depresso Americana (1929) como uma alternativa de casa acessvel populao.

    Com ambientes mais compactos e zoneados de forma estratgica para a sua ampliao e

    adaptao a diferentes composies familiares, a Casa Usoniana, com seus panos de vidro na

    sala de estar, permitindo a relao da edificao com a natureza, pertence ao racionalismo

    orgnico de Frank Lloyd Wright (PANET et al., 2007) (Figura 2-8).

  • 26

    Figura 2-8: Modulao da planta da Casa Usoniana

    Fonte: Panet et al., 2007

    Trazendo o conceito da modulao para o Nordeste do Brasil, importante lembrar

    Armando de Holanda (1976, p.37), que aponta diretrizes para a forma de construir na regio.

    Neste ponto, entre outras sugestes, Holanda incentiva a racionalizao da construo quando

    indica o desenvolvimento e a utilizao de elementos padronizados que possam ser

    combinados de diversas formas, promovendo relaes diferentes entre si (flexibilidade

    formal), podendo assim reduzir os custos de execuo da obra. Uma postura que pode ser

    entendida como sustentvel do ponto de vista econmico, social e ambiental (Figura 2-9).

    Figura 2-9: Diferentes combinaes para o mesmo elemento construtivo

    Fonte: Holanda, 1976, p. 37

    No que se refere modulao em planta como uma estratgia facilitadora da

    flexibilidade residencial, Finkelstein (2009) afirma que a utilizao do mdulo pode

    proporcionar a interao planejada entre os elementos componentes em uma obra,

    promovendo a compatibilizao entre os sistemas e elementos envolvidos, alcanando a

    reduo dos custos, consequentemente.

    Finkelstein (2009) ainda discute sobre diversos aspectos da flexibilidade residencial e

    constata que

    Atualmente, a oferta de apartamentos baseada em uma famlia standard no

    tem a ver com a realidade urbana, visto que esta se modifica constantemente

    caracterizada por diversas mudanas de cultura e de tecnologia que

  • 27

    transformam os hbitos de trabalho e da vida domstica [] (FINKELSTEIN,

    2009, p. 61)

    Nesse sentido, possvel associar a flexibilidade no imvel a ser habitado, seja apartamento

    ou casa, ao grau de liberdade que passado para o usurio no sentido de poder modificar o

    espao. Galfetti, 1997 (apud FINKELSTEIN, 2009, p. 61) afirma que a flexibilidade

    residencial aliada tecnologia e ao conceito de mobilidade preenche um vazio existente entre

    o arquiteto e o cliente final. Ainda segundo o autor, h a flexibilidade inicial, que acontece

    quando o cliente faz suas escolhas ainda na fase do planejamento, quando opta por um tipo de

    planta especfica de apartamento entre as ofertadas em um prdio, por exemplo; e a

    flexibilidade permanente, que pode ser entendida como a usabilidade do espao. No caso

    desse ltimo tipo, ele subdivide-se em:

    [] 1- mobilidade, que a capacidade do ambiente de mudar durante o dia; 2

    evoluo, que significa a potencialidade de seguir as mudanas da famlia

    atravs dos anos; 3 elasticidade, que ocorre quando h a possibilidade de

    aumentar o nmero ou tamanho de ambientes. (FINKELSTEIN, 2009, p. 61)

    Atualmente, no contexto da realidade brasileira, sistemas construtivos leves, como o

    steel frame, composto por perfis metlicos unidos por parafusos, tm sido propostos para a

    habitao social, por exemplo, representando economia de tempo, material e mo-de-obra,

    alm de permitir combinaes volumtricas diversificadas.

    Com o exposto, possvel ratificar a coerncia, no mbito deste trabalho, da escolha

    pela modulao das plantas das casas, como uma estratgia de racionalizao da construo e

    da flexibilidade residencial, ainda mais considerando os seguintes fatores coordenados:

    repetio das unidades habitacionais; variao formal entre elas, com possibilidades de

    ampliao; e utilizao de produtos pr-fabricados internamente e em sua estrutura.

