MESTRADO DESENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL TRABALHO FINAL DE MESTRADO DISSERTAÇÃO ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO CAMPONESA EM MOÇAMBIQUE: ESTUDO DE CASO NO SUL DO SAVE - CHOKWE, GUIJÁ E KAMAVOTA Y ASSER ARAFAT ISMAEL DADÁ AGOSTO-2016
MESTRADO
DESENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL
TRABALHO FINAL DE MESTRADO
DISSERTAÇÃO
ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO CAMPONESA EM
MOÇAMBIQUE: ESTUDO DE CASO NO SUL DO SAVE -
CHOKWE, GUIJÁ E KAMAVOTA
YASSER ARAFAT ISMAEL DADÁ
AGOSTO-2016
MESTRADO
DESENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO
INTERNÁCIONAL
TRABALHO FINAL DE MESTRADO
DISSERTAÇÃO
ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO CAMPONESA EM
MOÇAMBIQUE: ESTUDO DE CASO NO SUL DO SAVE -
CHOKWE, GUIJÁ E KAMAVOTA
YASSER ARAFAT ISMAEL DADÁ
ORIENTAÇÃO:
PROF. DR. JOANA PACHECO PEREIRA LEITE
PROF. DR. CARLOS PESTANA BARROS
AGOSTO-2016
i
AGRADECIMENTOS
Não podia deixar passar esta oportunidade tão nobre para agradecer o apoio e as
contribuições dadas directa ou indirectamente que permitiram a realização deste trabalho e a
sua apresentação em forma de tese para obtenção do grau de Mestre.
Em primeiro lugar, quero dirigir o meu agradecimento a professora Joana e ao professor
Barros, pelo constante e rigoroso apoio científico, a crítica exigente, as sugestões judiciosas e
a disponibilidade sempre demonstrada em contribuir e encorajar-me para que o trabalho viesse
a ser uma realidade.
Agradeço o apoio em todos os sentidos, académico e não-académico, do professor João
Mosca.
Desejo igualmente expressar a minha especial gratidão à minha família (pais e irmãos) e
ao Bernardo Caldarola, aos meus colegas de classe (Luana, Mariana, Susana, Filipa, as Saras,
Ricardo, todos), com quem pude compartilhar da amizade e de fraterno apoio ao longo deste
tempo.
Aos meus amigos (o grande Zein, Uacy, Jetur, Yara, Momad, Natacha Fuma, Mariam Alô,
Aleia, Katxita) que foram acompanhando a distância e colaborando, o meu muito obrigado.
Para todos os professores pela disponibilidade, colaboração, conhecimentos transmitidos
e capacidade de estímulo ao longo do processo da minha formação.
E a todos aqueles que, mesmo não citados, sempre lembrarei com carinho como pessoas
de fundamental importância neste período.
ii
ÍNDICE
ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................................................... iii
ACRÓNIMOS ...............................................................................................................................................iv
RESUMO ....................................................................................................................................................... v
ABSTRACT ..................................................................................................................................................vi
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1
2. A QUESTÃO AGRÁRIA EM MOÇAMBIQUE ................................................................................... 4
2.1. Lei de Terras em Moçambique ................................................................................... 5
2.2. IDE e os grandes projetos .......................................................................................... 7
2.3. Sector agrário ............................................................................................................. 9
2.4. Zona sul de Moçambique .......................................................................................... 11
3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ....................................................................................................... 15
3.1. The New scramble for Africa e Land Grabbing ....................................................... 15
3.2. Estratégias de produção camponesa ......................................................................... 18
3.2.1. Economia Camponesa “Chayanoviana”.............................................................................. 19
3.2.2. Economia Camponesa “Marxista” ...................................................................................... 21
4. ESTUDO DE CASO: a estratégia de produção dos pequenos produtores do Sul do Save - Chokwe,
Guijá e Kamavota......................................................................................................................................... 25
4.1. Terreno de observação ............................................................................................. 25
4.2. Fundamentos metodológicos da análise empírica .................................................... 25
4.2.1. Descrição da Amostra ......................................................................................................... 26
4.2.2. Tratamento estatístico ......................................................................................................... 27
4.3. Análise dos dados e apresentação de resultados ...................................................... 28
4.3.1. Resultados descritivos ......................................................................................................... 29
4.3.2. Análise Fatorial Exploratória .............................................................................................. 29
4.3.3. Apresentação e discussão dos resultados do SEM. ............................................................. 30
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 34
BIBLIOGRÁFIA ......................................................................................................................................... 36
ANEXOS ..................................................................................................................................................... 42
iii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Descrição das variáveis ................................................................................................................ 29
Tabela 2: Rotated component matrix ............................................................................................................ 30
Tabela 3: Valor próprio e variância explicada .............................................................................................. 30
Tabela 4: Estudos econométricos relacionados com a pequena produção ................................................... 46
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Variação de Indicadores 2000 ....................................................................................................... 10
Figura 2: Modelo Teórico ............................................................................................................................. 24
Figura 3: SEM .............................................................................................................................................. 31
Figura 4: Mapa de Moçambique .................................................................................................................. 42
Figura 5: Mapa do Sul de Moçambique ....................................................................................................... 42
Figura 6: Chokwe ......................................................................................................................................... 43
Figura 7: Guijá ............................................................................................................................................. 44
Figura 8: Kamavota ...................................................................................................................................... 45
Figura 9: Fotografia de grupo ...................................................................................................................... 47
Figura 10: Tabela do SEM ........................................................................................................................... 48
iv
ACRÓNIMOS
AEO African Economic Outlook
AFE Análise Factorial Exploratória
CAP Censo Agro-Pecuário
CESA Centro de Estudos sobre Africa, Asia e America Latina
DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra
FMI Fundo Monetário Internacional
IDE Investimento Direto Estrangeiro
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
INE Instituto Nacional de Estatística de Moçambique
KMO Kaiser-Meyer-Olkin
OMR Obsevatório do Meio Rural
PARPA Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta
PIB Produto Interno Bruto
PRSP Poverty Reduction Strategy Paper
SEM Strutural Equation Modeling
UNAC União Nacional dos Agricultores e Camponeses
v
RESUMO
Este Trabalho de final de Mestrado tem por objetivo estudar as estratégias de produção
dos pequenos produtores do Sul do Save, em Moçambique. A análise assenta na recolha de
dados dados primários, obtidos a partir da administração, em 2015, de 1200 questionários junto
da população alvo, no âmbito de um amplo projeto de investigação em curso no Observatório
do Meio Rural (OMR) em Moçambique.
A reflexão aqui proposta inspira-se nos contributos das principais correntes teóricas e
estudos empíricos relacionados com as estratégias de produção dos pequenos produtores. Foi
também desenvolvido o SEM para explicar tais estratégias.
Os resultados encontrados a partir do modelo apresentado revelam uma forte ligação entre a
Estrutura da Família e as quantidades produzidas pelos pequenos produtores. Ainda que numa
escala reduzida, quando comparada com a Estrutura da Família, a produção dos pequenos
produtores revelou uma ligação positiva com superfície trabalhada e com o Capital Fixo. Ainda
a partir do SEM, a produção revelou ser pouco sensível aos mercados, quer ao nível dos input´s
(avaliada pela Distancia media percorrida para a aquisição dos input´s agrícolas) quer para
comercialização da produção.
Em suma, a principal conclusão retirada dos resultados obtidos do SEM revelam que se
manifesta, no contexto desta investigação, uma estratégia particular de produção, própria aos
pequenos produtores, em sintonia com a visão proposta por Chayanov mas, contudo, algo
distante da análise sugerida por Marx.
Palavras-Chave: Estratégias de produção, pequenos produtores, produção camponesa
vi
ABSTRACT
This final Master's work aims to study the production strategies of small producers in
the south of the Save in Mozambique. The analysis was based on primary data collection data
obtained from the administration of 1200 questionnaires, in 2015, to the target population, in
the context of a wide ongoing research project in the Rural Observatory (OMR) in
Mozambique.
The reflection proposed here is inspired by the contributions of the main theoretical
perspectives and empirical studies related with the production strategies of small producers. It
has also developed an SEM model to explain these strategies.
The results from the model show a strong link between family structure and the quantities
produced by small producers. Although on a smaller scale compared to the family structure,
the production of small producers revealed a positive connection with land surface and the
Fixed Capital. Still on the model, the production proved to be very sensitive to markets, both
in terms of input's (measured by the average distance traveled to the acquisition of agricultural
input's) or marketing of production.
In short, the main conclusion from the results of SEM model reveal a particular strategy
of production of small producers, in line with the vision proposed by Chayanov but, however,
something far from analysis suggested by Marx.
Keywords: Production strategies, small farmers, peasant production.
1
1. INTRODUÇÃO
Em Moçambique, mesmo com o forte crescimento e as mudanças na dinâmica
económica ocorridas nas últimas décadas nas regiões economicamente menos favorecidas, a
desigualdade no rendimento entre o rural-urbano ainda é fortemente evidente. A agricultura
representou em média perto de 25% do PIB, na primeira década do presente século. Os dados
do INE revelam que a maioria da população vive nas zonas rurais (70%) e tem a agricultura
familiar como principal fonte rendimento.
A pesquisa é orientada a partir dos seguintes objetivos: um geral, que visa realizar uma
análise estratégias de produção dos pequenos produtores agrícolas, inseridos em contextos com
características próprias, mas sobretudo marcado por incertezas e politicas agrícolas
inconsistentes; e dois objetivos específicos, que consistem: (1) Apresentar o contexto do sector
agrícola em Moçambique; (2) Identificar quais as variáveis que maior influência têm sobre a
produção agrícola;
O facto da descapitalização da agricultura que, aparentemente, penaliza o país, e a
existência de políticas que, de certo modo, marginalizam os pequenos produtores em
detrimento de projetos que à partida trariam maiores benefícios económicos, entre outos,
representam por si, só, um problema. Assim surge a questão central do trabalho: Quais as
estratégias de produção dos pequenos produtores do Sul do Save? Para responder a pergunta
foram elaboradas as seguintes hipóteses: (H1) A Estrutura da Família tem um impacto positivo
sobre a Produção; (H2) O Capital Fixo tem um impacto positivo sobre a produção; (H3) A
comercialização da produção tem um impacto positivo sobre a quantidade produzida; (H4) O
2
acesso ao mercado de insumos tem um impacto positivo sobre a produção; (H5) A terra
cultivada tem um impacto positivo sobre a produção agrícola.
