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ANO III - Nº 8 MAR / ABR 2009 O Transcendente Av. Hercílio Luz, 1079 Florianópolis SC 88020-001 Fone: (48) 3222-9572 www.otranscendente.com.br PAG 01.indd 1 19/2/2009 11:31:49
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O Transcendente - No.8

Mar 09, 2016

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Edição Março/Abril 2009
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Page 1: O Transcendente - No.8

ANO III - Nº 8

MAR / ABR2009

O Transcendente • Av. Hercílio Luz, 1079 • Florianópolis • SC • 88020-001 • Fone: (48) 3222-9572 • www.otranscendente.com.br

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APRESENTAÇÃO

Jornal bimestral de Ensino Religioso pertencente ao PIME Registrado no Cartório de Registro Civil de Títulos e

Documentos de Pessoas Jurídicas de Florianópolis sob o nº 13Diretor: Pe. Paulo De Coppi - P.I.M.E.

Jornalista Resp.: Yriam Fávero - Reg. DRT/SC nº 800 Redator: Sandro Liesch

Diagramação: Fábio Furtado Leite

SEDE: Av. Hercílio Luz, 1079 - Servidão Missão JovemPARA CORRESPONDÊNCIA:

Cx. Postal 3211 / 88010-970 / Florianópolis / SCFONE: (48) 3222-9572 / FAX-AuTOMáTICO: (48) 3222-9967

EndErEço do JornAL “o TrAnSCEndEnTE”:

Ano III - nº 8 - MArço/ABrIL - 2009

Site: www.otranscendente.com.brE-mail: [email protected]

•Individual:•Assinatura Coletiva (no CUPoM da página 11)•Assinatura de apoio:•Internacional:

ASSInATUrA AnUAL

r$ 20,00

r$ 35,00r$ 55,00

02 MARÇO/ABRIL - 2009

MORAL DA HISTóRIA: na celebração dos 500 anos da descoberta do Brasil, diante de 500 anos de culpa, sen-tiu-se a necessidade de um ano de desculpa e, infeliz-mente, esta veio apenas de um ator histórico do jogo do poder: a Igreja Católica! O próprio presidente da Re-pública considerou-se quitado com a nomeação de um negro para a Casa Militar e de uma notável mulher negra para a sua Casa Cultural.

E os filhos dos negros? Por enquanto continuam frequentando as piores escolas! Falta muito para ultra-passar o palavrório retórico e alcançar uma ação política consequente. Será que os negros terão que esperar mais outro século para obter o direito a uma participação plena na vida nacional?

O problema tem que ser enfrenta-do e aqui entra o papel da escola, como também da mídia, geralmente negativo, pois sempre coloca o negro lá embai-xo, na base da pirâmide social, também quando, tendo sorte, o negro tiver ‘su-bido na vida’.

Não se pode esconder, continua Milton Santos, que há diferenças sociais e econômicas, como também estru-turas seculares perversas, para as quais não se buscam re-médios. A naturalidade com que os responsáveis encaram tais situações é indecente. Trata-se, na realidade, de uma forma da “apartheid” à brasileira, contra a qual é urgente reagir, se realmente desejamos integrá-los à sociedade de

O TRANSCENDENTE, que está em seu terceiro ano de existência, vem ganhando espaço e conquistando milhares de edu-cadores, de Norte a Sul do Brasil.

O segredo deste sucesso deve-se aos seus conteúdos, à qualidade do material e ao caráter prático e pedagógico na aborda-gem das temáticas. Além de ou-tras qualidades, o subsídio é ela-borado dentro das exigências atu-ais do Ministério da Educação.

Muitas são as opiniões existentes a respeito dos objetivos do Ensino Religioso e, como con-sequência, dos conteúdos a serem transmitidos. No entanto, está clara a preocupação de apre-sentar o fenômeno religioso e a importância do mesmo na formação do indivíduo e na constru-

ção da sociedade. Estamos certos disso.

Após a edição intro-dutória, as edições seguin-tes apresentaram as ma-trizes religiosas indígena, africana, oriental, ociden-tal e, em seguida, o hin-duísmo e o budismo, duas das maiores e mais antigas religiões da humanidade.

Sem sombra de dúvi-das, O TRANSCENDEN-TE está entre os melhores subsídios elaborados para o Ensino Religioso.

modo que, num futuro próximo, ser negro no Brasil seja também ser plenamente brasileiro no Brasil.

Plantar o orgulho negroÉ o que almeja o músico Gilberto Gil ao dizer: “Os bran-

cos já visitaram a África, seja nos livros seja em suas terras maravilhosas. Penso que os negros brasileiros deveriam lutar por um maior conhecimento sobre suas origens negras. Não tem nada do que se envergonhar. Nós somos gloriosos.

Vamos plantar o orgulho negro! Essa é uma estratégia para vencer a desigualdade já nos pequenos grupos, na sala de aula, através de contos e fábulas africanas, etc. Para abolir

o racismo é preciso acabar com a ignorância e exigir respeito de si mesmo como ponto de partida. Axé”!

Será esta uma preocupação e um compromisso que deverá permear o ensino de todas as escolas do Brasil.

Para isso será particularmente impor-tante a contribuição do Ensino Religioso, que poderá trazer motivações essenciais

para que as diversas raças, culturas e religiões se unam na promoção do respeito da dignidade do ser humano, que vem de uma única fonte.

Numa visão transcendental, não pode haver discrimi-nação, gente de primeira e de segunda classe, mas o cul-tivo de um jardim, onde a diversidade de cores constitui sua extraordinária beleza e riqueza.

Constatando a carência de materiais didá-tico-pedagógicos direcionados ao Ensino Religioso, um grupo de educadores capa-

citados, apaixonados e convictos da importância do ER atendeu aos apelos de muitos professores e idealizou o jornal O TRANSCENDENTE - Jornal Pedagógico para o Ensino Religioso.

Nossa pautaQual será a pauta a ser apresentada e

desenvolvida para o ano letivo de 2009?

Para todos que desejam organizar-se e preparar o seu plano de ensino em sin-tonia com o jornal, a pauta de O TRANS-CENDENTE para 2009 é:

Apresentação da situação dos afro-bra-sileiros, que constituem praticamen-te a metade da população do Brasil, e suas religiosidades.

A essa temática serão dedicadas as duas primeiras edições.

A terceira edição abordará o Judaísmo.

A última edição do ano apresentará o Cristianismo.

um aPelo

O Ministério da Educação orientou e pediu a todas as escolas do Brasil para que estudem profundamente a história da presença negra no Brasil, as riquezas culturais e as religiosidades afro-descendentes, bem como a situação e as problemáticas por eles vividas. É por isso que estamos dedicando duas edições a esse assunto.

“É triste, diz Milton Santos, afirmar que a sociedade branca, após quatro séculos, ainda ‘desvia-se do enfrentamento do problema negro’. Isso veio criando, nos negros do Brasil, um complexo de inferioridade, embora que, segundo a doutrina oficial, jamais o Brasil acolhera alguma forma de discriminação ou preconceito”.

Concluo com um apelo a todos: ajudem-nos a enrique-cer o TRANSCENDENTE enviando-nos materiais e suges-tões, como também a difundi-lo nas escolas, inclusive na-quelas onde o ER ainda não está implementado. O jornal OT, por apresentar temas transversais, pode ajudar a todos os professores, não só os de ER.

Coloquem-no na sala dos professores e nas salas de leituras da escola. Para todos, OT será mais um subsídio inspirador e motivador para a ação edu-cativa. Trabalhemos juntos, isso é bem melhor e mais eficaz!

S em sombra de dúvida, o Brasil

deve muito aos ne-gros, seja pela suas riquezas culturais e religiosas, que so-brevivem há séculos e enriquecem o País, seja pelo tratamento dado aos escravos negros e pela discriminação racial e social sofrida ainda hoje por milhares de afro-descendentes.

Nesta campanha de valorização da cultura afro, que é, inclusive, fomentada pelo Governo Federal, O TRANSCENDENTE se propõe a apresentar alguns aspectos dessa preciosíssima cultura.

