Estimados irmãos em Cristo Coordenadores e Assessores da Pastoral Familiar do Regional Sul II Irmãos no episcopado, saudações! Saúde! – A Campanha da Fraternidade de 2012 volta ao tema que foi tratado em 1981, com o lema “Saúde para todos”, desta vez pedindo “que a saúde se difunda sobre a Ter- ra”. A saúde esteve presente em outras Cam- panhas, em temas ligados à defesa da vida, do planeta, da água, da alimentação e muitos ou- tros. Isso porque a saúde é desses bens tão fundamentais que acabam por estar na base de todos os outros bens. É um dom de Deus, mas é também conquista da ciência, da cida- dania, da consciência de uma vida equilibrada e saudável. Saúde, em latim é “salus”, a mes- ma palavra que significa “salvação”. É eviden- te, na ação evangelizadora de Jesus, a impor- tância da cura, que nosso Mestre conduz ao sentido mais profundo e completo, incluindo a cura do pecado, a vida plena, a salvação eterna. Muitos progressos – Nas últimas três décadas, desde a última Campanha que pedia “Saúde para Todos”, o que mudou no campo da Saúde? Muita coisa. A mortalidade infantil diminuiu, a expectativa de vida aumentou. A preocupação com a prevenção, e com os hábitos de vida saudáveis, melhorou a quali- dade de vida, os números as estatísticas da miséria e da fome baixaram. O que mais quer a CF? Quer que estejamos atentos, pois, comemorando sucessos, corremos o risco de não ver claramente as contradições, que vêm junto, na nossa condição humana contraditó- ria: a medicina progride, mas não é para todos; a ciência descobre caminhos, mas também produz morte, os bons hábitos de saúde vêm marcados por um culto idolátrico do corpo, a saúde pública gratuita quer ser universal, mas a produção de medicamentos e saúde privada ainda é um “grande negócio” muito lucrativo e muitas vezes desumano. Um povo sem saúde pública adequada é fatal- mente vítima desse comércio abusivo, e até de espertos comerciantes de “milagres”, fantasiados de igrejas. E a família? – Falando em saúde, não pode- mos deixar de lado o nosso foco principal que é a Família. Destroçada pela cultura do laicismo de Estado, de lascívia da mídia, de vale-tudo moral; feita e desfeita pelos amores passageiros e inconsequentes, só pode ser causa e origem de muitas doenças de hoje, como a depressão, o vício, a obesidade mórbida, o desrespeito à vida, do embrião ao ancião. Minha pergunta: nossos grupos organizados de Pastoral Familiar saberão enfrentar, junto com esse esforço de toda a Igreja, na Campanha da Fraternidade, esses imensos desafios? Espero que cada coordenação, cada atividade da nossa querida Pastoral Familiar, de mãos dadas com as outras forças da comunidade eclesial, possa conquistar muitos frutos de Vida para todos. Que Deus nos abençoe nesse propósito! Paz e Bem! Dom João Bosco, O.F.M. Bispo de União da Vitória CNBB – REGIONAL SUL II – BOLETIM ON LINE – FEVEREIRO DE 2012 E E D D I I T T O O R R I I A A L L
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Estimados irmãos em Cristo Coordenadores e Assessores da Pastoral Familiar do Regional Sul II Irmãos no episcopado, saudações!
Saúde! – A Campanha da Fraternidade de 2012 volta ao tema que foi tratado em 1981, com o lema “Saúde para todos”, desta vez pedindo “que a saúde se difunda sobre a Ter-ra”. A saúde esteve presente em outras Cam-panhas, em temas ligados à defesa da vida, do planeta, da água, da alimentação e muitos ou-tros. Isso porque a saúde é desses bens tão fundamentais que acabam por estar na base de todos os outros bens. É um dom de Deus, mas é também conquista da ciência, da cida-dania, da consciência de uma vida equilibrada e saudável. Saúde, em latim é “salus”, a mes-ma palavra que significa “salvação”. É eviden-te, na ação evangelizadora de Jesus, a impor-tância da cura, que nosso Mestre conduz ao sentido mais profundo e completo, incluindo a cura do pecado, a vida plena, a salvação eterna.
