Anais de Simpsios da 43 Reunio Anual da SBZ Joo Pessoa PB, 2006.
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SISTEMAS SILVIPASTORIS NA RECUPERAO DE PASTAGENSTROPICAIS DEGRADADAS
MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO
Eng. Agrnomo, Ph.D., Pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental, C. Postal 48, CEP 66017-970, Belm, [email protected]
RESUMO
A degradao de pastagens constitui-se em grave problema econmico e ambiental nos trpicos
e, particularmente, no Brasil. A recuperao da produtividade dessas reas seria uma forma de
aumentar a produtividade pecuria, sem promover a expanso das reas de pastagens. Dentre as
estratgias propostas para a recuperao de pastagens degradadas, a implantao de sistemas
silvipastoris (SSP) seria adequada principalmente nos casos em que se pretendesse diversificar a
renda da propriedade rural e aumentar a sua biodiversidade. Apesar dos vrios benefcios, a
adoo de SSP ainda muito limitada, principalmente em funo dos altos custos de implantao.
Nesse trabalho os SSP so caracterizados atravs da discusso de suas vantagens e
desvantagens e das barreiras para a sua adoo. Discutem-se tambm alguns aspectos
relacionados implantao, estabelecimento e manejo desses sistemas, particularmente quando
empregados no processo de recuperao de pastagens. Finalmente faz-se uma anlise sobre as
possveis razes da baixa adoo dos SSP na recuperao de pastagens degradadas no Brasil e
propem-se medidas para incentivar a sua adoo.
ABSTRACT
Pasture degradation is a major economic and environmental problem in the tropics and,
particularly, in Brazil. The reclamation of these areas can be considered as a means of increasing
agricultural production, without promoting the expansion of pastures areas. Among the strategies
proposed to reclaim degraded pastures, the introduction of silvopastoral systems (SPS) would be
appropriate mainly on situations where the intention is to diversify sources of income and to
increase biodiversity. Despite their many benefits, the adoption of SPS is still very limited,
particularly due to their high initial costs. In this paper SPS are characterized by presenting their
advantages, disadvantages and the barriers to their adoption, and by discussing some aspects of
their establishment and management, particularly when used in the process of pasture reclamation.
Finally, an analysis is made on the possible causes for the low adoption of silvopastoral practices
in degraded pasture areas in Brazil. Also, possible actions to stimulate the use of silvopastures are
considered.
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1. INTRODUO
A degradao de pastagens causa grandes prejuzos ambientais e econmicos no Brasil.
Estimativas recentes tm sugerido que pelo menos a metade das reas de pastagens em regies
ecologicamente importantes, como a Amaznia e o Brasil Central, estariam em degradao ou
degradadas (Dias-Filho, 2005). A recuperao da produtividade dessas reas deve ser cada vez
mais prioritria, uma vez que as restries ambientais tendem a reduzir as possibilidades de
contnua incorporao de reas ainda inalteradas para a formao de novas pastagens.
Dentro desse cenrio a implantao de sistemas silvipastoris (SSP) tm sido apontada
como uma das opes para a recuperao de pastagens degradadas (e.g., Dias-Filho, 2005;
Daniel et al. 1999). A implantao desses sistemas agroflorestais seria indicada para diversas
situaes onde fosse planejada a recuperao da produtividade da pastagem, sendo, no entanto,
particularmente apropriada quando houvesse a renovao da pastagem.
Embora diversas vantagens sejam constantemente imputadas aos SSP (e.g., Oliveira et
al. 2003; Daniel et al. 1999a; Franke e Furtado, 2001), na prtica, a adoo desse sistema
agroflorestal ainda relativamente restrita no Brasil, principalmente como estratgia para a
recuperao de pastagens degradadas. O objetivo do presente estudo caracterizar os SSP,
discutindo certos aspectos relacionados sua implantao, estabelecimento e manejo, assim
como algumas vantagens e desvantagens relacionadas a essa prtica, particularmente quando
empregada no processo de recuperao de pastagens degradadas.
