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Dec 13, 2018

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Florianópolis, Março, de 1988

Tributo a Adelmo Genro Filho. Na central

AIDSna bocado·povo

Na página 12

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Pedro Ivo e seu diálogo em "alto nível"

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Os Editores

ZEROJornal Loboratório do

Curso de Comunicação So­

cial da Universidade Fede­

ral de Santa Catarina. Esta

edição foi executada na ma­

drugada de 25 de março de1988.Textos: Ana Cristina, La­

vratti, Analú Zidko, ArleyMachado, Carla Cabral,Carlos Augusto Locatelli,Carlos Eduardo Caê, Cláu­dia Carvalho, Dauro Veras,Denyris Rodrigues, Emer­son O. Gasperin, EwaldoW. Neto, Geraldo Hoff­

mann, Graziela Nunes, Is­mail Ahmad Ismail, JoãoCarlos Mendonça, Júlio Ce­zar Pompeo, Monique Van­

dresen, Nilva Bianco, Nor­berta V. da Silva, OlávioBiláquio, Ozias "Tormen­

tor", Rozana de Moliner,Romir U. da Rocha, Ro­berta M. Miranda, SamuelPantoja Lima, SabrinaFranzoni, Salete Dalmoro,Éverson Faganello.Diagramação: Analú

Zidko, Carla Cabral, Car­los Augusto Locatelli, De-,nyris L. Rodrigues, IlkaGoldschmidt, Karla Bastos,Zulmar Bartolotta.

Fotografia: Sabrina Fran­zoni.Colaboradores: Hélio

Schuck, Francisco Karam,Tarso Genro (textos), Pau­lo Caruso (arte).Laboratório: Philippe Ar­ruda

Ilustração: Frank.Edição, coordenação e su­

pervisão: Professores Cin­thia Nahra, Eduardo Me­

ditsch, Luiz Alberto Scotto,Ricardo Barreto.

Edição Gráfica: RicardoBarreto.Telefone: (0482) 33-9215.Telex: (0482) 240 BRCorrespondência: Caixa

Postal 472, Departamentode Comunicação e Expres­são, Curso de Jornalismo,Florianópolis/Se.Acabamento e Impressão:

Empresa Editora O Estado.

Distribuição Gratuita.Circulação Dirigida.

OPINIOES

(;s:cQ)(f)oen::J

ÕiÜo'Scua..

o'cuo-

�Uiª

Seguir lutandoCaros amigos do Departamentode Comui'l'icação e do Curso deJornalismo da UFSC. Alunos,professores e funcionários:Ficamos sensibilizados e infini­

tamente gratos pela solidariedadee carinho, nessa hora trágica denossas vidas. As generosas mani­festações sobre o trabalho, a vidae ideais do Adelminho nos como­veram profundamente. Todos os e

que o amavam e com ele comuni­garam dos mesmos sonhos, são

para nós, seus pais, pessoas muitoespeciais. Tentamos não perder a

esperança para poder continuarlutando por um Brasil com uma

sociedade em que todos tenhamdireito à terra, ao pão e à alegriade viver.Santa Maria, março de 1988.Os pais, Elly e Adelmo Genro.

R. Zero fala dá vida e obra do pro­fessor Adelmo Genro Filho na pá­gina central.

* * *

Morro do HorácioCom respeito ao artigo publi­

cado sob o título "Morro do Horá­cio: a prisão na favela", de novem­bro/87, gostaria de esclarecer o se­

guinte: não é inteiramente verda­deira a afirmação de que o discur­so utilizado por "todas as igrejas"ali presentes tenha como tônica a

aceitação da miséria e conseqüen­te alienação.

Existe, no Horário, um traba­lho realizado a partir de um grupode seminaristas que passa, porexemplo, pela luta que visa a possedefinitiva da terra, o que não signi­fica, de forma alguma, conformis­mo.

Seria muito coerente da partede quem escreveu talmatéria, cujaessência é bastante correta, assu­mir uma atitude de busca e divul­gação da verdade e não simples­mente pôr a público uma opiniãomal fundamentada, que descarac-,teriza uma tentativa de conscien-

.

tização quanto às situações de in­

justiça social a que estão subme­tidos os moradores do morro.

Conscientização esta que assume,a cada dia, posturas mais firme na

luta em direção à Libertação, ca­minho oposto ao amém da passivi­dade e da alienação. .

Catarina GewehrPsicologia - UFSC

R. Zero subestimou.

. Zero: uma bosta"oo .Desde o editorial - onde

se avisa na primeira linha qut setrata de uma tentativa de resgatara memoria de Florianópolis dosúltimos 50 anos' - até os port-Io­lias, tudo na publicação protestacontra a existência de uma cidadecom vida. (oo.) As matas exterrni­nadas: em Florianópolis? Refe­rem-se provavelmente a alguma

.

campina rala sem importância ou

ao próprio sítio onde se localizaa cidade. E inelutável: ou a matanativa ou a cidade, decidam-se!

Estamos em falta

(oo.) Nessa trilha de engamos e

equivocas, ensinam os jovens queo Palácio do Governo fica no anti­

go 'Campo doManés', que a Capi­tania dos Portos limitava com o

Hospital de Caridade e que o sr.

Irineu Bornhausen é o avô do se­

nador Jorge Bornhausen ... Eu, deminha parte, fico entristecido e

preocupado. Imaginar que é com

esse tipo de informação que a Uni­versidade está formando meus fu­turos colegas ... Estou perplexo e

confuso (oo.)"Paulo da Costa Ramos - tre­

cho de artigo publicado em O Es-o

tado em 13/3/88R.: Quanto às informações cita­

das, ZERO errou. Quanto à per­plexidade e confusão de nosso "fu­turo colega", atribuímos às preo­cupações com a situação de sua

eterna candidatura a prefeito de

Florianópolis.* * *

Sem ilusões/' É deveras lamentável que o Jor­nal Laboratório do Curso de Co­municação Social seja utilizadopor facções minoritárias inconfor­madas para veicular informaçõestotalmente distorcidas da realida­de factual e comportamental vi­gente na Universidade Federal deSanta Catarina.Em artigo não assinado, intitu­

lado "Sem ilusões", procura-sedeslustrar a vitória insofismável,limpa e legítima do atual Pró-Rei­tor de Ensino nas eleições paritá­rias diretas para Reitor da UFSC.A chamada de capa que caracte-

riza os integrantesda comunidadeuniversitária como "bobos" já éuma agressão gratuita e injustifi­cada a todos os seus componentes,que só serve para desacreditar o

Jornal ZERO.Um professor de jornalismo,

consciente das responsabilidadeséticas associadas à utilização tão

inconsequente deste importantemeio de comunicação, daria real­mente nota ZERO para alunosque escrevessem tal artigo. Certa­mente não é isto que esperamosdos futuros profissionais respon­sáveis pela relevante tarefa de vei­culação de informações e idéias nasociedade. E preciso assegurarneste jornal laboratório um míni­mo de isenção e imparcialidade,evitando-se envolvimentos emo­

cionais que possam comprometero processo de formação profissio­nal dos alunos. E necessárioaprende-r sobretudo que liberdadede imprensa não pode ser confun­dida com libertinagem ou licencio­sidade.Nestas circunstâncias, solicito

que esta correspondência sejatranscrita na íntegra, com o mes­

mo destaque do mencionado arti­go, na próxima edição do JornalZERO. Esta providência permi­tiria descaracterizar a vinculação.deste Jornal a facções ideológicas,totalmente incompatíveis com o

espírito pluralista essencial no am­

biente universitário.

Saudações -

Raul Valentim da SilvaProfessor da UFSC

R. Zero publicou.

CARTAS .

'

Mais uma vez chega às suas mãos o Zero, este experimento que desafiaa lei das probabilidades. O laboratório de fotografia do Curso de Jorna­lismo está desativado, por caduquice e falta de manutenção nos equipa­mentos. No entanto, você está vendo fotos. A Universidade está parandopor falta de professores, mas aqui restaram alguns' para passar umanoite em claro e viabilizar a edição deste jornal, alimentados pela ameaçade congelamento de seus salários e o calor do entusiasmo dos alunosem fazer jornalismo, que nunca faltou.

-

Uma falta, porém, precisa ser registrada. Faltou o professor AdelmoGenro Filho. Faltou a sua cordialidade no trato com os alunos e colegas,sua elegância de fazer política, sua valentia de enfrentar a adversidade,qualquer uma, até a última que foi a sua morte. O Zero saiu maisuma vez, mas o lugar de Adelmo no Curso de Jornalismo da UFSCé insubstituível.

Estranho país, triste país. No plano nacional, nossos honrados consti­tuintes cederam às fortes argumentações do Urutu: veio o presiden­cialismo com um mandato, que o povo repudia, de cinco anos. Noplano interno, a Universidade vem sendo atacada desde o ano passado,numa orquestração regida pelo Planalto. As fraudes nos vestibulares,a lista dos "improdutivos" da USP e os decretos de janeiro do presidenteSarney, acabaram por sufocá-la. Milhares de alunos estão sem aulas'e sem professores no ensino superior. E como no caso das eleiçõespresidenciais: esperar até quando?No planointernacional uma má notícia isolada. Vinte e seis jornalistas

morreram em 87, cobrindo suas pautas, ao redor do mundo. Bem maisnobres, sem "pianistas", clientelismo ou jetons.

! P2 '. ZERO '.

'

MAR/88, I

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PRENDO E ARREBENTO

Pedro Ivo impõe AI-5 à EducaçãoDemissões, cassação

de mandatos e fim dasdiretas nas escolas

Em apenas um ano, sob o slo­

gan-compromisso "você decidee Pedro Ivo realiza", o governodo Estado conseguiu "revolucio­nar" o sistema educacional cata­rinense. Rasgou o Plano Esta­dual de Educação 1985 - 1988,demitiu 17 mil professores, cas­sou 98 diretores, acabou com as

eleições diretas nas escolas, ex­tingiu os conselhos deliberativose decretou um plano de matrí­culas para superlotar as salas de

.

aula. O retrocesso imposto pelogovernador ao ensino básico e

médio, em Santa Catarina, che­gou ao climax com a intervençãono Instituto Educacional deEducação e no' Colégio AníbalNunes Pires, em Florianópolis.'No mesmo período, por se re­

cusar a negociar com os educa­dores, PedFO Ivo enfrentou "pe­quenos" revezes: teve que lan­

çar mão de "cassetete democrá­tico" da polícia para reprimiruma greve de 57 dias do Magis­tério e manifestações estudantis,em 1987, e colheu uma derrotaarrasadora no Judiciário, que,em fevereiro último, concedeuliminar de reintegração de posseaos diretores demitidos.

MAIS REPRESSÃOAs cenas de repressão à greve

e a intervenção autoritária nos

dois colégios (quatéis-Iaborató­rios da política educacional do

governo) lembram os bons tem­

pos de aplicação do Ato Institu­cional n? 5 e da Lei de SegurançaNacional, que teima em sobre­viver a esta "transição sem fim".No entanto, ao quebrar o eixo

. democrático do PEE (eleição di­reta para diretor da escola e a

criação do COnselho Delibera­tivo, em cada uma delas), "Pe­dro Ivo aumenta o fogo sob uma

panela de pressão que está pres­tes a explodir" , adverte a profes-.sora Ideli Salvati, presidente da

Associação dos Licenciados deSanta Catatina.Segundo Salvati, até março

deste ano os professores da redeestadual acumularam uma perdasalarial de 156%. Não recebemreajustes desde de julho de 1987,nem mesmo a URP, que todosos trabalhadores vêm receben­do. Apostando na desarticula­ção da categoria, o governador

pagou o gatilho atrasado no últi­mo dia 14 de março, o que teveo efeito de um jato d'água dis­persivo da manifestação marca­

da para o dia seguinte, quandoele completou um ano de gover­no, e José Sarney três anos na

presidência da República.

AÇÃO NA JUSTIÇAA determinação do governa­

dor, de levar a efeito um planode educaçao que ignora os, pon­tos fundamentais do "livro ver­

de", discutido por centenas demilhares de catarinenses, duran­te a gestão de Esperidião Amim(a elaboração do PEE foi uma

conquista da greve dos profes­sores em 1983), não intimida a

Alise, A entidade está .dispostaa ingressar com uma ação na Jus­tiça para pedir a invalidação doano letivo de 1987, já que os 57dias de aulas repostas estão sen­

do anotados nas UCRES -

Unidade de Coordenação' Re­gional de Ensino -;- como faltas

. não justificadas, informa a vice­

presidente, Joaninha de Olivei­ra. Ela explica também que nas

escolas em que a greve de 87foi parcial, há distribuição dasfaltas entre todos os docentes

para não justificar a ausência dosgrevistas.As maiores aberrações', con-

.

forme a Alise, ocorrem no cam­

po das demissões. Há casos em

que professores "formados" queforam demitidos ou transferidossão substituídos por funcioná­rios de outros órgãos públicos,sem nenhuma qualificação paralecionar nos I? e 2? graus. Um

exemplo concreto dessas trocas

é o da Escola Básica Pedro VazCaminha, na Vila São João, emFlorianópolis. Um professor de

.Ciências (5� a 8� séries) foi substi­tuíéo por um egresso do Suple­tivo de 2? grau, relata a profes­sora de Educação Religiosa do

educandário, e estudante de Psi­

cologia da UFSC, Catarina Ge­werd. Demitida, ela continua le­cionando no colégio, -"por um

comprornisso assumido juntosaos alunos". A professora conta

que os alunos' chegam a "fazer

vaquinha" para the pagarem a

passagem de ônibus, uma vez

que não rece�r salários.

Foto: James Tavares/JSC

.

Cassetete democrático agradecendo os votos

Governador não pede, decretaO ponto crucial do conflito

entre o governo do Estado e o

Magistério diz respeito às elei­

ções diretas nos estabelecimen­tos de ensino. "O diretor da es­

cola deve ser alguém de irrestritaconfiança do governo, porquesobre ele o governo pode execu­

tar uma fiscalização plena. É um

cargo preenchido e esvaziado

quando o governador entenderpor bem", sustentou Pedro Ivo,ameaçador, diante das câmerasde TV, no dia 18 de fevereiro,quando usou a imprensa para re­

velar duas outras conclusões bri­lhantes, baseadas em pesquisasde seus assessores especiais:"Há alunos em todas as cidadesdo Estado e não haverá maisgreve dos professores, porque o

governo não pagará os dias para­dos.A Alise, respondeu no dia se­

guinte, com um documento queanalisa o pronunciamento do go­vernador (a "grande mídia" deSC não publicou), que "o respei­to à maioria se dá pelo cumpri­mento do que a maioria decide.Eleição direta nas escolas foiuma decisão de mais de meio mi­lhão de catarinenses na colabo­

ração do '?EE. O diretor de es­

cola é cargo de confiança da co­

munidade, para quem deve

prestar serviço e com quem deveestar sintonizado. Com a descul­

pa de 'despolitizar a educação',não respeitando o processo elei­toral, legal, o governo quer, isso

. sim, transformar a escola em

curral eleitoral do PMDB.Quem não dançar conforme a

música é exonerado, a comuni­dade queira ou não".