Muitos progressos – Nas últimas três décadas, desde a última Campanha que pedia “Saúde para Todos”, o que mudou no campo da Saúde? Muita coisa. A mortalidade infantil diminuiu, a expectativa de vida aumentou. A preocupação com a prevenção, e com os hábitos de vida saudáveis, melhorou a quali-dade de vida, os números as estatísticas da miséria e da fome baixaram. O que mais quer a CF? Quer que estejamos atentos, pois, comemorando sucessos, corremos o risco de não ver claramente as contradições, que vêm
junto, na nossa condição humana contraditó-ria: a medicina progride, mas não é para todos; a ciência descobre caminhos, mas também produz morte, os bons hábitos de saúde vêm marcados por um culto idolátrico do corpo, a saúde pública gratuita quer ser universal, mas a produção de medicamentos e saúde privada ainda é um “grande negócio” muito lucrativo e muitas vezes desumano. Um povo sem saúde pública adequada é fatal-mente vítima desse comércio abusivo, e até de espertos comerciantes de “milagres”, fantasiados de igrejas.
E a família? – Falando em saúde, não pode-mos deixar de lado o nosso foco principal que é a Família. Destroçada pela cultura do laicismo de Estado, de lascívia da mídia, de vale-tudo moral; feita e desfeita pelos amores passageiros e inconsequentes, só pode ser causa e origem de muitas doenças de hoje, como a depressão, o vício, a obesidade mórbida, o desrespeito à vida, do embrião ao ancião. Minha pergunta: nossos grupos organizados de Pastoral Familiar saberão enfrentar, junto com esse esforço de toda a Igreja, na Campanha da Fraternidade, esses imensos desafios?
Espero que cada coordenação, cada atividade da nossa querida Pastoral Familiar, de mãos dadas com as outras forças da comunidade eclesial, possa conquistar muitos frutos de Vida para todos. Que Deus nos abençoe nesse propósito!
Paz e Bem!
Dom João Bosco, O.F.M.
Bispo de União da Vitória
CCNNBBBB –– RREEGGIIOONNAALL SSUULL IIII – BOLETIM ON LINE – FFEEVVEERREEIIRROO DDEE 22001122
OS DESAFIOS ATUAIS PARA A FAMÍLIA A PARTIR DA “FAMILIARIS CONSORTIO”
Dom Filippo Santoro
Durante os 30 anos que nos separam da publica-
ção da Exortação Apostólica Familiaris Consortio
do Bem-aventurado João Paulo II aconteceram
profundas mudanças no panorama contemporâ-
neo sobre a visão e a vivencia da família na
sociedade contemporânea. Contudo, a Familiaris
Consortio (FC) traça um quadro que, nos seus
elementos fundamentais, bem descreve a família
também no nosso presente.
Nessa nossa contribuição partiremos da descri-
ção dos desafio à família feita pela FC para
depois traçar um cenário com os problemas
atuais mais urgentes e a sua provocação para a
antropologia cristã.
A FC trata por explícito esta temática indicando
luzes e sombras da vivência da família: “A
situação em que se encontra a família apresenta
aspectos positivos e aspectos negativos: sinal,
naqueles, da salvação de Cristo operante no
mundo; sinal, nestes, da recusa que o homem
faz ao amor de Deus” (FC 6).
Plasticamente a pintura de Michelangelo A
Sagrada Família (Tondo Doni – Uffizi Firenze).
Representa a diferença entre o amor pagão e o
amor cristão. Enquanto o primeiro é composto
de corpos nus separados e divididos entre eles, o
amor cristão efeito de uma unidade circular na
qual as atenções de Maria e de José são captadas
pela presença do filho de Deus. Trata-se da
circularidade do amor e da comunhão, fruto da
graça, dada pela presença de Cristo. O Batista,
apoiado ao muro que divide os dois grupos de
pessoas admira a cena, mesmo pertencendo ao
Antigo Testamento. Nossa Senhora tem um livro
apoiado no seu colo e representa a Igreja que
oferece à humanidade a Palavra e é totalmente
voltada para o Filho de Deus.
A FC entra a especificar a natureza dos desafios
que a família enfrenta indicando antes os aspec-
tos positivos: “Por um lado, de fato, existe uma
consciência mais viva da liberdade pessoal e
uma maior atenção à qualidade das relações
interpessoais no matrimonio, à promoção da
dignidade da mulher, à procriação responsável,
à educação dos filhos; há, além disso, a consci-
ência da necessidade de que se desenvolvam
relações entre as famílias por uma ajuda
recíproca espiritual e material, a descoberta de
novo da missão eclesial própria da família e da
sua responsabilidade na construção de uma
sociedade mais justa”. E depois passa a observar
os aspectos negativos que caracterizam a
família: “Por outro lado, contudo, não faltam
sinais de degradação preocupante de alguns
valores fundamentais: uma errada concepção
teórica e prática da independência dos cônjuges
entre si; as graves ambigüidades acerca da
relação de autoridade entre pais e filhos; as
dificuldades concretas, que a família muitas
vezes experimenta na transmissão dos valores; o
número crescente dos divórcios; a praga do
aborto; o recurso cada vez mais freqüente à
esterilização; a instauração de uma verdadeira
e própria mentalidade contraceptiva” (FC 6).