2. SISTEMAS SILVIPASTORIS
2.1. Caracterizao e benefcios
Os SSP, como prtica agroflorestal, se caracterizam especificamente pela integrao de
rvores ou arbustos, pastagens e gado com a finalidade de auferir produtos ou servios destes
trs componentes. Estes sistemas tm sido recomendados para diversos ecossistemas da
Amrica Latina (Costa et al. 2002; Daniel et al. 1999; Garcia e Couto, 1997; Ibrahim et al. 2001;
Montagnini, 2001; Murgueitio e Ibrahim, 2001; Oliveira et al. 2003). Teoricamente, os SSP podem
trazer diversos benefcios para o meio ambiente, quando comparados pastagem tradicional, sem
a integrao planejada de rvores ou arbustos no sistema pecurio. Alguns destes benefcios,
listados por Ibrahim et al. (2001) e Pagiola et al. (2004) so a conservao do solo, a conservao
dos recursos hdricos, a promoo do seqestro de carbono e o aumento na biodiversidade.
Os benefcios para o solo, decorrentes da implantao de sistemas silvipastoris
resultariam da melhoria, a mdio e longo prazos, na ciclagem de nutrientes, causada pela
absoro desses elementos pelas razes das rvores, de camadas mais profundas do solo e a
posterior deposio no solo superficial de parte desses nutrientes, pela decomposio de folhas,
razes etc. Sem a interveno das razes das rvores, atuando como rede de reteno, parte
desses nutrientes seria perdida por lixiviao, ou ficaria indefinidamente indisponvel para a
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vegetao local. Sistemas silvipastoris possuem, tambm, a capacidade de utilizar a gua das
camadas mais profundas do solo, a qual seria normalmente perdida em sistemas tradicionais de
pastagens (Gyenge et al. 2002). Outro benefcio a melhoria na atividade biolgica do solo,
causada por mudanas no microclima do solo, devido ao sombreamento das rvores (Cruz et al.
1999), ou pela melhoria na fertilidade do solo, principalmente se a rvore for capaz de associar-se
a microrganismos que fixem o nitrognio do ar, como ocorre com certas leguminosas (Andrade et
al. 2002; Rhoades et al. 1998). O sombreamento pode ainda interferir na melhora da qualidade
nutricional de algumas plantas forrageiras (Carvalho et al. 2002; Lin et al. 2001). Quando
plantadas em locais estratgicos, como em curva de nvel, em terrenos declivosos, as rvores
podem tambm contribuir para controlar a eroso.
O aumento no seqestro de carbono nestas reas seria obviamente dependente da
densidade de plantio, da capacidade de crescimento e da longevidade das rvores (Ibrahim et al.
2001; Andrade e Ibrahim, 2003), alm do potencial destas rvores em aumentar ou conservar o
teor de matria orgnica do solo. Portanto, plantas de crescimento rpido, capazes de acumular
grande proporo de biomassa no tecido lenhoso (e.g., maior densidade da madeira) e que
tivessem maior longevidade, seriam capazes de seqestrar mais carbono.
A implantao de sistemas agroflorestais considerada como forma de recuperar a
biodiversidade funcional em agrossistemas (e.g., Altieri, 1999; Harvey e Haber, 1999). O aumento
na biodiversidade seria conseqncia natural da diversificao de um sistema, teoricamente
considerado como monocultivo, como a pastagem, para um sistema com maior diversificao de
espcies vegetais e animais, como o silvipastoril. Alm disso, quando comparados a pastagens
tradicionais, sistemas silvipastoris teoricamente teriam a capacidade de atrair maior diversidade e
abundncia de pssaros (Crdenas et al. 2003; Rice e Greenberg, 2004) e mamferos silvestres.
Por outro lado, estes sistemas podem ser mais atrativos para insetos benficos, como abelhas
produtoras de mel.
Em termos econmicos, os SSP tm o potencial de diversificar a renda da propriedade
rural pela possibilidade de comercializao dos produtos gerados pelas rvores, como madeira,
frutos, leos, resinas etc., alm de agregar valor rea.
Em alguns casos, sistemas silvipastoris podem tambm ter como objetivo principal a
suplementao da dieta do gado, durante perodos de baixa produtividade do pasto, atravs do
consumo da folhagem e frutos (e.g., vagens verdes de leguminosas) produzidos pelas rvores
(Casasola et al. 2001; Holgun et al. 2003; Palma e Romn, 2003).
2.2. Problemas
Apesar dos benefcios diretos e indiretos imputados aos sistemas silvipastoris,
importante que se ressalte que esse sistema no se constitui em panacia para os diversos
problemas inerentes as pastagens tropicais. Por exemplo, a presena de rvores e arbustos no
pasto pode, tambm, prejudicar o desenvolvimento da pastagem. Isso ocorreria, principalmente,
devido ao sombreamento e, em alguns casos, a competio por gua e nutrientes que as espcies
arbreo-arbustivas exerceriam sobre as forrageiras herbceas da pastagem. No caso de espcies
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arbreo-arbustivas que apresentam abundante queda de folhas, cuja decomposio seja lenta, o
acmulo dessa serrapilheira poder prejudicar o rebrote ou a germinao e crescimento do capim.
