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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB GESTAO RUIDOSA hojemacau JOGO VIP FUNCIONÁRIOS DESCARTADOS COM NERVOS À FLOR DA PELE POLÍTICA PÁGINA 4 Pequim aperta cerco à fraude económica na RAEM POLÍTICA PÁGINA 5 Desde 2011 que o CA apresenta relatórios sobre a condução do Gabinete de Infra-Estruturas de Transportes no processo de construção do Metro Ligeiro. O terceiro documento agora apresentado não poupa críticas ao organismo e aponta deficiências ao nível do planeamento, gestão de orçamentos, despesas e fiscalização. Inicialmente previsto para começar a operar em 2011, os prazos têm vindo a ser sucessivamente adiados, sendo agora 2017 a data prevista para o início das operações. Os custos adicionais de todo este “descarrilamento” poderão, segundo o CA, vir a atingir as “mil milhões de patacas por ano”. METRO LIGEIRO COMISSARIADO DE AUDITORIA ARRASA ACTUAÇÃO DO GIT PÁGINAS 2 E 3 LITERATURA O LUGAR DA CIDADANIA. REFLEXÕES DE ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR CENTRAIS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 TERÇA-FEIRA 20 DE JANEIRO DE 2015 ANO XIV Nº3255 PUB ˜
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Hoje Macau 20 JAN 2015 #3255

Apr 07, 2016

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Hoje Macau N.º3255 de 20 de Janeiro de 2015
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Page 1: Hoje Macau 20 JAN 2015 #3255

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

GESTAO RUIDOSA

hojemacau

JOGO VIPFUNCIONÁRIOS DESCARTADOS COM NERVOS À FLOR DA PELE

POLÍTICA PÁGINA 4

Pequim aperta cerco à fraude económicana RAEM

POLÍTICA PÁGINA 5

Desde 2011 que o CA apresenta relatórios sobre a condução do Gabinete de Infra-Estruturasde Transportes no processo de construção do Metro Ligeiro. O terceiro documento agora apresentadonão poupa críticas ao organismo e aponta deficiências ao nível do planeamento, gestão de orçamentos,

despesas e fiscalização. Inicialmente previsto para começar a operar em 2011, os prazos têm vindoa ser sucessivamente adiados, sendo agora 2017 a data prevista para o início das operações.

Os custos adicionais de todo este “descarrilamento” poderão, segundo o CA,vir a atingir as “mil milhões de patacas por ano”.

METRO LIGEIRO COMISSARIADO DE AUDITORIA ARRASA ACTUAÇÃO DO GIT

PÁGINAS 2 E 3

LITERATURAO LUGAR DA CIDADANIA. REFLEXÕES DE ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR

CENTRAIS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 2 0 D E J A N E I R O D E 2 0 1 5 • A N O X I V • N º 3 2 5 5PU

B

˜

Page 2: Hoje Macau 20 JAN 2015 #3255

2 hoje macau terça-feira 20.1.2015GRANDE PLANO

JOANA [email protected]

É o terceiro relatório do Co-missariado de Auditoria (CA) que incide apenas so-bre a primeira fase do metro

ligeiro de Macau e volta criticar o que considera ser uma má gestão da parte do Gabinete de Infra--Estruturas de Transportes (GIT). Num documento arrasador, que o HM analisou aprofundadamente, o CA indica deficiências ao nível do planeamento e da gestão dos orça-mentos e despesas do metro e até ao nível da fiscalização à empresa de consultadoria contratada para

Deficiências repetem-seem três relatórios sem repercussões

EM Maio de 2011, o Comissariado de Auditoria

(CA) lançou o primeiro relatório sobre o metro ligeiro e o desempenho do Gabinete de Infra-Estruturas e Transportes. Já aí foram apontadas deficiências que se repetem nesta mais recente auditoria, a terceira desde que o CA começou a acompanhar mais o caso, em 2010, e que já tinham sido frisadas também no segundo relatório, em 2012. No primeiro relatório, que incidiu sobre os trabalhos efectuados entre Novembro de 2007 e Junho de 2010, eram apontados como principais problemas as deficiências do gabinete na estimativa do investimento global do metro ligeiro, na elaboração do orçamento anual e na fiscalização dos serviços adjudicados. As críticas repetem-se no segundo relatório no que à estimativa do investimento global e à fiscalização da execução dos contratos diz respeito, ainda que tenham sido feitos apontamentos também à falta de elaboração de instruções para controlo de custos. O CA admite que, nas 14 críticas que mereceram mais atenção da parte do Comissariado foram “introduzidas melhorias em 12 delas”, ainda que continuem a faltar os números mais importantes. “As restantes ainda por cumprir referem-se à estimativa do investimento global do sistema de metro ligeiro. (...) As estimativas do GIT foram feitas apenas segundo a metodologia de investimento estático e não incluíram as despesas com a realização de estudos e demais despesas, assim, os valores globais estimados não eram fidedignos. Na terceira auditoria ora realizada, o CA verificou que, para a estimativa de Setembro de 2012, o GIT (...) não deu continuidade ao procedimento, porque ficou a aguardar a conclusão do traçado na península de Macau. Importa realçar que a falta de informações actualizadas e completas afecta a capacidade de quem deve decidir e optar de entre as várias propostas”, remata o relatório. Apesar de este ser o terceiro relatório do CA, – e como vem já sendo hábito com os relatórios tornados públicos tanto por este, como pelo Comissariado contra a Corrupção – nunca houve qualquer repercussão ou consequência face aos erros cometidos pelo GIT. Os relatórios dão conta dos problemas e podem até levar – como admite o CA – a melhorias, mas não passa disso. - J.F.

Não é um relatório com meias medidas: o CA tece, mais uma vez, críticas à gestão e fiscalização do GIT. O organismo, diz mesmo o comissariado, nem sabia o que se passava com o consórcio contratado para o assessorar

METRO COMISSARIADO DE AUDITORIA CRITICA FALTA DE FISCALIZAÇÃO E MÁ GESTÃO DO GIT

O TERCEIRO DESCARRILAMENTO

2,437,483,863patacas é o valor das despesas só com adjudicações da primeira fase entre

Janeiro de 2012 e 31 de Dezembro de 2013. Na mesma data, foram ainda

revistas despesas no valor de 54,112,764 patacas

gerir as diferentes fases do novo transporte.

Foi a “falta de experiência na preparação e construção” de uma infra-estrutura como o metro que levou ao convite de empresas de consultadoria, sendo que, para isso, o GIT pagou a um consórcio for-mado por três empresas - de acordo com o que o HM conseguiu apurar, a Fase (Portugal), a EGIS Rail e a Setec its (ambas de França) - mais de 176 milhões de patacas.

O problema, entre muitos, re-side no facto de que a consultora era obrigada a constituir “uma equipa técnica residente, formada por gestores contratados no ex-

terior e trabalhadores recrutados localmente” e que tivesse, no mí-nimo, 20 trabalhadores até “mais de 50” cada mês. Isso não só não aconteceu, como o GIT também não teve conhecimento do caso durante mais de dois anos.

“O CA verificou que, nos primeiros 24 meses de execução do contrato, a dotação efectiva de trabalhadores ficou abaixo da prevista, entre dois e 24 traba-lhadores”, ou seja cerca de 6% a 45% abaixo do estipulado e um défice mensal de 28%. “Este facto demonstra deficiências do GIT no controlo da dotação da equipa por parte da empresa consulto-ra”, pode ler-se no relatório, que acrescenta que “até 2012, o GIT não aplicou nenhuma medida de controlo sistemático (...),não fez um acompanhamento adequado, nem organizou as informações de acordo com o andamento dos trabalhos”.

O pagamento ao consórcio incluía trabalhos de análise do modelo de gestão, forma de ex-ploração, captação de passageiros, custos do projecto, entre outros, como o apoio ao GIT em todas as áreas de gestão e construção do metro, “nomeadamente na área de risco.

“O GIT referiu que, inicialmen-te, apenas procedia ao controlo da

composição da equipa da empresa consultora através dos contactos regulares. Só a partir de Janeiro de 2012 o GIT afectou trabalhadores para fiscalizarem a composição da equipa da referida empresa consultora”, indica o CA.

Os dados mostram que o GIT esteve mais de dois anos sem fis-calizar a empresa, já que o contrato com o consórcio foi assinado em 2009.

FALHAS CONTINUAM Contudo, mesmo depois de enviar fiscais para resolver o problema, o GIT voltou a falhar.

“O CA verificou que o GIT se limitava a verificar o número total de trabalhadores, sem analisar se a sua afectação às diferentes funções correspondia ou não ao previsto no contrato”, atira o CA. O comissário acrescenta ainda que, apesar do gabinete afirmar que dava maior importância ao desempenho da empresa “do que ao cumprimento do plano de afectação de pessoal”, tal é contraditório com o nível de satisfação demonstrado.

“O GIT manifestou, por di-versas vezes, insatisfação sobre o desempenho da empresa consulto-ra e solicitou o reforço da equipa. Segundo o previsto no plano de afectação do pessoal, a equipa técnica devia ter um coordenador

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3 grande planohoje macau terça-feira 20.1.2015

A PESAR de, nos contratos celebrados pelo GIT, estejam apenas previstas

algumas sanções, o CA quer que o organismo englobe uma “cláusula penal compensatória”, prevista no Código Civil. Isto para que haja uma forma “apropriada” de fiscalizar os trabalhos previstos nos contratos com as empresas, como o consórcio que serve de consultor ao GIT, composto pelas empresas Fase (Portugal), EGIS Rail e Setec its (ambas de França).

“Não incluindo os contratos uma cláusula penal compen-satória que fixe o valor da in-demnização por incumprimento contratual, o empreiteiro não pode avaliar as vantagens e as desvanta-gens decorrentes do cumprimento ou incumprimento contratual”, refere o CA, que indica ainda que as actuais indemnizações e san-ções incluídas nos contratos “não produziram o efeito pretendido”.

Isto pode não ter acontecido porque, de acordo com o relató-rio, a empresa foi sujeita apenas a uma multa de 300 mil patacas, algo considerado insignificante face ao montante da obra. Mais ainda, apesar de um ofício aos empreiteiros devido ao atraso nas obras, decorreu um ano desde a

O Comissariado foca-se maioritariamente na contratação

do consórcio luso-francês e respectiva ausência de fiscalização, mas o dinheiro gasto é outro dos grandes problemas apontados, a par dos atrasos nos prazos de execução das obras. Ainda que o CA admita que o GIT acolheu algumas sugestões face às despesas, a verdade é que relembra também que o orçamento para o metro aumentou em mais de 47%. O orçamento inicial do projecto, apresentado em 2007, estimava um custo global da empreitada em 4,2 mil milhões de patacas, valor que viria a ser revisto em alta, em 2009, para 7,5 mil milhões de patacas e, recentemente, para mais de 14 mil milhões. O GIT continua a dizer que não pode apresentar mais orçamentos e, note-se, ainda falta o traçado de Macau. “Com o traçado da linha de Macau por definir, o GIT, desde Setembro de 2012, não tem vindo proceder a actualizações da estimativa global do metro ligeiro. Considera que sem uma previsão do início das obras e da sua duração não é possível fazer uma estimativa realista”, aponta o CA, criticando o facto. Sobre os prazos – e tendo em conta que não há ainda prazo para que a fase de Macau esteja concluída – o CA não se mostra muito optimista. Até porque os prazos estão, obviamente ligados ao orçamento.

2017é a data dada pelo

CA como início das

operações do metro.

2011 era a data em

que o metro deveria

ter ficado concluído.

Prazo adiado

primeiro para 2014,

depois para este

ano e que se estima

que siga até 2020

no que ao metro em

geral diz respeito.

2016 seria a data de

funcionamento da

fase da Taipa

“O GIT deve prever, de forma científicae completa, os recursos necessáriosà construção de todo o sistema do metro ligeiro e actualizar tempestivamentea estimativa sempre que ocorram alterações relevantes, com vista a forneceras informações adequadas e necessáriaspara efeitos de decisão e controlo.”

GESTÃO DEFICIENTE É “LÓGICA NAS OBRAS PÚBLICAS” O CA não deixa de tecer críticas às Obras Públicas. Escreve que os “os graves problemas” nas questões face ao metro se devem à adopção de um modelo e lógica de gestão “tradicionalmente prevalecentes nas obras públicas de Macau”. Modelo que, diz, “conduziu a estimativas incompletas do investimento global, que por sua vez, deu origem a grandes derrapagens orçamentais, permitiu uma gestão deficiente dos contratos e consequentes atrasos na execução das obras e trouxe indefinições ao rumo do desenvolvimento global do empreendimento”. A forma de proceder do GIT, continua o CA, “para além de não seguir a prática internacional geral, não tem revelado capacidade para assegurar, nos tempos que correm, uma boa gestão dos grandes empreendimentos”.

