-
12
CRETCEO (BARREMIANO)
Durante a rutura do paleocontinente Gondwa-na, houve a formao de
extensa calha extensio-nal, a depresso afro-brasileira que ia do
sul do es-tado da Bahia ao sul do estado do Cear. No est-gio
sinrifte, a Bacia Tucano-Recncavo evoluiu, as-sim como as bacias
intracratnicas do nordeste ti-veram origem sistema de riftes
eocretcicos, so-frendo rpida subsidncia no Neocomiano (Ponte&
Ponte Filho, 1996).
Na sinclise do Parnaba que foi classificada porFigueiredo &
Raja Gabaglia (1986) como poligenti-ca, o extenso vulcanismo
denominado Mosquito(transio do Trissico para o Jurssico)
prenunciouas fases trafognicas. Ges (1995) e Ges & Coim-bra
(1996) definiram a Bacia de Alpercatas comoantclise, composta por
rochas provenientes devulcanismo e as pertencentes s formaes Cordae
Pastos Bons, demarcadas pelo elemento estrutu-ral de Xambio, de
orientao leste-oeste.
Um mesmo ciclo evolutivo de formao da Mar-gem Continental do
Brasil correlaciona a Bacia deTucano-Recncavo, as bacias marginais
e as pe-quenas bacias de interior (Szatmari et al, 1987 ePonte
& Ponte Filho, 1996), pois so decorrentes daprogressiva
fragmentao do bloco afro-brasileiro,e dos esforos sofridos pelo
deslocamento do con-
tinente para oeste, na medida que o plo de rota-o horria da
Amrica do Sul migrava, no Eocret-ceo.
Os primeiros fsseis encontrados na FormaoPastos Bons foram
datados no Jurssico. Eram pei-xes de caractersticas primitivas do
gnero Lepido-tes. Pela datao palinolgica de Lima & Campos(1980)
a idade foi referida ao Andar local Buracicaequivalente ao
Barremiano.
Pela corrrelao entre eventos geolgicos e bio-lgicos, verificado
que a nvel global, a deriva pro-piciou abertura de novas passagens
para uma fau-na de peixes. Formada por grupos de caractersti-cas
arcaicas derivada do Jurssico marinho doHemisfrio Norte. A formao
de novas bacias eambientes lacustres de idade neocomiana umevento
geolgico regional que propiciou a expan-so da fauna de peixes.
Na seqncia de lagos, a Bacia Recncavo-Tu-cano abrigou uma maior
variedade de representan-tes da ictiofauna. Entre estes gneros, os
Lepidotes(Semionotidae) so os mais numerosos, e se distri-buram no
s pela Bacia do Recncavo-Tucanocomo em pequenas bacias do interior
e na Bacia doParnaba (Alpargatas). Estas ocorrncias e as
deconchostrceos so eventos biolgicos relaciona-
Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus
98
-
dos ao evento geolgico global de abertura doAtlntico, e ao
evento regional de estabelecimentode conexes entre bacias a partir
do Cretceo(Carvalho & Santos, 1994).
Como evento biolgico evolutivo houve a rpi-da mudana de flora. A
coluna bioestratigrficafoi elaborada por pesquisas em palinologia e
os-tracodes de gua doce, recebendo denomina-es locais do Jurssico
Superior e CretceoInferior. Iniciada para o desenvolvimento da
im-portante Bacia Tucano-Recncavo, pela Petro-brs foi estendida
para correlao entre as de-mais bacias.
Os peixes que encontraram refgio em lagos in-teriores,
entretanto no acompanharam os proces-sos evolutivos, mantendo
caracteres conservado-res. Lepidotes, considerado anteriormente
comognero restrito ao Jurssico, ocorre na Bacia deSo Lus-Graja at
ao Cenomaniano (Carvalho &Silva, 1992)
Patterson (1973) observou a manuteno de ca-racteres primitivos
em peixes que permaneceramem guas interiores, ao longo do tempo
geolgico.Foi um dos iniciadores da aplicao de nova classi-ficao
sistemtica, que demonstra que perma-nncia de caracteres primitivos
retira o contedocronoestratigrfico destes fsseis.
A idade eocretcea adotada a do Mapa Geol-gico do Brasil escala
1: 2.500.000 (Schobbenhauset al., 1981 e 1984). baseada na datao
palinol-gica de Lima & Campos (1980) referida ao Andar lo-cal
Buracica equivalente ao Barremiano.
