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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO
UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS
Estrangeirismos
Os anglicismos em liacutengua portuguesa
SANTOS ndash 2007
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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO
UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS
Estrangeirismos
Os anglicismos em liacutengua portuguesa
Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau
de Letras agrave Universidade Catoacutelica de Santos
Orientador Prof Me Joseacute Martinho Gomes
SANTOS ndash 2007
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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO
UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS
Estrangeirismos
Os anglicismos em liacutengua portuguesa
Banca Examinadora
_____________________________________________________Prof Me Joseacute Martinho Gomes Universidade Catoacutelica de Santos
_____________________________________________________Profordf Ms Elita Cezar Argemon Universidade Catoacutelica de Santos
SANTOS ndash 2007
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Resumo
O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as
liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos
estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas
formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e
apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as
causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as
mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros
idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas
embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos
Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Abstract
The goal of the present paper is to verify the exchange process among
languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign
words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to
introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the
natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for
such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts
to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all
languages although we consider some linguistic abuses inadequate
Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism
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Agradecimentos
Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante
dedicaccedilatildeo
Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo
deste trabalho
Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu
lado e incentivarem meus estudos
Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa
Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava
horas redigindo o trabalho
Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo
imensuraacuteveis
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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto
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Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Referecircncias Bibliograacuteficas
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2
MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO
UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS
Estrangeirismos
Os anglicismos em liacutengua portuguesa
Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau
de Letras agrave Universidade Catoacutelica de Santos
Orientador Prof Me Joseacute Martinho Gomes
SANTOS ndash 2007
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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO
UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS
Estrangeirismos
Os anglicismos em liacutengua portuguesa
Banca Examinadora
_____________________________________________________Prof Me Joseacute Martinho Gomes Universidade Catoacutelica de Santos
_____________________________________________________Profordf Ms Elita Cezar Argemon Universidade Catoacutelica de Santos
SANTOS ndash 2007
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Resumo
O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as
liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos
estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas
formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e
apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as
causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as
mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros
idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas
embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos
Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Abstract
The goal of the present paper is to verify the exchange process among
languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign
words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to
introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the
natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for
such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts
to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all
languages although we consider some linguistic abuses inadequate
Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism
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Agradecimentos
Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante
dedicaccedilatildeo
Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo
deste trabalho
Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu
lado e incentivarem meus estudos
Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa
Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava
horas redigindo o trabalho
Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo
imensuraacuteveis
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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto
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Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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9
Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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22
conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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23
22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
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COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984
ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005
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FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004
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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
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DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007
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SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007
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VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007
VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007
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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO
UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS
Estrangeirismos
Os anglicismos em liacutengua portuguesa
Banca Examinadora
_____________________________________________________Prof Me Joseacute Martinho Gomes Universidade Catoacutelica de Santos
_____________________________________________________Profordf Ms Elita Cezar Argemon Universidade Catoacutelica de Santos
SANTOS ndash 2007
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Resumo
O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as
liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos
estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas
formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e
apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as
causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as
mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros
idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas
embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos
Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Abstract
The goal of the present paper is to verify the exchange process among
languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign
words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to
introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the
natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for
such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts
to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all
languages although we consider some linguistic abuses inadequate
Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism
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Agradecimentos
Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante
dedicaccedilatildeo
Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo
deste trabalho
Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu
lado e incentivarem meus estudos
Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa
Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava
horas redigindo o trabalho
Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo
imensuraacuteveis
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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto
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Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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22
conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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28
242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Resumo
O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as
liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos
estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas
formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e
apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as
causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as
mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros
idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas
embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos
Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo
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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Abstract
The goal of the present paper is to verify the exchange process among
languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign
words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to
introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the
natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for
such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts
to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all
languages although we consider some linguistic abuses inadequate
Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism
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Agradecimentos
Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante
dedicaccedilatildeo
Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo
deste trabalho
Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu
lado e incentivarem meus estudos
Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa
Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava
horas redigindo o trabalho
Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo
imensuraacuteveis
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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto
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Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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20
II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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5
NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos
Abstract
The goal of the present paper is to verify the exchange process among
languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign
words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to
introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the
natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for
such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts
to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all
languages although we consider some linguistic abuses inadequate
Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism
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Agradecimentos
Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante
dedicaccedilatildeo
Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo
deste trabalho
Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu
lado e incentivarem meus estudos
Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa
Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava
horas redigindo o trabalho
Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo
imensuraacuteveis
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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto
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Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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10
World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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11
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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22
conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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23
22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007
LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007
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6
Agradecimentos
Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante
dedicaccedilatildeo
Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo
deste trabalho
Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu
lado e incentivarem meus estudos
Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa
Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava
horas redigindo o trabalho
Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo
imensuraacuteveis
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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto
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Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto
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Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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8
Sumaacuterio
Introduccedilatildeo 09
I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13
21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17
3 Os galicismos 18
II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26
241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28
3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43
3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46
4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48
Conclusatildeo 50
Referecircncias Bibliograacuteficas 51
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9
Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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26
24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Introduccedilatildeo
Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no
mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo
invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso
cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque
de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo
de tais termos na liacutengua portuguesa
O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do
processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em
nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos
estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva
Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e
David Crystal
Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em
processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre
outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute
relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e
estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas
Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das
nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos
intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila
dos galicismos em nosso vernaacuteculo
O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da
liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a
liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a
liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em
duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada
desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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20
II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo
inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas
inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa
Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de
comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu
domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e
inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute
em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero
consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em
Portugal
Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma
liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute
o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando
apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos
Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como
citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso
estudo
O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma
incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo
globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos
anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de
fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso
mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas
circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns
esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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22
conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira
1 Os Neologismos
Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste
trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como
ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na
liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com
acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)
Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do
proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de
qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)
Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que
importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico
Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos
sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas
maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os
termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves
palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave
liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos
literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os
populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART
SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica
Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente
da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217
grifo do autor)
1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma
liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na
importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as
origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um
novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa
para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)
O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano
Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas
que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)
Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais
comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial
usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo
(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria
se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de
pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de
linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)
Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de
manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser
oficialmente incorporados a um idioma
As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos
Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont
proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos
por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)
No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a
definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas
estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem
influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no
vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)
Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel
2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
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model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)
Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma
denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda
eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes
diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas
Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural
do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico
pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do
leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os
poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas
feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica
aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria
ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p
122-25)
Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo
classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos
Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua
portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das
origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os
elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)
2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes
De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo
abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a
serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como
[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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22
conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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23
22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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28
242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)
Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os
empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns
autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os
estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o
portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud
FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma
comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo
As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute
impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas
Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo
O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)
Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos
poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as
palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica
ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo
assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que
normalmente suas origens natildeo sejam notadas
Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa
diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a
sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-
amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo
Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs
conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans
por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando
apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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28
242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo
(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo
percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos
tecnicalidade (technicality) e casual (casual)
Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o
dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do
que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma
abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de
um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando
tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as
uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do
dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um
pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo
exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale
a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de
liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar
no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico
Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)
Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um
ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)
Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo
tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)
Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos
semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-
quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs
(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito
de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este
uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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26
24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos
Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados
um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave
explanaccedilatildeo do autor citado
Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)
Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de
Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou
dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os
estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos
como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos
por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras
provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso
Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo
barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos
estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a
designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)
Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a
definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade
barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua
portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees
Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)
Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno
do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o
estrangeiro
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo
baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um
peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto
Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois
termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na
liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente
desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)
22 Releituras dos estrangeirismos
Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado
Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)
Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o
termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio
linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado
natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX
por meio da literatura da eacutepoca
Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os
ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico
portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era
ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem
vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a
seguinte citaccedilatildeo
Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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28
242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos
empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias
entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos
mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma
convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato
entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como
sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)
Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de
linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os
estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de
palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute
vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme
observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo
Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como
sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente
com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do
portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o
nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores
3 Os galicismos
Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem
francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande
notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete
agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor
volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais
que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)
Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua
universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de
empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)
No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou
estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento
de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo
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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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19
disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)
Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno
Ensaio sobre a liacutengua portuguesa
Fogatildeo a gaacutes
Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos
pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e
culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas
na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo
e chance (COUTINHO 1984 p 195)
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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II A liacutengua inglesa e os anglicismos
no Brasil e no mundo
1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo
A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola
Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de
Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados
em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total
aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos
quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em
portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos
Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)
2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo
Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados
Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de
falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta
e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria
Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse
nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)
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21
Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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22
conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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23
22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se
praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua
distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa
um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato
O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)
Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de
angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos
(pessoas que falam o portuguecircs)
Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel
nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os
Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o
mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)
Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da
opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia
altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de
prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda
Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua
hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca
Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse
tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil
21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs
como liacutengua dominante
Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a
liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto
neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo
por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os
serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as
comunicaccedilotildees (SANTOS)
Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio
do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai
sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de
Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et
lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua
francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia
(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)
Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE
(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em
Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-
RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e
o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se
exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)
No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob
a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa
foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam
o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute
possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um
dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas
Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior
das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de
todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute
acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a
facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade
dos franceses
Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao
francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs
eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da
empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi
cliente servilrdquo
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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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23
22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial
Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a
norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo
estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a
forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes
em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O
progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de
guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente
do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a
partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005
