1 1 INTRODUÇÃO A insuficiência renal crônica (IRC) é uma síndrome caracterizada pela incapacidade dos rins funcionarem adequadamente, devido ao comprometimento de 2/3 a 3/4 dos néfrons, o que determinada a perda de suas funções de forma progressiva e irreversível (Case et al., 1998). A IRC é mais comum em animais senis com idade média de 6,5-7 anos para cães e 7-7,4 anos para gatos, sendo mais comum nestes (Veado, 2003). Filhotes de algumas raças, dentre elas Shih Tzu, Shar Pei, Doberman, Lhasa Apso, Samoiedo e Cocker Spaniel podem nascer com número de néfrons insuficientes, predispondo-os ao desenvolvimento da insuficiência renal crônica (Nelson & Couto, 1998). A debilitação de um rim normal pode levar a perda de 75% dos néfrons, antes que apareçam sinais clínicos ou bioquímicos evidentes (Case et al., 1998). A perda da função excretora causa retenção de substâncias nitrogenadas, como uréia, creatinina, ácido úrico e amônia, acarretando, ao animal, náuseas, vômitos, diureses osmóticas e encurtamento da vida média das hemácias, além de ocasionar alterações no equilíbrio eletrolítico, hídrico e ácido-básico (Case et al., 1998). Segundo os mesmos autores, a IRC leva à falha na síntese da eritropoetina, o que origina uma anemia não-regenerativa. A conversão da vitamina D em seu metabólito ativo também é reduzida, prejudicando a absorção de cálcio pelo intestino, contribuindo com o desenvolvimento de hiperparatireoidismo secundário à lesão renal (Nelson & Couto, 1998). No momento do diagnóstico da IRC, geralmente não é possível identificar o agente etiológico por se tratar de uma lesão progressiva, além da capacidade dos rins compensarem boa parte da perda do tecido funcional o que dificulta a identificação do agente (Veado, 2003).
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
1
1 INTRODUÇÃO
A insuficiência renal crônica (IRC) é uma síndrome caracterizada pela
incapacidade dos rins funcionarem adequadamente, devido ao comprometimento
de 2/3 a 3/4 dos néfrons, o que determinada a perda de suas funções de forma
progressiva e irreversível (Case et al., 1998).
A IRC é mais comum em animais senis com idade média de 6,5-7 anos
para cães e 7-7,4 anos para gatos, sendo mais comum nestes (Veado, 2003).
Filhotes de algumas raças, dentre elas Shih Tzu, Shar Pei, Doberman, Lhasa
Apso, Samoiedo e Cocker Spaniel podem nascer com número de néfrons
insuficientes, predispondo-os ao desenvolvimento da insuficiência renal crônica
(Nelson & Couto, 1998). A debilitação de um rim normal pode levar a perda de
75% dos néfrons, antes que apareçam sinais clínicos ou bioquímicos evidentes
(Case et al., 1998).
A perda da função excretora causa retenção de substâncias nitrogenadas,
como uréia, creatinina, ácido úrico e amônia, acarretando, ao animal, náuseas,
vômitos, diureses osmóticas e encurtamento da vida média das hemácias, além
de ocasionar alterações no equilíbrio eletrolítico, hídrico e ácido-básico (Case et
al., 1998). Segundo os mesmos autores, a IRC leva à falha na síntese da
eritropoetina, o que origina uma anemia não-regenerativa.
A conversão da vitamina D em seu metabólito ativo também é reduzida,
prejudicando a absorção de cálcio pelo intestino, contribuindo com o
desenvolvimento de hiperparatireoidismo secundário à lesão renal (Nelson &
Couto, 1998).
No momento do diagnóstico da IRC, geralmente não é possível
identificar o agente etiológico por se tratar de uma lesão progressiva, além da
capacidade dos rins compensarem boa parte da perda do tecido funcional o que
dificulta a identificação do agente (Veado, 2003).
2
A medicina tradicional chinesa (MTC) é conhecida como uma medicina
de harmonização que pode ser preventiva e que utiliza os estímulos de pontos
cutâneos determinados por uma exata posição anatômica. Estes pontos são
estimulados por diferentes técnicas de acupuntura que provocam a reorganização
do sistema e permitem uma autoterapia (Rubin, 1983).
Os pontos de acupuntura, na sua imensa maioria, estão localizados em
depressões, sejam elas ósseas, interósseas, intermusculares, entre tendões,
articulações e outros (Torro, 1997).
Na Medicina Tradicional Chinesa, a IRC corresponde à deficiência de
rim (Shen), ou seja, deficiência de Yin e Yang do rim, deficiência de Qi e da
Essência (Jing) do rim (Zhufan & Jiazhen, 1997).
O rim é responsável pela origem de todo Yin e Yang dos órgãos e
vísceras (Sistema Zang Fu), logo na IRC há comprometimento do
funcionamento do Zang Fu (Zhufan & Jiazhen, 1997).
O objetivo da monografia é relatar um terapia não-convencional como
mais uma opção no tratamento da IRC, além de descrever a visão da medicina
tradicional chinesa sobre tal síndrome.
2 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA
2.1 Agentes etiológicos
A insuficiência renal crônica pode ser conseqüência de diversas
etiologias, principalmente, as inflamatórias e infecciosas, dentre elas,
leptospirose, peritonite infecciosa felina (PIF), parasitismo pelo Dioctophyme
renale quando os dois rins são acometidos, pielonefrite, cálculos renais e
obstrução do fluxo urinário (Nelson & Couto, 1998).
