John White& O Assalto ao Banco
Lucas Zanella
Parte 1
Era uma noite nublada, fria e escura, Peter
vestia uma grande jaqueta cinza escura que lembrava
um tom marrom. Ele estava de pé, ao lado de uma
escrivaninha, fazendo anotações em um pequeno
caderno que carregava sempre consigo.
Sentado na cadeira junto à escrivaninha havia
um homem de cabelo levemente grisalho e calvo,
óculos redondos, orelhas grandes e com uma expressão
morta em seu rosto. Sua cabeça repousava sobre a
mesa de trabalho. Sua expressão morta se devia ao fato
de ele estar morto, é claro.
– Tiro direto na cabeça! – comentou Peter.
– Que horror – falei.
– Se chama assassinato, John – ele disse. – Devo
lembrar que já viu vários desses?
– É, tem razão, mas ainda assim..
Ele encarou as paredes.
– Câmera de segurança?
– Parece que nossos assaltantes escolheram o
momento certo para atacar, elas estavam desligadas, só
estava o gerente aqui no banco! – respondi observando
toda a cena do crime.
Outros policiais vasculhavam o local, incluindo
Elizabeth Brown, nossa nova perita, pois depois do
último incidente... bem, tivemos que procurar por um
novo. Eu realizara uma espécie de entrevista com
Elizabeth, ela era loira, sempre estava com seu cabelo
preso, seus olhos eram castanho-claro e usava um
óculos comum que pareciam desajustados, pois sempre
estava os colocando de volta no lugar. Mas acima de
tudo, ela não era uma ladra.
Ela se aproximara do corpo para fazer alguma
coisa forense que eu não tinha conhecimento, talvez
tirar as digitais.
Eu me posicionei alguns metros a frente da
mesa, tentando ter o mesmo ângulo de visão que o
assassino tivera. A mesa ficava consideravelmente
longe da porta de entrada, o que significaria que ou o
gerente do banco deixou o assassino entrar, ou não o
viu e foi pego de surpresa.
Eu apontava para o corpo com meus dedos
fazendo uma espécie de arma improvisada. Elizabeth
viu e riu da cena.
– Mais pra trás!
– Como? – perguntei.
– Se o assassino tivesse aí, a bala teria saído em
diagonal, mas ela veio reta até a testa do homem.
Havia uma leve elevação onde a escrivaninha se
encontrara, fazendo com que o piso onde os clientes
ficam seja mais baixo.
– Ah. Verdade, mas se ele tivesse ficado mais
longe, não poderia ter entrado pela porta principal,
mesmo que o gerente o conhecesse, ele teria chegado
mais perto e ele não poderia não ver o assassino
enquanto ele andava pelo banco inteiro.
– Isso eu não sei, só sei física e química, John, é
por isso que sou a cientista – ela disse.
– Touché – falei.
No outro lado do banco, Peter analisava uma
porta que dava para um corredor. Ela não ficava muito
longe de onde o assassino teria parado para atirar no
gerente, mas daria tempo o suficiente para que o
homem acionasse o alarme silencioso.
– Se ele entrou por esse lado... – ele falava
sozinho.
– Poderia não ter chegado perto do gerente? –
completei.
– Hã?
– Se ele entrou por esse lado, ele poderia ter
ficado aqui por perto, quando se tivesse entrado pela
principal, teria precisado chegar perto do gerente.
– Isso, exatamente, e também, a principal estava
trancada, ele teria que ter arrombado a porta e o
gerente ouviria, mesmo dormindo.
Me virei para trás e fiz uma leve observação na
mesa do gerente, onde vi a placa com seu nome,
Murray Vince, um grampeador, diversas canetas e
lápis, um computador antigo, um copo de água e uma
jarra de água ao lado dele.
– Liz – falei em tom alto –, examine o copo,
talvez tenha alguma droga que teria deixado o homem
desacordado.
– Ok! – ela gritou.
– Hum... É, é uma possibilidade – disse Peter.
– É... – retirei as luvas brancas que precisara
botar antes de entrar no local. – Quanto dinheiro foi
roubado?
