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Misso Integral
Pois no deixei de lhes anunciar todo o plano de DeusAtos 20.27 NTLH
Texto Anotaes
Prefcio
Durante os ltimos 20-25 anos, a Igreja Presbiteriana Independente do
Brasil (IPIB) tem adotado o qualitativo integral para descrever a sua
compreenso e ao missionria de modo abrangente e inclusivo.
1
Estaadoo representa uma preocupao de no restringir as reas de
atuao missionria. Entretanto at hoje, no h uma definio
especfica nem das atividades e nem dos conceitos que esta
integralidade abrange e inclui.
A necessidade de afirmar que a misso integral significa que na
prtica ela no concebida como tal. De acordo com Valdir
Steuernagel, o evangelho no precisa dessa expresso. Ela utilizada
por causa da dureza do corao, e, em virtude de fatores como: nossas
divises ideolgicas; nossas barreiras culturais, e porque no dizer, que
necessitamos dela para nos lembrar que para um envolvimento srio na
misso, preciso ouvir o evangelho como um todo; evangelho que nos
desafia e nos compromete a viv-lo integralmente, no nos permitindo
nos render a uma agenda da misso direcionada pelas exigncias do
mercado.
A afirmao de que a misso integral serve tambm para nos trazer
memria que o envolvimento na misso passa pelo crivo do
entendimento de que amor que se encarna, que se compadece, que
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Texto Anotaes
toma a iniciativa da aproximao na perspectiva da graa. Nesse
sentido, o outro passa a ser o prximo porque algum se aproximou
dele e assumiu a sua condio de sofredor, sem pedir nada em troca(Lucas 10.25-37). Para tanto, temos que estar dispostos a escutar as
vozes do mundo amado por Deus, pelo qual, enviou seu Filho. Isso
muito significativo, uma vez que, vivemos num mundo onde ecoam
vozes de dor, sofrimento, opresso, injustia e falta de solidariedade,
expressadas de maneira to dramtica nos lbios e nos coraes dos
proscritos, e no grito de socorro dos excludos.
Nos ltimos 3-5 anos, para auxiliar a compreenso da igreja em
misso, surge tambm uma reflexo em torno do conceito: missio
Dei.2 Os dois discursos, acerca da misso integral e acerca da missio
Dei, surtem efeitos ligeiramente distintos, mas complementares. O
primeiro ajuda a igreja a contemplar quais ministrios ou dimenses
faltam na sua ao missionria para que esta reflita todo o conselho de
Deus. O ltimo, ao distanciar a misso da igreja da misso de Deus,
ajuda a igreja a desconstruir e desmistificar os seus projetos, estratgiase metodologias missionrios e perguntar novamente como a igreja pode
adequar a sua misso de tal forma que exera melhor o papel que Deus
deseja para ela. Em ambos os casos, a igreja procura questionar,
ampliando ou at limitando aspectos da sua prtica no mundo e na
histria em que Deus a inseriu. Em ambos os casos, a inteno maior
no de sacralizar a compreenso e empenho atual da igreja, e sim,
ousar radicaliz-los para ser sal mais salgado e luz mais brilhante.
Misso projeto de Deus. Ele quem toma a iniciativa de salvar o
mundo manchado pelo pecado, separado dEle, com o objetivo de
estabelecer o seu reino neste mundo e sobre toda a sua criao. Faz
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Texto Anotaes
parte da concepo de muitos que a misso da Igreja, como se essa,
num sentimento de posse, usasse a Deus para a salvao do mundo,
quando na verdade, a misso de Deus, o qual concede Igreja oprivilgio de ser parceira na consecuo desse projeto. Sendo assim,
podemos afirmar que a misso de Deus tem uma Igreja, que segundo
David Bosch, passa de remetente para remetida, por estar a servio de
algum que maior do que ela.3 A misso de Deus cria e envia a Igreja
ao mundo, visando a transformao e salvao do mundo, a
implantao definitiva de seu reino de amor, justia, solidariedade, e
paz. Roberto Zwetsch da opinio que:
misso, diz respeito s relaes entre Deus e o
mundo(...) Vocacionada, [a igreja] co-
participante da prpria ao de Deus no mundo,
que visa salvar e libertar a humanidade. Sua
tarefa como enviada ver, ouvir, chamar,
orientar, ajudar e tornar-se solidria como parte
do testemunho daquela ao de Deus4
Para corrigir a concepo eclesiocntrica da misso, necessrio
avaliar o conceito da missio Dei (misso de Deus). Na missio Dei o
prprio Deus torna a Igreja um instrumento privilegiado de sua misso,
mas no a razo da mesma. Moltmann afirmou que no a Igreja que
deve cumprir uma misso de salvao do mundo, mas a misso do
Filho e do Esprito Santo mediante o Pai que inclui a Igreja. Sendo
assim, a Igreja no pode ser vista como fundamento da misso, e nemcomo objetivo desta. De acordo com Moltmann, a palavra final da
Igreja no a Igreja, mas a glria do Pai e do Filho no Esprito da
liberdade.5
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Texto Anotaes
Segundo David Bosch, a misso da igreja dever ser o servio a m issio
Dei, ou seja, representar a Deus no mundo, e diante do mundo, apontar
para Deus. Misso e Igreja s podem ser vistas juntas, comoinstrumentos de Deus, atravs dos quais ele realiza a sua misso.
Na opinio de Zwetsch,Deus no apenas envia e se torna enviado, mas
ele o prprio contedo do envio. Em cada uma das pessoas da
Trindade, Deus age por inteiro. Nessa forma de atuao, Deus nos
mostra como se faz misso.
Dois discursos: misso integral e missio Dei. Esta reflexo far uso
deste dois discursos. O ltimo, o conceito missio Dei, ajuda a definir
melhor o conceito de misso integral, que por uma questo
pedaggica, o fio condutor desta reflexo. Logo, o propsito desta
reflexo sugerir, de modo amplo e aberto, um conceito e as atividades
da misso integral da IPIB. No o propsito fechar o assunto e sim,
procurando um consenso geral, refletir sobre as diversas expresses
bblicas da atuao do povo de Deus frente ao mundo, e sugerir passos
inclusivos para a IPIB, em continuidade com esta histria antiga e a sua
histria mais recente, desempenhar com fidelidade e coragem a sua
vocao dentro do contexto brasileiro e mundial hoje.
O estudo a seguir comea com uma reflexo bblica e teolgica, avalia
a trajetria histrica da igreja, pondera diversos modelos de ao tanto
dentro da IPIB quanto fora e, finalmente, conclui com a identificaode alguns dos maiores desafios missionrios diante da IPIB hoje.
Reflexo Bblico-Teolgica
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Texto Anotaes
Comea-se com uma observao. Por um lado, a mera existncia da
Bblia como Palavra de Deus j um profundo dado missionrio: Deus
se revela ao ser humano com um propsito, isto uma incumbnciadada ao ser humao em relao a Deus, a criao e ao seu prximo. Por
outro lado e ao mesmo tempo, a Bblia tambm registro da interao e
reflexo missiolgica pelo povo de Deus da sua f e da sua
incumbncia em relao ao mundo. Logo, se faz necessrio ressaltar a
riqueza missiolgica da Bblia e reconhecer que sempre a sua
interpretaonunca uma tarefa conclusivapoder ser explorada
com melhor proveito dentro do contexto do povo de Deus em toda a
sua amplitude, sua diversidade cultural e sua extenso histrica.