A Exortação identifica de forma precisa as
causas destes fenômenos negativos: “Na raiz
destes fenômenos negativos está muitas vezes
uma corrupção da idéia e da experiência de
liberdade concebida não como capacidade de
realizar a verdade do projeto de Deus sobre o
matrimônio e a família, mas como força
autônoma de afirmação, não raramente contra
os outros, para o próprio bem-estar egoístico”
(FC 6).
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Não falta uma atenta referência às condições de
extrema pobreza de muitas famílias do Terceiro
Mundo, que bem conhecemos presentes entre
nós no Brasil. “Merece também a nossa atenção
o fato de que, nos países do assim chamado
Terceiro Mundo, faltem muitas vezes às famílias
quer os meios fundamentais para a sobrevivên-
cia, como o alimento, o trabalho, a habitação,
os medicamentos, quer as mais elementares
liberdades” (FC 6). Do outro lado preocupa
também a situação da família nos países mais
ricos, afetados por outra série de problemas.
“Nos países mais ricos, pelo contrário, o bem-
estar excessivo e a mentalidade consumística,
paradoxalmente unida a uma certa angústia e
incerteza sobre o futuro, roubam aos esposos a
generosidade e a coragem de suscitarem novas
vidas humanas: assim a vida é muitas vezes
entendida não como uma bênção, mas como um
perigo de que é preciso defender-se” (FC 6).
E disso tudo a Exortação tira uma conclusão que
convida a pensar. “Isto revela que a história não
é simplesmente um progresso necessário para o
melhor, mas antes um acontecimento de
liberdade, e ainda um combate entre liberdades
que se opõem entre si; segundo a conhecida
expressão de Santo Agostinho, um conflito entre
dois amores: o amor de Deus impelido até ao
desprezo de si, e o amor de si impelido até ao
desprezo de Deus”. Na temática da família entra
em jogo o grande tema da liberdade e da consci-
ência que será aplicado de forma muito aguda a
todo o desenvolvimento humano por Bento XVI
no capitulo VI da encíclica “Caritas in Veritate”.
A conseqüência disso é que é necessária uma
educação da pessoa humana para o justo exercí-
cio da liberdade em todas as atividades humana,
incluindo a atividade econômica e a experiência
da família. “Segue-se que só a educação para o
amor, radicada na fé, pode levar a adquirir a
capacidade de interpretar «os sinais dos
tempos», que são a expressão histórica deste
duplo amor” (FC 6).
Assistimos, portanto a um influxo muito grande
particularmente dos meios de comunicação
sobre a família entre estes a FC destaca: “Os
Padres Sinodais sublinharam, em particular, o
difundir-se do divórcio e do recurso a uma nova
união por parte dos mesmos fiéis; a aceitação
do matrimônio meramente civil, em contradição
com a vocação dos batizados «a casarem-se no
Senhor»; a celebração do sacramento do
matrimônio sem uma fé viva, mas por outros
motivos; a recusa das normas morais que guiam
e promovem o exercício humano e cristão da
sexualidade no matrimônio” (FC 7).
Para transformar esta situação é necessária a
evangelização da cultura emergente para que
possa nascer um “novo humanismo”. “Na
construção de tal humanismo, a ciência e as
suas aplicações técnicas oferecem novas e
imensas possibilidades. Todavia, a ciência, em
conseqüência de posições políticas que decidem
a direção de investigações e aplicações, é
muitas vezes usada contra o seu significado
originário, a promoção da pessoa humana.
Torna-se, portanto, necessário recuperar por
par te de todos a consciência do primado dos
valores morais, que são os valores da pessoa
humana como tal. A nova compreensão do
sentido último da vida e dos seus valores
fundamentais é a grande tarefa que se impõe
hoje para a renovação da sociedade” (FC 8).