    Alm disso, possvel observar tambm que a opo pela modulao das plantas das

    casas dever facilitar o entendimento do processo com a utilizao de princpios da gramtica

    da forma, j que padronizar as dimenses dos volumes a serem estudados atravs das

    subtraes formais.

  • 28

    3 ESTUDOS DE REFERNCIA

    Neste captulo, so apresentados quatro estudos de referncia, trs deles realizados de

    forma indireta, atravs de consultas a livros, dissertaes e internet, e um sobre a utilizao de

    elementos metlicos na construo em Natal e cidades vizinhas, produzido diretamente, com

    visita aos locais.

    vlido esclarecer que cada referncia foi enquadrada nas modalidades de estudo,

    sugeridas na disciplina Atelier de Projeto II, conforme tambm detalhado no captulo 5,

    referente concepo e ao processo de projeto. Assim, as Casas Cubo de Peter Eisenman

    pertencem modalidade Tema, que abrange os estudos sobre condomnio residencial,

    habitao e processo de projeto. Nesse ponto, importante registrar que no foram

    encontrados exemplos de gramtica da forma utilizada no processo de sntese projetual, que

    pudessem servir como referncias.

    J o estudo 02, referente s Casas Sobrado, participa de tr s modalidades: Tema;

    artido/ formais e estticos, j que so casas assobradadas; e Programtico/ funcional,

    pois seu programa e zoneamento arquitetnico foram considerados adequados ao contexto

    deste trabalho.

    No que se refere s modalidades artido/ formais e estticos e De materiais/

    Sistema construtivo/ De detalhes, os estudos 03 e 04 discorrem sobre aspectos dos projetos

    do Dahoam Natur Residence e da Simpson-Lee House, que foram assumidos e adaptados

    realidade local.

    O estudo 05 trata sobre a utilizao do ao em construes em Natal e cidades

    prximas, enquadrando-se na categoria sistema construtivo.

    3.1 ESTUDO DE REFERNCIA 01: CASAS CUBO, PETER EISENMAN

    As trs primeiras casas de uma srie de dez, desenvolvidas pelo arquiteto Peter

    Eisenman, denominadas CASA I (1968), CASA II (1969-70) e CASA III (1971), foram

    selecionadas para um estudo mais aprofundado porque surgiram como resultado de um

    processo de projeto em que regras foram estabelecidas para a pesquisa da forma.

    Alheias aos stios em que foram construdas (CASA I Princeton/ EUA, CASA II

    Hardwick/ EUA, CASA III Lakeville/ EUA), as casas de Eisenman foram geradas a partir

    de uma mesma forma geomtrica, o cubo tripartido (Figura 3-1), e cada processo produziu ao

    final um modelo nico, que juntos pertencem a uma mesma gramtica.

  • 29

    Figura 3-1: Cubo tripartido

    Fonte: , acessado em 21.04.2013

    Segundo Moneo (2008, p. 146), a estratgia de Eisenman para iniciar o processo de

    cada projeto era ativar as malhas que davam origem s formas por diferentes movimentos,

    como deslocamentos, sobreposies e rotaes.

    Nos trs casos, o arquiteto utilizou dois sistemas de suporte para cada modelo, sendo

    um de colunas, o outro de paredes, o que resultou em um excesso de elementos arquitetnicos

    por sobreposio. Nos processos estudados, na medida em que um sistema permanecia

    esttico, o outro se movia, fosse lateralmente (CASA I), verticalmente e em diagonal (CASA

    II) ou por rotao (CASA III) (Figura 3-2).