– Eles ainda estão checando tudo.
– Vamos lá? – perguntei.
A sala do cofre era grande e muito segura, bom,
deveria ser segura. O cofre estava aberto, mas apenas
porque nenhum ladrão em um bom estado mental
pensaria em assaltar um cofre quando havia dezenas
de policiais entrando e saindo do local a cada segundo
que se passava.
Havia um policial olhando para alguns papéis e
fazendo uma expressão confusa. Ele falava sozinho.
– Estranho.... Mas então por quê... Hmm.
– O que aconteceu? – perguntei.
Ele me olhou estranhamente, como se estivesse
prestes a chamar algum outro policial para me retirar
do cofre, mas então reparou que usava um crachá que
me concedia acesso ao local.
– Não tem nenhuma quantia de dinheiro
faltando, é isso o que eu acho estranho.
– Quer dizer que o ladrão não roubou nada?
Talvez ele não estivesse aqui pelo dinheiro, então...
– Mas então pra que atirar no gerente? –
perguntou Peter.
– Talvez essa fosse a intenção desde o início,
matar o gerente.
– Qual poderia ser o motivo?
– Eu não sei nada sobre bancos, mas talvez ele
tenha reprovado algum investimento ou algo do tipo e
o cara ficou bravo com isso – arrisquei um palpite.
Peter concordou, então decidimos olhar os
últimos registros de transações realizadas pelo gerente,
o que nos decepcionou. Não havia nada de suspeito lá,
se havia algo, era um homem que simplesmente
distribuía dinheiro. Ou talvez essa fosse a parte
suspeita...
Robert, um dos outros policiais, nos avisara que
precisaríamos conversar com a mulher do gerente, o
que me deixou com calafrios. Antes, era sempre
Malbor que dava notícias ruins e fazia as perguntas
para os familiares, justamente porque eu não era bom
nisso, mas com ele de férias, só havia eu para realizar
tal tarefa. Por sorte, tinha Peter, embora ele não fosse
de grande ajuda. Na verdade, embora eu fosse terrível
com pessoas, ele conseguia piorar a situação.
– Sim, ele virou presunto! – afirmou ele para a
viúva.
– Ah, meu Deus. – disse levando minha mão à
testa para mostrar a decepção que sentia, ou talvez
apenas para me concentrar e tentar não rir do que ele
dissera.
A mulher começou a chorar mais fortemente.
Estávamos na casa dela, sentados em um sofá, ela
estava em um sofá ao lado, na sua frente havia uma
mesa de madeira escura repleta de panos que ela usara
para limpar suas lágrimas.
A decoração da sala fora toda feita por ela, era
óbvio, pois o papel de parede mostrava padrões com
flores rosas em um fundo amarelo caramelo com
padrões geométricos o preenchendo. Nenhum homem
em sã consciência escolheria aquele papel de parede
para a sua casa.
Na sala havia três sofás, uma televisão, vasos de
flores, uma janela grande e uma mulher chorando.
– Srª Vince... – disse – Eu sei que não é uma
boa hora para fazer tais perguntas, mas isso poderia
nos ajudar a descobrir o que aconteceu com seu
marido.
– Querem saber o que aconteceu com meu
marido? Ele levou um tiro na cabeça! – ela respondeu
raivosamente enquanto se levantava.
– Raiva – sussurrei para Peter, ela passava pelos
estágios da perda.
– Desculpe, você tem razão, é a melhor maneira!
– ela disse.
Perguntei para a mulher as perguntas básicas
que via serem perguntadas na televisão, pois não sabia
nem mesmo o que Malbor perguntava quando falava
com os entes da pessoa morta. Perguntas como “havia
alguém que desejaria fazer mal para o seu marido?” e
“você por acaso sabe de algum problema em que ele
poderia estar envolvido?”. Ela, surpreendentemente,
chorou todas as vezes que uma pergunta era feita.
Parte 2
Ela não nos ajudou em nada, continuávamos do
lugar onde paramos, sem nenhuma resposta. Quando
chegamos na delegacia raciocinando sobre o caso,
antes mesmo de sentarmos em nossas mesas, Robert
se aproximou rapidamente.