Apesar dos avanços, temos um lon-go caminho de respeito e de fraternidade a percorrer.

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O ENSINO RELIGIOSO MARÇO/ABRIL - 2009 03

Por que centenas dereligiões na África?

Um dos fatores primordiais desta diversidade é a variedade de sistemas sociais e políticos existentes. A crença e o ritual religioso refletem e retratam a estrutura social dos diversos povos africanos. As religiões afri-canas têm certas similaridades, mas, também, muitos contrastes, pois exercem influência uma sobre as outras através do contato humano.

As religiões africanas, pertencentes a uma socie-dade que não conhecia a escrita, possuem uma extensa literatura oral. Na tradicional religiosidade africana, os fatores mais importantes que determinam o mundo e o homem são forças invisíveis. Sendo assim, é fundamen-tal a relação com os espíritos ancestrais.

alguns elementos gerais encontrados nestas religiões

A) O Ser Supremo: Ele não é o mais elevado dos espíritos da natureza e nem se equipara ao Deus da Bíblia. É mais uma potência suprema do que um ser pessoal. Nem sempre é criador e, muitas vezes, apa-rece acompanhado de esposa e filhos.

b) O Demiurgo: a criação foi feita por um demiurgo, espécie de um antepassado mítico, identificado com o fundador do povo. Foi ele quem fez o homem, seus costumes, ofícios e ritos.

C) As potências espirituais (espíritos protetores): abaixo do Ser Supremo existem outros seres espiritu-ais (antepassados ou deuses da natureza) que se ocu-pam das coisas mundanas. Há os espíritos ancestrais que são os protetores da família, os espíritos errantes que, por serem mal sepultados, não querem ficar es-quecidos e os espíritos tribais que se ocupam com o bem da tribo e de seu chefe.

As religiões tribais africanas não vivem com medo dos demônios, como dizem alguns. Acredita-se pos-suir poderes para expulsar os maus espíritos e as des-graças por meio de determinados ritos e amuletos.

Os ancestrais se manifestam através de um médium de quem o espírito tomou posse. Tendo recebido dons especiais do espírito, só o médium pode acal-mar, expulsar os maus espíritos ou torná-los favorá-veis através de orações, cantos, danças e ofertas.

D) Os Ritos de Iniciação: os africanos dão mui-ta importância aos ritos de iniciação, com provas muito duras e às vezes sangrentas.

E) As Danças: os ritos têm um papel importante na manutenção das tradições religiosas e sociais. Neste sentido as danças são muito importantes.

F) O Fetichismo: desde que os portugueses descobriram a África, ficou conhecida a prática do “feitiço” ligado à magia negra. Os feitiços nada mais é do que amuletos.

G) O Culto: os africanos não tem estátuas de deuses, templos ou sacerdotes. Os sacrifícios de pequenos animais têm o caráter de participação, isto é, o sangue dos animais não é oferecido aos deuses, mas aos ori-xás (espíritos intermediários), como meio de comuni-cação com os vivos.

H) A Moral: para aos africanos moral e religião são a mes-ma coisa. Aquilo que dificulta a convivência humana é punido pela autoridade tribal e reparado por ritos reli-giosos, pois irritam os espíritos e provocam calamidades. Assim, o africano se vê obrigado a respeitar o bem, a natureza e a pessoa.

I) Outros elementos: cumpre dar aten-ção também à majestade divina, à fei-tura de chuva, aos rituais de iniciação, às sociedades secretas, à possessão do espírito, aos sistemas de vaticínio, à feitiçaria e à bruxaria.

Alguns elementos particularesdas religiões africanas:

A) Os Bosquímanos e os Hotentotes, no sul de Angola, adoram um espírito pessoal de nome, espírito que se identi-fica com o céu, a montanha, a chuva.

b) Os Pigmeus, habitantes das flores-tas do Congo, consideram o Ser Su-premo pai criador do mundo e do homem, providen-te e remunerador. Esta noção se assemelha muito ao monoteísmo bíblico.

C) Os Bantus, no Tsuigoab, sul da África (Congo, Angola, Moçambique) têm muitos nomes para o Ser Supremo. O mais comum é Mulunga, cujo sentido ainda não foi deci-frado. Cultuam os antepassados e as potências naturais.

D) Os nomes dos deuses. Na África Equatorial apa-rece o nome Nyambi, deus criador que vive no céu. Na África Ocidental (Nigéria) os Iorubás chamam a deus de Olurum, isto é, dono do céu. Os pastores da África Oriental cultuam um deus único de nome Eng-Ai. Os povos da África central têm nomes de deuses mais islamizados, mas guardam reminiscências totemistas e animistas. Também encontramos, em alguns povos, tendências politeístas, com divinização das forças da natureza, de reis e dos antepassados.

os mitosA maioria dos povos africanos tem seus mitos que tra-

tam da criação do mundo e do homem. O Ser Supremo aparece como anterior e superior ao mundo que ele cria. É sempre favorável ao homem embora se veja obrigado a castigá-lo pela sua desobediência.A) O Deus ocioso. É típica a noção de deus que

não se ocupa dos humanos. Deixa-os aos pró-prios homens e às potências intermediárias (espí-ritos). Somente em casos dramáticos é que os homens o invocam para restabelecer a ordem.

b) As potências intermediárias adquirem grande importância. Inferiores ao Ser Supremo, elas agem a mandato dele. Elas decidem tudo e são objetos de culto e de prece. Os Iurubás têm mais de 400 orixás que recebem sacrifícios. Alguns deles introduzidos no Brasil. A sua ação na vida das pessoas acontece por meio de manjares e sangue de animais sacrificados, por transes e danças.

a religiosidade africanaOs africanos não fazem imagens do Ser Supremo, mas

possuem lugares de culto, embora modestos: pequenas ca-banas, altares junto aos caminhos ou nas montanhas.

As oferendas são feitas para pedir saúde e sucesso. Rezam diariamente e gostam da prece comunitária com

danças e cânticos. São bastante criati-vos e espontâneos, pois não gostam da formalidade. As fórmulas e ora-ções escritas importam muito pouco para os africanos que se deixam em-polgar pelo dinamismo e eficácia dos seus ritos.

a vida eterna A vida eterna é quase um dogma

nas religiões africanas. Muitos povos e tribos falam que a morte não estava nos planos do criador. Ele apareceu por culpa do próprio homem ou de um mensageiro infiel que não soube dar ao homem a boa nova da imor-

talidade, trocando a mensagem pela noticia da morte universal. A morte é um acidente imprevisto nos planos do criador, ela tem fins pedagógicos.

Os lamba, em Zâmbia, afirmam que o primeiro homem enviou um pedido ao Ser Supremo de algumas sementes que foram entregues ao seu mensageiro em pequenos pacotes com a instrução de que um deles não poderia ser aberto. Mas, o mensageiro curioso, abriu o dito pacote, do qual saiu a morte.

Os Kono, da Serra Leoa, dizem que o Ser Supre-mo enviou novas peles aos homens e as confiou a um cachorro. Mas, quando este ia a caminho para a terra, abandonou o embrulho para participar de uma festa. Falou aos companheiros que deveria levar peles no-vas aos homens, mas a serpente que ouviu a conversa roubou as peles e as repartiu entre os seus parentes. Desde então as serpentes mudam de pele, são imor-tais, enquanto os homens ficaram marcados

com a morte.

1. Quais elementos presentes nas religiões africanas merecem um destaque especial?

2. O que, disso tudo, ainda faz parte da reli-giosidade afro – brasileira? Como?

Muitos pensam que os povos africanos são de uma mesma raça, tiveram a mesma

origem e que tem os mesmos costumes e a mes-ma religião. Isto não é tão simples assim. Existem tantas religiões africanas quantos são os povos e as tribos da África, ou seja, muitas centenas.

Nós não iremos nos deter a nenhuma delas em particular e sim aquilo que é mais comum em todas as manifestações religiosas.

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04 MARÇO/ABRIL - 2009 CONVERSANDO COM O EDUCADOR

Diante Dessa realiDaDe,nos perguntamos:

Como funcionam e como estão organizadas, hoje, instituições como a família, a escola e as igrejas na Cidade de Deus?

