UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E
GESTÃO SOCIAL
MARCELO RIBEIRO MOURA
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS DE BAIXA RENDA
Salvador
2014
MARCELO RIBEIRO MOURA
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS DE BAIXA RENDA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação
em Desenvolvimento e Gestão Social, Faculdade de
Administração, Universidade Federal da Bahia, como
requisito para obtenção do grau de mestre em
Desenvolvimento e Gestão Social.
Orientadora: Prof ª. Dra. Sônia Maria Guedes Gondim
Coorientador: Prof. Dr. Jorge Luiz Lordelo de Salles
Ribeiro
Salvador
2014
MARCELO RIBEIRO MOURA
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS DE BAIXA RENDA
Dissertação apresentada como requisito para obtenção do grau de Mestre em
Desenvolvimento e Gestão Social, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca
examinadora:
Banca Examinadora
Prof. ª Dr.ª Sônia Maria Guedes Gondim___________________________________________
Doutora em Psicologia
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Prof. Dr. Jorge Luis de Sales Ribeiro _____________________________________________
Doutor em Educação
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Prof. Dr. Paulo Tadeu Rabelo da Motta ___________________________________________
Doutor em Psicologia
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)
Salvador, BA, 12 de setembro de 2014.
Escola de Administração - UFBA
M929 Moura, Marcelo Ribeiro.
Orientação profissional para jovens de baixa renda / Marcelo Ribeiro
Moura. – 2014.
87 f.
Orientadora: Profa. Dra. Sônia Maria Guedes Gondim.
Coorientador: Prof. Dr. Jorge Luiz Lordelo de Salles Ribeiro.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de
Administração, Salvador, 2014.
1. Orientação profissional. 2. Políticas públicas. 3. Inclusão social. 4. Ensino
técnico – Orientação profissional. 5. Ensino técnico – Qualificações profissionais.
6. Orientação educacional no ensino profissional. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. II. Título.
CDD – 379.11
371.425
331.702
Dedico esta, bem como todas as minhas
demais conquistas, aos meus amados pais
Etevaldo Araújo Moura e Anésia Ribeiro da
Silva Moura, minha irmã Alice Ribeiro Moura,
meu cunhado Leandro Menis, meus dois
preciosos sobrinhos Felipe Moura Bars e Livia
Moura Menis, minha sogra Abigail Augusta
Rios Carneiro e especialmente a minha esposa
Natália Carneiro Monte.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pelas bênçãos alcançadas, pela proteção dada e
por me guiar nos caminhos dessa vida.
Agradeço a minha família por fazer parte da construção e da concretização dos meus sonhos.
Agradeço também a todos os professores que me acompanharam durante o mestrado, em
especial à Professora Dra. Rosana Boullosa, pelo incentivo no começo da jornada, à
Professora Dra. Sonia Gondim e ao Professor Dr. Jorge Luis de Sales Ribeiro responsáveis
pela orientação neste processo do mestrado.
Agradeço aos companheiros de trabalho da Secretaria de Cidadania e Inclusão do município
de Camaçari, que sempre me apoiaram para a conclusão desta etapa em minha vida.
E o que dizer para minha esposa Natália Carneiro Monte?
Obrigado pela paciência, pelo incentivo, pela força e principalmente pelo carinho. Valeu a
pena toda insistência, todo sofrimento, todas as renúncias. Valeu a pena esperar e lutar. Hoje,
estamos colhendo, juntos, os frutos do nosso empenho! Esta vitória é nossa!
E por fim, agradeço a mim mesmo pela força interior de acreditar na realização dessa meta em
minha vida.
MOURA, Marcelo Ribeiro. Orientação Profissional Para Jovens de Baixa Renda. 85 f. 2014. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Administração, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2014.
RESUMO
Esta dissertação é resultado do desenvolvimento de um projeto de pesquisa-ação para fins de
adaptação de uma metodologia de Orientação Profissional (OP) que pudesse vir a embasar
políticas públicas de inclusão social de jovens de baixa renda. A metodologia de OP escolhida
e adaptada para a pesquisa-ação apoia-se na abordagem sócio-histórica, que considera os
fatores contextuais de exclusão social de grupos de jovens de baixa renda. A OP de
abordagem sócio-histórica se insere no campo da Gestão Social como uma ferramenta de
inclusão social. Sua adaptação leva em conta aspectos sócio-histórico-econômicos, visando
encontrar formas mais apropriadas para trabalhar com jovens de baixa renda e capacitá-los na
construção de projetos de carreiras que aumentem suas chances de inclusão social. O projeto
de pesquisa-ação envolveu duas etapas; a primeira consistiu na adaptação metodológica de
OP com profissionais especialistas e a segunda consistiu na aplicação da metodologia a um
grupo de jovens vinculados ao Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego). Os resultados das duas etapas apontam os passos necessários para a adaptação da
OP e para os desafios na aplicação dessa metodologia. Além disso, esse projeto oferece
caminhos para a utilização da OP como uma diretriz de política pública, ampliando as chances
de inserção social e profissional de jovens de baixa renda que, pelas condições determinantes
de contexto, tendem a ser excluídos socialmente.
Palavras-Chave: Orientação Profissional. Políticas Públicas. Inclusão Social.
MOURA, Marcelo Ribeiro. Vocational Guidance for Low-Income Youth. 2014. Dissertation
(Master´s Degree). Faculdade de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
ABSTRACT
This Dissertation is a result of the development of an action research project for adaptation of
a methodology of Vocational Guidance (VG) that could support public policies for social
inclusion of low-income youth. The VG methodology, chosen and adapted for this action
research, relies on the social and historical approach, which considers the contextual factors of
social exclusion of groups and low-income youth. The VG of socio-historical approach
belongs to the field of Social Management as a mechanism for social inclusion. Its adaptation
takes into consideration socio-historical and economic aspects, aiming to find more
appropriate ways to work with low-income youth and empower them to build career projects
that increase their chances of social inclusion. The action research project involved two steps.
The first consisted of VG methodological adaptation developed together in conjunction with
professional experts, and the second consisted of the VG application with a group of young
people linked to Pronatec, the National Program for Access to Technical Education and
Employment. The results in both steps indicate the required steps needed to adapt the VG
procedures and the methodological challenges for its application. Furthermore, it also offers
ways to use the VG as a guideline for public policy development that could increase the
chance of social and professional integration of low-income youth, which by determinant
conditions of context, tend to be socially excluded.
Keywords: Vocational Guidance. Public Policies. Social Inclusion.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................................ 11
1.2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................... 11
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................... 11
2 GESTÃO SOCIAL: ASPECTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS ................................. 12
2.1 EXCLUSÃO SOCIAL ............................................................................................................. 15
2.2 INCLUSÃO SOCIAL .............................................................................................................. 17
2.3 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL ............................................................................................. 18
3. ABORDAGENS TEÓRICAS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: QUE LUGAR
OCUPA A ÊNFASE NO SOCIAL? ............................................................................... 20
3.1 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE NÃO DÃO ÊNFASE AO SOCIAL ....... 20
3.2 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE DÃO ÊNFASE AO SOCIAL................ 23
3.3 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E A INCLUSÃO SOCIAL ..................................................... 26
3.4 BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL ................ 27
3.4.1 Aspectos sociais dentro da Orientação Profissional no Brasil ................................. 29
3.4.2 Demanda por políticas públicas de Orientação Profissional no Brasil ....................... 31
3.5 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CAMPO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS ....... 32
4 MÉTODO .................................................................................................................... 34
4.1 ATORES DO PROCESSO ...................................................................................................... 35
4.2 PROCEDIMENTOS .............................................................................................................. 35
4.3 O GRUPO DE EXTENSÃO DA UFBA COMO TESTE DE REDESENHO METODOLÓGICO DA OP
PARA JOVENS DE BAIXA RENDA .............................................................................................. 37
5 COLOCANDO EM PRÁTICA UMA METODOLOGIA DE OP ADAPTADA A
JOVENS DE BAIXA RENDA ...................................................................................... 38
5.1 PLANEJANDO O PROCESSO DE OP PARA JOVENS DO PRONATEC ..................................... 39
5.2 DESCREVENDO O PROCESSO DE OP .................................................................................. 41
5.3 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE APLICAÇÃO ....................................................................... 60
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 62
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 65
APÊNDICE .................................................................................................................... 71
9
1 INTRODUÇÃO
A presente dissertação se insere no Mestrado Multidisciplinar e
Profissionalizante em Desenvolvimento e Gestão Social. O campo da Gestão Social é
recente, tendo sido introduzido na sociedade brasileira na década de 1990, em meio à
tensão entre dois processos que marcam a realidade contemporânea. Um desses
processos diz respeito à globalização da economia, que mercantiliza e amplia os
segmentos de atuação no social. O outro trata da regulação social tardia, mediante
conquistas de cidadania, do Estado democrático de direitos e dos desafios da
participação da sociedade civil. Esse debate é recente nas organizações sociais e na
academia, e aponta para a importância de definir as referências que vêm dando
sustentação a esse campo temático, sempre que se atuar na gestão social.
A Gestão Social se insere nas ações de políticas públicas estruturadas para o
desenvolvimento local, pois entende o plano local de fundamental importância no
processo de ajuste às reais necessidades públicas pela influência de questões sociais
específicas de determinada região geográfica (GONÇALVES, 2008).
A presente pesquisa realizada para fins de dissertação de mestrado profissional
em gestão social ocupa-se da questão do pouco acesso de segmentos, de jovens de baixa
renda no Brasil, aos serviços de Orientação Profissional (OP). E, um modo de ampliar
tal acesso e galgar o status de política pública é melhorando o uso das abordagens
teórico-metodológicas que estão na base dos processos de orientação profissional.
É somente na década de 1990 que se identificam trabalhos que abordam a
Orientação Profissional a partir de referenciais da Psicologia Social (ABADE, 2005).
No ano de 2011, quando trabalhava em uma unidade do CRAS (Centro de Referência
em Assistência Social) na cidade de Salvador, o autor desta dissertação pode vivenciar a
necessidade de trabalhos de inclusão social junto a adolescentes em programas de
inclusão socioprodutiva.
O Pró-Jovem faz parte de um dos eixos do Programa Nacional de Inclusão de
Jovens, lançado em setembro de 2007, pela Presidência da República e destinado aos
jovens de 15 a 17 anos pertencentes a famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família
ou em situação de risco social. De responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento
10
Social e Combate à Fome (MDS), o Pró-Jovem é um Serviço socioeducativo continuado
de Proteção Básica de Assistência Social que favorece o protagonismo dos jovens.
O pensamento naquele momento, devido à demanda solicitada por tais jovens,
foi o de fazer uso de alguma abordagem de Orientação Profissional que se adequasse à
realidade de exclusão vivida pelos mesmos.
Em anos recentes, o Conselho de Psicologia defende que as práticas psicológicas
podem favorecer os direitos humanos, possibilitando a inclusão social (Conselho
Federal de Psicologia [CFP], 2003). Patto (2003) nos indica que uma prática psicológica
que ignora as desigualdades sociais concorre para transformá-las em desigualdades
psíquicas, concluindo-se que os psicólogos que desconsideram o social acabam por não
transformá-lo.
Não há em nosso país política pública de Orientação Profissional como em
outros países como França, Alemanha e Canadá (MELO, 2004). O que se encontram
são ações desarticuladas, como no caso de algumas Prefeituras Municipais Brasileiras,
que contratam Psicólogos para intervir em orientação profissional, escolar e sexual,
através da criação de cargos para psicólogos em programas específicos ou em
Secretarias da Educação. Algumas fontes específicas de recursos têm sido utilizadas
para a contratação de pessoal, entretanto são iniciativas pontuais e sujeitas à interrupção
pelas mudanças de governos.
Para que uma prática de OP tenha o potencial de se inserir num contexto de
política pública de inclusão social para jovens de baixa renda, a presente pesquisa
dedicou-se a um estudo piloto de aplicação de uma metodologia adaptada de Orientação
Profissional, em um espaço de inclusão socioprodutiva, que é o programa nacional de
acesso ao ensino técnico e emprego (Pronatec). O programa foi criado pelo Governo
Federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional
e tecnológica. O projeto piloto de adaptação metodológica de OP, para o público jovem
do Pronatec, gerou insumos para a replicação do modelo de construção e aplicação de
OP em outros contextos de programas públicos direcionados aos jovens de baixa renda,
a ser planejado e operacionalizado por outros profissionais que se dedicam à orientação
profissional. Sendo assim, o potencial de replicabilidade dessa proposta é de âmbito
federal já que o Pronatec é um Programa Federal.
11
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
De que modo uma metodologia de orientação profissional pode ser adaptada
para ser inserida numa política pública, visando atender às demandas de jovens oriundos
de famílias de baixa renda?
1.2 OBJETIVO GERAL
Adaptar uma metodologia de Orientação Profissional a ser aplicada no contexto
de políticas públicas de inclusão social, levando em conta a realidade psicossocial e
econômica de pessoas excluídas socialmente.
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Apresentar e discorrer sobre os conceitos pertencentes ao campo da gestão social
e de políticas públicas, principalmente, nas quais a Orientação Profissional (OP) está
inserida;
Avaliar comparativamente as metodologias de Orientação Profissional mais
usadas por profissionais da área atualmente nos diversos segmentos da população;
Identificar elementos de contexto e atores sociais que devem ser considerados na
elaboração de projetos de OP que visem a inclusão social de jovens de baixa renda.
A presente dissertação segue, a partir desse ponto, conceituando o campo da
gestão social trazendo alguns elementos pertencentes a ele, tais como: Gestão social,
Exclusão Social, Inclusão Social e Orientação Profissional.
Em seguida, explora a questão sobre que lugar ocupa a ênfase no social dentro
das diferentes abordagens de Orientação Profissional, o que acaba por demandar uma
breve contextualização sobre a perspectiva histórica da Orientação Profissional no
Brasil, traçando aspectos sociais e discorrendo sobre as políticas públicas em Orientação
Profissional no Brasil.
12
Depois de todo o processo de conceituação do campo no qual se insere a
pesquisa, segue-se a parte descritiva na qual a metodologia contextualiza os atores do
processo e os procedimentos usados na prática de OP, adaptados aos jovens de baixa
renda, no caso desta pesquisa, aos jovens do Pronatec. Finaliza-se com a avaliação do
processo de aplicação e a conclusão da pesquisa como um todo.
2 GESTÃO SOCIAL: ASPECTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS
“A realidade social não é conhecida como totalidade concreta se o homem é
considerado apenas, e, sobretudo, como objeto e, na práxis-objetiva, da humanidade não
se reconhece a importância primordial do homem como sujeito” (KOSIK, 2003, p. 52-
53). A partir dessa referência, na qual nos sentimos reconhecidos e potencializados
como sujeitos desse processo compartilhado com outros sujeitos, pode-se iniciar o
aprofundamento do tema Gestão Social.
O que, de fato, refere-se, quando se fala em gestão social? A palavra Gestão
sempre esteve associada a processos e mecanismos de poder nas relações entre capital e
trabalho. A gestão “se tornou a ciência do capitalismo, submetida por uma vontade de
domínio que se apresenta fundamentalmente racional”, afetando não apenas o campo da
economia, mas a sociedade inteira (GAULEJAC, 2007, p. 75). Ocorre que, na última
década, a gestão, de uma espécie de conformismo ao sistema, passa a ser considerada
cada vez mais necessária no âmbito do social, mesmo para os mais céticos. Ao se tratar
de gestão, cujo modo, objeto e finalidade é o social, deve-se atentar para que tipo de
gerenciamento, com quais finalidades, características e racionalidades opera e adota. A
questão é, em que medida a qualificação da gestão como social altera essencialmente a
concepção de gestão? (ARAÚJO et al., 2011).
Pelo exposto até então, pode-se afirmar que, toda gestão supõe necessariamente
uma dimensão social, interacional, relacional, o que a priori, tornaria redundante uma
formulação do tipo “gestão social” (FRANÇA FILHO, 2003, 2008). O adjetivo social
pode ser entendido, basicamente, como espaço de relações sociais onde todos têm
direito à fala (GONDIM; FISCHER; MELO, 2006). Pode-se dizer que tal adjetivação é
proposital, mesmo que redundante e pleonástica a fim de enfatizar o que, muitas vezes,
o gestor esquece: “que suas ações têm impactos sobre a humanidade” (FISCHER;
13
MELO, 2002, p. 3). “Ser social é algo que é feito para e pela sociedade”. Isso deve
permear todo e qualquer processo de gestão, assim como qualquer ação humana
(BASTOS, 2001, p. 7).
Gestão Social como “gestão das ações sociais públicas [...] gestão das demandas
e necessidades dos cidadãos” é o conceito dado por RAMOS (1999, p. 19). Enfatiza a
necessidade de participação da sociedade civil e o compartilhamento de
responsabilidades para a criação de um “welfare mix”, ou seja, uma mistura de bem-
estar, articulando, complementando e promovendo convergências de políticas e
programas. Existe aqui a defesa na ênfase do protagonismo da sociedade civil, no
sentido da identificação das necessidades e demandas, assim como proposição,
participação e controle de ações e políticas, a serem assumidas pelo Estado.
A conceituação de Singer (1999, p. 55) é um pouco menos explícita; porém
enfatiza que esse conceito “abrange uma grande variedade de atividades que intervêm
na vida social em que a ação individual autointeressada não basta para garantir a
satisfação das necessidades essenciais da população”. Sendo assim, analisa uma
perspectiva ampla de análise, abrangendo causas que vão do abandono de crianças às
questões de capital-trabalho, sendo viabilizada por meio de políticas e práticas
articuladoras entre diferentes atores públicos e privados.
Fischer (2002) caracteriza a gestão social como a gestão do desenvolvimento
social, enquanto campo de relações de poder, conflito e aprendizagem. A autora a
analisa como um espaço reflexivo das práticas e conhecimentos constituídos por
múltiplas disciplinas e um processo de mediação social entre indivíduos, grupos,
organizações, coletividades, redes e interorganizações e sua intersetorialidade. Nessa
perspectiva de gestão social estão, especialmente, identificados como sujeitos os
indivíduos, os grupos e coletividades interessados, mediados por redes ou por ações
intersetoriais.
Com relação à atuação intersetorial, o campo da gestão social é um híbrido de
componentes, oriundo do Estado, mercado e sociedade civil. Sobre essa dimensão, cabe
destacar a análise de Junqueira sobre a intersetorialidade:
[...] enquanto um processo de aprendizagem e de determinação dos
sujeitos, que deve resultar em uma gestão integrada, capaz de
responder com eficácia à solução dos problemas da população de um
determinado território, saindo, entretanto, do âmbito da necessidade
para o da liberdade. O homem é considerado na sua integralidade,
superando a autonomização e a fragmentação que têm caracterizado a
14
gestão das políticas sociais para uma dimensão intersetorial [...]. (JUNQUEIRA, 2004, p. 26).
A ação intersetorial propiciada pela gestão social traz, portanto, uma nova lógica
de superação da fragmentação das políticas, considerando o cidadão em sua totalidade,
já que estabelece novas relações sociais (JUNQUEIRA, 2004). A gestão social é,
portanto, mediadora e articuladora de processos intersetoriais voltados para o
desenvolvimento e superação da exclusão. Os valores de democracia, participação,
justiça, equidade e bem-estar social levam a crer que se trata de uma gestão mais
inclusiva. Essa compreensão pressupõe a existência da apartação e da exclusão
existentes nos processos sociais.