METRO COMISSARIADO DE AUDITORIA CRITICA FALTA DE FISCALIZAÇÃO E MÁ GESTÃO DO GIT

O TERCEIRO DESCARRILAMENTO 2%é a taxa de execução

efectiva das obras de

construção da Taipa

até final de 2013

de sistemas a tempo inteiro e re-sidente em Macau (...), porém o CA verificou que essa função não foi desempenhada de acordo com o estabelecido no plano de afectação do pessoal.”

Aqui, o GIT volta a justificar que o problema não afectou as obras, mas, segundo o CA, o gabinete voltou a meter a pata na poça: “o GIT informou a empresa consultora que os dois coadjuvan-tes [contratados para esta função] estavam sobrecarregados, o que prejudicava o seu nível de desem-penho”, remata o Comissariado.

Para o CA, o GIT não tomou medidas de controlo “de modo a garantir que a empresa consultora cumprisse o plano de afectação do pessoal, conforme as boas práticas da gestão de riscos”.

O CA nota que o GIT ainda

realçou que havia “um desem-penho deficiente por parte do consórcio e apurou que havia insuficiência de trabalhadores da equipa técnica, mas, como não dispunha de informações precisas, nomeadamente não sabia quais as funções que estavam carencia-das de trabalhadores bem como o número de trabalhadores em falta” não conseguiu resolver os problemas.

E os problemas podem mesmo não acabar por aqui. É que, de acor-do com o CA, também o novo e ac-tual procedimento continua apenas a contemplar situações globais. Diz o CA que “se a situação se repetir, havendo funções importantes sem estarem preenchidas durante um período de tempo prolongado, o GIT dificilmente as poderá detectar em tempo oportuno”.

CA QUER CLÁUSULA PENAL EM CONTRATO COM CONSULTORA

Sem nada a perder

data da remessa dos ofícios, sem qualquer consequência.

GOTA DE ÁGUAO CA diz ainda que, nos termos do Regime Jurídico do Contrato das Empreitadas de Obras Públicas, em circunstâncias normais, a multa diária é insignificante em relação ao preço global da adjudicação, especialmente quando a obra ad-judicada representa apenas uma pequena parte do empreendimento global. “As sanções previstas não cobrem os prejuízos indirectos re-sultantes dos atrasos nas obras. As inúmeras advertências feitas aos empreiteiros no sentido de cum-prirem as datas-chave não surtiram quaisquer efeitos no que respeita ao cumprimento dos prazos.”

Pelo que diz o CA, é frequente as obras públicas, ainda que a cargo de empresas privadas, não serem alvo desta cláusula. Ainda que o Governo possa sempre pedir uma indemnização por danos causados, com a ausência desta penalidade no contrato, o dilema terá sempre de ser resolvido em tribunal. Para o CA, no caso do metro, mesmo que isto aconteça não trará nada de bom. “Estará sempre longe de compensar os prejuízos dos cidadãos e do Governo, nomeada-mente no tocante à vida quotidiana dos residentes, à regular circulação rodoviária e ainda à manutenção dos actuais problemas de trânsito que deveriam ficar resolvidos com a conclusão do metro ligeiro no prazo previsto.” - J.F.

Custos adicionais podem chegar a “mil milhões por ano”

“A entrada em funcionamento apenas da linha da Taipa não vai descongestionar o trânsito conforme previsto, pelo que a execução das obras da linha de Macau terá que ser iniciada o mais rápido possível. Por outro lado, os inúmeros projectos de construção de grande envergadura em curso em Macau e nas regiões vizinhas devem gerar a manutenção dos preços com um crescimento anual na ordem de 20% a 30%. O investimento dinâmico da linha de Macau, que atingiu já o valor de estimado para o total do projecto em Setembro de 2012, no valor de 4623 milhões de patacas, poderá vir a constituir um encargo adicional anual de mais de mil milhões de patacas. (...) Os custos das fases seguintes do empreendimento serão significativamente agravados”, escreve o comissariado dirigido por Ho Veng On.

“Tomando em conta a previsão do GIT, segundo a qual os concursos para as obras da linha de Macau poderão ser lançados entre finais de 2014 e inícios de 2015, e excluindo o tempo para a realização de concursos para aquisição de projectos, a linha de Macau ficará concluída entre 2019 e 2020. Em resultado, o início do funcionamento da linha de Macau previsto para Setembro de 2016, segundo o relatório mensal da empresa consultora de Setembro de 2012, foi adiado, no mínimo, em três ou quatro anos.” Segundo o GIT, os atrasos deveram-se a vários factores, nomeadamente a falta de trabalhadores e de equipamentos, bem como a divergência entre as plantas de localização das condutas e dos cabos subterrâneos. O CA admite que encontrou “desfasamentos” na contratação de recursos humanos. “A falta de mão-de-obra afectou todos os empreiteiros, pelo que estes dificilmente conseguiriam executar as obras de acordo com os planos de trabalhos definidos e, assim, cumprir os prazos contratados”, assegura o GIT. De acordo com os prazos de execução contratados, as obras de construção que integram a linha da Taipa deveriam estar concluídas até Junho de 2015. Mas até 2013 os trabalhos das diversas empreitadas limitaram-se essencialmente à execução das fundações. - J.F.

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4 hoje macau terça-feira 20.1.2015POLÍTICA

FIL IPA ARAÚ[email protected]

O Gabinete do Secretá-rio para a Economia e Finanças avançou on-tem em comunicado

que, até ao dia de ontem, a Direcção dos Serviços para os Assuntos La-borais (DSAL) recebeu apenas um pedido de “apoio relacionado com o despedimento de trabalhadores de salas VIP de casino”. O organis-mo admite ainda que, desde dia 1 de Janeiro até à presente data, deu entrada na Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) um caso que pede o cancelamento da licença de promotor de Jogo, conhecido como ‘junket’, ainda que não explique qual é a empresa.

Devido aos recentes anúncios de que, pelo menos, duas em-

presas promotoras de jogo em salas VIP – o grupo Neptuno e o grupo David – vão fechar portas, o Secretário Lionel Leong “tem manifestado uma elevada aten-ção e importância”, sendo que, para isso, se reuniu ontem com os responsáveis da DICJ, DSAL

um mecanismo interdepartamental de ligação e de contingência mais estreito” para estes casos. As autoridades informam ainda que, após o registo do caso de pedido de apoio, definiram de imediato “pessoal para proceder aos devidos acompanhamentos”.

e do Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM).

DECISÃO CÉLEREO objectivo, como esclarece, é criar – entre estes serviços – um grupo de acompanhamento “a fim de criar

Lionel Leong salientou ainda que os serviços competentes têm que “tomar iniciativas para dar acompanhamento às quaisquer informações sobre as operações das operadoras de Jogo locais no mercado”, de forma a que seja possível perceber “atempadamen-te as situações operacionais dos promotores de Jogo e garantindo o cumprimento, por parte das ope-radoras de Jogo e dos promotores, do dever de comunicação previsto nos diplomas e regulamentos le-gais desta área”.

Relativamente aos despe-dimentos, é ainda possível ler no comunicado que o grupo irá acompanhar o caso para se poder “proporcionar aos trabalhadores afectados assistências atempadas, efectivas e correspondentes à realidade”.

Cadernos de recenseamento já estão expostosA partir de hoje os cadernos de recenseamento eleitoral das pessoas singulares e colectivas vão estar expostos ao público durante dez dias no edifício da Administração Pública, na rua do Campo. “Os SAFP apelam aos interessados que consultem os cadernos de recenseamento e reclamem, nos termos da lei, junto dos SAFP, por escrito, sobre os eventuais erros ou omissões aí constantes, durante o prazo de exposição”, informa um comunicado. Até 31 de Dezembro de 2014, encontravam-se recenseadas em Macau 282,588 pessoas singulares, um acréscimo de 0,49% em comparação com o ano passado, onde foram registados 281,200. Relativamente às pessoas colectivas, aos cadernos de recenseamento do presente ano, “foram adicionadas 16 novas inscrições e serão suspensas sete inscrições e canceladas outras sete”.

FLORA [email protected]

A deputada indirecta Ella Lei disse na sua mais recente inter-

pelação escrita entregue ao Executivo que há várias áreas de profissionais de saúde que não estão abrangidas pelo novo Regime de Registo dos Profissionais de Saúde de Macau. A criação deste sistema ficou previsto num

dos encontros do Conselho para os Assuntos Médicos e ficou prometida a sua entre-ga à Assembleia Legislativa (AL) em 2014, mas até agora o projecto legislativo continua por concretizar.

Ella Lei, que no hemiciclo representa a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), relembrou que há vários profissionais das áreas da Psicologia, Fisiotera-pia ou Medicina do Desporto

que não recebem apoios para a sua formação nem possuem instalações de apoio segundo o regime. Algo que tinha sido já manifestado por outros de-putados anteriormente.

A deputada preocupa-se com o facto “dos recursos hu-manos nas referidas profissões poderem diminuir muito mais, o que irá influenciar o seu desenvolvimento saudável”.

Classificando o futuro novo regime como sendo “im-

prudente”, Ella Lei defende que este “pode impedir o au-mento do nível na profissão”. Por isso, a deputada questiona o Executivo sobre se pode me-lhorar o conteúdo do regime antes de realizar uma consulta pública ao sector e ao público, a fim, salienta, “de diminuir polémicas desnecessárias”. Ella Lei questiona ainda o calendário para a entrega e análise do novo regime no hemiciclo.

ELLA LEI REGIME DE REGISTO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE É “IMPRUDENTE”

Uma inclusão mais abrangente

A DSAL já recebeu um pedido de apoio de funcionários despedidos de salas VIP e isso levou a que Lionel Leong tomasse a iniciativa de criar um grupo de acompanhamento para lidar com estes casos

JOGO FUNCIONÁRIOS DAS SALAS VIP COM ACOMPANHAMENTO

Novas atribulações

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5 políticahoje macau terça-feira 20.1.2015

ANDREIA SOFIA [email protected]

O S deputados da 1.ª Comissão Perma-nente da Assembleia Legislativa (AL) continuam a analisar a proposta de

Lei de Protecção dos Animais. No encontro de ontem com representantes do Executivo, foi pedido o alargamento do prazo de reclamação de um animal no canil municipal do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), ainda que não tenha sido dado o número de dias desejados.

“Alguns deputados entendem que este prazo de sete dias não é suficiente e o IACM vai estu-dar se esse prazo é ou não suficiente e vai fazer um tratamento diferenciado. Há que haver um tratamento diferenciado para os animais vadios e os que têm donos”, explicou a deputada Kwan Tsui Hang, que preside à Comissão. Contudo, ainda não há uma decisão final sobre esta matéria.

Actualmente, apenas o registo dos cães é obrigatório, sendo que cabe ao dono optar

pelo licenciamento de outros animais, como é o caso dos gatos. No caso de um animal ir parar ao canil municipal, o IACM promete primeiro contactar os donos, sendo que o abate deverá ser a última hipótese.

“Se não houver uma resposta no final dos sete dias, será considerado abandono. Primeiro, [o IACM] vai procurar um novo adoptante e decorrido um certo período [de tempo] terá de se pôr fim à vida do animal por meios humanitários”, disse Kwan Tsui Hang.

A deputada, que se senta no hemiciclo em representação da Federação das Associações dos Operários (FAOM), frisou que os donos dos animais também devem assumir respon-sabilidades.

“Como é que o Governo pode comunicar atempadamente com o dono? O dono tam-bém tem de ter responsabilidades e não pode simplesmente dizer que está fora de Macau. O IACM pode não ter espaço suficiente para cuidar do animal. O dono deve reflectir ao Governo a sua situação real. Caso contrário é

difícil listar na lei todas as situações”, adiantou a deputada.

INDEMNIZAÇÕES EM CASO DE ABATENa discussão de ontem ficou ainda mais um pedido feito ao Governo: que crie um regime de indemnizações ou compensações caso seja ne-cessário abater animais que estejam em situações que coloquem em perigo a saúde pública. Mas tal matéria deverá ser legislada noutro diploma.

“Na questão da gripe aviária ou outras doenças, para garantir a saúde pública teremos de abater certos animais. Quando se fala de animais para fins económicos, estão em causa muitas coisas, como os custos de exploração. Se calhar temos de ter em conta a questão das indemnizações ou compensações, mas a proposta de lei nada diz sobre isto. Por isso, sugerimos ao Governo para ponderar sobre esta questão. Há que haver outros meios para resolver isso. Mas entendemos que a proposta de lei não deve tratar esta questão. Não é possível que a lei abranja as indemnizações”, concluiu Kwan Tsui Hang.