Neste sentido a Exortação faz apelo à necessida-
de de uma Sabedoria que ilumina a consciência
e permite descobrir os valores que ajudam a
realizar plenamente a vida da pessoa, da família
e da sociedade. “Só a consciência do primado
destes valores consente um uso das imensas
possibilidades colocadas nas mãos do homem
pela ciência, que vise verdadeiramente a
promoção da pessoa humana na sua verdade
integral, na sua liberdade e dignidade. A ciência
é chamada a juntar-se à sabedoria” (FC 8). “A
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aliança do nosso mundo com a sabedoria divina
que deve ser mais profundamente reconstituída
na cultura moderna. De tal Sabedoria cada ho-
mem foi feito participante pelo mesmo gesto
criador de Deus. E é só na fidelidade a esta
aliança que as famílias de hoje estarão em grau
de influenciar positivamente na construção de
um mundo mais justo e fraterno” (FC 8).
Novos Desafios
Entre os novos desafios lembramos a discussão
sobre a diferença sexual (ou de gênero) como
base da construção da família. Trata-se das
teorias dos “gender studies” que constituem o
corpo ideológico utilizado pelas lobbies homos-
sexuais para defender suas reivindicações em
particular o “matrimônio homossexual”.
Com efeito, fala-se de “opção sexual” ignorando
o fato que a diferença biológica é um dado
estrutural e originário do ser humano. Acentua-
se o dado psicológico cultural e se tende a
eliminar o dado biológico que é a origem da
diferença que é o motor das relações em vista de
uma verdadeira igualdade entre os seres huma-
nos.
Essa ideologia é sempre apresentada como
“batalha contra as discriminações” para ser
mais facilmente acolhida e transformada em leis
que consideram a união homossexual como
“entidade familiar”. È exatamente o que está
acontecendo no Brasil depois do pronunciamen-
to do STF sobre as uniões de pessoas do mesmo
sexo.
Na Assembléia Geral da CNBB deste ano de
2011 saiu uma nota sobre este tema que afirma:
“A diferença sexual é originária e não mero
produto de uma opção cultural. O matrimônio
natural entre o homem e a mulher bem como a
família monogâmica constituem um princípio
fundamental do Direito Natural. (...) A família é
o âmbito adequado para a plena realização
humana, o desenvolvimento das diversas
gerações e constitui o maior bem das pessoas”.
Esses são os pontos de referência para um juízo
correto sobre a questão atualmente debatida.
Continua a Nota da CNBB: “As pessoas que
sentem atração sexual exclusiva ou predominan-
te pelo mesmo sexo são merecedoras de respeito
e consideração. Repudiamos todo tipo de
discriminação e de violência . (...) [Porém]
equiparar as uniões entre pessoas do mesmo
sexo à família descaracteriza a sua identidade e
ameaça a estabilidade da mesma”. Uma coisa é
o respeito, a não discriminação, outra coisa é a
riqueza da vida familiar, da identidade sexual
que dá origem ao matrimônio, que dá origem à
família. A família segundo o plano de Deus que
tem o direito de ser protegida pelo Estado. “É
atribuição do Congresso Nacional propor e
votar leis, cabendo ao governo garanti-las.
Preocupa-nos ver os poderes constituídos
ultrapassarem os limites de sua competência,
como aconteceu com a recente decisão do
Supremo Tribunal Federal. Isso compromete a
ética na política”.
A motivação usada pelos juízes nesse caso –
daqueles que sustentam a união estável e a reco-
nheceram e equiparando-a a uma entidade fami-
liar – é que nós vivemos em uma sociedade
fragmentada. Existem tantos fragmentos e um
desses fragmentos é a Igreja Católica. O
Supremo Tribunal decide quando um fragmento
quer prevalecer sobre o outro e intervém para
colocar ordem. O Supremo Tribunal tem a
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presunção de representar o uso da razão quando
os direitos de um fragmento são invadidos pelo
outro ou não são respeitados. Onze pessoas
representam a razão num clima de fragmentação
total, de confusão do eu; e aí que domina o
poder. Não pode ser um grupo de pessoas que
decide o que é justo e o que não é justo quando
se trata de definir o que é segundo a razão. E se
não é um grupo de pessoas quem é? È somente
algo que está na natureza humana, que a razão
reconhece, e que se chama lei natural. Existe
uma lei natural que junta todos os fragmentos,
todas as pessoas.