Os agentes da gestão social, destacados pelos autores apresentados até o
momento, estão nas diversas instâncias do Estado, do mercado e da sociedade civil,
estando este último fortemente representado pelo terceiro setor. Além deles encontram-
se as organizações populares, as lideranças comunitárias, a população usuária, os
indivíduos, os grupos e as coletividades. Fica evidente a importância estratégica de a
gestão social ser construída a partir de interesses realmente públicos, assumidos pelo
conjunto dos cidadãos que, no modelo hegemônico, é excluído das riquezas, dos
processos decisórios da direção da vida societária e da cidadania.
Uma construção democrática pactuada nos âmbitos local, nacional e mundial
entre os agentes da sociedade civil, da sociedade política e da economia, com efetiva
participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das
riquezas e do poder é reconhecida aqui como uma metodologia de gestão social. Seu
reconhecimento como metodologia de gestão social sinaliza a necessidade de buscar
ações pactuadas para atuar no nível local. Exige do gestor social não só adesão a valores
democráticos, mas também o desenvolvimento de um conjunto de competências e
habilidades importante para tornar mais efetiva as suas ações. A adaptação de
metodologias para ações sociais como a de OP certamente é requerida para a efetividade
das ações.
Um dos principais objetivos desta dissertação foi o de utilizar a OP para inclusão
social. Tal foco se sustenta na premissa de que a Orientação Profissional pode fazer
parte de uma política de inclusão social ao ajudar o jovem a analisar criticamente o
contexto em que vive e suas competências individuais, identificando possibilidades
15
atuais e futuras de inserção no mundo do trabalho. Com isso, aumentaria também sua
autonomia na tomada de decisões sobre seus futuros projetos de carreira.
Ao direcionar-se a um sujeito que vive uma realidade desfavorável e excludente
para desenvolver seu protagonismo, o presente autor acredita-se que o termo exclusão
deve ser caracterizado com o intuito de contextualizarmos o campo da prática de uma
orientação profissional para jovens oriundos de família de baixa renda.
2.1 EXCLUSÃO SOCIAL
O conceito de exclusão social surge na Europa durante os trabalhos preparatórios
do terceiro programa de luta contra a pobreza em 1996 que é: "o conjunto de pessoas
que, em virtude do mau funcionamento do sistema econômico, não conseguem ascender
a um nível de vida considerado aceitável em cada um dos Estados membros da União
Europeia" (RAMOS, 1999, p. 44).
O crescente interesse que os Estados membros da União Europeia têm dado aos
problemas da pobreza tem sido acompanhado de um "deslocamento do centro de
interesse do conceito de pobreza para o conceito de exclusão social." (RAMOS, 1999, p.
46). Definição de pobreza empregue pelo Conselho da Comunidade Europeia em 1975,
data do Primeiro Programa de Luta contra a Pobreza: são pobres os indivíduos ou
famílias cujos recursos são tão escassos que os excluem do modo de vida mínimo
aceitável no Estado membro em que vivem (RAMOS, 1999).
Costa (2007, p. 81) apresenta uma abordagem do fenômeno da exclusão
ligeiramente diferente. Segundo este autor, a noção de exclusão social vincula-se ao
"contexto de referência, do qual se é, ou se está, excluído". O autor apresenta esses
contextos de referência como um conjunto de "sistemas sociais básicos", cujo acesso
traduz o "exercício pleno da cidadania", os quais descrevem nos seguintes cinco itens:
O social: o sistema onde o indivíduo se insere e que podem ser imediatos
(família e vizinhos), intermediários (empresa, grupo de amigos) ou mais amplos
(comunidade local, mercado de trabalho);
O econômico: se refere ao mercado de trabalho e demais geradores de recursos,
como a segurança social, o mercado de bens e serviços e o sistema de poupanças;
16
O institucional: que inclui o sistema educativo, de saúde, etc.;
O territorial: que inclui a habitação, os equipamentos sociais e as acessibilidades,
remetendo para a situação em que a exclusão não se reporta só a pessoa, mas, a um
território, como por exemplo, um bairro periférico ou um bairro degradado;
O das referências simbólicas: que inclui um conjunto de perdas referenciais
como a identidade social, da autoestima, da autoconfiança, de perspectivas de futuro, de
capacidade de iniciativa, de motivações, do sentido de pertença à sociedade, etc.
Identifica-se o fenômeno da exclusão social como mais abrangente e integrado
ao fenômeno da pobreza, que pode assim ser aceito como fenômeno mais estritamente
relativo à escassez de recursos propriamente dita.
Parece, também, importante sublinhar o caráter relativo (ao nível de vida de cada
país) e ao mesmo tempo estrutural (atribuído ao funcionamento dos sistemas sociais e
econômicos) do fenômeno de exclusão social.
O caráter multidimensional, relativo e estrutural do fenômeno de exclusão
social, torna ainda possível compreendê-lo como fenômeno dinâmico e aberto a
processos de mobilidade entre situações de precariedade, exclusão e marginalização.
Esse conceito do fenômeno de exclusão social torna ainda possível identificar as
pessoas ou famílias que vivem situações de precariedade, como estando em situação de
risco de exclusão social.
Uma das categorias sociais de maior risco a exclusão é a dos jovens de baixas
qualificações a procura do primeiro emprego, uma vez que identificamos nessa
categoria, características de transversalidade no que se refere aos fatores excludentes
que afetam outras categorias sociais, como visto nos cinco itens de Costa 2007 referido
anteriormente.
Excluídos ou em risco de exclusão social, essas pessoas estão assim fora do
sistema formal de Orientação Profissional, pois não se encontram em situação de
igualdade de oportunidades relativamente a outras pessoas que, por estarem integradas
nos sistemas educativo e/ou econômico têm alguma oportunidade de acesso aos serviços
de Orientação Profissional.
Parece fácil pensar que para superar a exclusão social se faz necessário um
processo de inclusão social gerado por políticas públicas governamentais, mas a prática
desse campo não é tão simplista assim. Para caminharmos nessa direção, vamos
entender melhor a chamada inclusão social e como é possível e viável fazê-la.
17
2.2 INCLUSÃO SOCIAL
A ideia da inclusão se fundamenta numa filosofia que reconhece e aceita a
diversidade, na vida em sociedade. Isto significa garantia do acesso de todos a todas as
oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo
social.
A Constituição Federal do Brasil assume como fundamental, dentre outros, o
princípio da igualdade, quando reza no caput de seu artigo 5, que “todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros, residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade".
Para que a igualdade seja real, entretanto, ela há que ser relativa (dar tratamento
igual aos iguais, e desigual aos desiguais). O que isto significa? As pessoas são
diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam
garantidas as condições apropriadas de atendimento às peculiaridades individuais, de
forma que todos possam usufruir das oportunidades existentes. Tratar desigualmente
não se refere à instituição de privilégios, e sim, à disponibilização das condições
exigidas pelas peculiaridades individuais na garantia da igualdade real.
O principal valor que permeia, portanto, a ideia da inclusão é o princípio da
igualdade, pilar fundamental de uma sociedade democrática e justa: a diversidade requer
a peculiaridade de tratamentos, para que não se transforme em desigualdade social.
Sassaki (1997) conceitua “inclusão social” como o processo pelo qual a sociedade se
adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas que vivem a
realidade da exclusão e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papeis na
sociedade. A “inclusão social” constitui, então, um processo bilateral, no qual as
pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas,
decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidade para todos. Nesta
mesma perspectiva, a Comissão das Comunidades Europeias (COM), no ano de 2003,
destaca que a inclusão social é o processo que garante que as pessoas em risco de
pobreza e exclusão social acedam às oportunidades e aos recursos necessários para
participarem plenamente nas esferas econômica, social e cultural e se beneficiem de um
nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade em que vivem.
Em síntese, a inclusão social introduz um novo horizonte para a sociedade, pois
oferece a ampliação dos direitos para os mais diversos segmentos sociais, tais como,
18
pessoas portadoras de necessidades especiais, os explorados, excluídos e discriminados
em razão da raça, do gênero, da orientação sexual, da idade, da origem-etnia, da
condição financeira, etc.
A inclusão social, no entanto, tem se caracterizado por uma história de lutas
sociais empreendidas pelas minorias e seus representantes, na busca da conquista do
exercício de seu direito ao acesso imediato, contínuo e constante ao espaço comum da
vida em sociedade (recursos e serviços). No Brasil, vêm ocorrendo mudanças na prática
da atenção profissional a participação dos agentes locais, que sofrem o processo da
exclusão, nas estâncias de decisão e controle de tais ações de políticas públicas, em
busca de uma maior valorização e desenvolvimento local.
Essa gestão inclusiva que tratamos aqui ressalta valores de democracia,
participação, justiça, equidade e bem-estar social. Na perspectiva de Minayo et al.
(2000, p. 10), o bem-estar social pode ser traduzido como qualidade de vida que é uma
noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação
encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial.
Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que
determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar.
Desde o ponto de vista do autor desta dissertação, a valorização e o
empoderamento individual que poderá contribuir para bem-estar social pode ser
alcançado pela melhor democratização da oferta de serviços de Orientação Profissional,
são eles: Físico, Espiritual, Intelectual, Familiar, Social, Financeiro, Profissional,
Ecológico e Relacionamento amoroso. Pela via da OP, jovens de baixa renda poderão
conscientizar-se acerca de seus recursos pessoais e dos recursos disponíveis no contexto
onde vivem, vislumbrando a construção de projetos de vida e de carreira mais realistas e
de maior possibilidade de viabilização.
2.3 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
O campo da Orientação Profissional tem se preocupado com a expansão de sua
atuação social e acredita-se nesta pesquisa que a adaptação e a inserção de uma
metodologia de OP pela via de uma Política Pública, capaz de atuar na exclusão social,
propicia que a prática da Orientação Profissional possa contribuir para o processo de
19
expansão da OP, colocando-se assim neste cenário como uma ferramenta, ou seja, uma
estratégia para intervenção social neste processo de inclusão social.
Na língua portuguesa, genericamente, encontra-se que orientação consiste em
“ato ou arte de orientar (-se)” (FERREIRA, 1988). A definição sugere a possibilidade
de a pessoa ser orientada por profissionais qualificados e também a possibilidade, mais
comum em nosso contexto, da própria pessoa se orientar, ou seja, “reconhecer a
situação do lugar onde se acha, para guiar-se no caminho” (MELO, 2004). O conceito
profissional é definido em relação a uma profissão ou a um ofício.
As pessoas podem tomar decisões por si mesmas sem necessariamente a ajuda
de algum especialista em Orientação Profissional. No entanto, a ajuda desse tipo de
profissional pode beneficiar jovens que dispõem de menos recursos em seus contextos
de socialização, auxiliando-os para que tomem decisões qualificadas que os ajudarão a
identificar e a avaliar melhor suas habilidades e recursos, bem como a construir projetos
que conciliem seus sonhos pessoais e a realidade nas quais estão inseridos.
O conceito de orientação profissional tem sido utilizado para denominar muitas
disciplinas e estágios dos cursos de Psicologia e Pedagogia, na legislação que criou a
profissão do psicólogo e na Recomendação da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) (MELO, 2004). Mas o qual é essa “recomendação” dentro desse conceito tão
amplo de Orientação Profissional?
A Orientação Profissional não é um juízo ou um estudo psicológico do
qual se depreendem resultados, nem um conselho ou prescrição do
tipo médico ou mágico; é um processo, uma trajetória, uma evolução
mediante a qual os orientandos refletem sobre sua problemática e
buscam caminhos para sua elaboração. Seu centro passa pelo
orientando e não pelo orientador ou pelas técnicas. Tudo que se
trabalhar durante a orientação profissional tem por finalidade levar o
orientando a por em prática seu protagonismo quanto a conhecer-se,
conhecer a realidade e tomar decisões reflexivas e de maior
autonomia, que levam em conta suas próprias determinações psíquicas
assim como as circunstâncias sociais. (MULLER, 1998, p. 14).
A prática da inclusão social, como relatado anteriormente, é mediadora e
articuladora de processos intersetoriais voltados para o desenvolvimento e superação da
exclusão caminhando numa direção voltada à inclusão social. Nesse sentido,
começamos agora a elucidar as diferentes abordagens em OP visando elucidar suas
diferenças e assim atentar para as que integram demandas sociais como foco de atuação.
20
3. ABORDAGENS TEÓRICAS EM ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL: QUE LUGAR OCUPA A ÊNFASE NO SOCIAL?
Esta seção tem como objetivo organizar as abordagens de orientação profissional
em dois grupos, separando as que incluíram a questão social, daquelas que não o
fizeram. Como suporte teórico do presente trabalho, foram utilizadas as publicações de
Ferretti (1988) e Pimenta (1979), autores que realizaram uma crítica à orientação
profissional, procurando desvelar o caráter ideológico que tais trabalhos contêm.
Recorreu-se, também, aos trabalhos de Bock (2001), Aguiar e Lisboa (2000), no sentido
de incorporar uma proposta de orientação profissional mais crítica, já que esses autores
defendem que a escolha profissional é resultado de um processo dialético influenciado
por determinantes individuais e sociais.
3.1 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE
NÃO DÃO ÊNFASE AO SOCIAL
A psicologia científica, fortemente influenciada pela teoria da evolução natural e
pelo cientificismo, tornou-se especialmente apta a desempenhar seu primeiro e principal
papel social, porém, excludente: descobrir os mais aptos a trilhar a carreira aberta ao
talento, supostamente presente na nova organização social, e assim colaborar com a
crença na chegada de uma vida social fundada na justiça.
O nascimento da orientação profissional tem como referência a criação do
Centro de Orientação Profissional de Munique, no ano de 1902, direcionado a uma
prática cujos objetivos estavam diretamente ligadas à psicologia científica e ao aumento
da eficiência industrial, ou seja, visava detectar trabalhadores inaptos para a realização
de determinadas tarefas e assim evitar acidentes de trabalho (SPARTA, 2003), com isso,
percebe-se a falta de preocupação com o aspecto social.
No livro, Choosing a Vocation publicado em 1909, Frank Parsons teve o grande
mérito de acrescentar à Orientação Profissional ideias da Psicologia e da Pedagogia e a
preocupação com a escolha profissional dos jovens. O referido autor define três passos a
serem seguidos durante o processo de Orientação Profissional: a análise das
características do indivíduo, a análise das características das ocupações e o confronto
21
destas informações. Desta forma, a Orientação Profissional baseava-se na promoção do
autoconhecimento e no fornecimento de informação profissional.
A metodologia de diagnosticar e de aconselhar, utilizando como instrumentos os
testes psicológicos, foi substituída pelo auxílio ao autoconhecimento, influência de
Rogers nos Estados Unidos, e à focalização de aspectos inconscientes, influência de
Freud na Europa. As abordagens de OP baseadas na teoria Traço e Fator se ocupam da
adequação do homem à profissão, preocupando-se com as diferenças individuais.
A Psicometria desenvolveu os testes de inteligência, aptidões, habilidades,
interesses e personalidade, sendo que a orientação profissional passou a ser um processo
fortemente diretivo, em que o orientador tinha como objetivos fazer diagnósticos e
prognósticos do orientando e, com base nesses procedimentos, indicar profissões ou
ocupações apropriadas.
Desde o seu nascimento, na década de 1920, a Orientação Profissional brasileira
pautou-se por um modelo baseado na Teoria do Traço e Fator; isto é, pelas ideias de que
o processo de Orientação Profissional é diretivo e o papel do orientador profissional é o
de fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para cada
indivíduo.
A abordagem psicodinâmica realiza uma convergência de valores nas
concepções de Freud para explicar a constituição da personalidade pelos indivíduos. A
psicanálise é usada para entender as aptidões, características e interesses desenvolvidos
pelo indivíduo desde sua primeira infância. Nessa teoria, a iteração com o meio já é
notada, porém, baseada ainda nos impulsos individuais. A abordagem psicodinâmica
trata de investigar os estratos profundos da personalidade dos sujeitos para que tomem
consciência dos motivos que lhes impulsionam a se comportarem de uma determinada
maneira.
A abordagem decisional visa à racionalidade das escolhas, pois se baseia em
pressupostos da economia e da administração. Segundo essa abordagem, a decisão do
indivíduo deve ser fruto de análise minuciosa dos elementos que intervêm no processo.
A racionalidade propõe três etapas:
1. Preditiva: identificar as possibilidades oferecidas e analisar as consequências
de cada uma dessas possibilidades.
2. Avaliativa: analisar a desejabilidade das consequências arroladas na etapa
anterior.
22
3. Decisória: avaliar as decisões e finalmente chegar à escolha.
O modelo propõe o início do processo de tomada de decisão com a identificação
de possibilidades. Nesse processo, se estima o sucesso potencial de cada opção,
estudando-se suas consequências de acordo com seus próprios valores e por fim, é
selecionada uma opção de acordo com critérios pessoais. A decisão obtida, como
resultado, pode ser definitiva ou apenas investigativa. No primeiro caso, finaliza no
objetivo estabelecido no início do processo, e no segundo, produz uma revisão sobre
métodos de pesquisa e coleta de dados para começar a sequência de novo.
Para a abordagem baseada na estrutura da Personalidade (HOLLAND, 2013), os
interesses profissionais são os reflexos da personalidade do indivíduo e, sendo assim,
eles podem servir de base para a definição de diferentes tipos de personalidade, cujas
características definem diferentes grupos laborais e correspondem a diferentes
ambientes de trabalho.
Por isso, a abordagem de Holland desenvolve uma tipologia da personalidade
com seis tipos básicos, dentre os quais podem se estabelecer linhas de comunicação, que
expressam um contínuo entre os diferentes tipos:
Realista: são as pessoas que se relacionam com a realidade de maneira objetiva,
física e material;
Investigadora: são pessoas que se relacionam com a realidade manipulando
ideias, palavras e símbolos ressaltando sua capacidade abstrata e criativa;
Artística: pessoas criativas, sensíveis, introspectivas, impulsivas e originais
manipulando sua intuição, emoção e intensidade;
Social: a realidade dessas pessoas é a possibilidade de cuidar dos outros e
estabelecer as relações humanas possuindo habilidades verbais com os outros;
Empreendedora: pessoas persuasivas, extrovertidas, entusiastas e aventureiras. O
meio com o qual interagem é aquele no qual podem exercer liderança.
Convencional: pessoas que procuram estabilidade e aprovação social. Tarefas
preestabelecidas, como as administrativas, é o ambiente preferido dessas pessoas
(Holland, 1975).
23
3.2 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE
DÃO ÊNFASE AO SOCIAL
Com a abordagem do Desenvolvimento Vocacional de Super (1978), definiu-se
a escolha profissional como um processo que ocorre ao longo da vida, da infância a
velhice, pelos diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da realização de
diversas tarefas evolutivas, definição em que se destaca o social de modo mais efusivo
no campo da Orientação profissional.
Em 1952, Super defende doze princípios nos quais se baseiam sua abordagem:
1. O desenvolvimento profissional é um processo progressivo, contínuo e
geralmente irreversível.
2. O desenvolvimento profissional é um processo ordenado, esquematizado e
previsível.