ANIMAIS DEPUTADOS QUEREM ALARGAR PRAZO DE RECLAMAÇÃO NO CANIL

Por uma segunda oportunidade

UNION PAY AMCM CONFIRMA SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO DE TRANSFERÊNCIAS BANCÁRIAS

Reunião aconteceu sim... o ano passado

JOANA [email protected]

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) não confirma se está mar-cada para esta semana

mais uma reunião com o Ministé-rio da Segurança Pública chinês, conforme tinha sido avançado pelo diário Sunday Morning Post no domingo. Em resposta ao HM, o organismo revela que a reunião entre as autoridades do continente e a AMCM aconteceu a 20 de No-vembro do ano passado, admitindo que esta serviu para a criação do sistema de monitorização directa das transferências feitas com as máquinas POS da Union Pay.

O encontro esteve relaciona-do com as transacções feitas em Macau através do sistema Union Pay e consequentes actividades criminosas com ele relacionado, como o branqueamento de capi-tais e lavagem de dinheiro. Mas a AMCM não adianta se irão acontecer mais.

“Para o propósito de for-talecer a cooperação entre os departamentos governamentais e instituições financeiras na RAEM e da China continental, uma reu-nião foi organizada pela AMCM e co-organizada pelo Gabinete de Informação Financeira da RAEM em 20 de Novembro de 2014, em Macau. Representantes [do] Departamento de Crimes Econó-micos do Ministério de Segurança

Pública da República Popular da China, Ministério Público da RAEM, Polícia Judiciária da RAEM e UnionPay Internacional participaram na reunião”, começa por indicar a AMCM.

A ideia, refere o organismo, foi estabelecer “uma base jurídica para as autoridades de Macau perseguirem as actividades cri-minosas transfronteiriças rela-cionadas com cartões” da Union Pay”, bem como a formalização de um mecanismo de “vigilância recíproca efectiva entre a China continental e a RAEM”, algo como um sistema de monitori-zação em directo.

CONTRA O BRANQUEAMENTO“Na Reunião Anual do Grupo Ásia--Pacífico sobre o Branqueamento de Capitais, o Banco do Povo da China e a AMCM confirmaram a sua intenção de assinar um Memorando de Entendimento de cooperação para a supervisão sobre questões anti-lavagem de dinheiro. Neste sentido, os participantes da reunião expressaram a sua deter-minação na luta contra a utilização de Macau para as actividades de lavagem de dinheiro no exterior e fuga de capitais.”

Na resposta ao HM, a AMCM diz não ter mais nada a acrescentar para além do que foi dito nesta reu-nião e, de acordo com o organismo, dado a conhecer em Novembro.

“Todos os participantes da

referida reunião reconheceram a importância do esforço necessário sobre esta questão. Além disso, os meios tecnológicos para o sis-tema de monitorização em tempo real e o efectivo cumprimento da legislação são essenciais para al-cançar o objectivo de combater as actividades criminosas transfron-teiriças, que envolvam a utilização de cartões bancários do continente e máquinas de POS em Macau”, remata.

O encontro entre as autoridades da China continental e de Macau teve lugar a 20 de Novembro de 2014 e contou com a presença de representantes do Departamento de Crimes Económicos do Ministério de Segurança Pública da RPC, do Ministério Público da RAEM, da Polícia Judiciária e da UnionPay

“Os meios tecnológicos para o sistemade monitorização em tempo real (...) são essenciais para alcançar o objectivo de combater as actividades criminosas transfronteiriças,que envolvama utilizaçãode cartões bancáriosdo continentee máquinas de POSem Macau”COMUNICADO DA AMCM

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6 hoje macau terça-feira 20.1.2015política

FLORA [email protected]

O director substituto dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Vai Hoi Ieong, disse

ao jornal Cheng Pou que o processo de consulta pública sobre o Regime de Avaliação do Impacto Ambiental deverá ser realizado este ano, sendo que “espera” entregar o projecto de lei à Assembleia Legislativa (AL) em 2016. Contudo, Vai Hoi Ieong “não exclui [a possibilidade] de demorar mais tempo”.

Já em 2011 um texto explo-ratório para a criação do regime tinha sido apresentado pela DSPA, mas até ao momento a lei continua por criar. O director substituto da DSPA relembrou o processo de

auscultação com departamentos do Governo e associações e diz que, “caso as consultas [ao público] corram bem”, o projecto de lei deverá ser votado pelos deputados no próximo ano.

Vai Hoi Ieong explicou-se afirmando que nas regiões vizinhas também se demorou cerca de dez anos a implementar semelhante legislação. E garante que o impacto ambiental é tido em conta.

“Se houver opiniões a apontar para a necessidade de mais tempo para legislar o regime, não ex-cluímos prolongar o período de consulta pública. Mas as avalia-ções do impacto ambiental [das construções]têm vindo a ser feitas, mesmo que não estejam legisla-das”, garantiu.

Em Fevereiro de 2013, o HM

inquiriu a DSPA sobre o mesmo regime, tendo a entidade confirma-do que “não participa directamente na elaboração do relatório” do impacto ambiental. Cabe à Direc-ção dos Serviços de Solos, Obras

Públicas e Transportes (DSSOPT) fazer avaliações no terreno e exigir aos construtores os relatórios das grandes obras, que só depois são avaliados pelo Governo.

Dados compilados pelo orga-

REGIME DE IMPACTO AMBIENTAL NA AL SÓ EM 2016

Um pára-arranca que não acabaMacau continua a não ter uma lei específica sobre a avaliação do impacto ambiental das construções. O Governo ainda trabalha num projecto de lei, prometido há quatro anos, mas este só deverá chegar às mãos dos deputados para o ano

nismo em 2013 revelam que 59% dos relatórios de avaliação sub-metidos ao Governo pertenciam a construções do sector público, enquanto que apenas 41% dos relatórios pertenciam a empreen-dimentos privados.

PASSA A BOLAOs atrasos no processo mereceram a atenção do deputado Au Kam San, que acusou a DSPA de não realizar as análises de impacto ambiental. Numa interpelação escrita entregue ao Governo, o deputado da ala demo-crata acusava as empresas privadas de construção de contratarem outras empresas para a elaboração do rela-tório, sem qualquer fiscalização pelas entidades públicas.

Na resposta ao HM, a DSPA admitiu que “normalmente a DSPA não participa directamente na ela-boração do relatório, mas analisa criticamente o conteúdo e a qualidade do relatório de avaliação, tendo uma assessoria técnica para garantir que o conteúdo está de acordo com as exigências da legislação ambiental e as especificações técnicas, por forma a mitigar o impacto do projecto sobre o meio ambiente.” Da parte da DSSOPT, esta procede “à avaliação do impacto ao ambiente envolvente em cada caso, em termos de colinas, zonas verdes, paisagem urbanística ou tráfego”.

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7hoje macau terça-feira 20.1.2015 SOCIEDADE

O sector do Jogo encerrou 2014 com uma receita global de 352.714 milhões de patacas, menos 2,52%

do que o apurado em 2013, indicam dados oficiais ontem divulgados.

Os dados, disponíveis na página dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos, apontam para receitas de 351.521 milhões de patacas arrecadados nos casinos, uma queda de 2,6% face a 2013, e de 1193 milhões de patacas apurados nas corridas de galgos e cavalos, lotarias e apostas em jogos de futebol e basquetebol.

Na análise das receitas dos casinos verifica--se que o Bacará Vip, a maior fonte de receita das salas de jogo, gerou menos 10,89% de receitas em 2014, face ao ano anterior, para

um total de 212.535 milhões de patacas. Já as receitas do Bacará jogado nas salas de massas aumentaram 16,29%, para 106.527 milhões de patacas, ligeiramente acima de metade do peso do Bacará Vip, o que reforça a tese da im-portância crescente do mercado de massas em detrimento do peso dos grandes apostadores.

As receitas do Bacará Vip no quarto trimestre fixaram-se em 46.059 milhões de patacas, menos 29,2% do apurado na mesma rubrica no primeiro trimestre do ano. Já o Bacará jogado nas salas abertas registou uma queda de 21,8% no mesmo intervalo.

PRIMEIRA QUEDAEm termos de receitas brutas dos casinos, no quarto trimestre, as receitas - de 75.580

milhões de patacas - caíram face aos pri-meiros três meses do ano 26%.

No final de 2014, Macau tinha 35 casinos, que disponibilizavam 5711 mesas de jogo e 13.018 slot machines.

O ano de 2014 ficou marcado por ser o primeiro ano em que as receitas dos casinos apresentaram uma queda face ao ano anterior desde que os novos operadores chegaram ao mercado em 2004.

Apesar da quebra, o Governo, que cobra directa e indirectamente 39% das receitas brutas apuradas no sector, não regista qualquer problema de tesouraria, já que apenas gasta cerca de um terço de todas as receitas apuradas pela Adminis-tração. - LUSA/HM

UM aumenta propinas para estudantes estrangeirosA Universidade de Macau (UM) vai aumentar as propinas para estudantes estrangeiros, incluindo os alunos do interior da China e das regiões de Hong Kong e Taiwan. Segundo a Orange Post, revista mensal da UM, os estudantes provenientes de Hong Kong, interior da China e Taiwan que se inscreveram para o ano lectivo de 2015/2016, vão pagar 960 patacas por disciplina, ou seja um aumento de 5,5%. Quanto aos alunos provenientes de outros países, o aumento será de 5%, passando estes a pagar 1230 patacas. Nos cursos de pós-graduação, mestrado e doutoramento, a propina aumentará, para ambos, cerca de 5%. Para estudantes residentes de Macau, quase todos irão pagar o mesmo preço actual, excepto os que frequentam o curso de pós-graduação de Direito, que vão passar a pagar 2100 patacas por um crédito, um aumento de mais de 30%.

JOGO QUEBRAS NAS RECEITAS DE 2,52% EM 2014

Menos bacará, menos tostão

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FIL IPA ARAÚ[email protected]

T AL como o HM avançou, no final do ano passado, existem mais de 200 reclu-sos estrangeiros a cumprir

pena no Estabelecimento Prisional de Macau (EPM). Este número equivale a 20% do total dos presos, que ultrapassa os 1200 reclusos.

Agora, numa segunda resposta ao HM, é possível perceber que a lista de presos, cedida pelo próprio estabelecimento, contém mais de 31 nacionalidades, além de Macau. Bulgária, Índia, Indonésia, Estados Unidos de América, Coreia do Sul, Quénia, Malásia, Roménia, Singapura, Paquistão, África do Sul, Zâmbia e Tailândia são alguns dos países da lista.

O número concreto de reclusos por país de origem não foi cedido ao HM por “protecção dos próprios presidiários”, como explica a EPM, que adianta apenas que a grande parte destes reclusos estão detidos devido a crimes relacionados com estupefacientes.

Na análise dos dados é ainda possível perceber que entre conde-nados e presos preventivamente, registam-se 184 reclusos estran-geiros. Destes, que equivalem a 18,6% do total de reclusos, 127 são do sexo masculino e 57 são mulheres.

TEM MUITO TRÁFICOComo indica o EPM, relativa-mente às causas, o tráfico ilícito de estupefacientes ou produtos psicotrópicos é o que lidera a lis-ta – com 115 casos -, seguindo-se os furtos e roubos, com 40 casos. O consumo ilícito de drogas e a ofensa qualificada à integridade física da qual resulta a morte são as causas que se seguem com maior registo.

Os últimos dados disponíveis quanto ao movimento dos reclusos indicam que, em Julho do ano passado – data da última análise –, entraram 42 novos reclusos e foram soltos 38. Ou seja, nos pri-meiros sete meses do presente ano deram entrada 324 novos presos no EPM, dos quais 273 são ho-mens e 51 mulheres. Analisando as saídas, é possível verificar que 259 reclusos saíram em liberdade – 215 do sexo masculino e 44 do sexo feminino.

São 200 os reclusos estrangeiros - homens e mulheres - a cumprir pena no EPM. Europa, América, África e Ásia: quase todos os continentes marcam presença na prisão de Macau, grande parte devido a crimes ligados a estupefacientes

EPM RECLUSOS ESTRANGEIROS SÃO ORIGINÁRIOS DE MAIS DE 30 DE PAÍSES

Diz-me de onde é que vens

115detidos por tráfico ilícito

de estupefacientes ou

produtos psicotrópicos

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8 sociedade hoje macau terça-feira 20.1.2015

H Á mais dois grupos que se uniram à petição a decorrer para o pedido de desculpas públicas do

deputado Fong Chi Keong sobre as declarações do deputado face à violência doméstica. Desta vez é a União de Estudantes da Uni-versidade de Macau (UMSU) e o Zonta Club de Macau.

A adesão não seria de estranhar, caso a UMSU fosse um grupo activo politicamente, como realça o activis-ta e ex-professor da instituição Bill Chou, que se diz surpreendido com a situação.