– Há outra vítima!
– Mas a gente já tá com o caso do gerente do
banco – disse.
– Mas a nova vítima foi morta com a mesma
arma que matou o gerente – anunciou o policial.
– A gente não conseguiu nem mesmo resolver
um homicídio e já tem outro – reclamou Peter, parecia
estressado.
– Quem foi? – perguntei para o homem.
– Melody Bloom – respondeu olhando para
uma ficha.
– Profissão?
– Desempregada – falou andando em direção à
saída, nós o seguimos.
– Casada?
– Sim, o nome do marido é... Harry Bloom.
– E o que as duas vítimas têm em comum? –
perguntou Peter.
– Até agora, só se sabe que foram mortas pela
mesma arma, nada mais.
Melody Bloom era loira, seus cabelos eram um
pouco cacheados, mas não diria que eram cacheados,
ela usava um batom vermelho forte nos lábios, assim
como uma saia curta e um rosto muito bem maquiado.
Ela foi encontrada caída em um beco pela manhã, o
resultado do laboratório só teria chegado poucos
minutos antes de descobrirmos sobre o gerente.
Foi fácil descobrir que as armas eram as mesmas
porque, tendo o resultado da anterior, só era necessário
comparar com a bala que passara no corpo do homem
para notar que eram as mesmas.
Melody estava ainda caída no chão, a perita
resolvera deixar o corpo no mesmo local para que
antes pudessem ser feitas as investigações necessárias.
– John White? – perguntou um homem que
vestia um longo casaco cinza claro.
– Sim. Você é...?
– Malcom Gollman, eu ouvi muito sobre você!
– ele disse entusiasmado.
– Gollman? Hah. Eu ouvi muito sobre você
também, é bom finalmente conhecê-lo! – apertei sua
mão com o mesmo entusiasmo.
Malcom ficara para trás, observando o corpo.
Peter e eu fomos para uma certa parte do beco, um
pouco longe dele.
– Quem é ele? – perguntei.
– Não faço a mínima ideia – respondeu.
O homem examinava o corpo com cuidado,
passando suas mãos por determinadas partes e fazendo
gestos, como se estivesse tentando movê-lo com a
força do pensamento. Claro que ele não conseguiu
mover o corpo dessa maneira. Ele apenas fazia isso
para que não realmente tocasse nele e destruísse
alguma espécie de evidência. Ele não usava luvas.
– Detetive novato – informei Peter. – Então,
Malcom, o que você descobriu? – perguntei me
aproximando dele e da mulher.
O detetive Gollman disse que não descobrira
muita coisa, mas que não entendia como podia ser
possível os dois homicídios estarem conectados, pois
as vítimas eram muito diferentes. “Não são as vítimas
que precisam ser iguais, é o assassino que precisa ser!”
eu disse para ele, que pareceu não ligar muito.
A mulher deitada no chão tinha seus cabelos
espalhados lá, parte dele não era mais loiro, e sim de
uma tonalidade ruivo forte. Isto é, havia sangue por
toda parte, era realmente uma cena não muito boa de
se presenciar.
Em sua mão, percebi que algo faltava.
– Ela não era casada? – perguntei.
– Sim – Malcom respondeu.
– Então cadê o anel dela?
Ele olhou perto do corpo, procurando pelo anel,
Peter perguntou para um policial se o pessoal da
perícia não havia levado nada da cena do crime, a
resposta foi negativa.
Me aproximei do corpo e observei o bolso de
uma curta jaqueta que ela vestia. A maioria estava
vazio, mas um deles parecia ter algo dentro.
– Com muito cuidado – disse enquanto
cuidadosamente retirava algo do bolso. – O anel, e...
Huh. Isso é estranho!
– Uma... camisinha? – Malcom surpreendeu-se.
– Pra que?
– Você não sabe pra que serve? – Peter brincou.
– Não. Digo, se ela já era casada e tinha uma
casa, pra que carregar uma consigo? Ela já deveria ter
em casa.
– Talvez ela tivesse ido comprar – Peter
arriscou.