3. O desenvolvimento profissional é um processo dinâmico.
4. O conceito de si mesmo começa a ser formado antes de entrar na adolescência,
e vai se definindo, sendo consolidado ao final da adolescência.
5. Os fatores da realidade do indivíduo têm um papel cada vez mais importante
na escolha ocupacional com o passar da idade.
6. A identificação com os pais está relacionada com o desenvolvimento dos
papéis adequados e com o planejamento profissional.
7. O progresso ocupacional de um indivíduo está relacionado com sua
inteligência, nível socioeconômico familiar, necessidades, valores, interesses, habilidade
para comunicação interpessoal e as condições econômicas de oferta de trabalho.
8. O âmbito ocupacional em que ingressa a pessoa está relacionado com seus
interesses, valores e necessidades com a identificação que tem com os papéis
profissionais de seus pais, com as fontes e recursos comunitários, com o nível de
qualidade dos estudos e educação, com a estrutura e tendências ocupacionais e com as
atitudes comunitárias.
9. Cada ocupação requer habilidades, interesses, traços de personalidade, etc., e
está condicionada por certos níveis de tolerância tão amplos que podem permitir tanto
certa variedade de pessoas para cada ocupação como certa diversidade de ocupação para
cada pessoa.
24
10. As satisfações laborais dependem de saber até que ponto uma pessoa pode
encontrar uma maneira adequada de expressar, no trabalho, suas atitudes, suas
capacidades, seus interesses, seus valores e seus traços de personalidade.
11. O grau de satisfação que uma pessoa consegue com seu trabalho depende do
grau em que ela pode desenvolver o conceito que tem de si mesma nesse trabalho; e
12. O trabalho e as ocupações têm sido, para muitas pessoas, o centro da
gravidade da organização e da estruturação de suas personalidades. Entretanto, também
existe a possibilidade de que, para algumas pessoas, o trabalho seja algo periférico,
incidental ou inexistente e outras atividades sociais e familiares sejam o ponto central de
seu desenvolvimento pessoal (SUPER, 1978).
A Estratégia Clínica de Bohoslavsky, que contribuiu no processo de Orientação
Profissional no Brasil, vem sendo utilizada até os dias de hoje por todo o país, tendo por
objetivo ensinar a escolher e possibilitar a decisão por meio dos fatores básicos para
uma boa escolha profissional: autoconhecimento, informação ocupacional e mercado de
trabalho. Segundo Bohoslavsky (2007, p. 1), a orientação vocacional profissional
“constitui uma ampla gama de tarefas, que inclui o pedagógico e o psicológico, em nível
de diagnóstico, de investigação, de prevenção e a solução da problemática vocacional”.
A escolha se torna um momento crítico e conflituoso, pois envolve muitas
mudanças na vida dos indivíduos. É um momento em que há a possibilidade e a
necessidade de tomar decisões, e isto se dá, principalmente, a partir da passagem de um
ciclo educativo a outro.
O mesmo autor afirma que o psicólogo auxilia o cliente a pensar a respeito de
sua escolha de maneira autônoma, consciente e responsável. A orientação de que
caminho profissional, ou que campo seguir não é de responsabilidade do psicólogo, mas
do próprio indivíduo que deve tomar a sua decisão.
Nesta perspectiva, muda-se o ponto de vista, principalmente porque incorpora à
tarefa de orientação profissional uma dimensão ética. A ética surge do fato de que, ao
considerar o homem sujeito de escolhas, considera-se que a escolha do futuro é algo que
lhe pertence. (BOHOSLAVSKY, 2007, p. 21).
A abordagem ecológica nasce dos estudos da biologia e se expande
na antropologia e na sociologia. Na área da Psicologia e da Educação, foi Kurt Lewin,
fundador da teoria topológica, ou de campo, o pioneiro em transpor os pressupostos
biológicos, na explicação do comportamento humano, definindo o mesmo como
produto da interação de forças ou valências entre o sujeito e o ambiente (SARRIERA,
25
2007). O paradigma ecológico desenvolvido por Sarriera configura uma modalidade de
Orientação Profissional baseada na Psicologia Social. De acordo com a perspectiva do
paradigma ecológico, o ambiente é tão importante quanto o indivíduo no processo de
escolha profissional, já que esta ocorre na relação do indivíduo com o meio
sociocultural em que está inserido. O objetivo da Orientação Profissional é prover o
orientando com as habilidades pessoais que o permitam atender às demandas ambientais
no momento de transição entre a escolha e o mundo do trabalho: é a promoção de
comportamentos adaptativos (SPARTA, 2003).
O modelo ecológico se compõe de uma série de estruturas ou sistemas, em
forma figurada de círculos concêntricos que explicam os diferentes níveis da realidade
(SARRIERA, 1998). A estrutura nuclear ou central é o microssistema. Nele se
processam uma série de atividades, papéis e relações ou vínculos afetivos. Os
microssistemas se relacionam entre si, conformando um sistema de ordem superior
que chamamos de mesossistema. O mesossistema se configura como unidade
de análise mais favorável para a orientação profissional. Uma visão integrada dos
sistemas familiar, escolar, de trabalho e social confere competência para facilitar os
caminhos da escolha e da inserção profissional.
Outro sistema que influi nos demais sistemas anteriores, mas que procede de
forma indireta, é o exossistema. São ambientes de experiência das pessoas que estão
no círculo de influência do sujeito.
O macrossistema é o sistema que abrange os demais sistemas, composto do
sistema político, econômico, o sistema cultural, ideológico, religioso, etc, nos quais os
indivíduos estão inseridos. Ele também é determinante do mercado de trabalho, das
oportunidades de emprego, dos recursos para formação, dos valores.
A abordagem Sócio-Histórica concebe a OP na relação entre o indivíduo e a
sociedade, superando visões que tratam o indivíduo como mero reflexo da sociedade ou
como totalmente autônomo em relação a ela (BOCK, 2001). Vygotsky (1994) relata que
a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do
desenvolvimento da espécie e do individuo, molda o funcionamento psicológico do
homem. Bock (2001) afirma que a OP gera promoção de saúde ao contribuir para
ampliar a consciência que o indivíduo possui sobre a realidade que o cerca,
instrumentando-o para agir, transformar e resolver as dificuldades que essa sua
realidade lhe apresenta.
26
A presente dissertação leva em consideração a importância de que o campo
social deve ser um dos focos da orientação profissional, uma vez que, sem os
determinantes sociais, o jovem de família de baixa renda, não teria sua realidade de vida
considerada como determinante na escolha de futuro pessoal e profissional.
A adaptação metodológica realizada nesta pesquisa de mestrado profissional,
objetiva, não só fazer uso de uma abordagem teórica que considera o aspecto social na
determinação da escolha profissional do jovem de baixa renda, mas também leva em
conta que a abordagem privilegiada do social depende da inclusão dos profissionais da
instituição local no planejamento e na implementação da Orientação Profissional. Em
outras palavras, qualquer proposta de adaptação metodológica que almeja a inclusão
social deve envolver o profissional na discussão da proposta e na escolha de estratégias
mais adequadas à realidade do público-alvo de jovens, sendo igualmente necessário um
monitoramento permanente de todo processo para avaliar o alcance dos resultados
almejados.
A Orientação Profissional vem mudando seu eixo central de escolha dos
indivíduos para o do trabalho na sociedade atual, assim, a melhor escolha profissional é
aquela que consegue abordar o maior número de determinações para, a partir delas,
construir reflexões que contribuam para a elaboração de projetos de vida pessoal e
profissional. Utiliza-se o termo projeto para firmar a possibilidade da
transformação/mudança da pessoa e, porque não, também, de todo o ambiente na qual
ela está inserida.
A prática da inclusão social, como relatado anteriormente, é mediadora e
articuladora de processos intersetoriais voltados para o desenvolvimento e superação da
exclusão caminhando numa direção voltada à inclusão social. Nesse sentido,
começamos agora a elucidar a junção pretendida aqui, de busca da Inclusão Social
utilizando a Orientação Profissional.
3.3 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E A INCLUSÃO SOCIAL
A presente pesquisa tem dois públicos-alvo. O primeiro público é o adolescente
de baixa renda, que deve receber orientação profissional que o capacite a realizar uma
leitura da realidade de vida em uma fase devida de pouca maturidade para encarar sua
27
vida com uma visão realista. O segundo público-alvo é o profissional que atua na
orientação profissional com jovens oriundos de classes de baixa renda.
Neste caso, a ferramenta necessária deve conseguir primeiramente oferecer uma
oportunidade para que esse jovem faça essa leitura da realidade de forma mais madura,
encarando sua realidade, para depois planejar uma estrutura capaz de romper com as
visões deterministas e sonhadoras de realidade, auxiliando assim, no processo de
promoção à inclusão social.
Sendo as práticas da Orientação Profissional, no campo da Gestão Social, um
dos principais focos da presente pesquisa, entende-se que para prosseguir seja
necessário o aprofundamento da contextualização dos referenciais teórico-
metodológicos e psicossociais da OP no Brasil, além das diretrizes gerais de OP
inseridas em ações de Políticas Públicas.
3.4 BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA DA ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL NO BRASIL
A orientação profissional foi introduzida no Serviço de Educação do Estado de
São Paulo em 1934, por iniciativa de Lourenço Filho. No ano de 1942, a lei Capanema,
sobre a organização do ensino secundário, estabeleceu a atividade de Orientação
Educacional e atribuiu a ela o auxílio na escolha profissional dos estudantes.
Em 1947, foi fundado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP),
junto à Fundação Getúlio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, instituto que conseguiu
reunir técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muitos deles formados pelo curso
ministrado por Mira y López, que foi seu primeiro diretor (RAMOS, 1999).
O ISOP desenvolveu, nos dez primeiros anos de seu funcionamento, um trabalho
voltado principalmente para a implantação de técnicas de seleção e orientação
profissional, porém, dando atendimento à classe média alta, numa tentativa de
orientação da futura elite dirigente, ou seja, dinheiro público usado para a manutenção
da exclusão.
Uma Iniciativa Pioneira de aplicação da Psicologia à problemática do trabalho
foi representada na experiência do departamento de orientação e treinamento do Banco
de Lavoura de Minas Gerais no início da década de 1960, realizada sob a orientação de
28
Pierre Weil e Célio Garcia. Foram promovidas, na ocasião, experiências de
Desenvolvimento em Relações Humanas que incentivavam a autonomia e a abertura em
uma atmosfera democrática; destaca-se a adoção de uma abordagem psicossociológica à
conduta dos indivíduos em grupo. Tratava-se de uma abordagem inovadora no Brasil,
que sofreu influência tanto da Psicanálise quanto da vertente socioanalítica de origem
francesa (CAMPOS, 1992).
Com relação à Psicologia Social, disciplina obrigatória do currículo mínimo de
Psicologia, a tendência foi a formação de departamentos que incluíam, além da
disciplina Psicologia Social, as disciplinas: Dinâmica de Grupo e Relações Humanas,
Seleção e Orientação Profissional e Psicologia da Indústria. Contudo, os programas da
disciplina Seleção e Orientação Profissional, pautados no uso excessivo de testes
psicométricos, nem sempre se alinhavam com os de Psicologia Social (BOMFIM,
2003).
Em 1976, foi criada em Bauru (SP), para atender pessoas com deficiência, uma
organização não governamental com o nome de Sociedade para a Reabilitação e
Reintegração do Incapacitado (SORRI) e a partir dela, em 1985, surgiu o Sistema
SORRI-BRASIL. Atualmente, são cinco centros no Estado de São Paulo (Bauru,
Campinas, Litoral Norte, São José dos Campos e Sorocaba), um no Pará e outro na
Bahia (MELO, 2004).
O campo da Orientação Profissional no Brasil foi influenciado diretamente pela
Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do
psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky, que dava relativa importância ao social, em
especial à articulação entre o sistema social imposto aos homens e os sujeitos que o
sustentam. No Brasil, Maria Margarida de Carvalho foi a responsável por introduzir o
pensamento de Bohoslavsky na década de 1970.
A Estratégia Clínica de Bohoslavsky e o processo de intervenção grupal
desenvolvido por Carvalho contribuíram para o desenvolvimento do processo de
Orientação Profissional no Brasil, que vem sendo utilizado até os dias de hoje, tendo
por objetivo ensinar a escolher e possibilitar a decisão por meio dos fatores básicos para
uma boa escolha profissional: autoconhecimento, informação ocupacional e mercado de
trabalho.
Carvalho ainda realizou com os alunos do último ano de Psicologia da USP, nos
anos 1980 e 1981, um projeto que ela denominou Orientação Profissional em grupos de
29
periferia, cujo objetivo era avaliar a pertinência do modelo teórico e metodológico que
ela havia usado com adolescentes de classe média em classes populares.
O processo grupal é uma amostra do processo social no qual a visão do outro
auxilia na própria visão de si, as aspirações e limitações são dosadas porque o grupo
facilita a percepção das influências familiares, sociais e econômicas (RAMOS, 1999). É
próprio do adolescente o convívio em grupo onde há possibilidade de compartilhar
sentimentos de dúvida, confusão e insegurança em relação ao futuro (SOARES, 1993).
Outro marco nesse campo aconteceu no ano de 1993, com a fundação da
Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I Simpósio
Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional (RAMOS, 1999; LISBOA, 2000;
MELO 2004). A ABOP foi criada com os objetivos de unificação e desenvolvimento da
Orientação Profissional no Brasil. Desde então, vem promovendo simpósios nacionais
bienais.
Na última década do século XX, no Brasil, novas demandas desafiaram a relação
trabalho-educação no que se refere à formação profissional necessária para a inserção
qualificada no mercado de trabalho. Este é um período marcado pelas seguintes
características: acentuada falta de trabalho e colocação profissional para maiores de 40
anos; dificuldade de trabalho para adolescentes recém-saídos das faculdades e/ou sem
experiência de trabalho; grande número de crianças/adolescentes trabalhando em
condições de exploração; e forte evasão escolar. Neste contexto, surge um movimento
que tenta gerar leis e programas, com ações de aspectos sociais, para atender às
necessidades do mercado, legalizando a profissionalização de jovens e adolescentes e
também lhes assegurando o direito à educação em condições dignas (OLIVEIRA,
2010).
3.4.1 Aspectos sociais dentro da Orientação Profissional no Brasil
Com relação aos aspectos sociais da Orientação Profissional, embora esta
estivesse presente em Departamentos de Psicologia Social nas Universidades Públicas
brasileiras, quando foi definido o currículo mínimo do curso de Psicologia em 1962, é
somente na década de 1990 que se identificam trabalhos que abordam a Orientação
Profissional a partir de referenciais da Psicologia Social (ABADE, 2005).
30
Além de ser recente a influência da psicologia social na orientação profissional,
outra razão da necessidade de se desenvolver projetos de pesquisa para ajudar na
elaboração de políticas públicas de inserção social de jovens é que não há em nosso país
política pública de Orientação Profissional como em diversos países, por exemplo,
França, Alemanha e Canadá (MELO, 2004). O que se encontram são ações
desarticuladas, como em algumas Prefeituras Municipais brasileiras que contratam
psicólogos para intervir em orientação profissional, escolar e sexual, mediante a criação
de cargos para psicólogos em Programas específicos ou em Secretarias da Educação.
Algumas fontes específicas de recursos têm sido utilizadas para a contratação de
pessoal, mas as iniciativas são pontuais, com solução de continuidade nas mudanças de
governos (MELO, 2004).
Mais uma demonstração da necessidade de pesquisas e práticas que visem dar
acesso aos jovens de baixa renda ao serviço de Orientação Profissional foi demonstrada
no III Congresso Latino Americano de Orientação Profissional da ABOP (Associação
Brasileira de Orientação Profissional) e X Simpósio Brasileiro de Orientação
Vocacional e Ocupacional, realizado no mês de julho de 2011 na cidade de São Paulo,
cujo tema foi: “Novas demandas sociais e a universalização do acesso à orientação
profissional e de carreira”.
Um dos fóruns de debate, coordenado pelos professores Fabiano Fonseca da
Silva e Mário de Sousa Costa, trouxe a seguinte chamada demonstrando a atual
preocupação do campo da orientação profissional com as novas demandas sociais como
a inclusão.
A questão das políticas públicas nunca foi, de forma sistematizada,
alvo de pesquisas no campo da Orientação Profissional. Apenas
alguns poucos capítulos de livro e artigos denunciavam a necessidade
de desenvolvimento desta área, o que se reflete na pouca quantidade
de legislação específica e de ações e programas institucionalizados nas
esferas do trabalho, educação e saúde. (CONGRESSO LATINO
AMERICANO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, 2011, s.p)
Em outra chamada desse mesmo evento, o fórum coordenado pelo professor Dr.
Silvio Duarte Bock traz em seu conteúdo o seguinte texto:
Esse grupo de trabalho busca refletir e analisar as novas possibilidades
de construção do laço social e o papel da orientação profissional neste
processo; debater com os pesquisadores da área, sistematizar o
31
conhecimento já produzido e publicar os principais achados, acerca da
questão da relação inclusão-exclusão e da democratização do Acesso à
orientação profissional como estratégia de inclusão social.
(CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL, 2011, s.p)
Com isso, nota-se que a orientação profissional deve procurar atuar em todos
níveis sociais, propiciando informação sobre a realidade do mercado de trabalho e do
país, auxiliando no conhecimento de si mesmo (COSTA, 2007) e possibilitando a
construção de um projeto para a vida das pessoas que vivem a realidade da exclusão. As
Políticas Públicas de inclusão social é o campo mais adequado a ter demandas de
práticas de OP.
3.4.2 Demanda por políticas públicas de Orientação Profissional no Brasil
Surgem, no Brasil, novos atores sociais e novos espaços institucionais no mundo
do trabalho e, consequentemente, possibilidades ampliadas de inserção do orientador
profissional.
Para tanto, é preciso desenvolver políticas públicas, implementação e
avaliação de programas e serviços, bem como capacitação dos
orientadores educacionais, vocacionais e profissionais, no âmbito da
Educação, da Psicologia, Administração, Ciências Sociais, entre
outras áreas do conhecimento. (MELO, 2004, p. 47).
Tal composição de fatos sinaliza a necessidade que a orientação profissional
venha a oferecer contribuições efetivas para a inclusão social no cenário social
brasileiro atual.
A presente pesquisa tem como objetivo adaptar e inserir uma metodologia de
orientação profissional dentro de uma política pública de inclusão de jovens de baixa
renda, permitindo que esse público construa um projeto de vida pessoal que auxilie na
sua inserção social e profissional. A aplicação de tal metodologia poderá ser transferida
como tecnologia social e dar suporte a políticas públicas de inclusão social de jovens de
baixa renda.
32
3.5 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CAMPO DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS
A melhor maneira de discutir a questão social é entendê-la no sentido prático, de
fazer a inclusão social na vida real das famílias e das comunidades, como ponto de
partida para a melhoria das condições de vida dos excluídos, prevendo a redução das
desigualdades sociais. Para essa discussão, faz-se necessário um levantamento do que já
foi realizado de práticas de Orientação Profissional, inseridas dentro de políticas
públicas em âmbito nacional.
A Orientação Profissional, na década de 1980, foi discutida como um processo
no qual a escolha é multideterminada, a profissão e o indivíduo têm caráter dinâmico e o
coordenador tem o papel de informar e compreender a realidade psíquica dos
indivíduos. As questões sociais já eram consideradas relevantes para a Orientação
Profissional, mas as teorias e metodologias ainda buscavam seus referenciais na
Psicologia Clínica Individual.