O ex-professor defendeu que é muito raro qualquer órgão interno da universidade em questão se manifestar sobre assuntos políticos. “Isto é uma revolução”, sublinhou o académico.

A UMSU é o 21º grupo a alistar-se na actividade convocada pela Associação de Educação de Género de Macau, que reúne já mais de seis mil assinaturas por um pedido de desculpas.

MULHERES ACTIVASDe acordo com a iniciativa está também o grupo Zonta Club de Macau, na sua qualidade de “grupo de mulheres na vida activa”. “O Zonta Macau junta-se sem hesi-tação à petição que condena os comentários do deputado Fong”,

A projecção interna-cional dos vinhos do Douro surge por

“arrastamento” ao Vinho do Porto, disse ontem à agência Lusa em Macau o especialista de vinhos João Paulo Martins.

O jornalista, crítico de vinhos, está em Macau onde vai lançar na terça-feira a edição chinesa do seu livro “ O Prazer do Vinho do Porto”, um vinho que considera ser o “grande embaixador de Portugal” e dos vinhos do Douro.

“Se mais nada nós fizés-semos para o grupo dos gran-des vinhos do mundo, com o vinho do Porto já tínhamos lugar garantido”, considerou João Paulo Martins ao sa-lientar que “foi por causa do vinho do Porto e do crescente interesse, nomeadamente da imprensa americana sobre o vinho do Porto, que, por arrastamento, os vinhos do Douro começaram a ser notados”.

João Paulo Martins lem-bra que as recentes classifi-cações da “Wine Spectator”

Novo hotelnos Nam Van Um novo hotel de 4563 metros quadrados está previsto para um terreno ao lado do IT Centre e do Grand Emperor Hotel, na zona dos lagos Nam Van. A notícia é avançada pela revista Macau Business que afirma que um “empreiteiro” apresentou a proposta, de acordo com um comunicado da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. A revista indica que a DSSOPT assegura que, caso a obra ocupe mais 50 mil metros quadrados, o empreiteiro terá de apresentar um estudo de impacto ambiental à Direcção dos Serviços de Proteçcão Ambiental. As Obras Públicas asseguram ainda que o projecto não pode ir além dos 97,2 metros de altura.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA UM “SURPREENDE” AO JUNTAR-SE A PETIÇÃO CONTRA FONG

Um irritou todos, todos contra umFIL IPA ARAÚ[email protected]

FLORA [email protected]

CHAN WAI CHI FALA SOBREO CASO“Respeitar a liberdade de expressão não significa poder falar coisas absurdas”, escreveu o ex-deputado Paul Chan Wai Chi num artigo no blogue da Macau Concealers, relativamente ao discurso do deputado nomeado. Chan acrescentou ainda que “o regime que temos, são os deputados que temos”. O ex-deputado defende ainda que o Executivo deve aproveitar o nível de governação, consolidando a supervisão da Assembleia Legislativa e dos deputados. Caso contrário, considera Chan Wai Chi, “haverá sempre conversas vazias”.

VINHO DO PORTO VISIBILIDADE ARRASTOU PRODUÇÃO DO DOURO

O grande embaixador portuguêsque colocou três vinhos portugueses no “top 5” dos melhores do mundo são im-portantes não para o negócio imediato dos produtores, mas já o são para próximas colheitas e para destacarem uma região e atrair mais especialistas a visitarem Portugal e o Douro “bene-ficiando toda uma região”.

DEIXAR PISTAS“É um passo de gigante na afirmação do Douro como região produtora de vinhos extraordinários”, sublinhou.

Sobre o seu livro do Vinho do Porto, João Pau-lo Martins recorda que o mercado daquele produto “é ainda bastante incipiente na China”, mas quer dei-xar, para já centrado em Macau e Hong Kong, um documento “informativo” com a história do Vinho do

Porto, a sua produção, os tipos de vinhos e as ocasiões em que deve e como deve ser bebido.

“É um livro que não se esgota ao fim de um ano como são os livros com

notas de prova” e também “mais um elemento que pode ajudar à promoção do Vinho do Porto”, disse.

Além de estar disponível em Macau e Hong Kong, o novo livro, numa iniciativa

da editora WG Books, que tem desenvolvido o Portugal Wine Guide, pode ainda ser comprado em Portugal, nomeadamente por onde passam os turistas chineses que visitam o país.

esclarecem em comunicado. “As palavras proferidas pelo deputado Fong Chi Keong causaram danos colaterais irrecuperáveis aos va-lores promovidos pela sociedade de Macau. Os seus polémicos comentários ferem intimamente as vítimas de violência doméstica e estamos solidárias com as vítimas”, pode ler-se no comunicado.

O grupo considera que um pedido de desculpas públicas não será suficiente, numa sociedade que se quer preocupada e atenta a

este tema. E junta-se ao tema da manifestação convocada pela Ma-cau Consciência para este sábado, contra os deputados nomeados.

“Pedimos ao público em geral que reflicta sobre os riscos e bene-fícios de ter deputados nomeados irresponsáveis em representação do Governo. É necessário recordar que a liberdade de expressão de um deputado não pode ir além do respeito pelos direitos humanos, respeito pela igualdade de género, assim como a responsabilidade social e cívica de qualquer deputado do hemiciclo. So-mos da opinião que os representantes do Governo tem uma responsabili-dade acrescida no respeito destes princípios fundamentais”, defendem.

Para este grupo de defesa dos direitos da mulher, a prioridade de Macau e das suas pessoas “reside na definição dos actos de violência na perspectiva da tolerância zero e a aplicação da lei com rigor”. “Os diversos sectores da socieda-de precisam de unir esforços para combater a violência doméstica com determinação”, rematam.

Até as 9h30 de ontem, a ac-tividade já tinha recolhido 6382 assinaturas. Para a marcha agenda-da para sábado, estão confirmados – no evento criado na rede social - 411 participantes.

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9 sociedadehoje macau terça-feira 20.1.2015

LEONOR SÁ [email protected]

O presidente do Fundo de Segurança Social (FSS), Ip Peng Kin, quer que o aumento das

contribuições do regime obrigatório – do sector privado – fique decidido até Julho. “Planeamos implementar este plano de aumento no mês de Julho do corrente ano porque já ouvimos as opiniões da sociedade e também da parte laboral e patronal”, confirmou Ip Peng Kin, depois de uma reunião, ontem. Embora o assunto esteja a ser discutido desde 2012, as duas partes não chegaram ainda a acordo quanto ao montante a estabelecer e a pedir a empregados e empregadores.

Em sede do Conselho Per-manente de Concertação Social

U M homem foi condenado pelo Tribunal de Última Instância (TUI) a uma pena

de três anos e três meses de prisão pelo crime de homicídio por ne-gligência grosseira num caso de acidente de viação que resultou na morte de um residente. O sujeito ia a ser perseguido por um agente da polícia, que o mandou encostar devido ao seu comportamento na condução.

Em relação às indemnizações a pagar, o TUI decretou o pagamento de mais de um milhão e meio de patacas por danos de morte, patri-moniais e morais sofridos pelos intervenientes. Segundo o acórdão, o arguido irá pagar directamente do

RECURSO NEGADO A ACUSADO DE HOMICÍDIO POR NEGLIGÊNCIA

Há sete anos nos tribunaisseu bolso mais de 512 mil patacas, sendo que o valor de um milhão de patacas ficará a cargo de uma seguradora.

SEMPRE A ANDARO caso remonta a Outubro de 2008, quando, perto das 2h38 horas da madrugada, um agente de trânsito começou a seguir o arguido, que conduzia um automóvel ligeiro em direcção da Avenida da Amizade. O agente de trânsito suspeito que

o condutor não estava a conduzir segundo a “sinalização semafóri-ca”, sendo que este conduzia a uma velocidade de 60 a 70 quilómetros por hora. A perseguição continuou até à Alameda Dr. Carlos Assump-ção, sendo que o arguido continua-va a conduzir a uma velocidade superior à permitida por lei. Na Rua de Paris, na zona dos NAPE, o automóvel bateu na traseira de um ciclomotor, tendo “projectado” o residente mais de sete metros.

Depois disso, “o ofendido ficou gravemente ferido e sofreu uma hemorragia, e posteriormente foi transportado pela ambulância”, para o Centro Hospitalar Con-de de São Januário. Mais tarde verificou-se que o arguido e autor do incidente tinha 1,16 gramas de álcool por litro de sangue.

NEGLIGÊNCIA GROSSEIRA Tanto o arguido como a segurado-ra a quem coube grande parte das

despesas recorreram da sentença inicial do Tribunal Judicial de Base (TJB), que decretou uma pena inicial de dois anos e nove meses de prisão por homicídio por negligência grosseira, bem como uma pena de prisão de um ano e três meses de prisão pela prática do “crime de condução perigosa de veículo rodoviário”. No total, a pena de prisão efectiva seria de três anos e de três meses, decisão que se manteve. Foram ainda alterados os valores das indemnizações por danos não pa-trimoniais, sendo que na decisão do TUI os juízes decidiram atribuir ao arguido a totalidade da culpa pelo acidente. - A.S.S.

FSS GOVERNO QUER COMPENSAÇÕES DECIDIDAS ATÉ JULHO

Concordar em discordarTodos estãode acordo com o aumento das contribuições.Só falta o resto

“Vamos mantera proporção e, seno futuro as condições forem melhores, podemos considerar, mas neste momento não”LEI CHAN UVice-presidente da FAOM

(CPCS), o Governo reuniu-se com as partes patronal e laboral para, uma vez mais, discutir o aumento do valor das contribuições de cada um dos lados e o eventual aumento da proporcionalidade. Actualmente, foi decidido “au-mentar o montante [total] de 45 para 90 patacas e vamos manter a proporção de contribuição de um por um”, disse o presidente do FSS. Segundo o responsável, a população está “de acordo” com o acréscimo de contribuição.

FINCA-PÉ SÓ ATÉ MEADOS DO ANOAmbas as facções, tal como o Governo, concordam com o aumento das contribuições. “É nossa responsabilidade”, dizem Vong Kuok Seng da Associação Comercial, e Lei Chan U, vice--presidente da FAOM. Não houve ainda um consenso quanto à pro-porcionalidade dos descontos, uma vez que o porta-voz do patronato quer uma escala de contribuições igual, ou seja, que trabalhadores e empregadores descontem a mesma percentagem.

Já o sector laboral prefere que a percentagem actual se mantenha, tendo as empresas de contribuir duas vezes mais o valor dos seus funcionários. “A nossa posição é muito clara: sendo o FSS uma contribuição obrigatória, estamos a favor deste regime social. Cremos, no entanto, que a responsabilidade não é só da parte patronal, mas a

parte laboral também precisa de assumir as suas responsabilidades, que não deve ser menor do que aquela dada pela parte patronal”, defendeu Vong Kuok Seng.

“O que exigimos agora é que, para além da actualização do montante,haja tambémuma actualizaçãoda proporção”VONG KUOK SENGPorta-voz da Associação Comercial

O porta-voz da Associação Comercial deixou ainda a ideia de que ambas as facções devem ganhar com este fundo. “Podemos assumir que a parte patronal só está

a contribuir e não está a receber nada e a parte laboral é a que vai beneficiar de contribuição”, frisou.

E ATÉ AGORA?Neste momento, a alteração às con-tribuições feitas por trabalhadores e empresas – que deverá ser publicada em despacho de Boletim Oficial a partir de Julho deste ano – está pensa-da para continuar na proporção actual de dois para um, onde o patronato contribui duas vezes mais o valor dos funcionários. O Governo sugere que os trabalhadores descontem 30 patacas e as empresas 60.

“Estamos a insistir na ideia de que agora é o tempo oportuno para dar o primeiro passo”, referiu Vong Kuok Seng. Para o porta-voz, o montante não é o mais importante, sendo que o representante desta facção prefere discutir a percentagem que cada parte desconta. “O que exigimos agora é que, para além da actualização do montante, haja também uma actuali-zação da proporção”, justificou. Con-tudo, a posição do vice-presidente da FAOM é irredutível, pelo menos para já. “Vamos manter a proporção e, se no futuro as condições forem melhores, podemos considerar, mas neste momento não”, assegurou Lei Chan U.

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hoje macau terça-feira 20.1.2015 11EVENTOS

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ESTÃO abertas as inscrições para os cursos de Cerâmica Artística I e II dirigido pelo

ceramista Paulo dos Reis. O módulo I, que arrancou ontem, decorre até 18 de Março, às segundas e quartas-feiras, das 18h30 às 21h30. Já o de cerâmica II estende-se até 19 de Março, começando hoje, e decorrerá às terças e quintas--feiras durante o mesmo horário.