– Ela teria comprado mais, e também não
precisaria ter tirado o anel de casamento para isso.
Meus caros, eu acho que isso significa que... – esperei.
– Problemas psicológicos? – Malcom deixou seu
palpite.
– Não. Ela tava traindo o marido! – respondi.
– Aah.
– E eu tenho uma ideia de com quem...
– Com quem? – ele perguntou.
– Com o gerente do banco que foi assassinado
com a mesma arma, Malcom!
– Aah.
– Me passa o celular dela.
Peter me entregou um saco plástico lacrado,
dentro dele estava o celular da mulher. Era um celular
antigo, o que facilitava para mexer nele sem precisar
retirá-lo do saco de evidência.
– Três ligações feitas para “MV” – relatei e
entreguei o plástico de volta para Peter.
– Esse seria o gerente? – perguntou novamente
Malcom.
– Sim, Murray Vince. Agora só precisamos
achar o Sr. Bloom.
Segundo relatos, ele havia desaparecido. A última vez
que os vizinhos viram Harry Bloom fora de sua casa
foi meses atrás. Nenhum deles avisou a polícia, pois
não tinham certeza de que ele realmente havia
desaparecido. Alguns até mesmo disseram que não
chamaram a polícia porque o prédio e a mulher dele
estavam melhores sem ele por perto.
Peter achou que eles estavam exagerando, mas
quando foi perguntado o motivo de tal opinião,
revelaram que Harry era muito ciumento e sempre
agredia Melody, seja fisicamente ou verbalmente.
Diariamente, ouviam-se gritos vindo do apartamento
36, o apartamento onde eles moravam havia pouco
mais de seis meses. Os vizinhos do casal mal
conheciam os dois, mas ficaram chocados quando
descobriram o que havia acontecido com Melody. A
primeira coisa que falavam ao ouvir era “Harry fez
isso!”.
Parte 3
Robert enviara para mim um retrato de Harry,
ele já passara um bom tempo na prisão por crimes
como roubo, agressão, destruição de patrimônio
público e até mesmo perturbação.
Ele tinha uma barba malfeita, cabelo preto curto
e encaracolado e olhos roxos. Ele se parecia com
alguém que você realmente não quer andar ao lado
quando está na rua à noite.
Nós fomos até o trabalho dele, ele era mecânico,
não um dos melhores, segundo seu patrão, mas
trabalhava bem o suficiente. Também não havia
aparecido no trabalho havia meses. Parecia que ele
havia se isolado do mundo, talvez estivesse
experienciando problemas nos últimos meses, e a gota
d'água foi descobrir que sua mulher estava o traindo.
– Não acredito que a gente se esqueceu de
procurar por ele no apartamento dele – disse para
Peter ao chegarmos frente a porta do apartamento.
– Eu não acho que ele vá estar aí.
– Se lembra do primeiro caso, o assassino? –
perguntei.
– Ah. Tudo bem, talvez ele esteja.
Não estava. O apartamento parecia um
chiqueiro, com sujeira e roupas espalhadas por toda
parte, mas ele estava vazio. Vazio por um bom tempo,
eu diria, o que era estranho, já que Melody ainda
morava com ele e tenho certeza de que mulher alguma
aguentaria viver naquele lugar. Sobre uma mesa, um
anúncio de uma pizzaria, o telefone estava ao lado.
– Será? – perguntei para Peter enquanto
observava o folheto.
– É um tiro no escuro, mas por quê não?
– Eu realmente espero que não, principalmente
sendo que ele provavelmente matou duas pessoas hoje.
Até mesmo Chucky esperaria algum tempo para
comer uma pizza.
– É aí que você está errado, John, pizza serve
para todas as horas – falou Peter como se tivesse feito
uma incrível revelação policial.
Fomos para a pizzaria cujo endereço era dado no
folheto e estava destacado à caneta. Mostramos a foto
para um dos atendentes, ele disse que o viu, Harry
Bloom passara lá alguns minutos atrás. O atendente
disse se lembrar do homem apenas porque ele era
esquisito e assustador demais.
Ele não estava sendo cruel ou exagerado, Harry
realmente era esquisito e assustador demais.