    Figura 3-2: Montagem a partir de imagens coletadas na internet, mostrando o incio do processo

    de projeto de cada casa

    Fonte: Imagens coletadas em stios 3, acessados entre os dias 25.03.2013 e 10.04.2013

    3

    http://architecturalmoleskine.blogspot.com.br/2011/11/peter-eisenman-in-tokyo.htmlhttp://archinect.com/features/article/2875457/5-projects-interview-5-alexander-maymindhttp://bibliotecadearquitecto.blogspot.com.br/2010/06/casas-de-eisenman.html

  • 30

    A partir destes estudos eisenmanianos, iniciou-se a discusso em torno de algumas

    questes, como a da forma no necessariamente seguir a funo, haja vista a quantidade de

    elementos gerados, como vigas e pilares, sem funo estrutural.

    O trabalho do arquiteto, como pode ser constatado atravs das imagens, possui

    caractersticas de uma arquitetura abstrata, com leitura baseada nas relaes formais de

    oposio: [] cheios/ vazios, linear/ central, opaco/ transparente etc. (LUCENA, 2010,

    p.89). Tanto que a identificao dos acessos e dos vazios de portas e janelas no muito

    fcil.

    Algumas anlises puderam ser extradas do estudo destas trs casas. Em relao ao

    processo de projetao, por exemplo, pde-se constatar que, para o arquiteto, o processo foi

    muito mais importante do que os resultados. Assim, a elaborao da forma atravs da

    exposio da srie de relaes que vo se estabelecendo parece ser mais importante que a

    satisfao de exigncias funcionais e que a criao de objetos esteticamente interessantes.

    Com Eisenman, o processo de projeto como investigao intuitiva de formas

    derivadas de tentativas sequenciais (LUCE A, 2010, p. 1) pode ser caracterizado por

    normas que foram rigorosamente respeitadas ( O EO, 2008, p. 148), resultando em uma

    gramtica especfica para o desenvolvimento dessas trs casas.

    Assim como na gramtica da forma, possvel afirmar que Eisenman conduziu o

    processo de sntese de projeto atravs da elaborao e da aplicao de regras iniciais, baseadas

    em uma lgica de composio no que se refere aos movimentos dos elementos geomtricos

    utilizados (pilares e vigas a partir de um cubo, representando o vocabulrio formal utilizado).

    No entanto, para fortalecer a afirmao anterior, seria interessante analisar se h relaes

    formais comuns (matemticas e/ ou geomtricas) entre os trs exemplares, j que cada um tem

    seu processo iniciado por movimentos diferentes entre si. Como resultado, o projetista

    alcanou uma linguagem arquitetnica que parece ter fugido do seu controle, o que pode

    acontecer tambm nos processos em que a gramtica da forma utilizada, se esta for a

    inteno de quem elaborar as normas de composio.

    Ainda em relao ao processo das casas, os projetos resultantes parecem no ser

    racionais do ponto de vista construtivo, j que as sobreposies dos sistemas de suporte

    geraram elementos arquitetnicos sem qualquer outra funo que no fosse a esttica.

    As casas estudadas foram pintadas em tons claros, de branco a bege, pois era inteno

    do autor alcanar a ideia de maquete volumtrica, ocultando a aparncia real dos materiais,

    ratificando ainda mais a nfase que deu ao processo.

  • 31

    Como principal referncia extrada dos projetos estudados, possvel citar o prprio

    processo de projeto, j que foi baseado em regras criadas e seguidas pelo arquiteto, com o

    objetivo de defini-los volumetricamente. Ao mesmo tempo, no se tornou uma referncia o

    fato de tais regras terem sido baseadas prioritariamente em questes formais. No caso do

    condomnio desta dissertao, foi estudado um processo de projeto com nfase nas relaes

    formais, mas sem deixar de atender a outros condicionantes, como programao, princpios de

    sustentabilidade ambiental e prescries urbansticas dos cdigos municipais.

    3.2 ESTUDO DE REFERNCIA 02: CASAS SOBRADO, CONCURSO HABITAO PARA

    TODOS

    Com o objetivo principal de registrar as solues de sustentabilidade ambiental

    aplicadas a uma casa, e de relacion-las s decises programticas e funcionais para uma

    residncia, foi escolhido o projeto que ficou em segundo lugar no Concurso Habitao para

    Todos, de 2010, categoria Sobrados, de autoria dos arquitetos Carolina Neuding Afif

    Domingos, Kelly Lorenzetti Tirolli, Leonardo Nakaoka Nakandakari, Vanessa Cassettare e

    Ndia Manssur.