12.1 Formao Pastos Bons
A Formao Pastos Bons corresponde a um ciclode sedimentao de
bacias do interior que com-preende a seqncia de lagos da margem
leste(Asmus, 1984), de idade eocretcea. Neste ambi-ente ocorrem os
peixes Semionotidae referidos aLepidotes piauhyensis e exemplares
das famliasMacrosemiidae e Pleuropholidae.
12.1.1 Histrico
Lisboa (1914) utilizou a denominao camadasPastos Bons para
designar folhelhos e arenitos es-verdeados e marrons-avermelhados
que ocorremnas proximidades da cidade de mesmo nome, noMaranho.
A unidade foi mapeada pela PETROBRAS, comintegrao de dados de
Aguiar (1969) e Mesner &Wooldridge (1964), reavaliao de Ges et
al.
(1990) e Ges & Feij (1994). Foi tambm mapeadapela CPRM em
trabalho de Lima & Leite (1978), Lei-tes et al. (1994).
Os peixes fsseis foram descritos por Roxo &Loefgren (1936),
Santos (1945, 1953 e 1974a),Schaeffer (1947) e Brito & Gallo
(2002) e osconchostrceos estudados por Beurlen (1954),Mendes (1960)
e Pinto & Purper (1974).
12.1.2 rea de Ocorrncia
Os sedimentos pertencentes a esta formaoapresentam reas de
exposio relativamente ex-tensas, na regio centro-oeste, abrangendo
o valedo rio Itapecuru e afluentes, no estado do Mara-nho. A
deposio no estado do Piau se apresen-ta em reas descontnuas a leste
at a cidade deFloriano. Segundo Ges & Feij (1994), sua
espes-sura mxima de 77 metros.
12.1.3 Geocronologia e Idade
Segundo Santos (1974a) a fauna de peixes indi-caria idade
jurssica. Porm, tanto o Lepidotescomo os gneros de conchostrceos a
ele associa-dos, presentes nesta formao, s ocorrem no Bra-sil a
partir do Neocomiano, nas bacias do Recnca-vo, Tucano e Jatob, e
outras pequenas bacias in-teriores.
Pelo estudo palinolgico no folhelho Muzinho,Lima & Campos
(1980) atriburam formao a ida-de eocretcea (Andar Buracica
equivalente ao Bar-remiano), adotada no Mapa Geolgico do Brasil
escala 1:2.500.000 (Schobbenhaus et al., 1981 e1984).
12.1.4 Sedimentao
Os sedimentos da Formao Pastos Bons repre-sentam o incio da
primeira seqncia deposicionaldo Cretceo, aps um longo perodo sem
deposi-o, no Trissico e Jurssico.
A deposio foi ao longo da Estrutura de Xam-bio, que no Mesozico
se comportou como umbaixo deposicional (Hasui et al., 1991).
Extrava-sam seus limites e recobrem discordantemente asformaes
paleozicas Poti, Piau, Pedra de Fogo eMotuca.
Lima & Leite (1978) consideram que a sedimen-tao se deu em
paleodepresses, entre altos to-pogrficos produzidos pelas camadas
de derra-me basltico. A sedimentao iniciada por con-glomerados,
seguidos de arenitos esverdeados,
Cretceo (Barremiano)
99
-
argilosos com granulao fina a mdia, alternan-do-se com arenitos
creme e esbranquiados emlaminao paralela, que por vezes intercalam
cal-crios. Acima ocorrem mudstones arenosos, are-nitos rseos a
avermelhados, com estratificaocruzada, localmente com folhelhos
escuros fossil-feros.
Entre Floriano e Monsenhor Gil, as ocorrnciasde lamitos da
Formao Pastos Bons esto emcontato discordante sobre a Formao Piau.
Oconglomerado basal constitudo de fragmentosde slex e onclitos
(provenientes da FormaoPedra de Fogo). Para o topo apresenta
arenitos fi-nos com alternncia de laminao plano-paralela,laminao
ondulada e laminaes onduladas ca-valgantes (Figura 12.1). So
interpretadas comopequenas frentes deltaicas entrando em
corposaquosos.
Os nveis fossilferos so localizados em folhe-lhos cinza-escuros,
pretos e esverdeados, lamina-dos e calcferos. Afloram na regio de
Pastos Bons,a nordeste de Floriano. So interpretados como
se-dimentao lacustre.