Em algumas situaes, o excesso de sombra ou a constante congregao e trnsito de
animais sob a copa das rvores pode provocar o raleamento ou perda total da cobertura vegetal
do solo. Essas reas seriam mais suscetveis compactao e eroso devido ao pisoteio do
gado e a exposio do solo. De fato, a compactao do solo e a conseqente eroso e perda de
nutrientes tm sido apontadas como um dos principais problemas relacionados a SSP (e.g.,
Baggio, 1983; Daniel e Couto, 1998). Por outro lado, a freqente congregao de animais pode
ainda resultar na tendncia de maior acmulo de fezes e urina no solo sob as rvores,
intensificando o problema de desuniformidade na distribuio de dejetos na rea da pastagem.
Esse fato contribuiria para a reduo da fertilidade do solo, uma vez que a constante e excessiva
deposio de nutrientes (como encontrados nas reas afetadas pela urina e fezes) em locais
restritos da pastagem, dificultaria a eficincia na absoro e uso desses nutrientes pelas plantas,
tornando-os mais suscetveis a perdas.
A competio exercida pelo pasto e a interferncia dos animais tambm podem prejudicar
o desenvolvimento e a sobrevivncia das rvores. Finalmente, a presena de rvores na
pastagem poderia em algumas situaes dificultar a sua mecanizao (i.e., o trnsito de
mquinas). Isso aconteceria, principalmente, quando no houvesse planejamento adequado da
distribuio espacial das rvores na pastagem.
2.3. Barreiras para a adoo
Uma das principais barreiras para a adoo de SSP seria a sua baixa lucratividade inicial.
A implantao de SSP demanda investimentos substanciais de tempo e dinheiro os quais
diminuiriam a velocidade em que lucros passariam a serem obtidos. Segundo Pagiola et al. (2004),
nos primeiros anos aps o estabelecimento de SSP, a renda da propriedade rural pode ser bem
menor do que a do sistema tradicional. Isso ocorreria devido aos maiores investimentos iniciais em
tempo e dinheiro requeridos pelo SSP e o tempo demandado para que as rvores crescessem o
suficiente para gerar benefcios financeiros. No estudo desenvolvido por Pagiola et al. (2004) em
SSP na Nicargua, somente no quinto ano aps o investimento com o estabelecimento do SSP, a
renda da propriedade passou a ser superior a renda do sistema tradicional de pastagem. A
conseqncia desse cenrio a baixa taxa de retorno econmico que comumente caracterizam os
SSP nos primeiros anos aps a implantao. Por outro lado, os altos custos iniciais de
investimento para implantao de SSP seriam uma barreira para a adoo dessa prtica por
produtores sem acesso a crdito.
Outro obstculo para a adoo de SSP seria o desconhecimento, por parte de muitos
produtores, dos benefcios (produtos e servios) que as diversas espcies arbreas,
potencialmente utilizveis em SSP, poderiam oferecer propriedade rural. Por outro lado,
aspectos culturais tambm dificultariam a adoo de SSP, uma vez que esse sistema requereria a
adoo de conhecimento e, conseqentemente, de prticas de manejo que poderiam ser bem
diferentes daquelas tradicionalmente empregadas em sistemas de pastagens convencionais.
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2.4. Comportamento animal (hbitos de pastejo)
O comportamento animal em SSP pode sofrer alteraes em relao ao sistema de
pastagem tradicional. A sombra das rvores pode influenciar os hbitos de pastejo devido a
alteraes nas condies ambientais (e.g., diminuio da radiao solar e temperatura). Nesse
sentido, existe a percepo entre alguns produtores que o fornecimento de sombra aos animais na
pastagem poderia reduzir o tempo de pastejo e, conseqentemente, o consumo dirio de forragem
e a produo animal. No entanto, estudos cientficos desenvolvidos sobre esse tema parecem no
suportar essa hiptese, inclusive sugerindo tendncia contrria a essa. Por exemplo, pesquisa
desenvolvida por Betancourt et al. (2005), na Nicargua, durante a poca seca, mostrou que o
percentual de tempo gasto no pastejo por vacas mestias Pardo-Sua com Zebu foi maior (44,3
vs. 34,9%) em pastos com maior cobertura de rvores (22 a 30% de cobertura), enquanto que os
percentuais de tempo gastos na ruminao (26,2 vs. 21,6%) e descanso (cio) (31,3 vs. 27,3%)
tenderam a ser maiores nas pastagens com menor cobertura arbrea (0 a 7% de cobertura). Ainda
naquela pesquisa, a produo mdia de leite foi 29% mais alta nas vacas dos pastos com maior
cobertura arbrea.