Bosi (1982), por exemplo, incentivava a saída da Psicologia dos consultórios e o
contato dos alunos de Psicologia com a educação popular, isto é, com as escolas
públicas. Os ensaios publicados nos periódicos de Psicologia da época questionavam os
determinantes e a liberdade de escolha profissional, dessa forma, as pesquisas tinham a
preocupação de validar e adaptar os testes vocacionais para o contexto brasileiro. Em
seu artigo sobre a Trajetória ocupacional de trabalhadores das classes subalternas,
Ferreti (1988) salienta que a Orientação Profissional deve se voltar para os interesses
das classes trabalhadoras e com menos ênfase para os jovens oriundos da burguesia.
A Política Pública de Qualificação do governo brasileiro que instituiu um Plano
Plurianual – PPA 2004-2007 adota o critério de que para trabalhar é preciso também se
qualificar. Essa política pública se articula em torno de três objetivos: (a) inclusão social
e redução das desigualdades sociais; (b) crescimento com geração de trabalho, emprego
e renda; (c) promoção e expansão da cidadania e fortalecimento da democracia (MELO,
2004).
Com vista a essa política de qualificação do governo brasileiro, um sistema
público que integra ações nos âmbitos nacional, estadual e municipal é o Sistema
Nacional de Emprego (SINE), que foi criado em 1977 e revitalizado recentemente pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, que, atualmente, objetiva implementar ações em
33
articulação como os estados e municípios. As ações em plano nacional podem ser
resumidas em: seguro-desemprego, intermediação de mão de obra e apoio ao Programa
de Geração de Emprego e Renda.
As ações são desenvolvidas por meio de serviços e agências de colocação em
emprego em todo o país (postos de atendimento). São programas e serviços destinados a
milhares de trabalhadores que necessitam de inserção mais rápida na população
economicamente ativa. Tais programas podem constituir outro cenário de ações no
âmbito da orientação profissional, desenvolvimento de carreira, informação,
qualificação e emprego. O tema principal nesse contexto é a necessidade de
sobrevivência, de conseguir um trabalho, um emprego. Para isso, são necessárias
políticas públicas ousadas (MELO, 2004).
Em 2001, a Association internationale d'orientation scolaire et professionnelle
(AIOSP), em comemoração aos seus 50 anos de existência, discutiu, em duas
conferências, a necessidade de se estabelecer critérios de excelência na prestação de
serviços de orientação profissional e de carreira, para que sejam efetivamente úteis para
indivíduos, economias e sociedades em um trabalho de cooperação internacional.
Naquele ano, adotou a “Declaração da AIOSP sobre orientação vocacional e
profissional”, em 17 de setembro, na conferência de Paris e que na visão do presente
trabalho deve servir de norte para o campo de políticas púbicas voltadas às práticas de
Orientação Profissional.
Nessa declaração, sete pontos são definidos como centrais para o
desenvolvimento da orientação educacional e vocacional, estabelecendo:
a) O direito universal de acesso à orientação;
b) Que os provedores de serviços devem ter um padrão de qualidade
reconhecido em formação profissional;
c) Que as necessidades dos clientes devem ser respeitadas e o atendimento deve
ser realizado por um orientador competente e profissionalmente credenciado,
com a formação alicerçada no respeito aos diferentes modos de vida;
d) A necessidade de formação continuada aos orientadores para
desenvolvimento de competências específicas e atualização;
e) Que o treinamento e o desempenho dos orientadores sejam supervisionados e
os serviços avaliados sistematicamente;
f) Que as pessoas com necessidades especiais e desvantagens sociais devem
receber orientação com métodos apropriados, que levem em conta;
34
g) Que os orientadores e provedores de serviços de orientação devem
comprometer-se com padrões de qualidade reconhecidos e endossar e seguir um
código de ética, como o estabelecido em 1995 (JENSCHKE, 2003).
Outra política pública recente e que é a escolhida nesta pesquisa como base para
a inserção da OP é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(Pronatec), que foi criado pelo Governo Federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a
oferta de cursos de educação profissional e tecnológica. O Programa destina-se à
ampliação da oferta e ao fortalecimento da educação profissional e tecnológica
integrada ao ensino médio nas redes estaduais, em parceria com o Governo Federal. Os
alunos recebem a Bolsa-Formação, por meio da qual serão oferecidos, gratuitamente,
cursos técnicos para quem concluiu o Ensino Médio e para estudantes matriculados no
Ensino Médio e em cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional
utilizando, para tanto, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica que está presente em todos os estados brasileiros.
O programa nacional de acesso ao ensino técnico e emprego (Pronatec) foi o
escolhido para fins de pesquisa desta dissertação. Viu-se nele a possibilidade de
desenvolver a metodologia de adaptação da OP a jovens de baixa renda, podendo vir a
ser incluída como uma política pública voltada para a inclusão social de jovens.
Tendo em vista que esta primeira parte da dissertação dedicou-se a apresentar o
contexto do estudo realizado, de seus objetivos e do referencial teórico que o embasa,
cabe agora tecer considerações sobre o método que orientou sua operacionalização, o
que será feito no próximo capítulo.
4 MÉTODO
No desenvolvimento desta pesquisa de um mestrado profissional, foi prevista
duas etapas com foco em intervenção. Na primeira, o foco foi no engajamento de
profissionais de orientação profissional no processo de elaboração da proposta e
adaptação da metodologia de OP para jovens de baixa renda. Na segunda, o foco recaiu
35
no próprio processo de intervenção junto a jovens de baixa renda. Pelo exposto, o
método de pesquisa escolhido foi o da pesquisa-ação.
Pesquisa-ação é um tipo particular de pesquisa participante e de pesquisa
aplicada que supõe intervenção participativa na realidade social. Sua finalidade é
intervencionista (VERGARA, 2005). Ela pode ser definida como um tipo de pesquisa
social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma
ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os
participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2009). Ambos os autores concordam que a
pesquisa ação é uma forma de pesquisa participante e que possui como objetivos
simultâneos a intervenção, a elaboração e o desenvolvimento de teoria.
A abordagem teórica de OP deste estudo foi a Sócio-Histórica, escolhida por
incluir a discussão do meio social e do contexto como elementos centrais do processo
de escolha do jovem. Os procedimentos adotados foram baseados em técnicas
desenvolvidas por Bock (2001) e adaptadas para os jovens do grupo do Pronatec,
público-alvo do projeto de intervenção.
4.1 ATORES DO PROCESSO
O presente autor no papel de orientador profissional;
Grupo de extensão em OP da UFBA;
Técnicos do Instituto Federal da Bahia/responsáveis pelo
acompanhamento dos alunos do Pronatec;
Adolescentes de baixa renda que participam de projetos sociais
incluídos em políticas públicas (no caso o Pronatec);
4.2 PROCEDIMENTOS
Foram previstas quatro etapas assim especificadas:
Etapa 1 - Apresentação das técnicas de OP dentro de um grupo de
extensão de OP da UFBA (grupo coordenado pelo coorientador desta
36
dissertação), cujo objetivo foi apresentar um parecer técnico sobre o
ordenamento das etapas de aplicação das técnicas;
Etapa 2 - Apresentação das técnicas de OP para profissionais
envolvidos na sua aplicação, visando adaptação das técnicas à realidade dos
jovens, conhecida pelos profissionais que atuam diariamente com o público
alvo;
Etapa 3 – No transcorrer da aplicação das técnicas de OP
realizada pelo orientador, são gerados relatos de aplicação constando o
feedback dado pelos jovens participantes do processo de OP;
Etapa 4 - Depois da aplicação da orientação Profissional, os
relatos de práticas (feedback dos jovens) e a avaliação do processo de
aplicação de OP, esta última realizada de forma conjunta com os profissionais
envolvidos, darão o retorno para consolidar se a abordagem de orientação
profissional usada para jovens de baixa renda foi eficaz e gera um modelo para
futuros grupos.
Figura 1 – Desenho metodológico OP para jovens de baixa renda.
Desenho metodológico
Apresentação das técnicas de OP no
grupo de extensão de OP da UFBA
Apresentação das técnicas de OP
para profissionais envolvidos
na aplicação
Processo de aplicação das técnicas de OP
Avaliação do processo
Feedback – T1;T2;.....TX
Apl
icaç
ão2
Fonte: O Autor
37
4.3 O GRUPO DE EXTENSÃO DA UFBA COMO TESTE DE
REDESENHO METODOLÓGICO DA OP PARA JOVENS DE
BAIXA RENDA
Com a finalidade de desenvolver e adaptar a Orientação Profissional a ser usada
com jovens oriundos de família de baixa renda, foi realizado um primeiro momento
visando os ajustes das técnicas de Orientação Profissional (OP) a serem aplicadas.
O grupo de extensão em Orientação Profissional, pertencente à Universidade
Federal da Bahia, realiza atividades de estudo e atua no campo da OP com atendimentos
individuais na UFBA e atendimento em grupo na rede de ensino da cidade de Salvador.
A equipe é composta pelo Professor Dr. Jorge Luiz de Sales e pelos alunos da
Graduação de Psicologia participantes desse grupo, num total de 11 estudantes de
psicologia dos últimos semestres da graduação.
O processo de escolhas das técnicas foi realizado em dois encontros presenciais
no Instituto de Psicologia da UFBA. As técnicas foram apresentadas e debatidas
gerando o primeiro momento da pesquisa-ação, pois o olhar técnico do grupo respaldou
os ajustes necessários nas técnicas e no seu ordenamento.
O objetivo desse momento foi apresentar e debater as técnicas de OP elencadas
para que o processo de aplicação fosse o mais apropriado possível à realidade local de
adolescentes, aonde se daria a aplicação junto aos jovens de baixa renda, realidade esta,
também, contextualizada para os integrantes do grupo de extensão em OP.
O roteiro das técnicas (apêndice I) foi então apresentado e debatido dentro do
grupo de extensão tendo sido realizadas as alterações propostas no intuito da melhor
adequação.
A proposição do plano de OP apresentado é a seguinte: 7 sessões (podendo
ocorrer uma 8ª a depender da necessidade do grupo). A 1ª sessão de apresentação; a 2ª
sobre autoconhecimento; 3ª e 4ª sessões sobre os valores referentes à escolha
profissional; 5ª conhecimento profissional; 6ª construção de projeto de futuro de vida e
7ª encerramento.
Ao final de 4 meses de participação no grupo, com duas sessões de apresentação
e duas de devolutivas, o resultado foi um planejamento de desenvolvimento de OP
ajustado, com o parecer técnico de estudantes e profissionais da OP focado sobre a
38
escolha e o ordenamento das etapas de aplicação das técnicas, estando pronto agora para
realizar a etapa seguinte.
5 COLOCANDO EM PRÁTICA UMA METODOLOGIA DE OP
ADAPTADA A JOVENS DE BAIXA RENDA
Este capítulo tem como objetivo apresentar o processo de OP aplicado junto a
jovens de baixa renda, com base no desenho metodológico adaptado a partir do processo
desenvolvido junto a profissionais e estudantes do grupo de extensão da UFBA.
Num primeiro momento, foi realizado um processo de análise de local e
instituição que poderia acolher esta pesquisa. Tal instituição deveria manifestar
interesse em auxiliar o desenvolvimento de um projeto piloto em OP e também dispor
de um grupo de jovens que estivessem envolvidos em ações de inclusão social. Depois
de feita uma análise de campo, o programa nacional de acesso ao ensino técnico e
emprego (Pronatec) foi o escolhido por dois fortes motivos; primeiro, por ser um
programa de inserção social de jovens e, segundo, pelo interesse demonstrado pela
instituição que coordena o programa na cidade de Camaçari: o Instituto Federal da
Bahia (IFBA).
O Pronatec é uma das principais ações de inclusão produtiva do Plano Brasil
Sem Miséria, do Governo Federal, que tem a finalidade de superar a condição de
extrema pobreza que atinge uma parcela significativa da população brasileira, criando
oportunidade para elevar a renda e o acesso a serviços dos segmentos mais vulneráveis.
Essa parceria prevê a oferta gratuita de qualificação profissional para pessoas a partir de
16 anos, inscritas ou em processo de inclusão no Cadúnico, na modalidade intitulada
Bolsa-Formação Trabalhador, sob a forma de cursos de formação continuada. Essa
oferta de cursos chama-se Pronatec Brasil Sem Miséria (Pronatec/BSM).
Assim, o Pronatec dedica atenção especial aos grupos mais expostos aos riscos
de extrema pobreza (com renda familiar per capita de até R$ 70,00 por mês) englobando
grupos de pessoas com deficiência, jovens (público-alvo da presente pesquisa),
mulheres, negros, população em situação de rua, catadores de material reciclável, índios
e comunidades tradicionais.
39
Dessa forma, o Pronatec estimula a entrada ou o retorno ao sistema educacional
de pessoas que necessitam de qualificação profissional para elevar suas chances de
inclusão produtiva, ou melhorar sua condição de inserção no mundo do trabalho.
5.1 PLANEJANDO O PROCESSO DE OP PARA JOVENS DO
PRONATEC
A partir do contato inicial, realizado no mês de setembro de 2013, com o
Secretário de Cidadania e Inclusão da Prefeitura de Camaçari, deu-se início ao
planejamento do processo de OP junto à Coordenadora do Pronatec. A coordenação
marcou uma reunião na qual expomos a proposta de OP a ser desenvolvida, a qual foi
prontamente aceita.
Nessa primeira reunião, estiveram presentes o orientador profissional, os
técnicos da instituição responsáveis pelo trabalho educacional junto aos alunos do
Pronatec (2 profissionais técnicas), incluindo a coordenadora educacional (Pedagoga) e
a coordenadora responsável pelo grupo do Pronatec (Assistente Social). (Ver Apêndice
I).
Como era previsto, algumas sugestões foram acatadas pelos profissionais do
Ifba, responsáveis pelo acompanhamento do Pronatec, principalmente pela educadora
profissional diretamente responsável pelos alunos.
Os alunos do Pronatec, no geral, possuem um perfil de jovens que já necessitam
trabalhar e, sendo assim, desenvolvem algum tipo de atividade que gera renda
individual e ajudam na contribuição familiar. Dois alunos trabalham no pólo industrial
de Camaçari, como jovens aprendizes, os demais atuam em atividades informais para
obter renda. Todos ganham bolsa estudo para participar do Pronatec, que é calculada
conforme a assiduidade do aluno no curso.
Sendo assim, foi sugerido que, ao se discutir sobre as informações profissionais,
levasse em conta que os jovens participam do Pronatec voltado, especificamente, para a
aprendizagem do AutoCAD, software usado para desenvolver desenhos técnicos e,
portanto, os alunos estariam propensos a terem o interesse voltado a essa área técnica.
Depois da apresentação e do debate das técnicas, elaborou-se um cronograma de
atividades para dar início à OP, que encontra-se especificado a seguir:
40
Quadro 1 – Cronograma de atividades da OP com os jovens do Pronatec (Turma Autocad Ifba
de Camaçari).
PERÍODO ATIVIDADES PLANEJADAS METODOLOGIA
Semana 1
1ª Sessão
15/10/2013
A prática da pesquisa ação com os
profissionais da aplicação.
Apresentação e debate das
técnicas a serem
desenvolvidas.
Semana 2
2ª Sessão
22/10/2013
Apresentar o trabalho a ser desenvolvido
junto aos jovens do Pronatec.
Apresentação de como o
programa será
desenvolvido, seguido da
apresentação dos jovens
aos profissionais e
apresentação dos
profissionais aos jovens
para o mútuo
conhecimento.
Estabelecimento de
contrato com os jovens a
partir da dinâmica chamada
regras do jogo.
Semana 3
3ª Sessão
29/10/2013
Trabalhar o autoconhecimento nos jovens,
discutir sobre o papel do fator social na
vida.
Utilização da Técnica do
Curtigama.
Semana 4
4ª Sessão
05/11/2013
Apresentar e discutir valores referentes à
escolha profissional.
Inserir o posicionamento da teoria sócio-
histórica sobre a questão do conhecimento.
Debate em torno de
afirmações polêmicas.
Semana 5
5ª Sessão
12/11/2013
Apresentar e discutir valores referentes à
escolha profissional de forma lúdica.
Utilização da Técnica do
sorvete.
Semana 6
6ª Sessão
19/11/2013
Ampliar o conhecimento sobre a variedade
e a possibilidade de profissões existentes;
demonstrar a importância de se pesquisar
Informações Profissionais:
mapa de profissões.
41
sobre as profissões.
Semana 7
7ª Sessão:
26/11/2013
Continuar e finalizar a sessão anterior. Continuar e finalizar a
sessão anterior.
Semana 8
8ª Sessão
03/12/2013
Mobilizar os jovens a começarem a
visualizar a construção de um projeto de
futuro levando em conta a multiplicidade
de aspectos que existem em suas vidas.
Elaboração do Projeto de
futuro de vida.
Semana 9
9ª Sessão
10/12/2013
Encerramento. Continuar a atividade da
sessão anterior intitulada
de Projeto de Futuro de
Vida; encerrar o processo
da OP; dar as devolutivas
pertinentes a cada
participante.
Semana
10
10ª Sessão
17/12/2013
Avaliar o processo de aplicação da OP nos
jovens e refletir sobre propostas para
modificações no processo para futuras
intervenções.
Avaliação do processo
como um todo,
profissionais, técnicas e
jovens.
Fonte: O Autor
Ressalta-se que foram realizadas duas reuniões com os profissionais que iriam
aplicar a OP, a primeira para estabelecer um contato e a partir deste, marcar uma
segunda reunião para apresentação das técnicas a serem desenvolvidas junto aos jovens.
5.2 DESCREVENDO O PROCESSO DE OP
Participaram da experiência de aplicação de OP 16 jovens vinculados ao
Pronatec, conforme especificado no Quadro a seguir:
42
Quadro 2 – Quadro descritivo dos jovens participantes da OP (Turma Autocad Pronatec Ifba de
Camaçari).
Abreviatura
Nome Idade Sexo
A.F.S. 30 anos Masculino
A.R.M. 16 anos Masculino
A.M.F. 17 anos Feminino
C.A.P. 16 anos Masculino
C.R.S. 19 anos Feminino
E.B.A. 16 anos Feminino
E.P.F. 17 anos Feminino
J.J.S. 19 anos Feminino
J.M.J. 19 anos Feminino
J.S.S. 21 anos Masculino
J.V.L. 17 anos Masculino
M.A.C. 16 anos Masculino
M.V.L. 16 anos Masculino
M.F.S. 16 anos Feminino
P.R.O. 17 anos Masculino
R.D.S. 16 anos Feminino
Fonte: O Autor
A seguir, encontram-se detalhadas as sessões de OP com relatos das técnicas que
foram aplicadas no grupo do Pronatec. Em cada uma das 10 sessões são especificados
43
os objetivos, a justificativa, as atividades desenvolvidas e os resultados da aplicação da
técnica.
1ª Sessão
Objetivo:
Apresentar o trabalho a ser desenvolvido; apresentar os envolvidos (profissionais
e jovens); estabelecer o contrato de convivência; trabalhar o autoconhecimento nos
jovens, discutir sobre o papel do fator social na vida e na formação da identidade.