3
Agentes nefrotóxicos também são potentes causadores da IRC, incluindo
os antibióticos aminoglicosídeos e substâncias anticongelantes, como o
etilenoglicol, utilizado em radiadores de automóveis nos países de clima
temperado (Forrester, 1998). Esse mesmo autor relata ainda que o quadro de
insuficiência renal crônica pode ser causado por isquemia renal, além das
alterações hereditárias ou congênitas como a hipoplasia bilateral e displasia
renal, presença de rins policísticos (comum em gatos de pêlos longos) e as
Jing-luo Qi é a energia que percorre nos meridianos e Zang fu Qi é a
energia dos órgãos e vísceras. Cada um dos órgãos internos tem seu próprio Qi,
sendo a base de suas atividades e funções fisiológicas (Luna, 2004)*. Segue
abaixo o quadro sobre os diferentes tipos de Qi (Quadro 3)
QUADRO 3. Diferentes tipos de Qi e seus conceitos.
_____________________________
* Luna, S. P. L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –
UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
* Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –
UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
Tipos de Qi Conceito Gu Qi Energia proveniente dos alimentos
Zong Qi Energia proveniente do ar que respiramos, juntamente com o Gu Qi Yuan Qi Energia armazenada pelos rins Zhen Qi Energia que circula nos meridianos e nutre os Sistemas Wei Qi Energia defensiva Ying Qi Energia que nutre os Sistemas Internos
Jing – luo Qi Energia que percorre os meridianos Zang Fu Qi Energia dos órgãos e vísceras
26
Segue abaixo o esquema ilustrativo dos tipos de Qi (Figura 4):
FIGURA 4. Tipos de Qi (Luna, 2004)*
3.3 Teoria dos meridianos
Os meridianos formam um sistema ordenado de linhas imaginárias que
cobre o corpo inteiro como uma rede, permitindo a comunicação entre os órgãos.
Os meridianos não são visíveis fisicamente, mas sua existência e distribuição
pelo corpo já foram demonstradas por mensuração de potenciais neuroelétricos.
Eles formam a base da acupuntura, unificando todas as partes do organismo,
conectando os órgãos internos com o corpo externo e mantendo a harmonia e o
equilíbrio. Os meridianos permitem obter os indícios da etiologia de doenças,
observar o ciclo de uma doença e controlar as funções dos sistemas do
organismo Existem 12 meridianos regulares, cada um correspondendo a um dos
12 órgãos Zang Fu. Juntamente, há 8 meridianos extras em que 2 são
considerados principais (Vaso governador e Vaso concepção), totalizando 14
Pulmão
Ar
Gu Qi
Baço
Zong Qi Zhen Qi Wei Qi
Yuan Qi
Zang Fu Qi
Ying Qi Jing-luo Qi
27
meridianos principais, utilizados na acupuntura contemporânea (Draehmpaehl &
Zohmann, 1997).
3.4 Pontos de Acupuntura
Além dos chineses, outros povos faziam uso da acupuntura,
contemporaneamente. Mas a China foi quem atribuiu significados filosóficos
profundos a acupuntura, classificando os pontos, descrevendo os meridianos e
desenvolvendo as leis da acupuntura a partir de séculos de observações
meticulosas. A acupuntura já ocorria desde a Idade da Pedra, em que
instrumentos de pedra eram utilizados para aliviar a dor e tratar doenças.
Posteriormente, as pedras foram substituídas por osso e bambu. Nos séculos 16 a
11, a.C., houve o desenvolvimento de agulhas de bronze, mas a inovação em
acupuntura ocorreu com o surgimento das agulhas de metal, de modo que a
condutividade elétrica levasse ao estudo dos meridianos e, conseqüentemente, à
classificação dos pontos de acupuntura (Joaquim, 2004)*.
Uma lenda relata que a acupuntura veterinária surgiu quando cavalos
mancos tornaram-se sãos depois de serem atingidos por flechas em diferentes
pontos. Há evidência de que veterinários já praticavam acupuntura ao redor de
3000-2000 anos a.C. A acupuntura foi difundida pelo Ocidente, no início do
século XVII, pelos jesuítas e viajantes do extremo oriente (Joaquim, 2004)*.
______________________________ * Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –
UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
28
O termo acupuntura provém das palavras em latim: acus, significando
“agulha”, e pungere, significando “perfurar”. É a técnica de perfurar a pele com
agulhas num local pré-determinado, chamado acuponto, para prevenir ou tratar
doenças. Os pontos de acupuntura (acupontos) encontram-se nos meridianos e
variam em tamanho entre 1 a 25 mm, podendo ser localizados pela sua
condutividade elétrica que difere daquela de tecidos circunjacentes. Os pontos
podem se apresentar sensíveis a palpação quando houver desequilíbrio entre Yin
e Yang: deficiência e excesso de Yin ou Yang (Diniz, 2004)*.
A acupuntura clássica reconhece 365 pontos na superfície dos
meridianos. Entretanto, na prática, há um repertório típico de somente 150
pontos. Cada acuponto tem uma função definida ou específica. Um tratamento
pode envolver um ou até 20 pontos, sendo o mais comum o uso de diversos
pontos, tratados simultaneamente (Diniz, 2004)*.
__________________________ * Diniz, E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –
UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
29
3.5 Os Cinco Movimentos
No início do desenvolvimento da medicina chinesa, a teoria dos cinco
movimentos foi utilizada para explicar os processos fisiológicos e patológicos do
corpo. Tudo no universo é o produto do movimento e mudança de cinco
elementos básicos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Estes elementos são, na
verdade, conceitos e não matéria (Diniz, 2004)*.
A Madeira produz o Fogo. O Fogo produz cinzas que se encorporam à
Terra. Da Terra recebemos a rocha, de onde obteremos o Metal. O Metal
fundido origina o vapor, produzindo a Água. A vegetação necessita de Água ou
umidade para crescer, produzindo a Madeira. Um movimento produz o próximo
(Diniz, 2004)*. Cada um dos cinco movimentos representa uma estação do ano.