Leites et al. (1994) descrevem, na serra dasAlpercatas, a
ocorrncia de arenitos finos argi-losos, com estratificao cruzada de
grande por-te, e estratificao plano-paralela. So interpreta-dos
como sedimentao de dunas e interdunaselicas.
Os ambientes da Formao Pastos Bons so in-terpretados como
lacustres com contribuio fluvial,com dunas elicas, indicativos de
clima semi-rido arido de um sistema desrtico.
12.1.5 Fsseis
12.1.5.1 Microfsseis
Lima & Campos (1980) estudaram os nveis fos-silferos de
natureza peltica que afloram na regiode Floriano, Piau, nas
cercanias da fazenda Muzi-nho. No estudo palinolgico de uma
assembliapobre e mal preservada foram reconhecidas umaespcie de
esporo e doze de plens.
Nos palinomorfos h dominncia de gros deplens rimulados,
abundncia de formas monocol-padas, e presena regular de formas
inaperturadase dissacadas. As espcies estratigraficamente
im-portantes so Dicheiropollis etruscus, Exesipolleni-tes tumulus e
Vitreisporites pallidus. Foi atribuda aidade Buracica.
12.1.5.2 Fauna
Os peixes fsseis da formao foram descritos,considerando-os de
idade jurssica. Nos folhelhosda fazenda Muzinho, em Floriano, Piau,
os mais no-tveis fsseis so peixes Lepidotes piauhyensis
re-presentados por exemplares completos, e partesdo corpo e crnio
(Figura 12.2). Outros exemplaresso referidos s famlias
Semionotidae, Macrosemi-idae e Pleuropholidae (Roxo & Loefgren,
1936; San-tos, 1945,1953, 1974a; Schaeffer, 1947; Brito &
Gal-lo, 2002).
Segundo Santos (1974a) esta fauna seria de ida-de jurssica,
pelas caractersticas primitivas dospeixes e pela ausncia de
telesteos que no final
Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus
100
Figura 12.1 Formao Pastos Bons. Seqncia de pelitos sobrepostos a
conglomerados basais, capeandoarenitos com estratificao cruzada da
Formao Piau. Localidade: Rodovia BR-343, km 564, prximo cidade
de Floriano, Piau.
-
Cretceo (Barremiano)
101
2
1
4cm
0
4cm
0
1 e 2 Lepidotes piauhyensis Roxo & Loefgren, 1936Localidade:
Fazenda Muzinho, 16km a nordeste de Floriano, Piau.Coleo: 1 DGM
292-P
2 DGM 297-P (holtipo)
Figura 12.2 Peixes da Formao Pastos Bons.
-
do Jurssico j se encontravam definidos. Entre-tanto, aps o
trabalho de sistemtica de Patterson(1973) houve uma profunda
alterao no sistemade classificao dos peixes, assim como na
hierar-quia dos caracteres primitivos e derivados. OsPleuropholidae
que ocorrem na Formao PastosBons so atualmente includos entre os
telesteos.Brito & Gallo (2002) descreveram
Gondwanapleu-ropholis longimaxillaris.
Lepidotes, considerado anteriormente comognero restrito ao
Jurssico, ocorre nas bacias deGraja e So Lus, at ao Cenomaniano
(Carvalho& Silva, 1992).
Os seguintes conchostrceos foram identifica-dos associados
ictiofauna: Palaeolimnadiopsispauloi, Echinesteria semigibosa,
Liostheria floria-nensis, Lioestheria sp., Pseudestheria sp. 1,
Pseu-destheria sp. 2 e Asmussia (?) sp. A. (Beurlen,1954; Mendes,
1960; Cardoso, 1962).
Pinto & Purper (1974) identificaram alm de ou-tros gneros,
espcimes de Macrolimnadiopsis (Fi-gura 12.3), que estavam
associados ictiofauna dafazenda Muzinho. Admitiram a possibilidade
daidade no Eocretceo, pois os conchostrceosocorrem nas bacias do
Nordeste a partir do Neo-comiano.
12.2 Formao Corda
uma sedimentao caracterstica de ambientedesrtico e fluvial de
alta energia, onde a preserva-o de fsseis foi um evento muito
raro.