Igualmente reconhece-se a limitao da nossa tarefa e da necessidade
de manter o dilogo entre as Escrituras e o povo de Deus sempre
aberto.
Mesmo reconhecendo esta limitao, a seguinte reflexo organiza-se
em nove partes:
1. a criao no Livro de Gnesis2. a chamada de Abrao no Livro de Gnesis3. o nascimento de Israel no Egito, no deserto, e no Monte Sinai
no Pentateco
4. o desenvolvimento, decadncia e esperana de Israel nos LivrosProfticos
5. o culto e a tica do povo de Deus nos Escritos6. o papel de Jesus como o missionrio (enviado) de Deus nos
Evangelhos
7. a expanso missionria da igreja no Livro de Atos8. a vivncia da igreja no mundo, nas Epstolas9. a nova criao no Livro de Apocalipse.
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Texto Anotaes
possvel desdobrar cada um destes temas e acrescentar outros, mas as
reflexes missiolgicas6 das ltimas cinco dcadas normalmente
incluem estes. Cada um destes temas ajuda a conceituar a missointegral da igreja como se v a seguir.
1.A criao: cuidado e bondade (Gnesis 1-11)Toda reflexo da Bblia como Palavra de Deus precisa dar conta da
organizao cannica geral que comea com a criao e termina com a
nova criao. A criao, este mundo e esta histria, no s estabelece o
palco da atuao de Deus entre o seu povo e todos os povos da terra,
mas tambm forma uma moldura para todo o relato a seguir. No
pano de fundo de outro enredo principal, e sim, origem e propsito
finais. No terceiro milnio, mais que nunca, o povo de Deus precisa
ponderar a sua misso de modo to abrangente que abrae a criao
toda. Tal tarefa precede e segue a sua tarefa evangelstica como a
incumbncia de todo ser humano. Antes de termos uma misso comopovo de Deus, temos uma incumbncia como gente e por isso a igreja
pode e deve procurar se juntar a todos os esforos humanos que
procuram o bem-estar ambiental.
1.1 Uma misso ecolgica. Nos relatos da criao no Livro de
Gnesis aprendemos que o destino e o bem-estar da criao esto
entrelaados com o destino humano. Descrevem o papel do ser
humano, fmea e macho juntos, como ligado ao cuidado e ordenao
proativos de todas as outras criaturas (captulo 1), que para isso, ele
prprio deve conhecer (nomeando) minusciosamente (captulo 2). A
histria do dilvio deixa claro que nem a queda anulou esta
incumbncia primordial da humanidade. Portanto, assumimos a nossa
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Texto Anotaes
humanidade legtima, em parte, na medida que assumamos esta
misso ecolgica da boa ordenao do nosso meio ambiente, no
apenas para o benefcio humano, mas acima de tudo, como a expressoda imagem de Deus e para que toda a criao na sua beleza e bem-estar
preste glria a Deus (Gnesis 1.27-31; Salmos 8, 19, 29, 65, 93, 95, 98,
104, 107, 145, 148). Ser gente ser agente no cuidado da criao. Ser
povo de Deus ser agente da redeno da criao. Este o mundo que
o profeta Isaas espera (captulo 11) e que o Livro de Apocalipse
anuncia, um mundo aonde a justia e a eqidade finalmente se
estabelecero o lobo e o cordeiro caminham juntos, e o leopardo e o
cabrito dormem no mesmo leito um espao e um tempo onde o mal
e o dano deixam de existir e finalmente o conhecimento da glria do
Senhor encher a terra como as guas cobrem o mar. importante que
a igreja mantenha a mira nesta sua origem e neste seu alvo final na
misso ecolgica.
Quanto a estas observaes escatolgicas, surge uma dvida comum: a
criao, conforme o relato bblico, no se destina destruio? Por que
perder tempo com o conservacionismo, se tudo vai para a fumaa? No
Novo Testamento, a viso apocalptica da criao no s pressupe o
seu julgamento (2 Pedro 3.1-12), como tambm e ultimamente a sua
renovao (2 Pedro 3.13; Apocalipse 21). Lemos que haver novos
cus e nova terra, uma viso que serve de paradigma e motivao para
a misso ecolgica da igreja.7 A redeno final da igreja, como a
incumbncia inicial da humanidade toda, se encontra intimamentevinculada a sua fidelidade no cuidado da criao (Romanos 8.18-25).8
1.2 Uma misso dentro da nossa histria e do nosso mundo. Tudo
isso significa que a esperana da igreja no uma esperana
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Texto Anotaes
ultramundana e extrahistrica.9 Uma missiologia que leva a srio o
papel criador de Deus, que age dentro da histria humana,
compreender o seu destino tambm dentro duma histria e dentro dummundo ainda em construo por Deus. No fomos criados para fugir
deste mundo e do nosso tempo, e sim, para redimi-los. At uma leitura
das mais superficiais das Escrituras repara esta proximidade, iniciativa
e propsito de Deus nas atividades humanas. A misso integral inclui
no s os diversos ministrios da igreja em relao ao seu prximo,
mas tambm integra este mundo todo criado por Deus e esta histria
toda guiada por Deus. A escatologia da misso integral uma
escatologia engajada no projeto de Deus para o mundo que ele prprio
criou e ainda redimir.
1.3. Uma misso cultural. Nos relatos da criao, parte importante da
misso ecolgica da humanidade de cuidar da criao uma
incumbncia cultural (mandato cultural).10 Isto , cabe ao ser humano
no s cuidar da criao, mas tambm se relacionar bem com o seu
prximo. A sua relao mais ntima entre homem e mulher e a criao
de famlias so o auge deste relacionamento e se destacam nos relatos
da criao. Tanto que o relacionamento da igreja com Deus e com
Cristo frequentemente recorre para a linguagem da relao
comprometida entre homem e mulher. Entretanto, lendo alm de
Gnesis 1-2, vemos que a incumbncia de se relacionar com o seu
prximo de maneira alguma se esgota no casamento, mesmo que aqui
se exemplifique melhor. Mas a misso cultural abrange toda aorganizao dos grupos humanos nas suas mltiplas dimenses
econmicas, polticas e culturais. Logo o desenvolvimento da cultura
como meio de expressar o relacionamento entre os seres humanos faz
parte da misso ecolgica.
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Texto Anotaes
1.4 Uma misso tica. Boa parte de Gnesis 1-11 fala do fracasso
humano em relao sua incumbncia dada por Deus, da mesma formaque boa parte do Antigo Testamento inteiro focaliza o fracasso do povo
de Deus em relao ao seu papel diante de Deus e diante do mundo.