    Promovido pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de

    So Paulo CDHU e organizado pelo IAB-SP, o anteprojeto estudado foi desenvolvido para

    a cidade de Santos, litoral do estado de So Paulo, localizada na Zona Bioclimtica 3,

    segundo a NBR 15.220-3:05.

    Conforme o Memorial Descritivo da proposta (DOMINGOS et al., 2010), as

    estratgias para projetos em tal Zona Bioclimtica devem contemplar mecanismos de controle

    que permitam a entrada do sol durante o inverno, sombreando as aberturas durante o vero,

    quando se faz necessria tambm a ventilao cruzada. Seguindo tais orientaes, possvel

    observar, atravs dos projetos apresentados, a preocupao dos arquitetos ao criarem

    marquises sobre algumas esquadrias e aberturas zenitais para a permeabilidade dos ventos

    dominantes, alm de estudarem o posicionamento dos blocos de casas geminadas em relao

    s orientaes (Figura 3-3), destacando a melhor dentre elas para a cidade de Santos.

  • 32

    Figura 3-3: Projeto da casa em relao s orientaes e destaque para a melhor situao

    Fonte: , acessado em 21.04.2013

    No concurso, vale destacar, os terrenos indicados serviram apenas como referncia para o

    desenvolvimento dos projetos (Figura 3-4).

    Figura 3-4: Implantao das casas geminadas em terreno hipottico. Destaque para a integrao

    dos blocos com o stio, alm da permeabilidade visual entre eles e do terreno

    Fonte:< http://concursosdeprojeto.org/2010/10/17/concurso-habitacao-para-todos-sobrados-02/>, acessado em 21.04.2013

    Aqui fica a questo sobre a eficincia das solues adotadas, j que no h, no

    Memorial, esclarecimentos a respeito de clculos e simulaes dos protetores solares e das

    aberturas para a ventilao cruzada e para o efeito chamin. Outra ideia adotada pelos

    projetistas para garantir inrcia trmica, servir de aprisionador de carbono e para a coleta de

    http://concursosdeprojeto.org/2010/10/17/concurso-habitacao-para-todos-sobrados-02/http://concursosdeprojeto.org/2010/10/17/concurso-habitacao-para-todos-sobrados-02/

  • 33

    gua pluvial para reuso, foi a utilizao de teto jardim, o que tambm questionvel do ponto

    de vista da manuteno, j que se trata de um projeto para uma habitao social.

    Em relao ao programa, os projetos contemplam dois tipos de plantas: um com dois e

    outro com trs quartos; ambos podem ser geminados em torno de um ncleo rgido que

    engloba circulao vertical, horizontal e reas molhadas como banheiros e cozinha, o que

    certamente garante flexibilidade aos outros setores (Figura 3-5).

    Figura 3-5: Volumetrias, tipos de plantas e possveis ampliaes

    Fonte: , acessado em 21.04.2013

    As possveis ampliaes no trreo so sempre de mais um quarto e um banheiro

    acessvel (Figura 3-5). Quanto ao zoneamento, as reas ntimas ocupam o pavimento superior

    e as sociais, o inferior. Todas as solues programticas e funcionais foram consideradas pela

    autora como simples e racionais no que se refere construo e reproduo dos modelos, o

    que demonstra coerncia com o exigido pelo edital do Concurso.

    Sobre o edital, no foi possvel a sua leitura, mas houve acesso a textos da abertura do

    Concurso e da comisso julgadora sobre os projetos, que do noes sobre o que havia sido

    pedido e o que foi apresentado. Alm disso, o Memorial Descritivo da proposta, que apresenta

    o projeto, mas sem falar sobre o seu processo de concepo, foi analisado.