Para nos ajudar a conhecer melhor este trabalho desafia-dor, conversamos com a Educadora Mônica Maria de Olivei-ra, moradora da Cidade de Deus e coordena-dora de comunidade junto à paróquia local. Ela atua também com crianças e adolescentes no reforço escolar e faz parte de uma equipe que auxilia famílias carentes assistidas pelos Vicentinos.

Com expressiva preocupação social, sim-pática, competente e de personalidade marcan-te, Mônica nos revela a riqueza e os desafios de como é “educar na Cidade de Deus”.

O TRANSCENDENTE: Qual sua ex-periência profissional na Cidade de Deus?mÔniCa: Trabalho com crianças e adolescentes entre 4 a 14 anos com reforço escolar e pastoral. Temos também uma grande preocupação social na ajuda às famílias carentes, para as quais, uma vez por mês, arrecadamos alimentos.

ot: O filme “Cidade de Deus” colocou o bairro nos veículos de comunicação, reforçando o estigma de co-

munidade violenta e perigosa. O que você achou do filme? Ele revelou a realidade de sua comunidade?

mÔniCa: Segundo informações recebidas de pessoas que lem-bram bem da realidade da época em que o filme foi produzido, a violência era um fator predominante, sim, mas o filme foi contado segundo a visão de um fotógrafo. O fundador de minha paróquia, Pe. Julio Grooten, por exemplo, era uma pessoa muito respeitada pelos dois lados e, muitas vezes, interferiu pedindo trégua na guerra aqui es-tabelecida. No entanto, essa presença religiosa, em nenhum momento foi retratada no filme.

A forma mentirosa e sensacionalista com que foi apresen-tada a Cidade de Deus só trouxe prejuízo para a comunidade e para os seus habitantes, pois não usou o mesmo critério para divulgar as coisas boas e as personalidades existentes naquela comunidade.

ot: Nas escolas do seu bairro existe a disciplina do ER?mÔniCa: O Ensino Religioso existe somente no ensino par-ticular, mas, mesmo assim, em uma minoria de escolas. Mesmo assim, nem sempre é ministrado por professores devidamente pre-parados.

ot: Quais os maiores desafios em trabalhar com edu-cação na Cidade de Deus?mÔniCa: Não é fácil falar que Deus é bom quando as crian-

ças, saindo pelas ruas, ou até em suas próprias casas, vivem uma realidade de violência familiar e os jovens não encontram opor-tunidades de estudo e de trabalho. Também é desafiador ver que somos “diferentes” por simplesmente morar na Cidade de Deus. Isso marca as pessoas e torna mais difícil falar em partilha, solida-riedade e oportunidade.

Quando a violência “esquenta”, até ela acalmar ficamos im-possibilitados até de realizar nossos encontros semanais.

Muitas de nossas crianças são filhas de pais separados. Con-sequência disso: às vezes elas estão com o pai e outras vezes com a mãe, que não mora aqui. Como, então, realizar uma ação educa-tiva de 15 em 15 dias?

ot: Em seu contato com as crianças, no reforço escolar, quais perspectivas de futuro você vê nelas?mÔniCa: Não sinto a perspectiva de futuro nas crianças. Elas

estudam porque os pais mandam. Quando não têm aula, por al-gum motivo, isso é até comemorado. Acho que essa questão deve ser mais explorada pelo ensino público, pois a aprovação automática fez com que o interesse em aprender ficasse em segundo plano.

ot: A discriminação racial ainda é uma realidade no Brasil. Esta realidade pode ser mudada? De que maneira? A escola pode contribuir?mÔniCa: Na Cidade de Deus, a quantidade de afro-des-cendentes é grande e vejo isso em minha área de trabalho, como também na localidade em que vivo. Eu sinto claramente que so-mos massacrados em nossa auto-estima, seja pelo fato de sermos moradores desta comunidade, como também por pertencermos a esta etnia.

É urgente combater todo tipo de discriminação. Mas como chegar a isso quando vivemos numa realidade onde impera um ensino público de péssima qualidade para a maioria negra?ot: Diante de tanta violência, em sua opinião de educadora, o que você acha que deveria ser feito para mudar esta situação? Quais seus sonhos e ideais nesse sentido?mÔniCa: Fazer com que os educandos entendam que o ensino é um passaporte para se criar um futuro melhor e diferenciado da realidade da maioria das famílias que vivem aqui. Melhorar a auto-estima das crianças e adolescentes, fazendo com que elas se sintam valorizadas, apesar do espaço geográfico que habitamos.

Realizar um trabalho sócio-cultural esclarecedor com período integral nas escolas para que as crianças tenham atividades que as levem a ler mais e a interagir com música,

dança e teatro.

Criar cursos profissionalizantes com oportuni-dade de primeiro emprego para os jovens.

Oferecer condições de subsistência de forma regular (carteira assinada), para os chefes de família, de modo que possam melhor estruturar suas famílias.

Realizar uma educação de qualidade: Todas as crianças deveriam ter o direito a uma

educação de alta qualidade e a cursar uma faculdade sem precisar do benefício das cotas. Precisamos criar uma sociedade que valorize todas as pessoas, independente da cor da pele.

Que bom seria se vivêssemos numa sociedade onde todos tivessem direito à educação, a salários dignos e onde a cor da pele não fosse empecilho para que caminhássemos juntos!

o bairro carioca Cidade de Deus, fundado em 1960 e com uma população atual de 38 mil ha-bitantes, apresenta indicadores sociais entre

os mais críticos da cidade do Rio de Janeiro. À época de sua inauguração, segundo historiadores,

esse conjunto habitacional estava localizado no meio do nada e não se sabe por qual razão este nome lhe foi dado, supõe-se que tenha sido para motivar os novos moradores.

Por suas características ímpares de violência, Cidade de Deus inspirou autores diferentes a lançarem livro e filme sobre esta realidade social trazendo o assunto para o conhecimento de todo o Brasil.

Em 2002, o filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meireles, foi sucesso de bilheteria, colocando o bairro explicitamente nos meios de comunicação, porém refor-çando seu estigma de comunidade violenta e perigosa e favorecendo um movimento de preconceito e discri-minação.

Em 2003, após intenso processo de discussões, surgiu o Comitê Comunitário de Cidade de Deus, que reuniu diferentes entidades locais que, até então, se esforçavam isoladamente em suas organizações, para que juntas pudessem trabalhar com programas e proje-tos que resultassem em positivo impacto social para a população do bairro.

É incrível, mas o significado do verbo amar relacio-na-se com muitos outros verbos. Encontre, no diagrama ao lado, 06 desses verbos.

No quadro abaixo, escreva outras palavras que você relacionaria à palavra amar.

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UNIVERSO RELIGIOSO05 MARÇO/ABRIL - 2009

Um pouco antes de descobrirem o Brasil, os portugueses chegaram à costa africana e, com o apoio de alguns chefes tribais, começaram a

capturar pessoas para o trabalho escravo. Mas essa prá-tica já existia antes de chegarem os portugueses.

Os escravos eram tratados como objetos e, como tal, trocados por armas, pólvora, tecidos, es-pelhos, fumo e bebidas. Uma grande quantidade de escravos foi trazida ao Brasil, mas também para os Estados Unidos, para o Caribe e para outras regiões.

Meu avô contou-me que, quando pequeno, estava brin-cando com os seus amiguinhos em sua aldeia, lá no interior da Angola, quando, de repente, apare-ceram os pombeiros, homens violentos que raptavam as pessoas para depois vendê-las como escravos. Meu avô, seus amigos e quase toda a aldeia foram raptados.

Quando chegaram à praia, meu avô viu muita gente, homens, mulheres e crianças vindos de vários lu-gares, de várias tribos. Ali, os prisioneiros começaram a ser divididos em grupos. Muitas vezes os amigos e os casais com os seus filhos eram separados e enviados a destinos diferentes, de forma que nunca mais se encon-trariam novamente.

