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ANO V - Nº 19 OUT/NOV 2011 O Transcendente Av. Hercílio Luz, 1079 Florianópolis SC 88020-001 Fone: (48) 3222.9572 www.otranscendente.com.br PAG 01.indd 1 15/08/2011 08:55:29
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O Transcendente - No.19

Mar 24, 2016

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Edição Outubro/Novembro 2011
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Page 1: O Transcendente - No.19

ANO V - Nº 19

OUT/NOV2011

O Transcendente • Av. Hercílio Luz, 1079 • Florianópolis • SC • 88020-001 • Fone: (48) 3222.9572 • www.otranscendente.com.br

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Jornal bimestral de Ensino Religioso pertencente ao PIME Registrado no Cartório de Registro Civil de Títulos e

Documentos de Pessoas Jurídicas de Florianópolis sob o nº 13Diretor: Pe. Francisco Gomes - P.I.M.E.

Jornalista Resp.: Yriam Fávero - Reg. DRT/SC nº 800 Redatora: Roseli Cassias

Diagramação: Fábio Furtado Leite / Juliana Lourenço

SEDE: Av. Hercílio Luz, 1079 - Servidão Missão JovemPARA CORRESPONDÊNCIA:

Cx. Postal 3211 / 88010-970 / Florianópolis / SCFONE: (48) 3222.9572 / FAX-AuTOMáTICO: (48) 3222.9967

EndErEço do JornAL “o TrAnSCEndEnTE”:

Ano V - nº 19 - oUTUBro/noVEMBro - 2011

Site: www.otranscendente.com.brE-mail: [email protected]

•Individual:•Assinatura Coletiva (no CUPoM da página 11)•Assinatura de apoio:•Internacional:

ASSInATUrA AnUAL

r$ 20,00

r$ 35,00r$ 55,00

www.webradiomissaojovem.com.br

A busca da divindade que conduz à eternidade

Como sabemos, a Índia é um país profundamente religioso. Na verdade, o homem é por sua natureza um ser religioso, portanto, a busca pelo sagrado, pela salvação e verdadeira felicidade faz parte da cons-tituição de cada um de nós. Mesmo aquele que diz não acreditar em nada, em algum momento de sua vida acaba sentindo a necessidade de invocar alguém supe-rior, com poder de transformar as rea-lidades mais profundas. Não importa a divindade a quem se dirige nem a forma da prece, o homem é um ser que reza, acredita e busca a própria salvação.

Nem todas as religiões têm o mes-mo conceito ou dão o mesmo conteúdo à palavra salvação. Para o Cristianismo, salva-ção é, após a ressurreição da carne, o encontro com Deus Pai e a conseguinte felicidade eterna – o Paraíso, mas essa felicidade deve ser buscada durante a vida terrena. Para o Budismo e o Hin-duísmo, a salvação é romper o ciclo interminável das reencarnações, através de comportamentos adequa-dos durante a reencarnação atual, para se perder no Nirvana - estado de libertação do sofrimento. Como veremos nesta edição, tanto o credo do Sikhismo como do Jainismo procuram libertar os fiéis do ciclo da reencarnação. Isto é o que eles têm em comum, mas são diferentes em outras concepções.

Por um Ensino Religioso que prepara para a vida

Através de conteúdos próprios e de uma adequa-da metodologia, o Ensino Religioso visa proporcio-nar ao educando o conhecimento dos elementos bá-sicos que o auxiliem na busca de compreensão das razões de ser religioso e das próprias religiões, para que o respeito mútuo e a tolerância religiosa se efeti-vem nas relações de saber, de crer e de poder.

O Ensino Religioso, assim entendido e bem compreendido, tem metodologia e conteúdos pró-prios. Estes elementos proporcionam uma educação completa e transformadora da realidade de um mun-do cada vez mais carente de respeito, de senso crítico e de tolerância. Carente ainda de interesses por ques-tões que encaminhem o sujeito, em fase de prepara-ção para a vida, para a promoção de sua dignidade.

O Ensino Religioso é disciplina que conduz o aluno a se perceber como sujeito portador de conhecimento religioso, agente da sua própria história e apto a vivenciar os valores propostos pelas religiões, sem discriminar seus semelhantes por motivo de crença, raça ou cor.

Olá amigos e amigas,Estamos concluindo mais um ano letivo, por isso, quero agradecer aos milhares de

professores que assinam O TRANSCENDENTE e usam este subsídio em suas aulas de Ensino Religioso. Ao longo destes meses, tivemos a oportunidade de criar maravilhosas amizades, recebendo sugestões e contribuições que vieram para acrescentar o trabalho da nossa equipe. Com as religiões Jainismo e Sikhismo completamos o giro pelas religiões que integram as quatro matrizes religiosas. Em breve editaremos um segundo livro didáti-co-pedagógico sobre todas elas. Aguardem!

Ensino Religioso produz conhecimento e práticas de vida

Acredito que a escola não deva transmitir cren-ças ou apenas valores. Também não é aconselhável ao professor fazer proselitismo religioso ou dizer: eu sou católico ou, eu sou evangélico, acredito nisto ou naquilo, isto é melhor, isto é ruim. Através de conheci-mentos e atitudes, ela, a escola, deve educar os alunos à religiosidade, ajudá-los a perceberem nas religiões, e

mesmo fora delas, o que dá sentido último à vida e motiva o compromisso para a cons-trução da nova sociedade, mais fraterna, hu-mana e solidária.

Vamos construir assim, aos pou-cos, quadros de referência para os

ideais de vida dos nossos alunos no atual tsunami de ofertas, para saberem discernir, recusando o que não constrói personalidade e

sociedade sadias; a saberem dialo-gar, criando convicções próprias e

respeitando uns aos outros.

O Transcendente caminha com os professores de Ensino ReligiosoQuero concluir este editorial com as palavras da

Profª Lisiane Malheiros Silveira, que nos anima e nos indica que estamos no caminho certo:

Sou professora de Ensino Religioso no Ensino Médio, e pesquisadora, há 10 anos, nesta área. Minha escola - E.E.E.B. Poncho Verde, Pbi - assina o Jornal desde 2008. Parabenizo ao grupo, pois percebe-se o crescente envolvimento da equipe em trazer à tona o desvelar de todo o mistério que envolve o Ser Transcendente nas mais variadas Tradições Religiosas no mundo. E, também, a evolução do Jornal com subsídios pedagógicos nesta área que ainda é perseguida por tratar das diversas Tradições Re-ligiosas.

Deus abençoe a toda a equipe do Jornal O Transcendente e vos ilumine para que possam continuar sendo esse instrumento de paz e de harmonia. Parabéns!