    Em relao s solues de sustentabilidade adotadas (Figura 3-6),

    http://concursosdeprojeto.org/2010/10/17/concurso-habitacao-para-todos-sobrados-02/

  • 34

    foram sugeridos equipamentos para promover o uso racional de gua, tais como

    restritores de vazo para duchas, arejador para a torneira de pia, regulador de

    vazo para torneiras de uso geral, alm de equipamentos para a utilizao das

    guas cinzas para irrigao de gramados. Para racionar energia eltrica foi

    proposta a utilizao do sistema hbrido de aquecimento de gua: solar +

    sistema auxiliar eltrico, alm do chuveiro com reaproveitamento indireto de

    calor da gua (tipo kit Rewatt). (DOMINGOS et al., 2010)

    Dessa forma, entende-se por tais apontamentos que a integrao de algumas solues com a

    arquitetura (proposio de aberturas para a exausto dos ventos, p.e.) e a simplicidade dos

    equipamentos (proposio de arejadores para a torneira de pia, p.e.) foram seus principais

    balizadores.

    Figura 3-6: Corte esquemtico demonstrando as solues de sustentabilidade ambiental para a

    casa sobrado

    Fonte: , acessado em 21.04.2013

    Como visto, o grupo concentrou as solues de sustentabilidade para a casa (de uma

    forma geral) em trs frentes: o uso racional da gua e da energia eltrica, e o conforto trmico

    da edificao. Todas, dentro do possvel, integradas arquitetura, seja atravs do uso de

    equipamentos auxiliares, aparentemente acessveis do ponto de vista da habitao social, seja

    http://concursosdeprojeto.org/2010/10/17/concurso-habitacao-para-todos-sobrados-02/

  • 35

    atravs de proposies na prpria arquitetura da casa, no que se refere aos beirais, s aberturas

    posicionadas em lados opostos para a ventilao cruzada, e ao teto jardim.

    Como ser visto no projeto das casas desta dissertao, as solues de sustentabilidade

    adotadas restringem-se quelas propostas atravs da prpria arquitetura das casas, com nfase

    no conforto trmico das mesmas. Entre outras estratgias para clima quente e mido, destaca-

    se desde j a necessidade de sombreamento, o que pode ser permitido por beirais e painis

    volantes, por exemplo.

    3.3 ESTUDOS DE REFERNCIA 03 E 04: DAHOAM NATUR RESIDENCE E SIMPSON-LEE

    HOUSE

    O Dahoam Natur Residence, projetado em 2010 pelo arquiteto Manuel Benedikter,

    est situado na regio de Scena, provncia de Bolzano, Itlia. Trata-se de uma casa passiva,

    cuja filosofia causar menor impacto ao meio ambiente, atravs de medidas como a utilizao

    passiva e ativa da energia solar, o aproveitamento das guas pluviais e a utilizao da madeira

    local para a execuo dos seus elementos construtivos.

    A casa compacta e possui painis volantes que correm em uma estrutura

    independente, porm conectada ao volume (Figura 3-7).

    Figura 3-7: Casa Passiva Dahoam Natur Residence, perspectiva explodida

    Fonte: , acessado em 22.04.2013

    Composta por quatro apartamentos para alugar, todos com um terrao que d acesso

    ao jardim, uma sala com cozinha equipada, um ou dois quartos e banheiro, possui tambm

    grandes esquadrias envidraadas para captar a luz e o calor do sol no inverno (Figura 3-8).

    http://www.dahoam.it/de/fotogalerie.html

  • 36

    Figura 3-8: Aberturas envidraadas para a captao de luz e calor do sol no interior do

    apartamento

    Fonte: , acessado em 22.04.2013

    Ao mesmo tempo, tais aberturas so protegidas do sol no vero por painis volantes

    (de correr) e grandes beirais sobre os terraos (Figura 3-9).