O nosso interesse pela problemática do desenvolvimento rural e da pequena produção
camponesa em Moçambique data de 2012, momento em que integramos no OMR dirigido pelo
Prof. João Mosca. Participamos assim em diversos estudos relacionados direta ou
indiretamente com a produção agrícola que resultaram na publicação de um livro em co-
autoria 1 , documentos de trabalho e capítulos em livros 2 . Assim, a presente dissertação
representa não só, um requisito necessário para obter o grau de Mestre em Desenvolvimento e
Cooperação internacional, e integrado no projeto de investigação Estudos Aplicados
avançados em desenvolvimento, em curso no CESA/ISEG3, como também a oportunidade de
aprofundar e contribuir de forma positiva para o debate.
O presente trabalho é composto por 5 capítulos. O primeiro apresenta uma breve
introdução do trabalho. O segundo estabelece o quadro contextual- ao nível histórico,
macroeconómico, legal e espacial - que envolve a questão agrária e a pequena produção
camponesa em Moçambique. No terceiro é apresentada uma revisão da literatura das
abordagens teóricas consideradas relevantes para o estudo das estratégias de produção
camponesa em Moçambique. O quarto é consagrado ao estudo de caso. Aí se descreve a
metodologia subjacente à análise empírica e são apresentados e discutidos os resultados.
Finalmente, o quinto e último momento, remete para as principais conclusões do estudo,
1 Mosca, J. & Dadá, Y. A. (2014). Bases para uma Política Agrária em Moçambique.: Escolar Editora. Maputo.
2 http://omrmz.org/omrweb/investigadores/yasser-arafat-dada/
3 http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/index.php/pt/menuinvestigacao/projectos-em-curso/417
3
sublinha as suas limitações e salienta as motivações que, na sequência desta experiência de
investigação, inspirarão futuros trabalhos.
4
2. A QUESTÃO AGRÁRIA EM MOÇAMBIQUE
O presente capítulo tem como intenção apresentar o contexto subjacente à análise das
Estratégias de produção camponesa em Moçambique, objeto central do presente trabalho. Um
olhar atento é dirigido à zona Sul do território, cujos distritos do Guijá, Chokwe e Kamavota,
constituem terreno particulare de observação neste trabalho.
Moçambique localiza-se na Africa Austral, mais precisamente a Sudeste do continente
Africano, é composto por uma grande extensão de terra, perto de 80 milhões de hectares (36
milhões são consideradas aráveis). Está dividido em três regiões (Sul, Centro e Norte) com 11
províncias no total e faz fronteira com 6 países4. De acordo com o censo da população de 2007,
estima-se que em 2015 existam pouco mais de 25,7 milhões de moçambicanos divididos de
forma relativamente equilibrada entre os sexos, a população vive maioritariamente em zonas
rurais (70%).
A economia de Moçambique iniciou, desde o final da guerra civil, em 1992, uma fase de rápida
expansão económica. Ainda que inicialmente, no decurso da primeira década dos anos 90, as
políticas públicas estivessem direcionadas para a reconstrução dos pais assistiu-se também ao
estabelecimento das bases de funcionamento de uma economia de mercado. Neste período, o
país apresenta uma expressiva média de crescimento da economia, de 7,4% em média, superior
à da economia da Africa Subsaariana, (Ross, 2014). No contexto da implementação das
políticas de estabilização e ajustamento estrutural (O PRE, seguido do PRES e numa ultima
fase os PARPA’S / PRSP´s), sob condicionalidade das instituições de Bretton Woods (Cramer,
2001; Mosca, J., 1992; Oppenheiemer, J., 2006), é de salientar dois principais motores que
4 Ver mapa de Moçambique em anexo.
5
proporcionam estes níveis de crescimento, as despesas públicas (foi de 41,4% do PIB em 2014)
e o IDE (foi de 22% do PIB em 2014), (AEO, 2015).
2.1. Lei de Terras em Moçambique
A atual Lei de Terras foi aprovada em Outubro de 1997 e o artigo 12 da Lei reconhece 3
formas para a aquisição do DUAT5:
Ocupação por pessoas singulares e pelas comunidades locais, segundo as normas e
práticas costumeiras. Isto significa que pessoas singulares e comunidades locais podem
obter o DUAT pela ocupação baseada nas tradições locais, como herança dos seus
antepassados;
Ocupação por pessoas singulares que, de boa-fé, estejam a utilizar a terra há pelo menos
dez anos. Este tipo de ocupação aplica-se apenas a cidadãos nacionais;
Através de autorização de pedido apresentado ao Estado como vem estabelecido na
legislação de terras. Esta é a única forma de obtenção de DUAT que se aplica a pessoas
singulares e coletivas estrangeiras.
Importa contudo salientar que se colocam uma série de dificuldades (Mosca, 2014) à
obtenção do DUAT. Em alguns casos os processos podem demorar anos, sem que haja
despacho nem justificação conhecida. Verificam-se também grandes disparidades, consoante
o agente económico solicitante (em termos da dimensão do investimento, das ligações políticas
entre outras), no tempo necessário para a obtenção do DUAT. Com efeito, os dados dos
inquéritos agrícolas integrados de 2012 sugerem que das quase 4 milhões de explorações
agrícolas existentes em Moçambique, as pequenas e médias explorações representam cerca de
99,5 % do total e apenas 1.3% tem o DUAT.
5 Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT), um documento que fornece uma licença para uma entidade
pública ou privada para fazer o uso da terra por um tempo determinado, podendo ser de até 50 anos renováveis
por igual período.
6
Assim, estudos atualmente disponíveis (Mosca e Dadá, 2013) sugerem que, no curto prazo,
a questão central da terra respeita não tanto a influência da posse do DUAT sobre a produção
e/ou rendimento agrícola dos pequenos produtores, mas reside sobretudo na segurança da
posse da terra quer em zonas rurais, onde existe penetração do capital, quer nas zonas de
expansão urbana. Tal avaliação não leva contudo a questionar a relevância da atribuição do
DUAT no reforço da segurança dos pequenos agricultores, cuja importância em contexto rural
é sublinhada pelos autores
Na realidade, a evidência da marginalização dos pequenos produtores é confirmada na
própria Lei de terras, no artigo 18 n.º 19/97, de 1 de Outubro, que prevê,
“....perda do DUAT por causa de exploração mineira, quando o benefício económico
da exploração mineira seja considerado superior a outros usos.”
As análises recentemente consagradas ao estudo do acesso à terra e à exploração mineira
em Moçambique, (Matos e Medeiros, 2014) salientam, sem margem para equívoco, que a
introdução das reformas económicas, sob condicionalidade das instituições de Bretton Woods,
conduziu a que a terra fosse entregue aos interesses dos investidores, tanto nacionais como
estrangeiros, e que os interesses dos agricultores familiares, ou seja, dos pequenos produtores,
fossem em última instância marginalizados em detrimento do capital6. Tudo indica (Selemane,
2010) que se trata de um contexto em que os camponeses são aliciados a permitir a exploração
de recursos nas suas terras sem que, contudo, detenham a informação devida sobre a destruição
dos solos causada pela mineração, inviabilizando assim a produção agrícola, o que acaba por
promover a reprodução da pobreza
6 Importa referir que, na década de 90, o aumento das desigualdades e também da pobreza nos países que a partir
dos anos oitenta aderiram às políticas das instituições de BW, conduziram a fortes críticas de tal opção.
7
No entanto, o argumento avançado por autores críticos das políticas promovidas e
impostas pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário internacional, (Chang, 2002) é de que uma
política social bem concebida poderia contribuir significativamente para o desenvolvimento
produtivo. Consideram assim que, na relação custo-benefício, a provisão pública de saúde e
da educação se traduz em melhorias na qualidade da força de trabalho e, por sua vez, no
aumento da eficiência e da produtividade. Entendem ainda que as Instituições de solidariedade
social ajudam a combater a pobreza, a reduzir as tensões sociais e a reforçar a legitimidade do
sistema político, proporcionando assim um ambiente mais estável e atrativo para a realização
investimentos de longo prazo.
2.2. IDE e os grandes projetos
O grande volume de IDE direcionado para os diferentes sectores da economia, desde o fim
da guerra civil, em 1992, revelou-se um dos principais motores de crescimento económico de
Moçambique, (AEO, 2015). Contudo, a entrada de capital externo no agronegócio e na
exploração de recursos naturais em Moçambique é alvo de muitas críticas porque estes tendem
a não beneficiar mas sim a prejudicar grande parte da população local, gerando vários
problemas: usurpação de terras e danos ambientais que, em alguns casos, poem em causa a
saúde das populações circunvizinhas.
É assim que, no Sul de Moçambique, a implementação no Xai-Xai do projeto WAADL
(Wanbao Africa Agriculture Development, Ltd), que representa uma parceria entre a empresa
chinesa WANBAO e o governo moçambicano para a produção de arroz, implicou a concessão de
20 mil hectares de terrenos no Regadio do Baixo Limpopo e a consequente expropriação de
terras de milhares de camponeses. Estudos recentemente realizados (Madureira, 2014) indicam
8
que o projeto está a conduzir a uma transformação profunda das estruturas sociais na região,
por via da expropriação da terra, concentração da propriedade e a (semi-) proletarização do
mundo rural.
