Pâmela Suélli da Motta Esteves
“A escola não é um lugar fácil... não mesmo!:
bullying, não-reconhecimento da diferença e banalidade do mal.”
Tese de Doutorado
Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação do Departamento de Educação da Puc-Rio.
Orientador: Prof. Marcelo Gustavo Andrade
Rio de Janeiro
Março de 2015
Pâmela Suélli da Motta Esteves
“A escola não é um lugar fácil... não mesmo!:
bullying, não-reconhecimento da diferença e banalidade do mal.”
Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação do Departamento de Educação da Puc-Rio do Centro de Teologia e Ciências Humanas da Puc-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Prof. Marcelo Gustavo Andrade de Souza Orientador
Departamento de Educação - PUC-Rio
Profª. Vera Maria Ferrão Candau
Presidente Departamento de Educação - PUC-Rio
Prof. Edgar de Brito Lyra Netto
Departamento de Filosofia - PUC-Rio
Profª. Nádia Souki FAJE-MG
Profª. Ana Canen
UFRJ
Profª Denise Berruezo Portinari
Coordenadora Setorial do Centro de
Teologia e Ciências Humanas da Puc-Rio
Rio de Janeiro, 18 de março de 2015
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a autorização da universidade, do autor e do orientador.
Pâmela Suélli da Motta Esteves
Licenciada Plena em História. Mestre em Sociologia Jurídica pela UFF, Mestre em Ciência Política pela mesma instituição. Foi bolsista pela CAPES em nível de mestrado e pelo CNPq em nível de doutorado. Elaborou parte da pesquisa de Mestrado em Sociologia Jurídica na Universidade de Cape Town (África do
Sul) em 2009. Desde 2011 integra o Grupo de Estudos sobre Cotidiano Escolar e Culturas (GECEC), sob a coordenação do Prof. Marcelo Andrade. De 2006 a 2008 foi professora da Educação Básica na rede privada do Rio de Janeiro. Em 2013/2014 foi professora substituta do Departamento de Ensino Superior do Instituto Federal de Educação de Surdos – INES. Atualmente, é professora adjunta do Departamento de Educação da UERJ- FFP. Dentre os trabalho acadêmicos é autora do artigo Multiculturalismo e bullying: Explorando interseções (2012).
Ficha Catalográfica
Esteves, Pâmela Suélli da Motta
“A escola não é um ligar fácil... não mesmo!: bullying, não-
reconhecimento da diferença e banalidade do mal.”/
Pâmela Suélli da Motta Esteves; Orientador: Marcelo
Gustavo Andrade de Souza, 2015.
268f; (color); 30 cm
Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
Inclui bibliografia.
1. Educação – Teses. 2. Bullying 3. Banalidade do mal. 4.
Teoria do Reconhecimento. 5. Cotidiano Escolar. I.
Andrade, Marcelo. II. Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro. Departamento de Educação. III. Título.
CDD: 370
Aos meus filhos: João Vitor, Pedro e Bernardo (gêmeos recém-nascidos) e aos meus alunos, verdadeiros protagonistas da minha
trajetória.
Agradecimentos Agradecer é reconhecer que sem a ajuda e a dedicação de alguns familiares,
amigos, professores e instituições essa tese não teria sido realizada. Por isso
agradeço:
Aos meus pais, que mesmo sem compreender o significado de uma tese de
doutorado sempre me apoiaram incondicionalmente e demonstraram orgulho
pelas minhas escolhas. Eu não teria chegado até aqui sem esse apoio.
Aos meus companheiros e companheiras do grupo de pesquisas (GECEC) que se
transformaram em verdadeiros amigos. Só tenho a agradecer pelas leituras
detalhadas, críticas sempre precisas, comentários valiosos e principalmente por
acreditarem em meu potencial.
Ao meu orientador, professor Marcelo Andrade, que me ensinou a aprender
através do exemplo e da tolerância. Muito obrigado pelas suas leituras detalhadas,
pelas revisões das revisões e por esses quase quatro anos de dedicação à minha
pesquisa.
Aos membros da banca: professora Vera Candau pelas leituras, críticas e
sugestões feitas desde primeiro exame de qualificação. Professora Nádia Souki,
que aceitou acompanhar minha pesquisa e me apresentou contribuições valiosas e
leituras fundamentais. Professor Edgar Lyra, pelas leituras e sugestões teóricas
que muito engrandeceram meus argumentos. Professora Ana Canen, por ter
aceitado fazer parte de minha defesa e contribuir para o desenvolvimento de
minha pesquisa.