Acesse o site da webradio Missão Jovem e acompanhe a discussão sobre os con-

teúdos do jornal O TRANSCENDENTE da edição de Agosto/Setembro de 2011.

Nossa capa faz alu-são às imagens dos

místicos Mahavira, fun-dador do Jainismo e Guru Nanak, fundador do Sikhismo – duas religiões nascidas na Índia em séculos dis-tintos e com doutri-nas diferentes, mas, em comum, a busca pelo transcendente, quer seja por mediação divina, quer seja por media-ção de seres supremos.

Cada místico ostenta o símbolo da sua religião com expressivos significados:

O símbolo do Jainismo é uma variação da roda dharmica – roda da lei/doutrina e situa-se no interior de uma mão – símbolo de sabedoria e de ensinamento.

O símbolo do Sikhismo é o Kandha – presente na bandeira dos sikhs. Tem como significado a fu-são de quatro armas: espada de dois gumes, círculo que representa a perfeição de Deus, e outras duas espadas: pin – o poder espiritual, e min – o poder temporal.

As cores efusivas irradiam os tons próprios da cultura indiana.

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Estou na Índia pesquisando sobre o Sikhismo e o Jainismo, religiões professadas neste país que, por sinal, são muito interessantes para nós que vivemos no ocidente, já que elas propõem aos seus adeptos um modo de viver muito diferente do nosso.

Para falar sobre elas, apresento o indiano chamado Rakesh - nome que significa “Senhor da Noite”, no sânscrito, que é uma das línguas faladas na Índia. Fala Rakesh!

- Olá, amigos do Brasil, é com muita alegria que falo para vocês sobre o Sikhismo e o Jainismo, que são religiões cheias de significados importantes para a elevação espiritual do nosso povo.

Queridos amigos! Que alegria reencontrar vocês.

O Sikhismo ou Siquismo é uma religião monoteísta – que crê em um só Deus e nos ensinamentos dos dez Gurus. Ela foi fundada no fim do século XV, numa região chamada Pundjab – hoje dividida entre o Paquistão e a Índia, pelo Guru Nanak, que nasceu em 1469 e morreu em 1539. Guru Nanak é o nosso orgulho, ele deixou o legado da religião dos sikhs para os seus sucessores – os Dez Gurus (veja pág. 5)

Como nasceu o SikhismoCompositor de 974 hinos evocando o nome

de Deus, Guru Nanak encontrou alguns poucos elementos dentro da religião hinduísta e islâmico sufista, também professadas na Índia, que justificassem seu modo de crer e manifestar sua fé.

Daí nasceu a religião dos sikhs: • Sikh significa “disciplina”

• Sikhs são “discípulos tenazes e fortes”.

O Livro Sagrado dos Sikhs Vejam amigos, que interessante: os ensinamentos

dos dez Gurus do Sikhismo são encontrados no livro sagrado dos sikhs, conhecido como Guru Granth Sahib que é considerado o décimo primeiro e último Guru, até os dias de hoje.

Luta e perseguiçãoGuru Tegh Bahadur, nono guru, foi decapitado; seu

filho, Guru Gobing Singh, décimo guru, foi morto por flechada e, dos filhos deste: dois pereceram em batalha contra os mongóis e outros dois, mais novos, foram “emparedados vivos” por se recusarem a abdicar de sua crença.

O emparedamento era uma prática de castigo muito utilizada na Idade Média, que consistia em construir em volta da pessoa uma cela sem abertura para deixá-la morrer à mingua, sem ar e sem alimento... Muito triste!

Todos foram dignificados por te-rem perdido suas vidas, mas não sua fé.

O espírito comunitário dos Sikhs

Vejam só que legal! Ao contrário do Hinduísmo, no Sikhismo não existe discriminação em relação às castas, prova disto é o fato de o Guru Nanak ter instituído, no seu tempo, o sistema do langar, que é

Como é Deus para os SikhsNosso povo entende que Deus é sem forma,

eterno e além de qualquer descrição, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. Cremos que foi Deus quem criou o mundo e os seres humanos e, portanto, deve ser o único centro de devoção e de amor por parte dos homens.

Os Três Pilares do SikhismoNossa religião não tem padres ou pastores e seus

princípios básicos são: a igualdade, a humildade e o serviço comunitário, fundamentados em Três Pilares de Ação:

Manter Deus presente na mente em todos os momentos.

Alcançar o sustento através da prática de trabalho honesto.

Partilhar os frutos do trabalho com aqueles que necessitam.

uma cozinha ou refeitório comunitário – modelo este que se perpetuou até aos nossos dias. O objetivo desta iniciativa foi promover a fraternidade e a igualdade entre os seres humanos.

No langar prepara-se o karah prasad, uma refeição sagrada feita à base de farinha, açúcar e manteiga batida. Uma delícia!

Numa cerimônia religiosa de um templo sikh, por exemplo, todos os participantes recebem este alimento, sem distinção de casta, nível econômico ou crenças religiosas. É uma grande alegria estar em fraternidade com todos!

É isto mesmo, um livro sagrado com nome de Guru Granth Sahib, o qual todos os sikhs podem ler, independente da classe social e diferentemente do Hinduísmo em que somente a elite espiritual, dentro do sistema de castas, tem acesso às escrituras.

Independência Os sikhs, por causa do crescimento do seu povo,

sempre desejaram constituir uma nação in-dependente, o que gerou contínuos

confrontos com o governo. Apesar de, ao longo dos anos,

a tensão ter diminuído, ainda hoje nosso povo luta pela conquista de um esta-do independente.

- Guru Nanak -

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Amigos, desta vez apresento a vocês mais um indiano, porém integrante da Religião Jainista, também nascida na Índia. O nome deste amigo é Prakash que quer dizer “filho da luz”. Como podem ver, ele usa um protetor para a boca... Curioso não? Mas ele mesmo nos contará sobre isto:

Olá, Prakash, seja bem vindo ao nosso Jornal!

C omo estão vocês, amigos do Brasil? Vamos falar sobre o Jainismo, religião que surgiu entre 599 a. C. a 527 a. C, criada por Mahavira que pertencia à casta dos Xátrias – grupo pertencente a altos postos militares. Mahavira casou e viveu no luxo até 30 anos de idade quando se tornou mendigo e se dedicou ao ascetismo – modo de vida austera em que são refreados os prazeres mundanos.

A partir desta vivência, Mahavira recebeu a revelação dos Tirthankaras – seres que conduzem as almas para a liberdade espiritual, através do rio do renascimento ou samsara.