Alis, em Gnesis 3-11, o fracasso humano aumenta e se intensifica
cada vez mais. Esta observao d muita sobriedade reflexo a
respeito duma misso integral. preciso computar o fracasso
humano e o fracasso do povo de Deus quando se contri uma noo de
misso dos dois. Desde o princpio, a misso se revela ultimamente de
Deus. Por isso distinguimos missio Dei de missiones ecclesiae. Temos
uma incumbncia, sim. Entretanto, se desenvolve em meio de fracasso
e frequentemente alheia ao plano de Deus para a sua criao. Se o
resultado da presente reflexo for apenas de parabenizar o bom
desempenho institucional da igreja, ento teremos fracassado
miseravelmente. As exortaes dirigidas para o povo de Deus
explicitamente em boa parte do Antigo Testamento (os Profetas
Anteriores e Posteriores) e tambm do Novo Testamento (as Epstolas,
Apocalipse 2-3) e implicitamente no restante da Bblia, nos empurram
sempre para uma auto-crtica.
Com o fracasso humano surge uma necessidade de reparo e
restaurao. O Deus que age na histria e no mundo o Deus que
resgata e que restaura. Com a queda j surge uma promessa, mesmo a
princpio enigmtica, de restaurao (Gnesis 3.15). Ao longo dasEscrituras, esta promessa de endireitar um mundo e uma humanidade
cados e aviltados ao divina, mas tambm envolve a participao
humana (Gnesis 12.3). Assim, junto com aqueda nasce a misso
salvadora de Deus e eventualmente a misso evangelstica. Esta
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Texto Anotaes
situao de malignidade dum mundo declarado bom, muito bom, e
abenoado por Deus (Gnesis 1.4, 10, 12, 18, 21, 25, 28, 31; 2.3) gera,
portanto, a necessidade de retificao. Desde o princpio e fundamental f bblica existe a preocupao pela tica, pela justia, e pelo
endireitamento deste mundo em todos os aspectos. Isto faz com que as
expresses religiosoas institucionais duma f tica o judaismo, o
cristianismo, e o islamismo sejam nicas entre todas as religies
mundiais pela sua preocupao essencialmente tica. E esta
preocupao precisa ser ressaltada em toda a atividade do povo de Deus
no mundo.
2. A chamada de Abrao e Sara: bno e eleio
(Gnesis 12-50)
O fracasso cada vez maior do ser humano em Gnesis 1-11 nos prepara
para a soluo de Deus a partir de Gnesis 12. Aqui, lemos da
chamada dum casal, Abrao e Sara, que formaram um povo grande,que por sua vez, exercer um papel principal no alcance das naes.
2.1 Uma misso participativa. Uma observao importante para
ampliar a noo de misso para uma medida mais integral possvel:
tanto na incumbncia dada ao ser humano na criao quanto na
eleio dum povo para levar adiante a tarefa inacabada de bom-i-
ficar ou bem-fazer ou abenoar o mundo (Gnesis 1.31; 12.3),
ambos os gneros humanos so inclusos como participantes iguais e
igualmente incumbidos. O homem, como macho e fmea, e os
ancestrais do povo de Deus, tanto Abrao quanto Sara, recebem
designada misso (Gnesis 1.27; 12.1-3; 17.15-22). Isso implica
tanto na luta de quebrar preconceitos de gnero na sociedade, quanto na
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Texto Anotaes
toda a Bblia porque serve de base para as demais promessas. To
importante era, que o apostlo Paulo considerou-a como o preanncio
do evangelho (Glatas 3.8).
2.3 Uma misso litrgica. Outra observao importante: misso no
antagnica, nem mesmo perifrica vida e ao culto do povo de Deus.
O culto j aparece na aliana abramica como o propsito final deste
trato de Deus com o povo especfico (Gnesis 12.7-8). A misso do
povo de Deus leva ao culto a Deus. O culto define o propsito ltimo
da misso como a misso d definio e sentido vida eclesistica. A
misso da igreja no mera subdiviso da sua vida, e sim, a sua
vocao essencial. Misso primordial na definio do povo de
Deus, mas no a sua finalidade ltima. O culto o .
2.4 Uma misso mundial e multicultural. A incumbncia dada a
Abrao e Sara, aos seus descendentes e ao seu descendente mantm,
por definio, a participao no povo de Deus sempre abrangente. A
sua bno meio para abenoar todas as famlias da terra. No se
cumpre at que povos de todas as etnias, povos e raas sejam includos
no povo de Deus (Mateus 24.14; 28.18-20). Esta caractristica de
misso vai ganhando destaque ao longo das Escrituras como veremos
em seguida. A igreja que limita a abrangncia da sua misso, ou em
termos tnicos ou em termos geogrficos, no percebeu a natureza
mundial e multi-tnica da sua incumbncia e se caracteriza mais pelo
provincialismo do que pela inclusividade inerente da sua misso.
3. O Egito e o Monte Sinai: libertao e aliana
(xodo Josu)
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Texto Anotaes
Se o primeiro livro do Pentatuco relata a chamada (eleio) dum povo
para Deus, os outros quatro elaboram a sua formalizao (aliana).
Aqui lemos de trs principais eventos: a sua libertao da opressoegpcia, a sua peregrinao no deserto, e o estabelecimento da aliana
no Monte Sinai. Tambm lemos de duas grandes instituies deste
povo: o culto e a lei.
Na libertao, aprendemos que Deus age dentro da histria humana,
que a justia sua marca, e que ele age na histria tanto atravs da
humanidade quanto poderosa e independentemente dela. Na
peregrinao, aprendemos que seguir Jav significa passar por deserto,
exige f e dependncia de Deus que o nosso sustento suficiente, e que
temos um destino adiante. Na aliana sinatica, aprendemos que o povo
de Deus, mesmo chamado parte dos outros povos, novamente, como
no chamado de Abrao, encontra a sua vocao em favor dos povos:
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a
minha voz e guardardes a minha aliana,ento, sereis a minha propriedade peculiar
dentre todos os povos; porque toda a terra minha; vs me sereis reino de sacerdotes
e nao santa. So estas as palavras quefalars aos filhos de Israel. (xodo 19.5-6;cf. 1 Pedro 2.9)
Sua misso seria de dependncia total e diria de Deus (como no
deserto) que as instituies da lei e do culto elaboram e especificam.
Mais uma vez, as instituies do povo de Deus servem a um propsito
maior, um propsito missionrio em favor dos povos e ultimamente
um propsito de glorificar a Deus. Misso na experincia do xodo,
do deserto e da aliana se caracteriza pela libertao da opresso, pela
justia de Deus, pela ao de Deus na histria humana (missio Dei),
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Texto Anotaes
pela intercesso incessante, pelo culto e pela tica do povo de Deus.
Nisto, os conceitos de misso elaborados at aqui so reforados e
adiantados.
So adiantados especificamente pela emergncia e desenvolvimento
das instituies da lei e do culto. A lei, por sua vez, abrange toda a vida
do povo de Deus, e ainda leva em conta a incluso do estrangeiro e o
tratamento justo dos rfos e vivas. Integralidade est no corao do
conceito da vivncia do povo de Deus. Tambm o alvo mundial e
multi-tnico do culto se estabelece logo no princpio da aliana mosaica
pela especificao vocacional dos agentes do culto (sacerdotes) que
intercedem a favor de todos os povos (xodo 19.5-6; cf. 1 Pedro 2.9).