Paulo dos Reis é um ceramista que pesqui-sou e desenvolveu experiências sobre ‘raku’ e ‘raku nu’, técnicas em que se encontra centrado o seu trabalho mais recente. A partir de dife-

rentes técnicas, tipos de barro e combinação de cores, Paulo Reis cria peças de joalharia, figuras de escultura e objectos utilitários e decorativos. O ceramista, cujos trabalhos es-tiveram presentes em inúmeras exposições, é um dos impulsionadores do projecto Remédio Santo, uma loja de artesanato na zona turística de Alfama aberta recentemente, que funciona também como atelier.

Aos interessados, as inscrições são feitas nas instalações das Casa de Portugal, sendo que o custo dos cursos é de 1530 patacas.

Casa de Portugal Paulo Reis dirige cursos de cerâmica artística

ANDREIA SOFIA [email protected]

P ARA o artista maca- ense António Con-ceição Júnior, a po-lítica não se faz com

máquinas partidárias, mas com pessoas que se reúnem para debater os problemas do espaço onde vivem. Isto ficou claro para o homem que veio para Macau em 1977, tinha o 25 de Abril acabado de acontecer em Portugal. Nascia então uma vontade de intervir na sociedade, que se manifestou mais tarde nas páginas do, na altura sema-nário, Ponto Final, na coluna “Lugar de Cidadania”.

“Formou-se na minha ca-beça a ideia de que a única for-ma de haver uma participação que pudesse congregar toda a gente, seria a Cidadania. Seria uma alternativa à política no sentido tradicional do termo. Regressávamos à Polis, à sua origem”, frisou ao HM Conceição Júnior.

Anos depois, chegou a hora de compilar essas opi-niões em livro. O projecto nasceu da iniciativa da editora COD, de Carlos Morais José, na obra intitulada “Escritos do amor e do desafecto – Cróni-cas de Cidadania”. O lança-mento acontece na próxima semana, dia 29, no auditório do Consulado de Portugal em Macau.

Ao HM, António Concei-ção Júnior confessa que o

livro estava pronto para sair, com prefácio feito, desde 1999. A modéstia do autor deixou o livro na gaveta.

“São textos escritos por alguém que nunca quis envelhecer, no sentido qui-xotesco. Achei que tinha um papel muito modesto a desempenhar e que era meu dever fazê-lo. Mas este livro está escrito e prefaciado desde 1999. Por razões que se prendem com um certo prurido meu em apresentar um livro, na medida em que não sou escritor, acho que foram precisos estes 15 anos

de indecisões e sobretudo de auto-censura, plenamente as-sumida. Mantive-me quieto e sossegado”, apontou.

DA RELEVÂNCIA DA CIDADANIAPara o editor da obra, Carlos Morais José, o livro debruça--se “sobre a questão da cidadania em Macau, muito importante e relevante. Sendo uma recolha de textos feita por uma pessoa como o António Conceição Júnior, com as provas dadas que tem como artistas e cidadão, parece-me um livro importante nesta fase da RAEM, sobre a questão da

cidadania. São questões de intervenção na cidade, o que deve ser uma cidade e como conceitos devem ser tidos em conta quando se governa uma cidade”, explicou.

Também o autor acredita que o livro lançará a pedra para o debate, numa altura em que a RAEM sofre um “crescimento desordenado e desregulado”. “Os casinos, em si, no Cotai, estão muito bem. O que me parece é que as sequelas decorrentes de um novo riquismo que, inevitavelmente está asso-ciado ao aparecimento de grandes fontes de receita, afectaram a população em geral”, defendeu ao HM.

“Escritos do amor e do desafecto – Crónicas de Ci-dadania” é o segundo título da colecção “Cadernos Hoje”. Uma colecção que pretende levar o leitor à reflexão. “São livros que versam sobre a ac-tualidade e que possam pôr as pessoas a pensar sobre temas importantes, sejam eles sobre política, ou história das ideias, como foi o caso de Norberto Bobbio, ou a história da litera-tura. Temas que o que têm em comum é a sua actualidade”, concluiu Carlos Morais José.

CONCEIÇÃO JÚNIOR APRESENTA “ESCRITOS DO AMOR E DO DESAFECTO”

Que Polis é esta?A editora COD lança na próxima semana “Escritos do Amore do Desafecto – Crónicas de Cidadania”, no auditório do Consuladode Portugal em Macau. Um conjunto de reflexões de António Conceição Júnior sobre este território que habitamos

“Formou-se na minha cabeça a ideia de que a única forma de haver uma participação que pudesse congregar toda a gente, seria a Cidadania. Seria uma alternativa à política no sentido tradicional do termo. Regressávamos à Polis, à sua origem”

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12 CHINA hoje macau terça-feira 20.1.2015

AS VIDAS SECRETAS DOS CZARES • Michael FarquharEm 1613, Miguel Romanov é eleito czar numa Rússia em convulsão após o reinado de Ivan, o Terrível. Com apenas 16 anos vai dar início a uma das mais fascinantes dinastias imperiais da história: os Romanov. Foram 300 anos de poder e terror absolutos, marcados pela violência, devassidão e loucura dos seus governantes – aqui narrados por Michael Farquhar com uma vivacidade e um rigor únicos.

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O SEXO AO LONGO DOS TEMPOS, DEBAIXO DOS LENÇÓIS DA HISTÓRIA UNIVERSAL • Karen DolbyO sexo foi sempre uma parte importante da vida do ser humano em todos os níveis da sociedade. Contudo, a atitude em relação ao sexo mudou radicalmente depois de Santo Agostinho e do seu conceito de «pecado original». O seu novo conjunto de regras rígidas, considerando o sexo aceitável apenas dentro do casamento, abriu as portas à «culpa» e a mil formas de nos divertirmos com ela. Porque na verdade todos temos «aquilo» no pensamento a toda a hora. Em “O Sexo ao Longo dos Tempos”, Karen Dolby leva-nos numa viagem divertida e maliciosa pelos episódios mais sombrios e perversos do sexo no decurso da História. Reis, rainhas, papas, imperadores, presidentes, santos e filósofos, todos farão a sua aparição neste relato fascinante e surpreendente da história do sexo.

A S exportações chi- nesas para a União Europeia deve-rão sofrer “perdas

substanciais” com a desva-lorização do euro, mas, no conjunto, a queda da moeda única europeia “terá um efei-to limitado na China”, disse ontem o Diário do Povo.

“Ao contrário dos Esta-dos Unidos, a Europa não está livre da crise económi-ca” e “a indolente economia europeia está a empurrar o euro para baixo”, afirmou

Taiwan Novo líder do Kuomintang tomou posse Hong Kong Jovem detida por desenhar na parede devolvida à família

O novo líder do Kuomintang, Eric Chu, tomou ontem posse

do partido governante de Taiwan substituindo o Presidente Ma Ying--jeou na condução dos destinos da formação política após a derrota das eleições de Novembro do ano passado.

Eric Chu, escolhido em eleições internas do partido no sábado, to-mou posse numa cerimónia em que participou Ma Ying-jeou.

O novo líder do partido rece-beu no sábado as felicitações do Presidente chinês, Xi Jinping, e da presidente do Partido Democrático Progressista, Tsai Ing-wen, líder da oposição.

Eric Chu enfrenta uma crise de confiança popular do Kuo-mintang que regressou ao poder em 2008 e abriu uma nova janela de diálogo e cooperação com a

China continental e enfrenta nesta relação a ‘suspensão’ dos acordos comerciais aprovados em 2013 bem como o apoio de Ma Ying--jeou ao movimento democrático de Hong Kong.

Por outro lado, Eric Chu enfren-ta ainda um crescente movimento social a favor de uma democracia mais participativa e com menos dependência da China, além das exigências da oposição da reforma constitucional e de maior transpa-rência na adopção de políticas e negociações, especialmente com Pequim.

Dentro do partido, o novo di-rigente deverá apaziguar as lutas internas e resolver o confronto entre a cúpula dirigente do Kuomintang e o actual presidente do Parlamento, Wang Jin-pyng, veterano dirigente taiwanês do Kuomintang.

UM tribunal de Hong Kong decidiu ontem que a adoles-

cente de 14 anos que foi detida por desenhar numa parede usada para mensagens pró-democracia podia ficar ao cuidado da família.

As autoridades queriam que fosse aplicada uma ordem de “cuidado e protecção” à menor, que podia ter resultado no seu afasta-mento do pai, que sofre de surdez.

A jovem foi inicialmente en-

viada para um lar que acolhe crianças, depois de ter sido detida, em Dezembro, por desenhar uma flor na “Parede Lennon” - usada pelos manifestantes para colocar mensagens de apoio ao movimento pró-democracia que durante mais de dois meses ocupou as ruas da cidade.

A adolescente pôde, mais tarde, voltar para junto da família, sob fiança e horário de recolher obrigatório.

O caso gerou uma onda de indignação contra a polícia en-tre os apoiantes do movimento pró-democracia, com a jovem a ficar conhecida como “a rapariga do giz”.

A polícia já tinha pedido que a mesma medida fosse aplicada a um rapaz, também de 14 anos, que foi detido durante as operações de limpeza das barricadas dos mani-festantes. No entanto, o caso foi abandonado no início do mês, com o estudante do ensino secundário a acusar as autoridades de serem “extremamente incorrectas” e “politicamente motivadas”.

“O que o Governo está a fazer é indecente porque usa todos os meios que pode para impedir os jovens de realizar campanhas po-líticas. Mas isso só nos fará mais determinados”, disse à AFP.

A moeda europeia atingiu ontem o valor mais baixo da última década face ao yuan

“No conjunto, um euro fraco terá apenas um limitado efeito na China”DIÁRIO DO POVO

DIÁRIO DO POVO DESVALORIZAÇÃO DO EURO AFECTARÁ EXPORTAÇÕES

Efeitos secundários

o órgão central do Partido Comunista Chinês (PCC) na sua edição online.

A União Europeia é o maior parceiro comercial da

China e o segundo mercado das exportações chinesas, a seguir aos Estados Unidos da América.

“Uma União Europeia e

um euro economicamente fracos terão influência ne-gativa nas exportações da China para a União Euro-peia”, mas “com a reestru-

turação da sua economia, a China passará a ser menos dependente do comércio externo”, assinala o Diário do Povo.

“No conjunto, um euro fraco terá apenas um li-mitado efeito na China”, acrescenta.

BATER NO FUNDOO euro atingiu ontem o seu valor mais baixo face à moeda chinesa em cerca de uma década, valendo apenas 7,091 yuan, indicou o banco central chinês.

De acordo com as co-tações do Banco Central Europeu, ligeiramente mais favoráveis ao euro do que as do Banco Popular da China, entre Abril de 2005 e 17 de Janeiro passado, o yuan valorizou-se 28,3% em relação à cotação média da moeda única europeia ao longo daquele período.

A desvalorização do euro face ao yuan “pode beneficiar os consumidores” e “aumentará o poder de compra dos turistas chineses que visitam os países euro-peus”, assinalou também o Diário do Povo.

Em Março de 2008, um euro chegou a valer 11,1699 yuan, o valor mais alto desde o lançamento da moeda eu-ropeia, em Janeiro de 2002.

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13 chinahoje macau terça-feira 20.1.2015

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M AIS de cem pessoas assinalaram o 10.º aniversário da morte do antigo líder chinês

Zhao Ziyang, nome banido da vida pública chinesa desde a repressão do movimento pró-democracia de 1989, disse ontem um jornal do Partido Comunista Chinês.

A evocação ocorreu no sábado passado junto à casa onde viveu Zhao Ziyang, no centro de Pequim, onde admiradores do antigo líder depositaram coroas de flores, noticiou o Global Times, jornal do grupo Diário do Povo, o órgão central do PCC.

“Nenhum outro jornal do con-tinente chinês relatou o aniversário da morte de Zhao Ziyang”, afirmou o Global Times.

Zhao Ziyang (1919-2005) era o secretário-geral do PCC quando estudantes da Universidade de

Terminam manobras de apoio humanitário China-EUATerminaram no último domingo em Haikou, capital da província de Hainan, no sul da China, os exercícios de apoio humanitário entre a China e os Estados Unidos. O comandante da região militar de Guangzhou, Xu Fenlin, e o general Vincent Brooks, comandante das tropas terrestres dos EUA, participaram na cerimónia de encerramento e concederam o certificado de honra para 16 soldados excelentes. Na conferência de imprensa após o encerramento, Xu Fenlin, sublinhou que as manobras assentaram numa boa base para a cooperação entre a China e EUA nas áreas de resgate humanitário, além de aprofundarem os laços militares dos dois países. Por sua vez, Brooks afirmou que a realização dos exercícios foi bem-sucedida, mostrando ao mundo uma atitude positiva da China e dos EUA, que querem reforçar ainda mais a confiança mútua e a colaboração bilateral. Brooks destacou também que um relacionamento sino-norte-americano estável é de grande importância para o desenvolvimento mundial.