Não foi preciso uma grande investigação para
descobrirmos o paradeiro do assassino, sendo que ele
estava logo na frente da pizzaria comendo sua pizza,
mas do outro lado da rua.
Tentamos disfarçar, andar até ele sem levantar
suspeitas, sem o deixar amedrontado e fazer ele correr.
Infelizmente, me esqueci que Peter não era Malbor, e
que então vestia seu uniforme policial. O sr. Bloom
nos viu e saiu correndo, deixando sua pizza no banco.
– Por que eles sempre correm? – perguntei. –
Preciso começar a fazer mais exercícios porque é
correria demais!
– Só descobriu isso agora, John? – perguntou
Peter e correu atrás dele, eu o segui, mas mais
lentamente.
Ele correu pela calçada empurrando homens,
mulheres e crianças. Um dos homens que empurrou
caiu sobre a mesa de uma lanchonete que havia por
perto, eu me certifiquei de que ele estava bem antes de
continuar a perseguir Harry. Peter não parava de
correr, não parecia nem mesmo estar cansado, mesmo
tendo corrido mais de dez quarteirões.
Quando ele encontrou um beco e viu uma
grande grade a sua frente, pensei que fosse se render,
mas ele a escalou e saltou do outro lado. Peter fez o
mesmo.
– Nem com um milagre eu consigo escalar esse
negócio! – disse para mim mesmo e dei a volta na
esquina.
A cidade ainda era nova para mim, não a
conhecia muito, mas fiz o melhor possível para tentar
recriar o mapa das ruas em minha cabeça. Segundo
minhas especulações, eles deveriam estar perto de um
campo de golfe. Eu corri até lá.
Cheguei bem a tempo de ver Peter pulando
sobre Harry ao chegar perto. Ele se ajoelhou sobre o
assassino, tirou um par de algemas de seu cinto e
algemou o homem, que então foi puxado para cima.
Mesmo sem saber o que acontecia, aqueles que
estavam perto do campo de golfe aplaudiram. E se
Peter fosse apenas um maluco em um uniforme
policial?
Cheguei perto dos dois ofegante. Quando me
aproximei, me agachei e comecei a respirar fortemente.
Correr não fazia parte da minha rotina.
– Calma, John, não precisa se matar – Peter
disse.
– Cala... – respirei – a boca!
Ele riu. Harry tentara escapar, mas Peter
continuou o segurando pelas correntes que ligavam as
duas algemas.
– Eu vou ligar pra alguém da delegacia! – avisei.
– Diga para vir nos buscar com uma viatura, não
temos uma aqui.
– Tudo bem. – me virei para Harry. – E você,
mocinho, é alguém muito difícil de ser encontrado,
sabia disso?
– Essa era a intenção – respondeu. – E eu teria
conseguido, se não fosse por vocês, seus detetives
intrometidos.
– Cara, isso aqui não é Scooby-Doo – Peter
disse.
– Não é o que? – perguntou.
– Você não sabe... – falei. – Ok, ele com certeza
é o assassino!
Na sala de interrogação, Harry não cooperou muito.
Não tínhamos nenhuma evidência de que ele era o
culpado, embora tivéssemos certeza de que era. Se não
conseguíssemos nada dele, ele sairia livre de lá.
– É um caso sem saída – o delegado falou,
estávamos do outro lado do vidro, ouvindo a
interrogação.
– Se ao menos tivéssemos a arma, a gente
poderia tentar usar só isso no tribunal... – disse.
– Vocês tem certeza de que não está no
apartamento?
– Eu não vi nada lá, mas também não tava
procurando por uma arma antes, então pode ser que
esteja. Não prometo nada.
– Ok... – ele deu uma última olhada na cena. –
Vamos lá!
– Sério? – me surpreendi. – Hã, ok!
O delegado quase nunca participava de uma
investigação, e foi por isso que todos os policiais
também se surpreenderam ao ver ele saindo junto de
mim da delegacia.
Apenas ouvi um “Boom!”, era a porta do
apartamento sendo arrombada por Stuart.