Nisto, entendemos que a integralidade da misso se refere no somente
diversidade de ministrios que a igreja exerce em relao ao mundo.
Tambm implica na amplitude do alvo destes ministrios no alcance de
todos os povos, todas as raas, e todos os grupos sociais no mundo
todo.
4. O reino:julgamento e misericrdia (Os Profetas)
Se o papel missionrio do povo de Deus encontra maior definio no
Pentatuco, nos Profetas13 a nfase est cada vez mais no seu
descumprimento, o subseqente julgamento de Deus, e a promessa da
misericrdia e libertao vindouras do Deus justo, poderoso e ntegro.
Tambm, se a figura de Abrao domina o Livro de Gnesis, e a figura
de Moiss domina o resto do Pentatuco, a figura de Davi e do seu
descendente que recebe bastante destaque nos Profetas e nos
Escritos.
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Texto Anotaes
4.1 Uma misso de servio. Notrio entre as promessas o
cumprimento do papel missionrio dum descendente da Eva (Gnesis
3.15), de Abrao (Gnesis 12.7; 13.15; 15.18; 17.7; 22.17); de Moiss(Deuteronmio 18.15-18) e de Davi (2 Samuel 7.12-17; Salmo 72) e
assim, o cumprimento do mesmo papel do povo de Deus (Isaas 42.6;
49.6; 51.4). O Servo um descendente fiel de Deus e servo tambm o
seu povo. A misso de servio e de seguir o modelo dum Santo que
Deus revelar para cumprir os seus propsitos para todas as naes do
mundo. A misso tambm, ainda tem a ver com libertao, justia e
eventualmente a remoo das nossas iniquidades (Isaas 53). nos
Profetas, especialmente em Isaas, que aprendemos que a misso do
povo de Deus, acima de tudo, seguir a misso do prprio Deus e
assim cumprir o destino do ser humano, criado a imagem do seu
criador, isto , o destino de ser o seu representante neste mundo e nesta
histria.
4.2 Uma misso escatolgica. Nas Escrituras todas, Deus se revela
como o Deus que age dentro e atravs da histria. Repetidas vezes
lemos que o fracasso do povo de Deus no impede o avano dos
propsitos de Deus na histria, mesmo que Deus o convide a ser o seu
agente de transformao no mundo. Nos profetas, uma das ilustraes
mais notrias deste missio Dei a histria de Jonas. A sua
desobedincia no impede o alcance da misericrdia de Deus para os
ninivitas. E a parbola do verme que fere a planta que d sombra para
Jonas ilustra como o povo de Deus se preocupa com coisas que no soimportantes e pouco lidamos com a vida dos outros que de suma
importncia para Deus. Por trs destas e outras narrativas profticas
est o Deus que avana o seus propsitos, ora por meio do seu povo,
ora, apesar dele.
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Texto Anotaes
4.3 Uma misso proftica. No Antigo Testamento so os Profetas
Posteriores que mais destacam a dimenso crtica e denunciadora damisso, tanto que a qualificativa proftica no meio cristo j adquiriu
esta conotao abrasiva. Esta misso uma faca de dois gumes. s
vezes a critca dirigida injustia e idolatria das naes14. Mais
frequentemente dirigida injustia e idolatria do povo de Deus.15
Quando a injustia dentro do povo de Deus se manifesta, abafa toda a
barulheira do culto (Ams 5.23).
5. O culto e a cultura:fidelidade e comunicao (Os
Escritos)
Assim chegamos aos Escritos, comumente negligenciados em relao
sua contribuio missiolgica. Aqui, entretanto, destacamos duas lies
de tremenda relevncia para a idia de misso integral.
5.1. Uma misso contextualizada. Primeiro, especialmente a literatura
sapiencial, mas tambm os Salmos, estabelecem uma postura de
abertura e dilogo entre o povo de Deus e o mundo. Isto ocorre pela
frequente incluso de metforas e ditados estrangeiros dentro deste dois
tipos de literatura. Os Escritos oferecem um modelo importante para
uma avaliao essencialmente positiva da cultura. Como Deus se
encarnou para nos alcanar, a igreja adota uma postura otimista na sua
busca de aproveitamento de elementos culturais para conduzir o seu
culto e para expressar as verdades da vida diria.
Isto uma importante qualificao da postura de confronto que
encontramos frequentemente nos Profetas. Misso implica num
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Texto Anotaes
dilogo entre igreja e sociedade, no um dilogo que abre mo do
senhorio e soberania do nico Deus, mas um dilogo que mesmo assim,
busca as verdades num mundo criado por Deus e impressas em todos ospovos, por serem criados imagem e semelhana de Deus, mesmo
procedentes de outras religies.
Misso como dilogo, embora no abra mo da senhorio do nico
Deus, mantm uma postura essencialmente de boas-novas dum Deus
que se revela ao ser humano dentro do seu contexto e da sua cultura.
Logo, no cabe uma postura proselitista com suas ms-novas dum Deus
que somente se revela dentro da cultura crist predominante, e no em
todas as culturas que, por serem humanas, refletem algo da imagem e
semelhana de Deus.
5.2. Uma misso que chama para o culto. Segundo, os Escritos, em
especial, os Salmos, nos ensinam que misso envolve poesia e msica.
Misso e culto, de fato, so dois lados da mesma moeda. A liturgia que
agrada a Deus no aquela que afaste os diversos povos e sim, que os
atraia. No s atrai os povos como tambm a criao toda no louvor e
adorao a Deus, Jav. Misso, portanto, no apenas irao encontro
das naes (movimento centrfugo), mas tambm atra-las ao culto e
adorao a Deus (centrpeto). Assim, somos lembrados que a nossa
misso, por mais que ela nos defina, no ltima. ltimo o culto a
Deus. Misso a maneira de chegar no que ltimo, encher a terra
com o conhecimento da glria do Senhor. Misso, logo, que maisorienta o nosso culto, e o culto a Deus a razo da nossa misso.
6. Jesus: cumprimento e modelo (Os Evangelhos)
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Os escritores do Novo Testamento, a igreja primitiva e ns entendemos
que o Servo de Deus Jesus (Atos 3.24-26; Romanos 15.8-9; Hebreus
1.1-4). Ele o cumprimento das promessas feitas por Deus aos pais(Abrao, Moiss e Davi) e modelo para a igreja.
6.1 Uma misso segundo o cumprimento por Deus (missio Dei).
Jesus cumpriu as promessas de Deus para Abrao, para Moiss, e para
Davi. As promessas paraAbrao so de abrangncia nacional e
internacional e correspondem aos dois imperativos de ser povo de
Deus, e de abenoar as naes. Estas promessas se aplicam ao patriarca
e sua descendncia, esta ltima se referindo ao povo de Israel e
tambm a um descendente individual, fiel, e real que abenoar todos
os povos do mundo.
As promessas paraMoiss, semelhantemente assumem as mesmas duas
dimenses, externa e interna. S que a natureza condicional da
promessa e a incumbncia de obedincia por parte do povo de Deus se
formaliza atravs da lei e do culto. E a lei e o culto sero duas reas
crticas para avaliar a obedincia de Israel. Fracasso nestas duas reas,
atravs da injustia moral e social em relao lei, e atravs da
adorao de outros deuses em relao ao culto, constituiram a
decadncia de Israel e a quebra, da sua parte, da aliana com o Deus
Supremo.