No Jainismo não há Deus, portanto, para os jainistas ou jainas, o universo não foi criado por nenhum ser superior e é dividido em cinco mundos. Cada mundo é habitado por seres supremos, os quais são venerados por meio de ritos diários de invocação.

Os Digambaras – palavra que significa “veste do céu”. Os adep-tos desta seita creem que todas as posses, inclusive roupas, são empecilhos para a libertação. Por isso é muito comum encontrar monges digambaras andando pelas ruas completamente nus - só os homens, pois as mulheres são obrigadas a usar roupas. Eles carregam somente um recipiente com água e um espanador para espantar os insetos do caminho. Neste caso, eles sentem-se livres de culpas por matar seres viventes não infringindo, assim, o

fundamento da não-violência.Os monges digambaras não carregam ti-

gela para comida. As mãos são dispostas em concha para receber alimento. Os ensinamentos desta seita ditam que as mulheres são incapazes de atingir a libertação e para alcançar este me-recimento, são obrigadas a reencanar como homens.

Os Shetambaras – usam roupas longas brancas e recebem três coisas: um cajado, uma tigela para mendigar comida e um espana-

dor de lã. Muitos deles usam uma proteção na boca para

evitar ou diminuir os riscos de inspirar insetos ou mi-cróbios.

Diferentemente dos digambaras, os shetambaras não acreditam que as mulheres não possam alcançar

a libertação e discordam da autoridade da escritura de certos textos, mas, mesmo assim, as duas seitas se fun-

damentam nas antigas escrituras.

Arhats Também conhecido como tirthankara ou jina (grande

mestre), um arhat é o primeiro ser supremo, um mestre que lança os fundamentos para a

libertação de outros.

SiddhasEle é o segundo ser

supremo, uma espécie de santo. Um siddha é

uma alma que alcançou a libertação sob a orientação de um mestre, vivendo em

estado de êxtase no topo do cosmo.

Acharyas São guias espirituais e

formam o terceiro nível dos seres supremos.

Cada acharya conduz uma ordem de monges ou

monjas.

UpadhyayasO quarto nível dos

seres supremos consiste nos upadhyayas, monges

instrutores que transmitem seu conhecimento das

escrituras a outros monges e monjas.

MongesO restante dos monges jainistas ocupa o quinto

nível dos seres supremos. Para os digambaras, só os homens podem alcançar

a libertação.

Ciclo da VidaOs jainistas, assim como os adeptos de outras religiões indianas, acreditam que a

alma humana reencarna continuamente, e que a vida que cada pessoa leva afeta a sua reencarnação. É preciso, pois, evitar apegos às coisas do mundo para livrar a alma do carma e atingir a libertação. Acompanhe a sequência do ciclo:

• Jiva: o universo contém um número infinito de almas, ou jivas. Os jivas existem eternamente e não possuem substância material. Seu estado natural é de êxtase e au-

toconhecimento. Porém, os jivas se associam ao mundo material devido aos efeitos do carma.

• Carma: em decorrência das ações mundanas, uma substância chamada carma se associa ao jiva, envolvendo-o com um corpo material. O carma atrai a alma para baixo, impossibilitando a libertação e atrapalhando a alma no ciclo da reencarnação.

• Renúncia: para evitar acumulação de carma, é necessário ter uma vida de renúncia, abandonando os hábitos munda-nos. Através da disciplina, a alma de uma pessoa pode livrar-se do carma já acumulado.

• Reencarnação: de acordo com o seu carma, uma alma pode reencarnar sob qualquer

forma: humano, animal ou planta. Uma alma só alcança a libertação ao livrar-se de seu carma.

• Moksha: quando atinge o moksha, ou liberta-ção, a alma se liberta do carma e do ciclo da reencarna-

ção, e recupera a leveza natural. Ela flutua no topo do universo, onde permanece em êxtase.

• Sallekhana: Os fiéis jainistas con-sideram a morte por inanição a maneira ideal de morrer. Esse suicídio religioso, monitorado por um guia espiritual, com-

prova o completo desapego dos jainistas às coisas mundanas.

Durante a invocação dos seres supremos, o jainista inclina-se em direção aos quatro pontos cardeais.

Seres SupremosOs jainistas veneram cinco categorias de seres supremos. Os

devotos seguem um ritual diário de invocação desses seres, inclinando-se em direção aos quatro pontos cardeais ao fazê-lo.

AS DuAS pRiNCipAiS SeitAS JAiNiStAS SãO:

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“Deus é o verDaDeiro Guru”

“Deus é o verdadeiro guru”, disse Nanak. Ele escreveu hino de louvor a Deus e, por mui-tos anos, viajou pela Índia e outros países, can-tando e ensinando. Aos 50 anos, fundou a cida-de de Kartarpur, na região de Punjab. Naquela ci-dade, muitas pessoas passaram a viver como os sikhs, ou seja, como discípulos do grande guru. Assim, seus discípulos se tornaram conhecidos como povo pertencente à religião sikh.

Quando o Guru Nanak tornou-se idoso, os sikhs perguntaram-se: quem seria o guru de-pois dele? O guru Nanak decidiu, então, esco-lher um homem chamado Lehna, que o tinha seguido por muitos anos. Lehna era um homem piedoso e não fazia trabalhos desonestos, era uma pessoa humilde e sempre bem humora-da. Isto ainda é muito importante para os sikhs: eles fazem tudo para servir aos outros e fre-quentemente fazem trabalhos muito humildes e até desagradáveis.

os Dez Gurus e o livro saGraDo Dos sikhs

O Guru Nanak trocou seu nome para Angad, que significa “parte de mim”. Antes de morrer, também o Guru Angad escolheu o seu sucessor. As escolhas continuaram num total de dez gurus hu-manos. Através deles o Sikhismo desenvolveu-se até conseguir prosseguir sozinho. Gobind Singh, o décimo dos gurus, que morreu em 1708, decidiu não indicar nenhum sucessor humano. Disse que a coleção dos hinos, escritos por seis gurus e mestres muçulmanos

Q uando Nanak era ainda adolescente, seu pai lhe deu dinheiro e lhe disse para ir à cidade mais próxima e realizar negócios com esse dinheiro: “Faça o melhor negócio que conseguir”, disse-

lhe o pai. Durante o trajeto para a cidade, Nanak encontrou um grupo de homens que estavam rezando. Eles eram magros e famintos e Nanak acabou descobrindo que não comiam havia uma semana. Nanak, então,

e hinduístas, deveria transformar-se no guru final para as pessoas, o guru supremo, conhecido como Guru Granth Sahib, livro tratado com profundo respeito e que tem um espaço reservado no templo ou em casa.