Ao CNPQ e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não
poderia ter sido realizado.
Ao meu marido, Gilberto Gil Fidelis Gomes Passos. Agradeço por me ensinar a
cada dia a dar valor às minhas próprias conquistas. Agradeço pelo
companheirismo e por acreditar, confiar e insistir em meu potencial acadêmico.
Obrigado pelos muitos momentos em que você me ajudou simplesmente estando
ao meu lado.
Em especial, agradeço ao meu filho João Vitor pela elaboração das tabelas,
correção e ajustes na escrita, transcrição das entrevistas e pela sua compreensão de
adulto apesar de ainda ser um adolescente de 15 anos. Obrigado pelo carinho e
perdão pelos muitos momentos de ausência.
Resumo
Esteves, Pâmela Suélli da Motta; Souza, Marcelo Gustavo Andrade de. “A escola não é um ligar fácil... não mesmo!: bullying, não-reconhecimento da diferença e banalidade do mal.” Rio de Janeiro, 2015. 268p. Tese de Doutorado – Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
A presente pesquisa, um estudo de natureza qualitativa acerca da violência
escolar, teve como objetivo principal conhecer, interpretar e compreender as
relações entre pares permeadas por práticas agressivas que atualmente são
conceituadas como bullying. O estudo foi realizado em uma escola pública de
ensino médio da rede estadual do Rio de janeiro. Buscamos investigar a percepção
dos professores e dos estudantes acerca do bullying enquanto um tipo específico
de violência escolar. A principal hipótese da pesquisa é que os altos índices de
casos de bullying estão diretamente relacionados à dificuldade dos estudantes em
reconhecer e conviver com as diferenças culturais e identitárias que são
construídas e reconstruídas no ambiente escolar. Nessa perspectiva, para
compreender a motivação que está por trás das práticas de agressão investigamos
o bullying como uma intolerância em relação à diferença. Percebemos que a
intolerância à diferença é insuficiente para explicar a gravidade das agressões e
buscamos, além disso, investigar o bullying como um comportamento
maliciosamente banal, que se origina da incapacidade de pensar e refletir sobre o
significado e as consequências das ações. Tal incapacidade é resultante, entre
outros fatores, de um projeto moderno de sociedade que não valoriza uma
proposta educacional voltada para o pensamento e para reflexão. Considerando a
intolerância e a banalidade como expressões motivadoras e explicadoras do
bullying, utilizamos a Teoria do Reconhecimento de Charles Taylor e Axel
Honneth e o conceito de Banalidade do Mal de Hannah Arendt para fundamentar
nossa hipótese principal. Como procedimentos metodológicos, além de uma
extensa revisão bibliográfica, foram realizadas observações do campo, aplicação
de questionários e entrevistas semiestruturadas com 08 professores e 10
estudantes que se voluntariaram para a pesquisa. A pesquisa concluiu que os
estudantes conhecem o bullying e são afetados por esse tipo de violência, mas não
confiam na escola como instituição capaz de ajudá-los a enfrentar o problema. Os
professores sabem identificar os casos de bullying, mas não se preocupam em
compreender os motivos que levam a essa prática, quando muito se limitam a
pensar em estratégias de enfrentamento. A gestão escolar nega a ocorrência do
bullying e interpreta os conflitos e agressões entre pares como brincadeiras
rotineiras do cotidiano escolar. A pesquisa apontou também que a problemática do
bullying configura-se como um tema marginalizado e banalizado na escola.