As promessas paraDavi se apresentam como um desdobramento daspromessas anteriores. So de natureza qualitativa e quantitativa. Isto ,
o reino do descendente de Davi ser qualitativamente de justia e
eqidade e ser eterno. Quantitativamente as promessas, por um lado,
se estreitam atravs do remanescente at a figura messinica. Por outro
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Texto Anotaes
lado, se alargam na medida que o Israel fiel e o servo fiel e real sero
luz para as naes. Desta maneira, as promessas empareladas de bno
para a nao e bno para os povos da terra se realizaro.
Jesus Cristo cumpriu as promessas de Deus para Abrao16, para
Moiss17, e para Davi18. Assim, estabeleceu a inaugurao duma nova
criao, de bno para todas as naes, e do governo de Deus.
6.2 Uma misso segundo o modelo de Jesus. Sua mensagem, seu
ministrio, sua crucificao e sua ressurreio, todos, so
paradigmticos para a misso da igreja (Joo 20.21). Sua mensagem
que exige arrependimento, oferece perdo, e anuncia que o dono deste
mundo Deus e no os senhores deste mundo tambm a mensagem
missionria da igreja (Marcos 1.14-15; cf. Atos 2.38; 3.19, 25-26;
4.12). Seu ministrio trplice de cura, libertao e proclamao o
mesmo ministrio missionrio da igreja (cf. Atos 2.43; 3.1-10; 5.12-16;
8.7; 9.32-42; 14.3, 8-10; 16.16-19; 28.8-9). At mesmo a sua
crucificao e a sua ressurreio so paradigmticos para a vida
(Romanos 5.17; 6.8-11; 8.11) e para a misso da igreja (1 Corntios
1.18-25; Colossenses 1.24). Ser criado imagem semelhana de
Deus, para a igreja, toma uma dimenso mais especfica que a
dimenso original para a humanidade toda. Significa imitar, ouseguira
Jesus. Assim como o Pai me enviou, eu vos envio (Joo 20.21).
Urge uma ao missionria da igreja que segue o padro destes trsaspectos do modelo de Jesus: sua mensagem, seu ministrio e sua
crucificao e ressurreio. Assim uma misso integral procura emular,
pelo presena do Esprito Santo na sua vida, a prpria presena de
Cristo, e sua misso reflete o cerne da missio Dei, isto ,solus Christus,
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como o princpio protestante mestre (principium theologiae) dos outros
trs gritos:sola Scriptura,sola fide, esola gratia. Procurar-se dispor
missio Dei significa assumir a postura radical de refletir a missioChristi, de novo, na sua mensagem, no seu ministrio, e at mesmo na
sua crucificao e ressurreio. Consideremos primeiro a sua
mensagem de arrependimento, do perdo e do anncio da chegada do
reino de Deus.
O reino de Deus um conceito teolgico central para uma teologia
da misso, e, conseqentemente, para o entendimento da misso como
sendo integral. Falar em reino de Deus afirmar que Deus reina,
governa a criao e a histria. Georg Vicedom denomina o reino de
Deus como sendo o senhorio de Deus. Para Zabatiero, o reino o
projeto histrico de Deus que pretende estabelecer uma sociedade
perfeita, sem injustias ou sofrimentos. O reino , portanto, o smbolo
que expressa a ao de Deus no mundo, hoje e no futuro. Este smbolo
marcado por uma dupla dialtica: entre presena e futuridade e entre
ao humana e ao divina. Simultaneidade de presena e futuridade
do reino de Deus numa tenso dialtica.19 Crer que o reino , a um s
tempo, presente e futuro passa pela compreenso de dois aspectos, ou
seja, primeiro, que em Jesus e no seu ministrio o reino entrou para a
histria e ainda hoje se manifesta no mundo; e, o segundo, o de que o
mesmo reino aguarda, na histria ou alm dela, uma consumao onde
alcanar a plenitude. Entretanto, presente e futuro so caractersticas
formais do reino. O que importa o que o reino.20
H um projeto histrico de Deus para a humanidade, e isso se enquadra
na reflexo que Zabatiero faz utilizando-se dos textos profticos de
Isaas 11.1-6 e 65.17-25. Quem no deseja uma sociedade perfeita?
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naquele Jesus, sem fora, falando de paz, demonstrando poder atravs
do servio, Deus estabeleceu seu reino no mundo. Jesus mostra atravs
de sua prtica, o modo de ser do reino de Deus. As atitudes de Jesusconstituem sinais do reino, pois atravs delas Deus restaura e promove
a vida das pessoas. Deus se faz presente na cura dos enfermos, na
ressurreio dos mortos, no anncio do Evangelho aos pobres (Lucas
7.18-23).
Tendo o reino de Deus como paradigma, a prtica crist deve nos tornar
aliados no que Ele j est fazendo, tornando-nos seus instrumentos para
construo de um mundo melhor. Para tanto, precisamos estar atentos
sua maneira de agir na histria. Nesse sentido, os sinais do reino como
sendo as manifestaes da ao divina no mundo precisam se fazer
presentes nas nossas vidas. Nessa perspectiva a Igreja tem a
responsabilidade de manifestar o reino por meio da unidade, diaconia
solidariedade, ao social, ao poltica e atravs da pregao do
Evangelho.
6.3 Uma misso universal. Jesus tambm tira qualquer dvida de que
os propsitos de Deus e a incumbncia do seu povo somente se
realizam quando atingem toda raa, toda classe social, e toda etnia
neste mundo. Como Jesus quebrava barreiras no exerccio do seu
ministrio, a igreja jamais poder se contentar com um enfoque no
status quo, mas profeticamente segue os passos do seu Senhor ao
anunciar que a mesa do banquete escatolgico est posta e os excluidospela sociedade sero os primeiros convidados.
6.4 Uma misso transformadora. Somos enviados segundo o modelo
de Cristo (Joo 20.21)! Qual foi a vocao missionria de Jesus, ento,
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que imitamos? uma misso que segue a tradio proftica de
priorizar os pobres e trazer a justia de Deus especialmente aos mais
injustiados (Lucas 4.18-19). Acima de tudo, um misso de servio eno de dominao (Joo 13). Esta postura no pode ser ultrapassada
quando a igreja contempla a grande comisso dada por Jesus (Mateus
28.18-20; Lucas 24.44-48; Atos 1.8), se no, corre o perigo de se
transformar em programa triunfal e conquistador, uma caracterstica
que trgicamente acompanha a histria da igreja e que precisa ser
constantemente denunciada. A cruz mais que um enfeite cristo.
paradigma do nosso discurso (1 Corntios 1.18-25) e da nossa ao.
No s assumimos a via crucis como estilo do discpulado (Marcos
8.34-38), mas aceitamos o sofrimento em prol do evangelho como
tambm meio de efetuar o resgate por Deus da sua criao (Romanos
8.18-25) e meio pelo qual construimos a igreja (Colossenses 2.24).