Na Austrlia, grupos de carneiros da raa Merino, com maior ou menor uso voluntrio de
sombra na pastagem, no apresentaram diferena quanto ao tempo dedicado ao pastejo (Johnson
e Strack, 1992), no entanto, observou-se que animais sombra permaneciam duas horas a menos
deitados por dia do que animais ao sol.
Em clima temperado, os hbitos de pastejo de pares de vacas e bezerros de corte foram
observados durante 24 dias, em pastos com e sem acesso sombra (Widowski, 2001). Os
resultados mostraram que o tempo gasto a sombra foi proporcional temperatura do ar. Animais
sem acesso sombra passavam maior tempo prximos ao bebedouro. No entanto, o tempo de
pastejo total no diferiu entre os dois grupos de animais.
3. DEGRADAO DE PASTAGENS
3.1. Caracterizao
A degradao de pastagens fenmeno relativamente comum em ecossistemas tropicais.
A caracterizao de determinada pastagem como degradada ou em degradao pode estar
relacionada a aspectos bem particulares, relativos regio ou nvel tecnolgico da propriedade
rural, isto , relativa produtividade que se consideraria ideal para aquela regio e pastagem em
particular (Dias-Filho 2005). Assim, segundo Dias-Filho (2005), uma pastagem que fosse
considerada degradada em determinado local, poderia ser considerada ainda produtiva em outro.
De acordo com Dias-Filho (2005), uma pastagem poderia ser considerada degradada ou
em degradao dentro de uma amplitude relativamente extensa de condies biolgicas, situadas
entre dois extremos (Fig. 1). Em um extremo, a degradao pode ser caracterizada pela mudana
na composio botnica da pastagem, isto , aumento na proporo de plantas daninhas arbreo-
arbustivas (invasoras) e da conseqente diminuio na proporo de capim. Nessa circunstncia,
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no haveria, necessariamente, deteriorao das propriedades fisicoqumicas do solo, que, em
certos casos, poderiam at melhorar devido ao aumento da cobertura arbreo-arbustiva invasora.
Nessa situao, a degradao da pastagem seria denominada degradao agrcola, isto , a
produtividade da pastagem, do ponto de vista agronmico, estaria temporariamente diminuda ou
inviabilizada, devido presso competitiva exercida pelas plantas daninhas sobre o capim,
causando, portanto, queda acentuada na capacidade de suporte da pastagem. Em outro extremo,
a degradao da pastagem pode ser caracterizada pela intensa diminuio da vegetao da rea,
provocada pela degradao do solo, que, por diversas razes de natureza qumica (perda dos
nutrientes e acidificao), fsica (eroso e compactao) ou biolgica (perda da matria orgnica),
estaria perdendo a capacidade de sustentar produo vegetal significativa. Nessa condio mais
drstica de degradao, o capim plantado seria gradualmente substitudo por gramneas nativas
ou exticas de baixa produtividade e pouco exigentes em fertilidade do solo, ou por dicotiledneas
adaptadas a essas condies desfavorveis, ou, simplesmente, seria substitudo por reas de solo
descoberto, altamente vulnerveis eroso. Nesse outro extremo, a degradao poderia ser
denominada degradao biolgica, pois a capacidade da rea em sustentar a produo vegetalestaria comprometida devido ao drstico empobrecimento do solo.
Figura 1. Representao simplificada do conceito de degradao de pastagens, conforme Dias-
Filho (2005).
3.2. Conceito
Assim, pastagem degradada poderia ser definida como rea com acentuada diminuio
da produtividade agrcola (diminuio acentuada da capacidade de suporte ideal) que seria
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esperada para aquela rea, podendo ou no ter perdido a capacidade de manter a produtividade
do ponto de vista biolgico (acumular carbono) (Dias-Filho, 1998; Dias-Filho, 2005).