Esta análise é aprofundadapela professora e doutorandaem Filosofia da Educação na

UFSC, Marli Auras, quandoquestiona se os anos e anos deprática de nomeação de direto­res vinha garantindo a qualidadeda Educação em Santa Catarina."Onde está o direito de o gover­nador nomear e exonerar o dire­tor da escola", queixa-se PedroIvo, acenando com a lei federal5.692, hierarquicamente supe­rior ao PEE, que não é lei. Eleconsidera "intervenção político­partidária" o processo de escõ­lha de diretores escolares.O governador não pode dizer,

é lógico - raciocina Marli Au­ras - que, com a volta das no­

meações, pretende mesmo é queapenas o seu partido político, oPMDB, influa na escola dos di­retores, restabelecendo, assim,a velha prática oligárquica. "Odiretor seria o delegado do go­vernador dentro da escola e dei­xaria de ser o delegado da escola,

.

seu representante máximo juntoaos escalões administrativos",dispara.Como observa a professora

Marli, não é preciso ser muitointeligente pãra perceber ("até'mesmo pela pobreza da argu­mentação palaciana") que a ver­

dadeira preocupação do gover­nador não é com a qualidade doensino, como afirma reiterada­mente mas, isso sim, com a p�e­mente necessidade de encontrarmeios para promover o "des­mantelamento do movimentodos educadores, que vem contri­buindo para desnudar a face au­

toritária deste governo de 'opo­sição'''. Não basta punir com

transferência os professores quese destacaram na luta pela de­mocartização escolar.Os sucessivos decretos do go-

vernador atingiram no cerne o

PEE: o de novembro de 87, queextingue os conselhos delibera­tivos, cria os conselhos comuni­tários, cujos presidentes serão os

diretores indieados pelo Execu­tivo estadual; a exoneração dos98 diretores desrespeita a lei es­tadual6.709 e o PEE -que pro­põem eleições diretas para todasas chefias; sob a alegação de darvagas a mais de 200 mil criançascatarinenses em idade escolarque se encontram fora da escola,o Plano Anual de Matrícula -

1988, incha as salas de aula com

até 50 alunos por turma, depen­dendo da série, enquanto o nú­mero máximo permitido peloPEE é 35. O próprio documen­to-processo "Democratizaçãoda Educação - A Opção dosCatarinenses" condiciona a re­

vogação Ou alteração de "livroverde" ao mesmo processo peloqual foi elaborado. Prevê tam­bém a renovação de 1/3 dosmembros do Conselho Estadualde Educação, o que ainda nãoaconteceu.

Os retrocessos aqui sucinta­mente analisados dão uma idéiade como o atual governo pre­tende colocar em prática aquiloque define como "a diretriz maisfundamental da educação" em

seus Cadernos de campanha"Rumo à Nova Sociedade": reo­rientar, repensar, melhorar, res­gatar e reordenar o setor. Naspalavras da diretoria da Alise,o governador extrapola suas fun­ções, coloca-se acima do Legis­lativo e do Judiciário e transfor­má a sua vontade em lei máxi­ma, parodiando o Rei Luis XV,da França: "O Estado sou eu".

Geraldo Hoffmann

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ALTOS E BAIXOS

Bolonha comemora 900anos de'Universidade

É a mais antigado mundo, masse moderniza

A universidade. mais antiga domundo está comemorando seus 900anos de existência. É a Universidadede Bolonha, Itália, na qual estuda­ram personalidades ilustres como

Dante Alighieri, Petrarca.ifirasmode Roterdã, Copérnico e muitos ou­

tros, construindo toda uma históriade lutas e conquistas.

O aniversário vai ser abrilhantadocom uma série de manifestações en-

.

volvendo centenas de seminários e

conferências científicas, mostras de

arte, lançamentos de livros e de edi­ções especiais, além de espetáculosde esporte, música, teatro e cinema ..

Fundada em 1088, sem nunca nes­

se período ter interrompido suas ati­vidades, a Universidade de Bolonhatem como atual reitor, Fabio Ro­versi Monaco, que para dar conti­nuidade as atividades de comemo-

. rações convidou reitores de todo o

mundo para participarem das ativi­dades e debates sobre o sistema uni­versitário , entre eles o reitor da Uni-

Quatro dizemnão à greve.Tudo igual

Greve. se houver. só será de­cidida na próxima quarta-feira,dia cinco de abril, data-que fi-ocou marcada para a efetivaçãode nova Assembléia GeralAcadêmica. É que na tensa as­

sembléia do dia 29 de março,por uma estreita diferença dequatro votos, foi decidida a

não-paralisação das atividadesda Universidade Federal deSanta Catarina. Ao longo das3h20min de duração, foram en­

caminhadas e votadas duas pro­postas. A primeira indicava pa­ralisação até o dia 5 de abrile a segunda pela não realizaçãoda greve geral. Venceu a segun­da, com 663 votos (23 de pro­fessores) contra a greve. Foramderrotados 630 alunos e 29 pro­fessores.

Diante de uma diferença tãoreduzida, entre sua categoria,os professores exigiram nova

contagem de seus votos'; queconfirmou a primeira conta­

gem. Antes, para evitar confu­sões, a assembléia foi divididaem dois grupos, com os favorá­veis e os contários de cada um

dos lados do ginásio. Foram os

50 minutos mais tensos da As­sembléia Geral Acadêmica.

Encerrada a AGA, e cumprin­do outra decisão tomada, cercade 200 alunos invadiram a rei-.toria para exigir uma audiênciacom o reitor Rodolfo Pinto daLuz. Não perca a próxima as­

sembléia.

tino, o Africano, marcam o inícioda ruptura com o ensino monástico,seguido pelas aulas de direito.

No século 13 já haviam dez milestudantes em Bolonha, a maioria

estrangeiros, sem direito à cidada­nia. Somente na segunda metade doséculo 14 é que a universidade passaa ser reconhecida. Até o século 16,Bolonha tem uma universidade go­vernada pelos estudantes, que passapouco a pouco a se tornar uma insti­

tuição estatal. Depois do século.14,-a universidade passa a explorar ou­tras áreas de estudos, deixando o di­reito de ser seu único ponto de refe­rência.

Palácio Poggi, sede

versidade de São Paulo, José Gol­

demberg, que já confirmou presen­ça.

UM POUCO DA mSTÓRIAA função da Universidade de Bo-

lanha marca o 'rompimento do· mo­nopólio da Igreja na educação, insti­tuindo o ensino livre e independentedas escolas eclesiásticas. As aulas demedicina ministradas por Constan-

Hoje, com dezoito mil estudantese vários centros de estudos avança­dos, a Universidade de Bolonha éuma das mais importantes de todaa Europa. Além de ter o título damais antiga universidade do mundo,procura transforrnar-se na universi­.dade do futuro, associando à tradi­

ção modernos sistemas de informa­

ção. e automação. E tem tudo paraisso ...

Cláudia Carvalho

. Calouros entram sem ilusões1� de março de 1988. Antes

das 7 horas da manhã começaa invasão dos calouros que,como baratas tontas, arras­tam-se pelo Campus daUF�C à procura de suas sa­

las.

Tanto os que foram mere­

cidamente aprovados quantoos que passaram por acaso novestibular, já vêm cientes dasdificuldades porque passa a

Universidade. Alguns já es­

peravam um ensino falho, co­mo a caloura Margareth, deJornalismo:' "Está melhor doque eu pensei. Esperava en­

contrar uma Universidademais medíocre." Já seu cole­

ga Fabiano vai mais longe:"A impressão que estou ten­

do era a esperada: falta deprofessores, displicência deprofessores e alunos, inép­cia". Como eles, a maioriados novos universitarios vêmde um 21trau defasado. "Essadefasagem é uma seqüêncialogica que não é culpa dessainstituição, mas do sistemade ensino em geral", afirmaMargareth. A décepção étanta que não são poucos os

calouros que, como menos deum mês de aulas, já pensamem mudar de curso.

Além das dificuldades di­retamente ligadas ao ensino,outras como a falta de mate­

rial, transporte coletivo, mo­radia estudantil e a semprelembrada comida do R:U.,só agravam a situação. Háquem não reclama. e esteja

achando tudo um baratodesde as aulas até a falta de­las; a recepção calorosa, combanhos na lagoa do Centrode Convivência; os tradicio­nais trotes e tudo o mais.Dizer que os estudantes

vêm para a Universidadecheios de sonhos e perspec­tivas seria, no mínimo, inge­nuidade. Mas também não éerrado afirmar que são pou­cos os que têm realmenteconsciência da situação e de.suas conseqüências. (Há sig­nificativa diferença entre es­

tar ciente e estar consciente).Essa alienação fica claraquando se toca o assunto degreve, palavra maldita. Agrande maioria posiciona-secontrária sem antes questio­nar-se , sem estar a par dosfatos. E mais cômodo ter au­las "tapando buracos" doque reagir com posiciona­mento definido diante dosdisparates que denigrem a

educação em todo o país. Noscalouros o receio da greve émais explícito. O argumentoé que esta: greve g�e hora se

articula não atingirá seus ob­jetivos.BUSCANDO OS DADOSSe as expectativas dos ca­

louros em relação à Univer­sidade ficam daras, o mesmonão acontece com o perfil só­cio-econômico dos estudan­tes quando se tenta usar os

dados do questionário for­mulado pela COPERVE. Jánum primeiro mom e n to

constatam-se falhas gritantesno dados, como no caso deduas questões, uma delas so-

. bre a ocupação principal dopai do vestibulando e outrasobre a renda total da famí­lia. A resposta com maior

percentual à primeira per­gunta apontava para proprie­tários e administradores- degrandes empresas; parado­xalmente, a segunda questãoassinalou "a predominância

. (56,7%) de famílias receben­do até um salário mínimo (naépoca, Cz$ 1.969,92).Revela-se uma grave falta

de sinceridade nas respostasdos vestibulandos, o que pre­judica o trabalho de informa­ção e pesquisa da Universi­dade. A quase totalidade doscandidatos, ao preencher o

questionário, parece não en­

carar com a seriedade mere­

cida.A falta de esclarecimento

quahto à finalidade, quemvai consultá-lo, como vai serutilizado, aliada ao fato de o

questionário caracterizar-sepor penetrar na individualia­de dos candidatos de maneirapouco sutil, sem um mínimode bom senso, incitam a men­

tir ou omitir informações.Convém discutir se esse

questionário não é proposita­damente mal elaborado paraque a verdadeira situação douniversitário não apareça.

Julio C. Pompeo eGraziela S. Nunes

P4 ZERO MAR/8S

Para reitorCâmara só dáquatros anos

A Câmara dos Deputados já apro­vou projeto de lei que determina a

nomeação de reitores das universi­dades federais, pelo presidente da

República, a partir de uma lista trí­

plice escolhida em eleições diretasda qual todos participam - alunos,professores e servidores. O mandatodos novos reitores será de quatroanos, sem direito à recondução ao

cargo. Agora, o projeto de lei seráenviado ao Senado Federal para no·

vos estudos.

Com a aprovação, através de'

acordo de lideranças - já que à essa

.

altura é difícil conseguir quórum pa­ra boa parte das votações....,... foi der­rotado o projeto de lei do deputadoVictor Faccioni (PDS-RS), que pre­via a reeleição dos reitores. As lide­ranças, ao optarem pelo substitutivode Ruy Nedel (PMDB-RS) - quedefendeu uma lista tríplice - e pelaemenda de Otávio Elísio (PMDB­MG) - Suprimindo a recondução- acolheram pressões da esquerda,do Conselho de Reitores do Brasil(Crub), Associação Nacional dosDocentes do Ensino Superior (An­des) e Federação dos Servidores dasUniversidades Brasileiras (Fasu­bra). As entidades entendem que a

reeleição dos reitores é prejudicialaos propósitos de renovação em dis­cussão nas universidades.

Caso a proposta de reeleição dodeputado gaúcho Iosse aprovada, o

.

reitor da Universidade Federal doRio Grande do Sui, Francisco Fer­raz, convicto de que ela era "demo­cratizante e avançada", tentariacumprir mais uma gestão dirigindoa UFRGS.

MEC estuda a'

Universidade

Aberta, é mole?O Conselho Federal de. Educação

aprovou um parecer criando um grupode trabalho para planejar e incentivara implantação da "universidade abertano Brasil". Segundo o conselheiro Ar­naldo Niskier seria uma primeira ex­

periência com, o ensino à ·distância a

ser implantado no País. Niskier aca­

bou de .concluir um estágio na OpenUniversity da Inglaterra, que funcionapor correspondência -emitindo certifi­cados, e considera viável a idéia, jáque o modelo da universidade no Bra­sil está sendo questionado e o momen­

ta seria ideal para a implantação de

algo semelhante no Brasil.

Um dos objetivos da "universidade

aberta", seria a capacitação de profes­sores que' já lecionam, como é o caso

'dos professores de 1? grau, cuja habili­tação é feita a nível de 2? grau. Alémda capacitação de professores, tam­bém é possível dentro o projeto, o

treinamento de mão-de-obra e recicla­gem, que poderia contar com o apoioe interesse da iniciativa privada. Nosdois casos ele defende a utilização dasuniversidades federais e estaduais pa­ra a coordenação do projeto.

A partir dessa idéia surge uma ques­tão: dar diploma seria umaboa? Nis­kier sugere que na experiência pilotonão seja dado o diploma. (A.R.M).