JORNAL DO PC CHINÊS RECORDA LÍDER REFORMISTA BANIDO EM 1989

Em memória do “reformista moderado”O secretário-geral do PCC, Zhao Ziyang, que se opôs à intervenção militar durante os protestosda Praça Tiananmen, foi este sábado homenageado por cerca de uma centena de pessoas

Pequim ocuparam a Praça Tianan-men, na Primavera de 1989, mas ao contrário da maioria da direcção do partido, opôs-se à intervenção do Exército para reprimir o movi-mento de contestação, no dia 04 de Junho daquele ano.

Centenas de pessoas morreram e milhares de outras foram presas ou exilaram-se.

Zhao Ziyang foi afastado do

cargo e embora nunca tenha sido julgado, viveu em prisão domici-liária até morrer.

Na última alusão oficial a Zhao Ziyang, difundida pela agência Xi-nhua por ocasião da sua morte, no dia 17 de Janeiro de 2005, o antigo líder é acusado de ter “cometido graves erros durante os tumultos políticos de 1989”.

Antes de assumir a chefia do

PCC, em 1987, Zhao Ziyang dirigiu o governo chinês durante os primeiros sete anos da política de “Reforma Económica e Abertura ao Exterior”.

Zhao Ziyang era considerado “um reformista moderado”.

Oficialmente, as autoridades chinesas continuam a qualificar o movimento pró-democracia de 1989 como “uma rebelião contra--revolucionária”.

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14 hoje macau terça-feira 20.1.2015

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

Para lá do Bósforo ficam as terras onde se diz ter existido

o Paraíso

A CISTERNA

Que dizer de uma cidade sempre sacra e infiel? Filha de gregos, esposa de roma-nos, viúva de cristãos, amante de sarra-cenos. Que nome te chamar quando o medo, no escuro da cisterna, me entre-gar? “Medusa...”, sussurrarás, “Medusa...”

*

A água adormecida espera pelo prínci-pe que andará sobre ela.

*

As colunas sustêm a inscrição dos so-nhos e das eras. Não saberia dizer se as ergueram ou se simplesmente aqui brotaram no tempo em que pedras, homens e animais partilhavam a mes-ma natureza sem pudor e por demais se misturavam e desses amplexos nasciam monstros. Era então diverso o univer-so e todos os dias se refazia e algo de novo surgia, fascinante e monstruoso.Aparentemente, mais de mil anos passaram, foi-se o cristão e chegou o sarraceno, mas o que permanece são as húmidas orações aos deuses das nu-vens, dos rios e das ribeiras, que não se cansam de alimentar a terra e os olhos rasos das mulheres.

*

Na humidade da coluna, insiro o pole-gar, cerro os olhos e rodo a mão pela sorte. Nada desejo porque quero tudo. Por onde começar?

*

Em parte discreta da velha cisterna bizantina, duas cabeças de medusa servem de base a colunas. Uma está invertida, a outra de lado, apoiada na face direita. Não se sabe porquê. Provavelmente porque assim dava mais jeito ao construtor. Mas o que fazem ali as duas górgonas?

Há uma terceira medusa, de que nin-guém fala, muito parecida com as suas irmãs da cisterna. Está no jardim do Museu de Arqueologia, perto do pe-

ISTAMBULqueno quiosque onde, depois do café (“à turca, com o pó todo”), os teus ca-belos se transformaram em serpentes.

Agora sou a estátua que aguarda a ins-crição: um nome, uma sentença, um epitáfio:

TEVE PÍFIA VIDAALBERGOU NO SEU SEIO

UM MONSTRO

Alien (o filme) ou a iconografia do amor.

*

Sobre o baptismo dos monstros

Do livro Embriologia Sagrada, escri-to por um frade siciliano no século XVIII, abençoado pelo Papa Bento XIV e publicado em Português no ano de 1791. Neste passo do volume, em que o religioso pede auxílio a um es-pecialista francês, discute-se a geração, ocorrência e o baptismo de monstros (Descoberto em Passarela, Gouveia, numa arca improvável):

“Carta de Mr. Save de 25 de Maio de 1693 (...) Huma mulher póde ter commercio, primeiro com huma besta, e algum tempo depois com hum homem, ou com homem, e com besta, ou com huma besta sómente. No primeiro caso ha motivo para duvi-dar se a mulher concebeo da besta, ou se o féto, que sahe della, he huma produção do homem só, porém desfigurada, e feita monstruosa pela impressão, que a besta fez na imaginação da mulher no tempo da união, que precedeo á do homem: por outra parte quem póde afirmar que assim como huma besta pode fazer que huma concepção humana se faça monstruosa, também o homem não póde indireitar, e humanizar, digamo-lo assim, huma con-cepção bestial.No segundo caso, se se suppõe que a mulher tem concebido do homem, toda a dificuldade está tirada (...), e sempre ha razão para duvidar e suspender o juizo; porém se huma mulher só tem tido commercio com uma besta, augmenta--se a dificuldade, e o embaraço: se he certo, como o crem muitos Fysicos, que o féto está formado todo, e organizado perfeitamente no ovo, e que se vivifica no mesmo instante da concepção, quem se atreverá a dizer que Deos suspende o seu

concurso, e que não lhe infunde huma alma racional, seja quem for o macho que o põe em movimento? Pois não se póde determinar se esta informação se faz logo que o féto se vivificou, isto é, no mesmo instante da concepção; pois não ha coisa que pareça deva impedir que entre nelle a alma racional; pois o féto, segundo esta hypothesi, não he to-davia monstro; e he necessario, ao pa-recer, algum tempo, ou ao menos mais de hum instante, para que hum féto hu-mano bem formado, e bem organizado se transforme, e possa converter-se em monstro.Não sei que diga dos monstros, que nascem de bestas femeas com figura hu-mana: confesso que tremo, quando re-volvo esta materia: com tudo não sendo artigos de fé os systemas, que ideião os Medicos, e Fysicos, e os Anatomicos, parece que quando ha dous com pouca differença igualmente verisimeis, he per-mitido, havendo a mesma difficuldade em hum, que no outro, e sendo a cousa de tanta importancia como esta, differir ao dictame de Medicos, e Fysicos muito hábeis, que julgam que o féto está todo formado, e perfeitamente organizado na semente do homem. Mr. Levenhouc, Hollandez, faz ver por meio de seus glo-bos de vidro, que na semente dos badejos machos estão formados inteiramente os badejos filhos, e que se movem algum tanto.Nesse sistema, se se supõe que o espirito seminal da femea põe em movimento o féto, e o vivifica ao tempo da concep-ção, e que a alma racional se infunde no mesmo instante, he necessario grande valor para decidir que o féto humano, formado todo, e perfeitamente organiza-do, só por estar no corpo de huma bes-ta femea, não está informado de huma alma racional.De tudo o que fica dito concluo, que se devia desejar que se visse baptizar ge-ralmente tudo o que nasce de mulher, no caso de ter vida, e ainda os monstros, que nascem de bestas femeas, se tem figura humana, quando se sabe que algum homem tem podido ter parte na producção; pois é impossivel decidir que semelhantes monstros não são animais racionaes. Trata-se da salvação, ou da condemnação eterna das almas; e tendo--se feito o sacramento para as almas, e não as almas para o sacramento, a ra-zão, e a piedade pedem que se aventure sempre o sacramento antes que a alma. Paris, a 25 de Maio de 1693. Fillipe

Ignacio Save, Doutor em Medicina da Faculdade de Paris.”

*

Si es homo, ego te baptizo. No caso de teres duas cabeças, baptizar-te-ei duas vezes, mas num só golpe. Ego vos baptizo, será então a fórmula.

IISETE COLINAS

São sete os olhares. Conto-os pelos

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15 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 20.1.2015

Carlos Morais Joséin Anastasis, COD, 2013

dedos que me faltam na mão e, neste sonho de correspondências entre nú-meros e lugares, escapa-me o sentido da equação. Há quem diga conhecê-lo, quem o ma-quilhe e o decore, mas ainda assim pre-firo a teimosa persistência do mistério.

São sete as mulheres. Uma por cada parte do mundo. Ajeito temeroso o quimono e desembarco em Nagasaki. Sei de uma família que me espera. Esqueço a guerra quando, da ponte ressuscitada, contemplo o mar, as naus e a espera de vez para entrar no estrei-to Bósforo.

É vasta a armada. Neste limiar absolu-to, entre o Tejo e o mar, quando a torre das partidas se dissolver, saberei que renasci.

São sete os destinos. De Gálata ao Cais das Colunas descerei e, na água do marmóreo rio, lavarei a descrença das mãos. Cuidarei então ser a criança que na língua recebe a alta prenda.

E comungarei, universo fora, desta história, desta hóstia, deste vinho e de outras inaptas coincidências.

IIIMAR DE MÁRMORE

Os navios alinhados esperam o sinal. É estreito este canal. Cada um teme não chegar a sua vez. E foi de tanta imo-bilidade, de tanta espera em religiosa simetria, que os homens assim baptiza-ram este falso mar. Nas veias do már-more sibila o vento e bate um pétreo coração.

IVMUSEU DE ARQUEOLOGIA

Um gigantesco Pan que nos recebe com a arrogância óbvia de ser tudo. Alguém o emasculou. Certamente um homem ameaçado pelas suas enormes proporções.

*

Dezoito estátuas de mulheres ladeiam o sarcófago de um inútil rei. Cada uma representa um modo diverso de sofrer.

Talvez o melhor asilo para esta dor seja a imobilidade. Não se eleva ao céu: per-manece um uivo trancado na garganta, uma imprecação de pedra. Que os seus lamentos de mármore en-surdeçam os deuses e finalmente per-turbem a sua anódina indiferença!

Assim se conta uma vingança, aqui ser-vida fria e eterna como a pedra.

*

Só o irreparável nos faz realmente sofrer.

Alexandre, o Grande

Na falsa urna de Alexandre habita ou-tro rei que não conquistou a Pérsia, nem levou o seu exército às margens do Indo. Reza a lenda que o Macedónio foi exumado à egípcia e exibido em Alexandria, num sarcófago de vidro, depois de atravessar metade da Ásia, em golfadas de lágrimas e maldições. Terá sido Cirilo ou um Fatimida quem ordenou a sua destruição. Aqui resta uma memória de pedra: a sua destemi-da figura de centauro, esporeando po-vos, e um cavalo com teimosia de boi.

VO AZUL DA MESQUITA

2:35Nesta varanda, onde por casualida-de assomo – céu recortado pelo perfil amarelo da mesquita – em acesso de in-sónia, mergulho na noite turca como se a viagem descobrisse o seu fim. Estive aqui naquela vida que ainda não vivi. Agora voltei e percebi a saudade do futuro.

4:12Ouvi sussurrar o murmúrio de uma pala-vra que levaria a eternidade a compor. Por isso aproximo o meu respirar do teu em lentidão de pluma. E com despudor de insecto aconchego-me a teu lado. Sei-me então a sul numa cidade por erguer onde te habito. E recuo sobre as pegadas que me deixaste na pele de volta ao sentido. No escuro. Todo ele o teu olhar. E a pala-vra que invoca a ausência de fim.

5:00A voz do muezim permite a ascensão.

Ó azul do céu turco, anil de dedos em imenso harém de estrelas, que outros mareantes te entreténs a enganar?Um alvorecer da Ásia, fímbria de luz sobre o estreito, as barcas insones do Bósforo.Sentado neste banco de jardim, exulta--me o celeste cobertor.

7:00A hora ázima do penitente. Aves pai-ram suaves, quase paradas, entre os aguçados minaretes.

8:02Excluídos os homens e as bestas, as paisagens e os sonhos, permaneceu o explanar da razão, a fundamental ma-temática, a divina abstracção. Nestes azulejos dorme uma história por sa-ber, destinos por elucidar, os segredos antigos do futuro. Que equação aqui se oculta? E o que resolverá? Os seus construtores não sabiam e desde então mais ninguém soube.

8:15O mirabe acolhe certeiro o céu.

9:25Da disposição final das abóbadas, dos grandes candeeiros oscilantes, da ca-ligrafia espiralada, resulta o centésimo nome de deus que ainda não sei pro-nunciar. Queda-se então o azul num en-tusiasmo de pupilas. Um azul de vagas teometrias.

10:12Hora de pátio. Da tímida oração, de

invocar o perdão por ter ousado pensar tão acordado. E na fonte central acoita os peregrinos pés que ainda é longa a viagem.