Normalmente é colocado sobre uma estante for-rada de couro, feita especialmente para ele. Os sikhis-tas procuram o Guru Granth Sahib – o livro sagrado,

Os cinco símbolos dos sikhs, escolhidos pelo Guru Gobind Singh, definem a uniformidade e a identidade da sua fé. Todos eles iniciam pela letra “K”, conhecidos, portanto, como os “Cinco K”. São eles:

• Kesh: Cabelos e pêlos do corpo nunca cortados – significa que a pessoa está com Deus e aceita a sua vontade. Devem banhar-se e lavar os cabelos todos os dias.

• Kangha: Pente de madeira ou marfim para manter os cabelos limpos e ordenados – significa ordem e disciplina na vida dos portadores.

• Kara: Bracelete de ferro para recordar que Deus é uno, sem início nem fim e que o Guru está unido à comunidade sikh e com todas as coisas.

• Kirpan: Punhal para defender a fé, os pobres e os indefesos – significa a justiça.

• Kaccha: Calças curtas que tornam mais fáceis os movimentos e simbolizam força moral, castidade e também as batalhas travadas pelos guerreiros sikhs.

Um sexto “K” é o turbante, que serve para cobrir os cabelos longos, nunca cortados. O Guru Gobind Singh trocou o nome de todos os sikhs para mostrar que eles pertenciam a uma grande família.

Os homens deveriam chamar-se Singh (leão) e as mulheres Kaur (princesa). Os sikhs usam ainda hoje estes nomes, junto com o nome da família para evitar confusão.

o khalsa ComuniDaDe Dos sikhs

Em 1699 o Guru Gobind Singh reuniu todos os sikhs e chamou um voluntário disposto a mor-rer pela sua fé: um homem dispôs-se. O guru o conduziu a uma tenda e reapareceu, momentos depois, com o punhal sujo de sangue.

O povo, em atônito silêncio, ouviu o guru pedir novamente outro voluntário e outro ho-mem se dispôs. Assim aconteceu até que cinco homens desapareceram dentro daquela tenda. Finalmente o guru retornou para dentro da ten-da e saiu com os cinco homens ainda vivos: ti-nha colocado-os à prova em relação à força, à fidelidade e à fé em Deus.

O guru anunciou então que os cinco co-rajosos seriam os primeiros membros do Khal-sa, ou seja, os sikhs consagrados à defesa da sua religião e com a missão de cuidar das pessoas pobres e dos indefesos de todas as religiões.

Hoje, os sikhs decidem o momento em que estão prontos para entrar no Khalsa – a comuni-dade dos sikhs ou, a ordem Khalsa. Esta entrada se dá por meio de uma iniciação realizada em cerimônia especial. Nela os sikhs recebem o tí-

tulo de amritdhari, que significa “portador do néctar” e novos nomes, passando a usar os chamados Cinco Cás (K) que são símbolos religiosos.

Isso requer um grande compromisso e empe-nho. Muitas vezes, exige uma espera de alguns anos antes que alguém decida assumir essa consagração.

foi ao mercado da cidade e, com o dinheiro recebido, comprou cestos com comida e levou-os para aqueles famintos.

Chegando em casa, o pai lhe pediu que mostrasse o bom negócio que havia feito e, vendo que o filho tinha retornado de mãos vazias, ficou enfurecido. Mas Nanak mostrou-lhe que tinha feito o melhor negócio: tinha alimentado os famintos.

para encontrar direção, inspiração e conforto nos vários períodos da vida.

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Qual a melhor religião?Interessante este breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leo-

nardo Boff e o líder budista, Dalai Lama. No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual os dois participavam, Leonardo Boff pergunta:

“Santidade, qual é a melhor religião?” Esperava que ele dissesse : “É o budismo tibetano” ou

“são as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo.” O

Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, e afirmou: “A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor”. Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, Boff voltou a per-guntar: “O que me faz melhor?” E Dalai Lama respondeu: “Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais huma-nitário, mais responsável... Mais ético... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião”.

E Leonardo concluiu: “Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável...”

A única saída é o diálogoDiante do diálogo acima descrito vemos que cada uma das religiões tem a sua

verdade. E nós precisamos estar atentos para descobrir essas verdades. O diálogo pela verdade é a saída. No diálogo entre diferentes religiões há uma busca por algo que as identifique, que as una.

Mas há os opositores ao diálogo inter-religioso, que são os conservadores e os fundamentalistas. Estes afirmam pos-suir a verdade, por isso, não aceitam que outros compartilhem com a sua verdade. Para eles não existe nenhuma outra verda-de a ser buscada. Diante desta atitude o teólogo espanhol José Maria Mardones reafirma que o diálogo é a única tarefa e um compromisso para o século 21.

Requisito do diálogoHá alguns requisitos necessários para o diálogo inter-religioso: a pertença a

uma comunidade religiosa; a vivência profunda da própria fé; a disposição e a prontidão para ouvir o outro, isto é, não apenas parar de falar, mas um silêncio de escuta para compreender. Com o diálogo pretende-se conhecer mais profun-damente o outro, conhecê-lo mais autenticamente, e, ficar feliz por conhecê-lo melhor.

As diversas fases do diálogo

No diálogo inter-religioso acontecem pelo menos três fases distintas:

• Numa primeira fase nós mudamos as concepções errôneas e passamos a co-nhecer melhor o outro.

• Numa segunda fase começamos a discernir os valores da outra tra-dição e nos apropriamos dos seus valores.

• Numa última fase procu-ramos conhecer e entender a verdade do outro.

As dez regras do diálogoExistem regras que são universais que podem nos ajudar

no diálogo inter-religioso.

1ª regra: conhecer a outra religião. Eu vou ao encontro do outro para crescer e não para forçar o outro a mudar e acatar minhas ideias.

2ª regra: o diálogo inter-religioso é um projeto de duas mãos, isto é, ele deve acontecer dentro da própria comunidade (religião) e fora dela.

3ª regra: o diálogo requer sinceridade e honestidade total. A falsa aparência aí não tem lugar.

4ª regra: o diálogo exige que eu aceite a sinceridade e a honestidade do outro.

5ª regra: cada participante deve definir-se religiosamente, estar convicto da religião que vive e que professa.

6ª regra: ir ao encontro do outro sem preconceitos.

7ª regra: o diálogo só acontece entre iguais. Ambos devem estar dispostos a aprender.

8ª regra: Só acontece diálogo com mútua confiança.

9ª regra: O dialogante deve possuir um mínimo de autocrítica com referência a si e à tradição religião que confessa.

10ª regra: procurar experimentar a religião do outro.