Outro caso, na zona Centro do país, revela que as famílias moçambicanas foram retiradas
de suas terras ocupadas há gerações para dar lugar ao projeto de extração de carvão da empresa
Vale na província de Tete. A mineradora de origem brasileira Vale S.A, entre 2009 e 2014,
reassentou7 mais de 1.300 famílias. As condições de vida pouco favoráveis daí resultantes
geraram um forte descontentamento por parte das populações. Este processo tem sido
amplamente estudado e criticado por diversas entidades e estudiosos do desenvolvimento
(Chivangue, 2016), nacionais e internacionais, dado que, para o além do mais, a exploração de
carvão, feita a céu aberto com uma grande concentração de “poeira” (o dióxido de enxofre,
óxidos de nitrogénio, monóxido de carbono, entre outros), causa a perda da vegetação na região
e coloca em risco a saúde das famílias no longo prazo8.
Um estudo desenvolvido pelo OMR (Observatório do meio Rural) em 2013, em relação
aos reassentamentos promovidos pela mineradora de carvão, VALE S.A, confirma que os
pequenos produtores camponeses ficaram em clara desvantagem. Assim:
Com os reassentamentos as famílias passaram a possuir, em média, menos 1,5 hectares
de terra para a produção de alimentos (isto é de 2,8 hectares de área disponível para 1.3
hectares).
Cerca de 80% das famílias afirmam ter sofrido conflitos de terra e 90% declaram ter
recebido áreas com menor fertilidade, comparando com as que possuíam antes do
reassentamento;
7 Reassentamento é a deslocação ou transferência da população afetada pela implantação de empreendimentos
económicos, de um ponto do território nacional para outro, acompanhada da restauração ou criação de condições
iguais ou acima do padrão de vida anterior.
8 Para uma visão mais aprofundada dos mecanismos de atuação do VALE S.A, veja o relatório de
insustentabilidade (2015). E, para o caso de Moçambique, atender à recente análise proposta na tese
Doutoramento de Andes Adriano Chivangue (2016).
9
Estão instalados em média a mais de 50km dos mercados de insumos, de venda e do
rio (fonte de água para a agricultura);
Perto de 5% das explorações utilizam pesticidas, fertilizantes e ou sementes
melhoradas;
Deste modo a produção média anual por família baixou de 4.5 toneladas para menos
de 1 toneladas.
Portanto, este e outros estudo realizados (Mosca e Bruna, 2016; Mosca e Dadá, 2013),
sugerem que os grandes projetos possam vir a agravar o acesso a mais terra, ou seja, a
condicionar as dimensões das explorações agrícolas, algo que, na realidade afeta já as
comunidades e pequenos produtores.
2.3. Sector agrário
O sector agrícola demonstra ser muito importante para o crescimento económico em
Moçambique, representando em média perto de ¼ do PIB; este sector é composto, quase na
totalidade, por pequenas e médias explorações, ou seja pela agricultura familiar9. Nas zonas
rurais vive atualmente perto de 70% da população Moçambicana, cuja principal fonte de
rendimento é a agricultura (cerca de 80% das famílias rurais tem o seu rendimento diretamente
ligado a produção agrícola e uma parte significativa dos remanescentes 20% provem de
atividades não agrícolas mas com fortes ligações com as atividades agrícolas locais), (Carrilho
et al. s/d).
Em muitos documentos do governo e discursos políticos a agricultura aparece como o
principal motor de desenvolvimento. Por exemplo, o, recente, PARPA III (2011:10) que
abrange o período entre 2011 e 2014 reconhece que a redução da pobreza
“...é possível com um investimento na agricultura que possa aumentar a
produtividade do sector familiar, diversificação da economia, criando emprego e
9 Os dados do IAI (2012) sugerem que em 2012 existiam perto de 4 milhões de explorações agrícolas, em
Moçambique, e as pequenas e médias explorações representam pouco mais de 99,5%.
10
ligações entre os investimentos estrangeiros e a económica local.”.
No entanto, os escassos recursos públicos 10 destinados para este sector não traduzem a
importância que é enfatizada pelos documentos e retóricas governamentais. Estudos realizados
em pormenor sobre o orçamento do Estado para a agricultura (Cassamo et al, 2014) revelam
que o mesmo não está a ser utilizado como um instrumento de política económica porque a
informação disponível não faz transparecer a existência de qualquer política agrária de longo
prazo. Note-se que grande parte das despesas do estado (mais de 30% em 2000 e 2010) foram
destinadas para atividades não planificadas o que credibiliza a afirmação anterior.
Figura 1: Variação de Indicadores 2000
Fonte: Elaboração do autor11.
Por outro lado e não menos importante, da Figura 1, pode constatar-se a existência de uma
relação positiva entre a maior disponibilidade de alimentos verificada nos últimos anos, e o
aumento da área cultivada, resultante principalmente do aumento do número de explorações e
não de um acréscimo da área média cultivada a qual permanece muito baixa12. Aliás, no que
10 Segundo Mosca (2014) citando o governo de Moçambique, os recursos públicos destinados a agricultura nos
primeiros 10 anos do presente seculo foram em média de 3%.
11 Cálculos elaborados pelo autor com base nas seguintes fontes: Número de explorações e Área cultivada -
CAP 2000 e 2010; População; Produção agrícola – FAO. Foi coniderado 2000 o ano base (2000=1).
12 Mosca (2014) ao fazer uma análise sobre Agricultura familiar em Moçambique menciona a Missão de
Inquérito Agrícola (1973), que constata que em 1970, 99,3% das explorações possuía menos de 10 hectares. Em
11
respeita a disponibilidade de alimentos, importa recordar, que tal não significa, por si só,
maiores níveis de acesso aos bens por parte da população. Remetemos neste contexto para o
que nos ensina Amartya Sen (Sen, 2002), ao sublinhar que o acesso aos alimentos (ou seja os
direitos-entitlements-sobre os alimentos) está relacionado com o funcionamento da economia,
ou seja, depende da existência e impacto de políticas que possam influenciar de forma direta
ou indireta a capacidade das pessoas acederem aos alimentos.
Para os que estudaram (Mosca et al., 2013) as dinâmicas do sector agrícola em
Moçambique, a baixa produtividade constantemente verificada na sua agricultura pode ser
explicada pela conjugação de diversos fatores, tais como, a falta de capacidade de investimento
em inputs agrícolas resultante dos cada vez mais baixos níveis de crédito concedidos à
agricultura. Tal acaba por conduzir, quando se trata de uma agricultura cada vez mais intensa
em trabalho do que em capital, como é o caso em análise, ao abandono da terra por parte dos
chefes de exploração com algum nível de escolaridade em benefício de atividades que à partida
proporcionam, entre outros, maiores níveis de rendimento. Portanto, parece evidente que o
sector é marcado por uma baixa produtividade e carece de transferências de tecnologia e de
investimento.
2.4. Zona sul de Moçambique13
No presente ponto é apresentada uma visão geral da zona Sul do país, espaço genérico de
incidência do estudo.
2010, agora sobre os CAPs (2010), perto de 99,6% das explorações encontravam-se no mesmo escalão de
tamanho de área dos anos 70.
13 Ver mapa do Sul de Moçambique em anexo.
12
Geograficamente a zona Sul de Moçambique, delimitada a Norte pelo Rio Save e
constituída por 4 províncias (Inhambane, Gaza e Maputo cidade). No seu extremo meridional
situa-se capital do País: a cidade de Maputo. Uma área de 166.237 km2, cerca de 20% do
território, acolhe perto de 1/4 da população. A zona Sul de Moçambique é ainda a que mais
contribui para o PIB nacional, com um peso superior a 40%, sendo que no seu conjunto, a
cidade de Maputo e a província Maputo Cidade, representam mais de 50% desse valor.
No que respeita o sector agrícola, esta região é constituída quase na totalidade por
pequenas e médias explorações. De entre os fatores passíveis de explicar este fenómeno, alguns
estudos (Júnior, 1980; Wuyts, 1981; Mosca, 2005; Madureira, 2014) apontam as migrações e
ou deslocações14, forçadas e voluntarias, de populações para a vizinha Africa do Sul. Tudo
indica que este processo de mobilidade populacional para o exterior do território, cuja origem
remonta ao período colonial e à expansão da indústria mineira no Transval, desde finais do
século XIX, constitui principal fundamento para tal configuração produtiva.
Com efeito, no contexto da gestão colonial do Estado Novo (Leite, 1989; Mosca, 2005) a
economia moçambicana estruturou-se em torno do sector exportador e da economia de trânsito
e de emigração, e as minas Sul Africanas recrutaram entre 25% e 30% da população ativa, o
que provocou transformações significativas ao nível da estrutura produtiva e na divisão social
do trabalho principalmente pela redução da população do sexo masculino.
A partir de 1974 e com a independência em 1975, verificou-se uma regressão do fluxo
migratório para a vizinha Africa do Sul. Dois principais fatores estivaram na origem deste
fenómeno (Junior, 1980; Wuyts, 1981; Mosca, 2005): Por um lado, em 1974 a Africa do Sul
14 Para Freitas (1998:180), migração é uma deslocação ou mudança voluntária, temporária e duradoura de
indivíduo ou grupos de um determinado território ou lugar para outro.
13
implementa uma política de contratação de trabalhadores nacionais negros15, tanto a nível da
indústria mineira e da agroindústria como do restante sector transformador. Por outro, após a
independência de Moçambique, em 1975, o regime do apartheid da Africa do Sul opõe-se
radicalmente aos objetivos centrais da linha política do governo de Moçambique.