A fé católica, escuta a voz da razão, e nós somos
os primeiros a defender esse laço que une todos
os fragmentos da sociedade que sem um funda-
mento comum seriam incomunicáveis. Diz São
Tomás de Aquino: “A lei natural não é outra coi-
sa que a luz da inteligência infundida por Deus em
nós. Graças a ela conhecemos o que se deve cum-
prir e o que se deve evitar. Esta luz e esta lei Deus
a concedeu na criação”,(Collationes in decem
praeceptis, 1); cit. in: João Paulo II, Veritatis
Splendor, 40). Que a sociedade seja fragmentada
é um fato, mas que não haja um fundamento
comum é toda uma outra questão. Se não tivesse
comunicação entre um fragmento e outro não
poderia existir encontro entre as pessoas, não
poderia existir comunicação, não poderia existir
diálogo. O fundamento comum, que é a lei
natural, deve ser reconhecido e respeitado.
Nesse caso em que onze pessoas têm todo poder
de decidir o que é justo e segundo a razão se
manifesta uma prevaricação do poder. Nenhuma
lei humana pode-se substituir às leis não escritas
que se encontram na natureza humana, como já
dizia Sófocles na Antígona. E São Paulo afirma “A lei está escrita em seus corações” (Rom 2, 15).
A nossa posição é a defesa da racionalidade, é a
defesa da unidade, é a defesa da natureza.
Nós fazemos uma batalha positiva, que nos
permite encontrar qualquer pessoa, ter contato
com qualquer um, porque dialogamos com a
humanidade das pessoas, não de uma forma
reduzida, mas com uma atenção profunda.
Como fizeram os Apóstolos e os primeiros
cristãos. Naquele tempo estas coisas, no mundo
da Grécia eram aceitas, mas não era a forma
humana mais digna. São Paulo em Corinto não
está diante de uma sociedade patriarcal, mas
pretensamente liberal e manifesta um outro
ponto de vista radicalmente diferente. Pensemos
como eram tratadas as mulheres, sem falar dos
escravos. O Cristianismo revolucionou tudo
isso. E nós através do testemunho de uma beleza
extraordinária encontrada, podemos comunicar
como é positivo para todos defender o bem da
família, defender o bem da vida, a partir não de
uma teoria, mas da experiência.
A diferença entre o masculino e o feminino
carrega uma riqueza de sentido e um valor
humanizante que não é um limite, mas uma
fonte de significado.
Como resposta a este desafio temos a possibili-
dade de valorizar a diferença não como algo
puramente imposto pela tradição, mas como
expressão de liberdade na realização plena e
diferenciada do ser humano.
Outro elemento atual que
questiona a visão da família
É uma concepção do amor e do afeto como algo
que não pode ser governado pela pessoa, feita de
razão e vontade e, portanto capaz de liberdade.
Não se procura a verdade da relação, mas apenas
o espaço de uma própria gratificação individual
onde o critério é a pura emoção. Sobre esta base
é impossível algo de estável e construir relações
sérias e consistentes. Estamos diante de eternos
adolescentes.
Não que os afetos devem ser vistos com
suspeita, mas é importante que sejam vividos
como diz a palavra do latim “affectus” “ser
tocado”, como adesão e relação com o outro.
Em cada relação afetiva é necessário um
cuidado, um trabalho consigo mesmo e com o
outro. Sem isso depois da primeira séria dificul-
dade a relação se interrompe.
Lembramos também o desafio da “bioengenha-
ria”. Depois da crise das grandes utopias
continua um certo messianismo associado à
possibilidades oferecidas pela bioengenharia
numa incessante batalha contra os limites da
condição humana. Assim a função mais típica da
família, que é aquela de procriar, pode ser
dispensada pelo uso de laboratórios de fecunda-
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ção assistida, sem necessidade de relação sexual
entre o homem e a mulher.
Deste cenário nasce a figura de um indivíduo
instável, de convicções voláteis e de compro-
missos fluidos. Um adolescente, fortemente
individualista que nas suas escolhas é flutuante,
conduzido pelo instinto imediato e pela opinião
dominante. É este o produto final de uma certa
ideologia do mercado e do poder.
Uma grande oportunidade.
Esta situação que destrói o peso da tradição e
coloca tudo nas mãos da decisão do individuo
representa não apenas uma ameaça à realidade
da família, mas também uma grande oportuni-
dade. Várias possibilidades estão nas mãos do
sujeito que, como pode ser destruído, pode
também afirmar-se na sua liberdade. A liberdade
não como simples possibilidade de escolha, mas
como reconhecimento de uma exigência de
plenitude do próprio ser humano e como adesão
a algo que o pode realizar. A pessoa diante da
escravidão do efêmero pode se revoltar quando
despertada por algo que leva a serio o desejo de
um cumprimento pleno e estável.