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Moacir fala de dependência da atuação faz um trabalho de melhor to? E o problema do díplo-

jornalismo, seu profissional. Mas eu vejo qualidade do que em FIo- ma obrigatório para exer-

que nós estamos cami- rianópolis. Se você for a cer a profissão de jornalis-livro, diploma ... nhando realmente para Joinville,Blumenau, Cri- ta?

uma profissionalização. ciúma, vai encontra jorna-�

Zero _ Fale do livro que Primeiro que as pessoas, lismo sério, rádio que faz M.P. _ Eu constato quevocê pretende publicar. os egressos das escolas de prestação de serviços, dá realmente os cursos de co-

Moacir Pereira _ Preten- comunicação, e os que já informação, dá orienta- municação não estão for-�

do examinar, a imprensaatuavam na profissão pas- ção, permanenternente ,

mando os profissionaissam a viver exclusivamen- com as grandes reporta- que o mercado deseja,

de Santa Catarina, ainda te do jornalismo. Hoje já gens, com as transmissões com uma boa formaçãoque, não com muita pro- existem empresas que es- diretas. Eu vejo o rádio e humanística, uma boafundidade - as quatro tão pagando salários que a TV como instrumento de qualificação técnica. Eetapas da nossa imprensa. permite esta situação. Há prestação de serviços, de agora, os cursos de medi-A etapa da instalação, com 20 anos atrás isso era im- informação, e de lazer, de cina também não estãoa característica político- possível. Eram apenas ca- elevação do nível educa- formando OS médicos departidária, a fase da ex-

sos excepcionais, que nós cional e cultural da popu- que o Brasil precisa. E issopansão dos meios, a fase encontrávamos nos meios lação. Em função, até vai se repetindo na enge-da modernização e agora, de comunicação de massa. mesmo do processo polí- nharia, na odontologia, naessa que eu considero a

Z. Você trabalhou durante tico brasileiro, do' regime filosofia. Então essa ca-rnais importante, que é a 6 anos no Jornal de Santa autoritário, nós vemos as rência não é uma carênciada profissionalização. Catarina e agora retorna emissoras de TV, transfor- doscursos de comunicação.Uma pequena nota histõ-

ao jornal O Estado. PorNa mudança, contentamento madas em redes nacionais Isso se torna mais eviden-rica sobre a imprensa em

que a mudança? que sufocaram manifesta-Santa Catarina, porque M.P. -:- Em primeiro lugar ções artísticas, culturais e

te, exatamente porque os

nós temos realmente uma'. porque o jornal O Estado folclóricas, em várias re- jornalistas que 'são forma-

memória muito fraca. Nós dos pelos cursos de comu-

não temos memória sobretinha um espaço aberto giões do Brasil, e o Brasil, nicação estão mais na vitri-

o

a imprensa ou sobre a polí- que não estava preenchi- mação. hoje, está uniformizadone. Os médicos e os dentis-

tica de Santa Catarina. Eudo. No momento em que Z. O Jornalista Estácio Ra- pelas redes nacionais de

tas estão atrás do balcão,gostaria até, se -tivesse .

eu aceitei o convite, do mos.deixa a RBS para assu- TV, lamentavelmente, ecada um no seu gabinete.Comelli e do Osmar para mir a superintendência da as estações. de rádio, em

mais tempo e condições, trabalhar no Jornal O Es-. RCE. Quem ganha e quem sua grande maioria, foram O que não se pode chegarde tentar resgatar a histó- tado, eu vi essa perspec- perde com isso? transformadas em toca- a concluir a partir dessasria da política catarinense,

M.P. _ Vi com muita sa- deficiências é que os cur-que realmente não existe.

tisfação, como jornalista e sos são dispensáveis. Eu

Z _ Os meios de comuni- como cidadão, essa trans- desafio alguém a me mos-

cação em SantaCatarinajá .

" Jornalistas ferência do Estácio Ra- trar de maneira lógica, ra-atingiram um boni nível formados estão mos, e o lançamento desse "O rádio do cional que os jornalistasprofissional? projeto novo, de instalção interior é formados no dia a dia da

na vitrine. Os de uma nova rede em SC, melhor. Na profissão - eu acho que.M.P. _ Eu creio que sim. médicos ficam que ainda não existe, que capital só se

estou muito à vontade praDo ponto de vista tecnoló-

no balcão" é a RCE, derádio e de falar sobre isso, porque eu

gico, está até na frente dos TV. Em segundo lugar de ouve música" , não sou formado em jor-outros estados. O DC tem

. executar um projeto alta: u nalismo. Eu sou formadohoje o equipamento mais mente profissional. Ganha em direito. - Mas um

moderno de composição tiva. Quer dizer, eu saio o público por que? porque quadro geral comparativo,que existe no Brasil, com do JSC, onde eu tenho em o Estácio Ramos vai lançar discos, E desgraçadamen- .

os jornalistas que salvo ex-

sofisticados equipamentos espaço, e eu que conquis- novos projetos na área jor- . te transmitindo músicas ceções, natur'almente ,, de computação, acoplados . tei, modéstia à parte, que nalística. Eu tenho infor- estrageiras, o rock paulei- aqueles que procuraram o

às centrais. Mas eu acho o jornal não tinha: também mação de projetos bastan- ra que faz sucesso na nove- seu aprimoramento técni-que só isso não basta. Eu colunista na época, em te ousados na .área jorna- la das oito. Quando o que co, pela sua formação hu-entendo que nós estamos 1982, e no momentto que lística. Pelo que eu conhe- nós deveríamos fazer é manfstica, a elevação donum bom nível, estamos eu deixasse o JSC, iria per- ço do ER e o que eu conhe- exatamente utilizar e ex- seu nível cultural - mas

caminhando para um bom mitir que um outro compa- ço do mercado catarinen- piorar o potencial das isso são exceções à regra.nível de profissionaliza- nheiro assumisse aquele se, a RCE não tem como emissoras de rádio, para Mas no geral os que saem

ção, na medida em que posto: Em segundo lugar competir com a Globo na levar orientação sobre no- dos cursos de comunicaçãoabandonamos a fase que porque me sensibilizei programação nacional. ções de higiene, levar saú- têm uma visão crítica daacompanhou a imprensa com o projeto de moderni- . Ela tem uma grande fatia de, levar lazer, levar a in- sociedade, muito mais am-catarinense no império e zação e de profissionaliza- do mercado, exatamente formação, a reportagern, pIa, têm uma formação hu-na república, que é a da ção do jornal O Estado, na programação local. debates e entrevistas para manística muito melhor,vinculação partidária. apresentado pelo Comelli, Z. Quat o meio de comuni- as emissoras de rádio. têm uma noção de. históriaVeio um segundo momen- pelo Cesar Valente e pelo cação, no estado, que você Z. Os cursos de comunica- muito mais aguda, muitoto, do início da censura po- Osmar, diretor. Eu senti classificaria como de me- ção não estão formando mais forte. E até mesmolítica. Veio mais outra eta- uma disposição firme deles Ihor qualidade profissio- jornalistas, já que os alu- uma certa preparação téc-pa, do exercício do jorna- de efetivamente ocuparem nal? nos só aprendem quando nica.lismo ou de uma maneira uma parcela do mercado M.P. _. No meio radiofô- ingressam no mercado deamadorística ou de um en- de Santa Catarina que está nico, eu tenho constatado ' trabalho. Você concorda,gajamento que levava à carente, sediosa de infor- que no interior de SC, se vê alguma solução à respei-

Entrevista a Carla Cabral

RADICAL DA CAUTELA

Regime autoritário presente na TV

MARISS- --�, - ZERO -

'

,

"

, PS I

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COMVOZ

A garotadajá pode votarcom 16 anos

Eleitorado dá pau em Sarney

A constituinte aprovou o votofacultativo para os maiores de16 anos. Serão, segundo o IB­

GE, 200 mil novos eleitores em

Santa Catarina e 5,7 milhões em

todo o país. Destes, 60 por centoexercem algum tipo de atividade

profissional remunerada. Polê­mica, a proposta foi lançada pelaprimeira vez em 1985,' no con­

gresso da União da JuventudeSocialista. Daquela data até sua

aprovação, a entidade desenvol­veu um intenso trabalho paratornar lei sua reivindicação. Joa­quim Perez, da coordenação na­

cional da UJS, conta como foi. esta campanha e o lobby que ga­rantiu a vitória do voto aos 16anos:

"Logo após o congresso, rea­lizado em fevereiro, a entidadepassou a divulgar sua propostapor todo o Brasil. Uma das for­mas utilizadas foi a pichação em

muros, feita em tão grandequantidade que mereceu desta­que na televisão nacional. Em1986 a campanha prosseguiu,com debates e outras atividdes.Neste ano, o deputado HermesZanetti (PMDB-RS), a .pedidoda UJS, apresentou um projetona Câmara dos Deputados."Mas a mesa manobrou, e nósfomos derrotados", diz Joa­quim.

A derrota, contudo,. não con­

seguiu abalar o ânimo do UJS.No mesmo ano ela voltava às'ruas com sua campanha. No en­

tanto, segundo Perez, "a im­

prensa iniciou uma contra-cam­

panha por todo o país". O coor­

denador da entidade conta queum dos argumentos utilizadosnesta "contracampanha", era a

possível redução da idade penalpara 16 anos. Um argumentosem consistência: "o prórpioBernardo Cabral, que iambém

'

é jurista, garantiu que este argu-

A solução para os problemas. brasileiros passa, segundo Evilá­sio Salvador - de 17 anos -

,

"pelo fim do governo Sarney e

a eleição de um governo ligadoao povo". Evilásio o é auxiliarde escritório em Criciúma, e tra­balha desde os 14 anos de idade.

Acompanhando a vida políticado país pela imprensa, ele acre­

dita que "sem a participação da

juventude nada mudará".Outro que também não sim­

patiza com o "Zé Ribamar" -

vulgo Sarney - éMárcio Daniel

mento é falso".Quando a constituinte foi ins­

talada, a UJS deu a ela uma

atenção especial. "Nós sabiamosque sua composição era demaioria conservadora", diz Pe­rez, "mas nós não podiamos ig­norá-la". Na primeira fase, dascomissões temáticas, o voto aos

16 anos foi rejeitado. Quandoteve inicio o trabalho da comis­são de sistematização, começoua funcionar o lobby da UJS.Diferente do lobby de outras

entidades, como a UDR, estenão utilizou o poder econômico.A forma de pressão utilizada foia visita a todos os membros dacomissão. Alguns deles foram

procurados mais de uma vez, natentativa de serem convencidosa votar na proposta da UJS. Nofinal, a comissão de sisternati­

zação aprovou o voto aos 16

da Silva. Eie tem 16 anos, e éauxiliar de escritório-em Floria­

nópolis. Márcio considera-se su­

ficientemente responsável paravotar, "afinal, eu trabalho o

mesmo tanto que um adulto e

ajudo a construir este país. "Es­te, aliás, foi o principal argu-mento da UJS.

<,

Cearense de nascimento, e

morando em Florianópolis des­de 1984, o office-boy Andocides

Gomes considera o presidenteSarney "um inimigo'da juven-

anos. Aprovada naquela comis­

são, a proposta apresentada pe­los dep'utados Hermes Zanetti eEdimilson Valentim (PCdoB­RJ) - iria para votação em ple­nário.

A partir daí todos os presiden­tes de partido, líderes de banca­das e de grupos foram visitados.Até mesmo o "centrão", cujaspropostas divergem das da UJS,foi procurado. "Nós apresentá­vamos os nossos argumentos,mas não negociavamos nossas

propostas", diz Joaquim".

Uma segunda etapa, realizadapor 40 membros da entidade, foia visita a todos os constituintes.O senador catarinense JorgeBornhausen (PFL) foi procura­do oito vezes, mas em nenhumadelas foi encontrado no congres­so. No dia da votação em plená­rio, a UJS e a União Brasileirade Estudantes Secundaristas co­

locaram mais de 350 jovens nas

galerias. Uma nota dirigida aos

deputados, foi distribuída pelosjovens, minutos antes do inícioda seção. Defendido pelo sena­

dor Afonso Arinos (PL-RJ) -

o constituinte mais idoso - o

voto aos dezesseis anos foi apro ..

vado.

Agora, a UJS pretende desen­cadear uma campanha por todoo Brasil esclarecendo o jovemde seu novo direito além disso,vai incentivá-lo a se inscrever na

Justiça Eleitoral- pois o alista­mento não é obrigatório para os

menores de 18. A entidade tam­bém pretende lançar uma nota

denunciando os constituintes

que votaram contra a sua pro­posta. De Santa Catarina, ape­nas três parlamentares deixaramde votar na proposta da UJS.Além do senador Jorge Bor­

nhausen, os deputados VitorFontana (PFL) e AlexandrePuzzina (PMDB).

tude brasileira". Ele que tem 17anos, lembra que um jovem declasse baixa não pode se divertire muitas vezes nem estutiar: "S�ele - o jovem - não trabalhar,a sobrevivência da família corre

um sério risco". Triste com o

presente, Andocides não perdeua esperança no futuro, "se de­

pender de briga, as. futuras-gera­ções vão herdar um mundo me­

lhor", diz ele.

Carlos Eduardo Caê

/

Com Imprensa,jornalista virou

pauta (sem morrer)

A melhor capa de março

A_ revista Senhor da terceirasemana de março (aquela quemostra uma "mãozinha" signifi­cativa na capa) traz uma matériasobre o declínio do PIB brasi­leiro. É mostrado que, não fosseo desempenho da agropecuáriaem 87, o nosso produto internobruto seria uma total desgraça.

A indústria, que mostrava' forçaem anos anteriores, mostra um

raquítico crescimento, e o setorde serviços continua patinando.A matéria não aborda, mas po­de-se desconfiar de uma coisa:não foi apenas a agropecuáriague segurou as pontas de um

fiasco deprimente. A produçãoeditorial deve ter contribuído e

muito. Quem duvidar que passenuma banca de revistas e jornaise examine os títulos. Desde "co­mo fazer cerveja em casa" atérevistas semanais de informaçãoexiste uma quantidade imensade publicações.

E certo que alguns títulos de­

saparecem após uma ou duasedições, Quem (com mais de 30

anos) não se lembra dé uma re­

vista chamada Repórter? Em­

placou apenas três números. Eo Jornal da República? E bom

parar por aqui. Espera-se quea revista Imprensa, que tem o

próprio jornalismo 'como pautapermanente, tenha um melhordestino. Em fevereiro a revista

(publicação da Feeling Promo­

ção e Comunicação, São Paulo)apresenta uma matéria de capasobre o livro "Minha Razão deViver" do jornalista SamuelWainer e um número seis juntoao logotipo. Quer dizer, está

agüentando ...