Palavras- Chave
Bullying; banalidade do mal; teoria do reconhecimento; cotidiano escolar
Abstract
Esteves, Pâmela Suélli da Motta Esteves; Souza, Marcelo Gustavo
Andrade de. (Advisor). “The school is not an easy place ... not even!:"
bullying, non-recognition of difference and the banality of evil.” Rio de
Janeiro, 2015. 268p. Doctorate Thesis – Departamento de Educação,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
This is a qualitative study on school violence. This research aimed at
knowing, interpreting and comprehending the aggressive actions also known as
bullying that happen among peers. This work took place at a public high school in
the state of Rio de Janeiro. We intended to investigate the teachers and students’
perceptions concerning bullying as a type of school violence. Our hypothesis was
that higher rates of bullying actions are related to the students’ difficulties at
recognizing and dealing with cultural and identity difference that is built and
rebuilt in the school environment. In order to comprehend the motives that were
behind those aggressive actions, we investigated bullying as intolerance towards
difference. We perceived that intolerance to difference is not enough to explain
the severity of these aggressive acts. Thus, we investigated bulling as a
maliciously trivial behavior. The source of this kind of behavior is a result of the
inability to think and to reflect upon the meaning and the consequences of those
aggressive acts. This inability is also a result of a modern society project that does
not give the right value to an educational approach aimed at thinking and
reflecting. We considered that intolerance and the banality of evil as expressions
that motivate and explain bullying. We use the Theory of recognition by Charles
Taylor and Axel Honnet and the concept of banality of evil by Hanna Arendt as a
basis to our main hypothesis. As our methodological choices, we have had an
extensive literature review, along with field observation, questionnaires and semi-
structured interviews with eight teachers and ten students who volunteered. As a
conclusion to this work , we found that students know what bullying is, they know
the practice and they are affected by this kind of violence, however they do not
completely trust on their school asan institution that could be able to help them
face the problem. Teachers know how to identify the bullying cases, but they do
not mind comprehending the reasons that lead to those actions. At most, they
think of some strategies in order to face the problem. The school management
denies that bullying occurs and interprets these conflicts and aggressions as
routineplays that normally take place at school. This research also pointed out that
bullying is a sidelined and a trivialized theme at school.
Keywords
Bullying; banality of evil; theory of recognition; school routine
Sumário
1- Introdução 14
1.1- Casos exemplares 15
1.2- Por que reconhecimento da diferença, bullying e banalidade do 19 mal
1.3- Problema e questões de pesquisa 23
1.4- Objetivos 24
1.5- Hipóteses e apostas 25
1.6- Metodologia e procedimentos de pesquisa 27
1.6.1- Revisão da bibliografia 28
1.6.2- Observação do cotidiano escolar 29
1.6.3- Questionários 30
1.6.4- Entrevistas 31
2- Compreendendo o bullying 35
2.1- A construção de um conceito, causas e consequências 37
2.2- Conceituando o bullying 38
2.3- A tipologia do bullying 41
2.4- Conhecendo o comportamento bullying 44
2.5- O que dizem as pesquisas? 52
2.5.1- Bullying: obras de referência 54
2.5.2- Bullying: produção acadêmica em teses e dissertações 58
2.5.3- O que dizem as pesquisas macro-sociais 64
2.6- O bullying como uma violência escolar 68
2.6.1- Quem sofre; quem pratica e quem testemunha 71
3- Bullying: (não) reconhecimento da diferença e banalidade do mal 77
3.1- Taylor e Honneth: em busca do reconhecimento das diferenças 80
3.2- Arendt: o bullying como “banalidade do mal”? 91
3.3- Não reconhecimento e banalidade do mal 109
4- O Colégio Guarani: um espaço marcado pela pluralidade cultural 112
4.1- Bullying: quem são os estudantes do Colégio Guarani? 118
4.2- A vida escolar 123
4.3- As relações entre os estudantes na escola 129
4.4- As agressões na escola 136
5- Exemplaridade e reconhecimento: o que dizem os professores? 154
5.1- O processo de entrevistas 155 5.2- Os professores: quem são e como foram escolhidos? 157 5.3- Analisando as entrevistas: os professores e suas percepções 162
6- Agressores, vítimas e testemunhas: o depoimento dos pares 202
6.1- Os estudantes: quem são e como foram escolhidos? 204
6.2- Analisando as entrevistas: os estudantes e suas percepções 209
7- Considerações Finais: como educar para a diferença? 236
8- Referências Bibliográficas 247
9- Anexo 256
10- Apêndices 257
Lista de siglas
ABRAPIA: Associação Brasileira Multifuncional de Proteção à Infância e à Adolescência CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CNJ: Conselho Nacional de Justiça EF: Ensino Fundamental EJA: Educação de Jovens e Adultos EM: Ensino Médio FIDE: Fundação Itabirana Difusora de Ensino GECEC: Grupo de Estudos sobre Cotidiano, Educação e Cultura IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEB: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica INE: Instituto Nacional de Estatística IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LGBT: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros OMS: Organização Mundial da Saúde PeNSE: Pesquisa Nacional de Saúde Escolar PUC-RIO: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro SEEDUC - RJ: Secretaria de Estado e Educação do Rio de Janeiro SPSS: Statistical Package for Social Science UNIFESP: Universidade Federal de São Paulo