A Madeira corresponde à primavera, o Fogo ao verão, o Metal corresponde ao
outono, a Água ao inverno e a Terra corresponde à estação anterior. A Terra é o
centro, o termo neutro de referência ao redor do qual as estações giram. A Terra
corresponde aos 18 últimos dias de cada estação, ou seja, corresponde ao estágio
anterior de cada estação (Maciocia, 1996).
_______________________________ * Diniz, E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –
UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
30
Cada movimento corresponde a um órgão e uma víscera. Madeira
corresponde ao fígado e vesícula biliar; Fogo corresponde ao coração e intestino
delgado; Terra corresponde ao estômago e baço/pâncreas; Metal corresponde ao
pulmão e intestino grosso; Água corresponde ao rim e bexiga. Tudo na natureza
que é criado pode ser destruído para manter o equilíbrio das coisas, de modo que
nada poderá se tornar extremamente poderoso e causar danos. A Madeira destrói
a Terra com suas raízes e suas folhas que cobrem o solo. A Terra represa a Água
ou a absorve. A Água destrói o Fogo. O Fogo derrete o Metal e o Metal destrói a
Madeira, cortando-a (Okamoto, 2004)*.
Baseando-se nos conceitos citados acima, o rim (Shen) é a mãe do fígado
(Gan) e controla o coração (Xin). O Yin do rim nutre o sangue (Xue) do fígado
O Qi original (Jing) é responsável por nutrir o Rim (Maciocia, 1996).
Xue significa sangue e Qi torna-se responsável por proporcionar vida ao
sangue para que este não seja um fluido inerte. O sangue deriva em sua maior
parte do Qi dos alimentos produzido pelo baço que o envia em ascendência para
o pulmão, e através da ação impulsora do Qi do pulmão, este é enviado para o
coração, onde é transformado em sangue. O fígado armazena sangue e o baço o
controla. Quando comparado a Qi, é de natureza Yin. Xue não permite que os
tecidos corpóreos sequem (Joaquim, 2004)*.
______________________________ * Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –
UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
33
Jing é um tipo de Qi armazenado pelos rins, responsável pelo
crescimento, desenvolvimento e reprodução do indivíduo. É distribuído entre os
sistemas internos e meridianos. Limita-se a certa quantidade, sendo gasta através
da vida com doenças, drogas, excesso de trabalho, excesso de sexo e álcool
(Joaquim, 2004)*.
Jin Ye corresponde aos líquidos corporais, todos os fluidos
fisiológicos que podem ser secretados pelo sistema Zang (suor, lágrimas, saliva,
muco nasal, fluidos do intestino grosso e delgado, estômago e fluidos que
umedecem tecidos como o cérebro, boca, olhos, pele, músculos, tendões, medula
e ossos), sendo de natureza Yin. É o reflexo da vitalidade e da quantidade de Qi
presente e absorvida dos alimentos (Joaquim, 2004)*.
______________________________ * Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –
UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
34
4 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA NA MEDICINA
TRADICIONAL CHINESA
O rim (Shen) é referido como raiz da vida ou raiz do Qi pré-celestial,
pois armazena o Jing (Essência), derivado, dos pais, no momento da concepção,
como citado, anteriormente. Como todo órgão, o rim também apresenta um
aspecto Yin e outro aspecto Yang e contém todo o Yin e Yang dos demais
sistemas. O Yin do rim é a base do Yin do fígado (Gan), coração (Xin) e pulmão
(Fei), sendo responsável pelo nascimento, crescimento e reprodução. O Yang do
rim é a base do Yang do baço (Pi), coração (Xin) e pulmão (Fei), sendo a força
principal dos processos fisiológicos. Na saúde, o Yin e Yang formam um todo,
mas na patologia, ocorre a separação do Yin e Yang (Martins, 2003).
O rim (Shen) controla a transformação da água, de maneira que os
fluidos impuros fluem em descendência e o Qi puro flui em ascendência para o
pulmão (Fei). Assim, o funcionamento fisiológico normal dos sistemas depende
da direção correta do Qi. Shen vaporiza alguns fluidos e os envia ao pulmão,
além de proporcionar o calor necessário ao baço para a transformação de Jin Ye.
A deficiência de Yang do Shen resulta na deficiência de Pi, com conseqüente
acúmulo de fluidos. Auxilia o intestino delgado na separação dos fluidos
corpóreos em partes puras e impuras (Maciocia, 1996).
Segundo Maciocia (1996), o rim (Shen) transforma e excreta os fluidos
corpóreos (Jin Ye) produzidos pelo estômago (Wei). Se o rim não puder
eliminar os fluidos corpóreos, corretamente, estes irão estagnar e afetar o Wei ou
a falta de Jin Ye no Wei pode levar a deficiência do rim (Shen). A deficiência do
Yin do rim induz a uma deficiência do Yin do fígado e do Yin do coração, e a
deficiência do Yang do rim induz a uma deficiência do Yang do baço e do Qi do
pulmão.
35
Por formarem um todo (Yin/Yang), a deficiência de um implica na
deficiência do outro, sendo necessária a tonificação de ambos para que não
ocorra a exaustão. O Qi original inclui o Yin original (Yuan Yin) e o Yang
original (Yuan Yang), sendo o princípio de todo o Yin e Yang do organismo,
que desperta e movimenta a atividade funcional de todos os sistemas, circulando
pelos meridianos em todo o organismo. O fornecimento de calor para todas as
atividades funcionais do organismo é feito pelo Portão da Vitalidade (Ming
Men) que localiza-se entre os dois rins, abaixo da cicatriz umbilical, na região
dorso-lombar, sendo Fonte do Fogo para todos os sistemas internos (Martins,
2003).