Mas o que se deve esperar deuma revista que tem o jornalis­mo corno matéria? Publicar o

que a grande imprensa não pu­blica?' Entrevistas com jornalis­tas famosos? Ironizar as manca­das dos jornais?Mostrar o entra­e-sai das redações? Apesar deter cativa uma das melhores pau­tas deste País - a imprensa bra­sileira - os leitores certamente

querem mais que folclore. Pro­curam nas bancas um produtoescasso, existente, mas raro, queé o prõprio jornalismo. Dissoninguém pode duvidar: à medi-

da que aumentou o número de

publicações o jornalismo defi-nhou. _

A questão não é ditar receitasde como deveria ser uma revista'

que trata do jornalismo. Masuma coisa é' certa: deve haverum diferencial entre uma revistacomo. Imprensa e os jornais e

revistas existentes. Isso porquehá o perigo demisturar, mesclar,este tipo de publicação com as

já existentes. Hoje, no Brasil,a publicação que pretende ter-a

imprensa como assunto, deveprocurar e praticar diferanças noestilo de trabalho. Do contrário,pode acontecer uma situação deatoleiro onde as referências queainda existem serão inevitavel­mente perdidas. Pode acontecer

uma situação surrealista onde o

objeto de matéria (imprensa)torna-se exemplo para a revistaImprensa.

Se o futuromostrar que a dire­ção foi esta, a revista lmprensaserá apenas "mais uma publica­ção". Bem intencionada, semdúvida, mas apenas mais uma

nas recheadas bancas e revistas.A imprensa brasileira, nos tem­pos que correm, precisa voltara praticar o jornalismo. Isto éo óbvio. Para isso, necessita sen­tir concorrência e diferenciação.A pior política agora (e mesmo

de marketing) é uma publicaçãocomo Imprensa não perceber is­so.

A situação que se apresenta,como uma revista querendopautar a imprensa nacional, de­ve indicar novos caminhos parao jornalismo. Isso é fundamen­tal, para que não descambe devez os últimos resquícios que se

têm de jornalismo. E alguma pu­blicação precisa fazer ISSO. OUserá que tem gente pensandocomo Barão de Münchausen

que conta o seguinte em uma desuas famosas histórias: o mesmoestava caminhando quando caiuem um pantanal. A lama já esta­

va cobrindo o Barão que deses­perado não sabia o que fazer.Neste momento ele teve uma

idéia brilhante: agarrou seus

próprios cabelos e foi puxandoaté conseguir sair do pantanal.

Hélio A. SchuchProfessor e jornalista

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PEGA O LADRA0

,"

Besc: .mais roubo ':e

- impunidade, ;-

- ,. ,,," ".

-, ,-

Carlos Passoni, homenageadopelos interventores do BC,é justamente o envolvido

nesses documentos inéditosDecorridos os primeiros doze

meses, de intervenção federal noSistema Financeiro Besc, pou­cos catarinenses podem afirmarque conhecem o trabalho dos in­terventores do Banco Central.Até o momento, no melhor esti­lo do Brasil de Sarney/Centrão,aqui tem prevalecido a impuni­dade. Os deputados estaduaisMário Cavallazzi (PDS) e Júlio'Garcia (PFL), ex-diretores dobanco no governo Amin, que ti­veram seus nomes levantadoscomo suspeitos 'em desvios derecursos do Finsocial e outros

programas oficiais de crédito,escondem-se hoje sob a capa daimunidade parlamentar. E como

em terra de cego quem tem um

mandato é rei, a imunidade foi

rapidamente transformada em

impunidade.,

Ao mesmo tempo, o principalenvolvido nessa história, o ex­

presidente do banco, Carlos Pas­soni Júnior, recebeu diplomasde mérito das mãos dos inter­ventores do BC, por "relevantesserviços prestados à sociedadecatarinense" .

ClientelismoFundado há vinte cinco anos,

o Banco do Estado de Santa Ca­tarina sempre foi utilizado parafins políticos, pelos grupos oli­gárquicos que se alternaram no­

poder. Concurso público é pala­vrão, onde o clientelismo sem-

pre foi a política de recursos hu­manos, da admissão às vanta­

gens e promoções dentro do. quadrode carreira, em prejuízoda maioria dos funcionários. Atéaqui, tudo tem sido decidido porinteresses eleitorais.

,

No governo Amin, durante a

administração Passoni, o proces­so de crise f in a n c e i r o­administrativa do Besc chegoua extremos. Nas eleições muni­cipais de 85 e no ano seguinte,nas eleições para governador,Assembléia Legislativa e Consti­tuinte, os recursos públicos do

, banco foram utilizados na ma-

CO,,'tIIJ"ro 1)[ I-I<!:ST"�O I)� �L"VI�'O�

we L,;',/<l s.j rhlUl 1. H�C-l)n'IIU­

�lIllJOAA De T1T!ll.OS L ""l.oou;� �.�Io!Li':'�lO� �/J., - t " CO'.;,;o, - c,,;:�u�-''OO<.I:S ...��OCI ... L>OS ur ;.L':U;":'O� >il;"'�

I. besc- oHcr,bu,o"," de 1i,u)<,. � \"�l,,,,,� Mot...l,:;"oo �/" •• S'c".c�a<, "e ba,�,buldora d� Titulo. 1- �·�,o,,,. ,..,,,,-,1,:,, ,<>�, rC�.

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Empresa fantasma se beneficia

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(tri,nta per cento) na data da assinatura

do presente contrato, a segunda de 262,50(duzentos e sessenta.e dois virgula cin­

coen ta)- ORTN IS, cu seja, 35ft (trinta .e

cinco por cento) nad data da apresentaçãodo módulo PESQUISA SALARIAL, em 30/07/85e a terceira e última, também de 262,50. -

(duzentos e sessenta e dois 'virgula cin­

coenta) ORTN1s, ou seja, 35% (trinta e

ci�co por cento) na data de apresentaçãoou entrega final do trabalho.

E assim, por estarem justos e contratados, firma o presént�contrato ern �üatro (O�) vias de igua) teor e forma.

Florianópolis, 'e�, 10 de rr.aio de 1985.

Diretor

��Vit'@"'" .

Nas assinaturas, o envolvimento da família

ASSOCIADOS DE RECURSOS HUMANOS'LTDh,

,

neira mais acintosa possível.Junho de 1985. Numa rápida

viagem a Araranguá, Sombrio,Turvo e Meleiro, o então presi­dente Passoni Jr. requer a líbera­çõ de Cr$ 517 mil para cobriras despesas. Objetivo: reuniõescom lideranças comunitárias e

bancadas de vereadores do PDSe, de quebra, um jantar com a

administração da agência de Cri­ciúma. Nada extraordinário, di­'ria Passoni, apenas uma pontadesse iceberg que entrou em ro­

ta de colisão com o Besc, culmi­nando com a intervenção do BCem 25 de fevereiro de 1987.

Colarinho BrancoEm recente Assemlbéia Geral

de Acionistas, o governo do es­

tado, representado pelaCompa­nhia de Desenvolvimento do Es­tado de Santa Catarina (CO­DESC), levanta - em linhas ge­rais - as irregularidades apura­das na administração Passoni.Entre outras, a manutenção

de um contrato de prestação deserviço com a CONARH -

Consultores Associados de Re­cursos Humanos Ltda - dirigi­da por Carlos Melim Passoni, fi­lho de Passoni Jr., que ocupavaa função de Superintendente deRecursos Humanos do Besc e..

Ernesto Augusto Ferreira, en­

tão Diretor de Recursos Huma­nos do banco. A CONARHprestava serviços à empresas doSFE e também atuava em outros

estados, facilitada por "apoio lo-gístico" do banco, que custeava

" ,. '''''''0

"1425;485�passagens e liberava seus dire to- -

-_--_o,., '., 500.000

res para a prestação de consul-C:"

WOO", ""'''"''"•

,.,.

E.

d 85 CO TtOTAL C<£ II"" I"(ACO"RI005tonas. m mato . e ,a -

J TO'4l 4 �( .. I'fll1T4DONARH assinou um contra�o IF;Oii-;---'''' ; __

'�.'74.515

com a BESCVAL - Besc DIS- I�-'� .

17 06 'DlC. -

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tribuidora de títulos e Valores P_.:=�.o --"-'- o�"'.__� ._ . '::J,:çvnOJ"" _ I

Imobiliários S.A. -, que totali- edldo de diária para a camp;--nhd---- ....",.. " " ....____j

zava 750 ORTNs ou exatamente '

a o PDS ._=-.

636 mil cruzados em valores dehoje.Njl área-de operações, prosse­

gue o voto da CODESC, há inú­meros casos de deferimentos ir­regulares.de Operações de Cré­dito, muitas vezes à empresasinexistentes, que foram todasbater nas contas de "prejuízo"nos balanços de 86 e 87. E final­mente, há ainda os casos deapropriação de recursos do ban­co para cobrir gastos de ativida­des do Partido Democrático e

Social (PDS), tais como reu­

niões com bancadas de vereado­res, congressos estaduais, cujaliberação era autorizada pelopróprio Carlos Passoni Jr.

Propostas do SindicatoOs sindicatos de bancários do

estado têm denunciado, insis­tentemcnte, todas estas ques­tões, argumentando que o fun­cionalismo do Besc não pode ser

responsabilizado pelos desman­dos administrativos e pela cor­

rupção, que debilitaram, o ban­co. Os bancários defendem uma

posição baseada na punição dosculpados pelo rombo, não fecha­mento de agências, auditoria pú­blica para apuração de responsa­bilidades e garantia de empre­gos. Nesta, última proposta, o

Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Sócio-Eco-

• ReprOduçõeS/Zero,

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'JUN '19fJ5

a"f ";'''��".'.� 'II

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nômicos (DIEESE) apresentouum estudo comprovando a com­

patibilidade entre o número defuneóonãrios do Besc - 6 mile 500 empregados e a sua estru­tura de agências - 216 no total.Portanto, dizem os sindicalistas,não existe fundamento técnico­administrativo para redução doquadro.

pressão, nos quais o banco pagaapenas 50% dos direitos. Alémdissó, o fantasma da demissãoem massa, propagado pelo pró­prio governador Pedro Ivo, temmorado em cada agência doBesc, no último ano.

Até q final de março o SistemaBesc volta ao controle do esta­

do, com a nomeação de um novo

Conselho Diretor. A composi­ção da nova diretoria - agorade 14 diretores e não os 44 daépoca de Passoni --:- deve colo­car um ponto final na história.Pedro Ivo fica com a presidênciae com as diretorias que envol­vem recursos humanos: ao BCcabe as diretorias operacionaise financeiras.

Diretoria MistaO resultado operacional do

Besc no ano de 87 foi superior '

a 1 bilhão e 200 milhões de cru­

zados: No balanço que será pu­blicado até o final de março, estevalor cai sensivelmente, em fun­ção das provisões para paga­mento das multas aplicadas peloBanco Central do Brasil.

_

Esse lucro, lugar-comum no

sistema financeiro nacional, éresultado de toda uma políticade recuperação mercadológica- marketing ofensivo - finan­ciada por polpudas injeções derecursos públicos, repassadospelo BC. E nessa história de al­tos lucros, os funcionários paga­ram a conta convertida em cen­

tenas de demissões indiretas -

transferências compulsórias pa­ra o interior -, aposentadoriasforçadas, acordos feitos'soh

Samuel p', Lima

O rombo não deu pano prasmangas como previam os arau­

tos do PMDB. O momento é decosturar um velho paletó, coma participação de todas as partes,repartir os cargos e abotoar maisum golpe de colarinho brancoà sociedade catarinense. Al­guém se importa?

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NOVA POSrURA

Foto: Flávio CanalongaNeja

Traje recomendável para muitas mulheres

Delegacia da Mulherganha confiança e

amplia atendimentoso primeiro movimento de re­

percussão social desencadeadopelas mulheres aconteceu dia 8de março de 1857, em Nova Ior­que, quando 127 operárias fo­ram incendiadas dentro de uma

fábrica, durante um protestocontra a jornada de 16 horas detrabalho diárias. Somente 53anos depois, na mesma data, foioficializado o Dia Internacionalda Mulher.

Este foi o começo de uma luta

que, com o passar dos anos, con­tinua. Hoje a mulher ainda é ví­tima de preconceitos na sua vidapessoal e principalmente na área

profissional, onde o homem ga­nha em média 20% a' mais do

que amulher, exercendo as mes­

mas ocup�ções técnicas.

Alguns historiadores, atravésda análise de desenhos feitos no

interior das carvernas, acredi­tam que na Idade da Pedra a

mulher, por gerar filhos, era

'considerada mais forte. O ho-mem era submisso à sua condi­ção e, só quando descobriu ter

um papel fundamental na con­

cepção dos filhos, ele desmiti­ficou a mulher e, sob o uso docassetete da pedra, a intimidou.Vale lembrar que, apesar de

não estarmos na Idade da Pedra,. há homens que continuam usan­--

do de violência contra a mulher.Com o propósito de baixar esteíndice e garantir os direitos femi­ninos, foi criada a Delegacia daMulher. Em Santa Catarina, elafoi instalada na capital, em se-

tembro de 1983. A Delegacia (6?DP) fica na Av. Mauro Ramos,em frente ao banco redondo.A delegada Ester Coelho Car­

doso Biz que seu trabalho "estáum pouco mais fácil", agora quepode contar com a confiança dasmulheres e da sociedade. "An­tes as mulheres não procuravama Delegacia por medo de poste­riores agressões, ou mesmo pelafalta de confiança na seriedadedo nosso trabalho. No entanto,as que nos procuram, hoje, ml¥\­tas vezes retiram suas queixas nahora em que elas são levadas ao

Tribunal", explica Ester: O tra­balho da Delegacia então é pre­judicado e esse tipo de atitudeacaba contribuindo para o au-

mento da violência.'

O 6? DP conta com algunsPM's para dar apoio, mas o tra­balho feminino se restringe à

parte de atendimento, registrode queixas, e situações burocrá­ticas. Faltam carros e pessoal es-pecializado.

.

Entre janeiro e março, o 6? DPatendeu; em média, dois a trêscasos por dia, sendo a maioria(99%) agressões físicas. Os ca­

sos de estupros raramente sãodenunciados. Segundo Ester, a

mulher não dá queixa de estupropor receio de ser ridicularizada

pela sociedade, além do medode ser violentada novamente.

Roberta M. Miranda

Cresce na Ilhabusca ao ensinoalternativoAumenta o número de pais que procuramnovas opções de ensino para seus filhos.Florianópolis oferece quatro chances

'uma das principais caracterís­ticas das Escolas Alternativas éo respeito que elas têm pelo rit­mo próprio do desenvolvimentoda criança. Além disso, nessas

escolas as professoras não sãochamadas de "tias", mas pelonome, tornando a relação aluno­professor uma relação de ami­zade."Nas escolas tradicionais o

professor transmite o conheci­mento aos alunos. As criançassão consideradas uma vasilha:Há uniforme, as professoras sãochamadas de tia, uma metodo­logia específica", explica um. osdiretores da Escola AlternativaSarapicuá, que fica no CórregoGrande. Essa escola surgiu em

1981 através da reunião de um

grupo de professores da univer­sidade que não queriam colocarseus filhos nas escolas em queestudaram quando Crianças, e

além disso, queriam participardo processo educativo dos fi­lhos.A escola, na verdade, é uma

Associação de Pais e Professo­res. Todas as decisões como sa­

lário dos professores, demis­sões, aumento das mensalida­

des, são tomadas em assem­

bléia, e é feita também a eleiçãoda direção de ano em ano. Na

contratação de professores nãose exige uma formação superior.O professor se enquadra na me­

todologia da escola participandodas reuniões pedagógicas e dos

grul?os de estudo. Os pais se_ or­garnzarn formando cormssoes.