Justificativa:
O conceito de identidade é central na Psicologia, tanto para a construção do eu,
quanto para a inserção social (STRYKER, 1994; ERIKSON, 1968). A identidade a ser
considerada neste estudo é a identidade social fruto da percepção de inclusão em um
grupo social que compartilha um domínio específico e técnico de saber, e que permite
demarcar o grupo de pertencimento ou identificação (endogrupo) e o grupo de
distanciamento ou de contra-identidade (exogrupo) (PEIXOTO, 2014; GONDIM,
2014).
Atividades:
Ocorreu a apresentação de como o programa seria desenvolvido, seguido da
apresentação dos jovens aos profissionais e apresentação dos profissionais aos jovens
para o mútuo conhecimento.
Nessa primeira sessão, A.F.S., o aluno mais velho da turma, revelou aos demais
que estava tendo uma segunda chance na vida. No entanto, não retornou a nenhuma
outra sessão, embora, por inúmeras vezes, os demais jovens tenham citado o seu
depoimento como exemplo de vida ressaltando a importância da possibilidade de se ter
uma segunda chance.
Depois da apresentação, ocorreu o estabelecimento do contrato de convivência
com os jovens a partir da dinâmica chamada regras do jogo:
Foram negociadas as regras de convivência no grupo como:
Horário de chegada: definido para às 14h;
Pausa: sem pausa;
Horário de saída: 16h;
Respeito a opinião dos outros;
Falar cada um de uma vez;
44
Em caso de ausência, procurar o orientador para conversar a
respeito;
Respeito com as histórias dos outros;
Sempre procurar a secretaria do Pronatec para saber em que sala
será a OP, pois as sessões podem ocorrer em salas alternadas.
Depois do debate, foi introduzida a técnica do curtigrama, explicando cada item
a ser desenvolvido. Essa dinâmica começou a ser realizada no Ifba, mas teve de ser
levada para casa e se completou na segunda sessão:
Curtigrama:
O QUE EU CURTO E FAÇO
O QUE EU CURTO E NÃO FAÇO
O QUE EU NÃO CURTO E FAÇO
O QUE EU NÃO CURTO E NÃO
FAÇO
Com a ressalva de que, em cada item foi necessário atentar para 9 aspectos da
vida:
1. Físico: relacionado à saúde;
2. Espiritual: religião;
3. Intelectual: estudos;
4. Familiar: relacionamentos;
5. Social: meios de convivência e de relacionamentos;
6. Financeiro: dinheiro e sobrevivência;
7. Profissional: trabalho;
8. Ecológico: ambiente de vida;
9. Relacionamento amoroso: namoro.
Foi explicado que não se deveria deixar nenhum espaço vazio, haja vista a
responsabilidade de se assumir o planejamento pessoal com a carreira, levando em
conta a realidade presente, bem como a importância de conciliar o que gostamos e não
gostamos e fazemos e não fazemos.
No final, houve um tempo para esclarecer dúvidas, em geral, que surgiram.
45
Resultado:
O objetivo de mútuo conhecimento do grupo e de estabelecimento de contrato de
convivência foi alcançado com êxito, além de destacar a importância do fator social na
vida e na construção da identidade, que começou a ser trabalhado na apresentação do
curtigrama e seguiu-se no próximo encontro.
2ª Sessão
Objetivo:
Continuar e encerrar o tema e a técnica iniciada na primeira sessão (curtigrama);
trabalhar o autoconhecimento nos jovens, discutir sobre o papel do fator social na vida e
na formação da identidade.
Justificativa:
O trabalho de se permitir descobrir e redescobrir baseia-se em um conceito
relacional, no qual as identidades são continuamente reafirmadas ou redefinidas ao
longo da vida. A identidade pessoal é influenciada pelas experiências subjetivas da
relação que cada um estabelece com o mundo ao redor, incorporadas ao autoconceito
(quem sou eu?). A identidade social, por sua vez, se vê implicada no exercício de papéis
e no pertencimento a diversos grupos sociais que sofrem mudanças ao longo do tempo
(PARSONS, 1973/1968). Isso nos permite afirmar que não se nasce com uma
identidade.
Atividades:
Os Jovens apresentaram, individualmente, de forma verbal, seus curtigramas,
enquanto o orientador foi colocando as respostas num quadro geral. Em seguida,
começou um debate sobre as respostas, a fim de entender a categorização elencadas nos
9 itens juntamente a sua problematização.
Nesta sessão, já foi possível ter o demonstrativo de quem realmente iria seguir
com a OP de forma madura e responsável. Estiveram presentes 10 jovens, sendo que 5
chegaram com o curtigrama pronto de casa e mais dois finalizaram no transcorrer da
sessão.
No item Curto e Faço as respostas repetidas foram: ler, encontrar amigos,
participar de reunião de família, tocar ou cantar música, praticar esporte e estudar.
No item Não Curto e Faço prevaleceram: brigas (em casa, na rua, no lazer),
estudar, limpar a casa, ser solteiro(a) e praticar esportes.
No item Curto e Não Faço: namorar, praticar esporte, profissão e lazer em geral.
46
Pra finalizar, o item Não Curto e Não Faço: novamente praticar esportes, reunião
em geral, igreja e estudar.
Nesta sessão, foi importante conduzir o debate no grupo, o qual gerou a reflexão
que: tanto as atividades que são desenvolvidas, quanto o gostar delas ou não gostar, o
poder fazê-las ou não poder fazê-las e ainda o ter que fazê-las ou não ter que fazê-las
são resultados de um desenvolvimento sócio-histórico entre indivíduo e sociedade,
numa produção já existente historicamente, mas em constante mudanças, que
constituem infinitas possibilidades futuras.
O trabalho do autoconhecimento objetivando superar a crença do determinismo
da constituição individual foi alcançado, pois alguns itens como estudar e praticar
esportes apareceram nos quatro quadros, o que permite inferir a conscientização dos
jovens sobre a multideterminação de gostos e preferências, levando em conta também as
diferenças de pessoa pra pessoa.
Outro ponto a se destacar é o da diferença de maturidade entre os jovens, alguns
como J.S.S. que possui filho e acredita ter encontrado seu caminho profissional na área
de tecnologia do trabalho rural J.S.S. trabalha numa empresa do ramo e pretende se
aprimorar cada vez mais na área. Além de já ter uma área profissional determinada para
se desenvolver, seu curtigrama sugere uma capacidade muito boa de leitura de realidade
com uma taxa alta de autoconhecimento sobre o que gosta e o que não gosta, fazendo
um relato sobre o que necessita fazer para melhorar no aspecto daquilo que gostaria de
fazer.
Resultado:
Nesta sessão como um todo, enfatizaram-se as relações sociais como
determinantes no processo de escolha profissional e, sobretudo de futuro de vida, e
assim puderam-se evidenciar as multideterminações que constituem o ser humano e seu
mundo, desmistificando aqui o caráter inatista e determinante das concepções que
defendem a existência de supostos dons e talentos inatos.
3ª Sessão
Objetivo:
Inserir a questão da importância do conhecimento sobre o objeto de escolha para
obter um melhor posicionamento.
Apresentar e discutir valores referentes à escolha profissional.
Justificativa:
47
Mediante a exploração, constrói-se a própria identidade (TAVEIRA, 1997), é
possível desenvolver interesses e se experimentar atividades que permitam colocar à
prova as próprias habilidades para a realização de determinadas tarefas e satisfazer-se
com elas.
A exploração é um processo central para que o jovem consiga ir se perguntando
sobre o tipo de escolha que gostaria de ser e, a partir daí, buscar experiências e reflexões
capazes de clarear a resposta.
Nesta sessão, a experimentação é colocada à prova na inversão de
posicionamento no embate em torno de afirmações polêmicas.
Atividades:
Debate em torno de afirmações polêmicas:
Num primeiro momento, os jovens responderam por escrito se concordam ou
discordam de quatro afirmações que foram colocadas e justificam seu posicionamento.
As afirmações são:
1. “Mulheres são mais apropriadas a fazerem certas funções e
homens outras”?
2. “Gostar de matemática, química e física indica que,
necessariamente, a pessoa deve escolher uma profissão na área de Exatas (tal
como engenharia)”?
3. “O ser humano já nasce com os chamados dons que determinam o
que a pessoa faz bem e no que não faz bem”.
4. “O mercado de trabalho é o principal fator a ser levado em conta
no momento da escolha da profissão”.
Num segundo momento, o orientador solicitou que se formassem subgrupos (3
ou 4), para discutir cada uma das afirmações e chegar a um consenso do grupo, ou seja,
numa posição única para todo o grupo.
Num terceiro momento, se desfez os subgrupos e, de forma aleatória, formaram-
se dois grupos grandes envolvendo todos os participantes.
Cada afirmativa nesse momento foi discutida com um grupo se posicionando a
favor e outro contrário, a fim de convencer a outra parte de sua posição.
Na análise de funcionamento de grupo, pode-se perceber que a divisão ficou
com um grupo predominantemente masculino e o outro feminino.
A principal diferença foi a de que, no grupo com predominância masculina, era
escolhido um argumento para defender ou discordar da frase em debate e esse
48
argumento era esmiuçado o máximo possível, já o grupo com predominância feminina
foi mais rico em argumentos para defender ou discordar da frase em debate, porém, sem
a preocupação de detalhar afundo os argumentos colocados.
Já a similaridade entre os grupos foi a de que ambos estabeleceram um líder, no
grupo feminino A.M.F. e no masculino J.V.L. e, realmente, ambos com perfis muito
parecidos de liderança e com facilidade para argumentação em público.
A técnica foi muito rica e, segundo dito por C.A.P., a sessão demonstrou “como,
às vezes, nos posicionamos sempre da mesma maneira com uma opinião única sem
enxergar o outro lado da questão por pura rigidez, sendo que às vezes a opinião que
defendemos nem foi nossa, e sim de outra pessoa, como dizer que não gosta de quiabo
sem nunca comer quiabo só porque a mãe falou que é ruim”.
Na finalização dessa técnica, o orientador comentou para o grupo a importância
de entenderem que o conhecimento é construído de forma coletiva a partir do embate de
posições divergentes, chegando ao chamado consenso do possível. (KUENZER, 2000).
Resultado:
O resultado foi positivo no que tange à reflexão da importância do
conhecimento sobre o objeto de escolha para obter um melhor posicionamento, pois o
grupo como um todo, ao final, relatou um sentimento similar de que é necessário
sempre olhar o mesmo ponto de formas diferentes para se ter uma visão mais consciente
e realista. Isso acaba colocando a OP como um campo também didático-pedagógico de
socialização de conteúdos científicos.
Essa técnica permitiu uma apropriação muito maior de valores sobre as questões
que envolvem a escolha profissional, mediante a escuta de opiniões diferentes e
convergentes às de cada envolvido com o processo de orientação, ampliando assim o
repertório sobre a temática dos mesmos.
4ª Sessão
Objetivo:
Apresentar ferramentas e discutir valores, de forma lúdica, referentes à escolha.
Justificativa:
Existem múltiplas formas de se fazer uma escolha, porém independente do tipo
de tomada de decisão que tenhamos que realizar na vida, precisamos saber escolher.
Escolher significa se posicionar (tomar partido) dentre as possibilidades colocadas que
são igualmente atrativas e contém também desvantagens. São possibilidades que brigam
49
entre si. Por isso, se diz que qualquer escolha implica conflito, ou melhor, escolher
significa resolver conflito.
A escolha por uma abordagem lúdica se justifica pelo fato de tornar o processo
de reflexão mais atrativo e prazeroso, no sentido de despertar o interesse e a motivação
dos jovens, criando um clima mais ameno e de maior facilidade para a busca de
soluções ao conflito.
Lembrando que essa temática é abordada de forma lúdica; escolher um sorvete
não pode, na vida concreta, ser comparada com o mesmo nível de complexidade de se
escolher uma profissão.
Atividades:
Essa sessão começou com uma dinâmica de grupo chamada Resposta sim
Resposta não, que consiste em um jogo de adivinhação no qual o orientador coloca um
mistério para ser desvendado pelo grupo, que deve fazer perguntas cuja resposta seja
sim ou não para o orientador, que sabe qual o segredo do mistério.
O caso dado foi o seguinte: em uma sala grande e alta tem um homem morto por
enforcamento, pendurado em uma corda, amarrada na estrutura do telhado da sala. A
porta da sala estava fechada e a porta só abre por fora. O detalhe é que, na sala não tinha
nada além da corda do morto e, debaixo deste, uma poça de água bem grande no chão.
A questão é como explicar a morte detalhadamente.
A dinâmica serviu para o grupo se sentir capaz de pensar em inúmeros modos e
caminhos de se chegar aos resultados almejados, que seria a principal questão na técnica
que se seguiu, chamada de Técnica do Sorvete.
O gosto pelas disciplinas escolares é utilizado como mote para a discussão mais
geral a respeito do significado, da importância e da forma de efetivação de escolhas.
Desenvolveu-se o “procedimento do sorvete”, que se constitui numa metáfora, para
demonstrar a elaboração e o desenvolvimento de processos de escolha. Apresenta-se, a
seguir, o procedimento, uma vez que se considera de fundamental importância por
demonstrar com clareza a concepção de escolha que o fundamenta.
Apresentação do problema: você vai ter que tomar uma decisão muito
importante: vai escolher um sorvete. Para facilitar a tarefa, se utilizará apenas de um
tipo de sorvete: o picolé e apenas dois sabores: o sabor X e o sabor Y. Mas existem
algumas regras preestabelecidas.
1) Você não pode provar antes para depois escolher. (Você não pode
experimentar 100 profissões para depois escolher).
50
2) Você só pode escolher um sorvete, isto é, não pode escolher os dois (não pode
escolher ao mesmo tempo 100 profissões).
3) Você quer fazer a melhor escolha com o menor risco possível e com a maior
chance de “sucesso”.
4) Esta escolha é importante; não é para o resto da vida (como profissão também
não é), mas deve permanecer um certo tempo com você.
Em seguida, solicitou-se aos participantes do grupo que pensassem em soluções
para resolver o problema da escolha de um sabor do sorvete. Abaixo, são apresentadas
as soluções dadas pelo grupo de alunos do Pronatec:
1ª solução: tirar a sorte no par ou ímpar.
Análise: essa solução, até foi citada, mas ressaltaram que não utilizariam a
metodologia de escolher na sorte, em decisões de grande importância, apenas em
situações do dia a dia, principalmente quando não se correm grande riscos, no caso de a
sorte trazer um resultado ruim. É defensável usar a solução de sorte ou azar no momento
de dividir um lanche com o amigo para quem vai ficar com o pedaço maior.
2ª solução: olhar a embalagem, observar a cor dos sorvetes
O sorvete Y tem como cor predominante na embalagem a cor branca, já o X tem
a cor marrom. Essa solução não foi muito utilizada pelo grupo, com relatos de que os
fabricantes de picolé estudam o público consumidor para desenvolver modelos de
embalagens mais atrativas para seu consumidor-alvo e que, se a fábrica desenvolve esse
estudo, também desenvolve o sabor do sorvete para também se aproximar de seu
público-consumidor deixando o sabor mais próximo da preferência de seus
compradores e, por esses motivos, acreditam que a escolha feita pela cor ou modelo da
embalagem os levaria à escolha do melhor sorvete.
3ª solução: conhecer os ingredientes dos sorvetes
O conhecimento dos ingredientes tem como objetivo tentar descobrir o sabor das
opções.
Análise: os ingredientes podem ser conhecidos por pesquisas: num “guia do
sorvete”, conversando com pessoas, indo a fábricas (faculdades), visitando locais de
trabalho.
51
Essa solução é dada como certeira pela maioria do grupo. Foi trabalhada a
questão da investigação, de fato, e não superficial, sobre o objeto de escolha tomando a
precaução de que esse processo não esteja sendo feito por meio de uma mera
observação. Certamente, uma solução mais elaborada do que um par ou impar, mas
ainda insuficiente para se achar uma solução para escolha definitiva, afinal não é porque
alguém gosta de matemática que essa pessoa será feliz sendo um contador ou porque
gosta de café que irá gostar de bala de café.
Duas questões apareceram nesse momento para serem discutidas com o grupo: a
questão do dom, que foi dada como certo pela maioria, e a da persistência para
conseguir realizar a melhor escolha. Essa temática abriu um intenso debate, discutindo
dom e esforço pessoal.
A resolução do debate foca nas crenças de cada um, pois se qualquer pessoa
fizer uma escolha sem acreditar na mesma, está fadada a depois concluir que fez a
escolha errada, sendo essa escolha feita por acreditar num dom ou por acreditar no
trabalho para desenvolver a escolha realizada. Ressalta, portanto, que nesse caso o
importante é acreditar na escolha.
4ª solução: perguntar para as outras pessoas o que elas acham
Aqui tudo que se relatou foi com relação à influência da família ou à confiança
na pessoa para que se pergunta.
Perguntar para alguém que está provando um sorvete de chocolate, pode resultar
em duas respostas: ela gosta ou não. A questão que se coloca é: o fato de alguém
preferir um caminho indica que o optante deva seguir o mesmo? A resposta lógica
indica que não, entretanto, algumas decisões que se tomam seguem essa fórmula, pois
trabalhamos aqui a questão de confiança em pessoas de referência.
Para reflexão, foi colocado para o grupo que, não adianta perguntar para quem
toma sorvete de abacaxi o que ela acha do sorvete de chocolate, pois será apenas uma
opinião pessoal, pois o sujeito desconhece a outra possibilidade, já que apenas vive um
lado. De pouco adianta perguntar para um engenheiro o que ele acha da profissão do
Direito; ele apenas dará sua opinião.
5ª solução: indicar quais as consequências para a vida de cada opção. Isto é, no
caso, identificar vantagens e desvantagens.
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X Y
Vantagens Vantagens
É mais nutritivo É mais refrescante
Desvantagens Desvantagens
Engorda; pode ser gorduroso; dá espinhas É ácido, pode dar afta.
É importante conhecer as vantagens e desvantagens de cada alternativa; porém
elas não definem nada. Mas há um perigo: nesse momento a pessoa pode estar sofrendo
um problema, por exemplo, de espinhas, o que empurraria para a alternativa Y. Porém,
este problema deixa de existir daqui a algum tempo.
A pergunta a ser feita nesse momento é: “e se mesmo assim eu não gostar do
sorvete?” e a resposta “se você não gostar, isso deve ser levado em conta na próxima
escolha”, o que demonstra que, realmente, quem opta por essa solução acredita que a
metodologia para fazer uma escolha é a da lista de vantagens e desvantagens. Isso foi
dito ao grupo para que pensasse no sentido de que existe a possibilidade de dar errado,
ou seja, de a escolha ser considerada errada. Essa informação contribuirá em escolhas
futuras, sabendo que as escolhas não são definitivas e sim passíveis de serem erradas e
mais, se for a escolha errada, essa informação pode contribuir para escolhas mais
acertadas no futuro.
6ª solução: pesquisar o mercado; observar se há diferença de consumo entre
homens e mulheres.
A pesquisa de mercado de consumo indica que se vende muito mais sorvetes X
que Y. Entretanto, dentre as pessoas que compram o sorvete Y, a maioria são mulheres.
No caso do sorvete X, a procura é equilibrada entre homens e mulheres.