A mesma autora relata que tanto o Portão da Vitalidade quanto o Qi
original estão relacionados ao rim e são interdependentes. O Qi original auxilia
na elaboração de Xue e depende do calor para seu desempenho que é fornecido
pelo Ming Men. Logo, se o Fogo do Portão for deficiente, o Qi original sofrerá e
levará a uma deficiência de Qi e Xue. A atividade funcional de todos os sistemas
será afetada, resultando em cansaço, depressão mental, sensação de frio,
negatividade e falta de vitalidade. O Ming Men aquece o Aquecedor Inferior e a
bexiga (PangGuang). O Aquecedor Inferior transforma e excreta os fluidos
corpóreos (Jing Ye) com o auxílio da bexiga, sendo o calor do Ming Men
essencial para a transformação de Jin Ye no Aquecedor Inferior. Se não houver
calor suficiente para a transformação dos fluidos corpóreos, este se acumulará
levando ao aparecimento de edema e umidade. O calor também é essencial para
o baço (Pi) para exercer sua função de transportar, separar e transformar,
requerendo o calor fornecido pelo Ming Men. Sem este calor, o baço (Pi) não
poderá transformar e o estômago (Wei) não poderá digerir os alimentos, levando
ao aparecimento de diarréia, cansaço e sensação de frio, incluindo os membros.
O desempenho sexual, a fertilidade e a puberdade dependem do Fogo do Ming
36
Men que, mais uma vez, é responsável pela harmonia da função sexual e pelo
aquecimento da essência e do útero (Martins, 2003).
O Portão da Vitalidade também auxilia o Shen à recepção do Qi e a
comunicação do rim com o coração, fornecendo calor necessário para que este
exerça todas as suas atividades. A função de receber o Qi depende do Yang do
Shen, necessitando de uma comunicação entre o Qi torácico e o Qi original do
Aquecedor Inferior que depende do calor do Ming Men para exercer sua
atividade. Se este calor for deficiente, a habilidade do rim em receber o Qi
também será afetada, levando ao quadro de dispnéia, asma e membros frios
(Martins, 2003).
5 MEDICINA OCIDENTAL VERSUS MEDICINA TRADICIONAL
CHINESA (MTC)
A deficiência de Yang do rim resulta no aquecimento insuficiente,
promovendo a sensação de frio no corpo, fraqueza dos movimentos e
manifestação do pulso profundo, fraco e lento. A deficiência da circulação de Qi
e de Xue para a face e para a língua leva à manifestação de mucosas pálidas e
língua mole e fraca, além da necrose da ponta da língua que ocorre em pacientes
urêmicos com insuficiência renal crônica (Ross, 1994).
A deficiência do rim interfere na produção e circulação de Xue, uma vez
que o Yuan Qi é a força motriz para a produção de Xue, logo se o sangue (Xue)
do coração (Xin) é deficiente, a circulação de sangue torna-se escassa (Maciocia,
1996).
Segundo Zhufan & Jiazhen (1997), a deficiência de Yang do rim leva à
dor lombar e dos membros posteriores, sendo medicados para lombalgia com
antiinflamatórios não esteróides, o que agrava ainda mais o quadro e a isquemia
renal (Martins, 2003).
37
A deficiência de Yang do rim pode levar à deficiência de Jing, ocorrendo
sensação de frio na região lombar e joelhos, distúrbios da reprodução e
auditivos, ósseos e dentários, não sendo rara a ocorrência de cálculos dentários
em animais senis e portadores de insuficiência renal crônica, pois os ossos e,
conseqüentemente, os dentes são controlados pelo rim. Os rins conservam a
força de vontade e se estes estiverem enfraquecidos, principalmente a energia
Yang, o animal poderá apresentar apatia e debilidade das atividades,
incapacidade de conter a urina, levando à poliúria ou até mesmo à incontinência
urinária (Ross, 1994).
Durante a ingestão de alimentos, estes atingem o estômago, sendo o
baço/pâncreas responsável por absorver a essência dos fluidos, separando o puro
do impuro. Em seguida o baço transporta a parte limpa do Qi do fluido para o
pulmão, enquanto os fluidos e sólidos impuros passam para o intestino delgado
(Xiao Chang) com o Qi do estômago. Os fluidos limpos, no pulmão, são
enviados ao rim. A porção impura proveniente da transformação do Qi do
pulmão é carregada através do Triplo Aquecedor (San Jiao) para a bexiga. Do
intestino delgado, o remanescente sólido, quase totalmente utilizado, dirige-se ao
intestino grosso (Da Chang) para a extração final dos fluidos. Os fluidos
impuros rejeitados pelo Xiao Chang passam para a bexiga através do Triplo
Aquecedor para a última transformação do Qi, devido à virtude vaporizante do
Qi original do rim (Yuan Qi). Os fluidos remanescentes são expulsos na forma
de urina (Martins, 2003).
Baseando-se nas citações acima, a poliúria pode ser explicada pela
incapacidade do Qi original em promover a transformação do Qi dos fluidos da
bexiga, ocorrendo acúmulo na bexiga dos fluidos provenientes do Qi reutilizável
e os rins debilitados são incapazes de manter a consolidação e a urina se torna
profusa, uma vez que os rins controlam os orifícios inferiores. Pode ocorrer
oligúria e edema se houver uma deficiência de Yang do rim e baço/pâncreas,
38
levando à falência das funções de transformação e transporte do Jin Ye. Além
disso, a deficiência de Yang do baço também pode levar à falta de apetite e
apresentação de fezes soltas, deficiência de Qi e de Xue, resultando na má
nutrição dos músculos e, conseqüentemente debilidade do corpo, pulso fraco e
língua pálida (Martins, 2003).