12.2.1 Histrico
A definio estratigrfica da Formao Corda foiapresentada por
Aguiar (1969), que consideroucomo pertencentes a ela, os arenitos
cor creme, r-seos a cinza-arroxeados, com estratificao cruza-da,
sobrepostos concordantemente FormaoPastos Bons, e discordantemente
aos basaltos daFormao Mosquito.
Este critrio foi utilizado em Lima & Leite
(1978),Schobbenhaus et al. (1981 e 1984), Souza et al.(1990),
Leites et al. (1994), Rodrigues et al. (1994ae 1994b). Os raros
fsseis que ocorrem so as pe-gadas registradas por Leonardi (1980) e
conchos-trceos identificados em Lima & Leite (1978).
12.2.2 rea de Ocorrncia
Os sedimentos da Formao Corda afloram naparte central da bacia,
na borda oeste, prximo foz
do rio Araguaia e a leste, at prximo margem es-querda do rio
Parnaba. Lima & Leite (1978) observa-ram que a unidade
apresenta pequenas reas deocorrncia locais e descontnuas, que
preencheramdepresses originadas por eroso do basalto.
12.2.3 Geocronologia e Idade
A ocorrncia do conchostrceo Macrolimna-diopsis foi registrada
por Lima & Leite (1978) naFormao Corda. Neste trabalho, as
formaesPastos Bons e Corda foram consideradas de mes-ma idade, pois
o gnero de conchostrceos ocorreem ambas as formaes. Como a datao
dos se-dimentos da Formao Pastos Bons, feita posterior-mente,
indicou a idade Buracica (Lima & Campos,1980), a Formao Corda
tambm foi consideradade idade eocretcea no Mapa Geolgico do Brasil
escala 1:2.500.000 (Schobbenhaus et al., 1981 e1984).
12.2.4 Sedimentao
Os sedimentos formam associaes representa-das por arenitos finos
a mdios, de cor creme, comgros de quartzo arredondados, foscos, bem
sele-cionados, bimodais, e eventuais nveis de seixos fa-cetados
(ventifactos). As principais estruturas sedi-mentares so os pacotes
com estratificao cruza-da acanalada, de grande porte e fluxo de
gros,que intercalam camadas com estratificaes pla-no-paralelas. So
interpretados como depsitos dedunas elicas e de regies de
interdunas (Figura12.4).
Associaes pelticas ocorrem em menor pro-poro e so constitudas
por seqncias de areni-tos finos e pelitos arroxeados, com laminao
para-lela passando a laminao cruzada cavalgante(climbing ripples).
So interpretados como gera-dos por correntes de turbidez, em
ambiente lacus-tre. Nos nveis pelticos ocorrem os raros fsseis.
So de um sistema continental desrtico com du-nas elicas de
grande porte, com formao de le-ques aluviais e pequenos lagos. O
clima seriaquente e semi-rido.
A unidade Corda, a oeste, recobre discordante-mente os basaltos
da Formao Mosquito e tam-bm as unidades do Paleozico: formaes
Motu-ca, Pedra de Fogo, Piau, Poti e a Formao Longem Canto do
Buriti. O contato com a Formao Pas-tos Bons, concordante e
gradacional, formadopor arenitos finos de laminaes cruzadas e
para-lelas.
Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus
102
-
Cretceo (Barremiano)
103
1 Macrolimnadiopsis pauloi Beurlen, 1954Coleo: MP-UFRGS
M-33.
2 Lioestheria sp.Coleo: MP-UFRGS M-39.
3 Pseudestheria sp. 1Coleo: MP-UFRGS M-40.
4 Pseudestheria sp. 2Coleo: MP-UFRGS M-41.
5 Asmussia ? sp.Coleo: MP-UFRGS M-42.
Todos os exemplares so da localidade Fazenda Muzinho,16km a
nordeste de Floriano, Piau.
Figura 12.3 Conchostrceos da Formao Pastos Bons (Pinto &
Pupper, 1974).
-
Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus
104
3 Desenho esquemtico das trilhas dos saurpodes.Margem esquerda
do rio Tocantins.
So Domingos, Itaguatins, Tocantins (Leonardi, 1994).
Figura 12.4 Formao Corda.
2 Pegadas de saurpodes.Margem esquerda do rio Tocantins.
So Domingos, Itaguatins, Tocantins (Leonardi, 1994).