    Figura 3-9: Casa Passiva Dahoam Natur Residence

    Fonte: , acessado em 22.04.2013

    http://www.dahoam.it/de/fotogalerie.htmlhttp://www.dahoam.it/de/fotogalerie.html

  • 37

    Como se v, os painis volantes so uma soluo flexvel, j que so adaptveis,

    permitindo que a proteo seja definida pelo usurio de acordo com suas necessidades,

    atravs da manipulao dos mesmos, servindo tambm como um anteparo para aumentar a

    privacidade sem prejudicar a ventilao.

    Com tal constatao, percebeu-se tambm que a flexibilidade dos painis permitiria a

    adequao da soluo a vrios tipos de clima, viabilizando a utilizao da mesma ideia para a

    proteo das fachadas dos grupos geminados desta dissertao. Vale ressaltar que a soluo

    est sendo aqui classificada como uma referncia formal, mesmo tendo sido tambm

    selecionada por sua aparente funcionalidade para a construo no Nordeste do Brasil.

    Outra referncia formal que est sendo utilizada o modelo de cobertura empregado

    pelo australiano Glenn Murcutt em vrios projetos, aqui exemplificado atravs da Simpson-

    Lee House, New South Wales, Austrlia, 1994 (Figura 3-10).

    Figura 3-10: Simpson-Lee House

    Fonte: , acessado em 03.01.14

    A cobertura inclinada, no caso do projeto desta casa, possui a funo de aumentar a

    rea envidraada (Figura 3-11) acima das esquadrias, proporcionar a penetrao dos raios

    solares no interior da edificao em diferentes inclinaes do sol (Figura 3-12) e incrementar

    a iluminao natural dentro dos cmodos (Figura 3-13).

    http://robertaguarnieri.blogspot.com.br/2011/04/progetto-tema-della-scacchiera-nonche.html

  • 38

    Figura 3-11: rea envidraada acima das esquadrias

    Fonte: , acessado em 03.01.14

    Figura 3-12: Estudo de inclinaes dos raios solares sobre a edificao

    Fonte: , acessado em 03.01.14

    Figura 3-13: Quarto com iluminao natural incrementada pela abertura envidraada acima das

    esquadrias

    Fonte: , acessado em 03.01.14

    http://www.flickr.com/photos/latemodernist/958962863/http://bnlllr.unblog.fr/2008/02/02/glenn-murcutt/http://14jsc.wordpress.com/2011/09/19/simpson-lee-house/

  • 39

    No projeto das casas desta dissertao, situado em uma regio de clima tropical, que

    possui caractersticas relativamente opostas s do clima temperado, onde est situada a

    Simpson-Lee House, prope-se tambm a utilizao da cobertura inclinada e dos apoios em

    V. No entanto, embora a plstica do elemento tenha sido a referncia formal claramente

    adotada, a cobertura inclinada aqui possui outra funo: viabilizar a ventilao da laje de teto,

    bem como o seu sombreamento, adequando-se s exigncias do clima local (ver item 6.2.1).

    3.4 ESTUDO DE REFERNCIA 05: O AO EM EDIFICAES DE PEQUENO PORTE EM NATAL

    E CIDADES VIZINHAS

    Tendo em vista o interesse de utilizar o ao no projeto das casas deste condomnio,

    procurou-se, dentro da cidade de Natal e em cidades vizinhas, encontrar exemplos de

    utilizao do ao em edificaes de pequeno porte, como casas de 02 a 03 pavimentos. Aps

    ampla busca, no foi possvel achar exemplares construdos com este elemento como sistema

    estrutural, mas apenas como um viabilizador de solues de proteo solar, em coberturas e

    varandas que se projetam em balano.

    No condomnio Sun Serville, em Nova Parnamirim, o ao aparece apenas nas trelias

    metlicas das garagens das casas, soluo que dispensou a existncia de pilar (Figura 3-14).