– A gente não poderia ter simplesmente pedido
a chave pro dono do prédio? – perguntei ao entrar.
– Ah. É, teria sido mais fácil, sim! – ele falou
enquanto caminhava manco até um sofá.
– Eu vou checar o quarto – anunciei.
– Eu vou checar esse sofá aqui! – ele disse
enquanto deitava sua perna.
Os quartos estavam vazios e também
estrapilhados. Nada de arma, porém. Procurei dentro
de cabeceiras, debaixo da cama, do colchão, dentro do
armário e até mesmo debaixo dos travesseiros, tudo
limpo.
Sala vazia, quarto vazio, cozinha vazia...
– Deccappa! – gritei para ele.
– O que foi?
– Melhor vir ver aqui!
Ele chegou até mim mancando.
– Oh. Eu definitivamente não vou pegar essa
arma! – afirmou.
– Eu vou ligar pra Liz! – disse e Stuart me
encarou. – Pra.. Srta. Brown!
– Isso aí!
Do outro lado da linha, a voz de Elizabeth
parecia nervosa.
– John? – perguntou.
– Sim. Liz, nós achamos a arma.
– Isso é ótimo – comemorou. – Onde está?
– Na privada – eu disse. – Pode passar aqui,
nossa perita preferida?
– Eu sou a única perita – respondeu.
– Exatamente.
– Droga. – reclamou.
Com a arma dentro da casa de Harry e tendo a
prova de que as balas que mataram os dois saíram dela,
ele foi preso, embora não parecesse triste por ter que
passar o resto da vida na prisão. Ele parecia alegre, ou
quase isso, era como se ele soubesse que merecia estar
lá.
Quando percebi que tudo estava bem, fui para casa. Já
era tarde da noite quando tudo se resolveu. Eu estava
dormindo bem pra quem passou por tudo aquilo.
Após algum tempo em um estado dormindo-
acordado, comecei a ouvir passos dentro do
apartamento. Alguém estava se aproximando, mas
Will era o único que tinha a chave e ele não estaria na
minha casa às... três e meia da manhã, notei quando
olhei para o relógio.
Não podia esperar para invadir quando
amanhecesse?, pensei.
Ouvi a porta se abrindo novamente, alguém
entrou e então ela se fechou. Eram duas pessoas, não
só uma. Comecei a novamente ouvir passos, agora de
dois intrusos.
Eu já havia me levantado da cama e estava
andando silenciosamente, para que eles não ouvissem.
Nunca gostei de armas, então não tinha nada para me
defender.
Na verdade, eu tinha o taco de beisebol que meu
pai havia me dado anos atrás, quando ele me contou
que antes era um jogador. Eu só não sabia onde Will
havia colocado ele. Eu podia ouvir os passos mais
claramente, eles chegavam cada vez mais perto.
Sussurravam, mas não conseguia escutar o que
diziam.
Quando vi que um deles estava entrando no
meu quarto, me preparei para tentar segurá-lo.
Quando entrou, o segurei.
– Aaaah! – gritou o intruso – John, largue o
meu pescoço!
Percebi que quem estava falando era Will, e eu
o estava estrangulando.
– Will?! O que tá fazendo aqui a essa hora?
– Nós temos uma coisa para te dizer!
A outra pessoa que estava com Will era Peter,
ele estava rindo. Muito.
No mesmo instante em que eu larguei Will, o
telefone tocou.
– John? – disse uma voz trêmula do outro lado
da linha. – John, preciso de ajuda!
– Malbor? – reconheci. – O que aconteceu?
– É a Anna, John, ela foi sequestrada. Preciso
que vocês venham me ajudar aqui, já liguei para o
Peter e ele disse que estava indo na sua casa.
– Sim, ele e Will chegaram agora!
– Ele já está com as passagens. Venham o
quanto antes. Eu não sei o que fazer!
– Hã... Não se preocupe, nós estamos indo! Nós
vamos achá-la, Malbor.
Ele não estava apenas com a voz trêmula, mas
estava realmente desesperado.
– Bom – disse para os dois após desligar o
telefone –, parece que faremos uma viagem!