4. SISTEMAS SILVIPASTORIS E A RECUPERAO DE PASTAGENS DEGRADADAS
Em Dias-Filho (2005), a implantao de SSP destacada como uma das trs principais
estratgias recomendadas para a recuperao da produtividade de pastagens degradadas. A
opo por uma dada estratgia de recuperao estaria condicionada s condies agroecolgicas
locais, finalidade do empreendimento e a disponibilidade de capital e mo-de-obra. Nesse caso,
tanto pastagens que sofreram degradao agrcola com biolgica poderiam ter a produtividade
recuperada mediante a implantao de SSP.
A recuperao de pastagens degradadas, por meio da implantao de SSP, isto , onde o
plantio de rvores ou arbustos fosse incorporado ao processo de recuperao da pastagem, ou
ainda onde fosse incentivada a regenerao natural de espcies arbreas nativas (manejo da
vegetao secundria), poderia ser alternativa vivel para aumentar a eficincia econmica e
agronmica, aumentar a diversidade biolgica e promover a conservao dos nutrientes e da gua
nestas reas improdutivas, do ponto de vista agronmico ou biolgico.
A seguir, sero descritas algumas caractersticas importantes sobre o uso de SSP no
processo de recuperao de pastagens tropicais degradadas.
4.1. Escolha das espcies
A probabilidade de sucesso de SSP pode ser aumentada com o uso de espcies mais
adaptadas. Assim, tanto as rvores como as forrageiras teriam que ser relativamente tolerantes
aos estresses inerentes a este sistema. No caso das forrageiras, aquelas com maior tolerncias
ao sombreamento so as mais adequadas. Estudos sobre o desempenho de capins em sistemas
silvipastoris, mostram que tanto a Brachiaria humidicola, quanto a B. brizantha apresentam
desenvolvimento satisfatrio nesta condio (Carvalho, 1998; Ibrahim et al. 2001a; Reynolds,
1995). De fato, sob sombreamento contnuo, ambas as espcies so capazes de promover ajustes
fenotpicos, que parcialmente compensam a capacidade de crescimento sob estresse de luz (Dias-
Filho, 2000). No entanto, quando sombreada, B. humidicola parece apresentar comportamento
fotossinttico relativamente mais eficiente do que B. brizantha (Dias-Filho, 2002). Para o
ecossistema do Cerrado Andrade et al. (2003) destacam, alm do capim marandu (B. brizantha cv.
Marandu), o capim mombaa (Panicum maximum cv. Mombaa) e a B. decumbens como opes
para compor sistemas silvipastoris.
A rvore teoricamente ideal para SSP teria que ter crescimento inicial relativamente
rpido, para facilitar o estabelecimento, copa reduzida ou pouco densa e fuste longo, para diminuir
o sombreamento na pastagem, e capacidade de regenerao rpida, quando parcialmente
danificada. Economicamente, seria desejvel que a rvore oferecesse produtos (madeira, leo,
frutos ou carvo etc.) com alto potencial para comercializao. Outra caracterstica desejvel seria
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a ausncia ou o baixo potencial invasivo para evitar a propagao excessiva da rvore na
pastagem ou para reas vizinhas. Para o trpico mido, algumas das espcies que poderiam, pelo
menos parcialmente, preencher estes requisitos, seriam o paric (Schizolobium amazonicum), o
mogno africano (Khaya ivorensis), o mogno brasileiro (Swietenia macrophylla) e a andirobeira
(Carapa guianensis). Algumas limitaes seriam a alta exigncia em fertilidade do solo do paric e
a suscetibilidade do mogno brasileiro ao ataque do inseto praga Hypsipyla grandella. Tais
limitaes, no entanto, no chegariam a inviabilizar o uso dessas espcies em sistemas
silvipastoris, desde que medidas apropriadas de manejo fossem adotadas. Oliveira et al. (2003) e
Franke e Furtado, (2001) apresentam estudos bastante teis, relacionados a espcies arbreas
indicadas para SSP, principalmente leguminosas, em pastagens do estado do Acre, Amazonia
Ocidental. Tais indicaes tambm poderiam ser extrapoladas para grande parte do trpico mido,
desde que houvesse disponibilidade de sementes e mudas das espcies indicadas. Na regio dos
Cerrados, a principal espcie arbrea que tem sido indicada para sistemas silvipastoris o
eucalipto (Eucalyptus spp.) (e.g., Daneil e Couto, 1998), enquanto que no semi-rido brasileiro,
destaca-se a algaroba (Prosopis juliflora) (Ribaski, 2003).