Existe uma tenso entre a nfase no evangelho que prioriza a converso
a partir de uma esperana apenas futura, que no considera a
necessidade de edificao de um mundo melhor e mais digno no
momento presente; e a que enfatiza um evangelho que no possui
vnculo algum com o transcendente, ou seja, sem verticalidade,
converso a Cristo, discipulado e temor. So duas posies extremas. A
primeira se preocupa apenas com o que est alm mundo, com forte
nfase na salvao futura das almas (salvao eterna), quando a vida
presente se resume numa separao do mundo e numa preparao para
o que est por vir, sem nenhuma preocupao com os problemassociais, polticos, ecolgicos etc. a dimenso que considera que a
vida depois da morte mais importante do que a vida que vivemos aqui
e agora. O outro extremo o da preocupao exclusiva com os
trabalhos de promoo humana, e transformao de estruturas sociais,
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polticas etc. Falta a compreenso de que uma dimenso sem a outra,
torna-se excludente e no contempla a dimenso integral do reino de
Deus, relacionado a um preceito importante da teologia da missointegral da Igreja; o Evangelho todo, para o ser humano todo, para
todos os seres humanos.
preciso incentivar a Igreja a no se contentar em contar almas,
visando apenas o crescimento numrico, mas entender que a tarefa que
ela possui, continua enquanto o pecado se manifestar na vida humana,
atravs da opresso, do racismo, das falsas religies, das estruturas
scio-econmicas injustas, das rupturas familiares, das drogas, da
imoralidade, e das corrupes.24 Sendo assim, podemos entender que a
misso se constitui pela luta contra o pecado na sua forma mais ampla;
o pecado que prende o ser humano no seu egosmo, no seu
individualismo, na sua ganncia, e na sua alienao.
6.5 Uma misso de mltiplas interpretaes. Os Evangelhos nos
deixam com uma ressalva a respeito da tarefa de interpretar a nossa
misso. Quatro testemunhos que refletem as quatro personalidades dos
seus quatro autores e as quatro situaes das suas comunidades
eclesiais no nos permitem falar da nossa tarefa de modo nico e 100%
consensual. Diversas interpretaes no implicam no comprometimento
da revelao divina, e sim, estabelecem a necessidade da multiplicidade
das nossas vises. No que no haja concordncia e unanimidade
substanciais entre os quatro Evangelhos, apenas que os saboresdistintos de cada um so paradigmticos para o nosso pensar
missiolgico. Uma vez reconhecido este papel da existncia de quatro
Evangelhos, reparamos semelhante fenmeno ao longo das Escrituras:
diversos relatos da criao, diversos livros de lei, diversos relatos
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histricos de Israel, diversos livros profticos, epstolas de diversos
autores com suas perspectivas peculiares e diversas intenes e
posturas pelo mesmo autor entre suas diversas epstolas. Buscamos aunidade da f e a concordncia. Ao mesmo tempo, englobamos
perspectivas que divergem da perspectiva peculiar de qualquer um.
Assim espelhamos a universalidade do alvo missionrio de levar todos
os povos, raas e naes a cultuar o nico Deus.
7. O nascimento da igreja: compromisso e expanso
(Atos)
Provavelmente nenhum outro livro bblico mais procurado que o
Livro de Atos como referencial para a misso da igreja. Ele nos conta
da expanso da igreja e do seu comprometimento com a f nascente.
Embora seja necessria cautela na aplicao das suas prticas no nosso
tempo, nem por isso deixa de fornecer desafios ao nosso empenho. O
Livro de Atos nos deixa com uma dupla impresso: a misso sedesenvolve de maneira soberana e sobrenatural pelo poder do
Esprito Santo; e ao mesmo tempo avana pelo esforo sacrificial,
mesmo que falho, do povo de Deus, e especialmente de alguns
vocacionados especficos.
7.1 Misso como expanso estratgica. Por um lado, a misso avana
pela atuao do Esprito na vida da igreja e dos apstolos. Em cada
nova fase de expanso, o Esprito se faz presente por meio de sinais e
prodgios (2.3-13; 8.15-17; 10.44-45; 18.24-28). E o Esprito possibilita
a intrepidez no anncio do evangelho (4.1-31; 6.5, 10, 55; 12.11-12;
28.31; cf. Efsios 6.19; Tito 3.13). H grande esperana de que o
conhecimento da glria do Senhor, de fato, no decorrer da histria,
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encher a terra como as guas cobrem o mar (Habacuque 2.14). E h
nfase em expanso e o estabelecimento constante de novas fronteiras.
Nesta expanso em Atos, algumas estratgias comeam a se
desenvolver. Acima de tudo se destaca o papel da orao como a
postura normal e mais comum da igreja (1.14, 24; 2.42; 4.23-31; 12.5,
12; 13.3; 14.23). Junto com a pregao, a orao a atividade mais
comum dos apstolos/missionrios (3.1; 6.4, 6; 8.15; 9.11; 10.9; 11.5;
16.13, 16, 25; 21.5; 22.17; 28.8). A recomendao de Paulo para que a
igreja ore em todo o tempo no Esprito (Efsios 6.18), diante do
relato do Livro de Atos, s nos parece extraordinria porque no reflete
mais a atividade mais comum da igreja. A suprema estratgia da igreja
em misso a orao pela atuao de Deus atravs do seu ministrio.
No caso de Atos e das Epstolas, as estratgias conseqentes da orao
incluem o enfoque nas cidades principais do imprio, a promoo de
igrejas autctones pela transferncia rpida do poder decisivo para
lderes locais (20.28-31), e a identificao de pessoas chaves, como
Cornlio, Ldia e outros, para a implantao da igreja.
7.2 Misso como esforo e sacrifcio. Por outro lado, a misso em
Atos avana em meio de perseguio e grande sacrifcio (5.17, 40-41;
12.3; 14.14). O ltimo tero do livro inteiro (cap.s 21-28), o mesmo
tanto que relata as viagens missionrias de Paulo (cap.s 13-20),
focaliza o aprisionamento e a defesa de Paulo diante de diversas
audincias! A histria no nem somente e nem principalmente depoder e glria. uma saga de muito esforo humano, de lutas, de
desistncias (13.13) e de portas fechadas (16.6-7).
Enquanto o Livro de Atos descreve a igreja toda como uma
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comunidade missionria, tambm destaca o papel de algumas pessoas
vocacionadas em particular para o avano do evangelho e o
estabelecimento de novas comunidades de f. Lemos logo do papelmarcante de Pedro no incio desta caminhada (1.15; 2.14; 4.5-13; 5.1-
11; 8.14). Frequentemente Joo o acompanha. Tambm lemos
narrativas inspiradoras de Filipe e Estevo (6.8; 8.5). Mas quem acaba
predominando a histria que Lucas nos traz o apstolo Paulo. Surge
como principal opositor e se revela como principal defensor e maior
articulador do movimento. Os Evangelhos e as cartas dos outros
apstolos evidenciam o esforo e cuidado destes outros apstolos para
o leste e para o sul. E mesmo que Paulo predomine no olhar de Lucas
no Livro de Atos, Lucas o descreve como quem sabia dividir o seu
trabalho com outros obreiros capazes como Barnab (13.2), Silas e
Judas (15.22), Joo Marcos (12.25), e Priscila e quila (18.2). Mas
pelo testemunho de Paulo, havia mais parceiros ainda (Romanos 16)!