1
2 3
1 Afloramento de arenitos com estratificaes cruzadas da Formao
Corda.Margem direita do rio Itapecuru, na confluncia do rio
Codozinho, Cod, Maranho.
-
Nos contatos discordantes com as formaesMosquito e Motuca
observados a oeste, os sedi-mentos basais so constitudos de arenito
conglo-mertico, com seixos de basalto, arenitos e argili-tos. So
clastos desorganizados com matriz areno-peltica, como depsitos de
fluxo de detritos (debrisflow). Para cima passam a arenitos mdios a
finos,marrom-escuro, localmente arroxeados, estratifica-o cuzada
plano-paralela e cruzada acanalada.So interpretados como depsitos
de correntes ourios entrelaados braided (Lima & Leite, 1978;
Lei-tes et al., 1994; Rodrigues et al., 1994a e 1994b;Souza et al.,
1994).
12.2.5 Fsseis
Lima & Leite (1978) registraram a ocorrncia defsseis em
nveis pelticos lacustrinos. So con-chostrceos dos gneros
Lioestheria e Macrolim-nadiopsis, alm dos ostracodes Candona.
Macro-limnadiopsis ocorre na Formao Pastos Bons ena Formao Aliana,
Neocomiano da Bacia doRecncavo (Pinto & Purper, 1974).
Icnofsseis foram citados por Barbosa et al.(1966).
Pegadas de rpteis referidas a saurpodos fo-ram descritas por
Leonardi (1980, 1994) em cama-das de arenito situadas margem do rio
Tocantins,em Itaguatins, no estado do Tocantins. Formam umconjunto
de sete pistas identificadas pelo autorcom a sigla ITSD (Figuras
12.4.2 e 12.4.3). O autorrelaciona, com dvida, na Formao Corda
outrosicnofsseis, representados por pegadas e perfura-es de
invertebrados.
12.3 Paleogeografia
Os sedimentos das formaes Pastos Bons eCorda preenchem as
depresses alinhadas na di-reo leste-oeste. So de um ciclo
continental, e aoaumento do nvel das guas interiores correspon-dem
os ambientes lacustres, nas reas de baixaenergia, que propiciaram a
excepcional conserva-o dos Lepidotes nos folhelhos da fazenda
Muzi-nho. Nos nveis de elevao mxima, foram estabe-lecidas as
expanses dos peixes e dos conchostr-ceos.
Na Formao Corda, as reas de alta energia es-tavam situadas a
oeste, com os arenitos grosseirosde ciclos de leques aluviais, e a
leste as regies dedunas com os arenitos elicos e escassos lutitos
delagos interdunas.
12.4 Eventos Biolgicos
As ocorrncias de conchostrceos e peixes soeventos biolgicos
relacionados a um evento geo-lgico global, a abertura da Margem
Atlntica Sul.
Nas bacias Tucano-Recncavo-Jatob esto re-presentados os
sedimentos correspondentes abertura e incio da evoluo tectnica da
MargemContinental Atlntica. Na seqncia rifte, iniciadano
Neocomiano, os representantes do gnero Lepi-dotes so os peixes mais
freqentes. Viveram nogrande lago que ocupou a depresso
afro-brasilei-ra. Da mesma forma, estes peixes estiveram pre-sentes
nas pequenas bacias de Iguatu e Barro(Cear) e Rio do Peixe
(Paraba), como verificadopor escamas e fragmentos (Carvalho &
Santos,1994). A correlao entre a formao dos grabense os esforos de
rotao do bloco sul-americano,combinam com as dataes de Neocomiano,
en-contradas nestas bacias.
Os ciclos de baixos deposicionais favorveis aambientes lacustres
abrigando a fauna de peixes ede conchostrceos, podem ser datados no
cicloeocretceo, aps o incio da fase rifte da margemleste. So
incompatveis com a datao jurssica,justificada por caractersticas
arcaicas dos Semio-notidae. Esta argumentao s permanece nas ba-cias
do Graja e So Lus, enquanto nas outras ba-cias citadas, a idade
cretcea aceita. Na verda-de, o grupo existente no Jurssico marinho
do He-misfrio Norte, expandiu para o sul, ocupando osbitopos que
surgiram pela progressiva aberturado Atlntico.
As pistas de dinossauros citadas na FormaoCorda revelam um
evento biolgico relacionadocom o trnsito dos animais em ambiente
terrestre.