4.2. Arranjo espacial
Diversos modelos de SSP tm sido recomendados para implantao em pastagens
tropicais (e.g., Oliveira et al. 2003; Franke e Furtado, 2001; Dias-Filho, 2005) (Fig 2). Alguns
desses modelos que se adequariam ao processo de recuperao de pastagens degradadas so
descritos a seguir:
Figura 2. Representao esquemtica da vista area de quatro modelos de SSP, potencialmenteutilizveis na recuperao de pastagens degradadas: Linhas simples (A), linhas duplas (B),bosquetes (C) e plantio aleatrio (D).
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- Plantio em linha simples:
Nesse arranjo, as rvores so dispostas em espaamentos regulares entre linhas e
plantas (Fig. 2 A). Alguns dos espaamentos recomendados seriam: 3 x 10, 5 x 10, 10 x 10, 5 x 20
m etc. A escolha do espaamento estaria principalmente condicionada a espcie de rvore
utilizada, isto , em funo das caractersticas da arquitetura da copa e altura da rvore. Outros
fatores determinantes do espaamento seriam a finalidade principal do empreendimento
agropecurio e a espcie animal.
Em reas declivosas a disposio das linhas de plantio das rvores deve obedecer
orientao de curvas de nvel. Em reas planas as linhas devem ficar, preferencialmente,
dispostas no sentido leste-oeste, visando a diminuir o sombreamento no pasto.
- Plantio em linhas duplas
Arranjo das rvores em linhas duplas em espaamento reduzido, como 3 x 2 m ou 3 x 3 m
entre as linhas mais prximas. Entre as linhas duplas o espaamento mnimo dever ser de 10 m
(Fig. 2 B).
Um problema potencial desse arranjo de plantio seria a maior probabilidade de
desenvolvimento de plantas daninhas, ou zonas de solo descoberto entre as rvores, devido ao
excesso de sombra que prejudicaria o desenvolvimento do capim. Uma alternativa para minimizar
esse problema seria o plantio de leguminosas tolerantes ao sombreamento (e.g., Arachis pintoi)
entre as duas linhas de rvores.
A disposio das linhas duplas seguiria a mesma orientao anteriormente sugerida para
o arranjo em linhas simples.
- Plantio aleatrio
Nesse modelo de plantio, a localizao das rvores no seguiria espaamento fixo, sendo
as rvores distribudas aleatoriamente na pastagem (Fig 2 C). Esse arranjo seria o mais prximo
de uma situao natural, no concentrando, portanto, o sombreamento em locais contnuos
especficos na pastagem. Seria indicado, principalmente, para aquelas situaes onde a inteno
fosse aumentar a biodiversidade atravs do plantio de diversas espcies de rvores na pastagem,
ou mesmo quando se incentivasse a regenerao natural de espcies j existentes na pastagem.
A quantidade e a disposio das rvores plantadas ou preservadas no pasto dependeria,
sobretudo, das espcies arbreas que fossem plantadas.
- Plantio de bosquetes
Arranjo das rvores em grupos compactos na pastagem (Fig. 2 D). Dependendo das
espcies, dentro de cada bosquete as rvores poderiam ser plantadas em espaamentos de 3 x 2,
3 x 3, 3 x 5 m etc.
Como no interior dos bosquetes haver excesso de sombra e freqente congregao do
gado, o crescimento do pasto nessa rea ser provavelmente prejudicado, abrindo espao para o
aparecimento de plantas daninhas ou reas de solo descoberto. Por outro lado, possvel que o
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solo no interior dos bosquetes fique mais compactado devido exposio do solo e ao pisoteio
animal. Alm disso, nessas reas haver maior chance do pisoteio do gado danificar as razes
superficiais das rvores.
- Plantio ao longo das cercas
Nesse caso as rvores so plantadas ao longo das cercas divisrias da pastagem,
servindo como uma cerca viva.
- Regenerao natural
Esse mtodo consiste em incentivar, seletivamente, a regenerao das espcies arbreas,
remanescentes da vegetao original, que surgem espontaneamente na pastagem. Uma
vantagem desse mtodo seria o menor custo de implantao j que no haveria necessidade do
preparo e plantio de mudas das rvores.
4.3. Aspectos operacionaisUm dos principais empecilhos para a implantao de SSP seria a dificuldade de
estabelecimento das rvores em reas onde j exista a pastagem formada. A interferncia do
gado, a competio exercida pelo capim, alm de estresses ambientais, como o excesso de
radiao solar e a baixa umidade do ar e do solo prejudicariam o desenvolvimento inicial e a
sobrevivncia das mudas arbreas.