Existe a Comissão da Saúde, dasFinanças e a que se ocupa da

organização das festas.A escola possui uma biblio­

teca onde são guardados os li­vros de histórias, um museu on­

de ficam animais dentro de vi­dros (ratos, cobras e outros) e

uma oficina onde se trabalhacom argila, madeira e sucata. Hádias em que as crianças vão paraa cozinha e fazem sopa, pizzaou outra comida para o lanche.Mas cada escora é alternativa

do seu jeito. A Associação daPraia do Riso que fica em Co­

queiros, era uma escola particu­lar e há um ano virou uma-asso­

ciação de pais e professores. Aparticipaçã<;> d.os pais nã? é tãointensa.' Diariamente ha bate­

papos no portão e sempre queé preciso os pais são chamadosna escola para conversar sobreos filhos. Há também reuniões

pedagógicas mensais ou qua�doos professores sentem necessida­de de maior troca entre eles.A escola tem desde 1987 o pri­

meiro ano, além da pré-escola,maternal e jardim. Agora já tem

o segundo .ano e logo-logo have­rá o terceiro. No pnrneiro ano

Este modelo educacional está em xeque

o currículo é o mesmo das esco­las comuns, o que é diferenteé o método conio é aplicado. Se­gunda Tânia, coordenadora dapré-escola, não há aulas exposi­tivas e não se trabalha com as

tradicionais cartilhas. "As crian­

ças aprendem através da pesqui­sa e da descoberta". Um, exem­plo é a forma como é trabalhadaa questão da páscoa. "Tentamosresgatar o sentido histórico e fol­clórico. O lado religioso tambémexiste, mas não é colocado comouma verdade absoluta.""Não se agrada todo-mundo",

diz Bernadeti Zanetti, a Deti­

nha, uma das diretoras da Esco­la Vivência. Ela conta que jáaconteceu de pessoas se desa­

pontarem com a escola, acha­rem um absurdo e tirarem seus

filhos .. "Isso acontece com paisque não têm nada a ver com a

escola." Detinha, professora dehistória e Keka, pedagoga, fun­daram a escola em 84. No inícioalém de administrar. eram tam­bém professoras e aos sábadose domingos ajudavam na limpe­za. Desde o ano passado cuidamapenas da parte administrativa.Trabalham com crianças a partirde dois anos até os.seis.Eles possuem uma horta, mu­

seu, viveiro, o oficina criativaalém de um professor de música.No ano passado, a Escola Vivên-

cia montou um projeto que foienviado para a prefeitura de Flo­rianópolis na tentativa de conse­

guir verbas para participar deum projeto piloto sob a orien­

tação da Escola da Vida queatua lia cidade de São Paulo, de­senvolvendo um trabalho de al­fabetização na linha de EmíliaFerreiro. Emília Ferreiro faz umestudo sobre o processo de alfa­betização tentando relacionar a

lógica da criança com níveis de

aprendiza,do.A Escola Vivência oferecia em

troca repassar os conhecimentosadquiridos em São Paulo paraos coordenadores das escolasmunicipais. A verba não foi libe­rada. Há o cuidado permanentede promover cursos para os pro­fessores que também se formamdentro da escola. Há um pai psi­quiatra que trabalha a questãoemocional dando uma assistên­'cia a nível idos professores. Osonho de Detinha é ter um terre­no maior, onde haveria todo o

tipo de criação e fosse possívelcontinuar com a proposta da .es­

cola: permitir que a criança te­

nha um grande número de expe­riências e, através delas, capteos conhecimentos.

Arley R. Machado

"

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SEGREGADOS

Movimentos negrosquestíonama festapela abolição oficial .."Decreto n� 3353, de 13 de

maio de 1888, que extinguea escravidão no Brasil"."A Princesa Imperial Re­

gente, em nome do Impera­dor o senhor D. Pedro II,há por bem sancionar e �an­dar que se execute a seguJI�!eResolução da AssembleiaGeral:

_

"Art. 1�"""": E declarada dadata da presente lei, extintaa escravidão no Brasil"."Art. 2� - Revogam-se as

disposições em con�rário.Rodrigo Augusto da Silva doConselho de Sua Majestadeo Imperador, ministro e se­

cretário do Estado dos negó­cios da Agricultura, Comér­cio e Obras Públicas, assimo tenha entendido e faça exe­cutar.Palácio do .Rio de Janeiro

em treze de maio de 1888 -

Izabel, Princesa Imperial Re­gente. Rodrigo Augusto daSilva".

.

Os 100 anos de Lei Aurea,essa comemoração toda',vem, de forma subjetiva, di­vidir o movimento negro. Elanão tem apenas um caráterfestivo do reconhecimento da

abolição, maspossui uma co-notação política. .

O movimento negro não é

umaorganização de ação úni-. ca. A meta de todas as orga­nizações negras é o combateao racismo, embora cada gru­po tenha um estilo de ação.Algumas-não estão festejan­do a abolição mas outros cer­tamente vão comemorar, en­trando dentro do projetão de

comemoração e isso causa 5lruptura do movimento. Euma ouestão ideológica.A nível nacional foi deter­

minado por esses grupos umamarcha de protesto no diatreze de maio, como formade não comemorar o feriadoda Lei Áurea. A morte doúltimo líder do Quilombo dosPalmares, Zumbi, representaa resistência do povo negro.·Explica-se, então, o porquê.da escolha do dia vinte de no­vembro para o feriado. Dessaforma o que é passado atra­vés do treze de maio é uma

liberdade que não aconteceu.História

A história oficial do Brasilnão falha apenas' no que se

refere ao negro: A escoladentro de uma sociedade ca­

pitalista tem como função re­

produzir as relações de ex­

ploração. Os dominados são

aqueles indivíduos que histo­ricamente trazem o estigmade serem inferiores e que nãoé por coincidência que são

negros, mestiços, ·nordesti­nos e mulheres os premiados.Desde a pré-escola se tra­

balha muito em cima da cor

Ele é maioria na pcpulação e sabe

negra. A criança não vê o an­

jo negro, não vê a fada negra.No entanto, o boi que vem

pegá-la é de cara pretaja noi­te, é assustadora, e é preta.O indivíduo pobre não temcondições econômicas parase manter em uma escola, e

.o negro é pobre. No primeirograu existe um número con­

centrado de negros, mas até

chegaram à universidade estenúmero se torna irrisório.

Jerusi, mestrada em edu­cação, nos conta que quando,foi à biblioteca fazer sua car­

teira; a funcionária não acre­

ditou que ela, uma negra,cursava um mestrado e até

ameaçou ligar para a sécre­taria de educação a fim deverificar. Paulino, estudantede história da UFSC diz quenegro é visto como pobre,feio, sujo, marg�l e vai poraí. .. Deixar de ser negro, as­cender socialmente, significadeixar de ter comportamentonegro e para isso é necessário

passar a assumir todos os pa­drões de comportamento dasociedade branca. "Se vocênão corresponde a esses pa­drões, você passa a ser rejei­tado" .

Ivan, integrante do Núcleode Estudos Negros fala queas pessoas tentam insistente­mente despojá-lo de assumirsua posição como negro. "Eusempre fui encarado-moreno,

como forma de amenizar o

preconceito" .

MulherA mulher negra sofre uma

discriminação tripla, no sen­

tido em que é pobre, negrae mulher. Durante o séculodezenove e todo o período de

• escravidão, as negras manti­nham relações com seus se­

nhores. Enquanto senhor ho­je, ele continua mantendo re­lações com as negras, mas a

relação de casamento é com

amulher branca. No próximodia trinta de abril, vai acon­tecer uma reunião estadual

para refletir a questão da mu­lher negra no contexto social.O evento vai ser em Floria-

nópolis..

Seja para o homem ou paraa mulher negra continua a lu­ta pelo direito de ser negro:

- "Nós não temos históriadentro do contexto brasileiroe o que passa do negro é queele ere pacato, passivo e acei­tava com resignação a escra­

vidão. O resgate da data devinte de novembro se deveao fato de que Zumbi não'morreu. Não vamos come­

morar o dia de suamorte mas

o dia em que à gente forta­lece. É urna-data de resistên-cia" .

Negros do Brasil

Rozana de Moliner eSabrina Franzoni

, J

09 de dezembro de 1987: gru­pos de palestinos revoltados coma repressão que vinham sofren­

do, começaram uma série demanifestações nas ruas dos terri­tórios palestinos ocupados portropas israelenses desde 167

(Faixa de Gaza e Cisjordânia).Em apenas 102 dias, já morre­

ram 100 palestinos, vítimas dasbalas do Exército israelense.

Agora morreu O primeiro solda­do de Israel com dois tiros, os

primeiros disparados pelos ma­

nifestantes. E Israel reaje: "Vaihaver represálias".Mesmo assim, as'autoridades

israelenses começaram a temer

por ul)l levante armado dos ára­bes. E sabido que até agora os

palestinos haviam se defendido

apenas com paus, pedras e gaso­lina. Por este motivo, os solda­dos receberam ordens para ati­rar - não mais nas pernas -

em quem oferecer "ameaça" aoExército. Desta forma eles pre­tendem evitar uma "revolta ar'

mada", que, na verdade, nãotem a menor chance de aconte­cer. A população não possui ar­mas de fogo. Além do territórioocupado, os palestinos não têmcomo .se defender, quanto maisatacar.

Dia da-Terra ,

.

Outro fato que vem preocu­pando os sionistas, é a greve ge­rai decretada dia 30 de março.

.

Neste dia os palestinos comemo­ram o Dia da Terra, que lembraos sangrentes distúrbios ocorri­dos na Galiléia em 1976 quandopalestinos protestam contra a

desapropriação de suas .terra�.Esta greve geral conta, inclusi­ve, com o apoio do Partido Co­munista Israelense (Rakha) e daLiga Progressista da Paz.

Enquanto isto, a repressãocontinua solta em Israel. Depoisde invadir o Hospital de Rama­lah, com a desculpa de que aliestava montado um quartel ge­neral dos manifestantes. Isso tu-

Luta territorial ou raciál?

do. porque de seu telhado .foramvistos algumas pessoas agitandouma bandeira palestina. Foi de­cretada também a ilegalidade daA-Chabiba (juventude em ára­

be), uma organização estudantil

palestina, sob a alegação de queeste grupo estava disseminandoa "subversão" nas escolas da

Cisjordânia e Gaza.Plano de Paz

Parte interessada no conflito, cisEstados Unidos mandaram ao

Egito o enviado especial Philip.Habib para buscar apoio dosárabes ao plano de paz feito pe­los norte-americanos. Porém,antes mesmo que as negociaçõesesquentem, o plano já está fada-

_

do ao insucesso. Primeiro por­que é época de eleição em Israele só o novo governo deverá to­

mar alguma posição concreta.

Segundo que o órgão oficial pa­lestino, a OLP, está sendo deixa­da de fora das conversações.Além disso, a situação do Orien­te Médio só vai se resolver paci­ficamente caso Israel devolva os

'territórios ocupados aos palesti­nos. Como isto nunca acontece­

rá, os árabes continuarão a se

manifestar cada vez com mais in-tensidade.

.

OLP, Ausente!O que mais chamou a atenção

no inicio das' manifestações foia ausência da OLP, que se man­

teve afastada dos conflitos e quesó agora começa a entrar no

bonde, mais sem pagar passa­gem, de carona. O movimento

começou com a revolta da popu­lação, veio de baixo. Assim,tem-se a certeza de que o povoestá mobilizado e unido.Daqui para frente, ninguém

sabe o que pode acontecer. Sóuma coisa é certa: os conflitosdevem se arrastar até que uma

solução seja dada ao povo pa­lestino.

Ismail Ahmad Ismail

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Polêmica: beijo dá AIDS?

Na opinião de muitos infecto�logistas, as afirmações do casalMarsters e Johnson não tem ne-

Masters &

Johnsondizem sim

As revelações contidas no li­vro Crisis, dos pesquisadoresnorte-americanos William Mas­ters e Virgínia Johnson, afirmamque através do beijo na boca po­de se contrair AIDS. A célebredupla de terapeutas sexuais estásendo, agora, bombardeada porespecialistas que contestam a va­

lidade científica do trabalho. Olivro causa polêmica, pois os

.

pesquisadores alegam que a con­taminação pelo vírus não efetua

apenas através de relações se­

xuais e uso compartilhado 'de

agulhas intravenosas. O bejio na

boca deu uma nova dimensão àAIDS.

O livro de Masters e Johnsonbaseia-se num estudo realizadoentre 800 voluntários, homens e

mulheres de 21 a 40 anos. Elesprocuraram pesquisar um con­

tingente fora dos chamados"grupos de risco". As pessoasforam divididas em dois grupos,400 que tiveram relações mono­gârnicas e igual número que tive­ram, no mínimo seis parceiros.

Os dados indicam que 7% dasmulheres e 5% dos homens he­

terogâmicos estavam infectados,contra 0,25% de monogâmicosque têm probabilidade de con-.trair a doença. As conclusões a

que chegaram foram que as

chances de contágio entre os he­terossexuais são·muito maioresdo que se pensa e a fragilidadedo tecido inferior da boca (sujei­to a cortes e a outros ferimentos)faria do beijo um perigoso meiode transmissão do vírus.

NOV� AMEAÇA?

Foto: Chisson/Gamma-Liaison

cientes muito avançados.O estudante de Economia da

UFSC, Carlos Alberto, achaque é somente uma maneira en­

contrada pelos dois pesquisado­res de venderem mais livros. Pa­ra ele AIDS não é preocupação,"pois tenho minha companheiraa 2 anos e confio muito nela".E além do mais "os meios decomunicação sempre aumentammais do que é, dando uma visãosensacionalista dos aconteci­mentos".