Coragem. Espera-te tua mãe do outro lado. Mais ninguém vai. Vai calado. Respira mas cabisbaixo. E diz por mim ao barqueiro: – “Bate na água certeiro, não cedas no teu remar, ergue bem alto o facho, mostra mar-gem de pousar”.

Hora de pátio. E de estremunhamento. Do vernáculo lamento. Sinceramente me sento. A hora não vai chegar.

10:38Cá fora, o sol imprime os corpos no si-lêncio dos passeios.

VIIIGALATA

Conversa com o empregado do café (in English):– De onde és? – Portugal. – ?– Aquele país pobre no fim da Europa. – Um país que tem Fernando Pessoa nunca será pobre.

*

Do alto desta torre, avisto os dois lados do mundo. Fugirei daqui num

bater de ásias.

IXDAS ROSAS

Acariciei a alva rosa que me ocultava o Estreito e as ondas do Bósforo estre-meceram.

*

Descansa a rosa sobre a caligrafia adormecida e da fragrante luz evolam--se queixumes a divinizar a tarde de Istambul.

*

Já não paira a cruz sobre a cidade, o cheiro dos lírios esvaneceu. A vitória é do crescente e da rosa.

*

Aqui aprendi a possibilidade de amar uma flor e unificar o coração.

*

Quando dorme sobre a sepultura, o so-nho da rosa branca é ser alma.

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E STAS linhas continuam a ad-miração que, num texto aqui publicado há poucas semanas, se exprimiu pelo cinema de

Godard e pela permanência da sua car-reira e teimosia experimentalista (numa altura em que a maioria dos realizado-res franceses que se distinguiram nos anos 60 e 70 pela autorização de filmes semelhantes na sua estética e programa político e filosófico já morreram). Não me custaria incluir Resnais como alínea deste quadro teimoso mas ainda não é dele que se fala aqui.

Por outro lado, este autor é o único que permanece com uma teimosia ado-lescente (Resnais é mais adulto e mais sério). Confessou-se, há umas semanas, que o elogio que continuo a estender a Godard, ou ao Jean-Luc, se prende muito com continuar a vê-lo como um garoto irrequieto e um pouco arrogan-te a quem as possibilidades do cinema continuam provavelmente a maravi-lhar.

Film Socialisme somos nós e a nos-sa capacidade de aperceber e julgar o mundo através das imagens e dos sons. Demonstra o prazer da absorção e da observação que encontro em Sans So-leil, de Chris Marker, eterno modelo, o olhar desamparado e intrigado depois destes anos todos e destes filmes todos. Porque não continuar a confessar tam-bém, sem receios, o poder de sedução de um bocado de amarelo e de azul?

Repito parte do texto da há umas semanas: “o que poderia surpreender é que se

mantenha por vezes tão igual a filmes seus com mais de 30 anos (...) mas que seja virginal e cristalino como se fosse a primeira vez”. É as-sim que aos poucos se vai perdendo o medo da repetição e da citação mesmo que, confesse-se, se encontrem aqui momentos de desencontro que não en-contro em Éloge de L’ Amour.

Film Socialisme mistura sons diferen-tes e intertítulos, mistura vozes desen-contradas com vozes directas, além de mostrar imagens captadas com vídeos com definições muito diferentes. Este é o seu primeiro filme filmado inteira-mente em vídeo. Poder-se-ia inventar um título, o Experimentalismo Poético, porque ver alguns dos seus filmes pro-move o exagero do uso pornográfico da poesia, promove uma liberdade cuja sinceridade poderia ser questionada há 30 anos. Hoje, num tempo em que já não somos inocentes, nem parvos, já não nos deixamos enganar.

Vejo já tudo isto na sua curta me-tragem de 2002 Dans Le Noir du Temps, constante de um conjunto de filminhos de 10 minutos*. 8 anos antes de Film Socialisme.

Mistura igualmente, ecumenica-mente, acho eu, várias línguas euro-peias e orientais. E africanos, asiáticos, árabes, judeus, franceses, alemães, rus-sos, espanhóis. Funde pedaços do pas-sado e do presente do cruzeiro em que se passam as imagens da primeira parte desta história. No fundo, o Mediterrâ-neo é a nossa história mas também um espelho do nosso presente.

“Pauvre Europe” - diz-se. “Quo Vadis Europa” – diz-se mais à frente. Talvez isso interesse mas não tanto como a vontade de experimentar ou de mostrar o amarelo e o azul e as imagens vídeo granuladas tão distantes como as de maior definição naquele paquete imen-so, lúgubre, transportador de um gente apática, anónima, apolítica, lúgubre e mal vestida.

No fim, ironicamente, estes filmes provocadores de Godard (Éloge…, Dans Le Noir… e Film Socialism) não deixam de ter uma forte dimensão decorativa e lembrar que também a avant-garde se tornou design. Já não somos inocentes e muitos homens e mulheres hoje são su-ficientemente ricos para comprar arte.

A primeira parte passa-se num pa-quete que encalhou. Ou não? Este não é o Costa Concordia? Suprema ironia, um paquete encalhado em Itália, dois anos depois, como a Europa à deriva deste filme que me faz lembrar um filme que não vi – Um Filme Falado (2003), de Ma-noel de Oliveira, em que duas mulhe-res fazem um cruzeiro entre Portugal e

a Índia. Nele todos falam as suas pró-prias línguas (como em Film Socialisme).

A segunda parte trata mais directa-mente do socialismo, do sistema políti-co francês e da distribuição da proprie-dade, como se isso fosse obrigatório. É apenas a partir da altura em que se introduz uma cor mais carregada que ao socialismo se junta um aspecto mais artístico e provocante.

Ingmar Bergman disse que Godard fazia filmes para os críticos. Parece--me, hoje, que o autor francês não tem medo de não agradar e, certamente, já não deve ter grande desejo de chocar. Acho perfeitamente possível não se ter gostado dos seus filmes antes, nos anos 60 e 70, e descobri-lo agora, sem gan-ga, e com entusiasmo. Apetece pensar em Pasolini ou Fassbinder, cheios de pressa de dizer, mortos, e Godard, pro-tegido pela sua inocência, heterosse-xual, imaculado, juvenil, despenteado e provavelmente feliz e sem medo que o cinema acabe **.

*Ten Minutes Older, 2002, China, Finlân-dia, França, Alemanha, Países Baixos, Espanha, Reino Unido, Estados Uni-dos, 14 filminhos de 10 minutos, todos bons, em dois conjuntos de 7, The Trum-pet e The Cello.

** Estas considerações tecem-se sem que o seu último filme, Adieu au Langage, tenha sido visto, e assim possivelmente desactualizadas.

luz de inverno Boi Luxo

GODARD E FILM SOCIALISME, 2010

FILM SOCIALISME SOMOS NÓS E A NOSSA CAPACIDADE DE APERCEBER E JULGAR O MUNDO ATRAVÉS DAS IMAGENS E DOS SONS

16 hoje macau terça-feira 20.1.2015h

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TEMPO POUCO NUBLADO MIN 13 MAX 20 HUM 45-80% • EURO 9 .3 BAHT 0 .2 YUAN 1 .3

O QUE FAZER ESTA SEMANA?

João Corvo fonte da inveja

C I N E M ACineteatro

ACONTECEU HOJE 20 DE JANEIRO

H O J E H Á F I L M E

A liberdade de expressão é inegociável, a não ser para os comerciantes.

Nasce Fellini, um dos grandes mestres do cinema• Hoje é dia de recordar Federico Fellini, que nasceu em Rimini, Itália, a 20 de Janeiro de 1920. Fellini tornou-se num dos mais importantes realizadores de cinema do seu país e num nome incontornável desta arte.Fellini ficou eternizado pela poesia que colocava nos seus filmes, capazes de manter a magia do cinema mesmo quando faziam duras críticas à sociedade.Crítico do totalitarismo, marxismo, capitalismo e da Igreja Católica, Federico Fellini foi capaz de beliscar consciências, mas manter a essência do cinema, arte que se intromete por diversos ramos da Humanidade.O realizador italiano, que viveu o regime fascista de Mus-solini, ficou famoso pela estrutura ‘cult’ dos seus filmes. Normalmente, os seus reparos à sociedade visavam a influência norte-americana nos hábitos de outros países, principalmente em Itália, país de origem de Fellini.‘Mulheres e Luzes’, em 1950, foi o primeiro filme de Fellini co-dirigido por Alberto Lattuada. O primeiro filme que dirigiu sozinho foi ‘O Sheik Branco’. Fellini ganhou quatro Óscares na categoria de melhor filme estrangeiro, uma Palma de Ouro no Festival de Cannes com o filme ‘A Doce Vida’ (um dos filmes mais importantes dos anos 60), assegurando inúmeras outras distinções em diversos festivais em todo o mundo.Tornou-se num dos mais aclamados realizadores e a sua obra transformou-se num poço de conhecimento para os novos realizadores, não apenas do seu país. Fellini morre em Roma, a 31 de Outubro de 1993.Nasceram a 20 de Janeiro André Marie Ampère, físico e matemático francês (1775), Edwin Aldrin, astronauta norte--americano, um dos tripulantes da missão Apolo 11 (1930), David Lynch, director de cinema norte-americano (1946), e Paul Stanley, vocalista e guitarrista da banda Kiss (1952).

“I AM ALI”(CLARE LEWINS, 2014)

Um documentário sobre o rei do boxe, o melhor dos melhores. Muhammad Ali é retratado neste filme de forma nunca antes vista, já que a película mostra arquivos pessoais daquele que foi mais que um lutador. ‘Audio journals’, entrevistas, testemunhos... tudo serve para tentar mostrar a história de um homem que foi o mais acérrimo defensor de si mesmo, mas também da sua raça, do seu desporto e da sua família. - Joana Freitas

SALA 1INTO THE WOODS [B]Um filme de: Rob MarshallCom: James Corden, Emily Blunt, Meryl Streep14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 2CLOUDS OF SILS MARIA [C]Um filme de: Oliver AssayasCom: Juliette Binoche, Kristen Stewart,

Chloe Grace Moretz14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3WOMEN WHO FLIRT [B](FALADO EM MANDARIM COM LEGENDA EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Pang Ho-CheungCom: Zhou Xun, Huang Xiao Ming14.30, 16.30, 19.30, 21.30

INTO THE WOODS

17hoje macau terça-feira 20.1.2015 (F)UTILIDADES

• AmanhãEXPOSIÇÃO DE ESCULTURA ‘METAMORFOSE’, DE TODI KONG DE SOUSA Casa Garden, 18h30Entrada livre

• Sexta-feiraBUFFET DE VINHO E CERVEJA E ESPECTÁCULOS AO VIVOSoho, City of Dreams, a partir das 19h00Bilhetes a 150 patacas

DJ SASHA IN HONG KONG Club 18, 21h00Bilhetes a 588 a 688 HKD

• DiariamenteEXPOSIÇÃO “PONTO DE PARTIDA: PINTURAS DE DENNIS MURREL E DOS SEUS ARTISTAS” (ATÉ 31/01)Fundação Rui Cunha, 18h30Entrada livre

EXPOSIÇÃO DE SÂNDALO VERMELHO (ATÉ 22/03)MGM ResortEntrada livre

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “KOREAN ART”, COM OH YOUNG SOOK E KIM YEON OK (ATÉ 15/02)Galeria Iao HinEntrada livre

EXPOSIÇÃO DE DESIGN DE CARTAZES “V•X•XV:” (OBRAS DE 1999, 2004 E 2009) [ATÉ 15/03]Museu da Transferência da Soberania de Macau, 10h00 às 19h00Entrada livre

EXPOSIÇÃO “TRANSMUTATION” E “FOAM TIP”(PINTURA E PORCELANA, POR CAROL KWOK E ARLINDA FROTA) Signum Living Store, 18h30 (até 31/01)Entrada livre

“SELF/UNSELF” – EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS DE ARTISTAS HOLANDESES (ATÉ 15 DE MARÇO)Centro de Design de MacauEntrada livre

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DE TAM KAI HON “BRILHANTE”Centro UNESCO de Macau, 18h30Entrada livre

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Motivo de orgulho

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18 hoje macau terça-feira 20.1.2015OPINIÃO

Não temos só o Cristiano Ronaldo. Portugal tem mais “Ronaldos” espalhados pelo mundo só que com menor visibilidade mediática, que prestigiam cada um à sua maneira o bom nome de Portugal

desporto e não sóFERNANDO VINHAIS GUEDES

N O passado dia 12, milhões de portugueses, seguiram atentos e expectantes à cerimónia da atribuição do título de melhor jogador de futebol do mundo no ano de 2014.

Não me assumindo um doente ou fanático das coisas desportivas, não

nego, que achei a eleição, através do voto dos treinadores das selecções de quase 200 países, acertada e justa, já que Ronaldo foi sem sombra para dúvidas o mais produtivo entre os putativos candidatos, facto que me sensibilizou naturalmente.