Toda manifestação patológica do Shen se manifesta como uma
deficiência de Yin ou do Yang do Shen. A deficiência de uma parte (Yin ou
Yang) implicará em um nível menor da outra parte (Yang ou Yin) (Maciocia,
1996).
A deficiência de Qi do rim é diagnosticada pelo aumento sérico de
compostos nitrogenados (Martins, 2003).
Na MTC, a presença de proteína na urina é vista como perda da essência
do rim se este estiver debilitado, levando ao quadro de proteinúria (Maciocia,
1996).
Os sinais clínicos de anemia como palidez das mucosas, fadiga, letargia
e anorexia são típicos da deficiência de sangue (Xue), além do aspecto da
pelagem descuidada e sem brilho (Zhufan & Jiazhen, 1997).
Os pêlos são governados pelo rim e para que a pelagem se mantenha
saudável é necessário que se mantenha uma reserva suficiente de Jing e de Xue,
se estes se encontrarem deficientes a pelagem poderá se apresentar de cor opaca,
seca e esbranquiçada (Ross, 1994).
Há duas formas importantes na manutenção de Xue, sendo que uma
delas consiste na transformação do Qi dos alimentos em sangue ser auxiliada
pelo Qi original. A outra forma de manter o Xue é que o rim armazena o Jing
que gera a medula óssea que por sua vez contribui na geração do sangue, sendo
uma interação entre o Qi pós-celestial e o Qi pré-celestial (Ross, 1994).
39
Segundo Ross (1994), rim (Shen) e o estômago (Wei) podem ter padrões
tanto de deficiência de Yin como de Yang, mas o fígado (Gan) tende a
apresentar deficiência de Yin e o baço/pâncreas tende a Yang deficiente.
Pelo fato do rim ser a fonte de todo o Yin e Yang de todo o Sistema
Zang Fu, na IRC, em que ocorre deficiência de Yin e Yang do rim, ocorre
deficiência de Yang do baço/pâncreas e deficiência de Yin do fígado, decorrente
da deficiência do rim (Martins, 2003).
A hipertensão arterial comum na IRC, pode ser explicada pela
deficiência de Yin ou Yang do rim. Se houver deficiência de Yang, a água se
acumula, o Yang não se move, os vasos sanguíneos não relaxam, o sangue não
flui devidamente, gerando hipertensão. Se a deficiência for de Yin do rim,
haverá falha na nutrição do Yin do Gan, ocasionando hiperatividade do Yang do
Gan, gerando elevação da pressão sanguínea (Maciocia, 1996).
Entretanto se o quadro de deficiência for agravado, tem-se o colapso de
Yin e Yang, ocorrendo a separação completa de Yin e Yang, em que o Yang
sobe para o Triplo Aquecedor Superior e o Yin desce para o Triplo Aquecedor
Inferior. Este é um quadro grave que justifica sinais clínicos como estupor, coma
ou convulsões decorrentes da uremia. A perda excessiva de Jin Ye, comum na
IRC, em que há o comprometimento de todo o metabolismo dos fluidos, pode
levar ao colapso de Yin e o colapso de Yin ou Yang podendo ainda, transformar-
se um no outro, rapidamente (Ross, 1994).
5.1 Tratamento da IRC na Acupuntura
O tratamento deve ser baseado na deficiência de Jing (Essência), Qi, Yin
e Yang do Shen. O princípio do tratamento é nutrir o Yin do rim (Shen)
(Martins, 2003).
40
Pontos de Acupuntura (PA) para a síndrome da deficiência do Yin do
rim, segundo Martins (2003):
-R3 (Taixi): Ponto fonte do rim, fortalece Yin dos rins (Martins, 2003).
Além de ter indicações para dores locais, inchaços e inflamações do jarrete,
cistite, faringite, problemas funcionais de ciclo, esterilidade, problemas de
micção e impotência coeundi. Agulhar cerca de 2 a 5 mm, de acordo com a raça
(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 6).
FIGURA 6. (A) Mapa dos acupontos no cão, para demonstração do ponto R2, R3 e R6. (B) Mapa dos acupontos no homem, para demonstração do ponto R1, R2, R3 e R6 (Torro, 1997).
-B23 (Shenshu): Fortalece os rins e pode dispersar o calor do
Aquecedor Superior (Martins, 2003). Indicado para nefrite, edemas, diarréia,
distúrbios ovarianos, esterilidade, propicia a diurese e deve-se agulhar cerca de 1
a 5 cm (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 7).
A B
41
FIGURA 7. (A) Mapa dos acupontos no cão, para demonstração do ponto B20, B21 e B23. (B) Mapa dos acupontos no homen, para demonstração do ponto B20, B21 e B23 (Torro,1997).
A B
42
-VC4 (Guanyuan): Fortalece o Yang do rim, mas também pode
fortalecer o Yin do rim (Martins, 2003). Também é indicado para mastite,
diarréia, prostatite não específica, micção freqüente, problemas do ciclo.
Agulhar cerca de 1 cm (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).
FIGURA 8. Mapa dos acupontos no homem e no cão, para demonstração do ponto VC4 e VC6 (Torro, 1997).
-R6 (Zhoahai): Fortalece o Yin e elimina calor (Martins, 2003). Agulhar
cerca de 2 a 5 mm, de acordo com a raça, além de ter indicações para dores
locais, inchaços e inflamações do jarrete, esterilidade, problemas funcionais do
diarréia (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9 e 10).
FIGURA 9. Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto BP6 (Torro, 1997).
44
FIGURA 10. Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto BP3 e BP6 (Torro, 1997).