O que esses dados revelam? O interessado deve comprar X só porque a maioria
compra essa alternativa? Por outro lado, seria melhor comprar Y, por ser menos
consumido, e por isso ser mais fácil de achar ou adquirir sem filas?
Pode-se dizer que a maioria das pessoas escolhe o sorvete X porque assim reza a
tradição, e os meios de comunicação reforçam constantemente essa tendência ao
veicular propagandas de chocolate e derivados. Pode-se falar o mesmo a respeito das
profissões. A maioria escolhe Engenharia ou Medicina ou Direito por serem as mais
tradicionais, afinal são estas profissões que formam o Doutor que não fez doutorado.
São as profissões que mais aparecem em novelas, filmes e livros.
53
Por outro lado, dentre os consumidores do sorvete Y, a mulheres são a maioria.
Será por causa de uma adequação biológica? Pode-se afirmar que não, as mulheres mais
vaidosas procurariam o sorvete Y para manter a silhueta com algo menos calórico.
7ª solução: analisar o preço
X é mais caro do que Y.
Muitos levaram a questão preço em questão relatando que ,“na maioria das
vezes, essa questão de escolher, na verdade, não é uma escolha e sim uma questão de
saber o que é possível fazer com o que se tem no momento, pois se tiver apenas
dinheiro pra comprar um picolé não posso querer escolher um sorvete de massa o qual
tem muitos sabores, fico apenas limitada aos sabores do picolé”.
Nesse momento, dois pontos são relevantes. Primeiro, realmente os limites que
nos são colocados são fatores determinantes em nossas escolhas e não devem ser
mascaradas, não as encarando, e também não devem ser supervalorizadas considerando-
as como eternas barreiras intransponíveis.
O segundo ponto é que, dado nossos limitadores de escolha, se este for
determinante para no momento não poder escolher aquilo que acreditamos ser a escolha
correta, duas coisas devem ser feitas:
Primeiro: não devemos desistir daquilo que acreditamos;
Segundo: devemos traçar um “plano B”, uma rota alternativa para chegarmos na
escolha que almejamos e assim derrubamos as barreiras pouco a pouco conforme nossos
possibilidades.
Nesse momento, o jovem que projeta ser músico M.A.C. contribuiu dizendo que
a escolha pelo curso técnico do Pronatec é porque ele sabe que sobreviver da música é
difícil e, por isso, ele escolheu esse “plano B” enquanto alcança condições para
sobreviver apenas com a sua escolha pela música.
Tal fala demonstrou também a visão madura e segura das escolhas de M.A.C. e
serviu de exemplo muito importante no grupo, tanto para realizarem as escolhas quanto
para construírem seus projetos de futuro de vida, ponto esse ressaltado na OP neste
momento pelo orientador, como uma elaboração de se cumprir metas visando um
objetivo final, importante na estruturação de vida de qualquer indivíduo.
Finalmente, para encerrar o debate e a dinâmica, o orientador perguntou ao
grupo:
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Este problema (sorvete) tem solução?
E prontamente a resposta apareceu pela porta voz A.M.F. – “ Tem sim, temos de
nos conhecer para utilizarmos o critério de escolha conforme o que acreditamos e saber
que pode dar errado”.
Os demais concordaram com a resposta, alguns acrescentando que, em algumas
situações, é mais fácil e em outras mais difíceis. O orientador parabenizou o grupo pela
participação positiva no trabalho desenvolvido na sessão, porém colocou que estava
faltando um item para garantir a escolha que ninguém havia falado ainda.
Todos tentaram arriscar um palpite que foi de dom até vontade, mas ninguém
acertou, e nesse momento coube o encerramento da sessão que segue:
Ao que parece nada garante a melhor escolha. Mas, existe sim uma forma de
resolvê-lo. A solução é: ato de coragem.
Qualquer escolha, em última instância, resulta de um ato de coragem. Um ato de
coragem leva em conta todos os critérios possíveis. Pode acontecer o caso em que os
critérios apontam para determinado caminho e a pessoa escolhe outro (seria uma
escolha por desafio que também leva em conta os indicadores).
A ideia de colocar todas as variáveis na balança, para ver qual lado pesa mais,
não funciona (em nenhum caso de escolha), porque as variáveis tendem para o
equilíbrio, isto é, se existe alguma desvantagem numa opção, a outra também
apresentará desvantagens e assim por diante.
Não existe indicador capaz de assegurar de antemão qual a melhor escolha, pois
se existisse, não ocorreria escolha. Uma escolha na qual uma possibilidade é ótima e a
outra é péssima, não é uma escolha. Não se compara uma ferrari como um fusquinha.
Qualquer escolha implica risco. Não existe escolha sem risco. Escolha sem risco
não é escolha. A insegurança faz parte de qualquer decisão.
Qualquer escolha implica perda. É um mito dizer que só existe um caminho para
cada pessoa. Ao contrário, existem vários e por isso a perda faz parte da escolha.
Escolher uma profissão implica perda das outras, pelo menos nesse momento.
Resultado:
Escolher algo como uma profissão, pressupõe que a pessoa conheça a realidade
que contextualiza a decisão, que se autoconheça e esteja informando das possibilidades.
Sobre tudo isto terá o “ato de coragem” que é uma intervenção de ordem emocional que
envolve o bom senso, a intuição e a vontade.
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O objetivo de apresentar ferramentas e discutir valores, de forma lúdica,
referentes à escolha foi alcançado demonstrando que, em diferentes momentos da vida,
teremos diferentes escolhas a fazer e, por isso, diversos modelos de como se fazer uma
escolha devem ser levados em conta, pois os momentos e as escolhas são realmente
diferentes, mas o método de se levantar critérios e escolher aquele mais condizente com
o momento, pode ser bem estruturado, levando em conta diferentes formas de escolha,
como o dessa dinâmica. e que esse era o objetivo da mesma.
5ª Sessão:
Objetivo:
Ampliar o conhecimento sobre a variedade e a possibilidade de profissões
existentes; demonstrar a importância de se pesquisar sobre as profissões.
Justificativa:
Se a condição de classe interfere nas trajetórias profissionais, é importante
relativizar a expressão escolha (ZANELLI, 2014), visto que os jovens têm graus
limitados de liberdade de escolher. Para tanto, é de fundamental importância o
conhecimento sobre as profissões possíveis e desejadas, assim como a realidade
profissional na qual o indivíduo está inserido.
Atividades:
Informações Profissionais: mapa de profissões
Essa técnica foi adaptada da originalmente proposta, conforme sugerido pelos
profissionais que acompanham os alunos no curso técnico do Pronatec, curso esse de
AutoCAD, que é voltado para o desenho técnico. Foi disponibilizada uma folha em
branco para que eles desenhassem um mapa (semelhante ao jogo banco imobiliário) de
uma cidade fictícia, mas embasada na realidade onde tenham escolas, postos de saúde,
posto de combustível, hospital, condomínios, shopping, etc.
A diferença para a técnica original é que, para esse grupo, foi solicitado algo
mais aprofundado na questão do desenho, tendo esses alunos acesso a instrumentos de
desenho técnico como mesa em grau, réguas geométricas, compasso, lápis de desenho
de diferentes números, cada qual específico para diferentes tipos de desenho. Além
disso, na técnica original, o desenho seria realizado em subgrupos de 3 ou 4
participantes e se levaria em conta a aptidão para desenhar, pois em outros grupos nem
todos desenvolvem essa habilidade, já pra esse grupo, o desenho foi feito de forma
individual.
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Ressalta-se aqui que este primeiro momento ocupou muito tempo do grupo, pois
todos quiseram fazer desenhos bem detalhados e demonstrar as habilidades
desenvolvidas no curso técnico que estavam realizando.
Em um segundo momento, após o desenho, pediu-se que os participantes
fizessem uma lista de profissões que eles visualizavam como possíveis dentro do mapa,
deixando implícito também a possibilidade de que o mapa poderia ainda sofrer
alterações.
Na lista de profissões, devia conter:
Nome da profissão;
Descrição das atividades realizadas por esse profissional;
Qual sua função social (Por que existe?).
Cada um destes tópicos da lista foi tratado pelo grupo em partes. O orientador
inicialmente solicitou que os jovens lessem as profissões descritas, enquanto o
orientador anotava todas num quadro. Seguiu-se um debate das profissões descritas com
base nos fatores sociais e históricos das mesmas e incluindo profissões que foram muito
importantes, mas que, por múltiplas influências, atualmente, são pouco valorizadas ou
não existem mais.
De um modo geral, todos os participantes relataram que conseguiram visualizar
como enxergam seu próprio cenário dentro do local onde vivem. É importante ressaltar
quais foram as profissões que mais apareceram nos mapas para visualização do perfil da
turma: vendedor, administrador, professor, industrial, enfermeira, doméstica,
manobrista.
Um pequeno debate ocorreu acerca de uma divisão das profissões em uma
possível tríade formada por aquelas que visam “conquistar o mundo”, as que visam
“salvar o mundo” e as que “não estão nem aí para o mundo”. Alguns manifestaram
como se enxergam perante o mundo como o próprio A.R.M. que relata querer salvar o
mundo por isso a ideia de ser policial.
Essa discussão foi muito frutífera e nada planejada, tendo sido efeito do próprio
desenvolvimento do debate, o qual, notoriamente, estimulou muito os jovens a se
colocarem ativamente na discussão sobre o cenário de profissões possíveis e desejadas,
projetadas em seus mapas de profissões.
Foram brevemente debatidas as políticas governamentais de acesso aos estudos,
notando-se que o grupo estava bem informado a respeito por existir um trabalho de
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coordenação dentro do Ifba com a finalidade de informar e instrumentalizar os alunos
sobre esse processo de inclusão.
A sessão terminou com a indicação de livros e sites para pesquisa de informação
profissional que se aproximavam dos interesses de cada um.
Resultado:
Essa atividade possibilitou a ampliação do conhecimento sobre o mundo das
profissões e sua variedade, assim como a influência social e histórica nas suas mudanças
tentando desmistificá-las. Ressaltou-se a importância da pesquisa sobre as profissões
para que visões superficiais e preconceituosas fossem dirimidas, principalmente com
relação aos determinismos de classe social ou mercado de trabalho, ressaltando a
influência de múltiplos fatores determinantes.
6ª sessão
Objetivo:
Mobilizar os jovens a começarem a visualizar a construção de um projeto de
futuro levando em conta a multiplicidade de aspectos que existem em suas vidas.
Justificativa:
Na modernidade, o próprio eu torna-se um projeto futuro, da mesma forma que a
identidade (BENDASSOLLI, 2011). O processo de construir um planejamento futuro
tem outras implicações, como a de explorar nossa identidade, processo tão importante a
ser tratado na OP.
A prática de realizar uma planificação das pretensões pessoais auxilia no
desenvolvimento do autoconhecimento do indivíduo, além de tornar o mundo das
ideias, possível de mensurar, redesenhar e estruturar.
Atividades:
Projeto de futuro de vida.
O orientador disponibilizou cartazes aos participantes e solicitou que
projetassem o seu futuro nesses cartazes. Para isso, foi feito uma vivência com o
objetivo de estimular esse processo de projeção de futuro. Foi solicitado que esses
jovens deitados ou sentados fechassem os olhos e se imaginassem daqui a dez ou quinze
anos, onde além das mudanças individuais também haveria mudanças sociais e
históricas, tudo fazendo parte de seu cenário futuro. O orientador estimulou a projeção
futura usando perguntas do tipo: “como se imaginam daqui a 15 anos?”, “onde
estarão?”, ”com quem estarão?”, etc.
58
O material usado foi cartazes em branco, cola, tesoura, revistas, lápis de colorir,
pincel atômico, giz de cera, etc.
Depois, cada um segurando seu cartaz expôs o mesmo para os outros da seguinte
forma: os participantes andavam pela sala segurando o seu cartaz e quando o orientador
solicitava que eles parassem de andar, o jovem começava a explicar seu cartaz ao outro
jovem que havia parado o mais próximo dele e depois escutava o do outro jovem.
Seguiu-se assim até terem explicado algumas vezes.
Novamente, nesta mesma dinâmica, foi levada em conta a especificidade do
grupo em trabalhar com técnicas que valorizassem o desenho, pois se tratava de um
grupo técnico em AutoCAD.
Todos os participantes apresentaram seus cartazes para o grupo.
Para finalizar a sessão, ficou como tarefa de casa a elaboração de um projeto de
futuro escrito levando-se em conta aqueles 9 aspectos da 1 ª sessão:
1. Físico: relacionado à saúde;
2. Espiritual: religião;
3. Intelectual: estudos;
4. Familiar: relacionamentos;
5. Social: meios de convivência e de relacionamentos;
6. Financeiro: dinheiro e sobrevivência;
7. Profissional: trabalho;
8. Ecológico: ambiente de vida;
9. Relacionamento amoroso: namoro.
Cada aspecto sendo trabalhado numa perspectiva futura de vida, novamente
ressaltando a importância dos fatores multideterminantes nas nossas escolhas, não só
profissionais, mas sim de vida, presentes na relação entre indivíduo e sociedade.
Resultado:
Esta técnica possibilitou que os jovens se mobilizassem no sentido de pensar e
dar início a um projeto de futuro, e a partir das condições que compartilham
coletivamente, visualizar um planejamento possível e real de se concretizar.
7ª Sessão
Objetivo:
Continuar a atividade da sessão anterior intitulada de Projeto de Futuro de Vida;
encerrar o processo da OP; dar as devolutivas pertinentes a cada participante.
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Justificativa:
Nesta sessão, se deu o encerramento e as devolutivas conforme estabelece o
Código de Ética do Psicólogo vigente, em seu artigo 1º, alíneas "g" e "h", diz que é
responsabilidade do psicólogo:
Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de
serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para
a tomada de decisões que afetam o usuário ou beneficiário e orientar a
quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da
prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado,
os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho. (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005)
Atividades:
Encerramento
Continuação da atividade: projeto de futuro, quando cada participante
apresentou seu projeto de futuro para outro participante e depois ouviu o projeto do
outro participante, seguiu-se uma apresentação para todo o grupo.
Nesse momento de apresentação individual para todo o grupo, o orientador
aproveitou para ir realizando as devolutivas de encerramento para cada participante ao
fim da fala de cada um. Os comentários centraram-se em como se deu a sua participação
no grupo, com informações pertinentes ao seu processo na OP.
Há de se ressaltar um problema de cronograma nessa sessão que prejudicou o
encerramento do processo de OP. Alguns ajustes nas datas foram necessários durante o
processo, ajustes esses que serão relatados no item de avaliação a seguir.
O fato importante que prejudicou esta sessão foi que, a data de encerramento da
última sessão, com os alunos do Pronatec, foi marcada para o dia 10/12/2013, uma
terça-feira, no entanto, na sexta-feira anterior, 06/12/2013, os alunos realizaram a
avaliação final do curso de AutoCAD. Portanto, o curso foi finalizado, mas ainda houve
uma atividade da OP, esta não era obrigatória, mas tão importante quanto as outras.
Esse fato foi considerado pelos jovens como um complicador, o que ficou demonstrado
pelo baixo número de presentes na sessão final, apenas seis.
Como ainda tinha uma data para a avaliação final, juntamente com os
profissionais do Ifba, instituição que abriga o Pronatec, a secretaria do Ifba entrou em
contato com todos os ausentes na sessão final convocando os mesmos para
comparecerem na data de 17/12/2013, porém, nessa data, não houve nenhum dos
60
participantes da OP presente daqueles que foram convocados, ficando evidenciada essa
falha no processo.
Resultado:
As devolutivas dos que estiveram presentes, dadas juntamente ao final da
apresentação do projeto de futuro de vida de cada um, procuraram valorizar a
capacidade de estruturação de futuro de vida, tendo em vista a comparação dos nove
aspectos da vida, realizados no curtigrama, nas primeiras sessões com os mesmos nove
pontos desenvolvidos no projeto de futuro de vida. Esses projetos de futuro de vida
apresentaram-se bem estruturados e realistas.
O processo de encarar nossas deficiências foi debatido pelo grupo na última
sessão de forma breve, mas servindo como um bom ponto final no grupo, que chegou à
conclusão de que é necessário aceitar nossos limites e capacidades, inclusive os de
natureza social, sendo esse processo de aceitação o primordial para começar um projeto
de futuro de vida maduro e possível.
É importante mencionar que, quando ocorreu alguma circunstância de ser
detectado um caso de encaminhamento para atendimento individual durante toda a OP,
o orientador apresentou seu parecer sobre esse processo e disponibilizou os serviços da
UFBA, explicando como se inscrever para ser atendido, além de algumas outras
possibilidades públicas e particulares que o município de Camaçari oferecia.
5.3 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE APLICAÇÃO
Como consta no roteiro da OP, realizou-se um encontro final com os
profissionais da coordenação do Pronatec dentro do Ifba. O encontro teve como objetivo
proceder a uma avaliação técnica sobre todo o processo para se debater pontos a serem
valorizados e melhorados para futuras aplicações do processo de OP.
A decisão de envolver os profissionais do Ifba foi elogiada e sugerida sua
continuidade em novos processos de estruturação de trabalho, não só em OP. Tal
participação pode servir de exemplo para as demais atividades com as turmas do
Pronatec. Acredita-se que a metodologia aplicada de OP foi bem sucedida por possuir
uma coerência local, matriz teórica e intervenção, tudo alinhado à realidade do jovem de
61
baixa renda, o que resultou num empoderamento dos jovens de realizarem seus projetos
de futuro de vida, ou seja, o processo foi positivo.
O orientador pontuou que a participação efetiva da orientadora educacional junto
aos alunos não ocorreu, pois a mesma sempre estava muito ocupada e por isso teve sua
participação prejudicada nas atividades, assim como sua assistente que, a princípio,
também participaria do processo de OP. Portanto, o objetivo de capacitar um técnico
institucional para replicar a metodologia de OP adaptada não se concretizou, e no caso
do interesse de que outras turmas passem por esse processo, novamente o orientador
terá de ser solicitado para realizar o desenvolvimento do processo e estruturar uma
melhor forma de participação da equipe técnica para apropriação da metodologia.
O cronograma foi outro aspecto a ser melhorado, pois como relatado
anteriormente, a última sessão ficou marcada para uma data na qual não existiam mais
atividades para os jovens, tendo os mesmos concluído o curso de AutoCAD, e, por isso,
a pouca presença dos alunos na sessão de encerramento, ponto a ser observado para que
não se repita em novas turmas e em novos projetos.
Existiu também uma alteração de data durante o processo, nada grave, porém se
não tivesse ocorrido esta alteração, o cronograma não seria alterado e assim não teria
ocorrido o problema de a última sessão ter sido realizada após o encerramento do curso
de AutoCAD.
O horário e o tempo entre as sessões foi algo que ajudou no processo, pois a
turma estava sempre apta a participar sem nenhum contratempo com exceção da última
sessão.
O Ifba sempre se mostrou solícito a desenvolver a OP e a auxiliar no que foi
necessário. A instituição ofereceu toda a infraestrutura, com sala e instrumentos
necessários, como lousa, pincel atômico, apagador, material de desenho entre outros.
Outro ponto, com relação ao Ifba, a se ressaltar foi terem disponibilizado o pagamento
dos ônibus que os alunos usavam para irem ao Ifba no dia e horário das sessões de OP.