A liberdade de não ser escravo, mas protagonista
do próprio destino. Isso comporta a adesão a
algo que liberta e que se torna a pérola preciosa
da vida. A liberdade que se realiza mesmo
quando tem que se enfrentar o sacrifício. A
liberdade que assume a característica da adesão
a um outro como significado de si e que se
realiza numa luta que exige também o sacrifício.
Liberdade e dom de si que têm o seu fundamen-
to não numa decisão arbitrária ou voluntarista do
sujeito, mas na própria natureza humana que é
aberta ao infinito e estruturalmente feita para
realizar-se no encontro com o mistério e com os
outros. Isso é particularmente evidente na
experiência da família que é feita pela continua
decisão da liberdade que se realiza no encontro e
no dom de si.
Uma nova antropologia
Para isso é necessária uma nova antropologia
que valoriza o corpo e tem como elemento
fundamental a diferença sexual, pressuposto
para a reciprocidade e a plena doação de si.
Trata-se da antropologia desenvolvida pelo
Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos
sobre o matrimônio e a família.
Essa antropologia, desenvolvida, sobretudo a
partir das catequeses do Bem-aventurado papa
João Paulo II nas quartas feiras entre o ano 1978
e 1985, “tem como ponto e partida o ser humano
criado a imagem e semelhança de Deus e destina-
do a encontrar sua realização na comunhão
interpessoal” (João Paulo II. Homem e mulher o
criou, Catequeses sobre o amor humano, Bauru:
EDUSC, 2005, p. 170).
Entre todas as criaturas o ser humano é único
porque é imagem de Deus, enquanto pessoa
racional e livre e portadores daquela qualidade
divina que é a comunhão. A comunhão interpes-
soal da SS. Trindade é o fundamento da relação
esponsal e da comunhão entre o homem e a
mulher.
A Conferência de Aparecida retoma esta afirma-
ção: “O amor conjugal é doação recíproca entre
um homem e uma mulher, os esposos: é fiel,
exclusivo até a morte e fecundo, aberto à vida e à
educação dos filhos, assemelhando-se ao amor
fecundo da Santíssima Trindade” (DAp 117).
Estamos diante de uma visão positiva do ser hu-
mano e da união conjugal entre um homem e uma
mulher. Não olhamos com saudade à família do
passado, mas temos consciência do “patrimônio
que a família é para a humanidade” como afirmou
Bento XVI no Discurso de abertura da Conferên-
cia de Aparecida em 2007.
Conclusão
O que era fruto de uma tradição agora se torna op-
ção da liberdade da pessoa, que no dom de si e no
amor encontra sua realização.
Não estamos numa batalha de retaguarda, mas
num caminho de liberdade onde o arbítrio é supe-
rado e a exigência de felicidade se realiza vivendo
o dom total de si.
A liberdade e o amor se abrem ao mistério de Cris-
to que, com sua presença vitoriosa sobre o pecado
e a morte, vem ao encontro do homem e da mulher
que procuram ser felizes na oferta de si e no dom
total da vida.
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Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II 88
JJuuaarreess CCeellssoo KKrruumm**
O Encontro em Prepara-ção ao Matrimônio, mais conhecido nos meios
eclesiais como “Curso de Noivos” faz parte do Setor Pré-Matrimonial da Pastoral Fami-liar e já existe há pelo menos quatro déca-das, pois foi em 1973 que eu e a Maria Lucia participamos lá em Ponta Grossa do nosso “Curso de Noivos”, em dois dias.
Em levantamentos nas diversas paróquias de nosso Brasil, o Encontro em Preparação ao matrimônio é destaque, pois existe e é realizado na grande maioria dessas paró-quias. Há casos em que, quando se fala em Pastoral Familiar, imediatamente vêm à lembrança O Curso de Noivos, que é uma das poucas, senão única atividade dessa
Pastoral.
Para não virar uma sessão nostalgia, gostaria de destacar alguns eventos, da-tas e publicações, a partir da década de 90 do séc. XX.
Em 1993 – após am-pla consulta pelo Brasil sobre “os En-contros ou Cursos de Noivos” o Setor Fa-
mília da CNBB lança pela Editora Vozes o livro “Casamento: Ternura & Desafio”. Considerado o Primeiro volume da coleção Subsídios de Pastoral Familiar do Setor Fa-mília da CNBB, o livro com 232 páginas foi elaborado por casais integrantes da Comis-são Nacional de Pastoral Familiar e a elabo-ração final por Frei Almir Ribeiro Guima-rães, OFM – assessor do Setor Família da CNBB com o objetivo de traçar diretrizes e conteúdos para cursos ou encontros de noi-vos. O livro orienta os agentes da Pastoral
Familiar e sugere um ótimo esquema de organização dessa pastoral, capacitan-do-os melhor na ár-dua e importante missão de preparar os jovens para a vida conjugal, familiar e para as responsabili-dades do seu futuro.