    Figura 3-14: Trelia metlica em casas de condomnio horizontal

    Fonte: Acervo do engenheiro Jos Jlio Melo de Machado, 2013

  • 40

    No bairro de Cidade Alta, em Natal, com vista para o Rio Potengi, encontra-se o

    Atelier da artista plstica Selma Bezerra. O projeto, do arquiteto Felipe Bezerra, indicou a

    utilizao do ao em partes especficas da edificao, como na marquise de entrada, nas

    varandas que se projetam sobre o terreno estreito e desnivelado, alm de estar presente nos

    cabos de ao e na composio dos guarda-corpos (Figura 3-15)

    Figura 3-15: Utilizao do ao no projeto de um atelier

    Fonte: Acervo da autora, 2013

    J no projeto desta casa no condomnio Porto Brasil, em Parnamirim, projetada pelo

    escritrio Bernardes e Jacobsen Arquitetura, o ao foi utilizado, segundo o professor e

    projetista estrutural Mrcio Medeiros, na cobertura e nas esquadrias. As paredes laterais,

    marcantes na arquitetura desta casa, so em concreto armado (Figura 3-16).

  • 41

    Figura 3-16: Casa projetada por Bernardes e Jacobsen Arquitetura

    Fonte: , acessado em 12.07.13

    Como visto nesse pequeno grupo de edificaes, o ao tem sido utilizado de forma

    discreta na arquitetura residencial, auxiliando outros sistemas estruturais, mais convencionais

    na regio. Aqui ficam as questes: interessante propor que se construa diferente, pensando

    no que melhor para a edificao? Ou o mais interessante continuar projetando com o que

    conhecido na cidade? Existiria um caminho intermedirio? Qual seria esta soluo mais

    adequada atendendo a princpios de racionalizao construtiva e de menor impacto ambiental,

    sem perda da qualidade formal?

    Numa tentativa de responder a tais questes, entende-se que construir casas de acordo

    com o conhecimento, a produo e a prtica locais parece ser uma deciso sustentvel do

    ponto de vista ambiental e econmico. Dessa forma, como ser detalhado mais adiante, nas

    casas do condomnio desta dissertao a utilizao do ao dever ser apenas como estrutura

    da cobertura e para a fixao dos painis volantes para a proteo solar das fachadas.

  • 42

    PARTE II: PROPOSTA PROJETUAL

    4 CONDICIONANTES PROJETUAIS

    Os condicionantes projetuais apresentados neste captulo foram os responsveis pelas

    primeiras decises de projeto no que se refere s caractersticas do local e do pblico alvo

    (item 4.1); aos aspectos fsicos e ambientais predominantes no terreno (item 4.2); s

    prescries legais utilizadas no processo de concepo da proposta (item 4.3); elaborao do

    programa arquitetnico (item 4.4) e adequao do projeto ao mercado, no que se refere

    rea total das casas, caso fossem postas venda (item 4.5).

    4.1 REA DE INTERVENO E PBLICO ALVO

    Para a escolha do terreno do projeto desta dissertao, foram consideradas, entre

    outras, duas importantes caractersticas: sua localizao, de preferncia nos arredores do

    Campus Central da UFRN, e a sua limitao de gabarito a dois pavimentos, j que desde o

    incio a inteno era projetar casas, e, desse modo, o potencial construtivo do terreno

    escolhido no viria a ser subutilizado. Com isso, foi realizada uma busca por reas livres na

    regio denominada pelo lano Diretor de atal como Entorno do arque das Dunas, que

    possui trechos prximos ao Campus e limite de gabarito de 6m.

    Contemplando tais aspectos norteadores, o terreno escolhido localiza-se no bairro de

    Capim Macio, na Zona Sul de Natal, em uma das ruas que do acesso ao Campus Central da

    UFRN. O bairro em questo limita-se a Norte com Lagoa Nova, a Sul com Ponta Negra, a

    Leste com o Parque das Dunas e a Oeste com Candelria e Nepolis (Figura 4-1).