Note-se, por seu turno, que a expectativa existente em Moçambique de que um longo
período de prosperidade económica sucederia ao momento colonial foi questionada logo após
a independência do país. Com efeito, o país moçambique enfrentou uma guerra civil que se
viria a prolongar por 16 anos, entre 1976 e 1992. O conflito causou uma forte regressão da
economia com a destruição massiva de infraestruturas básicas, dizimou mais de um milhão de
moçambicanos e forçou a deslocação de grande parte da população, cerca de 40% (Mosca,
2005). Ainda no período de guerra, em 1987, Moçambique vê se incapacitado de enfrentar
financeiramente a crise económica instalada (fruto de muitos anos de guerra e da consequente
e necessária afetação crescente de recursos ao financiamento do sector militar) e é forçado a
firmar um acordo de ajuda financeira com as instituições de BW sob condicionalidade da
implementação de políticas de estabilização e ajustamento estrutural (liberalização,
desregulamentação e privatizações, fundamento dos problemas atuais de expropriação de terra
(Oppenheimer, 2006; Madureira, 2014), acima referidos.
Para finalizar, mas não menos relevante, importa sublinhar que existe uma maior
propensão para a ocorrência das cheias nas principais bacias hidrográficas do país, e
nomeadamente a Sul do território, nas proximidades do rio Limpopo. Ali, as cheias de 2013
provocaram a destruição das infraestruturas públicas e de habitação, um desastre natural cujo
15 Para uma melhor perceção do assunto veja Júnior (1980).
14
balanço se saldou em mais de 200 mil afetados. Números semelhantes foram registados aquando
das cheias de 200016.
16 Http://www.dw.com/pt/cheias-treze-anos-depois-trag%C3%A9dia-volta-a-mo%C3%A7ambique/a-16578821
15
3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
3.1. The New scramble for Africa e Land Grabbing
O termo “new scramble for Africa”, foi utilizado pela conceituada revista The Economist,
em 2004, num trabalho sobre as relações comerciais entre a China e África (Frynas e Paulo,
2007). Esta nova corrida para África resulta de múltiplos fatores, tais como, a emergência de
novos investidores17 como, e principalmente, a China18, a India e o Brasil, e o aumento do
preço de produtos alimentares no mercado internacional que provocou não só o aumento da
procura de grandes parcelas de terra para a prática agricultura e a produção de
agrocombustiveis, como também, a exploração de recursos naturais (Madureira, 2014). Estes
pontos podem ajudar a justificar o aumento incontestável de importância da África na arena
internacional, refletido no interesse pelo espaço rural e também pelos recursos naturais.
Ao contrário das condicionalidades impostas pelos doadores tradicionais, os países
emergentes, têm políticas e estratégias de cooperação com os países africanos que demonstram
ser competitivas, face aos primeiros. Oferecem, pelo menos formalmente, vantagens
expressivas na relação contratual com os países recetores, ao considera-los como parceiros,
17 Países emergentes podem ser definidos como aqueles com capacidade para contribuírem para a gestão do
sistema internacional, dado o reconhecimento da sua ambição para ocuparem um papel mais influente na política
mundial, pelo facto de deterem recursos em expansão (Pautasso, 2010).
18 No debate produzido pela Aljazeera sobre o tema “Inside Story - China in Africa: investment or exploitation?”
é possível retirar a “estrondosa” evolução das relações da China com África: (1) o volume do comércio variou
entre 2000 e 2013, de 10.6 para 210 biliões de dólares; (2) O Investimento Directo estrangeiro passou de cerca
de 500 milhões em 2013 para cerca de 15 biliões em 2012; (3) em 2013 os empréstimos direcionados para a
construção de infraestruturas chegou aos 20 biliões. Por outro lado a fonte avança que o comércio total dos 28
estados da União Europeia representava em 2012 cerca de 431 biliões, ou seja, a China sozinha detém perto de
50% do total do comércio da União Europeia com a África.
16
acentuando benefícios mútuos e manifestando um respeito completo pela soberania nacional,
dado que se abstêm de impor qualquer modelo de governo ou forma de governação19.
A nova corrida para África, à semelhança das anteriores, deu origem ao Land Grabbing. A
literatura recente (Borras Jr. e Franco, 2012; Bryceson, 2002) define o Land Grabbing não só
como uma apropriação da terra, mas também como apropriação de recursos naturais. Os
estudos disponíveis revelam ainda que os processos de Land grabbing ao serem estimulados
pelo aumento da procura de terras para a produção de alimentos e agrocombustíveis, já acima
referida, são ainda o resultado quer da necessidade de garantir a segurança alimentar de países
com fraca capacidade de produção de alimentos mas com poder aquisitivo, provenientes de
outras atividades produtivas, (Wolford et al, 2013; Hallam, 2012) quer também do processo
em curso de reconversão produtiva à escala global, visando substituir os combustíveis fosseis
por energias amigas do ambiente (Stern, 2006; Denton,F., 2014; Berdegué. J et al, 2014; White,
B.,Borras, S., Hall, R., 2014).
O baixo preço das terras nos países do Sul, os mais pobres, resulta numa corrida por parte
dos investidores do Norte para estes países. Entre 2001, e 2008 foram concedidos 230 milhões
de hectares de terra para a prática da agricultura em países menos desenvolvidos, onde não só
as terras têm custos relativamente baixos, como também, as leis em vigor incentivam a entrada
de IDE em detrimento do campesinato e, ou, dos proprietários tradicionais (Madureira, 2014).
A produção de agrocombustiveis, em 2010 representavam mais de 30% dos land grabs,
constitui outro fator, não menos importante, no impulso do Land Grabbing. Os principais
interessados e investidores na produção de energias alternativas aos combustíveis fosseis são
19 Atualmente, diversos estudos sobre o assunto estão disponíveis, para análises mais profundas, veja por
exemplo, Pino (2012).
17
os países e instituições com baixa disponibilidade de petróleo e pouca terra disponível para a
manutenção e exploração de outras fontes de energia. Tal é reflexo, por um lado, das crescentes
necessidades energéticas e do aumento do preço do petróleo, e por outro, de uma decisão
política estratégica (Madureira, 2014).
. A dimensão destes investimentos trouxe expectativas elevadas em relação a melhoria de
vida das populações locais. Para alguns autores, existem benefícios para ambas as partes. Por
um lado, por esta via, é possível aos países menos desenvolvidos alcançarem o crescimento e
modernização dos sectores agrícolas. Por outro, os investidores estrangeiros conseguem deste
modo uma produção suficiente de alimentos que lhes garante a segurança alimentar (Knaup &
Mittelstaedt 2009 cit. Venâncio 2014). Porém, tudo indica que pouco do que era esperado se
viria a materializar.
Em África o acesso a bens e serviços básicos como a alimentação, a saúde continuam a
representar um problema para a maioria da população20. Ora acontece que, no contexto do
Land grab, os antigos proprietários da terra passam a constituir uma "reserva de trabalho" sem
que as novas formas de exploração da terra, nomeadamente a produção em escala, conduzam
aos níveis esperadas de emprego. Verifica-se assim que, ao longo da última década, África
Sub-Sahariana (SSA) como um todo reduziu o desemprego em apenas 0,8%, e que, atualmente,
o continente Africano regista a maior e mais alarmante taxa de emprego vulnerável (77% em
SSA) (Ayers, 2014).
A principal questão que se coloca em torno da produção de monoculturas e, ou
agrocombustiveis, reside no facto destas ameaçarem, na maioria dos países, a segurança
20 Mais de metade da população atualmente sobrevive com menos de 1,25 dólares por dia, também em grande
parte do continente a espectativa de vida é inferior a 55 anos (Ayers, 2014).
18
alimentar das populações locais. Diversos estudos realizados pelo conceituado Journal of
Peasant Studies (Jansen, 2014; Li, 2014) chegam a conclusão de que a produção de
monoculturas são quase, se é que não sempre, destinadas ao mercado internacional, sendo
assim residual o seu impacto ao nível local. Acontece por seu turno, e com consequências não
menos importantes, a que produção em grande escala está geralmente associada ao uso
intensivo em capital, cujo impacto se faz sentir quer em termos da redução da procura de
emprego quer na poluição, algo que, a diferentes níveis, é responsável pela redução da
biodiversidade (Madureira, 2014).
3.2. Estratégias de produção camponesa
O debate sobre as estratégias de produção dos pequenos produtores não é recente, dura há
mais de um seculo, mas não deixa de ser atual. Os debates podem ser resumidos em duas
posições opostas: Por um lado, a análise proposta por Marx21 sublinha que a baixa capacidade
de investimento do campesinato inviabiliza a sua sobrevivência no contexto da emergência do
modo de produção capitalista. Por outro, a leitura de Chayanov22, sustenta-se na ideia de que
a unidade de produção familiar é uma microeconomia particular, com estratégias, lógicas e
racionalidades próprias. Nos subpontos seguintes são apresentadas estas duas visões, mais
importantes para compreender melhor as estratégias dos pequenos produtores.
21 Marx (1996) em seu livro “O Capital” observou as dinâmicas da sociedade capitalista no século XVIII e
também com base nas experiências anteriores, e mais precisamente a trajetória da sociedade inglesa.
22 Economista agrário soviético defendia que a agricultura devia ser a base de toda a estrutura económica e que
esta se deveria organizar em explorações agrícolas individuais e em cooperativas agrícolas, rejeitando, assim, as
teses marxistas-leninistas e afirmando a sua dissidência do regime (Baptista, 2001).
19
3.2.1. Economia Camponesa “Chayanoviana”
As teorias consagradas ao estudo do capitalismo enquanto sistema que visa essencialmente
a busca da maximização do lucro fundamentam-se na existência de duas classes sociais: (1) os
proprietários dos meios de produção que buscam o rendimento da terra, do capital e que
compram o trabalho por meio de salários e (2) os que vendem a força de trabalho por não terem
acesso direto aos meios de produção. Por outro lado, para Chayanov o pequeno produtor não
é capitalista, na medida em que não vende a sua força de trabalho nem contrata trabalho
assalariado, dependendo somente do trabalho familiar para a produção, que se destina ao
autoconsumo do agregado e não pretende gerar lucros através da venda da produção agrícola
no mercado (Chayanov, 1966; Hunt, 2013; Abramovay, 1998).