Ainda naquele ano, a CNBB lança na série Verde – Estudos da CNBB, o nº 65 - Pastoral Familiar no Brasil em que se destaca a importância da Preparação ao Matrimônio nas suas três etapas: a) Preparação Remota; b) Prepara-ção Próxima e c) Preparação Imediata. É a Preparação Próxima que “comporta basi-camente a realização do encontro ou curso de noivos, já tradicional em nossas dioceses e paróquias. Os candidatos ao matrimônio deveriam realizá-lo ao menos com seis me-ses de antecedência para que, eventual-mente, pudessem colocar intenções e pro-pósitos mais sólidos possíveis para sua vi-da cristã ao abraçarem o matrimônio” (p. 33)
Em 1994 – o segun-do livro da Coleção Subsídios de Pastoral Familiar, também pela Editora Vozes intitulado: “Casa-mento e Família no mundo de hoje – textos seletos do Magistério Eclesi-al” com 120 páginas foi editado com a fi-nalidade de destacar
trechos fundamentais de alguns pronunci-
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amentos do Magistério da Igreja nos últi-mos quarenta anos, a respeito do casamento e da família.
Após nova pesquisa, surge em 2000 o “Guia de Prepara-ção para a Vida Matrimonial” com reflexões sobre temas essenciais que desti-nam-se ao casal que deseja receber o Sa-cramento do Matri-mônio. O Guia está dividido em três par-
tes. Na segunda parte são apresentados oito temas essenciais e onze temas opcionais, sa-lientando-se que podem ser abordados de diversas maneiras, além de palestras, po-dem ser usadas dinâmicas de grupo, conver-sa a dois. A ordem de apresentação também pode ser adaptada conforme as especifici-dades e necessidades de cada paróquia. Po-rém, é fundamental que não se omita ne-nhum tema sugerido. Na terceira parte, no item metodologia, destaca-se novamente a importância da apresentação dos temas essenciais, que pode ser feita num Encontro de dois dias ou no “Encontro Personalizado” com oito en-contros de uma hora cada.
Infelizmente, ainda se insiste na realização do Encontro em Preparação ao Matrimônio em apenas um dia em muitas paróquias, deixando-se de lado alguns temas essenciais destacados no Guia de Preparação para a Vida Matrimonial.
O que se quer não é a uniformidade, mas a unidade em torno de temas que são de fato fundamentais para a reflexão dos casais que pretendem cele-brar o Sacramento do Matrimônio.
O subsídio é bastante claro a esse respeito. Não quer “engessar” a equipe de trabalho dos Encontros em Preparação ao Matrimô-nio. Apenas sugere, de forma simples e objetiva um caminho, uma opção, uma for-ma de trabalhar para alcançar os objetivos: “Algumas Comissões Regionais da Pastoral Familiar pediram uma revisão, uma versão mais sintética e uma atualização do livro ‘Casamento: Ternura & Desafio’. Outras pe-diram uma nova metodologia para os anti-gos ‘Cursos de Noivos’. Houve também Co-missões que não queriam um ‘curso pronto’, em um formato rígido, mas apenas diretrizes ou sugestões para a realização dos ‘Cursos de Noivos’... Nosso enfoque é exclusivamente pastoral.”(GPVM, p. 7)
Sem esquecer o que o papa João Paulo II, lembrava na Exortação Apostólica Familiaris Consortio sobre essas questões: “a preparação dos jovens para o matrimônio e a vida familiar é necessária hoje mais do que nunca” (FC, nº 66).
É recomendável que aquelas paróquias que ainda não se atualizaram, o façam o mais breve possível, aproveitando os subsídios que estão aí para isso mesmo e que, apesar da resistência à mudança em alguns casos, haja um esforço concentrado e se defina qual a melhor metodologia a ser aplicada nos Encontros em Preparação ao Matrimô-nio: Personalizado com oito encontros de uma hora ou o Encontro Tradicional (de dois dias), com a dinâmica que melhor se adapte à sua realidade paroquial e pastoral, procurando sempre abordar os temas es-senciais descritos no Guia de Preparação para o Matrimônio.