Em entrevista com o presi­dente do GAPA (Grupo deApoio e Prevenção à AIDS),Rui Iwerstn, falou sobre a doen­ça e a atuação da equipe no Esta­do. A entidade, que reúne pro­fissionais em geral (principal­mente ás da saúde) e outros vo­

luntários que estejam interessa­dos em trabalhar com portado­res do vírus e com sua família.O GAPA funciona através dequatro subgrupos: prevenção,apoio, eventos, estudos e pes­quisas.Mas há uma preocupação. A

entidade ainda não teve tempode chamar a imprensa e dar-lhemaiores informações sobre o as­

sunto, para que injustiças não

sejam cometidas. E dizer-lhesque: "AIDS é uma doença quetem um estigma social muito

grande". Assim, o trabalho dedivulgação em Santa Catarina

Mas o debate em torno do"beijo na boca" não é de formaalguma sensacionalista. O casalfez muitos trabalhos sérios. Em1966 publicou o livro "ReaçãoSexual Humana" (estudo sobrea fisiologia e a anatomia da ativi­dade sexual humana observadaem laboratório) leva o médicoWilliam Masters e sua esposa,a psicóloga Virgínia Johnson, aoreconhecimento internacionalda comunidade científica. Aoressaltarem, em 1979, conversão

está atrasado, dando margens a

manchetes que criam um falsomoralismo, como o que aconte­ceu em Itajaí. Lá uma notíciaveiculada por um jornal, fez comque os travestis e prostitutas pas­sassem a ser apedrejados. Alémdisso a imprensa divulgou uma

lista com nomes e fotos de pes­soas portadoras ou doentes deAIDS. E caça às bruxas - mes­

mo.

TESTE NÃO É DEFINITIVOÉ necessário que todos' sai­

bam que o-fato do primeiro testeter dado positivo não significaque a pessoa esteja doente. Paradetectar o vírus são necessáriostrês testes, o primeiro é o citado.anteriormente, após tem o deimunoflorecência e por último o

teste comprobatóno, que é o

wester plood.O Dr. Rui ressalta ainda que

a AIDS já é considerada uma

GAPA querflm do preconceito

de homossexuais em heterosse­xuais e surpreendem psiquiatrase psicoterapeutas com a decla­ração que "da mesma forma quea pessoa aprende a ser homos­sexual, a pessoa pode desapren­der". As pesquisas do casal sem­pre foram polêmicas, mas com

o "beijo na boca" eles decola-:ram.

.P12 ZERO',

(/

-- -

MAR/88-

Masters & Johnson:oportunistas ou

equivocados?

nhum embasamento ou doeu­rnentação cieutífica. MortonSheinberg, imunologista, afirmaque os dados apresentados no

livronão levam a conclusão deque realmente "ocorra contami­nação durante o beijo na boca" ..

O diretor interino da Divisãode AIDS do Ministério da Saú­de,.Pedro Chequer fala que "es­tá comprovada a existência dovirus da AIDS na saliva, suore lágrima" mas ressalta que a

contaminação só se daria ern.pa-

Analú Zidko e

Sabrina Franzoni

pandemia (uma doença queatinge. todo o globo terrestre).E declara: "Não há país que pos­sa dizer que não tem AIDS."Quanto à questão do beijo o mé­

dico diz que: "Para que a doençaseja transmitida é necessário queo vírus caia direto na.correntesangüínea, o que não é permi­tido pelas mucosas do corpo hu­mano, inclusive a bucal."Para aliviar as críticas à im­

prensa o Dr. Rui afirma que a

mesma tem ajudado e muito na

divulgação dos trabalhos pre­ventivos. E os cita que são: "osque incluem as ações individuaiscomo o uso da camisinha; a açãodos grupos, com filmes e pales­tras e o geral, como a boa saúdeda população."

Denyris Rodrigues

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Os espelhosdeformados dávida, em Genet,Fassbinder e.Pasolini

Um fabricante de chocolate pla­neja matar sua sósia para fugir como dinheiro do seguro e sua mulher

gorda. Um industrial grita desespe­rado no deserto depois de doar suafábrica aos operários. As duas damadrugada, em um bar do subúrbio,uma bicha toma calmamente um

chá. É a mesma atmosfera decaden­te, o mesmo amor à vulgaridade,rondando a obra de três criadores:Rainer Werner Fassbinder, PierPaolo Pasolini e Jean Genet. Doiscineastas e um escritor, três homos­sexuais, o mesmo mundo mórbidoe decadente."Cheira a intestinos e esperma é

leite", era o que o amigo Sartreachava da obra de Genet. Preso di­versas vezes, em uma delas pergun­tou se seus livros não seriam sempreum pretexto para mostrar um solda­do de azul, um anjo e um negro jo­gando dados em uma prisão. Aca­bou mostrando muito mais. Acabou

questionando, com seu mundo deprostitutas, cafetões e homosse-

.

xuais, as contradições e aberraçõesdo pensamento moderno.

.

Em todos os três, a paixão e a

Brigitte Bardot: costume não é de "país civilizado"

CADERNO

violência, o amor e a morte. Anjosque viram demônios e demônios queviram anjos. "E essa palavra me in­

quieta, me seduz e me repugna. Seeles têm asas, também têm dentes?"Pergunta Genet. "Querelle" é sua

única obra levada às telas, pelo tam­bém maldito Fassbinder, que carre­

ga de amargura e ironia os discursosdo escritor francês sobre o compor­tamento social.É a mesma paixão dominada por

obsessões. A decadência como um

triunfo sobre a sociedade que enter­

ra, nos subúrbios, seus verdadeiros

desejos. São os mesmos marginaismachos, violentos e doces, beatifi­cados em segredos no útero da mãe."Sou um escandaloso namedida em

que estendo um cordão umbilical en-'

tre o sagrado e o profano". Em"Teorema", talvez o mais polêmico .

de seus filmes, Pasolini fala de uma

nova civilização que se vai erguerdo deserto, de um homem quasedeus, que surge depois do apareci­mento de um anjo que transa com

seus filhos, sua mulher e sua empre­gada. Italiano, processado várias ve­zes por baixeza moral, Pasolini mor­reu em circunstâncias estranhas em

75. Da crítica mais ferrenha a estestrês malditos, a de que mostram a

realidade através de seus espelhosdeformados. Será?

Monique Vandresen

Demônios'•

que viram•

anjos

i MAR/88.__

.

Z�RO Pt3

J

Diáriofaloubem ...

o número especial do Zero, o Do-� cumento, editado em dezembro de87, ganhou críticas severas de um

colaborador do jornal O Estado.Mas houve jornalistas que concluí­ram pelo contrário. Como demons­tra o texto 'publicado dia 13 de janei­ro nocaderno Variedade, do DiárioCatarinense, (cujo têxto reproduzi­mos) abaixo do título, "Os meninosprometem ... ": "Uma ótima safra denovos jornalistas está a caminho, a

julgar pela última edição do jornallaboratório do Curso de Comunica­ção Social da Universidade Federalde Santa Catarina, o Zero. Toda de-

'

dicada a realizar' "um mergulho no

passado, na gente, costumes e luga­res de Florianópolis", o Zero-Do­cumento está simplesmente o máxi­mo, passando em revista todos os

lugares e aspectos que já entraram

para o folclore da cidade. Um traba­lho de pesquisa digno do Globo Re­

pórter. O jornal é elaborado pelospróprios alunos, com edição, coor­denação e supervisão dos professo­res Henrique Finco e Ricardo Barre­to, e distribuído gratuitamente na

Universidade". Aléfn da redação docaderno, o colunista Cacau Menezestambém elogiou esta edição e a ante-

.

rior. A equipe do Zero agradece.

A Farra do Boiincomoda atéBrigitte Bardot,

, .

A Farra do Boi cruzou fronteirase chegou aos ouvidos de urna das'maiores defensoras da preservaçãoda vida animal, a atriz francesa Bri­

gitte Bardot. Segundo a'FrancePress, a atriz enviou uma carta ao

ministro Paulo Brossard, em abrildo �<ilO passado, protestando contra

a tradicional festa que acontece to­

dos os anos em grande parte do lito­ral de Santa Catarina,

..

Brigitte Bardot criticou '!- festa di­zendo que "isso não é digno de um

país que se diz civilizado", Mesmo'

generalizando, suas declarações sur­tiram efeitos e desde o ano passadoo governo proibiu a realização da

farra, embora os moradores do lito­ral continuem li sacrificar o boi, des­respeitando a medida.

A Farra do Boi é realizada todosos anos entre o Carnaval e a SemanaSanta. Originalmente era feita com

bodes, herança de um costume ju­deu que os espanhóis trouxeram pa­ra o Brasil - daí a expressão "Bodeexpiatório" - hoje, com a substi­

tuição do animal, a festa se desen­rola num ritual bastante sádico quetermina depois da tortura do boi,com um grande churrasco.

Ewaldo W. Neto

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Heavy radical',ganha força .emFlorianópolis

Há algo diferente no ar... Amedida que nos. aproximamos.de uma pacata rua no Estreito,sentimos o som aumentandovindo de uma garagem. Lá, a

temperatura já passa dos limitesdo 'inferno, e .cinco gladiadoresestão num regozijo metálico.Estamos falando do Scaffol­

death, banda heavy metal for­mada em janeiro deste ano, queconta em suas fileiras com San­dro (vocais), Richard (baixo),Alexandre e Miguel (guitarras)e um baterista anônimo. A ban­da faz um som poderoso, comvisiveis influências de grupos co­mo o Metallica, Iron Maiden e

Helloween, e até um pouco demúsica clássica, o que torna o

Scaffoldeath diferente de tudoo que se fez até agora em maté­ria de som pesado em Florianó­

polis.No começo, tudo foi difícil.

O grupo precisou tocar música

"pop" em bares da cidade, paraarrecadar algum dinheiro. Hojeisso faz parte do passado e a ban­da está em plena ascensão, mos­trando muita garra e sintonia porparte de seus integrantes. A pro­posta do Schaffoldeath se ex­

pressa muito bem nessa decla­

ração do guitarrista Miguel:"Nossa banda e nossa músicanunca vão se prostituir a pontode executar temas fáceis e des­

cartáveis, apenas. para agradarmaioria leigas no que se refereao conhecimento musical. Pre­tendemos agradar ao públicocom a nossa competência instru­mental e com a fé no heavyme­tal, que é o estilo de rock quecontém os mais talentosos e

conscientes músicos".

Ozias Tormentor'

I • GELÉIA GERAL

Seção CardiológicaQuerida Madame Calandra,Sou solteira, 37 anos, filiada

ao PFL e estou atravessando.uma terrível crise: me apaixoneipor um membro do MR-8. Oque faço para atingir uma felizcoligação carnal com meu novo

amor? Conto com seu lobby.Ass.: Alzirinha Hermes' da

Fonseca Peixoto

R.: Querida Alzirinha,Sua' carta carece de informa­

ções mais concretas para que eu

possa dar um conselho baseado,

pi� 6(/£ AliojElL fu11J�.. •

���

fininho e fundamentado. Me di­ga, fofa: o membro já se embre­nhou em florestas úmidas? Eleé rígido ou flácido quanto aosconceitos políticos? Como elereage diante de uma Frente Li­beral desinibida? Não se deses­pere, querida, a glasnost veio­para ficar. Pra você eu receitouma solução infalível que apren­di durante a Constituinte de 46e que continua válida até hoje:minha filha, o negócio é manipu­lar. Vá com jeito, use o talentoda direitâ e boa sorte.

... t ES>é· fJlI1S �AíjJCX /.lESEAfff.

)

Nino Noya

Soneto do calouro

Queres ser jornalista polític� de primeira?Autor brasileiro do novo Watergate,derrubando ministros por simples deleíte'[Pois não passarás de Moacir Pereira!Ou, Cebolinha, é espolte o que plefek ,1?Ser mistula de Sandlo Moleyla e João Saldanha,esclever clônicas com elegância e manha?Pois semple selás urn J. B. Telles!Então é na cultura que entornarás o caldo?Lido como Paulo Francis, dos livros dando o caldo?Pois teu futuro é ser Janer Cristaldo!Não? ... apelas para a coluna social?Sonhas, tal qual �ózimo, dar a nota quente e atual?Pois morrerás igual Cacau!Olávio Bilaquio

Tumor Maligno-perde guitarrista,'mas vai à luta

Ano: 1986. Cenário: pátio doInstituto Estadual de Educação.Dois jovens, insatisfeitos com a

monotonia reinante no meiomusical ilhéu, resolvem criaruma banda punk.Para fazer a sua primeira

apresentação em púbhco, apro­veitaram-se do clima de eleiçõesque havia se instalado no colé­gio, fazendo a cabeça do candi­datei oposicionista para deixá-lostocar. Neste dia, eles contavam

apenas com os integrantes MW­ceIo Ricardo (guitarra) e Fer­nando Trevas (vocal), conheci­dos respectivamente como Ale­mão Putrefação e Maligno (sen­do este último, também, o nome'da banda) e com o apoio de doiscomponentes do grupo Vísceras- Andrei e Robson - que ao

ver o número de conhecidos na

platéia permitiram que o nervo­

sismo falassem mais alto, dei­xando o então Maligno na mão.Na hora H eles tiveram que re­

correr à "colaboração" de um

baxista de formação heavy,Gean, e de Keka, que de bateriaconhecia pouca coisa. Este fatí­dico e calamitoso show aconte­ceu no dia 27 de novembro de1986.Passado este episódio, a ban­

da passou por um período de re­

formulação, abrangendo novas

músicas e a inclusão de um bate­rista, Gordinho. Até que no dia16 de junho de 1987 o grupo par­ticipou de Juni Rock Festival,apresentando duas músicas deAlemão: "Vamo Fumá Baru­lho" e "total Destruição". Após

esta apresentação, o nome- dabanda mudou para Tumor Ma­ligno e o seu guitarrista transfe­riu-se para o conjunto gaúchoAsgardh.No dia 13 de novembro, coin­

cidentemente uma sexta-feira, oTumor Maligno cometeu maisum show, novamente no Insti­tuto Estadual de Educação,mais uma vez com a sua forma­

ção alterada: Dani (baixo), Tre­vas (guitarra e vocal) e BianoKill Masturb (bateria). O resul­tado foi uma debandada deaproximadamente 80% dos ou­

vintes, na sua maioria boyzinhose new wavers .

As letras da banda abordaramos mais diversos temas sociais,Uma das que mais ilustram este

exemplo é "A Culpa é do Sar­ney": "Essa inflação/Eu não sei/O salário mínimo/Eu não sei/Dequem é a culpa?/A culpa é doSarney". Outra tendência dassuas letras é ridicularizar a atualsociedade, como em "Surfista deFloripalVocê é um ... artista".O Tumor Maligno está cons­

ciente da situação punk no Bra­

sil, sua não aceitação e poucadivulgação, mas espera vencer

as dificuldades e partir para uma

excursão em julho, pelas cidadesde Brasília, Goiânia, Rio de Ja­neiro e São Paulo, finalizandoem Porto Alegre, onde têm es­

peranças de encontrar e recupe­rar o seu guitarrista dissidente.