Independentemente dos desafios de conceptualização económica da lógica de reprodução
camponesa, considera-se que os camponeses estão dispostos a aumentar o grau de exploração
da mão-de-obra familiar por forma a garantir a sua subsistência, trabalhando mais horas ou
diminuindo os seus níveis de autoconsumo, conseguindo manter a sua sobrevivência através
de estratégias extremas de miséria, se necessário (Scott, 1989). Deste modo, a eficiência das
estratégias adotadas pelos pequenos produtores encontra se na combinação entre o trabalho
efetivamente realizado e as necessidades satisfeitas. Para minimizar o risco que esta
combinação de estratégias e objectivos produzem, o camponês opta em muitos casos pela
diversificação (Silva, 2011).
Portanto, na perspetiva de Chayanov as estratégias e logicas de produção camponesa
podem ser definidas como uma circulação simples da produção, onde a produção é em muitos
casos transacionada e, ou vendida mas com o objectivo de suprir algumas necessidades
pontuais e não necessariamente a obtenção de lucro, isto é, onde o valor do produto do trabalho
20
não é uma razão direta das leis de mercado, passa pela perceção subjetiva que cada membro
da família tem desse produto ou qual a necessidade dos mesmos (Chayanov, 1966; Silva,
2011).
Assim, para Chayanov, a essência das estratégias de produção dos pequenos produtores
não vão além da satisfação de uma dada necessidade que está ligada ao grau de exploração de
sua força de trabalho. No caso de existência de algum excedente, o equilíbrio se restabelece
mediante uma redução da força de trabalho no ano seguinte. A logica por trás das estratégias
usadas por um pequeno produtor são denominadas de balanço entre trabalho e o consumo
(Borsatto e Carmo, 2014).
Vários são os fatores que podem interferir no balanço entre o trabalho e o consumo. Por
exemplo, a diferenciação demográfica, no decorrer do tempo, podem verificar se
transformações na estrutura de uma família: de um casal jovem sem filhos para um casal com
filhos dependentes que não representam ainda força de trabalho, para um casal com filhos que
representam força de trabalho, o tamanho da propriedade, a qualidade dos solos, localização,
preços agrícolas, preço da terra, entre outros (Hunt 2013, Borsatto e Carmo, 2014).
De facto, a análise de Chayanov resume-se em como a conjugação dos diferentes fatores
supracitados podem interferir nas estratégias produtivas dos pequenos produtores tendo em
conta a satisfação do bem-estar.
Na óptica de Chayanov os pequenos produtores deixam de trabalhar quando produzem o
suficiente para poder comprar o que satisfaça as suas necessidades. Chayanov afirma:
“Nevertheless, the usual rent-forming factors like better soil and better location in relation to the
market do surely exist for commodity-producing family labor economic units, too. They must have the
effect of increasing output and the amount of payment per labor unit… Peasant, noticing the increase
in labor productivity, will inevitable balance the internal economic factors of his farm earlier, i.e.,with
les self-exploitation of his labor power. He satisfies his family´s demands more completely with less
21
expenditure of labor, and he thus decreases the technical intensity of his economic activity as a whole”
(CHAYANOV, 1966, p. 8)
Para os que estudaram Chayanov (Borsatto e Carmo, 2014), a sua grande contribuição foi
a de reconhecer e explicar que a produção familiar é guiada por estratégias ou logicas
específicas, o que as diferencia dos outros seguimentos sociais. Resumindo, para Chayanov a
exploração camponesa é uma estrutura social com características próprias e complexas que
dependem de muitos fatores, diferente do capitalismo, estes não são guiados pelo lucro.
Trata-se assim de uma análise que se revela da maior relevância para o estudo das
estratégias, lógicas e práticas camponesas em contexto Africano, tal como teremos a
oportunidade de observar neste estudo.
3.2.2. Economia Camponesa “Marxista”
Marx evidencia uma incompatibilidade frontal entre os pequenos produtores agrícolas e
uma sociedade regida pelas leis subjacentes ao funcionamento do sistema económico
capitalista. Assim o camponês, pelo facto de não agir como um empresário, cujo
comportamento é regido pela maximização do lucro, não poderia sobreviver por muito tempo
num contexto de concorrência. Para Marx, tal como anteriormente sublinhado, as sociedades
inseridas em sistemas capitalistas estavam divididas em classes: os desprovidos de meios de
produção que representavam a classe operaria e a classe empresarial que é representada pelos
que detém os meios de produção (Marx, K. 1996 e Santos 2011).
Nesse sentido os camponeses representariam um fragmento específico do sistema social e
económico, na medida em que Marx considera que os pequenos produtores constituem uma
classe em transição, seja para a classe empresarial, tornando-se um empresário capitalista, seja
para o proletariado, tornando-se um trabalhador assalariado. Outros autores (Kautsky, 1980;
22
Lenine, 1980) considerados neomarxistas incorporaram a mesma perspetiva que Marx nas suas
análises e chegaram a resultados similares.
Em sua tese relacionada com a produção agrícola, (Kautsky, 1980) afirma que os pequenos
produtores serão substituídos por processos industriais e pela penetração de capital para
garantir a satisfação do mercado em constante crescimento, isto é, a economia camponesa seria
absorvida pelo progresso tecnológico. Desse modo, para Kautsky os camponeses seriam
extintos pelas atividades industriais, por não concentrarem recursos suficientes para competir
com o capital industrial. Portanto, no desenvolvimento e modernização impostos pelo sistema
capitalista, os pequenos produtores seriam obrigados a submeterem-se de forma passiva às
regras impostas pelo sistema.
Do mesmo modo, Lenine (1980) que viria a validar a obra de Marx no que respeita aos
pequenos produtores, sugere que os camponeses ou se transformam em trabalhadores
assalariados nas grandes explorações ou então têm que migrar para os centros urbanos a fim
de trabalharem nas industrias.
Um ponto a ser destacado da teoria leninista foi sua crença no cooperativismo como
caminho para desenvolver a agricultura socialista. Análises recentes (Borsatto e Carmo, 2014)
aproximam-se das teses leninistas ao considerarem que a opção pelo cooperativismo constitui
um caminho valido de conduzir à constituição de grandes unidades de explorações agrícolas,
mecanizadas e com altos índices de produtividade, e que propiciaria aos pequenos produtores
uma qualidade de vida mais elevada.
A conceptualização de Marx assim como de Lenine relativamente ao processo do
desenvolvimento, assenta, na sua essência, na proletarização dos camponeses e na constituição
de excedente de mão-de-obra que pudesse ser disponibilizada para o processo de
23
industrialização e que iria criar, por sua vez, um mercado interno para a indústria. Note-se que
tal perspetiva não se afasta substancialmente daquela viria a inspirar as teorias de
modernização a partir da segunda metade do século XX. (como é caso do modelo W:A. Lewis,
1954)23.
Portanto, para Marx o facto de o camponês não incluir o seu trabalho para os cálculos dos
custos de produção faz com que preço dos produtos comercializados pelos camponeses não
represente o valor real do produto em questão. Marx afirma.
“O limite da exploração para o camponês não é o lucro médio do capital, quando se
trata de um pequeno capitalista, nem tampouco a necessidade de renda, quando se trata de
um proprietário de terra. O limite absoluto com o qual tropeça como pequeno capitalista não
é senão o salário que a si próprio se abona, depois de deduzir o que constitui o custo de
produção. Enquanto o preço do produto cobri-lo, cultivará suas terras, reduzindo, não
poucas vezes, o seu salário até o limite estritamente físico. (apud Pontes, 2005:37).
Para Marx o camponês cede parte de seu trabalho excedentário à sociedade e esta é a
razão pela qual os camponeses não acumulam o capital que lhes permitiria fazer os
investimentos necessários para competirem num mercado capitalista por meio do aumento da
produção e da produtividade.
Trata-se de uma conclusão que não deixaremos de ter em conta ao observarmos as
estratégias camponeses as a Sul de Moçambique.
Encontontre em anexo uma tabela-resumo de estudos realizados para compreender a
produção alimentar. Na tabela são apresentadas as principais conclusões bem como o método
utilizado.
Pode observar-se que os estudos apresentados tem por objetivo analisar a variação da
produção agrícola (variável endógena) e as variáveis explicativas mais comuns utilizadas estão
23 Lewis, W. A. (1954). Economic Development with unlimited supplies of Labour. The Manchester School, 22:
139.91. Lewis receberia o prémio Nobel de Economia em 1979.
24
relacionadas com a Estrutura da Família, capital utilizado, a superfície cultivada, acesso aos
mercados, de compra e venda, entre outros.
Em suma, os resultados, da tabela acima, demonstram que as estratégias de produção
camponesas não são lineares, verificam- se comportamentos diferentes dependendo do terreno
em observação. Contudo, duas conclusões importantes podem retirar- se destes estudos: (1) o
trabalho, familiar, demonstrou uma relação positiva com a produção; (2) existe espaço
para a melhoria da eficiência no uso de fatores produtivos disponíveis.
Portanto, assim surgi o modelo teórico que pretendemos testar.