Deve ser valorizada a indicação da turma de AutoCAD para participar da OP,
pois possuíam características do perfil de jovens de baixa renda, definido como público-
alvo da metodologia adaptada de OP.
É importante destacar um fato apontado pelos profissionais que trabalham
cotidianamente junto ao Pronatec no Ifba. Eles elogiaram muito a técnica do mapa de
profissões, por valorizar a capacidade de desenhar dos jovens, os quais fazem parte de
62
um grupo de estudo e desenvolvimento profissional justamente dessa área, que é o
Pronatec AutoCAD.
A metodologia adaptada de Orientação Profissional para jovens de baixa renda
se mostrou adequada para demandas de jovens, cuja realidade social deve ser levada em
conta na estruturação do desenvolvimento das técnicas, das sessões e da abordagem.
Foram três esses momentos de estruturação:
1. Com o grupo de extensão da UFBA;
2. Com os profissionais do Ifba – Pronatec antes da aplicação e;
3. Novamente com os profissionais do Ifba – Pronatec depois da
aplicação.
Para novas turmas, o primeiro momento não se faz necessário, apenas os
momentos 2 e 3, isso porque, o primeiro momento foi o de escolha de técnicas junto
com profissionais e estudantes da área de OP. Já o segundo e o terceiro momentos
sempre se farão necessários, pois são os momentos de ajustes de técnicas, momentos
esses fundamentais, haja vista que cada grupo de jovens possui uma multiplicidade de
fatores de realidade diferentes que devem ser levados em conta para a adaptação das
técnicas conforme a demanda.
6 CONCLUSÃO
A concepção teórica que guia esta pesquisa em Gestão Social defende a tese de
que o método se constitui como meio que permite a apreensão de elementos da
realidade social para compreender a própria constituição do indivíduo como síntese de
múltiplas determinações.
A realização de um processo de OP adaptado para os jovens do Pronatec,
coordenado pelo Ifba da cidade de Camaçari/BA, já bastaria para dar por alcançado o
principal objetivo desta dissertação. O objetivo traçado foi o de adaptar uma
metodologia de Orientação Profissional a ser aplicada no contexto de políticas públicas
de inclusão social, levando em conta a realidade psicossocial e econômica de pessoas
excluídas socialmente.
No decorrer desta dissertação, procurou-se discorrer todo o processo que
envolveu a adaptação da OP. Inicialmente, procurou-se situar o marco teórico de
63
sustentação da OP estabelecendo relações com as políticas públicas de inclusão social.
Conceitos pertencentes ao campo da gestão social e de políticas públicas foram
abordados. Em acréscimo, foi feita uma análise comparativa das metodologias a
abordagens teóricas de Orientação Profissional, para identificar elementos de contexto e
atores sociais que tinham de ser considerados na elaboração de projetos de OP com foco
na inclusão social de jovens de baixa renda.
A complexidade consistiu em estruturar a viabilização desse processo de adaptar
uma metodologia para que a mesma fosse inserida adequadamente na realidade local
dos jovens participantes do Pronatec AutoCAD, realizado no Ifba de Camaçari-Ba.
Uma das principais limitações de projetos desta natureza, com foco em formular
uma metodologia de adaptação de OP, é o de envolver os profissionais responsáveis
pela adaptação. Os profissionais do Ifba, dentro do processo de aplicação das técnicas
de OP junto aos jovens do Pronatec, estavam sempre com demandas de outros setores,
fato que prejudicou o processo de capacitação de um técnico institucional para replicar a
metodologia de OP adaptada.
Apesar deste engajamento, que é difícil de ser obtido, o processo adaptado de
OP foi bem avaliado e há sinais de que será incorporado nas ações do Pronatec.
Destaca-se aí a importância de se levar em conta as demandas sociais dos jovens e a
realidade local em que estão inseridos na elaboração de projetos, tendo assim uma
resposta positiva para o questionamento da pesquisa sobre como uma metodologia de
orientação profissional pode ser adaptada e inserida numa política pública para atender
às demandas de jovens oriundos de famílias de baixa renda.
Além do impacto positivo da intenção de novas ações do Pronatec, acredita-se
que o objetivo de conseguir adaptar uma metodologia de OP foi bem-sucedido porque
os jovens, que participaram ativamente do processo, foram capazes de apresentar na
última sessão um projeto de futuro de vida sustentado em bases mais realistas, levando
em conta os aspectos multidimensionais presentes em seus cotidianos, aspectos esses
apresentados e trabalhados na primeira técnica desta OP intitulada curtigrama e
retomada na última sessão na estruturação de seus projetos de futuro de vida.
Com relação á parte política, o secretário de Cidadania e Inclusão do município
de Camaçari/BA relatou que o ganho político desse processo é o da existência do
chamado projeto de futuro de vida, pois todos os estudantes do Pronatec AutoCAD
terminaram o processo possuindo esse produto social, segundo a fala do mesmo.
64
Para elucidar a prática deste trabalho, faz-se aqui o registro que, ao final do
processo, a coordenação do Pronatec Ifba fez o convite para que esse processo servisse
de base para um projeto de incluir a OP como um módulo dentro das disciplinas básicas
do Pronatec. O projeto a ser enviado para a coordenação nacional do Pronatec de
Brasília está sendo elaborado pela mesma equipe do Ifba Camaçari, que integrou a
aplicação relatada nesta pesquisa, incluindo o presente autor.
Tal fato, demonstra que a técnica de OP foi bem adaptada e inserida num
contexto de política pública por possuir uma coerência local, uma matriz teórica e uma
intervenção adaptadas a realidade, ou seja, o processo foi positivo. Ressalta-se, no
entanto, que, no caso do interesse de que outras turmas realizem a OP, novamente o
processo terá de ser realizado além da necessidade de estruturar uma melhor forma de
participação da equipe técnica para apropriação da metodologia.
Para novas turmas, dois pontos são aqui sugeridos pelo presente autor:
Primeiro: transformar o processo em um módulo dentro do Pronatec. Para tanto,
é necessário a construção de um projeto no formato que o curso oferece. Existe um
modelo de projeto para novos módulos que a coordenação do Ifba de Camaçari tem
acesso e deseja estruturá-lo, com a colaboração do presente autor, enviando a proposta
para Brasília, onde fica a sede administrativa do Pronatec. Em sendo aprovada a
proposta de OP, esta seria disponibilizada em âmbito federal, pois o programa em
questão é desenvolvido em todos os estados da Federação Brasileira.
Segundo: confeccionar uma cartilha metodológica do processo de OP para novas
turmas. Cartilha baseada na metodologia apresentada à coordenação do Ifba (ver
Apêndice I), contendo já as alterações sugeridas nas reuniões com a equipe técnica
dessa instituição acolhedora.
A inclusão social é um desafio para todos os setores e é a agenda política
dominante no âmbito federal e mundial nos últimos anos. A contribuição de tecnologias
sociais nesse cenário é de fundamental importância, a OP pode e deve contribuir para
esse processo criando um ambiente favorável e estruturado para que os jovens carentes
valorizem o processo histórico-social no qual estão inseridos, garantindo assim um
modelo de OP que seja capaz de fortalecer os jovens participantes quanto as suas
possibilidades dentro da sociedade.
65
REFERÊNCIAS
ABADE, Flávia Lemos. Orientação profissional no Brasil: uma revisão histórica da
produção científica. Revista Brasileira de Orientação Profissional. v. 6, n. 1, p. 15-
24, 2005.
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. A psicologia no Brasil: leitura histórica de
sua constituição. São Paulo, EDUC e Ed. Unimarco, 2003.
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71
APÊNDICE
APÊNDICE A - Metodologia adaptada de OP para jovens carentes
Figura 1 – Desenho metodológico OP para jovens de baixa renda.
Desenho metodológico
Apresentação das técnicas de OP no
grupo de extensão de OP da UFBA
Apresentação das técnicas de OP para profissionais
envolvidos
na aplicação
Processo de aplicação das técnicas de OP
Avaliação do processo
Feedback – T1;T2;.....TXAp
licaç
ão2
Fonte: O Autor
Com a finalidade de desenvolver e adaptar a Orientação Profissional como
possibilitadora de planejamento de futuro de jovens oriundos de família de baixa renda,
foi realizado um primeiro momento visando os ajustes das técnicas de Orientação
Profissional (OP) a serem aplicadas.
O grupo de extensão em Orientação Profissional desenvolvido na Universidade
Federal da Bahia é composto pelo Professor Dr. Jorge Luiz de Sales e os alunos da
Graduação de Psicologia participantes desse grupo, num total de 11 estudantes de
psicologia dos últimos semestres da graduação.
Seguem as alterações propostas pelos pesquisadores:
A partir da terceira até a sexta sessão é possível fazer escolhas sobre a sequência
das técnicas segundo seus temas:
Duas sessões para o tema escolha e duas para o tema informação profissional.
72
Podem ser mescladas (1-Escolha, 2-Informação Profissional, 3-Escolha e 4-
Informação Profissional) ou com temas sequenciais (1-Escolha, 2-Escolha, 3-
Informação Profissional e 4- Informação Profissional)
Ou uma sessão apenas para escolha e uma para informação profissional.
A opção dada pelos pesquisadores foi a de permanecer 2 sessões para Escolha e
duas de Informação de forma sequencial, portanto: 1-Escolha, 2- Escolha, 3-
Informação Profissional e 4-Informação Profissional.
Salientando para o fato de que, se ocorrer indisponibilidade de tempo para todas
as aplicações, existe a possibilidade de escolha de retirada de duas técnicas junto aos
profissionais envolvidos na aplicação (etapa 2).
A sexta sessão é a sessão mais adaptável de todo o processo, é a chamada “carta
na manga” que o profissional de orientação profissional deve possuir para o caso de
imprevistos durante o processo.
Ela foi estabelecida com as seguintes opções:
1. Continuação da atividade Mapa de profissões; Objetivo: continuar
e finalizar a sessão anterior.
OU
2. Técnica Realidade Ocupacional (R-O); Objetivo: ampliar o
conhecimento sobre a variedade e a possibilidade de profissões existentes;
demonstrar a importância de se pesquisar sobre as profissões.
OU
3. Aplicação do teste: levantamento de Interesses Profissionais
(Lip). Objetivo: levantar quais os interesses profissionais de cada jovem
participante desse processo de OP de forma individual.
Neste caso, os pesquisadores ficaram divididos, ocorrendo um empate técnico
entre a opção 1 e a 2, no entanto, mesmo por pouca diferença, a opção 1 foi a mais
contemplada e a escolhida para apresentar aos profissionais envolvidos na próxima
etapa.
Os pesquisadores chegaram ao consenso de que a opção 3, apresentada
anteriormente, não deveria ser a escolhida por se tratar de um teste e que pode ser
entendido como uma resposta pronta e fugir da proposta de construção de projeto de
vida, dando uma falsa impressão de uma resposta pronta para seus interesses
profissionais.
73
Na sétima e penúltima sessão, foi proposto ao grupo de jovens pensar em um
possível nome para a técnica de OP utilizada. Com as possibilidades de nomes como:
projeto de vida, projeto de futuro, projeto de futuro de vida e projeto com o nome do
jovem, por exemplo: projeto João (de forma a cada projeto ser único e individualizante),
foi um dos nomes pensados.
No entanto, a escolha feita pelo grupo de extensão foi a de Projeto de Futuro de
Vida, pois, esse nome contempla o foco do olhar que o jovem deve ter ao projeto, não
sendo só de vida e nem só de futuro, muito menos que se refira apenas a ele, pois suas
escolhas são influenciadas e influenciam outras pessoas.
Ao fim do processo de respaldar as técnicas de OP com o olhar técnico do grupo
de extensão da UFBA, iniciou-se a etapa de apresentação das técnicas escolhidas para
os profissionais que atuam localmente e cotidianamente com o público alvo da OP.
1. Com os profissionais da aplicação
O processo será dividido em 3 sessões com os profissionais envolvidos no
desenvolvimento do trabalho com os jovens
Profissionais: Orientador, estagiária(o) de psicologia, psicóloga(o) e/ou
assistente social e/ou educadora da instituição que acolherá o processo de Orientação
Profissional.
1ª Sessão
Objetivo:
Capacitar os profissionais envolvidos no processo de aplicação e realizar
possíveis ajustes nas técnicas.
Neste momento, assim como ocorreu com o grupo de extensão, as técnicas serão
apresentadas e debatidas visando os ajustes das técnicas e utilizando o saber dos
profissionais que acompanham os jovens em seu cotidiano e possuem conhecimentos e
informações sobre os mesmos e a realidade local do território (bairro) onde os mesmo se
socializam.
Esse conhecimento é encarado aqui como fundamental, pois a adequação das
técnicas visa estabelecer os procedimentos da aplicação com a maior capacidade
possível de encaixe dentro do perfil destes jovens. Perfil esse, muitas vezes ressaltado
aqui, de jovens pertencentes a uma realidade excludente e que sofrem com a falta de
acesso a inúmeras oportunidades de educação, lazer, capacitação profissional, trabalho e
que deve servir de base para o desenvolvimento do trabalho de Orientação Profissional
a ser realizado.
74
Atividades:
Apresentação do projeto e das técnicas, seguido de debate.
2ª Sessão
Objetivo:
Capacitar os profissionais envolvidos no processo de aplicação da OP e realizar
possíveis ajustes nas técnicas.
Atividades:
Continuação da apresentação das técnicas e avaliação sobre aplicação das
mesmas através de debate.
3ª Sessão
Esta sessão ocorrerá no final do processo de aplicação da OP junto aos jovens do
Pró-Jovem.
Objetivo:
Avaliar de forma geral o processo de aplicação da OP junto aos jovens e refletir
sobre propostas para modificações no processo para futuras intervenções.
Atividades:
Após todo o processo com os jovens, faz-se necessário uma avaliação do
processo como um todo, visando avaliar os profissionais, as técnicas e os jovens.
Alterações propostas pelos profissionais:
2. Com os jovens do Pró-Jovem
Aqui, segue o roteiro de técnicas a serem aplicadas do grupo do Pró-Jovem.
A cada sessão, serão recolhidos os relatos de aplicação constando o feedback
dado pelos jovens participantes do processo de OP.
Sessões de OP Pró-Jovem Adolescente:
1ª Sessão
Objetivo:
Apresentar o trabalho a ser desenvolvido; apresentar os envolvidos (profissionais
e jovens); estabelecer o contrato de convivência; trabalhar o autoconhecimento nos
jovens, discutir sobre o papel do fator social na vida.
Atividades:
75
Apresentação de como o programa será desenvolvido, seguido da apresentação
dos jovens aos profissionais e apresentação dos profissionais aos jovens para o mútuo
conhecimento.
Estabelecimento de contrato com os jovens a partir da dinâmica chamada regras
do jogo:
Com um grande painel em branco serão elencados as regras de convivência no
grupo como:
Horário de chegada;
Pausa;
Horário de saída;
Respeito com a opinião dos outros;
Falar cada um de uma vez;
Como proceder em caso de ausência;
O que surgir.
Depois do debate, apresentaremos a técnica do curtigrama, explicando cada item
a ser desenvolvido. Esta dinâmica deverá começar a ser realizada no Cras, mas deve ser
levada para casa e se completará na segunda sessão:
Curtigrama:
O QUE EU CURTO E FAÇO
O QUE EU CURTO E NÃO FAÇO
O QUE EU NÃO CURTO E FAÇO
O QUE EU NÃO CURTO E NÃO
FAÇO
Com a diferença de que em cada item será necessário se atentar para 9 aspectos
da vida:
1. Físico: relacionado á saúde;
2. Espiritual: religião;
3. Intelectual: estudos;
4. Familiar: relacionamentos;
5. Social: meios de convivência e de relacionamentos;
76
6. Financeiro: dinheiro e sobrevivência;
7. Profissional: trabalho;
8. Ecológico: ambiente de vida;
9. Relacionamento amoroso: namoro.
Explicar que, se não tiver nada de um item, deixar o mesmo vazio.
Tirar dúvidas em geral que surgir.
2ª Sessão
Objetivo:
Continuar e encerrar o tema e a técnica iniciada na primeira sessão; trabalhar o
autoconhecimento nos jovens, discutir sobre o papel do fator social na vida.
Atividades:
Jovens apresentam individualmente de forma verbal seus curtigramas, enquanto
o orientador vai colocando as respostas num quadro geral.
Em seguida começa um debate sobre as respostas tentando entender a
categorização elencada nos 9 itens juntamente a sua problematização.
Nesta técnica, importa conduzir a reflexão com a finalidade de explicitar que,
tanto as atividades que são desenvolvidas quanto o gostar delas ou não gostar, o poder
fazê-las ou não poder fazê-las e ainda o ter que fazê-las ou não ter que fazê-las são
resultados de um desenvolvimento sócio-histórico entre indivíduo e sociedade, numa
produção já existente historicamente, mas em constante mudanças constituindo infinitas
possibilidades futuras.
A técnica foi escolhida por se tratar de um instrumento que trabalha o
autoconhecimento, objetivando superar a crença do determinismo da constituição
individual e conscientizando os jovens do papel sócio-histórico na formação de nossos
gostos e preferências, as quais entendidas aqui como multideterminadas.
Enfatizar as relações sociais como determinantes no processo de escolha
profissional e, sobretudo, de futuro de vida, e assim evidenciar as multideterminações
que constituem o ser humano e seu mundo, desmistificando aqui o caráter inatista e
determinante das concepções que defendem a existência de supostos dons e talentos
inatos.
77
3ª Sessão
Objetivo:
Apresentar e discutir valores referentes à escolha profissional.
Inserir o posicionamento da teoria sócio-histórica sobre a questão do
conhecimento.
Atividades:
Debate em torno de afirmações polêmicas:
Num primeiro momento, o jovem responde por escrito ou pensa com ele mesmo
se concorda ou discorda de quatro afirmações que serão colocadas e justifica seu
posicionamento.
Num segundo momento, o orientador solicita que se formem subgrupos (3 ou 4),
que deverão discutir cada uma das afirmações e chegar num consenso do grupo, ou seja
numa posição única para todo o grupo.
Num terceiro momento, se desfaz os subgrupos e, de forma aleatória, se forma
dois grupos grandes envolvendo todos os participantes.
Cada afirmativa nesse momento deve ser discutida com um grupo se
posicionando a favor e outro contra, a fim de convencer a outra parte de sua posição.
As afirmações são:
5. “Mulheres são mais apropriadas a fazerem certas funções e
homens outras”?
6. “Gostar de matemática, química e física indica que,
necessariamente, a pessoa deve escolher uma profissão na área de Exatas (tal
como engenharia)”?
7. “O ser humano já nasce com os chamados dons que determinam o
que a pessoa faz bem e o que não faz bem”.
8. “O mercado de trabalho é o principal fator a ser levado em conta
no momento da escolha da profissão”.
Essa técnica permite uma apropriação muito maior de valores sobre as questões
que envolvem a escolha profissional através da escuta de opiniões diferentes e
convergentes às suas, ampliando assim seu repertório sobre a temática.
Na finalização dessa técnica, o orientador coloca o posicionamento da
abordagem sócio-histórica de que o conhecimento é construído de forma coletiva a
partir do embate de posições divergentes, chegando ao chamado consenso do possível.