Um pesadelo sem fimMeu avô, embora ainda pequeninho, manteve muito

vivo na memória os gritos de dor, de tristeza e a dolo-rosa despedida do solo africano. Ele me contou que a

viagem para o Brasil não foi nada fácil, chegando a desejar a própria morte. Foram 40 dias de viagem, trancado no porão do navio, acorrentado, no

escuro e com pouca ventilação, passando fome e sede. Muitos

morreram de fome, de doenças ou em decorrência de maus-tratos.

Ao desembarcarem no Brasil, os escravos eram reunidos em grandes galpões. Para melhorar a aparência fí-sica, antes de serem vendidos, os escra-vos recebiam alimentação especial para recuperar o peso perdido durante a via-gem. Para ficarem mais vistosos, seus corpos eram besuntados com óleo e suas gengivas e dentes eram esfrega-dos com raízes cítricas. De cabeças raspadas, eram marcados com ferro quente no ombro, na coxa ou no peito.

Nos leilões públicos, os escravos eram vendidos como uma merca-doria qualquer e os preços variavam conforme as características: homens e mulheres fortes valiam mais do que crianças ou idosos.

E o sofrimento não para por aí!Às vezes, enquanto esperavam

pelo leilão, os negros eram obrigados a presenciar um açoitamento no pelourinho,

a fim que fossem intimidados. Os cas-tigos físicos eram comuns, mas aplica-

dos somente contra os negros que não se submetiam ao trabalho forçado.

Quando passavam a trabalhar nos engenhos, recebiam uma péssima alimen-tação e nem o sagrado direito de repousar era respeitado. Para evitar fugas, muitas vezes eram obrigados a dormirem acor-rentados. Trabalhava-se do nascer ao por do sol. O trabalho nos engenhos de cana-de-açúcar era pesadíssimo.

Pior ainda era a vida dos negros que trabalhavam nas minas de ouro. Devido às condi-ções de trabalho e ao tratamento desumano a que eram submetidos, dificilmente ultrapassavam 10 anos de vida.

Mas havia também os escravos domésticos, os es-cravos que trabalhavam como carpinteiros, pedreiros ou pintores.

O trabalho deles não era tão pesado como o traba-lho dos demais e alguns conseguiam, depois de muito trabalho e juntando as economias de uma vida inteira, comprar a carta de alforria, ou seja, a sua própria liber-dade. Mas, mesmo com a carta de alforria em mãos, os negros eram discriminados e as portas da sociedade per-maneciam fechadas para eles.

apesar de tUdo a cUltUra sobreviveU

Proibidos de praticar sua religião de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos, os escravos

tinham de seguir a religião imposta pelos senhores de en-genho e a adotar a língua portuguesa na comunicação.

Mesmo com todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura africana se apagar. Es-

condidos, realizavam seus rituais, pratica-vam suas festas e, assim, mantiveram vi-vos os hábitos, os costumes, as músicas, as danças, a culinária, a língua e a religião. Inclusive desenvolveram uma forma de luta: a capoeira.

Apesar de todo o sofrimento e ex-ploração causados aos escravos africanos, a sua religiosidade se infiltrou e se conso-lidou no povo, formando, ao lado da re-ligião católica, as duas maiores religiões do Brasil.

a lUta dopovo negro por

liberdadeClaro que os negros africanos não aceitaram passi-

vamente a escravidão. Por isso, os senhores preocupa-vam-se em resgatar os fugitivos e castigar os rebeldes para conter os escravos. Havia muitas formas de rebe-lião: fugas, suicídio e, em casos mais radicais, chegava-se a assassinar o proprietário.

Os negros que conseguiam fugir começaram a for-mar comunidades: os quilombos. O mais famoso, sem sombra de dúvidas, é o Quilombo dos Palmares, cujo

chefe chamava-se Zumbi. Nessas comunidades, os negros cui-

davam das próprias lavouras e até comercializavam produtos nas cida-des mais próximas. As comunidades eram organizadas segundo os mol-des que já existiam na África. Nos quilombos, os negros podiam pra-ticar sua cultura, falar sua língua e exercer seus rituais religiosos.

O tamanho dessas comunidades variava, chegando até cerca de 30 mil

pessoas. Nessas comunidades havia algo muito especial, um tesouro de va-

lor incalculável: a liberdade! Bom, meus amigos, voltaremos a falar nesse as-

sunto na próxima edição. Axé a todos vocês!

Vimos, de forma resumida, a maneira com que os negros foram raptados da África, tra-zidos como escravos e o tratamento desuma-no que receberam aqui na época do Brasil colônia. 1. Como os negros são tratados hoje?2. Quais são as formas “modernas”

de preconceito, de racismo?3. Existe, hoje, alguma forma de

escravidão no Brasil? Quais?

Geninho: Olá, amigos, tudo bem com vo-cês?! Estou novamente aqui para falar do nosso universo religioso. Com a ajuda do meu amigo Zambi, apresentaremos nessa e na próxima edi-ção as religiosidades afro-brasileiras.

Zambi: Olá, amigos, inicio dizendo que meu nome é de origem africana e na lingua-gem Banto significa “Ser Supremo”. Vou con-tar para vocês a história de meus antepas-sados que ouvi do meu avô quando eu era pequenino e nunca mais a esqueci.

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ESPIRITUALIDADES MARÇO/ABRIL - 2009 06

Fomos conversar com o Pai-de-santo Jay-me D’Oxaguiã e ele

nos contou como vive o seu dia-a-dia, a sua espiri-tualidade e outras curio-sidades sobre a vida de um pai-de-santo.

O TRANSCENDENTE: Pai Jayme D’Oxaguiã, po-deria nos explicar a origem e o significado do seu nome?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Bom, Oxaguiã é o nome do orixá que eu carrego, o meu primeiro santo, o meu orixá de frente. Cada indivíduo tem dois anjos-da-guarda – eu uso do sincretismo religioso para fazer-me entender melhor, há um anjo que cuida da nossa frente e outro que cuida das nossas costas. Oxaguiã é o dono de minha cabeça, ou seja, dono de minha feitura, dos meus caminhos. Segundo a lenda africana, Oxaguiã é o lado guerreiro de Oxalá, embora Oxalá seja pacificador.

Além de Oxaguiã como Pai, tenho Iansã como Mãe. Iansã não é apegada a nada, é guerreira e não dá ago, isto é, não perdoa ninguém, nem os próprios filhos. Ela manifesta sua força nos ventos e nas tempestades.

OT: Pai Jayme, como você descobriu quem são seus ori-xás protetores?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Bom, a nossa espiri-tualidade se desenvolve dentro de uma casa de santo. A minha caminhada espiritual iniciou-se na Umbanda, onde fiz a minha primeira feitura. O meu orixá nesta época era Ogum.

Depois de algum tempo, devido a uma doença de minha mãe, comecei a participar de um outro ritual de Umbanda, seguimento Almas de Angola. Ali fiz uma segunda feitura e recebi então o nome de Oxaguiã.

OT: O que significa “fazer a feitura”?

PAi JAYmE D’OxAguiã: “Fazer a feitura” é o processo realizado para tornar-se babalorixá (pai-de-santo). Nesse processo, raspa-se o santo, ou seja,

raspa-se a cabeça e, durante sete dias, a pessoa realiza uma série de oferendas, alimentos especiais previamen-te preparados, trabalhos e rituais aos orixás.

OT: Qual é a diferença entre Umbanda pura e Almas de Angola?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Os rituais diferem um pouco. O ritual da Alma de Angola é uma fusão de alguns ensinamentos de dois rituais do Candomblé: Ketu e Angola. No ritual de Almas de Angola se raspa o santo, são ofertadas comidas especiais aos orixás e há também o sacrifício de animais. É importante dizer que toda a carne dos animais sacrificados nos rituais é aproveitada para a alimentação.

OT: Pai Jayme, como você vive a sua espiritualidade no dia-a-dia?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Eu sou graduado em Biologia, sou professor e sempre fui muito discreto em expressar publicamente a minha religiosidade. Geralmen-te vou à casa de santo aos sábados, quando tenho as ses-

sões públicas, e durante a semana, quando há necessidade de atender espiritualmente alguém. Eu não vivo do meu trabalho de pai-de-santo. Acordo cedo todos os dias, vou para o meu trabalho e sempre procuro fazer o bem, ser caridoso. Nunca utilizo de meus dons mediúnicos para ganhar dinheiro, para tirar proveito.