Figura 2: Modelo Teórico
Acontece que os modelos de regressão têm constituído o método mais comum para este tipo
de análises. Assim, o presente trabalho ao utilizar o SEM para explicar a produção agrícola,
assume a responsabilidade pioneira de testar uma nova abordagem para o problema
25
4. ESTUDO DE CASO: a estratégia de produção dos pequenos produtores do Sul do
Save - Chokwe, Guijá e Kamavota
4.1. Terreno de observação24
Três distritos diferentes foram escolhidos, dado a especificidade das suas características
económicas e produtivas, tanto em termos de mercados como em consumo. (1) Chockwe, na
província de Gaza, é historicamente agrícola e tradicionalmente reconhecido como um centro
produtivo, e com dotação de fatores de produção agrícolas (Ministério da administração Estatal,
2005; Mosca, 2005); (2) Guijá, também em Gaza, a agricultura familiar é a atividade
económica dominante, praticada sob o regime de sequeiro e de tração animal. Como forma de
garantir a fertilidade dos solos, assim como a racionalização das áreas de produção, a
agricultura é praticada em consorciação de culturas locais onde a exploração variam entre 0,5
ha / 2 ha (Ministério da Administração Estatal, 2005); Finalmente, (3) Kamavotha, na cintura
de Maputo, e próximo da capital, a produção é quase exclusivamente dirigida ao mercado
interno, caracterizada pelo intenso uso de insumos, e pela proximidade dos produtores ao
mercado urbano de bens e serviços. Contudo, a terra é explorado em pequena escala (CAP´s
2000 e 2010).
4.2. Fundamentos metodológicos da análise empírica
Dividimos este ponto em dois momentos. O primeiro, será consagrado à descrição da base
de dados e, no segundo, procedemos a uma breve explanação técnica de análise multivariada
utilizada para analisar a relação entre as variáveis escolhidas para o estudo.
24 Para uma descrição mais substantiva do perfil dos três distritos em análise ver Anexo.
26
4.2.1. Descrição da Amostra
A base de dados é resultado de um inquérito realizado de perguntas fechadas, submetidas a
chefes de exploração das três áreas de observação, entre Julho e Setembro de 201525. Os
inquéritos foram validados baseando-se na clareza das respostas dadas, respostas hesitantes e
incerts não foram consideradas. Além disso, de acordo com a abordagem de todos os
disponíveis os inquéritos com respostas incompletas, não foram excluídos (Hair et al., 2014).
Considerando as limitações impostas por este tipo de trabalho, e a baixa qualidade dos dados
oficiais disponíveis sobre a população, obteve-se a amostra usando o método aleatório e não
sistemático; em cada uma das áreas eleitas foram recolhidas 400 observações, para um total de
1200 observações. No entanto, antes da avaliação, todas as observações para cada variável
foram ponderadas usando como uma variável de peso da amostra uma taxa estabelecendo a
diferenciação de género dentro dos agregados, em comparação com a taxa da população
regional (de acordo com dados populacionais do INE, 2015) a fim de tornar a amostra
representativa da população da região, proporcionando assim melhores estimativas (Hans-
Vaughn e Lomax, 2006).
Os questionários foram aleatoriamente e diretamente aplicados nas explorações agrícolas,
com a assistência dos representantes da associação dos agricultores a UNAC. Ao longo da
administração do inquérito o grupo de pesquisa que realizou o trabalho de campo beneficiou
do apoio de uma equipa de inquiridores disponibilizados pelo OMR. Contudo foram também
recrutados inquiridores locais. Neste contexto, será tida em conta na avaliação dos resultados
a eventual influência de erros de medição meramente devido ao método de recolha de dados.
Dada a estratificação espacial da amostra, descrita em 4.1, a cross-section obtida, embora,
25 Encontre em anexo o questionário.
27
não permita fazer inferência baseando-se na evolução dos dados observados ao longo do tempo,
permitem fazer uma avaliação ex-ante, fornecendo uma imagem do estado de um conjunto de
variáveis em um determinado momento no tempo (Chaudhuri et al., 2002).
4.2.2. Tratamento estatístico
Duas principais ferramentas foram utilizadas para responder aos objetivos do trabalho.
Numa primeira fase foi desenvolvida a AFE, com o objetivo de reduzir o número de variáveis
observadas em um número menor de fatores26 (Hair et al, 2014). O critério de retenção de
fatores foi o de Kaiser-Guttman, eigenvalue> 1. Com rotação varimax para maximizar os pesos
fatoriais dos itens nas variáveis latentes. Em seguida, procura- se explicar as estratégias de
produção camponesa por meio do SEM. Recorreu- se ao uso do software STATA 13 para o
SEM e SPSS 20 para AFE.
SEM é uma técnica que procura explicar as relações entre múltiplas variáveis (Hair et al.
2014). SEM está a ganhar popularidade em diversas áreas de pesquisa, principalmente pela
capacidade de analisar relações complexas entre variáveis (Grace, 2006). Uma das
características que tornam isto possível é o facto de que o SEM, como outras técnicas de análise
multivariada, reduz o número de variáveis observados agrupando-as em vareáveis latentes. Em
comparação com outras técnicas, SEM permite um erro de medição muito menor. No entanto,
uma vez que o modelo se baseia em variáveis latentes, é, obviamente, não imune a mais erros
de medição; na verdade, a inferência feita a partir de variáveis latentes tem um grau muito
menor de certeza do que as variáveis observadas (Borsboom, 2008).
26 A AFE não foram consideras as variáveis Terra, Vendas e Distância média para a aquisição de insumos por
estas gerarem inconsistência nas variáveis latentes.
28
Na verdade, apesar dos limites impostos pela utilização de cross-sections, que muitas
vezes não são suficientes para ir além da mera descrição de um fenômeno (Dasgupta, 2009),
SEM permite explicar a natureza do fenômeno, estimando variáveis latentes e a relação com o
fenómeno em análise.
O método de estimativo escolhido é o Maximum Likelihood with Missing Values (MLMV)
(Enders e Peugh, 2004), frequentemente utilizado para SEM.Trata-se de uma poderosa
ferramenta que fornece uma estimativa imparcial em relação a outras técnicas, nomeadamente
em matéria de questões não-normalidade (Olsson et al., 2000) e fornece estimativas aceitáveis
também na presença de valores em falta (Savalei, 2008).
Procura se encontrar uma relação do tipo causa-efeito partir do SEM (Hair et al, 2014). O
modelo apresentado é composto pelas seguintes variáveis: Estrutura da Família (número de
membros do agregado familiar, numero de membros do sexo masculino, numero de membros
menores de 16 anos, numero de membros maiores de 16 anos e o nível mais elevado de
educação do agregado familiar); Capital Fixo (número de alfaias tração-trator, numero de
enxadas, numero de carroças, numero de bombas de agua, numero de alfaias tração-animal,
numero de carros ou camiões); Superfície de terra em hectares para a produção; Quantidade
vendida; Distância média para aquisição de insumos de produção em Km27 e a quantidade
total da produzida em toneladas.
4.3. Análise dos dados e apresentação de resultados
O presente capítulo está dividido em três secções. A primeira secção contém uma breve
descrição das variáveis utilizadas para explicar a produção. A segunda secção, é apresentada e
27 Cálculo do autor com base nas distancias percorrida para adquirir os seguintes insumos: fertilizantes,
instrumentos de trabalho, combustíveis, embalagens e pesticidas
29
analisada a AFE. Na terceira secção consiste na análise e interpretação dos resultados obtidos
do SEM, em relação as estratégias de produção camponesa.
4.3.1. Resultados descritivos
A seleção das variáveis exógenas para explicar a produção camponesa foi feita após a
revisão da literatura. São apresentadas na tabela seguinte os resultados descritivos das variáveis
utilizadas no modelo.
Tabela 1: Descrição das variáveis
Fonte: Elaboração do autor com base nos dados do questionário.
4.3.2. Análise Fatorial Exploratória
O resultado elevado do teste KMO (0.819), o qual é considerado um bom indicador, assim
como para o teste de Bartlett (si.=0.000), que garante correlações entre as variáveis. A solução
sugere a existência de 2 factores, Estrutura da Família e o Capital Fixo. O valor do nível mais
alto de escolaridade está abaixo do recomendado (<0.5), representado na tabela seguinte:
Variáveis Mínimo Máximo Média Std. Dev.
Dependentes (número de membros com no máximo 15 anos) 0 12,00 2,95 8,37458
Distância média percorrida para a aquisição de input´s para a produção
em km (Sementes, peças, instrumentos de trabalho, fertilizantes e
embalagens)
0 37 2,55 ,372086
Força de trabalho (numero de membros com 16 ou mais anos) 0 10,00 2,98 7,396002
Nível mais elevado de educação 0 16 6,8 3,289477
Número de alfaia (Tração animal) 0 6 0,13 7,01298
Número de alfaia (Tração trator) 0 4 0,01 10,2906
Número de bombas de água 0 2 0,03 5,697616
Número de carroças 0 3 ,05 7,126891
Número de carros e camiões 0 6 ,09 6,461702
Número de enxadas 0 15 2,23 5,886729
Número de membros da família 1 13,00 5,86 7,666886
Número de membros do sexo masculino 0 10,00 2,78 7,791294
Quantidade total produzida em kg 0 17600 732,93 8,328877
Quantidade vendida em kg 0 11200 192,99 ,7280778
Terra total produzida em hectares 0,1 5 1,09 7,23696
30
Tabela 2: Rotated component matrix
Descrição dos fatores Descrição das variáveis Fatores
1 2
Capital Fixo (H2)
Número de enxadas ,858
Número de carroças ,833
Número de bombas de água ,759
Número de alfaia (Tração animal) ,758
Número de alfaia (Tração trator) ,684
Número de carros e camiões ,628
Estrutura da Família (H1)
Força de trabalho (numero de membros com
16 ou mais anos)
,951
Número de membros da família ,945
Dependentes (número de membros com no
máximo 15 anos)
,917
Número de membros do sexo masculino ,709
Nível mais elevado de educação ,463
Extraction Method: Principal Component Analysis.
Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.
Fonte: Elaboração do autor com base no Spss20.
A solução é constituída por 11 variáveis que explicam perto de 62% da variância total.
Encontre no quadro seguinte os valores próprios de cada fator retido e as percentagens de
variância explicada:
Tabela 3: Valor próprio e variância explicada
Fator 1 Fator 2
Valor próprio 3,508 31,889
Variância explicada 3,301 30,012
Fonte: Elaboração do autor com base no SPSS20.