Tudo isso com a aprovação dos bispos de cada diocese, em conformidade com os pla-nos pastorais diocesanos, com o auxílio dos párocos e demais presbíteros e diáconos, e o envolvimento e engajamento dos leigos e leigas.
*Juares Celso Krum é Diácono Permanente, incardinado na
Diocese de União da Vitória, bacharel e mestrando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e Assessor Eclesiástico da Pastoral Familiar do Regional Sul II da CNBB.
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Pastoral Familiar – CNBB – Regional Sul II 1100
2. NASCIMENTO DA IGREJA
Quando, em que momento a Igreja foi fundada?
Existem duas teses. A primeira chamada Tradi-
cional e a outra chamada Moderna.
Tese Tradicional Vem desde a época da escolástica (Séc XII), ne-
o-escolástica, passa pelo Concílio de Trento,
Concílio Vaticano I e até os limiares do Concílio
Vaticano II. É toda uma história. A tese diz o
seguinte: Jesus Cristo durante a sua vida públi-
ca fundou a Igreja junto com os apóstolos.
O fundamento desta tese está em Mt 16,13-20.
Os teólogos afirmam que Jesus, durante a vida
pública fundou a Igreja com base neste texto.
Atualmente, porém, começa-se a questionar este
texto. Há quatro dúvidas sobre ele.
1ª Dúvida – Os evangelhos foram escritos de-
pois da ressurreição de Jesus. Ou seja, quando
Jesus morreu na cruz, não havia nada escrito. E
durante a sua vida pública Jesus também não
deixou nada escrito. O que existe foi escrito de-
pois da ressurreição de Jesus. E aí pergunta-se:
O tu és Pedro, teria saído da boca de Jesus?
2ª Dúvida – Nos sinóticos a palavra Igreja só
aparece por três vezes em dois textos: Mt 16,18:
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre es-
ta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do
Inferno nunca prevalecerão contra ela.” Neste
texto o enfoque é de uma Igreja no sentido uni-
versal, para todos; Mt 18,17: “Caso não lhes der
ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja
der ouvido, trata-o como o gentio ou o publica-
no.” Neste caso o enfoque é de uma Igreja como
comunidade local.
3ª Dúvida – Jesus ao escolher o grupos dos doze
apóstolos o faz com uma finalidade: enviá-los a
pregar, a evangelizar. Conforme Mc 3,13-14:
“Depois subiu à montanha, e chamou a si os
que ele queria, e eles foram até ele. E constituiu
Doze1, para que ficassem com ele, para enviá-
los a pregar.”
4ª Dúvida – Toda a vida pública de Jesus se re-
sume nesta frase: “Pregar o Reino”. Jamais se
falou em fundar uma Igreja. Diante destes argu-
mentos, a Tradicional não se sustenta mais. Mas,
então quando a Igreja foi fundada?
Tese Moderna Diz que a Igreja foi fundada no momento Pascal.
Isto é, no momento em que Jesus morreu na cruz
(Jo 19,34).
Sangue e água – dois símbolos, que se transfor-
mam em sacramentos. Sangue – Eucaristia e
Água – Batismo.
Dos sete sacramentos estes dois são os mais im-
portantes. Todos os demais sacramentos podem
ser considerados apenas coadjuvantes a estes
dois.
Mas não é só isso. Vamos ver o que diz o texto
de Jo 20,21-22: “21Ele lhes disse de novo: “A paz
esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu
vos envio”. 22
Dizendo isso, soprou sobre eles2 e lhes
disse: “Recebei o Espírito Santo.” Para João tudo
isso é um momento só. Para João, a morte, o
derramamento do Espírito Santo e a ressurreição
é um momento só. Isso se chama na linguagem
teológica joanina Glorificação e Exaltação.
Por que é um momento só? Há duas teologias
sobre Pentecostes. Uma joanina e outra lucana.
João entende e escreve como um momento só.
Já Lucas faz e escreve como se fossem diversas
1 O número dos novos chefes do povo eleito deve ser doze, que foi ou-trora o número das tribos de Israel. Esse número será restabelecido depois da deser-ção de Judas (At 1,26), para ser conservado eterna-mente no céu (Mt 19,28p; Ap 21,12-14+). 2 O sopro de Jesus simboliza o Espírito (em hebraico, sopro, vento) que ele en-via, princípio da nova criação (Gn 1,2; 2,7; Ez 37,9; Sb 15,11). Ver Jo 1,33 +; 14,26 +; 19,30 + e Mt 3,16 +.