12.5 Tafonomia
As escamas de Lepidotes so de grande durabi-lidade, pois so
sseas e recobertas por espessacamada de ganona. O gnero reconhecido
porescamas isoladas, quando sofreram deslocamentono substrato e
transporte antes do soterramento.Alguns exemplares incompletos
indicam desloca-mento no substrato, mas sem transporte. Ambos
osprocessos so de ressedimentao.
Dois exemplares grandes e completos (DGM292-P e 297-P) indicam
que a produo biognicafoi depositada no substrato, sem deslocamento
etransporte, com preservao por acumulao. Soentidades conservadas
autctones, que estavamin situ.
Cretceo (Barremiano)
105
-
Quanto aos conchostrceos, que tm uma con-cha delicada, de pouca
durabilidade, as valvas seapresentam articuladas e levemente
danificadas.Indicam que no sofreram deslocamento e trans-porte
antes do enterramento, isto , foram preser-vadas por acumulao.
As pistas dos dinossauros indicam preservaopor acumulao e com
processo tafonmico in situ.
12.6 Paleoecologia/Ecossistemas
As antigas populaes que existiram nesta reatinham modos de vida
aqutico e terrestre. Nas po-pulaes aquticas, os conchostrceos so
indica-dores de habitat de gua doce, pois viveram emcorpos aquosos
permanentes ou efmeros. Em ge-ral, eram bentnicos, da epifauna,
micrfagos, quese nutriam de material em suspenso. A carapaabivalve
quitinosa muito delicada, em geral comestrias que so marcas de
crescimento.
Os peixes Lepidotes eram de vida nectnica,apresentam uma
morfologia especial, com uma re-sistente armadura de ossos e
escamas reforadospor ganona, o que era uma eficiente defesa
contrapredadores. Pela sua construo hidrodinmicadeveriam ser peixes
lentos, apreciando as guasrasas e calmas dos novos bitopos
conquistados.A pequena boca com dentes pequenos, de cspi-des
achatadas, indicam uma nutrio de inverte-brados da epifauna
bentnica, ou outras fontes dis-ponveis como vegetao de fundo nos
lagos ra-sos. So considerados primitivos, de caractersti-cas
jurssicas, quando viveram no HemisfrioNorte, durante a expanso do
mar de Ttis.
A entrada destes peixes em ambientes continen-tais e protegidos,
possibilitou que sua existncia per-sistisse at o Neocretceo, e na
Bacia de So Lus,escamas esto registradas no Cenomaniano (Carva-lho
& Silva, 1992).
Os ecossistemas eram lacustres e desrticos (Fi-gura 12.5). As
marcas de comportamento ou icno-
fsseis, dos representantes terrestres so de dinos-sauros
saurpodos, que teriam nutrio herbvora.
12.7 Paleobiogeografia
As famlias e gneros de peixes e de conchostr-ceos esto
relacionados com os ocorrentes na Pro-vncia Paleobiogeogrfica do
Ttis, do HemisfrioNorte. No Nordeste brasileiro, a histria
biogeogrfi-ca iniciada no Cretceo (Neocomiano/AptianoInferior), com
o megassistema fluviolacustrino situa-do a leste, que se originou
com a partio do blocoafro-brasileiro.
As ocorrncias so registradas na FormaoCandeias, nas bacias do
Recncavo-Tucano-Jato-b, nas bacias do interior, na Bacia do Parnaba
eem bacias da costa oeste da frica.
12.8 Paleoclima
Pela interpretao dos ambientes de sedimenta-o, os climas so
considerados quentes e ridos,com sistemas desrticos. Porm, deveria
haver al-ternncia com estaes midas, que possibilitavao aumento do
nvel de base e o povoamento doscorpos de gua, pelas biotas de
peixes e pequenosconchostrceos.
12.9 Deriva
No Neocomiano, a regio da Bacia do Grajapermanecia no interior
do Supercontinente deGondwana, estendendo-se pela regio da
atualBacia de Barreirinhas, que retm em subsuperfcierestos de suas
formaes.
Ges et al. (1990) consideraram que as forma-es Pastos Bons e
Corda estavam associadas coma distenso e magmatismo da abertura do
Atlntico.Esta associao era com a abertura do rifte da Mar-gem
Leste, que deu origem a pequenos grabens emzonas do embasamento
(Szatmari et al., 1987).
Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus
106
-
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