Neste mês “O Transcendente” estuda o Jainismo e o Sikhismo, religiões nascidas do Hinduísmo que é a mais antiga religião da Índia. Aqui no Brasil estas religiões são pouco presentes. Mas precisamos conhecê-las para termos uma postura de diálogo e de compreensão para com elas. Por isso apresento alguns pontos que são condições para um diálogo inter-religioso.

Termino este artigo lembrando um pensamento de Raimundo Panikar. “Para saber o que uma religião ensina, deve-se entender o que ela afirma e acreditar no que ela vive”. E, concluo que um cristão nunca vai entender o Jainis-mo e o Sikhismo se não acreditar no Jainismo e no Sikhismo!

1 Dividir a turma em 2 grupos.

2 Um grupo apresentará conteúdos sobre Sikhismo (pgs. 3 e 4). O outro grupo apresentará conteúdos sobre Jainismo.

3 Usando o método ao lado “as diversas fases do diálogo” e “as dez regras do diálogo” acima, os grupos dialogarão sobre os valores e tradições de cada religião.

4 Por fim, os grupos farão as considera-ções sobre os elementos convergentes en-contrados nas duas religiões apresentadas.

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“Se eu pudesse, daria um globo terrestre a cada criança...

Se possível, até um globo luminoso, na esperança de alargar ao máximo a visão

infantil e de ir despertando interesse e amor por todos os povos, todas as raças, todas as línguas, todas as religiões!” D. Hélder Câmara

Debruçando sobre o planejamentoA cada dia que debruço a preparar aulas para lecionar com alunos de Ensino Fundamental II, é como se eu estivesse

caminhando por lugares novos. A cada momento aprendo mais com as tradições religiosas e os ensinamentos de paz, amor e sabedoria que elas transmitem. Quando estou lendo e buscando mais conhecimento é o momento que, de fato, encontro-me com outros mundos, outros universos, encontro com o Transcendente.

A experiência do Transcendente me faz meditar e refletir sobre a diversidade cultural e religiosa.Quando estou lendo para preparar as aulas, surge em minha mente uma série de trabalhos e atividades que podem ser

desenvolvidas com os alunos. Estas ideias, em meu entendimento, são para o desenvolvimento de trabalhos interessan-tes e que exploram a criatividade dos adolescentes, seja através da arte, da música, do teatro, dos desenhos, da literatura ou das poesias. Particularmente são atividades que, ao terminar de preparar eu olho, leio e penso que são trabalhos que eu, enquanto aluna, gostaria de desenvolver.(...)

A interdisciplinaridade é algo extraordinário(...) Dando sequência à minha caminhada para legitimar esta disciplina parti para uma prática mais desafiadora: come-

cei a trabalhar os textos sagrados de algumas tradições religiosas. E tive como parceiros meus próprios alunos. Lancei a pergunta: “Quem teria outros livros sagrados, além da Bíblia?” E, no final, consegui todos os livros das grandes religiões do mundo. Foi então que vi um trabalho coeso em relação à pluralidade e fenômeno religioso. Cada um teve a oportuni-dade de mostrar o texto que mais é trabalhado na sua prática de fé. Nessas oportunidades trabalho a ética de cada tradição religiosa, tendo por base o amor e a solidariedade, comum a TODAS.

Outro aspecto que não poderia deixar de elencar é a minha prática com meus colegas de outras áreas de co-nhecimento. A interdisciplinaridade, no nosso trabalho, é algo extraordinário. É importante este exemplo: O 9º ano, baseando-se no livro o Auto da Compadecida, num projeto “Formação de leitores” da disciplina de português, falando sobre os mais diversos horizontes do Nordeste Brasileiro, mostrou suas características através de várias atividades com destaque para a religiosidade popular. (...)

É preciso oferecer aos alunos mais que teoria(...) Quando trabalhamos valores, mudanças de atitudes e pensamento crítico, no Ensino Religioso, devemos dar oportuni-

dades aos nossos alunos para que possam colocar em prática todo o conhecimento adquirido.Uma visita a um asilo, por exemplo, dá a eles oportunidade de conhecerem a realidade de pessoas que contribuíram com a

sociedade e agora se encontram esquecidas, procurando alguém que as ouça.Além de os alunos ouvirem histórias dos idosos, poderão desenvolver atividades para eles, como: cantar músicas da época

dos idosos, histórias, teatros, entre outras coisas.Alguns dias atrás conversei com uma coordenadora do Ensino Religioso de uma escola confessional que desenvolve esse

tipo de aprendizagem. Ela me relatou que alguns dos alunos iam fora do horário de aula e levavam seus pais junto, até o asilo que haviam visitado, pois haviam criado um laço de amizade com as pessoas que ali viviam.

Isso não é maravilhoso? É disso que o mundo está precisando, atitudes, práticas. Estamos assassinando alunos com te-orias, quando na realidade o que eles precisam é colocar em prática a teoria que, de tanto que a recebem, estão “vomitando” dentro das salas de aula. Para ilustrar meu posicionamento, faço a seguinte ilustração: Um homem no meio de um lago com dois remos, se ele usar só um remo, irá girar em círculos e não sairá do lugar. Mas se usar os dois remos ele não só vai sair do lugar como também irá a lugares que nunca imaginou ir.(...)

O s professores de Ensino Religioso do Brasil falam seu “Ponto de Vista” sobre

esta disciplina que muito colabora com a formação de vida dos educandos: como ela

se dá na prática e no dia a dia da sala de aula.

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Desde as origens mais primitivas da humanidade, as expressões artísticas fazem parte da história

do homem. A arte religiosa, especialmente, é uma forma de comunicação presente em todas as crenças, cultos ou ritos vinculados às divindades, às forças sobrenaturais ou ao além.

A arte religiosa sempre foi usada para motivar os fiéis às atitudes de reverência, piedade e conversão – um bom método para promover reflexão e introspecção nos cultos. De um modo amplo, as artes religiosas são manifestadas no campo da exuberante arquitetura exibida em templos, catedrais, sinagogas, mesquitas e em obras

Cultura IndianaA cultura indiana é constituída por uma das

mais antigas e diversificadas civilizações do plane-ta, composta por três etnias: negros, orientais e brancos. A cultura da Índia, nas artes, destaca-se pela: música, dança e pintura, e também é rica-mente manifestada nos campos da literatura, da arquitetura e do cinema.

Os principais instrumentos usados para entoar os ritmos indianos são:

Tambura – instrumento de cordas

Flauta – instrumento de sopro

Mrindangam e Tabla – tambores

Tala – gongo

A dança indiana inclui elementos descritivos, onde são narradas aventuras de deuses e heróis míticos.