O chiquérrimo casal Sampaiofoi visto nesta semana freqüen­tando os salões do CastelmarHotel. Acompanhado de um

grupo de amigos bissexuais, elesembriagavam-se com uma classefora do comum Na pauta dasconversas, Sérgio e Mara Sam­paio combinavam as melhoresposições do Kamasutra, com o

intuito de alcançar a performan­ce ideal na suruba daquela noite.Foi um luxo. Podre de chique.

Irradiando alegria depois devoltar de sua viagem ao Afega­nistão, o socialite Marinho Vei­ga trouxe consigo uma perna deum oficial soviético que haviacaído de um helicóptero ameri­cano. Marinho pretende usá-Ia

como destaque de sua exposi­ção, que conta ainda com outrastenebrosas surpresas. Quem vi­ver verá.Maravilhosamente vestida

por Fabinho, que entendidosqualificam como a reencarnaçãodo nosso querido ex-aidéticoMarkito, Gan Gan Vidal, desfi­lava na Vidal com seu boy aus­

. traliano que ela conseguiu raptardo último Hang Loose. O moço,devidamente algemado por GanGan, ainda tinha forças para fa­lar de sua especialidade - o

"cut-back" cavadão. I am thebest.

Ulysses Ribamar

J

Emerson Gasperin

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Fernanda arrebata outra vez

"Um trem de ferro é uma coisamecânica, mas atravessa a noite,a madrugada, o dia. Atravessouminha vida. Virei só sentímen­to". Com estas palavras, Fer­nanda Montenegro entrou no

palco do Teatro Alvaro de Car­valho, dias 21 e 22 de março, pa­ra apresentar Dona Doida - Uminterlúdio. O monólogo baseia-seem poemas e poesias de AdéliaPrado e tem direção de NaumAlves de Souza.Considerada a grande dama

do teatro brasileiro, Fernandaencheu o paleo com sua graçae tranqüilidade. Toda vestida de

'

azul e com a voz um pouco rou­

ca, ela interpreta uma DonaDoida que dilacera seu corpo edeixa nú seus sentimentos. Fer­nanda veio para Florianópolisem homenagem ao tombamentodo teatro Alvaro de Carvalho.Para isso teve que alterar o ca­

lendário de suas viagens com

Dona Doida, que só estavam

programadas para agosto. O in­teressante é que Fernanda tam­bém participou da reinaugura­ção do TAC em 1955, após o

teatro tersofrido uma grande re­

forma. Ela integrava o grupoTeatro Popular de Arte que in­terpretou a peça L'Alouette (OCanto da Cotovia). A estrela era

, "No palco nãotem sexo,

tem talento"

Maria bella Costa 'e Fernandatinha o terceiro ou quarto papel."Nesta época eu não imaginavao quanto avançariá em minhacarreira", diz a atriz.Dona Doída lotou o TAC nas

três apresentações. Foram colo-,

cadas cadeiras extras por todoteatro e ainda houve q,s que senta­ram no chão e os que ficaramde fora por falta de ingresso. Opúblico de Florianópolis, que nãoé freqüentador assíduo de teatroe que pagou 600 cruzados pela'entrada, estava bastante eufóricoe ansioso na fila de espera. Den­tro do teatro o calor era intensoe a maioria dos folhetos distri­buídos na entrada transforma­ram-se em leques improvisados.Fernanda considera a profis­

são de atriz "maldita e mágica".Para ela "o teatro é o umbigoda cidade, onde as coisas germi­nam, e é um lugar tão sagradoquanto à igreja". Ela tambémacredita que "no paleo não tem ,

homem nem mulher, tem talen­to".Em seu primeiro monólogo,

com o cenário improvisado mas

semelhante ao do Rio de Janeiro,Fernanda enaltece Dona Doida

DONA DOIDA

TAC só sentimentoNo reencon�ro com o ,

com uma interpretação singular. ,

A atriz não acredita que fal­tem bons autores de teatro atual­mente, "exceto sesó pensarmosem teatro padronizado, semprecom dois ou três atos". Fernan­da já interpretou peças de gran­des autores como Bernard Shaw(A profissão da Sra. Warren),Rainer Werner Fassbinder (Aslágrimas amargas de Petra VonKant), Racine (Fedra) e MiIlôrFernandes (E ... e O Homem doPrincípio ao Fim). Para Fernan­da "nada é fácil em teatro". "Noteatro não se pode contar só coma expressão facial, você tem querepresentar com, as costas tam-bém".

'

Em Dona Doida, Fernanda éAdélia. Seus olhos se enchem delágrimas e brilham como os as­

tros que tiritam, azuis, em nossa

madrugada, Adélia fala: "Deusnão me fez até a cintura parao diabo fazer o resto ... " Ela querum jeito novo de viver: "Comere não fazer jejum. Amar e nãofazer jejum. Amar sem jejum desentimento". Adélia é sensível:"A poesia é triste. O que é bonito

enche os olhos de lágrimas". Elanão concorda que a coisa maisfina do mundo é ir à escola: "A.coísa mais fina do mundo é o sen­timeIfto". Reclama: "Não queroser emancipada. Quero ser ama­

da", o que foi uma afronta àsfeministas. Adélia falado amorde menina: "Eu amava o amor

e esperava-o sob árvores, virgementre lírios". Exalta seu amor

porAntônio Castro Alves. Adéliagosta da humanidade, "em par­ticular da porção masculina dahumanidade" .

Dona Doida é um espetáculoliterário, muito profundo e querequer o máximo de atenção. Aexcelente iluminação conquis­tou o prêmio Moliere. As músi­cas de Lizt, Jessy Norman, Pac­co de Lucia e Chico Mário e a

atuação de Fernanda, não per­mitem que a peça, geralmentemelancólica, se torne monóto­na. Com excelente utilização doespaço cênico e domínio total daentonação de voz, ela interpreta.uma Adélia que arrebata suas

lembranças e se perde em deva­neios.

Adélia quer entender o muno

do: "É difícil entender as coisas.Um dia fiquei observando um

, abacaxi por muito tempo e che­

guei _à conclusão de que enten�iamais Deus do que aquela coisa

cascuda". Adélia tem desejos:"Quero comer o mundo e ficar

grávida, ficar gigante". Ela amaa vida: "A vida é de ferro e nãose acaba nunca". "O mar éimenso. Meu amor é maior ... Avida é tão bonita, basta um beijoe a delicada engrenagem movi-,menta".A peça Dona Doida - Um

interlúdio, está em cartaz no Riode Janeiro sob a direção deNaum Alves de Souza, um artis­ta que iniciou suas atividades em

1972 e já trabalhou como figuri­nista, cenógrafo, em artes plás­ticas e com seus próprios textos.A expectativa com a peça era

boa, mas segundo Fernanda,eles não esperavam tanto suces­

so. Por sua atuação em DonaDoida, Fernanda recebeu maisum Moliere. Para ela a. impor­tância de um prêmio está no afe­to e incentivo que ele exprime."Minha vida não está melhornem pior por eu ter recebido es­

te prêmio". Fernanda considerao paleo um lugar libertador:"Assim que a mulher pisa nele,

"Quero amar

semjejum desentimento"

"O palco épm lugarlibertador' ,

ela tem todo um espaço para si",diz ela.Na peça, Adélia comenta o ma­

chismo: "A vida é servidão. Des­cubro isso olhando meus sapa­tos". Adélia reclama da idade:"Juventude de espírito eu nãoquero ... Acho muito ridículo a

alma fazendo trejeitos". "Hojeenchi os olhos de lágrimas. Nãosou mais jovem". Relembra o fi­lho que saiu de casa para estudare escreveu para ela: "Mãe, estoudesesperado" . Recorda as noitesque passou com o marido lim­pando os peixes que ele pescou.Adélia ama o marido e fala: "Teamo, homem" , e chora. Recordasua mãe com nostalgia. Pensa nofuturo: "Não acredito que a hu­manídadese salvará por uma desuas classes ... Quero que me go­verne um homem bom, justo.Quero que chegue a noite e todomundo vá dormir cansado portanto trabalho que tinha para fa­zer e que foi feito". Adélia sonha:"O sonho encheu a noite ... Ex­travasou minha vida e é dele queeu vou viver, porque sonho nãomorre".

Entrevista a Ana Lavratti

MAR/88--� o

ZERO -

, PIS .,1

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IMPRENSA LIVRE

Na guerra de contra-informaçãomontadapelas agências norte-americanas, a

.

Nicarágua rompe o bloqueio e chega àsbancas com o órgão oficial da Revolução

Há quase dez anos a Nicaráguaestá em guerra. Primeiro foi Somo­

za, nas ruas e nos campos. Depoisvieram os contras nas montanhas de

Jinotega e, por último, a guerra da

informação, um inimigo que o fuzil

guerrilheiro não conseguiu enfren­

tar. Mas o Sandinismo contra-ata­

cou, o jornal "Barricada Internacio­

nal" mostra a face desconhecida da

nova Nicarágua."Barricada Internacional chegou

ao Brasil para furaro bloqueio inter­nacional das notícias nicaragüen­ses", comentou Leopoldo Saraiva,editor da versão em português, du­rante uma entrevista concedida no

Curso de Comunicação Social da

UFSC, no último dia 23. Em 24 pági­nas mensais, os brasileiros terão a

oportunidade de receber informa­

ções que não passaram na triagemdas grandes agências de notícias.

"Barricada", que significa trinchei­

ra, apresenta reportagens sobre o

povo, a economia e a guerra. Enfim,a versão sandinista da história ou se­

ja, o outro lado da guerra.Até hoje o leitor ficou somente

com a versão apresentada na grandeimprensa. Em junho de 79,-quandoSomoza estava de joelhos e os guer­rilheiros sandinistas corriam pelasruas de Manágua, os jornalistas de

aluguel reconheceram que havia

uma revolta popular e o brasileiro

ficou sabendo que a Nicarágua exis­tia. "Veja': n� 563, dias após a revo­

lução, estava mais preocupada com

o rumo ideológico do Sandinismo do

que' a realidade nicaragüense. Da

mesma forma, "Isto E" de 04.07.79questionava:

"... o que ocorrerá

após uma vitória sandinista? Umaditadura de proletariado? Um regi­me tipo chinês? Um socialismo ter­

ceiromundista à argelina? .. Quemvai afinal suceder Somoza, se se con­firmar sua derrota? ..

" A linha de

frente do jornalismo brasileiro dor­

mia, novamente, em berço esplên­dido.Somente alguns jornais alternati­

vos falaram a verdade. "Movimen­to" foi um deles. Em plena ditadurabrasileira, o melhor alternativoabriu a boca denunciando a Guarda

Nacional de Somoza como respon­sável por "um dos mais bárbarosmassacres cometidos contra a popu­lação civil em toda a história daAmérica". E foi mais longe, ao afir-

mar que o Brasil estaria fornecendoannas para o regime do ditador.

Respondendo às antigas indaga­ções da imprensa brasileira, Leopol­de Saraiva é categórico: "A revolu­

ção não é baseada em modelos res­

tritos, dogmáticos. O modelo sandi­nista é sandinista. Não se pode falarem sandinismo como produto acaba­

do, porque ainda o estamos cons­

truindo". E construir é a palavra de

ordem na Nicarágua. A capital, Ma­nágua, totalmente destruída por umterremoto em 72, com um saldo e

18 mil mortos, nunca mais se rer­

gueu. A Guarda Nacional vendeuprodutos que chegavam do exterior,enquanto Somoza embolsava os 250milhões de dólares da reconstrução.Nessa época, 46% das crianças mor­riam antes dos quatro anos e 60%das mortes ocorriam sem qualquerassistência médica. Saúde e educa-.

o

"Nossas idéias é querepresentam perigopara os americanos"

ção são agora prioridades, junta-mente com a guerra. r-

A Nicarágua investe hoje 50% doseu orçamento na defesa. Este volu­

me de recursos, se canalizados paraoutras áreas possibilitaria ao paísuma rápida reconstrução. "Temosque desviar metade de nossa mão­

de-obra para a guerra e estamos pa­gando um preço muito alto em vidas

humanas. Mas agüentaremos as

pressões até o fim. Nosso povo tem

dignidade, tradição de luta, e come­rá a metade do que precisar paravencer", explica Saraiva.

Nessa resistência, a imprensa ni­

caragüense é um fator vital. Durantea guerrilha, a "Rádio Sandino" era

a voz oficia1 dos revolucionários.Além dela, dezenas de jornais e pan­fletos clandestinos orientavam a po­pulação. Saraiva relata outra forma

de comunicação muito peculiar daépoca: o "boca-a-boca", passadodas frentes de combate até os pontosmais distantes do país. E foi dos jor­nais clandestinos que surgiu o mais

importante veículo do sandinismo:

o Barricada, órJ?;� oficial da FrenteSandinista de Libertação Nacional.

Além dele, estava na rua o "La

Prensa" - jornal fundado por Pe­

dro Joaquim Chamorro, jornalistaassassinado por Somoza - e que se

transformou num símbolo nacional.Em setembro de 87, após 15 meses

de censura, "La Prensa" voltou. O

governo sandinista, cumprindo um

acordo de paz, estabeleceu liberda­de de imprensa e permitiu que seu

maior adversário interno retornasse."La Prensa" foi fechado num dosmomentos mais críticos da revolu­

ção. Ele apoiava abertamente a aju­da de 100 bilhões de dólares que os

EUA estavam votando para ajudaros contras. O governo sandinista es­

tava em guerra, precisava defender­se de seus inimigos:', disse Saraiva

justificando o fechamento do jornal.Ele exemplifica ainda que hoje háuma guerra de palavras entre o "LaPrensa" e o "Barricada". Os jornaissão baratos e os leitores assistem a

várias versõs sobre o fato.