A implantao de SSP durante o processo de recuperao de pastagens degradadas,
principalmente nos casos em que fosse planejada a reforma da pastagem, isto , quando
houvesse a renovao total ou parcial da cobertura vegetal da rea, superaria, parte dessas
dificuldades j que a rea poderia ficar livre da presena do gado por perodo relativamente longo
de tempo. Por outro lado, a competio exercida pela pastagem seria atenuada pois o pasto
estaria ainda em formao. Nesse sentido, a implantao de sistema agrissilvipastoril (Daniel et al.
1999), isto , a introduo na rea de uma ou mais culturas agrcolas anuais, no primeiro, ou nos
dois ou trs primeiros anos, antes do plantio do pasto, forneceria renda em curto prazo para o
produtor e proporcionaria mais tempo para o desenvolvimento das rvores, antes da implantao
do pasto e entrada dos animais.
- Implantao
Ainda so raros os estudos publicados a respeito de tcnicas de implantao e de manejo
para a manuteno de SSP, em reas de pastagens degradadas (Carvalho et al. 2001; Falesi e
Baena, 1999). Por outro lado, informaes sobre a implantao de SSP, especificamente para a
recuperao de pastagens degradadas, tm sido pouco divulgadas na literatura especializada
(e.g., Daniel et al. 1999; Dias-Filho, 2005).
De acordo com Dias-Filho (2005), as dificuldades operacionais para a implantao de
SSP, durante a recuperao de pastagens degradadas, teriam incio na etapa de preparo das
mudas das rvores e no plantio dessas na rea. A razo disto que ambas atividades
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demandariam mo-de-obra mais intensiva e relativamente mais qualificada, do que a que seria
normalmente empregada apenas no processo tradicional de renovao da pastagem. Por outro
lado, em algumas regies, dificuldades na aquisio de sementes para a formao das mudas das
rvores, ou mesmo na aquisio das mudas j formadas, poderiam limitar a implantao do SSP.
Tais problemas poderiam ser parcialmente atenuados se, com a popularizao do sistema,
cooperativas de produtores, ou mesmo entidades governamentais, fornecessem mudas ou
sementes de rvores a baixo custo. Em certos casos, a produo das mudas das rvores no
prprio local, onde o sistema seria implantado, poderia ser a forma mais adequada de viabilizar a
adoo do SSP, pois diminuiria os custos com a aquisio e o transporte das mudas. No entanto,
o preparo e o plantio das mudas das rvores, geralmente so as atividades que demandam maior
custo na fase de implantao de sistemas agroflorestais, em pastagens degradadas (Santos et al.
2002).
- Estabelecimento
No perodo de estabelecimento de SSP, o maior desafio de manejo, seria proteger as
rvores, em fase inicial de desenvolvimento, do excesso de radiao solar direta, do excesso de
vento, da baixa umidade do ar, do pisoteio e da herbivoria pelo gado e animais silvestres, da
competio pelas plantas daninhas e plantas forrageiras e de fogo acidental. O ataque de pragas,
como as savas (Atta cephalotes), por exemplo, pode tambm limitar o estabelecimento das
rvores em sistemas silvipastoris (Moulaert et al. 2002). Em levantamento feito entre fazendeiros,
de reas produtoras de carne e leite, na regio caribenha da Colmbia, encontrou-se que o custo
para proteger as rvores jovens de danos causados pelo gado e a alta mortalidade dessas,
durante a poca seca, devido dessecao, seriam os principais obstculos para a implantao
de sistemas silvipastoris naqueles locais (Cajas-Giron e Sinclair, 2001). De forma semelhante,
estudo desenvolvido em regio leiteira de Belize, na Amrica Central, identificou o aumento de
mo-de-obra como a principal barreira para a adoo de sistemas silvipastoris, em fazendas
produtoras de leite (Alonzo et al. 2001). possvel inferir que estas dificuldades tambm seriam
comuns em outras regies tropicais e subtropicais da Amrica Latina como no Brasil.
Em SSP a proteo das rvores em fase de estabelecimento, contra possveis danos pelo
gado, pode ser feita coletivamente, por cercas temporrias (e.g., cerca eletrificada), instaladas ao
longo das linhas de plantio, ou mesmo individualmente, mediante a colocao de proteo ao
redor das rvores jovens.