-R1 (Youngquan): Acalma o fígado e a hiperatividade de Yang do fígado
e do corpo além de apaziguar o fogo (Martins, 2003). Agulhar cerca de 2 a 5
mm, tendo indicações para problemas de micção, faringite, choque, hepatite,
parada respiratória, asfixia do recém-nascido (Draehmpaehl & Zohmann, 1997)
(Figura 12).
45
FIGURA 11. Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto R1 (Torro, 1997).
-R2 (Rangu): Acalma o fígado e a hiperatividade de Yang do fígado e
do corpo, além de apaziguar o fogo (Martins, 2003). Também é indicado para
dores locais, inchaços e inflamações, cistite, faringite, prolapso uterino, diarréia
(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figuras 6 e 13).
46
FIGURA 12. Mapa dos acupontos, no homem,
para demonstração do ponto R2 (Torro, 1997).
Segundo Martins (2003), para hipertensão arterial (deficiência de Yin e
hiperatividade de Yang):
-VB20 (Fengchi): Acalma o Yang hiperativo (Martins, 2003). Agulhar
cerca de 5 a 7 mm, sendo indicado, também, para torcicolo, rinite, doenças
febris (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 14).
47
FIGURA 13. (B) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto VB20. (A) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto VB20 (Torro, 1997).
A B
48
-IG11 (Quchi): Drena o excesso de calor dos canais Yang, pois está
situado, assim como o E36, nos canais Yang (Martins, 2003). Agulhar cerca de 1
a 2 cm, também indicado para dores no ombro, cotovelo e antebraço, ponto
importante para diminuir a febre (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 15).
FIGURA 14. Mapa dos acupontos no homem e no cão para demonstração do ponto IG11 (Torro, 1997).
-F3 (Taichong): Acalma o Yang hiperativo do fígado e o vento (Martins,
2003). Agulhar cerca de 5 mm, além de ser usado para quadros de hepatite,
FIGURA 15. (A) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto F3. (B) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto F3 (Torro, 1997).
Pontos de Acupuntura para tratamento de deficiência de Yang do rim,
uma vez que o princípio do tratamento é Aquecer e tonificar o Yang do rim
(Martins, 2003):
-R3 (Taixi): Fortalece os rins e se utilizar moxa pode fortalecer o Yang
do rim (Figura 6).
-B23 (Shenshu): Idem ao ponto anterior (Figura 7).
A B
50
-VC4 (Guanyuan): Fortalece, principalmente, o Yang dos rins (Figura 8).
-VG4 (Ming Men): Fortalece, principalmente, o Yang dos rins (Martins,
2003). Agulhar cerca de 1 a 5 cm. Indicado para cistite, nefrite, problemas de
fertilidade, diarréia, além de controlar sangramentos provocados por traumas do
parto (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 17).
FIGURA 16. Mapa dos acupontos no homem e no cão para demonstração do ponto VG4 (Torro, 1997).
-VC6 (Qihai): Fortalece a circulação de Qi (Ross, 1994). Agulhar cerca
de um cm, sendo usado, também, para mastite e impotência coeundi
(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).
Para tratamento da deficiência de essência (Jing) do rim (Shen) é
necessário que se utilize a tonificação (Martins, 2003).
51
Para fortalecer os rins, pode-se fazer uso do R3 (Taixi), B23 (Shenshu)
e VC4 (Guanyuan) (Martins, 2003). O ponto E36 (Zusanli) também fortalece o
rim restabelecendo o Jing, sendo necessário agulhar cerca de 0,5 a 2 cm, também
indicado para distúrbios da digestão, diarréia, resfriados, meteorismo e estado de
fraqueza (Draehmpaehl & Zohmann, 1997). O ponto VG4 (Ming Men)
fortalece o Portão da Vitalidade (Ross, 1994).
Outra forma de tonificar o Jing é beneficiar a essência pós-celestial
proveniente do Qi dos alimentos. Por este motivo, precisamos tratar a
deficiência de Qi do baço/pâncreas, tonificando baço/pâncreas (Martins, 2003).
Pontos de acupuntura, segundo Martins (2003):
-VC12 (Zhongwan): Elimina a umidade, fortalece e harmoniza
baço/pâncreas (Pi) e estômago (Wei) (Martins, 2003). Agulhar cerca de um cm.
Este acuponto também pode ser estimulado no tratamento de mastite e edemas
(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).
-E36 (Zusanli): Favorece a formação e circulação de Qi e Xue, fortalece
a função de Pi e Wei, atuando, conseqüentemente, na digestão e fraqueza geral
do corpo (Martins, 2003) (Figura 18).
52
F FIGURA 17. (A) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto E36. (B) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto E36 (Torro, 1997).
-B20 (Pishu): Elimina a umidade e favorece a função de Pi em
transformar e transportar (Martins, 2003). Agulhar cerca de 1 a 5 cm. Este
acuponto também é indicado para dispnéia, indigestão e vômito (Draehmpaehl
& Zohmann, 1997) (Figura 7).
-B21 (Weishu): Harmoniza o Qi do Wei e aquece o Triplo Aquecedor
Médio (Martins, 2003). Agulhar cerca de 1 a 5 cm, podendo ser utilizado para
quadro de vômitos, gastrites e dores nas costas (Draehmpaehl & Zohmann,
1997) (Figura 7).
-BP6 (Sanyninjiao): Regulador do Qi do Wei e do Pi, fortalecendo e
tonificando, principalmente, Qi e Yang do Pi (Martins, 2003) (Figura 9 e 10).
A B
53
-BP3 (Taibai): Ponto fonte do Pi (Ross, 1994). Agulhar cerca de 0,5 cm,
podendo ser utilizado, também, para tratar vômito, diarréia e dores do estômago
(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9 e 10).