No Brasil, onde os jornais são ca­

ros e nem existem opções, a notíciaé manipulada para que o leitor assi­mile somente uma versão da reali­dade. Dentre os grandes, "O Estadode São Paulo" foi o que mais se em­

penhou na contra-informação da si­

tuação nicaragüense. Manchetes co­mo "Sandinistas declaram guerracontra a Igreja" ou "Nicarágua gasta30milhões de dólares em obra faraô­

nica" estavam freqüentemente em

suas paginas. A prova concreta da

associação do "Estadão" com os

contras é o jornal "Nicarágua Hoy",encartado como "informe publicitá­rio", com tiragem de 250 mil exem­

.plares, "Eles (os contras) têm di­nheiro da CIA para gastar dessa for­ma" , revela Saraiva.Sem dinheiro, com dedicação e

"A revolução não ébaseada em modelosrestritos, dogmáticos"

criatividade. E assim que, desde a

clandestinidade, os jornais nicara­

güenses sobrevivem. "Trabalhamosem qualquer condição. Filmes foto­gráficos são escassos, há pouco pa­pei e o parque gráfico é obsoleto",conta Saraiva. Mesmo nestas condi­

ções, "Barricada" circula com 80mil

exemplares diários em todo país.Como acontece a manipulação da

I informação? Para Saraiva ocorre dediversas formas. Se, por exemplo,umjornal americano publica que os

sandinistas montaram uma base mi­litar na fronteira com Honduras, oleitor associa essa base ao modelo

americano, com centenas de solda­

dos bem armados, tanques emísseis.'

Na verdade essas bases são apenas. algumas barracas com poucos solda-

dos. Diante desses fatos, a perguntase torna inevitável: Por que a maior

potência do planeta teme um paíscom apenas 130 mil quilômetrosquadrados e três milhões de habi­tantes?"Nossas idéias são as que repre­

sentam perigo para eles" , afirma Sa­.

raiva. As idéias sandinistas, segundo

os americanos, podem gerar o cha­mado "efeito dominó", no qual ospequenos países daAmérica Centralseguiriam os mesmos passos da Ni­

carágua. Mas o editor de "BarricadaInternacional" não concorda com

essa tese, comentando que cada paísdeve achar seu modo particular, e

unicamente seu, de combater o im­

perialismo. Sobre o futuro da Nica­rágua após a guerra, Leopoldo Sa­raiva prefere não comentar. Res­

ponde, ansioso, que quer apenas o

fim da guerra.

Enquanto ela não acaba, o traba­lho desse jornalista de 46 anos, quedeixou a Argentina natal há nove

e se engajou na revolução, vai conti­nuar. "Barricada Internacional" em

português já possui o apoio de diver­sos setores no Brasil, principalmentenas universidades, sindicatos, parti­dos políticos e da Prefeitura do Rio

deJaneiro.Em84, oRioe Manáguaforam declaradas cidades-irmãs.

Agora, a Prefeitura auxilia "Barri­cada" na divulgação e distribuiçãodos exemplares.

Com isso, Leopoldo Saraiva espe­ra cumprir sua missão, que é tão ou

mais importante que a dos guerri­lheiros que combatem os contras na

fronteira de Honduras. "Barricada

Internacional" espera solidariedade

para os problemas nicaragüenses. Éum grande passo nesta guerra de le­

trinhas. ANicarágua ainda é um paísno zero, onde a única coisa que estáem todos os lugares é o entusiasmo

popular.

Carlos A. Locatelli

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Campanha eleitora" (85)

OMARXISMO

Nos últimos cinco anos, o

companheiro Adelmo Genro Fi­lho dedicou quatro. aos Cursosde Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina. Háum ano licenciado sem remune­

ração, entendia que neste perío­do poderia dedicar-se com maisdeterminação a investigar e bus­car, através de uma disciplina ri­gorosa consigo mesmo, a reno­

vação do marxismo que o manti­vesse dialético e revolucionário.Adelmo teria ainda mais um

ano de licença, mas sua morte,aos 36 anos, no Hospital Univer­sitário de Florianópolis, às seteda manhã do dia 11 de fevereirode 1988, uma ensolarada quinta­feira, poê em nossos ombros um

duplo peso difícil de suportar:o do teórico e militante, que am-

PERDE

parado numa sólida formação,apontava novos caminhos possí­veis de percorrer no interior domarxismo e do .colega e amigoque, navegando entre uma pos­tura generosa e cordial, conse­

guia socorrer as pessoas em seus

mais.duros momentos existen­ciais e, ao mesmo tempo enfren­tar os adversários políticos com

uma exemplar conduta ética e

política.

A morte de Adelmo deixauma vazio difícil de preencherno curso de jornalismo, nos de­bates, palestras e aujas em quesempre brilhavam sua lucidezteórica, clareza didática e cora­

gem política, sem jámais abrirmão de uma sincera humildadepara tratar dos tem.as mais sim-

pies aos mais complexos.A lembrança de suapresença

amiga e sábia continuará po­voando nossos dias, assim como

a sempre bela imagem de seu

coleguismo, combatividade e in­tervenções públicas.

Adelmo morreu no HospitalUniversitário, três dias após sua

internação de uma maneira, atéeste momento, inexplicável. Acausa mortis ainda não foi escla­recida pelo H. U.Neste número de ZERO nos­

sa homenagem ao professor, co--

lega e amigo Adelmo Genro Fi­lho, à sua vida e obra e a corno­

vente despedida de seu irmão,Tarso Fernando Genro, publi­cada dia 22 de fevereiro no Jor­nal Diário do Sul, Porto Alegre.

Seu trabalho: de Hegel à LSN

UM REVOLUCIONARIO

Último livro publicado (87)

Adelmo Genro Filho nasceu

em São Borja, em 1951. Profes­sor e jornalista, rormado em'1975 pela Universidade Federalde Santa Maria, trabalhou desdeestudante no jornal A Razão, deonde o Exército pediu sua de­missão por denunciar a carne

podre servida no Restaurante'Universitário.

Eleito vereador pelo ex-MDB(atual PMDB), em 1976, dele foise afastando progressivamenteaté ingressar no Partido dos Tra­balhadores em 1985. Entendiaque, já àquela altura, o PMDBpercorria um caminho sem voltarumo à conciliação nacional.

Em 1979, Adelmo foi enqua­drado na Lei de Segurança Na­cional (LSN), por dizer na Tri­buna da Câmara que o ex-presi­dente João Figueiredo não tinha

condições mentais de dirigir a

nação. Ele se referia ao inciden­te de Florianópolis, a novembra­da, quando o ex-presidente res­

pondeu com ofensas à popula­ção que o vaiava no centro dacidade. Na ocasião, sete estu­dantes catarinenses foram tam-

bém enquadrados na LSN e

Adelmo os defendeu da Tribu­na.

Mas Adelmo não foi um jor­nalista preocupado somentecom a· especificidade técnica dojornalismo, a elaboração roti­neira de matérias e a moderni­zação tecnológica do setor.Também preocupava-se com a

importância e o papel do jorna­lismo na investigação da reali­dade e em sua transformação.Daí, resultou o trabalho de tesede mestrado em Sociologia na

UFSC, que originou o livro "OSegredo da Pirâmide, para uma

teoria marxista do Jornalismo"(Porto Alegre, 'Tchê!, 1987). Naabordagem, sustenta que o Jor­nalismo pode ser vislumbradocomo uma nova forma de conhe­cimento que se cristaliza no sin­gular.

Preocupado com a totalidadedo Homem na História, expôssuas concepções em vários ou­

tros livros, como "Hora do Po­vo, uma vertente para o fascis­mo", juntamente com MarcosRolim e Sérgio Weigert (São

Paulo, Brasif Debates, 1981);"Lênin, coração e mente", comTarso Genro (Porto Alegre,Tchêl, 1985); "Marxismo, filo­sofia profana" (Porto Alegre,Tchê l, 1986) e "Contra o Socia­lismo Legalista" (Porto Alegre,Tchê!, 1987). Foi um dos funda­dores do Jornal Informação, dePorto Alegre, e fundador e

membro do conselho editorialdo jornal Fazendo o Amanhã, deSão Paulo. Escreveu outras tan­tas séries de artigos e ensaios pa­ra diversas publicações do país,como as revistas Teoria e Políticae Civilização Brasileira.Ultimamente, Adelmo estava

empenhado em estudar Hegel eaprofundar, sistematicamente, oestudo e a renovação do Marxis­mo revolucionário. Esta preocu­pação faz parte. de seu últimotrabalho publicado, "A filosofiamarxista e o legado dos here­ges", uma extensa introdução ao

livro "Filosofia e praxis revolu­cionária" (São Paulo, Brasil De­bates, 1988).

Francisco J. KaramProfessor e jornalista

ADELMO GENRO FILHO 1951-1988

"Não há nadamais ousado

-no universo

do que o homem"Adelmo Genro Filho

A vida retomará seu ciclo

A despedida doirmão, publicada no

Diário do Sul

A morte de Adelmo Genro Fi­

lho, no amanhecer do dia 11 de

fevereiro, aos 36 anos, transtor-'nou a todos os que privavam doseu convívio, seja no âmbito desua família, seja no seu vasto cír­culo de relações políticas e inte­lectuais.Não reivindico dor maior do

que a de qualquer amigo ou fami­liar, mas como relacionava-mecom o Adelmo - e de forma in­tensa - em ambas as esferas, te­nho clara a dimensão brutal dasua ausência prematura, para os

que tinham qualquer tipo de pro­ximidade com ele. Com este pe­queno texto quero resgatar, paraos que o admiravam, aquela partedos seus últimos momentos entre

nós, que me envolveram direta­mente.Sem dúvida Adelmo Genro Fi­

lho foi uma pessoa muito espe­cial. Todas as pessoas que tive­ram algum grau de relaciónarnen­to com ele sabem disso. Sua pai­xão pela filosofia e pela políticaoperária, comandaram a sua vidadesde os dezesseis anos. Esta pai­xão ele levou até as suas últimas

conseqüências, já que vinha estu­

dando e escrevendo, ultimamen­te em tempo integral, sobre os

problemas cruciais que - na sua

opinião - o marxismo deveriaenfrentar, para retomar a sua

postura originária de filosofiaherdeira das principais conquistasteóricas da humanidade e rejeitara condição burocrática de "recei­

ta", apta para responder a todasas indagações sobre o destino dohomem.'

.

Como intelectual foi o avesso

do academicismo. As glórias doascenso universitário não lhe se­

duziam e tanto isso é verdadeiro

que interrompera a sua atividadede professor na UFSC, para po­der dedicar-se plenamente a pes­quisar e escrever sobre temas filo­sóficos que, pela sua incidênciana "praxis", seriam capazes de

constranger o movimento da his­tória num sentido escolhido pelosujeito político moderno - a

.

classe operária.A última conversa que tive­

mos, poucos dias antes da sua

morte, versou sobre o livro de

Serge, "Memórias de um revolu­cionário", que eu lhe recomen­

dara um mês antes. Falamos tam­bém sobre seu último e ousado

No curso, com os colegas

trabalho teórico que recentemen­te terminara, "A Filosofia Mar­xista e o Legado dos Hereges",que brevemente será publicadopela Editora Brasil De6ãtes deSão Paulo: Trata-se de um longoensaio onde ele discute, entre ou­

tras, as contribuições de Korche Bloch ao marxismo, de um pon­-to de vista independente da tradi­ção "clássica".Adelmo ficara tão impressio­

nado como eu sobre o livro deVictor Serge e achava que o autor

dera o testemunho histórico da­

quilo que ele vinha tentando for­mular na filosofia, a saber, quea paralisia teórica e a fossilizaçãodogmática pode ser o suporte da

tragédia política, dos limites e das.

deformações do primeiro ciclodas revoluções socialistas, que,no caso específico da RevoluçãoRussa, estavam sintetizados na

chacina de toda a velha guardabolchevique.Convínhamos que, se tínhamos

- ainda - algum -resquício deromantismo sobre o que é, de fa­to, uma revolução, o livro de Ser-_ge, soterrara-o definitivamente.De outra parte, nos animava verSerge, alguém que, mesmo tendo

.

vivido aquele período de irracio­

nalismo, compreendia a grandepossibilidade que a Re,volução deOutubro abria para a humanida­de, num" expectativa superior à

própria Revolução Francesa, noséculo XIX.A parte da conversa que girou

em torno do seu ensaio "A Filo­sofia Marxista e o Legado dosHereges" foi apenas uma preli­rninar daquilo que combinamos

seria, mais tarde, uma conversa

"sem teto", já que eu tinha feito

apenas uma leitura rápida do tex­

to, incompatível para responderàs necessidades de um debate fi­losífico que considerávamos demuita seriedade.Minha posição em relação aos

seus textos sempre foi "defensi­

vista", já que, pelos meus com­

promissos cotidianos não' tinha

condições de acompanhar, a sua

evolução e mesmo a totalidadedas fontes dos seus estudos.Não tenho dúvidas que ele es­

tava a muitos quilômetros de dis­tância e que a minha posição,mais chegada ao marxismo clássi­co, "via Lukacs", compunha um

contraponto.que ele checava per-

manentemente, como exercícioreflexivo que the era útil. Às ve­

zes, nossa conversa tornava-se di­fícil e árdua. Era quando a polí­tica só poderia expressar-se comofilosofia e eu não conseguia lidarcom o seu sistema categorial.Neste pontó' não eram raros os

"acordos", no sentido de que eu

pelo menos declarasse "insufi­ciente" meu "marxismo-lukacsia­no" para desafiar os problemasque ele revolvia.Creio que poucas vezes diver­

gimos em problemas políticos de

fundo, embora não raro, na dis­cussão de posições prévias a uma

postura mais consistente sobreum assunto importante, trocásse­mos um diálogo agudo e sem ne­

nhuma concessão, inclusive em.

relação à quantidade de decibéisusados no confronto.Estivemos juntos em momen­

tos importantes das nossas vidas.

Creio, até, que nos mais impor­tantes. Jamais pairou entre nós

qualquer sombra de desconfiançaque tivesse a capacidade de aba­lar nossa amizade e o respeitomútuo que conseguimos dar soli­dez ao longo de nossa relação.Sei, que para ele, eu estava entre

as pessoas especiais. Para mim,ele era mais que isso: era uma

referência que estava muito maisadiante e que eu também, de al­

guma maneira;ajudaria a estimu­lar.É claro que a vida retomará o

seu ciclo e que às árvores secas

do inverno sucederão flores e fru­tos. Depois, as tardes quentes e

os crepúsculos adornados de co­

res e de pássaros que se recolhem,continuarão a sua seqüência ime­morial. A sabedoria do homemnão permite que ele permaneçaem crise porque a fatalidade damorte nos assedia sempre. É pre­ciso superá-Ia. Mas cada dos queconheceram Adelmo terão sem­

pre uma reserva de dor insupe­rada. Fina e pontuda como um

punhal mouro, nesta jornada delutas em que é preciso ousar sem­

pre, atitude que Adelmo jamaisse negou, pois, como ele mesmo

escrevera certa vez, "não há nadamais ousado no universo do queo homem ... ".

Tarso G-enroAdvogado e escritor