78
(KUENZER, 2000, p. 15). O que acaba colocando a OP desenvolvida como um campo
também didático- pedagógico de socialização de conteúdos científicos.
4ª Sessão
Objetivo:
Apresentar e discutir valores referentes à escolha profissional de forma lúdica.
Atividades:
Técnica do sorvete:
O gosto pelas disciplinas escolares é utilizado como mote para a discussão mais
geral a respeito do significado, da importância e da forma de efetivação de escolhas.
Desenvolve-se o “procedimento do sorvete”, que se constitui numa metáfora, para
demonstrar a elaboração e o desenvolvimento de processos de escolha. Apresenta-se a
seguir o procedimento, que é considerado de fundamental importância por demonstrar
com clareza a concepção de escolha que o fundamenta.
Apresentação do problema: você vai ter que tomar uma decisão muito
importante: vai escolher um sorvete. Para facilitar a tarefa, se utilizará apenas um tipo
de sorvete: o picolé, e apenas dois sabores: o sabor X e o sabor Y. Mas existem algumas
regras preestabelecidas.
1) Você não pode dar uma lambidinha antes para depois escolher. (Você não
pode experimentar 100 profissões para depois escolher).
2) Você só pode escolher um sorvete, isto é, não pode escolher os dois (não pode
escolher ao mesmo tempo 100 profissões).
3) Você quer fazer a melhor escolha com o menor risco possível e com a maior
chance de “sucesso”.
4) Esta escolha é importante; não é para o resto da vida (como profissão também
não é), mas deve permanecer um certo tempo com você.
Em seguida, solicita-se aos participantes do grupo que elaborem hipóteses para
resolver o problema para a escolha de um sabor do sorvete. Abaixo, apresentam-se
hipóteses que, possivelmente, podem ser levantadas e a discussão que se pode fazer a
partir de cada uma.
1ª hipótese para a solução: tirar a sorte no par ou ímpar.
Análise: essa hipótese, é lógico, está descartada porque não garante
absolutamente nada. Entretanto, deve-se apontar que, algumas vezes, se usa esse tipo de
solução para resolver determinados problemas. Seria uma loteria, na qual se corre todos
79
os riscos possíveis com uma chance mínima de “sucesso”. Existem pessoas que adoram
jogar, isto é, gostam deste tipo de solução, mas aqui é necessária uma escolha
consciente e responsável.
2ª hipótese: olhar a embalagem, observar a cor dos sorvetes
O sorvete Y tem como cor predominante na embalagem a cor branca, já o X tem
a cor marrom.
O que a cor branca lembra? Paz, limpeza, assepsia, e os sabores de coco, creme,
nata, chocolate branco, limão. O marrom, ao contrário, lembra sujeira, terra e os sabores
de chocolate, amendoim, café, coco queimado, etc. Alguém conseguiria decidir com
esses dados? Logicamente que não. O problema seria se autoconvencer, por exemplo,
que o sorvete Y, por causa da cor branca, é de creme. Seria uma mera fantasia e,
possivelmente, quando confrontado com a realidade, surpresas poderiam aparecer.
O mesmo pode ocorrer com profissões, a partir dos dados que se adquirem no
transcorrer da vida, forma-se uma imagem e se o orientando tomar a decisão apenas
sobre esse dado, poder-se-ia dizer que seria realizada sobre fundamentos muito frágeis.
Pode-se dar como exemplo concreto o caso real de um orientando, que se
autoconvenceu que o curso de Engenharia Florestal forma profissionais que trabalham
com a preservação do meio ambiente. Não que seja uma informação de todo incorreta,
mas esse próprio orientando em conversa individual, admitiu, depois de dois anos de
curso, que o profissional está mais voltado à tecnologia da madeira do que a ecologia,
propriamente dita, como pensava.
3ª hipótese: conhecer os ingredientes dos sorvetes
O conhecimento dos ingredientes tem como objetivo tentar descobrir o sabor das
opções.
Análise: os ingredientes podem ser conhecidos através de pesquisas: num “guia
do sorvete”, conversando com pessoas, indo a fábricas (faculdades), visitando locais de
trabalho. Em uma pesquisa realizada, encontrou-se a seguinte composição:
X Y
Conservante tipo I Conservante tipo II
Açúcar Açúcar
Leite Água
Chocolate Abacaxi
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E agora, dá pra resolver o problema? A maioria dirá que sim. A experiência
também diz que a maioria escolherá X.
Por quê? Porque quase todos preferem chocolate invés de abacaxi. A questão,
então, que deve ser feita é a seguinte: o fato de conhecer e saber qual a sua preferência
entre chocolate e leite, água e abacaxi são elementos suficientes para indicar a melhor
escolha? Isto é, dá para afirmar com segurança que o fato de gostar mais de chocolate
implica necessariamente em gostar mais de sorvete de chocolate? Pode-se dar como um
exemplo, relativamente, comum o fato de que muitas pessoas gostam de café, o que
poderia indicar que, possivelmente, gostem também de bolo de café, o que na maioria
das vezes não corresponde à realidade. Este passo serve para a reflexão da relação entre
desempenho escolar (gosto mais rendimento) e a escolha. Gostar de matemática,
química e física indica que, necessariamente, a pessoa deve escolher uma profissão na
área de Exatas (tal como engenharia)? Na visão do autor desta técnica, não - assim
como chocolate é diferente de sorvete de chocolate, a profissão de engenheiro é
diferente da somatória da matemática, da química e da física.
Por outro lado, também se deve pensar como os interesses instalam-se ou
aparecem, isto é, porque a maioria prefere chocolate invés de abacaxi? Aqui se localiza
o aspecto afetivo, isto é, o professor, que, de certa forma, representa aquela disciplina
ou o pai ou qualquer outra identificação. Neste ponto, pode-se iniciar a discussão sobre
a questão do conceito de vocação. Ninguém nasce gostando mais de chocolate do que
de abacaxi. O fundamental é apontar que o gosto pode mudar, já que é histórico e a
relação com as disciplinas escolares também. Assim, esta variável não é tão segura
como se imagina para a tomada de decisão.
Desta forma, podemos dizer que, conhecer os “ingredientes” não resolve o
problema proposto, isto é, não aponta para a escolha certeira. É simplesmente um
indicador e mais nada.
4ª hipótese: perguntar para as outras pessoas o que elas acham.
Perguntar para alguém que toma sorvete de chocolate pode resultar em duas
respostas: ela gosta ou não. A questão que se coloca é: o fato de alguém preferir um
caminho indica que o optante deva seguir o mesmo? A resposta lógica indica que não,
entretanto, algumas decisões que se tomam seguem essa fórmula. É uma decisão tomada
a partir da autoridade, da “respeitabilidade” ou da confiabilidade da fonte. As crianças
aceitam as decisões dos pais; por causa disso, respeitam e confiam neles. Às vezes, num
restaurante, segue-se o conselho de alguém (amigos, garçom) que diz que tal prato é o
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melhor. Entretanto, quando se trata de profissão, tomar decisão só pelo crédito da fonte
é algo perigoso. Como se apontou na hipótese 2, é simplesmente mais um indicador.
Por outro lado, não adianta perguntar para quem toma sorvete de abacaxi, o que
ela acha do sorvete de chocolate, pois será apenas uma opinião pessoal, pois o sujeito
desconhece a outra possibilidade, já que apenas vive um lado. De pouco adianta
perguntar para um engenheiro o que ele acha da profissão do Direito; ele apenas dará
sua opinião.
5ª hipótese: indicar quais as consequências para a vida de cada opção. Isto é, no
caso, identificar vantagens e desvantagens.
X Y
Vantagens Vantagens
É mais nutritivo É mais refrescante
Desvantagens Desvantagens
Engorda; pode ser gorduroso; dá espinhas É ácido, pode dar afta.
É importante conhecer as vantagens e desvantagens de cada alternativa; porém
elas não definem nada. Mas há um perigo: nesse momento, a pessoa pode estar sofrendo
um problema, por exemplo, de espinhas, o que empurraria para a alternativa Y. Porém,
este problema deixa de existir daqui a algum tempo.
6ª hipótese: Pesquisar o mercado; observar se há diferença de consumo entre
homens e mulheres.
A pesquisa de mercado de consumo indica que se vende muito mais sorvetes de
X do que de Y. Entretanto, dentre as pessoas que compram Y, a maioria são mulheres.
No caso de X a procura é equilibrada entre homens e mulheres.
O que esses dados revelam? O interessado deve comprar X só porque a maioria
compra esta alternativa? Por outro lado, seria melhor comprar Y, por ser menos
consumido, e por isso ser mais fácil de achar ou adquirir sem filas?
Observem-se dados do vestibular da USP abaixo:
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Quadro 3 – Cursos mais procurados Fuvest – 82/90/2000 – em %
1982 1990 2000
ENGENHARIA 14 12,8 8,2
MEDICINA 8,6 10,2 11
DIREITO 7,7 9,7 10,4
TOTAL 30,3 32,7 29,6
Fonte: FUVEST 1982/1990 – 2000
Neste quadro, pode-se verificar que há muito tempo os cursos de Engenharia,
Medicina e Direito são os mais procurados, alcançando-se a preferência de
aproximadamente 30% do total de candidatos nos três anos do corte, ocorrendo apenas
a troca da ordem. No ano 2000, refletindo tendências de mercado, a procura por
Engenharia caiu para terceiro lugar. Medicina e Direito assumiram respectivamente o
1º. e 2º. lugares, sem que haja uma explicação óbvia. O fato de que a maioria escolhe
estas profissões indica que elas, de fato, são as melhores opções?
Pode-se dizer que a maioria das pessoas escolhe o sorvete X porque assim reza a
tradição e os meios de comunicação reforçam constantemente esta tendência ao
veicularem propagandas de chocolate e derivados. Pode-se falar o mesmo a respeito das
profissões. A maioria escolhe Engenharia ou Medicina ou Direito por serem as mais
tradicionais, afinal, são essas profissões que formam o Doutor que não fez doutorado.
São as profissões que mais aparecem em novelas, filmes e livros.
Por outro lado, dentre os consumidores do picolé Y, a mulheres são a maioria.
Será por causa de uma adequação biológica? Pode-se afirmar que não, as mulheres mais
vaidosas procurariam o Y para manter a silhueta com algo menos calórico.
7ª hipótese: analisar o preço
X é mais caro do que Y.
Isto quer dizer que se deve escolher o Y porque é mais barato? Decidir por esse
critério seria acertado? Ou ao contrário, a melhor escolha seria o X justamente por ser o
mais caro, o que poderia denotar melhor qualidade. E se a pessoa não tiver dinheiro para
escolher o X? Neste caso, ela não teria escolha, estaria determinada a Y. A maioria da
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população brasileira não adquiriu ainda o direito de escolher profissão. Estamos
predestinados a escolher aquilo que aparece na frente.
Mas, no caso, todos tem dinheiro suficiente para adquirir tanto um como o outro.
Este problema (sorvete) tem solução?
Ao que parece, nada garante a melhor escolha. Mas, existe sim uma forma de
resolvê-lo. A solução é: ato de coragem.
Qualquer escolha, em última instância, resulta de um ato de coragem. Um ato de
coragem leva em conta todos os indicadores possíveis. Pode acontecer o caso em que os
indicadores apontam para determinado caminho e a pessoa escolhe outro (seria uma
escolha por desafio que também leva em conta os indicadores).
A ideia de colocar todas as variáveis na balança, para ver qual lado pesa mais,
não funciona (em nenhum caso de escolha), porque as variáveis tendem para o
equilíbrio, isto é, se existe alguma desvantagem numa opção, a outra também
apresentará desvantagens e assim por diante.
Não existe indicador capaz de indicar diante mão qual a melhor escolha, pois se
existisse, não ocorreria escolha. Uma escolha na qual uma possibilidade é ótima e a
outra péssima, não é uma escolha.
Escolher significa se posicionar (tomar partido) dentre as possibilidades
colocadas que são igualmente atrativas e contém também desvantagens. São
possibilidades que brigam entre si. Por isso, se diz que qualquer escolha implica
conflito, ou melhor, escolher significa resolver conflito.
Qualquer escolha implica em risco. Não existe escolha sem risco. Escolha sem
risco não é escolha. A Insegurança faz parte de qualquer decisão.
Qualquer escolha implica em perda. É um mito dizer que só existe um caminho
para cada pessoa. Ao contrário, existem vários e por isso a perda faz parte da escolha.
Escolher uma profissão implica na perda das outras, pelo menos nesse momento.
Agora, pode-se ter um ato de coragem para escolher um sorvete, a pessoa se
toma de coragem e, por exemplo, escolhe o X. Agora ela pode abrir a embalagem e
verificar se a escolha foi “legal”. Duas ou três conclusões são possíveis. Gostou, não
gostou e mais ou menos. Se gostou, mas a pessoa for muito “encucada” pode passar o
resto da vida perguntando-se como seria se tivesse escolhido Y (jamais conseguirá a
resposta, mesmo que depois decida fazer uma experiência com o Y). Se não gostou, isso
não quer dizer que teria necessariamente gostado mais de Y. E, deve novamente,
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realizar outra opção: muda ou permanece? Muitas pessoas acabam permanecendo para
não ter que passar por outra experiência de escolha.
Enfim, escolher algo como uma profissão, pressupõe que a pessoa conheça a
realidade que contextualiza a decisão, que se autoconheça e esteja informado das
possibilidades. Sobre tudo isto terá o “ato de coragem”, que é uma intervenção de
ordem emocional que envolve o bom senso, a intuição e a vontade.
5ª Sessão
Objetivo:
Ampliar o conhecimento sobre a variedade e a possibilidade de profissões
existentes; demonstrar a importância de se pesquisar sobre as profissões.
Atividades:
Informações Profissionais: mapa de profissões
Os participantes são divididos em subgrupos (3 ou 4), é disponibilizado uma
folha em branco para que eles desenhem um mapa (como o do banco imobiliário) de
uma cidade fictícia mas embasada na realidade onde tenham escolas, postos de saúde,
Cras, posto de combustível, hospital, condomínios, shopping, etc, pede-se que os
participantes agora façam uma lista de profissões que eles enxergam como possíveis
dentro do mapa, deixando implícito também a possibilidade de que o mapa pode ainda
sofrer alterações.
Na lista de profissões deve conter:
Nome da profissão;
Descrição das atividades realizadas por este profissional;
Qual sua função social (Por que existe).
O primeiro item é solicitado e trabalhado por um determinado tempo, em
seguida o segundo item é solicitado e também trabalhado durante um tempo e por
último o terceiro item com tempo determinado para seguir-se uma apresentação.
No momento seguinte solicita-se que as equipes leiam as profissões descritas,
enquanto o orientador anota todas num quadro. Segue-se um debate acerca das
profissões descritas com base nos fatores sociais e históricos das mesmas e incluindo
profissões que foram muito importantes, mas que por múltiplas influências, atualmente,
são pouco valorizadas ou não existem mais.
Essa atividade possibilita a ampliação do conhecimento sobre o mundo das
profissões e sua variedade, assim como a influência social e histórica nas suas mudanças
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e determinações alcançando a desmistificação sobre as mesmas, trabalhando o conceito
da importância da pesquisa sobre as profissões, para que ideias superficiais e
preconceituosas sejam corrigidas, principalmente, com relação aos determinismos de
classe social ou mercado de trabalho, ressaltando a influência de múltiplos fatores
determinantes.
Termina-se a sessão com a indicação de livros e sites para pesquisa de
informação profissional que se aproximem dos interesses de cada um.
6ª sessão
Objetivo:
Continuar e finalizar a sessão anterior.
Atividades:
Continuar e finalizar a sessão anterior.
7ª Sessão
Objetivo:
Mobilizar os jovens a começarem a visualizar a construção de um projeto de
futuro levando em conta a multiplicidade de aspectos que existe em suas vidas.
Atividades:
Projeto de futuro de vida.
O orientador disponibiliza cartazes aos participantes e solicita que projetem o
seu futuro nesses cartazes, para isso, é feito uma vivência de que esses jovens, deitados
ou sentados, fechem os olhos e se imaginem daqui a dez ou quinze anos no futuro, onde
além das mudanças individuais também existem mudanças sociais e históricas, tudo
fazendo parte de seu cenário futuro. O orientador estimula através de constatações como
evolução tecnológicas e com perguntas do tipo: “como se imaginam daqui a 15 anos?”,
“onde estarão?”,”com quem estarão?”, etc.
O material usado será cartazes em branco, cola, tesoura, revistas, lápis de colorir,
pincel atômico, giz de cera, etc.
Depois cada um segurando seu cartaz expõe o mesmo para os outros da seguinte
forma:
Os participantes andam pela sala segurando o seu quando, o orientador solicita
que parem de andar, o jovem começa a explicar seu cartaz a outro jovem que tenha
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parado o mais próximo dele e depois escuta o do outro jovem e assim segue até que
todos tenham explicado.
Ao final, cada participante apresenta seu cartaz para todo o grupo.
Depois desse processo, fica como tarefa de casa a elaboração de um projeto de
futuro escrito levando-se em conta aqueles 9 aspectos da 1 ª sessão:
1. Físico: relacionado á saúde;
2. Espiritual: religião;
3. Intelectual: estudos;
4. Familiar: relacionamentos;
5. Social: meios de convivência e de relacionamentos;
6. Financeiro: dinheiro e sobrevivência;
7. Profissional: trabalho;
8. Ecológico: ambiente de vida;
9. Relacionamento amoroso: namoro.
Cada aspecto sendo trabalhado numa perspectiva futura de vida, novamente
ressaltando a importância dos fatores multideterminantes em nossas escolhas não só
profissionais, mas sim de vida, presentes na relação entre indivíduo e sociedade.
Esta técnica possibilita que o jovem se mobilize no sentido de pensar e dar início
a um projeto de futuro, e a partir das condições que compartilha coletivamente,
visualizar um planejamento possível e real de se concretizar.
8ª Sessão
Objetivo:
Continuar a atividade da sessão anterior intitulada de Projeto de Futuro de Vida;
encerrar o processo da OP; dar as devolutivas pertinentes a cada participante.
Atividades:
Encerramento
Continuação da atividade Projeto de Futuro de Vida com cada participante
apresentando seu projeto de futuro para outro participante e depois ouvindo o projeto do
outro participante, segue-se uma apresentação para todo o grupo.
Nesse momento de apresentação individual para todo o grupo, o orientador
aproveita para ir realizando as devolutivas de encerramento para cada participante ao
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fim da fala. Colocando, de forma clara, como se deu a participação desse indivíduo
dentro do grupo, com informações pertinentes ao seu processo na OP.
Na circunstância de ser detectado um caso de encaminhamento para atendimento
individual, o orientador coloca seu parecer sobre esse processo e disponibiliza os
serviços da UFBA para o mesmo, explicando como se inscrever para ser atendido.
Sessões com profissionais - Pesquisa Ação:
Lembrando que, ao final desse processo, segue-se um último encontro com os
profissionais envolvidos no processo de aplicação das técnicas junto aos jovens.
3ª Sessão com os profissionais da aplicação: Avaliação do processo de OP.
Objetivo:
Avaliar o processo de aplicação da OP nos jovens e refletir sobre propostas para
modificações no processo para futuras intervenções.
Atividades:
Após todo o processo com os jovens, faz-se necessário uma avaliação do
processo como um todo, profissionais, técnicas e jovens.