Eram seus amigos, seus parentes e seus co-obreiros. At mesmo as suas
cartas, em sua maioria, ele no escreve sozinho. A misso envolve mais
do que a igreja toda, avanando tambm por vocacionados especficos,
mas o missionrio nunca trabalha sozinho. Sempre desenvolve o seu
ministrio no colegiado duma equipe. Quando a igreja desenvolve o seu
ministrio por equipes, espelha a prpria trindade.
8. A vida da igreja: acertos e desacertos (As
Epstolas)
As Epstolas preenchem uma lacuna deixada pelo Livro de Atos ao
apresentar-nos a vida diria das igrejas nascentes com os seus acertos e
desacertos. Os seus problemas e desafios so to variados quanto o
nmero das cartas e demonstram que contextos diferentes e grupos
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sociais diferentes exigem tratamento diferenciado. No existe um
manual definitivo de como fazer a misso da igreja. Ao invs disto,
existem instrues de como no faz-la.
8.1 Misso como re-comprometimento. Tambm a mensagem
incessante das Epstolas nos deixa sbrios. Aqui aprendemos que a
misso ocorre em meio de mal-compreenso, desobedincia, e
necessidade de re-comprometimento. Urge uma postura constante e
ousada pela igreja de sempre se reformar. Aqui, o anncio de
salvao e o chamado para revestir-se do novo homem. Enquanto o
Livro de Atos descreve a igreja em pleno crescimento numrico e de f,
as Epstolas deixam igualmente claro que a igreja precisava
constantemente crescer tambm em sua profundidade e na sua
transformao social. De outra sorte perde as suas qualidades de sal e
luz (cf. as cartas s sete igrejas de Apocalipse). Um crescimento
integral envolve engajamento no servio (diaconia) e investimento na
educao e capacitao dos seus membros para o exerccio dos seus
ministrios (Efsios 4.12-13)
8.2. Misso como pastoral. O maior missionrio da igreja primitiva,
Paulo, no Livro de Atos, plantava igrejas. Nas suas prprias cartas,
desenvolve o trabalho pastoral! Nem menciona a grande comisso
(mas veja Romanos 10.14-15; 2 Timteo 4.2). O que faz deixar o
modelo do seu ministrio, um ministrio essencialmente pastoral.
Paulo, o grande missionrio, escrevia cartas pastorais. Sabia que igrejasfortes, fiis e engajadas eram o maior segredo da expanso missionria
(Efsios 3.10; 1 Tessalonicenses 1.6-8). E por isso vivia a tenso de se
distanciar delas fisicamente nas suas idas e vindas, para permitir o seu
prprio desenvolvimento autctone, e manter-se prximo delas via
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cartas para corrigir e motiv-las na nova vida em Cristo. As igrejas
eram a evidncia concreta que era vindoura de Deus havia sido
inaugurada e que era do Esprito havia chegado de modo visvel. E porisso, era to importante a implantao de igrejas sadias e marcadas com
a presena do Esprito e da nova poca escatolgica inaugurada por
Jesus.
8.3. Misso como carisma (graa). Para Paulo, isto significava que,
entre as marcas da igreja, esto ou deveriam estar uma vida pela f,
uma tica conforme os moldes de Deus, e at mesmo manifestaes
extraordinrias de Deus (Glatas 3.5; 1 Corntios 12, 14). Urge o
testemunho de novas comunidades marcadas pelos carismas de Deus,
onde todos possuem um papel e ministrio, onde a unio e a concrdia
dominam e onde a justia se manifesta nas vidas dos fiis e, por meio
deles, na transformao da sociedade como fermento na massa.
8.4 Misso priorizada. O norte da misso sempre o conhecimento da
glria de Deus (Habacuque 2.14). Este o alvo final e a igreja precisa
sempre mant-lo na sua mira. Para tanto, possui objetivos penltimos.
Por exemplo, por trs da expanso geogrfica da igreja primitiva estava
o princpio de anunciar Cristo no onde j fora anunciado (Romanos
15.20). Significa priorizar as pessoas, no necessariamente a geografia.
Perguntamo-nos, onde Cristo j no fora anunciado, entre quais
grupos humanos, quais etnias, quais circunstncias sociais e de que
maneira? A resposta varia de acordo com o momento histrico e a lugarsocial. Para a igreja brasileira, por exemplo, os confins da terra (Atos
1.8) so literalmente a Oceania Pacfica, a regio com mais freqncia
em igrejas do mundo inteiro! Logo a questo no geografia em si,
mas saber onde estos os maiores desafios para o evangelho. No s
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possvel fazer esta pergunta. Urge faz-la.
9. A nova criao: luta e esperana (Apocalipse)
A promessa de bno para todas as famlias da terra (Gnesis 12.3) e
luz para as naes (Isaas 42.6; 49.6) prevista (Lucas 13.29) e
estabelecida (Romanos 15.8) por Jesus. A viso celestial de Apocalipse
alimenta o empenho missionrio terrestre da igreja. E esta uma viso
de novo cu e nova terra onde toda a criao celebra a presena de
Jesus, o que incentiva a nossa misso ecolgica (5.13; 21.1-2; cf. 2Pedro 3.13). uma viso inclusiva de todos os grupos humanos que
alimenta (5.9; 7.9) a misso social e evangelstica da igreja. uma uma
viso de adorao e louvor por todos os povos e toda a criao que
motiva a misso litrgica da igreja. E uma viso de justia e retido
finalmente transbordantes (15.4; 19.8-11) que enfrenta a constncia e
multiplicao da opresso e do mal atual e encoraja a igreja a denunciar
estas ltimas e incansavelmente sustentar a manifestao das primeiras.
A justia restabelecida. A terra e os cus recriados. E a glria de Deus
conhecida massivamente como a extenso e profundidade dos mares!
Glria a Deus,
como no mar na sua extenso.Coragem a ns,
no alar do pendo!
Concluso
Concluimos a reflexo bblica e teolgica com algumas observaes
sobre a maneira que lemos as Escrituras. Somos herdeiros de um
movimento missionrio marcado pela nfase na f individual. O
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Pietismo estreitou a compreenso de reino de Deus ao reduzi-lo demais
ao indivduo. Exemplo disso o que se refere tradio de leitura
bblica no protestantismo, marcada pela individualidade. presunoachar que os textos bblicos foram escritos especificamente para
mim. Eles so, na verdade, produo comunitria; ligados vida de
um povo. Esse fator muito importante no estabelecimento de uma
comunidade hermenutica que estabelecer suas perguntas e
preocupaes ante o texto bblico.
Essa perspectiva de o ser humano enxergar a sua relao com Deus
como sendo algo essencialmente individual, provoca tambm uma
leitura Bblica ds-historizante, ou seja, retira do texto todo e qualquer
contedo histrico, privilegiando apenas o efeito momentneo que o
texto produz no leitor, ou alguma expresso que o permita se identificar
na experincia relatada no texto.