p 20)
Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente
agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute
entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar
diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande
propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse
demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo
hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave
sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)
A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave
expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e
sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo
fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-
Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo
internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo
exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais
diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)
A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc
como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica
ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)
Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram
a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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25
Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam
internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin
(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as
ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal
uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo
Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das
produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que
contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A
citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado
O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)
Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950
acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do
avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem
peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)
23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial
Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios
e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em
grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e
consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo
O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel
que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes
sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais
especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa
perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)
Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta
tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para
podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e
principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que
domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)
Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo
poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs
um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a
dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo
Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado
aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez
com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e
caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON
apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por
exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo
progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da
moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo
oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)
Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser
indissociaacuteveis a este idioma
O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Referecircncias Bibliograacuteficas
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca
em um mundo globalizado
Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le
Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua
funccedilatildeo
Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente
como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou
como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo
globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)
O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da
superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos
dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English
Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica
referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)
241 Pidgin e Pidgin English
Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a
definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa
Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)
O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais
liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas
diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE
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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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27
DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se
materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste
Bondia (= Bom dia)
Obrigadu (= Obrigado)
Haacuteu komprende (= Compreendo)
e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)
Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)
Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4
Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou
regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando
uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-
LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)
Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses
africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste
uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas
Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar
Wetin dey happen (= What is happening)
I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)
Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma
unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos
outros (ibidem)
3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana
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28
242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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242 World English
Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o
inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este
idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada
O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)
Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que
pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em
eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN
apud LACOSTE 2005 p 152)
Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de
que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar
com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das
companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE
2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel
necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores
expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se
trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global
243 O globecircs
O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar
o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere
a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs
simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma
ramificaccedilatildeo artificial do World English
Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando
um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como
The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud
LACOSTE 2005 p 28)
Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos
baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu
uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo
de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor
O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um
meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que
pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se
expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos
natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua
inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)
como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do
globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos
(ibidem)
3 Os anglicismos
Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua
portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como
superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso
vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar
um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos
empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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30
31 Como os anglicismos satildeo incorporados
em nosso leacutexico
Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras
de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento
correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos
estrangeirismos (SANTOS)
A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece
permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso
estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de
palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio
- beef agrave bife
- club agrave clube
- football agrave futebol
- hamburger agrave hambuacuterguer
- leader agrave liacuteder
- test agrave teste
- tourist agrave turista
Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs
ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo
empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil
(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa
ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que
serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva
em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e
ponderaccedilotildees quanto ao seu uso
Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade
de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um
ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na
linguagem oralizada
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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49
(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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50
Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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31
A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech
free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break
country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top
model upgrade mouse e notebook
Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser
mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que
constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns
ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo
usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir
deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to
delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo
ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de
aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua
portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo
para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute
vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas
palavras passam
Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a
mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o
que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto
ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo
da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo
(POSSENTI 2005 p 32)
Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-
se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e
frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem
sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua
portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a
analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando
igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)
Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo
dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a
pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo
uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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33
Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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38
Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963
BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006
BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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32
portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo
lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso
leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo
geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma
vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo
(PIACENTINI)
32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo
Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos
estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os
jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte
principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas
Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que
transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas
de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p
95)
lsquoSites organizam a vida do internautarsquo
lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo
lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo
lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo
Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de
normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum
Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou
marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)
A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos
underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela
Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac
Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em
causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje
invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente
inglesasrdquo
Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam
diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de
textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar
tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos
jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores
A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial
representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas
palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo
mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time
office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home
theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore
33 Razotildees carecircncia status e auto-estima
O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar
associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo
possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado
A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da
liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo
do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si
a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos
especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta
do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-
mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA
grifo do autor)
Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao
status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute
vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo
utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo
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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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34
Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo
o uso geral dos estrangeirismos
Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)
O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar
que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que
atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de
baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)
Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores
estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo
(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando
afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de
haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem
sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)
34 Anglicization
Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras
oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem
transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute
conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O
termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou
ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo
(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5
Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato
bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua
origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO
2004 p 20 grifo do autor)
5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo
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35
bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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36
O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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37
III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Referecircncias Bibliograacuteficas
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na
Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans
liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa
conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo
(AFRIKAANS)
bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a
liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas
tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute
entatildeo natildeo havia o cultivo
bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa
lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-
americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo
atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico
americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado
etnicamente incorreto (PICKANINNY)
35 Os anglicismos em Portugal
Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal
perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em
que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo
utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra
liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes
Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil
entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de
nossos colonizadores
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
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DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007
DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007
FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007
7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007
LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007
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NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007
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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007
SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007
SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007
SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007
THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007
VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007
VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007
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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo
1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima
Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos
estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos
primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua
Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de
que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e
pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a
comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma
que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser
humano possui
Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um
acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um
idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e
ideologias
Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara
Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)
O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a
mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo
degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem
obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo
nosso)
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela
historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute
paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud
SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos
um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo
(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)
A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no
purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo
consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que
natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as
constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos
Bagno
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)
Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio
de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo
aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na
liacutengua
Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em
contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo
Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute
sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a
utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto
apresentando variaccedilotildees
11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa
Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de
trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute
um fato natural
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da
globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no
mundo
Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a
liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de
incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud
FARACO 2004 p 19)
12 O predomiacutenio da linguagem oral
Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a
oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)
ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o
contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em
expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo
Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das
transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo
entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma
liacutengua tenha passado
Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras
mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser
percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser
oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto
nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais
estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade
incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)
No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco
(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de
mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da
linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita
Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e
iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de
um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem
normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral
A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da
grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma
original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz
tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros
Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras
oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses
vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados
2 Os inconvenientes dos estrangeirismos
Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes
concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao
sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos
ou fonemas
Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute
o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa
lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a
palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos
esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de
determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo
correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)
A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um
vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do
original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute
usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para
esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)
Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das
palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute
acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de
origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo
diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale
mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas
Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no
Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando
nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para
computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-
se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural
irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice
lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina
importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma
palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de
um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu
plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja
traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural
Medium corresponde a sua forma no singular
A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A
Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua
opccedilatildeo em usar media em seu texto
A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)
Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras
estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem
fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p
126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute
comentado anteriormente
Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas
sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona
semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da
liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e
satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas
Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo
traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO
JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)
Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em
liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo
errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse
acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo
assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro
A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro
da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car
(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)
Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos
usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da
nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as
palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original
embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo
podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave
maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma
caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando
como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como
tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos
Bagno
Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e
6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
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ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005
FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006
FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004
FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
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FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007
7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)
Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem
distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em
portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute
uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo
importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o
vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a
pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem
o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical
foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois
caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica
21 Os excessos
Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo
prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada
agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se
agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005
p 30)
Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos
sejam aceitos
1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)
Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo
sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos
setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases
que exemplificam esse assunto
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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
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Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
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BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984
CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006
COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984
ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005
FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006
FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004
FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
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OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000
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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b
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BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007
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VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007
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44
Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)
O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)
Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)
Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua
portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir
uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute
confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos
sejam aceitos
O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma
necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos
correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente
considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas
Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz
respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram
aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos
importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do
neologismo estartar
Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando
palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento
para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de
um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo
O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center
Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila
satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos
verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado
referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Referecircncias Bibliograacuteficas
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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a
tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o
uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido
original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras
Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua
inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como
adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo
venha apoacutes o seu substantivo
3 A xenofobia
Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se
posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua
Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos
xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os
paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte
A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes
ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de
uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute
produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa
devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram
especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os
dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados
povos Observemos
Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)
O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a
forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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Referecircncias Bibliograacuteficas
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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados
a uma cultura
Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar
status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo
de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os
vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos
brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria
conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo
(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)
A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)
31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos
Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em
liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio
de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo
Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos
formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais
em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram
majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)
Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio
(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os
dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e
os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos
que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes
consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984
p 217)
Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio
do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A
intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar
pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras
especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da
informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)
Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do
deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do
meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)
Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma
ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se
enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees
O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no
mundo linguumliacutestico Vejamos
O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)
Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter
pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma
palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO
2004 p 54)
O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos
confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em
relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute
a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai
funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)
As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema
auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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50
Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963
BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006
BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984
CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006
COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984
ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005
FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006
FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004
FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975
HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002
HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001
HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982
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52
JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997
LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945
LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988
MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005
MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988
MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007
OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000
POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005
SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004
TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007
VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b
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53
Material Eletrocircnico
AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007
ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007
BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007
BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007
COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007
DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007
DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007
FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007
7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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54
GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007
IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007
KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007
LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007
LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007
MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007
MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007
MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007
NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007
PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007
PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007
PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007
REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007
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55
RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007
RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007
SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007
SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007
SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007
THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007
VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007
VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007
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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a
liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos
soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud
FARACO 2004 p 82-3)
Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma
que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a
procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo
4 A ponderaccedilatildeo do uso
Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico
corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso
de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras
que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua
portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo
abrangente estrangeirismos
Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam
termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o
enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita
(JUNIOR 1997 p 125)
41 O acolhimento
Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos
muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam
diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa
lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas
pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam
contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO
2000)
Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao
futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado
pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963
BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006
BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984
CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006
COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984
ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005
FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006
FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004
FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975
HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002
HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001
HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982
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52
JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997
LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945
LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988
MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005
MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988
MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007
OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000
POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005
SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004
TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007
VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b
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Material Eletrocircnico
AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007
ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007
BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007
BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007
COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007
DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007
DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007
FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007
7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007
IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007
KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007
LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007
LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007
MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007
MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007
MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007
NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007
PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007
PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007
PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007
REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007
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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007
RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007
SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007
SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007
SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007
THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007
VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007
VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007
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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos
futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa
(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que
mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros
esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)
Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos
os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas
poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam
Garcez e Zilles
Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)
Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir
palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo
veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho
Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)
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50
Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um
processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute
ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de
nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando
a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas
Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute
possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963
BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006
BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984
CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006
COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984
ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005
FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006
FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004
FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975
HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002
HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001
HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982
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52
JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997
LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945
LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988
MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005
MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988
MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007
OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000
POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005
SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004
TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007
VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b
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53
Material Eletrocircnico
AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007
ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007
BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007
BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007
COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007
DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007
DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007
FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007
7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007
IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007
KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007
LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007
LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007
MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007
MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007
MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007
NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007
PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007
PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007
PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007
REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007
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55
RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007
RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007
SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007
SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007
SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007
THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007
VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007
VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007
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Conclusatildeo
Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no
dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os
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Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer
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possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos
no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras
estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua
Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute
enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo
satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes
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51
Referecircncias Bibliograacuteficas
Material impresso
ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963
BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006
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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997
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LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945
LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988
MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005
MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988
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OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000
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TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007
VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b
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Material Eletrocircnico
AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007
ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007
BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007
COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007
DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007
DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007
FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007
7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007
IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007
KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007
LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007
LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007
MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007
MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007
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PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007
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PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007
REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007
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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007
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SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007
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ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963
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BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984
CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006
COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984
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FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006
FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004
FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975
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HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982
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LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
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MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988
MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007
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POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005
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TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007
VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a
VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b
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Material Eletrocircnico
AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007
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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007
BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007
BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007
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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado
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