Choque culturalEmbora ainda mantenha viva suas características culturais mais

primitivas, a Índia possui uma sociedade moderna e contextualizada com o mundo, revelada nos grandes aglomerados urbanos, univer-sidades e um parque industrial muito forte. Diante de tantos con-trastes e com o avanço da globalização é inegável que, cada vez mais, a Índia vem sofrendo expressivo choque cultural.

Um forte sentimento nacionalista

Cheia de misticismos, com cheiro de incenso a cada esquina e pessoas exóti-cas caminhando pelas ruas, a Índia soma o tradicional com a modernidade, for-mando uma identidade única no mundo.

Há uma grande diversidade de lín-guas na Índia e as expressões artísticas variam de estado para estado: culinária, música e dança fazem parte desta gran-de variedade, uma vez que cada região procura manter viva a memória dos seus ancestrais que viveram diferentes modos culturais em seu espaço e no seu tempo. Os in-dianos possuem um sentimento nacionalista mui-to forte e suas raízes familiares são muito solidifi-cadas, o que mantém viva a cultura nacional.

literalmente faraônicas como as pirâmides do Egito. No campo da iconografia, as artes religiosas se sobressaem

por meio de esculturas, pinturas em quadros e afrescos decorativos em paredes, inspirados nos textos sagrados das religiões.

Ao longo da história, até hoje, a religião com suas artes, além de evocar a devoção dos seus adeptos

é fonte de inspiração para artistas e estudiosos. Um bom aprendizado é conhecer e pesquisar mais sobre as

artes e a cultura religiosa da Índia e seus significados – país onde nasceram o Sikhismo e o Jainismo.

Vamos conhecê-los melhor?

Casamento infantil faz parte da cultura indiana

Apesar de proibido pela Constituição Nacional de 1949, o casamento com crianças ainda perdura no país por conta de famílias tradicionais que, por medo de verem suas filhas fugirem com qualquer jovem, acabam por “tratar” ca-samentos para suas rebentas.

Quando crescem, as meninas, já ca-sadas na infância, passam a morar com seu marido na casa da família dele. Este tipo de casamento que ocorre entre os hinduístas, jainistas e muçulmanos varia de acordo com a região e com as dife-rentes castas.

Religião na ÍndiaAs religiões são determinantes nas expressões do povo,

constatadas em todas as manifestações da arte entre o povo indiano que, apesar de religiosos, são muito supersticiosos, in-dependente da religião. Ver uma vaca em sonho, por exemplo, não é nada bom, porém, cruzar com uma vaca ao sair de casa

é um sinal de bons auspícios.A literatura e a poesia nasceram como mais uma

maneira de se conectar com o divino assim como a pintura e a escultura. Muitos quadros contempo-

râneos que se encontram no Museu de Arte de Nova Delhi, capital da Índia, fazem referência às

tradições religiosas e mitos. Entre as principais divindades encontram-se:

Shiva Vishnu

Ganesha BrahmaConhecendo um pouco sobre a Índia po-

demos constatar a riqueza cultural que existe nesse país desde há muito tempo. Isto significa

dizer que podemos conhecer mais e melhor. Por esta razão, convidamos você, caro(a) educador(a), caro(a) aluno(a), a pesquisar mais profunda-mente sobre a Índia que tanto cha-ma a atenção do mundo atual pelo seu poder político, cultural e como fonte de impressionante expressão do fenômeno religioso.

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Tatuagem em rituais religiosos

O uso de tatuagens tem sua origem em povos e culturas do passado que tatuavam seus corpos em rituais religiosos. Registros arqueológicos re-montam esta prática há 4000 anos a.C., pois, muitas múmias foram

encontradas com vários rabiscos pelo rosto e corpo. Os primitivos se tatuavam para retratar fatos da vida como: nascimento, puber-dade, reprodução e morte; para relatar fatos da vida social, iniciação para guerreiro, sacerdote ou rei; ao casar-se, ce-lebrar a vida e identificar prisioneiros; pedir proteção ao transcendente e garantir a presença do espírito durante a vida e depois da morte.

Muitas pesquisas arqueológicas comprovam que, há quatro milênios, tatuagens foram feitas no Egito e tam-bém por nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, porém, a maior influência de tatuagens veio do oriente, mais precisamente da Índia.

Também na Europa, China, Japão e norte da África foram encontradas evidências que, desde os primórdios da humanidade as pessoas ornamentavam a pele com dese-nhos criados com pigmentos de plantas e minerais injetados com instrumentos pontiagudos de madeira e de osso. Sabe-se que povos próximos ao Oceano Pacífico além dos Mares do Sul também possuíam a tradição da tatuagem.

O termo tatuagem, em inglês tattoo, tem sua origem em línguas polinésias “taitianas” (línguas indígenas). Tat-

too, por sua vez, tem origem no som “tah-tah”, emitido na execu-ção das tatuagens feitas no passado, quando se utilizavam ossos finos

como agulhas e uma espécie de martelinho para introduzir a tinta na pele. O pai da palavra tattoo foi o navegador inglês, capitão James Cook,

também descobridor do surf que, no século XVIII, escreveu em seu diário a palavra tattow.

Com a circulação dos marinheiros ingleses pelos oceanos, tanto a pala-vra tattoo quanto a própria tatuagem foram ganhando adeptos em novos territó-rios. Em 1879, porém, o Governo da Inglaterra deu uma conotação marginalizada a esta prática, ao tatuar criminosos como forma de identificação. Daí, certamente, surgiu no Continente a associação de tatuagem com pessoa fora da lei.

Tatuagem na adolescênciaDe lá prá cá o tempo passou e a tatuagem persistiu sendo usada, hoje,

por pessoas de diferentes culturas e níveis sociais como: forma de expressão artística, identidade sexual, identificação com determi-nado grupo ou por puro modismo. É aí que mora o perigo pois, reportagens mostram que nem todas as pessoas que tatuam seu corpo são capazes de assumir esta marca para a vida toda.

Os maiores adeptos de tatuagem são justamen-te os adolescentes que, por falta de experiência, to-mam esta decisão sem pensar na carreira profissio-nal e nas consequências estéticas que levarão para

a vida idosa quando a pele envelhecida muda de forma. Um dos grandes motivos de arrependi-

mentos é, justamente, a falta de maturidade ao fazer uma tatuagem que, muitas vezes é

realizada por impulsividade.

Riscos de contaminaçãoApesar de nos dias atuais já existirem recursos para a retirada de tatuagens,

ainda assim, elas deixam marcas e a pele afetada nunca mais voltará ao seu es-tado normal, alertam os especialistas. Podem provocar granulomas e quelóides que são alterações na pele. E mais, a retirada é um processo mais doloroso do que fazer a própria tatuagem.