Preparando-me para as celebrações, às sextas-feiras, não como carne e tomo banho de ervas. Preparo tam-bém o terreiro, iluminando o gongá, isto é, o altar, e har-monizo o ambiente para a celebração. Para isso utilizo incenso, ervas e uma combinação de folhas da natureza para “limpar” a casa dos fluidos negativos. Os filhos-de-santo também se preparam para a celebração evitando comer carne, abstendo-se da atividade sexual, de fre-quentar bares e boates, enfim, nada que envolva vícios.

Preparamos também alguns ebós, ou seja, pratos fei-tos à base de mel, farinha de mandioca, cachaça e dendê. Estes ebós são ofertados aos orixás ou às entidades in-

feriores para que eles tomem conta da casa, não dei-xando que coisas negativas cheguem ao ambiente e às pessoas que ali estarão.

OT: Como se dá a incorporação?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Alguns indivíduos têm a capacidade da incorporação, são os médiuns. Eles, por exemplo, incorporam alguns dos antigos escravos brasileiros, chamados pretos velhos. Outras entidades são os caboclos e as crianças. No momento da incorporação, eles cuidam da pessoa, rezam por ela, como os curandeiros faziam antigamente.

OT: Qualquer pessoa pode incorporar uma entidade? Como identificá-la?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Para se desenvolver, o médium passa por alguns processos. Ele realiza uma caminhada espiritual. Primeiramente o faz através de uma “limpeza” feita com ervas, toma alguns banhos es-peciais, acende velas para o seu anjo de guarda etc. As-sim, depois deste processo, que dura em média de 3 a 5 anos, a pessoa está apta para incorporar, para tornar-se médium. Neste meio tempo, nós poderemos identifi-car qual é o seu guia, o seu preto velho ou caboclo, e comprovar a existência deles, já que eles tiveram uma vida terrena.

OT: Qualquer pessoa pode tornar-se pai ou mãe-de-santo?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Para tornar-se pai ou mãe-de-santo, a pessoa precisa fazer uma longa cami-nhada espiritual. Primeiramente, ela é batizada, depois de 2 ou 3 anos, realiza a sua primeira obrigação, que é tomar obori, e recebe uma guia, que é um fio de con-tas do pai ou da mãe de cabeça dela. A esse processo acrescenta-se mais 3 a 4 anos, nos quais a pessoa per-manece dentro da casa de santo aprendendo com seus orixás e desenvolvendo as obrigações de pai-pequeno ou de mãe-pequena.

Depois de mais 4 ou 5 anos, a pessoa faz a sua coroa de babalorixá ou ialorixá. Mas, de fato, é realmente pai ou mãe-de-santo quando começa a ter filhos-de-santo.

OT: Hoje, apenas os afro-descendentes participam dos terreiros?

PAi JAYmE D’OxAguiã: Considerando que o Brasil foi colonizado pelos portugueses e que aqui já havia índios, e que depois vieram os africanos, os holandeses, os espanhóis, os italianos, os alemães etc, a miscigenação fez parte de nossa história e hoje pode-mos perceber isso claramente nos terreiros. Eu mesmo sou descendente de italianos e de espanhóis, mas meu tataravô era negro. Então, posso dizer que tenho o san-gue negro que corre em minhas veias e tenho muito orgulho disso.

R esolva as equações e substitua o resultado pelas letras cor-respondentes. Dessa forma você descobrirá o nome de alguns

orixás. Observação: há duas letras ainda desconhecidas. Descubra-as. Escreva o nome dos orixás encontrados.

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07 MARÇO/ABRIL - 2009 RITOS E VIDA

Rito de passagem para mãe ou pai-de-santo

O ritual dá-se em sete dias, nos quais nós ficamos recolhidos, deitamos na esteira, temos um quarto-de-santo e cada dia há uma obrigação para fazer, um ritual a ser feito. Por exemplo, na segunda-feira, nós fazemos a obrigação para Exu e para as almas; na terça-feira, são realizados os preceitos, que são rituais, nos quais é feita a troca dos elementos da pessoa e ofertados ao orixá. São feitos vários cruzamentos no corpo da pessoa com um giz branco e a pessoa é ungida com a seiva de certas árvores e com ervas. Assim, ela fica imantada e ener-gizada, maneira com a qual é feita a ligação da pessoa com o orixá. De certa forma, o rito é um segredo e não podemos dar maiores detalhes.

Os sacrifíciosOs sacrifícios estão presentes, senão em todas, em

boa parte das religiões. Na Bíblia, vemos, por exemplo, Abraão, que estava por sacrificar seu filho e oferecê-lo a Deus, quando apareceu um anjo apresentando-lhe um carneiro, fazendo-o mudar de idéia. Então, há séculos existe essa doação que o homem faz ao seu Deus.

Para nós, o sangue do sacrifício é como uma troca de energia. Não fazemos os sacrifícios ao acaso, nós o fazemos com muito respeito, com orações etc. Nós não jogamos nada fora, pois todo o alimento é partilhado com a comunidade.

As oferendas Na maioria das vezes, as pessoas têm uma idéia er-

rônea e preconceituosa, quando vêem alguma oferenda feita na estrada. Às vezes, por exemplo, são oferendas de pessoas doentes que pedem por saúde etc.

Podemos dizer que a oferenda, de certa maneira, é

Numa bela oportunidade, a Equipe de O TRANSCEN-DENTE visitou o terreiro Reino de Iemanjá, parti-cipou da festa de Oxóssi e conversou com a Mãe

Dilma de Iemanjá, mãe-de-santo há 27 anos, e com a Mãe Kátia de Omulu, mãe-de-santo há 21 anos. Ambas são do ritual de Umbanda Almas de Angola. A Equipe foi muito bem recebida e nesta edição apresentamos para vocês trechos desta agradabilíssima conversa.

uma troca. Por exemplo: nós fazemos a nossa obrigação para com Exu, o guardião dos caminhos, ofertando-lhe fa-rinha ou farofa, ou ofertamos pipoca ao Obaluaê ou canjica ao Oxalá e, em contrapartida, esperamos receber saúde, em-prego, fartura, sucesso etc. A grande maioria dessas oferen-das é feita para finalidades positivas.

Em nossos terreiros, não admiti-mos que alguém venha pedir à entidade algo que seja contra a moral ou os bons costumes.

A música e a dançaA música e a dança é o que nos faz

entrar em contato com os orixás. Faz parte de nossa espiritualidade. É através dos sons que nós nos concentramos e nos preparamos para o orixá.

Do início ao fim da celebração, há cantos específicos para cada momento, que são coordenados pela mãe ou pai-de-santo. Quando cantamos a Iemanjá, por exemplo, vêm para o centro da roda os médiuns de Iemanjá e fazem a dança para Iemanjá. Portanto, para cada orixá há um canto e uma dança específica.

A hierarquiaAqui em nosso terreiro, por exemplo, estou eu como

mãe-de-santo, depois a Kátia, minha filha carnal e tam-bém mãe-de-santo. Katia é babá reforçada de 14 anos, mas já vai completar 21 anos de mãe-de-santo.

Temos também um filho babalaô reforçado de 14 anos, outros babalaôs, mães-pequenas e as burizadas. Mas para um terreiro funcionar, é preciso apenas um sacerdote, no caso, uma mãe ou um pai-de-santo, uma segunda pessoa que possa desempenhar a sua função em caso de necessidade; o cambono, que é quem enten-de do orixá, da forma e dos momentos do terreiro e o ogan, o responsável pelo atabaque.

O batismoNós temos três datas para a realização do batismo.

Ele pode ser realizado numa madrugada de sexta para sábado, quando há camarinha; na madrugada de Quin-

ta-feira para a Sexta-feira Santa ou no dia em que a gente comemora e faz a obrigação de Mamãe Oxum, que é rea-lizada sob uma cachoeira, onde é lava-da a cabeça do santo.