    De acordo com o seu posicionamento dentro da cidade de Natal, pode-se dizer que

    Capim Macio um bairro fcil de ser acessado, principalmente se atravs de veculo

    particular ou de transporte pblico rodovirio.

    O trecho do bairro em que o terreno encontra-se inserido (Figura 4-2) faz parte do

    polgono do Entorno do Parque das Dunas, dentro da Zona de Adensamento Bsico4, segundo

    Macrozoneamento do Municpio.

    4 Zona de adensamento bsico aquela em que, segundo o Plano Diretor de Natal, se aplica estritamente o

    coeficiente de aproveitamento bsico (1,2). Segundo o mesmo documento, adensamento definido como a

    intensificao do uso do solo.

  • 43

    Figura 4-1: Limites do bairro de Capim Macio, dentro do municpio de Natal

    Fonte: Montagem a partir de mapas produzidos pela SEMURB, 2012

    Figura 4-2: Terreno, localizado em um trecho do bairro de Capim Macio inserido no Entorno do

    Parque das Dunas

    Fonte: Montagem a partir de mapas produzidos pela SEMURB, 2012

  • 44

    O bairro de Capim Macio foi ocupado, historicamente, por conjuntos habitacionais e

    loteamentos. A partir da dcada de 1970, com o Conjunto Mirassol e a criao do Campus

    Central da UFRN, estabeleceu-se uma relao entre a rea e esta instituio de ensino.

    Na dcada de 1980, implantado no bairro, pela Construtora Ecocil, o Conjunto dos

    Professores, que recebeu esse nome devido sua proximidade com a UFRN.

    Atualmente, Capim Macio pode ser identificado por alguns contrastes, tais como:

    enquanto a rede geral de esgotos praticamente inexistente (apenas 8,04% dos domiclios

    particulares permanentes so contemplados ver anexo A), a taxa de alfabetizao superior

    da Zona Sul da cidade, chegando a quase 100%. O bairro servido por escolas, a maioria

    particulares, dois hospitais privados e uma Unidade Bsica de Sade, alm de uma delegacia

    especializada em assistncia ao turista e ao meio-ambiente. Isto sem falar nos shoppings,

    supermercados e faculdades particulares, que o elevam ao status de importante polo de

    consumo da cidade.

    Nesse contexto, observou-se que, mais recentemente, dentro dos cursos oferecidos

    pela Universidade Federal, h nmero significativo de professores que vm de outros estados,

    mas que no fixam residncia na cidade, morando em flats ou apartamentos alugados prximo

    ao seu local de trabalho, muitos em Capim Macio. Nesse ponto, questiona-se: tal realidade

    assim se apresenta por que motivos? Ser pela ausncia de oferta de casas compactas na

    regio? Se houvesse a oferta, o pblico hipottico, formado por professores universitrios,

    migraria para essas casas, em que poderiam tambm acomodar suas famlias?

    No que se refere ao perfil do pblico estudado, so imaginadas as seguintes

    caractersticas e possibilidades de composies familiares: professores/ pesquisadores

    universitrios que vm de outros Estados e buscam morar prximo de onde trabalham, no

    caso a UFRN, com suas famlias ou no. No caso, entende-se por famlia tanto casais

    heterossexuais e homossexuais sem filhos e que moram na mesma casa, como aqueles com

    um ou mais filhos, contemplando o nmero mximo de cinco pessoas por unidade

    habitacional. Esse pblico, pressupe-se, procura ter um estilo de vida sustentvel do ponto de

    vista ambiental e econmico, j que, entre outras coisas, no depender mais de meio

    motorizado para se deslocar para o trabalho, por exemplo.

    Diante do exposto, acredita-se ser uma das respostas possveis a proposio de um

    condomnio de casas para um pblico hipottico de professores universitrios, em um bairro

    com vocao residencial, e vizinho ao Campus Central da UFRN, procurando adequ-lo a este

    perfil de pblico.

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    4.2 ASPECTOS FSICOS E AMBIENTAIS

    C