Os médicos alertam ainda para o risco de contaminações pelos instru-mentos utilizados no procedimento, incluindo doenças incuráveis e mortais como AIDS e outras que são transmitidas por sangue

contaminado, além de reações alérgicas e inflamatórias que podem ser causadas pelas tintas.

Um pouco do que diz a legislação sobre esta prática em menores

de idade?No Brasil, muitos estados e municípios estabelecem artigos de leis

que regulamentam e fiscalizam tanto a prática do profissional de tatua-gem e local dos procedimentos como também protegem o consumi-dor por meio de dispositivos que podem ser encontrados em determi-nados documentos legais:

• Estatuto da Criança e do Adolescente – O ato de tatuar uma criança infringe o ECA em seu Art. 17: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.”

• Código Penal – Isto significa dizer que, se houver denúncia sobre criança tatuada, os responsáveis responderão pelo crime de lesão corpo-ral previsto no Art. 129 do Código Penal:“Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano (dependendo do grau de ofensa)”.

• Código de Defesa do Consumidor – Lei Federal N° 8.078 – estabelece que um dos direitos básicos do consumidor é a proteção da saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no forneci-mento de serviços.

Olá pessoal! Nesta edição nosso tema transversal perpassa a ética, a saúde e a pluralidade cultural. Vamos conversar sobre tatuagem, uma moda que tem avançado pelo mundo todo tendo como principais adeptos os adolescentes e os jovens.

É muito importante discutirmos este tema em família, dentro da escola e em meio aos amigos pois, embora o ato de fazer uma tatuagem possa parecer uma questão de opção pessoal “e pronto!”, ela pode implicar em questões sociais, emocionais e de saúde, que

precisam fazer parte do nosso conhecimento para fundamentarmos opinião sobre o assunto. Vamos saber mais!

Adolescente da Bélgica mandou

tatuar 53 estrelas em seu rosto. Seu pai brigou, ela se arre-

pendeu e o tatuador teve que desembolsar 30 mil reais para pagar uma cirurgia plástica para a remoção das estrelas.

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Vamos cuidar antes que ela se vá

É do conhecimento de todos que depois de muitos anos maltratando a natureza, agora ela vem dar sua resposta e mostrar-nos quão frágil é o ser humano diante de sua grandeza...

Muitas gerações vêm poluindo, desmatando, drenando e acabando com o meio em que vivemos. Fizeram e continuaram fazendo coisas sem pensar nas consequências devastadoras.

Parece estar tão longe de nossa realidade a escassez da água, mas, ela está aí, apesar de fecharmos nossos olhos diante disso.

Há extinção de muitos animais e alguns de nossos filhos ou netos não terão a opor-tunidade de conhecê-los.

E quem é o culpado? O culpado é o ser que se diz racional.Não aja como um “ser humano”, ou melhor, “ser desumano”, aquele que mata, des-

trói, polui sem pensar no amanhã e não se dá conta que o amanhã está logo ali quando, tsunami, enchentes e deslizamentos ocorrem.

Vamos juntos pôr a casa em ordem, essa nossa gigante casa que está pedindo so-corro. Não vamos ajudar a terminar com ela.

Vamos nos unir e reconstruir o que resta dela!

Alunas: Beatriz, Camila e Carla Morgana

Mudança de comportamento: a hora é agora

A tualmente o planeta está regredindo cada vez mais, nos aspectos de qualidade de vida, sendo muitos desses danos ocasionados pelos seres humanos, através de atitu-

des inadequadas.As pessoas se comportam sem pensar nas consequências,

sem levar em conta o caos em que o mundo está se transfor-mando com aumento de desastres naturais, como: tempesta-des, furacões, seca, mudanças climáticas e aquecimento global.

Acredita-se que o progresso é necessário, mas, com ele, aumenta o consumo compulsivo de inovações. O lucro des-carta empregos e torna o planeta uma máquina de pessoas fascinadas pela modernidade.

Todavia os seres humanos estão esquecendo o essencial: o meio em que se vive, será que está sendo preservado para as

futuras gerações? Ou estamos sendo egoístas e conquis-tando bens somente para nosso proveito?

Enfim, são urgentes as mudanças no modo de pensar e agir. Vamos inventar soluções que nos ajudem a viver bem sem agredir a natureza para amenizar a dor de muitos seres vivos. Faça sua parte, a hora é agora!

Alunos: Jann Carla, Isabel e Eduardo

O progresso em nossas mãos

Embora a humanidade necessite impiedosamente do meio ambiente para sua sobrevivência, ela ainda não percebeu que está obcecada em destruir e não em renovar.

A agressão exagerada e sem limites da fauna e da flora vem gerando graves consequências ao planeta.

Em todos os verãos acontecem novas tragédias em diversas partes do mundo. Por causa disso, inúmeras pessoas perdem a vida. As gerações passadas destru-íram para o progresso, que era necessário, mas agora é preciso reconstruir para que o progresso possa continuar.

Fala-se muito em preservar, mas nada se faz para isso. A natureza é vingativa, e o amanhã é incerto. Não se sabe quando terremotos ou enchentes irão acontecer e destruir casas, vilas e cidades. A solução para estes problemas naturais exige tempo e força de vontade.

Deve-se ter a consciência de que os desastres não cessarão se, primeiro, a po-pulação mundial não se der conta de que algo precisa ser feito com urgência.

Contudo, é de extrema importância saber que, em um mundo tão grande, onde a tecnologia está voltada para o futuro, pequenos atos fazem, sim, “a diferença” e, certamente, geram o progresso de uma nação.

Alunos: Graziela, Leandro, Rodrigo, Anderson

Ninguém manda no mundo!

R ealmente o ser humano precisa aprender que não somos os donos do mundo, deve-mos fazer mais pelo planeta.

Toda ação tem uma reação, então, devemos cuidar do nosso planeta, caso contrário as reações serão catas-tróficas.

O exemplo é a trágica situação dos japoneses. O Ja-pão é conhecido como o país mais atualizado do mundo e Tóquio é dita como a cidade que nunca para! É, mas desta vez parou pela força da natureza. Mais uma prova que não podemos controlá-la, por isso devemos preservá-la.

Hoje em dia o homem só pensa em si próprio, não está pensando no futuro de seus filhos e netos. É preciso cuidar não jogando lixo nas ruas, reciclando e, até mesmo, utilizando a sacola retornável para que possamos conse-guir diminuir o lixo do planeta.

Devemos fazer de tudo para cuidar do nosso planeta e podermos manter nossa consciência tranquila.