Para tratar a deficiência de Yang do Pi, deve-se aquecer e fortalecer o
Yang do Pi, através da tonificação e moxa os mesmos acupontos do tratamento
de deficiência de Qi do Pi (Martins, 2003):
-B23 (Shenshu) (Ross, 1994) (Figura 7).
-VC4 (Guanyuan) (Ross, 1994) (Figura 8).
-VG4 (Ming Men) (Ross, 1994) (Figura 17).
-VC9 (Shuifen): Agulhar cerca de um cm, sendo indicado, também, para
mastites e edemas (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).
-E28 (Shuidao): Agulhar cerca de 0,5 a 1 cm. Trata de distúrbios do trato
urogenital e mastite(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 19).
FIGURA 18. Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto E28 (Torro, 1997).
54
-B22 (Sanjiaoshu): Agulhar cerca de 1 a 5 cm. Indicado para nefrite,
edemas, indigestão e diarréia (Draehmpaehl & Zohmann, 1997). Além de
estimular a função do Pi em transformar e transportar Jin Ye e a resolver o
edema, juntamente com o ponto descrito abaixo (Martins, 2003) (Figura 7).
-BP9 (Yinlinquan): Agulhar cerca de 1 a 2 cm, resolvendo a
incontinência, edemas e a umidade (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9
e 11).
Nos casos de enterocolite urêmica, devemos tonificar o Qi do Pi, nutrir o
Yin, refrescar o Xue e eliminar a estase de sangue (Maciocia, 1996).
A deficiência de sangue (Xue) é proveniente da deficiência de Yang do
rim e do baço/pâncreas, deficiência do Yin do fígado e do rim e deficiência de
Yin e Yang do rim (Martins, 2003).
Para tonificar Xue, podemos utilizar os seguintes acupontos (Martins,
2003):
-B17 (Geshu): ponto de influência do sangue (Martins, 2003). Agulhar
cerca de 1 a 5 cm, e pode tratar asma, tosse, indigestão e vômito (Draehmpaehl
& Zohmann, 1997) (Figura 7).
-B18 (Ganshu): é um ponto de associação do fígado (Martins, 2003).
Deve ser agulhado cerca de 1 a 5 cm, podendo tratar indigestão, vômito, icterícia
e distúrbios no metabolismo do fígado (Draehmpaehl & Zohmann, 1997)
(Figura 7).
-B23 (Shenshu): é um ponto de associação do rim (Martins, 2003)
(Figura 7).
-VB39 (Xuanzhong): é um ponto de influência da medula (Martins,
2003). Agulhar cerca de 1 a 2 cm, indicado, também, para dores e edemas na
articulação do jarrete, inflamações da laringe e falta de apetite (Draehmpaehl &
Zohmann, 1997).
55
FIGURA 19. (A) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto VB39. (B) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto VB39 (Torro, 1997).
Na tonificação de Pi para produzir Xue, podemos utilizar os seguintes
pontos (Martins, 2003):
-BP6 (Sanyinjiao): Ponto de intersecção entre os meridianos do fígado,
rim e baço (Figuras 9 e 10).
-VC4 (Guanyuan): Tonificar o Qi do rim e o Yuan Qi (Figura 8).
-VC6 (Qihai): Ponto de grande concentração de energia Yin. (Figura 8).
-E36 (Zusanli): Ponto geral para tonificação e homeostasia (Figura 18).
-VC12 (Zongwan): Harmoniza Qi e Xue, harmoniza o Qi do Wei e do
Triplo Aquecedor Médio, além de harmonizar, tonificar e fortalecer o Qi do
baço (Figura 8).
-BP3 (Taibai): Ponto fonte do baço/pâncreas (Figuras 9 e 10).
A B
56
-BP10 (Xuehai): Trata todas as manifestações de Xue (Martins, 2003).
Agulhar cerca de 1 a 2 cm, sendo utilizado para incontinência, edemas e doenças
alérgicas da pele (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9 e 20).
FIGURA 20. Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto BP10 (Torro, 1997).
Em relação aos cinco movimentos, a insuficiência renal crônica, por ser
uma deficiência de rim, representa uma deficiência do elemento água, sendo
tratada pela tonificação de metal, no meridiano do rim [(R7-Fuliu: agulhar cerca
de 2 a 5 mm, indicado para tratar distúrbios da micção, nefrite, edemas,
espasmos abdominais, fraqueza em geral, diarréia, fezes sanguinolentas e forte
sudorese (Draehmpaehl & Zohmann, 1997)], pois metal é mãe da água (Martins,
2003).
O elemento terra controla a água e quando o movimento terra estiver
debilitado haverá formação de umidade, necessitando de uma tonificação mútua
do rim e do baço/pâncreas. Além disso, a terra produz o metal e este é mãe da
água, gerando a tonificação do rim (Martins, 2003).
57
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a IRC corresponde à
deficiência de Qi, Jing, Yin e Yang do rim, comprometendo todo sistema Zang
Fu.
A origem do corpo (Jing) encontra-se no rim, sendo anterior à própria
divisão em Yin e Yang. Esta essência só pode ser conservada, pois é fixa em
quantidade e qualidade.
A essência pré-celestial (Jing) depende da essência pós-celestial para ser
conservada. A essência pós-celestial é extraída dos alimentos e fluidos que são
transportados e transformados pelo estômago (Wei) e pelo baço (Pi), resultando
na produção de Qi.
A manipulação da dieta constitue uma maneira viável para evitar a
incidência e a progressão da IRC. O animal deve ser mantido com dieta
adequada para garantir o Jing pós–celestial que nutre o Jing pré–celestial.
A causa da IRC, provavelmente, começa no estômago/baço-pâncreas, o
que determina má digestão e leva à inadequada absorção do Qi presente no ar,
alimentos e fluidos.