Hoje temos dificuldades em en-contrar cachoeiras que tenham as águas limpas e a natureza a sua volta respeitada. Mas, felizmente, graças à colaboração de muitas pessoas, que cuidam da natureza, hoje ainda é pos-sível encontrarmos belas e límpidas cachoeiras, onde podemos realizar os nossos ritos.

As guiasPara cada orixá há uma guia e uma cor correspon-

dente. Hoje procuramos fazer as guias usando mais os cristais, porque o cristal emana mais energia, mas há ou-tras que são feitas de pedras ou de cerâmica. Elas ser-vem para a proteção e são preparadas utilizando ervas e de acordo com o orixá de cada um.

As guias também servem para diferenciar a gradu-ação de cada pessoa no terreiro. Elas diferenciam uma babá de uma mãe-pequena, ou uma babá de 14 anos de uma babá de 21 anos e assim por diante. Todos os parti-cipantes do terreiro usam as guias. Por exemplo, quando a pessoa é batizada, ela já recebe a sua guia branca, que é a guia do anjo de guarda dela.

A pomba-gira A pomba-gira, as ciganas, que pertencem à linha-

gem de Exu, são espíritos ou entidades que ainda vêm para evoluir. Eles vêm para trabalhar, para fazer carida-de. Isso também depende muito de cada médium que incorpora a entidade, porque, ao fazer caridade, ele faz com que ela evolua espiritualmente.

A morteA morte é vista como uma passagem. A pessoa

deixa a matéria de um lado e vai para o lado espiri-tual. No outro lado, o espírito também tem as suas obrigações, como nós temos as nossas aqui, de cres-cer e de evoluir. O caminho espiritual continua sem-pre, não para.

O caçador de tesouros está procurando uma riqueza infinitamente mais valio-

sa que o ouro e a prata. Para descobrir o te-souro, o caçador deve seguir o seu caminho desvendando as pistas, que são letras. Que tesouro é esse de que estamos falando?

Letra “Alfa”

dos gregos

Está em “mamãe”,

“mama” e “mão...

É a nonado ABC

A letra é a marca

do personagem

“Zorro”

Letra que pode

receber crase

500 no numeral

romano

Sem ela, se escreve “sprança”

Resposta no site: www.otranscendente.com.br

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ATUALIDADES MARÇO/ABRIL - 2009 08

Uma origem em comumResumidamente, a lógica é a seguinte: a religiosi-

dade teve início na África e de lá foi disseminada para outras partes da Terra. Nesses lugares, as comunidades assentadas criaram suas culturas e também suas identi-dades religiosas. Mas, devido às influências geográficas e ao paulatino distanciamento histórico, essas identi-dades foram se particularizando em relação às práticas ancestrais africanas.

O Brasil e a África, por exemplo, se identificam culturalmente em vários aspectos, graças ao seu pas-sado histórico duplamente comum: a colonização por países europeus predominantemente cristãos e a pró-pria ancestralidade africana. Apesar disso, é preciso ter muita cautela ao tratar da afro-descendência no Brasil e das similaridades a ela inerentes.

No que diz respeito à religiosidade, os ritos sacros que os negros fazem no Brasil só têm algu-ma ascendência africana, não necessariamente a an-cestralidade autenticamente africana. Eles misturam ritos de matriz tradicional africana com os ritos cris-tãos e de outras religiões praticadas no Brasil. Para complicar, não existe de fato uma identidade religiosa africana única.

As religiosidades africanas sofreram influências

Apesar de terem conseguido preservar boa par-te de suas tradições culturais e religiosas durante os séculos de dominação colonialista, os africanos não ficaram totalmente imunes à globalização cultural e religiosa que se desenhava havia séculos. O inten-so contato social com os colonizadores europeus, a partir do século XV, afetou as tradições culturais e religiosas nativas africanas. Da mesma forma, a con-vivência voluntária ou forçada com povos islâmicos, a partir do sétimo século, já tinha influenciado a pró-pria natureza das identidades religiosas na África.

Então, muitos escravos trazidos para o Brasil não prati-cavam necessariamente as religiões tradicionais nativas, mas uma forma contaminada dessa religiosidade, com elementos do cristianismo e/ou do islamismo.

No Brasil, com o passar do tempo e com a perda gradativa das referências ancestrais africanas, os negros se viram forçados a aprofundar o sincretismo, uma for-ma de mestiçagem religiosa muito comum em terras de colonização escravocrata neolatina e de missão, como foi o Brasil.

O Sincretismo religiosoOs descendentes de africanos, sobretudo as ge-

rações nascidas no Brasil, habilmente construíram estratégias, criando aparentes sincretismos religiosos entre os deuses africanos e os santos católicos. Nesse sentido, produziram um fator de ajustamento do in-divíduo à sociedade. O candomblé baiano, por exem-plo, conservou muito do panteão mítico africano. Porém, a forma como existe no país não existe na África. Foi uma religião concebida no novo país. Este é o caráter de vitalidade das religiões, que é viva e passou por um longo processo de acul-turação e transformação que, em alguns casos, se converte em ideologia, mas nem sempre (FÁVERO, 2007).

Existe outro aspecto a con-siderar: a forma de acultura-ção dos negros no continente americano. Comparativamente aos negros nas ex-colônias anglo-saxônicas da América do Norte, que perderam quase por completo as refe-rências culturais e religiosas da ances-tralidade africana, os negros na América Latina e Caribe, apesar do sincretismo, preservaram algumas referências religiosas africanas.

A religiosidade afro-brasileira

Candomblé e Umbanda, as duas “religiões africanas” de alcance nacional, são distintas na origem, mas en-trelaçadas no conceito e na invocação à ancestralidade africana. O candomblé, que foi criado por escravos tra-zidos da região do Golfo da Guiné, principalmente dos atuais Benin e Nigéria, incorporou muitos ritos do cris-tianismo e do espiritismo. Por volta de 1920, época de efervescência modernista no Brasil, nascia a umbanda, como “dissidência de um kardecismo que rejeitava a presença de

guias negros e caboclos, considerados [...] como espíritos inferio-res” (PRANDI, 2006, apud BRÜGGER, 2008).

Os terreiros foram organizados como uma mes-cla de práticas religiosas tradicionais africanas, do cris-tianismo, espiritismo e de cabalas orientais. Iemanjá, por exemplo, surge como uma das figuras emblemáti-cas desse sincretismo. Entre os praticantes de religiões ditas africanas, Iemanjá é a rainha das águas, mas nada impede que também seja a mãe de Jesus Cristo vene-rada como Nossa Senhora dos Navegantes; que seja reverenciada ou tolerada por brasileiros praticantes de outras religiões, mesmo entre os evangélicos abertos à diversidade religiosa.

Um dos pontos de convergência religiosa aconte-ce na noite do Reveillon: fiéis das mais variadas matri-zes religiosas acorrem às praias com oferendas à deusa

dos mares à procura de proteção, paz e sucesso no ano vindouro. O branco, cor simbólica da paz

no mundo ocidental, colora os fiéis, transi-tando entre o mundo profano e o religioso.

Respeito e convivênciaNa Bahia de Todos os Santos, estado

sincrético por excelência, as esca-darias da igreja do Bonfim são la-

vadas por mães e pais de santo, após uma celebração religiosa

que reúne, pacificamente, di-ga-se de passagem, católicos e praticantes de religiões de matriz africana.

A própria Igreja Cató-lica, trabalha, há anos, pela

valorização da negritude em seus ritos e dentro da sua estrutura. Em

1988, a CNBB incentivou a criação da Pastoral Afro, respondendo à demanda de Agentes Pastorais Negros que já atuavam em algumas paróquias e comunidades eclesiais de base, como também incluiu “celebrações afros” nos seus calendários litúrgicos. Os agentes orga-nizam grupos de estudo que abordam a questão dos negros brasileiros do ponto de vista litúrgico, antro-pológico, histórico, cultural e político.

O que existe no Brasil de hoje é, na verdade, uma religiosidade sincrética e mestiça. Ela pode ser percebida tanto nas práticas religiosas cristãs quanto nos terreiros das religiões de ma-triz africana.