Alunos: Cristyan, Ricardo e Darlene

Lindo! Lindo! É preciso aprender com eles!Alunos da professora Neusa Galera da Escola Barão

Homem de Melo, do município de Alto Alegre, no Rio Grande do Sul, expressam, nas aulas de Ensino Religioso, o que pensam e sentem sobre o Meio Ambiente.

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Nosso concurso 2011, sobre a Diversidade Religiosa está muito concorrido. São inúmeras as escolas que aderiram à nossa proposta e que, durante todo este ano, têm trabalhado com os seus alunos sobre esta temática.

Devido esta expressiva participação e a excelente qualidade dos trabalhos, nossa avaliação exigirá uma atenção especial. As escolas e os alunos contemplados serão comunicados em novembro, via correio, e terão seus nomes publicados em nosso site e na primeira edição de OT 2012.

Parabenizamos com muito carinho, os queridos professores e as professoras que, com excelência, estão motivando seus alunos a elaborarem as expressivas produções, tornando possível, assim, o êxito deste concurso que, temos certeza, tem resultado em grande aprendizado sobre a Diversidade Religiosa no mundo.

Alunos: Angélica Lopes de Souza, Jean Carlos da Silva, Cristiane Aline Henz e Alex Henz.8º anoEscola Estadual de Ensino Médio São MiguelCruzeiro do Sul - RS

Alunos: Gustavo Cambrainha de Albuquerque, Luguy Barbosa de Azevedo e Márcio Filipi dos Santos Lima.9º anoColégio Diocesano de CaruaruCaruaru - PE

Alunos: Tatiane da Silva Maciel, Rayane Fernandes Figueiredo, Mariana Cavalcante Fernandes Costa e Rafaela Silva Ribeiro.9º anoEscola Municipal José Lucas de FigueiredoParaopeba - MG

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Mohandas Karam Ghand Gandhi, conhecido popularmente como Mahatma Gandhi, que significa “grande alma” em sânscrito (língua usada na Índia), nasceu em 1868, na Índia, e morreu assassi-nado a tiros, no mesmo país, em 1948.

Ele foi um dos idealizadores e fundadores do moderno es-tado indiano e expressivo defensor do Satyagraha – “caminho da verdade”, movimento de resistência e não violência. Gandhi foi um dos maiores propagadores de mensagem da paz para a humanidade, e suas sementes de paz ainda se espalham pelo mundo atual.

Se eu pudesse“Se eu pudesse deixar algum presente a você,deixaria aceso o sentimentode amar a vida dos seres humanos.A consciência de aprendertudo o que foi ensinado pelo tempo afora...Lembraria os erros que foram cometidospara que não mais se repetissem.A capacidade de escolher novos rumos.Deixaria para você, se pudesse,o respeito àquilo que é indispensável:Além do pão, o trabalho.Além do trabalho, a ação.

E, quando tudo mais faltasse, um segredo:O de buscar, no interior de si mesmo, a resposta e a força para encontrar a saída.”

A roupa de GandhiO Mahatma Gandhi provou que a “roupa não faz o homem”. Ele só usava uma

tanga a fim de se identificar com as massas simples da Índia.Certa vez ele chegou assim vestido numa festa dada pelo governador inglês e os

criados não o deixaram entrar.Ele voltou para casa e, por meio de um mensageiro, enviou um pacote ao go-

vernador. Dentro do pacote continha um terno. O governador ligou para casa de Gandhi e lhe perguntou o significado do embrulho. O grande homem respondeu:

- Fui convidado para a sua festa, mas não me permitiram entrar por causa da minha roupa. Se é a roupa que vale, eu lhe enviei o meu terno ...

por Mahatma Gandhi

Para refletir em grupo:1. O que faz o verdadeiro homem: a roupa que ele veste ou seu modo de ser?2. O que se entende por: “Além do pão o trabalho. Além do trabalho, a ação”.

Queridos Professores:

A Equipe O TRANSCENDENTE já se prepara para as edições do próximo ano, contemplando temas e estudos que fazem parte dos conteúdos propostos para

o Ensino Religioso do Brasil, com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB.

A organização do nosso trabalho tem como ponto primordial buscar os fundamentos teóricos das religiões do mundo e, na prática, ouvir os professores do Ensino Religioso de todos os estados do Brasil. Com estes elementos em pauta e, seguindo uma sistemática de trabalho, contemplamos com seriedade as sugestões e contribuições dos professores, os quais são os principais responsáveis pelo surgimento, em 2007, deste subsídio pedagógico para a disciplina do Ensino Religioso e outras disciplinas das ciências humanas.

Deste modo, elaborado com as experiências de tantos profissionais da área e por uma equipe pedagógica comprometida com a ética e com constantes pesquisas, seguramente podemos dizer: O TRANSCENDENTE, é a cara do Brasil e das demandas do Ensino Religioso que é proposto para as escolas do país e, você, professor (a) faz parte desta construção.

Contamos, ainda, com a sua ativa participação na difusão deste subsídio em meio aos professores da sua escola e da sua comunidade, a fim de que mais profissionais possam ter acesso e utilizar este rico instrumento pedagógico para o Ensino Religioso.

• O Ensino Religioso• Cronologia das Grandes Religiões• Mosaico religioso: novas religiões, seitas e movimentos• O Diálogo inter-religioso e a construção da paz• O fenômeno religioso – ritos e espiritualidades• Paisagens religiosas• Temporalidade Sagrada• Universo simbólico religioso: linguagem, gestos e escrita• Temas transversais do ER e atualidades• Meio Ambiente e sustentabilidade• Atividades diversas – projetos - dinâmicas – teatros - concurso

Metodologia, temas, abordagens e construção de saberes

Estamos compilando um livro didático onde serão abordadas todas as religiões já trabalhadas nas edições de OT, nes-

tes cinco anos de trabalho, que servirá de texto base para estudo e pesquisa dos alunos a fim de enriquecer e complementar as atividades propostas nas edi-ções OT 2012 e nos anos seguintes.

Entenda-se que o livro será uma proposta complementar, portanto, não vin-culado, compulsoriamente, ao jornal que continuará sendo, por si só, um subsídio completo para o ER. Dentro desta metodologia, o aprendizado será mais dinâmico

e interativo, de modo que os alunos, além de aprender, poderão ensinar e vivenciar os conhecimentos adquiridos. A partir de então passarão a processar o saber e a compreender a diversidade da nossa cultura marcada também pela religiosidade.

Ao professor(a) caberá trabalhar com competência e muita criatividade para fazer das aulas de Ensino Religioso um espaço de reflexão e construção de conhecimentos para a vida.

-Assessoria Pedagógica -

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