Logo, pode-se afirmar que a IRC inicia-se com uma dieta inadequada
que compromete o Jing pós-celestial e não nutre o Jing pré-celestial, a Raiz da
Vida.
Pode–se dizer que a vantagem da acupuntura esteja em utilizar pontos
que substituam medicamentos com a mesma eficiência, evitando seus efeitos
colaterais e interações medicamentosas, além de atuar melhorando a qualidade
do Jing pré – celestial.
58
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTHONY, W. C.; ROGER, J. P. Sistema Urinário. In: CARLTON, W. W.; McGAVIN, M. D. Patologia veterinária especial. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998, 672 p.
CASE, L. P.; CAREY, D. P.; HIRAKAWA, D. A. Controle alimentar ao longo do ciclo vital. Nutrição canina e felina. Madrid: Harcourt Brace de España, 1998, seção 4, c. 23, p. 227-234.
CASE, L. P.; CAREY, D. P.; HIRAKAWA, D. A. Problemas que respondem à nutrição. Nutrição canina e felina. Madrid: Harcourt Brace de España, 1998, seção 6, c. 32, p. 363-373.
DINIZ, E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ- UNESP Botucatu). Comunicação Pessoal, 2004.
DRAEHMPAEHL, D.; ZOHMANN, A. Bases Científicas da Acupuntura. Acupuntura no cão e no gato. 1 ed. São Paulo: Roca, 1997, cap. 2, p. 12 e 13.
DRAEHMPAEHL, D.; ZOHMANN, A. Atlas dos Pontos de Acupuntura no Cão e no Gato. Acupuntura no Cão e no Gato. 1 ed. São Paulo: Roca, 1997, cap. 3, p. 67-226.
EIKO, L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ- UNESP Botucatu). Comunicação Pessoal, 2004.
FEENEY, D. A.; JOHNSTON, G. R. The Kidneys and Ureters. In: Donald E. Thrall. Textbook of veterinary diagnostic radiology. 3 ed. WB Saunders Company, 1998, p.466-479.
FERRANTE, T.; Insuficiência Renal: métodos diagnósticos. Nosso Clínico: medicina veterinária para animais de companhia. São Paulo, ano 07, n.41, p. 6-14, set/out 2004.
59
FORRESTER, S. D.; Nefropatias e ureteropatias. In: BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. São Paulo: Roca, 1998, seção 8, cap. 1, p. 901-925.
GUIMARÃES et al. Hemodiálise em Equino (Relato de um caso). In: Simpósio de Nefrologia Veterinária, 2002, Belo Horizonte, p. 71.
JANSSENS, L. A. A. Acupuntura na clínica de pequenos animais. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004, v. 1, cap. 82, p. 387.
JOAQUIM, J. G. F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ- UNESP Botucatu). Comunicação Pessoal, 2004.
LEE, E. W. Manual de acupuntura médica. Centro de Estudo de Medicina Oriental. São Paulo. Brasil. s/p. s/d.
LUNA, S. P. L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ- UNESP Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.
MACIOCIA, G. A Prática da medicina chinesa. Substâncias Vitais. 1 ed. São Paulo: Roca, 1996, cap. 3, p. 932.
MACIOCIA, G. Os Fundamentos da medicina chinesa. 1 ed. São Paulo: Roca, 1996, 658p.
MARTINS, P. S. Insuficiência renal crônica na medicina tradicional chinesa. Monografia. FMVZ-UNESP Botucatu, 2003, 35 p.
MENESES ET AL. Relato entre perfil de sódio e pressão arterial sistêmica em cães submetidos à hemodiálise (relato de 10 sessões). In: Simpósio de Nefrologia Veterinária, 2002, Belo horizonte, p. 108.
MENESES et al. Relação entre Tempo de Coagulação Ativada (TCA) e dose de Heparina em cães submetidos à Hemodiálise-Relato de 10 sessões. In: Simpósio de Nefrologia Veterinária, 2002, Belo Horizonte, p. 112.
60
NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Insuficiência Renal. Medicina interna de pequenos animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogam, 1998, cap. 44, p. 487- 499.
OKAMOTO, C. E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ- UNESP Botucatu). Comunicação Pessoal, 2004.
POLZIN et al. Insuficiência Renal Crônica. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária: doenças no cão e no gato. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004, v. 2, p 1721-1751.
ROSS, J. Zang Fu: sistemas de órgãos e vísceras da medicina tradicional chinesa. 1 ed. São Paulo: Roca, 1994, 267p.
RUBIN, M. Manual de acupuntura veterinária. São Paulo: Andrei, 1983, p. 5-9.
SERAKIDES ET AL. Carcinoma renal com metaplasia óssea em eqüino. In: Simpósio de Nefrologia Veterinária, 2002, Belo Horizonte, p. 80.
TORRO, C. A. Anexos. Atlas prático de acupuntura no cão. São Paulo: Livraria Varela, 1997, p. 101-185.
VEADO, J. C. C. Hemodiálise- Por que empregar a técnica em animais? Revista brasileira Med Vep- pequenos animais e animais de estimação. Curitiba, v. 1, n. 1, p. 53-57, jan/mar. 2003.
VETERINÁRIA ONLINE-ESPECIALIDADES MÉDICAS. Site sobre diálise peritoneal veterinária. Disponível em: http://www.veterináriaonline.com.br Acesso em 06/04/2004.
61
VETERINÁRIA ONLINE-ESPECIALIDADES MÉDICAS. Site sobre hemodiálise veterinária. Disponível em: http://www.veterináriaonline.com.br Acesso em 06/04/2004.
ZHUFAN, X.; JIAZHEN, L. Medicina Interna Tradicional Chinesa. 1 ed. São Paulo: Roca, 1997. 237 p.