Se partirmos das evidências histórico-paleontológicas de que a humanidade começou no continente africano e que

as práticas religiosas também surgiram lá, podemos afirmar que toda a identidade re-ligiosa, em qualquer parte do mundo, tem suas raízes na África. Logo, essa identidade é, em certa medida, uma religiosidade afro-descendente.

A frase começa aqui.

Coloque todas as palavras que estão nos “pilares da ponte” nos seus devidos lugares, forman-do, assim, uma frase. Converse com os colegas a respeito.

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NOSSO COMPROMISSO MARÇO/ABRIL - 2009 09

OS DESAFIOSPara todos aqueles que descendem da África, o con-

vívio com as adversidades diárias, decorrentes da eleva-da concentração de melanina, configura quase que um calvário. Desde a hora em que a pessoa negra, pela ma-nhã, abre os olhos para o início da sua jornada, já pode perceber as manifestações do racismo.

Ao ingressar no ônibus, pode ser que naquele as-sento ninguém queira lhe fazer companhia; talvez, ainda, no seu próprio carro alguma viatura da polícia lhe pare para pedir seus documentos (apenas para conferir); tal-vez, ainda, no seu trabalho, onde você ocupa um cargo importante na hierarquia, alguém chegue ao seu setor, com você sentado na cadeira do chefe e lhe perguntem: onde ele se encontra?

E ao anoitecer, quando você sai do trabalho e se dirige ao seu espaço de culto espiritual, no seu centro de Umbanda ou barracão de Candomblé, quando as entidades estiverem incorporadas e os filhos de santo estiverem, respeitosamente, concentrados em suas obri-gações, talvez irrompa porta a dentro uma guarnição da Polícia Militar armada ameaçando e mandando parar o culto, proibindo o rufar dos tambores.

Há uma deliberada ação de muitos grupos de policiais militares e setores governamentais que, sob o manto de conceitos pretensamente ambientais, vêem desfechando pesados golpes contra os praticantes das religiões de matrizes africanas. Deste modo, a liberda-de para as práticas dos cultos religiosos, previstas na Constituição Federal, não é reconhecida pelos próprios agentes públicos, na maior parte dos estados da Fede-ração. As religiões organizadas por negros, indígenas e

O Brasil é um mosaico. Porém, essa re-alidade ainda se constitui num gigan-tesco desafio. Esta “não conclusão” da

nossa QUEstão nACionAl faz expressar-se pela agudeza das insuficiências, por exemplo, das questões étnico-raciais.

assim, a questão racial, como é conside-rada toda a gama de conflitos e desigualdades por conta de critérios racialmente utilizados para assegurar privilégios ou impor prejuízos, vai se manifestando por todas as vidas dos brasileiros. Estas, desde a mais tenra idade, já convivem com a força explícita ou não desses determinantes.

espíritas sofrem profundas e vergonhosas perseguições, impedindo ou ameaçando o exercício da fé, conforme assegura a lei maior.

DIREITOS FUNDAMENTAISParece ser óbvia a facilidade desses ataques, consideran-

do, principalmente, a origem humilde da maior parte dos praticantes, que não gozam de articulação social e política nas grandes esferas do poder, para que minimamente sejam protegidos das humilhantes intervenções dos policiais.

A violência dessas ações, onde a intimidação é o propósito maior, materializa-se pelo uso do armamento pesado e pela forma arrogante de como se dirigem aos sacerdotes dessas religiões. Digo, ainda, que é preciso aprofundar a busca pela instituição da garantia dos di-reitos constitucionais, com base na igualdade e Equida-de. Por certo, nunca se viu e, tomara que não se veja, um templo católico sendo invadido, ameaçado ou fe-chado, naqueles períodos consagrados, do dia quando os sinos dobram.

sabemos que o Estado deve ser laico, entretanto não desconsideramos que os seres humanos que confeccio-nam as leis, ou que são responsáveis pelo seu zelo, as façam, muitas vezes, fortemente influenciados pelas ex-pressões ideológicas das suas convicções políticas e reli-giosas. isto tudo é compreensível, porém o aparelho do Estado não pode impedir as pessoas de usufruírem dos seus direitos mais elementares.

PROCESSO DE RESISTÊNCIAPor sua vez, nas Unidades Federativas do sul do país,

há uma cruel elaboração no imaginário do poder, que se transporta para a vida real. Essa elaboração vem do asse-guramento de que os negros e os indígenas não existem, em expressividade, nesses espaços e, por isso, esses que insistem em por aqui viver, não merecem consideração e

respeito. logo, a intolerância se estabelece da seguinte forma: vamos acabar com tudo que lhes permite res-pirar; a começar pelas crenças, com os vínculos com as suas ancestralidades, com a deslegitimação das suas culturas e quem sabe um dia tenhamos santa Catarina, Rio Grande do sul e Paraná “brancos”, de fato.

Vale lembrar, para tanto, que foi por intermédio da força das religiões; dos cânticos; dos batuques; do culto à memória dos nossos ancestrais que os descen-dentes de africanos fizeram o processo de resistência ao holoCAUsto; atravessando oceano e resistindo as relações hostis em terras desconhecidas. Foi assim que se venceu o BAnZo; foi assim que não deseja-mos mais a morte por suicídio. E foi assim, também, que as mães não mais precisaram sacrificar a vida de seus bebês; também foi por esta ordem que conseguimos montar as nossas famílias e, por certo, também foi assim que garantimos o nascimento da Flor na Senzala. Saravá.

EntEndEndo as ExprEssõEs:Holocausto: Vítimas sacrificadas - abstração da vontade própria para satisfazer a de outrem. os negros eram sacrificados para satisfazer os ca-prichos dos senhores brancos.

Banzo: triste, abatido - nostalgia mortal que ata-cava os negros escravizados trazidos da África.

Flor na senzala: Verbete que exprime, ao con-trário do que muitos pensavam, que também na senzala havia amor, família, esperanças e recor-dações entre os escravos brasileiros. livro: na senzala uma Flor (robert slenes).

saraVÁ: saudação: salve! Viva! - expressão de influência africana no português do Brasil.

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10 MARÇO/ABRIL - 2009 TEMAS TRANSVERSAIS

REALIDADE ASSUSTADORAHá aproximadamente 33,2 milhões de pessoas no

mundo que vivem com HIV/AIDS e o alerta maior se dá para a África do Sul que, segundo estimativas, tem o maior índice de vítimas com 5,3 milhões de portadores do vírus da AIDS entre sua população de 45 milhões.

No continente africano, estima-se que, atualmente, cerca de 25 milhões de pessoas sejam portadoras do HIV.

Desde o começo desta epidemia, no início dos anos 80, já morreram, na África meridional, 11,5 mi-lhões de pessoas, número quase igual ao da população da cidade de São Paulo.

Por décadas, o problema do HIV na África do Sul tem apenas crescido. As estatísticas mostram que quase um terço (29,5%) das mulheres grávidas da África do Sul são soropositivas.

O HIV NÃO ESCOLHENÍVEIS SOCIAIS

No início de 2005, o filho do líder político Nelson Mandela, de 54 anos, morreu em consequência da doença.

Uma das razões para o crescimento do problema tem sido o fato de que a população, que por anos foi marginali-zada pelo Apartheid – sistema político que separava a população negra da po-pulação branca - só tinha os “Sango-mas”, curandeiros para resolver seus problemas de saúde.

Antes da queda do Apartheid, os serviços de saúde para a população ne-gra eram limitados, de forma que o HIV se tornou um problema generalizado e a comunidade então procurava os curandeiros que lhe passavam remé-dios naturais feitos à base de ervas, que não curavam a AIDS em si, mas ajudavam a aliviar os sintomas.

Com o fim do Apartheid, abriram-se os hospitais para os negros, mas estes não vieram pelo fato que a elite médica, em sua maioria branca, manteve por anos uma campanha de ataques aos Sangomas, criando assim uma alienação cultural.