4.3.3. Apresentação e discussão dos resultados do SEM.
Para explicar a produção foram adicionadas aos 2 fatores obtidos na AFE acima
desenvolvida, a Terra, as quantidades vendidas e a distância média para a aquisição de bens
destinados a produção. Os resultados apresentados na figura 4 são estandardizados.
31
Figura 3: SEM28
As estimativas do SEM permitem concluir que as relações entre as funções e a produção
dos pequenos produtores são, embora em diferentes graus, estatisticamente significantes, o que
permite validar as Hipóteses 1,2,3 e 5, e rejeitar a 4.
A Estrutura da Família demonstrou ser a que maior influência tem sobre a produção dos
pequenos produtores (0.82). De facto, tal como descrito na “teoria Chayanoviana” a estrutura
da família tem aqui uma ligação forte com a produção camponesa e também explica fortemente
o número de membros, a força de trabalho e os dependentes no seio da família (Barnum, 1979;
Abbas, 2016). Pode verificar- se também que a Estrutura da família tem um baixo poder
explicativo sobre os níveis mais elevados de escolaridade (0.42) e o numero de membros do
sexo masculino (0.52). De facto em estudos realizados, os membros do sexo masculino e os
28 Ver tabela de resultados SEM em anexo.
32
que tem algum nível de escolarização tendem a procurar atividades que proporcionam maiores
níveis de rendimento (Mosca e Dadá, 2013 e Cunguarra, 2011).
O modelo mostra que, depois da Estrutura da família, a superfície cultivada é a que mais
explica a produção (0.28)29, resultado superior ao do Capital Fixo (0.15). De facto, diversos
estudos encontraram uma relação positiva maior entre a produção camponesa e a superfície
cultivada apresentada nos últimos anos, ou seja, com o aumento da área total cultivada, do que
com Capital (Mosca e Dadá, 2013b Abbas 2016, Cunguarra, 2013). Todavia, para Mosca e
Dadá (2013a) o aumento da produção é principalmente justificado pelo aumento da superfície
total cultivada resultante do aumento do número explorações e não da superfície média
cultivada.
O SEM permite ainda verificar uma relação positiva entre o Capital Fixo (0.15) e a
produção camponesa. Contudo, é importante referir que o número de enxadas (0.89), Alfais
TA (0.73) e Carroça (0.87) são as que mais são explicadas pelo Capital Fixo das famílias e por
outro lado, o número de tratores, camiões ou carros e bombas de água são as menos explicadas.
Uma possível explicação para este facto pode ser encontrada na redução significativa destes
bens destinados a produção agrícola, o que permite concluir, por parte dos que estudam o
assunto, que a produção em Moçambique é, cada vez mais, intensiva em trabalho que em
capital (Mosca e Dadá, 2013).
Ainda, sobre o SEM, as vendas apresentaram uma relação fraca, mas positiva, (0.082) com
a produção camponesa. De facto, este resultado reforça os pressupostos da teoria
Chayanoviana, como referenciada acima, que assume uma ligação do camponês com o
29 A superfície cultivada não é estatisticamente significante com um intervalo de confiança de 95%, deste modo,
foi considerado um intervalo de confiança de 90% para H5..
33
mercado mas só para suprir necessidades pontuais e que não objetiva necessariamente o lucro
(Silva, 2011).
Não obstante, e nem menos importante é o fraco efeito negativo da distância média para
o mercado de insumos agrícolas. Contudo, parte da resposta para esta fraca influência poderá
ser justificada pelo baixo uso de insumos agrícolas, menos de 5% usam fertilizantes e ou
pesticidas (CAP 2000, 2010), o que na realidade, pode reduzir a sensibilidade da produção
relativamente ao acesso a estes insumos.
Na realidade, diversos estudos sobre a estrutura dos mercados afirmam a existência de
uma estrutura desfavorável aos pequenos produtores, justificada pela fraca capacidade
negocial destes, devido a sua baixa formação e informação sobre os mercados e preços, por
outo lado, mas não menos importante, é o fraco poder de armazenamento no período pós
colheita que acaba por forçar a venda como forma de minimizar os riscos de perdas da
produção (Mosca, 2015; Santos, 1999; Sousa, 2013).
34
5. CONCLUSÃO
A informação disponibilizada pelos organismos governamentais e estudos relacionados
com a questão agrária sugerem um elevado grau de importância do sector agrícola para a
economia Moçambicana nas últimas décadas. A produção agrícola observou importantes
aumentos na última década. Contudo, diversos fatores apontam para uma estagnação, se não
regressão, dos sistemas produtivos. Os incentivos à entrada de grandes projetos direcionados
à exploração da terra (tais como a própria lei de terras), podem resultar num agravamento no
acesso a terra por parte dos pequenos produtores, o que de facto, pode condicionar as
dimensões das explorações agrícolas. Alias, já existem estudos que comprovam a redução do
tamanho das explorações (OMR 2013).
O debate teórico e os estudos empíricos sobre as estratégias da pequena produção não são
recentes, nem conclusivos. Por um lado, o pessimismo da corrente Marxista, sugere no longo
prazo a extinção do pequeno produtor pela sua incapacidade de investir num contexto
capitalista. Por outro, a corrente Chayanoviana, sugere que os pequenos produtores tem
estratégias, lógicas e racionalidades próprias. Todavia, os estudos empíricos não demonstram
uma estratégia produtiva linear dos pequenos produtores.
Os resultados da análise descritiva realizada são idênticos aos dos CAP´s (2000 e 2010), e
permitem retirar as seguintes constatações: (1) Baixa posse de instrumentos de trabalho; (2) os
mercados de insumos são relativamente próximos; (3) A produção média das famílias é
relativamente baixa, aproximadamente 750kg, e perto de 1/3 é destinada ao mercado; (4) A
produção é feita em média em cerca de 1hectar de terra.
Portanto, análise feita a partir do SEM, pode conduzir às seguintes conclusões: (1) a
pequena produção é pouco sensível aos mercados, de compra e venda; (2) A estrutura da
35
família está fortemente ligada a produção; (3) o uso do capital Fixo e a Terra cultivada
demonstram uma ligação positiva com a produção.
Em suma, a análise realizada ao longo do presente trabalho permite-nos perceber que a
maior ligação da estrutura da família com a produção, a fraca ligação com o mercado e o poder
explicativo da Terra e do capital Fixo observado, revelam uma estratégia de sobrevivência,
isto é, as logicas de produção camponesa são necessariamente diferentes das logicas inerentes
as leis de um sistema capitalista.
Os atuais conflitos político-militares que opõe o maior partido da oposição, a Renamo, e o
partido no poder, a Frelimo, constituíram a principal dificuldade na recolha dos dados. Por este
motivo, não foi possível a recolha de informação nas restantes regiões de Moçambique, no
Centro e no Norte. Contudo, desde que a paz se restabeleça, e na sequência desta experiência
frutuosa, é de esperar que uma análise comparativa das estratégias de produção entre as 3 zonas
de Moçambique (Sul, Centro e Norte) venha a constituir tema para o desenvolvimento de
futuros projetos de investigação.
36
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Estratégias de Implementação.
43
Chokwe é um distrito a sul da província
de Gaza, com uma superfície de 2466 km2,
uma população estimada, em 2016, em mais
de 208 mil habitantes o que se traduz
sensivelmente em cerca de 85 habitantes por
km2.
As suas vias rodoviárias são de um
modo geral transitáveis e permitem o acesso fácil à EN1 (Estrada Nacional 1). O distrito conta
ainda com um aeródromo e uma ligação ferroviária que assegura a ligação ao Porto de Maputo
assim como para norte, em direção à fronteira com o Zimbabwe, via a estação de
Chicualacuala.
Chokwe possui perto de 40% do sistema de regadio de Moçambique. As condições
favoráveis à prática da agricultura fazem com que seja esta a atividade económica
predominante do distrito e que envolve perto de 80% da sua população em idade ativa. A
agricultura é praticada numa área total de 10 mil hectares, cerca de 5% da área do distrito,
divididos, em média, por explorações de 1.5 hectares. As principais culturas produzidas são: o
milho, arroz, feijão-nhemba, mandioca, batata-doce e feijão manteiga, (Ministério da
administração Estatal, 2005).
Figura 6: Chokwe
44
O Guijá, localizado a Sudeste da
província de Gaza cobre uma área de 4.207
km2 e regista uma população estimada, para
2016, em pouco mais de 95.000 mil habitantes
e uma densidade populacional de 23 hab/km2.
O distrito contem uma rede débil de
infraestruturas públicas básicas (Ministério da
administração Estatal 2005), a avaliar pelo
seguinte registo: (1) Energia (apenas 1% da população do distrito); (2) Saúde (uma unidade
sanitária por cada 9 mil habitantes; uma cama por cada mil habitantes e um profissional técnico
para três mil habitantes); (3) O acesso a água potável é a inda uma necessidade não satisfeita
(a maioria recorre a poços, rios e lagos); (4) A esmagadora maioria do distrito é coberta por
estradas não pavimentadas o que torna difícil a transitabilidade no distrito; entre outros. O seu
principal parceiro económico é o distrito de Chokwe que possui infraestruturas mais
desenvolvidas e o acesso a Chokwe é feito a partir de pequenas embarcações através do rio
Limpopo e pela via rodoviária.
A agricultura familiar é a atividade económica dominante, em geral praticada sob o
regime de sequeiro e de tração animal. Como forma de garantir a fertilidade dos solos, assim
como a racionalização das áreas de produção, a agricultura é praticada em consorciação de
culturas locais. Fatores como a baixa densidade populacional e a inexistência de grandes
projetos podem por agora justificar o baixo índice de conflitos relativos a utilização da terra.