Para Zabatiero, em nossa tradio, a leitura da Bblia passa por um
nico procedimento que se supe correto para o entendimento da
mesma, resultando numaleitura do tipo doutrinria, quando se procura
afirmar as verdades de f; e, existencial quando a inteno a de
aplicar essas verdades vida das pessoas. Nessa maneira de ler a
Bblia, a misso da igreja deixa de ser prioridade. O(s) conceito(s) de
misso que se desenvolveram a partir deste modelo individualista de
leitura da Bblia tambm foi (ou foram??) um projeto individualista: a
misso tem a ver com a salvao das almas, ou das pessoas como j seavanou em tempos mais recentes. Salvao, sim, em alguns casos, at
se pode usar o termo salvao plena, mas sempre se dirige aos
indivduos. O Evangelho lido de forma redutiva e, assim, a misso
considerada de forma redutiva um dos seus aspectos (a salvao de
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indivduos) se torna praticamente o nico ato missionrio
eclesistico.25
Zabatiero afirma que a partir da misso integral pode-se dizer que
possvel o desenvolvimento de uma nova maneira de ler a Bblia, que
segundo ele, se chama modelo dialogal. uma maneira de ler a Bblia
com o objetivo de edificar consensos; em outras palavras, acordos
fraternos sobre como praticar a vontade de Deus na atualidade. Para
esse autor esses consensos passam devem ser: eticamente vlidos, pois
nem todos os meios so justificados pelos fins ou, nem tudo o que
funciona, ou que d prazer, justo, bom, santo. Cognitivamente
verdadeiros, pois nem todas as experincias, doutrinas e conceitos que
defendemos passam pelo crivo da Sagrada Escritura; e, pessoalmente
verdicos; ler a Bblia em busca de consensos missionais depende de
uma estratgia em que os sujeitos da leitura no sejam mais os
indivduos isolados, os especialistas da tcnica, mas sejam todos os
participantes da comunidade de f.
Diante de tudo o que foi exposto, compartilho com Steuernagel, que um
dos caminhos para o entendimento da Misso integral, a de que esta
seja aberta para ser fundamentada nas Escrituras. Aberta para ser
guiada pelo Esprito. Aberta para ouvir as questes de vida local e
para derramar lgrimas de dor na mais profunda identificao com o
sofrimento humano26
Dessa maneira, no ser necessrio afirmar que
a misso integral, porque, na prtica, ela ser visualizada e entendida
com tal. Por isso, misso integral um chamado ao arrependimento;
um arrependimento que nos chama de volta ao mundo do Evangelho e
no leva adiante para o perdido e o pobre. 27
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Leituras sugeridas:28
BARRO, A. C. e M. W. KOHL, eds.Misso integral transformadora. Londrina: Descoberta, 2005.
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BARRO, Jorge. Uma Igreja Sem Propsitos. Os Mesmos Vcios, Dois Mil Anos Depois! So Paulo: Mundo Cristo, 2004.BLAUW, Johannes.A natureza missionria da igreja. So Paulo: ASTE, 1966.BOSCH,David J.Misso transformadora. Mudanas de paradigmas na teologia de misso. So Leopoldo: Sinodal, 2002.BRIGHENTI, A.Por uma evangelizao inculturada. Princpios pedaggicos e passos metodolgicos. (Atualidade em
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(Libertao e Teologia), So Paulo: Paulinas, 1981.THOMPSON, Allen J. et alii.Plantando Igrejas no Brasil - Anais da primeira conferncia missionria para plantadores
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VAN ENGEN, CharlesPovo missionrio, povo de Deus: Por uma definio do papel da igreja local. So Paulo: VidaNova, 1996.
VICEDOM, Georg.A Misso como Obra de Deus. So Leopoldo:IEPG/Sinodal, 1996.WRIGHT, Christopher J. H. The Mission of God. Unlocking the Bible's Grand Narrative. Downers Grove: InterVarsity.
2006.ZABATIERO, J.P. Tavares.Misso Integral e Leitura da Bblia. S/ data e local.___________.Liberdade e Paixo. Missiologia latino-americana e o Antigo testamento. Londrina: Descoberta, 2000.ZWETSCH, Roberto. Elementos de um Novo Paradigma de Misso: Breve exposio do pensamento de David Bosch.
Estudos Teolgicos, So Leopoldo, 1995.
___________. Misso-testemunho do evangelho no horizonte do reino de Deus em Cristoph Schneider-Harpprecht(Org.), Teologia Prtica no contexto da Amrica Latina. So Leopoldo: ASTE/Sinodal, 1998.
Notas:
1 Os dicionrios definem integral positivamente como total, inteiro, e global e negativamente como aquilo que nosofreu qualquer diminuio ou restrio. Cf. HOLANDA FERREIRA, Aurlio Buarque de.Dicionrio Aurlio EletrnicoSculo XXI. Verso 3.0. Lexikon Informtica Ltda, 1999; e HOUAISS, Antnio, VILLAR, Mauro de Salles, e DE MELLOFRANCO, Francisco Manuel.Dicionrio Eletrnico Houaiss da Lngua Portuguesa. Verso 1.0. Editora Objetiva Ltda, 2001.
2 Veja, por exemplo, o documento aprovado pela Assemblia Geral em 2005 sobre a Reforma na Educao Teolgica da Igreja.Diversos livros recentes ajudam a fomentar a reflexo acerca do conceito, missio Dei, notoriamente: BOSCH,David J.Missotransformadora. Mudanas de paradigmas na teologia de misso. So Leopoldo: Sinodal, 2002.3Ibid, 444.4 Citado por GEORGE, Sherron Kay. Um Novo Paradigma da Misso para o Sculo 21. Em Simpsio, vol. 10 (2) ano XXXVII,n 46, novembro de 2004, p. 17.5 Citado por BOSCH, op cit., 453.6 Alm do livro j mencionado de David Bosch, os seguintes estudos so ilustrativos: BLAUW, Johannes.A naturezamissionria da igreja. So Paulo: ASTE, 1966; CARRIKER, Timteo. O caminho missionrio de Deus: Uma teologia bblicade misses, Braslia: Editora Palavra, 2005; SENIOR, Donald e STUHLMUELLER, Carroll. Os fundamentos bblicos damisso. So Paulo: Edies Paulinas, 1987; e VAN ENGEN, CharlesPovo missionrio, povo de Deus: Por uma definio dopapel da igreja local. So Paulo: Vida Nova, 1996.7 A viso paradisaca da linguagem apocalptica funcionava no para dispensar o povo de Deus da sua responsabilidade e
engajmento no aqui e no agora em favor dum lugar e tempo remotos. Ao invs disto, servia de inspirao e paradigma para suamisso dentro da histria e mundo presentes.8 Nesta reflexo somos forados a optar entre, por um lado, uma escatologia reformada que avalia positivamente a ao de Deusna nossa histria e no nosso mundo, e por consequente, a viabilidade essencial da incumbncia missionria da igreja, e poroutro lado, uma escatologia que avalia com pessimismo a viabilidade de tal incumbncia e a efetividade da ao redentora deDeus em Jesus Cristo dentro da nossa histria e dentro do nosso mundo. impossvel abraar as duas posturassimultaneamente.9 Ao contrrio da interpretao superficial de 1 Corntios 15.19 que desconsidera q