Enquanto jogador do seu clube, Cristia-no fartou-se de marcar golos para todos os gostos. Com o pé esquerdo, com o pé direito, com a cabeça e até de calcanhar.

O ridículo Sr. Blatter lá teve que lhe en-tregar mais uma bola de ouro, a terceira e no seu curto discurso o laureado prometeu, que não ficaria por ali, isto é: que o Sr. FIFA vai ter muito provavelmente, o incómodo de lhe entregar mais alguma redondinha dourada, num futuro próximo.

A cerimónia decorreu num luxuoso hotel de Zurique, como é hábito nestas ocasiões, não faltando a passadeira vermelha, com os convidados e respectivas esposas ou companheiras, elegantemente vestidas, mulheres bonitas com toilettes ao bom estilo

hollywoodesco tipo cerimónia de atribuição dos Óscares!

É bom não esquecer, que este espectáculo dá milhões em direitos televisivos à FIFA, dona e senhora do futebol, que se pratica neste planeta.

O evento passou em cerca de 100 países dos vários continentes e não é difícil arriscar, ter sido acompanhado por centenas de milhões de telespectadores.

Mas voltando ao nosso herói, apraz-me lembrar que, se já era o nosso maior embai-xador no mundo, no passado dia 12, reforçou o seu estatuto e aconchegou o peito a milhões de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo!

E porque estou a escrever sobre futebol, quero recordar, que já tivemos também o melhor treinador do mundo Mourinho, o melhor árbitro do mundo Pedro Proença e até o melhor empresário do futebol do mundo Jorge Mendes!

Num tempo em que o país vive em regime de dieta forçada e com a auto-estima em baixa, nada melhor que esta boa notícia, uma espécie de bálsamo para minimizar, mesmo que por

um dia, os efeitos duma cura prolongada, que quase mata o doente!

Feitas as contas, Portugal já ganhou por cinco vezes a bola de ouro, fazendo parte dos dez países com mais títulos nesta matéria. Só a Alemanha e a Holanda com sete e a França com seis, ganharam mais troféus que Portugal, que arrecadou cinco, o primeiro por Eusébio em 1985, o segundo por Figo, em 2000 e os restantes três por Ronaldo em 2008, 2013 e agora em 2014!

Atendendo ao escasso número de clubes e de praticantes, quando comparado com outros países, não restam dúvidas, que os resultados ultrapassam o que seria esperado e razoável!

Mas, deve ser também motivo de orgulho o facto de terem sido já atribuídos dois prémios considerados os Nobel da Arquitectura, a dois importantes mestres do traço, Siza Vieira e Souto Moura!

Motivo de orgulho para todos nós, o facto de o médico/ professor Egas Moniz e o escritor José Saramago, terem sido laureados com o Nobel de Medicina e de Literatura, respectivamente!

Motivo de orgulho pelo excelente trabalho desenvolvido por um grande grupo de jovens investigadores portu-gueses ombrearem com o que de melhor existe no mundo da investigação dura e exigente, que desafia a dedicação de anos e anos agarrados a um laboratório quer no nosso país quer nos EUA, na Alemanha, na Inglaterra, na Suécia, na França, na Holanda, etc.

Falo deste tema com o conhecimento de quem tem na família, alguém muito próximo, “casada” com o microscópio electrónico.

Motivo de orgulho é também ter presi-dentes e gestores em grandes empresas de sucesso lá fora!

É também motivo de orgulho para nós portugueses ter como presidente de um dos maiores bancos mundiais, o Barclays, um cidadão chamado Horta Osório e o CEO da multinacional Citröen não fala a língua de Camões?

Discordo em absoluto com os que dizem, serem os portugueses pouco tra-balhadores! A Autoeuropa, que fabrica automóveis em Palmela e os alemães consideram uma unidade modelo, com mão-de-obra portuguesa e dirigida por um engenheiro também português, não é também motivo de orgulho?

A Bosch, electrónica a laborar na cidade de Braga, e a Continental/pneus, são igual-mente mais dois exemplos da capacidade dos portugueses, que as fábricas-mãe alemãs elogiam, devem ser igualmente motivo de orgulho!

Fora do nosso país, em França, na Alema-nha, EUA, Brasil e em tantos outros países, os portugueses são pessoas dedicadas, honestas, trabalhadoras e acima de tudo gente pacífica, que não causa problemas a quem os recebe.

Também nesta matéria, posso falar com conhecimento de causa, porque pude teste-munhar pessoalmente.

Muito recentemente a fábrica de automó-veis BMW, nomeou como seu responsável máximo da sua fábrica no México e do seu departamento de comercialização para o continente da América Latina, um gestor português, que conheci pessoalmente, quando ele era ainda um jovem estudante da Escola Secundária Marquês de Pombal, no início da década de setenta!

Não temos só o Cristiano Ronaldo. Portugal tem mais “Ronaldos” espalhados pelo mundo só que com menor visibilidade mediática, que prestigiam cada um à sua maneira o bom nome de Portugal.

Todos merecem o meu respeito e admi-ração. Todos deverão ser motivo de orgulho.

O que nos falta então, para sermos tam-bém bons no nosso país?

Talvez, bons dirigentes, bons gestores, bons governantes e acima de tudo, políticos honestos, que coloquem os interesses do país e das pessoas que governam acima dos seus próprios interesses.

Nesta matéria, infelizmente, temos pou-cos, muito poucos motivos de orgulho.

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José Pacheco Pereirain Público

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Um grande equívoco

19 opiniãohoje macau terça-feira 20.1.2015

N O “Je suis Charlie” e nas manifestações que se mo-bilizaram a partir dessa frase há várias coisas que não oferecem dúvidas. Há algumas minorias que não pensam assim, e que são coniventes com o terroris-mo, por múltiplas razões, mas essas não estiveram

lá. Entre os que estiveram lá, a luta contra o terrorismo é inequívoca. A luta contra a violência política é inequívoca. A luta pela liberdade, pela maior liberdade que se vive na nossa parte do mundo, é inequívoca. Já a luta pela liberdade de expressão parece inequívoca, mas é muito menos.

Uma semana depois, as autoridades francesas mostraram que “não são Charlie” prendendo um comediante anti-semita, Dieudonné M’Bala, que entre outras barba-ridades escreveu, nesse lugar onde se fazem hoje todas as asneiras, o Facebook, a frase “Je suis Charlie Coulibaly”. Coulibaly foi o terrorista que matou uma mulher polícia e um grupo de frequentadores da loja judaica, antes de ser abatido pela polícia.

A frase pode ser considerada provocató-ria, odienta, imbecil, e de total mau gosto. Para os judeus, que foram o alvo do terrorista, é insultuosa. Para a maioria das pessoas é inaceitável. Mas alguém me explica qual é a diferença entre essa frase e muitas que se escreveram no Charlie Hebdo, igualmente merecendo os mesmos adjectivos por parte dos seus alvos? Sim, os alvos são diferentes, num lado, na maioria dos casos, cristãos e muçulmanos nas capas do Charlie Hebdo, no caso de Dieudonné, judeus. Mas a estru-tura da provocação, e mesmo a sua forma e conteúdo, são idênticos. Uns podem ser melhores na sua arte do que outros, pode--se considerar que Wolinsky, ou Cabu têm qualidades que Dieudonné não tem. Mas não estamos a julgar qualidades ou talentos, nem a ser dúplices em função da nossa simpatia ou antipatia com os alvos, pois não? Porque se é assim – e de facto é assim –, a luta pela liberdade de expressão é muito mais ambígua do que imaginamos nestes momentos muitas vezes artificiais de unanimismo.

O que faz Dieudonné é socialmente pe-rigoso? Penso que sim, mas também penso que o que fazia o Charlie Hebdo também o era, como comprovaram infelizmente os próprios. A defesa da liberdade de expres-são faz-se exactamente aqui, na defesa do direito dos outros emitirem opiniões que me indignam, ofendem e enojam. O único limite pode ser a lei, se a lei não for ela própria dúplice como é o caso de França.

A França não é um modelo de liberdade de expressão, como parece nestes dias,

demasiado politicamente correctos para o exercício de pensar. Aliás os primeiros a sabê-lo são os assassinados do Charlie Hebdo, que, a começar pelos mais velhos, conhecem uma longa história de processos, proibições, sanções e ameaças. Sim, porque as ameaças não são de agora e não são ex-clusivas do fundamentalismo muçulmano. Os mesmos moderados muçulmanos que marcharam em Paris, já tinham processa-do o Charlie Hebdo, fazendo companhia ao governo francês, a Le Pen, a católicos conservadores, a políticos franceses, por aí adiante. Processar, ou mesmo ameaçar de boca, não é a mesma coisa do que matar a tiro de Kalashnikov, mas havia uma mul-tidão lá fora a pensar que pelo menos uma boa bofetada “estavam mesmo a pedi-la”. Ou, uma boa e definitiva proibição, como aconteceu com o Hara-Kiri, em nome da paz da alma de De Gaulle.

Mas a prisão de Dieudonné remete para outros problemas da lei francesa, que poucos levantam e ainda mais agora. É que em França é proibido escrever ar-tigos e livros de conteúdo anti-semita, e não coloco aspas como devia fazer, para

manter a classificação bem aberta, mesmo nas suas ambiguidades. Ainda mais, existe uma condenação legal, a chamada Lei Gayssot, que criminaliza a “contestação de crimes contra a humanidade”, e que já levou alguns a tribunal. É o caso do cha-mado “negacionismo”, a negação de que houve um holocausto, que tenha existido um assassinato em massa de judeus antes e durante a Segunda Guerra. Aliás isto abre uma caixa de Pandora, como já se viu com a exigência da lei punir o “negacionismo” do genocídio armeno pela Turquia, também pedida por muitos armenos.

O anti-semitismo é, para usar uma velha classificação leninista, “imbecil”, e o ódio aos judeus uma atitude altamente perniciosa. Em países suspeitos como a França, cuja história durante a guerra foi de perseguição aos judeus, o anti-semitismo é particularmente odiento. Considero-o uma atitude condenável, sem “mas” e sem reservas. Mas não posso achar um crime de opinião escrever um escrito anti-semita, por muito que me incomode, e por muito que ele possa ser perigoso. A censura é sempre pior.

A França não é um modelo de liberdade de expressão, como parece nestes dias, demasiado politicamente correctos

SER OU NÃO SERcartoonpor Stephff

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hoje macau terça-feira 20.1.2015

JOANA FREITAS*[email protected]

N G Kuok Cheong, depu-tado da ala democrata e colega de bancada de Au

Kam San, assegurou ontem que poderá vir a apresentar mais um pedido de audição do Governo na Assembleia Legislativa (AL). O caso diz respeito ao mais recente relatório levado a cabo pelo Co-missariado de Auditoria (CA) ao Gabinete para as Infra-Estruturas de Transportes (GIT), que ontem foi acusado de má gestão e falta de fiscalização (ver página 2).

À hora do fecho desta edição, e depois de contactado pelo HM, o deputado Ng Kuok Cheong referiu que pediu, na semana passada, ao Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que responsabilizasse o gabinete pelos atrasos no metro e que este “apresentasse um relatório de revisão dos seus trabalhos”.

O deputado, que a par de Au Kam San tem levado a questão do metro ao hemiciclo e pedido ao Governo a apresentação de contas, diz mesmo que, caso não haja mudanças da parte do GIT e a apresentação de um relatório sobre as despesas e orçamentos do metro, então vai tentar com que o problema chegue à AL.

“O problema é que em 2009 o coordenador do GIT disse mesmo que em meados de 2014 a primeira fase do metro podia circular totalmente. No entanto, na realidade, nem um traçado está concluído. Esse gabinete deve assumir a responsabilidade e explicar-se ao público”, disse ao HM.

O deputado dá ao GIT até à publicação das Linha de Acção Governativa (LAG), a ser apre-sentadas em Março deste ano, caso contrário “vai considerar em pedir audição às autoridade”.

A acontecer, este será o segundo pedido de audição de Ng Kuok Cheong sobre o metro, sendo que o primeiro foi até aprovado pelos colegas do hemiciclo.

Ontem, também à hora do fecho desta edição, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas assegurou em comu-nicado que defende a auditoria ao sistema do metro e que já emitiu instruções ao GIT para proceder em conformidade com as propostas apresentadas no relatório nomeadamente no que aos riscos dos projectos diz respeito. Raimundo do Rosário terá exigido ao GIT que melhore a fiscalização, procurando, assim, “optimizar a gestão do erário pú-blico disponibilizado para aquele projecto”. - *com Flora Fong

METRO DEMOCRATAS PEDEM AUDIÇÃO SE NÃO HOUVER RELATÓRIO DE CONTAS

Quem espera tem esperança