- Manejo
Aps a implantao do SSP, algumas prticas de manejo, que podem ser comuns em
pastagens tradicionais, como o uso do fogo e a aplicao de herbicidas, teriam que ser evitadas
ou utilizadas sob maior controle, por possveis danos causados s rvores. Assim, a construo
de aceiro, ou seja, uma faixa de solo, sem vegetao, de trs a cinco metros de largura,
margeando o sistema silvipastoril, seria essencial para evitar a entrada de fogo acidental,
proveniente de reas vizinhas.
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5. CONSIDERAES FINAIS
Embora SSP sejam constantemente apontados como soluo para diversos problemas
inerentes a pastagens no Brasil, na prtica, o uso desse sistema no pas ainda muito restrito.
Existem muitas razes para essa discrepncia entre as evidncias tcnicas e a realidade prtica.
Uma importante barreira adoo de SSP seria a limitada lucratividade inicial devido aos maiores
custos de implantao e a conseqente baixa taxa de retorno desses sistemas, quando
comparados a sistemas tradicionais de pastagem.
Por outro lado, a implantao e a manuteno de SSP requerem mo-de-obra mais
capacitada e infra-estrutura mais elaborada (como para a produo de mudas, poda de rvores
etc.). Tais fatores tambm poderiam restringir a adoo sua adoo. Em regies geograficamente
mais isoladas, como certos locais da Amaznia brasileira e do Brasil Central, a baixa taxa de
adoo dos sistemas silvipastoris, na recuperao de pastagens degradadas, seria, tambm,
motivada por fatores socioeconmicos especficos. Dentre estes fatores, estariam o preo
relativamente baixo da terra e a grande extenso das reas de pastagens nestes locais. Tais
fatores contribuiriam para que as atividades que demandassem maior aporte de recursos
financeiros e de mo-de-obra, como a implantao de SSP, no fossem economicamente viveis,
pois o retorno do investimento, a curto ou mdio prazo, poderia ser baixo. Alm disso, muitos
criadores de gado no tm tradio e experincia para lidar com atividades que sejam diferentes
da pecuria tradicional. Por outro lado, ainda existe a crena por parte de alguns produtores que o
provimento de sombra aos animais na pastagem, poderia diminuir a produo de carne ou leite. A
razo para isso seria que o acesso voluntrio sombra reduziria o tempo de pastejo (i.e.,
aumentaria o tempo dedicado ao cio) e, conseqentemente, o consumo de forragem. Essa
percepo, no entanto, no tem sido confirmada em estudos cientficos sobre o comportamento
animal em SSP.
Em locais relativamente mais prximos a centros urbanos, onde a maior presso
populacional causaria a diminuio relativa do tamanho da propriedade rural e, ao mesmo tempo,
incentivaria a melhoria na qualidade de estradas ou outras formas de infra-estrutura pblica, o
preo da terra e a facilidade de escoamento e comercializao da produo poderiam ser maiores.
Nessa situao, segundo Dias-Filho (2005), o incentivo seria maior para a adoo de sistemas
que demandassem mais investimento de dinheiro e tempo, aumento da produtividade por rea e
diversificao de produo, como os SSP. Dessa forma, a adoo em maior escala de SSP no
processo de recuperao de pastagens degradadas, no estaria exclusivamente condicionada a
fatores tecnolgicos (e.g., escolha de espcies apropriadas), mas, principalmente, a fatores
econmicos, logsticos e sociais.
Dentro da perspectiva do produtor rural, benefcios constantemente atribudos aos SSP
como aumento da biodiversidade, conservao ambiental e seqestro de carbono teriam
importncia apenas marginal. Isso significa dizer que tais benefcios no seriam levados em conta
quando da deciso do uso da terra, ou da estratgia de recuperao de pastagens por esses
produtores. Esse fato deve ser levado em conta por todos aqueles que advogam o uso de SSP,
principalmente tcnicos e pesquisadores. Nesse sentido, a criao de polticas pblicas de linhas
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de crdito, que estimulem a implantao de SSP em pastagens degradadas, ou em reas ainda
produtivas, e o fomento de pesquisas cientficas e de difuso de tecnologia seriam essenciais para
incentivar o uso desse sistema. Outra forma realista de estmulo adoo de SSP seria o
desenvolvimento de polticas pelas quais os produtores fossem pagos pelos servios ambientais
que gerassem com o uso de prticas silvipastoris. Tal incentivo compensaria o nus financeiro
assumido pelo produtor e proveria a sociedade os benefcios ambientais advindos dessas prticas.
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