Figura 7: Guijá
45
Kamavota é um distrito situado na
Província de Maputo Cidade. Para além de
ser a capital de Moçambique, a cidade de
Maputo é o maior centro Urbano do país com
uma área de 347,69 km2 e uma população
estimada em cerca de 1.26 milhões de
habitantes.
Em 2016, a estimativa para a população do distrito é de 353.414 habitantes numa área
108 km2, dividida de forma quase equitativa entre os sexos. Em Kamavota cerca de 60% dos
seus habitantes encontram-se em Idade economicamente ativa (15-64 anos).
Tal como nos distritos acima, a agricultura representa a actividade predominante, na
maioria dos casos é uma agricultura de sequeiro mas com elevados níveis de uso de insumos
agrícolas (sementes, fertilizantes e pesticidas), o que pode justificar o nível de produtividade
relativamente elevado. Contudo, a maioria da população conjuga o trabalho na agricultura com
outras actividades que proporcionem algum rendimento, principalmente no mercado informal,
na Cidade de Maputo.
O aprovisionamento em água e energia ainda não está totalmente satisfeito, mas à maior
parte da população acede à água, entre fontenária e agua canalizada, na ordem dos 90%, e
energia na ordem dos 60%. O acesso ao distrito é feito pela via rodoviária em geral transitável
e de fácil acesso ao centro da Cidade de Maputo.
Figura 8: Kamavota
46
Tabela 4: Estudos econométricos relacionados com a pequena produção
Autores Documento de
trabalho Metodo
Variável
endógena variáveis exógenas Principais conclusões
Boris E.
Bravo-
Ureta
(1994)
Efficiency in
agricultural
production: the case
of peasant farmers
in eastern Paraguay
Stocastic
efficiency
decomposi
tion
Produção
anual de
algodão
ou
mandioca
(kg)
Mão-de-obra contratada ou
familiar para a produção, área de
produção, valor dos materiais,
incluindo as despesas com
serviços de projecto de animais,
sementes e outros insumos
adquiridos.
Os camponeses podem aumentar a
produção e o rendimento familiar
através de uma melhor utilização dos
recursos disponíveis, dado o estado da
tecnologia. Portanto, existe um espaço
para a melhoria da produtividade das
explorações agrícolas.
Cunguara,
Langyintuo
e
Darnhofer,
(2011)
The role of nonfarm
income in coping
with the effects of
drought in southern
Mozambique
Multivariat
e sample
selection
model
Rendime
nto das
actividad
es não
agrícolas.
Tamanho do agregado familiar,
género do chefe de família, o nível
mais alto de educação, área
cultivada, animais tropicais,
bicicleta, adesão a uma associação
de agricultores e distrito.
Os agregados familiares com diferentes
categorias riqueza tem estratégias
diferentes. Estas estratégias parecem
estar ligadas ao tipo de actividades
realizadas. Estratégias de investimento
em infraestrutura física e educação com
efeito a longo prazo.
Haji (2006)
Production
efficiency of
smallholders’
vegetable-
dominated mixed
farming system in
Eastern Ethiopia: A
non-parametric
approach
Modelo de
regrassão
Valor
total em
kg da
produção
de
vegetais,
não-
vegetais
e animais
Terra, equipamento agrícola,
trabalho, adubos, sementes,
pesticidas, irrigação.
O nível da eficiência técnica observada
é significativamente afectada pelo
ativo, rendimento não agrícola,
dimensão das explorações, visitas de
extensão e tamanho da família. A
diversificação de culturas, os gastos de
consumo e Terra, têm um impacto
significativo sobre a eficiência
económica alocativa.
Helfand e
Edward
(2004)
Farm size and the
determinants of
productive
efficiency in the
Brazilian Center-
West
Modelo de
regressão
Valor
bruto da
produção
Área utilizada, trabalho,
Tractores, animais, insumos
adquiridos (fertilizantes, produtos
químicos, sementes, combustível,
alimentos e medicamentos para
animais)
Os resultados indicam o acesso ao
mercado através de criação de infra-
estruturas são determinantes nas
diferenças de eficiência. O uso de
insumos como irrigação e fertilizantes,
e as diferenças na composição da
produção também demonstraram ser
determinantes para a produção total.
Howard N.
Barnum
(1979)
An econometric
application of the
theory of the farm-
household
Modelo de
regressão Produção
Consumo próprio, consumo de
bens não-agrícolas, quantidade de
mão-de-obra familiar, salario fora
por dia, tempo total disponível
para todos os membros da família.
Número de membros da família
com 16 anos de idade ou mais,
número de dependentes com
Os resultados indicam que o trabalho
per capita é em função do tamanho da
força de trabalho familiar. A remoção
de um membro do trabalho a partir de
uma família rural irá influenciar os
padrões de consumo per capita através
de uma mudança no tempo livre
disponível para o uso na actividade
47
menos de 16 anos de idade, a idade
do chefe de família, número de
anos de educação do chefe da
família e preço do arroz.
agrícola e através de mudanças na
extensão da participação das famílias
no mercado de trabalho.
Pender e
Gebremedh
in (2007)
Determinants of
agricultural and land
management
practices and
impacts on crop
production and
household income
in the highlands of
Tigray, Ethiopia
Modelo de
regressão
Produção
agrícola
por
agregado
familiar
Quantidade de insumos, práticas
de gestão de terras, capital natural,
investimentos em terra (irrigação,
terraços de pedra, diques do solo e
cercas/barreiras), capital humano
(educação, idade e sexo do chefe
da família), serviços de extensão,
fatores agro-ecológicas que
determinam produtividade local e
fatores aleatórios.
Estes factores não tem um impacto
significativo sobre a produção agrícola
e o rendimento, em parte devido ao
produto marginal baixo da mão-de-
obra na produção agrícola e o impacto
da produtividade limitada de insumos
como é o caso dos fertilizantes
Ulimwengu
e Badiane
(2010)
Vocational Training
and Agricultural
Productivity:
Evidence from Rice
Production in
Vietnam
Modelo de
regressão
Produção
de arroz
por
hectare.
Input (terra e fertilizantes),
Educação (ensino primário e
secundário), Formação
Vocacional, Saúde.
Produtores com formação profissional
têm maior produção por unidade de
terra. A formação vocacional eleva os
níveis de eficiência e reduz as
diferenças de produtividade entre as
famílias.
Fonte: Elaboração do autor.
Figura 9: Fotografia de grupo
48
Figura 10: Tabela do SEM
var(H2) 1 . . .
var(H1) 1 . . .
var(e.CF6) .4501868 .0873239 .3076906 .6586753
var(e.CF5) .5980816 .138362 .3798741 .9416321
var(e.CF4) .4740785 .0741421 .3488133 .6443288
var(e.CF3) .2110808 .047672 .1355222 .328766
var(e.CF2) .2497343 .0430087 .1781298 .3501225
var(e.CF1) .5987998 .0792831 .4618112 .7764238
var(e.Produção) .2187384 .094361 .0938322 .5099154
var(e.EF5) .820743 .1706992 .5457481 1.234304
var(e.EF4) .7273212 .2671256 .3538205 1.495097
var(e.EF3) .1262565 .080996 .0358619 .4445027
var(e.EF2) .0890733 .057037 .0253591 .3128678
var(e.EF1) .2632816 .1855461 .0660584 1.049332
_cons 0 (constrained)
H2 .7414939 .0588838 12.59 0.000 .6259658 .8570219
CF6 <-
_cons 0 (constrained)
H2 .6339704 .1091234 5.81 0.000 .4198738 .8480669
CF5 <-
_cons 0 (constrained)
H2 .7252044 .0511181 14.19 0.000 .6249124 .8254965
CF4 <-
_cons 0 (constrained)
H2 .8882113 .026836 33.10 0.000 .8355599 .9408626
CF3 <-
_cons 0 (constrained)
H2 .8661788 .0248267 34.89 0.000 .8174696 .9148879
CF2 <-
_cons 0 (constrained)
H2 .6334036 .062585 10.12 0.000 .5106139 .7561934
CF1 <-
_cons 0 (constrained)
H1 .4233876 .2015874 2.10 0.036 .0278796 .8188955
EF5 <-
_cons 0 (constrained)
H1 .5221866 .2557761 2.04 0.041 .0203621 1.024011
EF4 <-
_cons 0 (constrained)
H1 .9347425 .0433253 21.57 0.000 .8497396 1.019745
EF3 <-
_cons 0 (constrained)
H1 .9544248 .0298803 31.94 0.000 .8958006 1.013049
EF2 <-
_cons 0 (constrained)
H1 .858323 .1080864 7.94 0.000 .646261 1.070385
EF1 <-
Measurement
_cons -.1494231 .0488398 -3.06 0.002 -.2452453 -.0536009
H2 .1500388 .0430794 3.48 0.001 .0655184 .2345592
H1 .818637 .1177745 6.95 0.000 .5875673 1.049707
H5 .2816395 .1704727 1.65 0.099 -.0528224 .6161014
H4 -.0308742 .0139594 -2.21 0.027 -.0582622 -.0034863
H3 .082012 .0209612 3.91 0.000 .0408868 .1231373
Produção <-
Structural
Standardized Coef. Std. Err. t P>|t| [95% Conf. Interval]
Linearized
(13) [CF6]_cons = 0
(12) [CF5]_cons = 0
(11) [CF4]_cons = 0
(10) [CF3]_cons = 0
( 9) [CF2]_cons = 0
( 8) [CF1]_cons = 0
( 7) [EF5]_cons = 0
( 6) [EF4]_cons = 0
( 5) [EF3]_cons = 0
( 4) [EF2]_cons = 0
( 3) [EF1]_cons = 0
( 2) [Produção]H2 = 1
( 1) [EF1]H1 = 1
Design df = 1185
Number of PSUs = 1188 Population size = 1308.7337
Number of strata = 3 Number of obs = 1188
Survey: Structural equation model