O ESCLARECIMENTO E O DIÁLOGO COMO SOLUÇÃO

Para amenizar a situação, a solução foi convidar os Sangomas para um projeto de integração. Aos curan-deiros foi confiado o poder de identificar os sintomas da AIDS e encaminhar as pessoas para os hospitais. Foi atribuída ainda a competência de oferecer medicamen-tos farmacêuticos misturados às ervas que a população já conhecia.

Atualmente, após milhares de vi-das perdidas, a solução encontrada para amenizar a questão da AIDS na África tem sido a riqueza da linguagem, na qual o diálogo, o respeito à cultura e os recursos modernos se fundem numa luta única contra o grande mal, o HIV. A profissão de curandeiro che-gou a ser recentemente regulamentada pelo governo da África do Sul.

CRESCE NÚMERO DE CASOS DE AIDS ENTRE

JOVENS NO MUNDOO Relatório do Programa Con-

junto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS chama a atenção para o forte crescimento do número de novas infecções entre jovens. Pessoas entre 15 e 24 anos res-pondem por 40% dos 4,3 milhões de novas infecções

em 2006, ou seja, 1,7 milhão. O mesmo Relatório demonstra o

avanço do número de casos e o cresci-mento das mortes por AIDS. Em 2006, um total de 39,5 milhões de pessoas vi-viam com HIV/AIDS no mundo. 63% delas viviam na África Subsaariana.

RELATÓRIO MOSTRA AUMENTO DE CASOS DE

AIDS ENTRE IDOSOSO Relatório (2006) mostra que houve

um aumento na incidência da doença entre os idosos. Na população com 60

anos ou mais, de 1996 a 2005, a taxa (casos por 100 mil habitantes) passou de 5,9 para 8,8 (em homens) e de 1,7 para 4,6 (em mulheres).

Segundo especialistas, o comportamento se-xual dos idosos mudou muito devido à invenção de medicamentos como o Viagra. Outro fator relevante é que as pessoas que são idosas hoje podem ter se contaminado 10 ou 15 anos atrás, mas o HIV só se manifestou agora.

HIV NO BRASIL Há 540 mil pessoas infectadas com o vírus da AIDS

no Brasil.O Relatório do UNAIDS indica que as pessoas que

vivem na pobreza e com baixo índice de educação for-mal são as mais vulneráveis ao HIV no Brasil. Além disso, aponta que cresce o número de mulheres infec-tadas no país e as brasileiras entre 25 e 39 anos são as que mais fazem o teste.

Nos últimos anos, a epidemia mudou. Há novos grupos que se tornam mais vulneráveis: as mulhe-res, os negros, os adolescentes e os jovens.

Apesar das mazelas deixadas por essa doença ainda tão cheia de pre-conceitos, no Brasil o acesso uni-versal a medicamentos eficazes fez a AIDS ser considerada uma doença crônica para a maioria dos pacientes, desde que seja feito um acompanha-mento médico rigoroso. Já na África do Sul e nos demais países da Áfri-ca, a AIDS ainda é uma sentença de morte para as famílias mais pobres.

A LUTA É INTENSIFICADA: A primeira sede da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz - fora do con-tinente brasileiro será inaugurada em Maputo, capital de Moçambique com o objetivo de produzir remédio contra a AIDS.

CONSTRUINDO CONHECIMENTO

SOBRE O TEMA• Além do que o texto apresenta, o que mais você sabe sobre a AIDS?

• A AIDS é transmitida de diversos modos. Quais são estas formas de contaminação?

• As campanhas contra a doença nem sempre atingem a consciência das pessoas. A seu ver, qual seria a cam-panha ideal para atingir os jovens?

• Crie, juntamente com a sua turma, uma campa-nha de alerta e conscientização sobre o crescimento do número de jovens contaminados pelo HIV e en-vie para o Jornal O TRANSCENDENTE a campanha realizada. A melhor idéia será divulgada em nosso site.

África subsaarianaSul do Sudeste AsiáticoAmérica Latina América do Norte Leste da Europa e Ásia Central Leste da Ásia Oeste da Europa Norte da África e Oriente Médio Caribe Austrália e Nova Zelândia

A AIDS ESTÁ EMTODO O MUNDO!“O Mundo está perdendo a luta

contra a AIDS”, declarou, em 2006, Richard Feachem, diretor

do Fundo Global para o Combate da AIDS, Tu-berculose e Malária (ONU). “Estamos começan-do a compreender a magnitude desse horror, mas apenas começando. Temos muito que fazer ainda”, complementou.

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ASSINATURAS MARÇO/ABRIL - 2009 11

O jornal O TranscendenTe tem a hon-ra de convidar a todos os alunos e pro-fessores para participarem do concurso

“Brasil: Terra de todos os povos”. O objetivo desse concurso é promover a

criatividade artística e, acima de tudo, demonstrar que a nossa riqueza cultural está na diversidade, na acolhida e no respeito pelo outro, independen-temente da cor da pele, raça, credo ou grupo ét-nico.

as escolas têm, dessa forma, a oportunidade de trabalhar de forma criativa e edificante este tema. Além de estimular a habilidade artística e as reflexões

acerca dessa proposta, todo o material será disponibili-zado em nosso site e os melhores serão publicados no jornal O Transcendente.

Acreditamos que, de uma forma ou de outra, essa partilha de sentimentos e de percepções nos enrique-cerá mutuamente.

Trata-se de um espaço aberto para todos. Inclusive muitos já foram contemplados com prêmios e brindes. Você, seus colegas e a sua escola poderão ser con-templados!

envie redações, desenhos, acrósticos, poesias, fotos etc. que abordem a temática: “Brasil: Terra de todos os povos”.

Enviar via e-mail: [email protected] / Via Fax: (48) 3222.9967Jornal Missão Jovem - Cx.: Postal 3211 - CEP 88010-970 - Florianópolis - SC

AGUARDAMOS A SUA PARTICIPAÇÃO

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12 MARÇO/ABRIL - 2009 SABEDORIA E VIDA

Um jovem, de nome Makembé, vivia com sua família em uma aldeia do

Congo. Um dia, Makembé estava jogando bola sobre a terra árida, quando o grande sá-

bio da vila o chamou: - “Makembé, todas as nossas esperanças

repousam em você. Nós estamos em plena seca e todos os habitantes

estão desesperados ao verem as suas plantações

morrerem. Somente o mais jovem da aldeia poderá

fazer cair a chuva e nos salvar da miséria!”

- “Eu..., mas por que eu?” Balbucia o jovem.

- “Sim, você. Você deve encontrar uma maneira de fazer

cair água sobre a nossa aldeia. Essa é a sua missão!” Ainda um pouco desnorteado com a situação, o jovem refletiu:- “Bom, eu vejo apenas uma única solução. Certo dia minha avó falou-me de um arco

mágico. Talvez eu possa servir-me dele. Mas onde poderia encontrá-lo?”. A noite toda Makembé procurou por uma resposta. Tudo em vão. Pela manhã, ele foi

conversar com sua avó a respeito do arco mágico. Ela respondeu-lhe:- “O arco mágico foi escondido, mas se você responder corretamente a esta questão, eu

revelarei seu esconderijo”.

- “Eu estou lhe escutando vovó!”- “Pois bem. Se em seu caminho você encontrasse um homem e um cavalo machucados,

e você poderia apenas cuidar de um deles, qual deles você escolheria?Após muita reflexão, Makembé responde seguro de si:

- “O cavalo!”- “Ah, e por quê? - Disse a avó.- “Porque uma vez o cavalo curado, ele poderia

transportar mais facilmente o homem ferido e assim chegaríamos o mais rápido possível ao hospital”.

- “Parabéns! Você respondeu a questão com muito bom senso. Vou conduzi-lo até o arco”.

Makembé acalmou-se e descansou por alguns minutos. Depois pegou o famoso arco que estava escondido e, com todas as suas forças, começou a atirar dezenas de flechas em direção às nuvens. As nuvens, atingidas pelas flechas, começaram a fazer barulho e as suas lágrimas começaram a cair.

A chuva foi a maior alegria dos aldeões. Assim, todos aclamaram o jovem herói que, embora sendo ainda pequeno, fez uma grande ação.

Contos AfriCAnos: Makembé et l’arc magiquetrAdução: sandro Liesch

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