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BordadoArte contempornea
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Do livro a mesa: uma experincia com as mes do Projeto Arte na Espera, com a Profa. Thereza Porte
Desenvolvida na Praa da Liberdade, a oficina Descobrindo e costurando relaes na Praa da Liberdadetem o objetivo de darvisibilidade aos diversos personagens invisveis presentes nas cidades: aqueles que, apesar de muitas vezes no serem
enxergados, mantm e cuidam do espao pblico
pesquisa de campo na Praa, em que os participantes saram em busca das pessoas que cuidam do local. A partir desselevantamento, recolheram histrias de vida desses cuidadores, que so quase invisveis para quem transita ali, contaThereza. De posse dos dados, a proposta fazer uma toalha com as histrias das pessoas que cuidam da praa para quepossamos frequent-la.Alunos e pblico sero convidados a bordar uma grande toalha, como uma sntese de conversas representadas por palavras edesenhos relacionados s histrias de vida de pessoas envolvidas com a manuteno da Praa e de seu entorno. Aps duastardes de bordados coletivos, a toalha adornar uma grande mesa de caf oferecida em homenagem aos personagens daPraa da Liberdade, propondo uma reflexo sobre a situao de invisibilidade em que algumas pessoas so mantidas nascidades.
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possvel se afirmar que os objetos artsticos, em virtude de seus atributos materiais (e no somente suaautoria), possuem um gnero?
As artes txteis, e em particular os bordados, parecem ser o caso de objetos naturalmente atrelados ao fazerfeminino. Pretende-se debater o modo com que tais faturas foram, historicamente, feminizadas no mundo artstico
ocidental, como resultado do processo de imposio do sistema acadmico
Em 1992, o artista plstico Leonilson, cujas obras com bordados tiveram grande impacto nos meios artsticosnacionais, afirmou:Uma das caractersticas dos meus trabalhos a ambigidade. A gente falou de sexualidade na semana passada. Eudizia que meus trabalhos eram meio gays, assim, mas no isso. Acho que eles so ambguos mesmo. Porexemplo, eu trabalho com a delicadeza, uma costura, um bordado. Leda [Catunda] trabalha com aqueles colches,aqueles monstros. Isto uma ambigidade em relao a ela como mulher. Assim como os bordados revelam minhaambigidade na minha relao como homem (LAGNADO, 1998, p. 116).
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Lia Menna Barreto
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O que faz do ato de bordar uma prtica vista como naturalmente feminina? Por que quando realizado por homenss pode ser compreendido mediante o estigma da ambigidade? possvel considerar o bordado como um tipo dearte? Uma toalha em bilro ou em renda exige sofisticao tcnica, mas, ento, por que considerada artesanato eno arte? Tais perguntas apontam para uma questo geral: o quanto o estatuto cultural das obras realizadas emtecidos, notadamente as classificadas como bordados, socialmente ambguo em nossa sociedade. Trata-se deindagar quais so as razes que impedem que tais objetos sofram a alquimia operada pelos campos artsticos,mediante a qual deixariam de ser comuns e se tornariam altamente valorizados, aurticos 02.
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Na tradio ocidental, as artes aplicadas ocupam um espao inferior desde o incio da montagem da histriada arte enquanto disciplina (CHADWICK, 1996). A gnese dessa disposio encontra-se no Renascimento,em especial nos estudos de Vasari, autor das categorias fundadoras da moderna histria da arte. Segundoseus escritos, considerava-se digno do nome artista o indivduo dotado daquelas capacidades intelectuaisque o distinguissem dos outros contemporneos, configurando um estilo prprio. O estudioso pretendiaafirmar a atividade artstica como algo individual, fruto de trabalho intelectual, o que confeririasuperioridade ao seu criador. Tal distino pautava-se por um padro de habilidade tcnica proveniente das
grandes artes, a partir desse momento definidas como todas aquelas baseadas no disegno: a pintura, aescultura e a arquitetura. Por trs dessas afirmaes, havia um projeto: elevar as artes ao nvel dasatividades ento denominadas liberais, caracterizadas por sua natureza eminentemente intelectual. Nessesentido, o desenho passava a exercer uma funo chave de mediao, era interpretado como umaatividade concebida no crebro e executada pelas mos, fruto, assim, de uma ao mental. Era este oponto que separava as grandes artes, ou artes puras, das outras modalidades, doravante consideradasinferiores, e associadas ao artesanato, termo que adquiriu, ento, um sentido negativo. O termo passou acompreender as produes coletivas de carter estritamente manual; seus produtores eram vistos comodestitudos de capacidades intelectuais superiores, tratava-se de simples executores, muito longe,portanto, da imagem do artista enquanto criador que emergia nos discursos vasarianos (GOLDSTEIN,1996).
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a dificuldade histrica enfrentada pelos meios txteis em se libertarem da pecha de produo menor, manual,artesanal. O argumento central apresentado o de que a desvalorizao que as obras de arte realizadas emsuportes txteis sofreram ao longo do tempo vincula-se, inextricavelmente, a um outro fenmeno quetranscende questes estilsticas, colocando-se em um terreno mais amplo, de injunes polticas e dehierarquias construdas socialmente, a saber, o de sua feminizao.
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Tal diferenciao agravou-se com a criao (e desenvolvimento) das Academias de arte, sobretudo apartir do sculo XVIII. No momento em que elas passaram a deter o monoplio do estudo do
modelo vivo conhecimento central para as pinturas de histria e para os retratos, gneros queocupavam o cume da hierarquia acadmica , destituram as corporaes de ofcios dos meiosadequados para a formao de artistas (PEVSNER, 2005). A partir de ento, a imagem do artistaaplicado atrelou-se definitivamente do arteso, visto como o prottipo da ausncia de dotesintelectuais, incapaz de conceber e realizar a grande arte.
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Assim, tais modalidades foram sendo, aos poucos, feminizadas, isto , as obras consideradas inferiores na hierarquiados gneros artsticos foram sendo associadas s prticas artsticas de mulheres. Ao longo do sculo XIX, montou-se oseguinte crculo pernicioso: as mulheres, vistas como seres intelectualmente inferiores, eram consideradas capazes derealizar apenas uma arte
feminina, ou seja, obras menos significativas do que aquelas feitas pelos homens geniais,como as grandes telas e/ou as esculturas histricas (GARB, 1989). Gneros outrora valorizados, como a tapearia e obordado, centrais durante a Idade Mdia, passaram, ao longo da Idade Moderna, a comportar duas cargas simblicasnegativas: a do trabalho feminino, logo inferior, e a do trabalho manual, a cada dia mais desqualificado 03.
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No caso brasileiro, h vrios artistas contemporneos que tm retomado elementos das artes txteis em suas prticasartsticas, em particular o bordado. Dentre eles, destacam-se Leonilson (1957-1993), Lia Menna Barreto (1959), BethMoiss, Rosana Paulino (1967) e Rosana Palazyan (1963), pelo efeito provocador e contundente que o ato de bordaradquire em seus trabalhos, marcados por orientaes muito diversas.
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iludas em gua, a performance concebida para a cidade de Zaragoza, assume um carter de purificao. Quarenta mulheres participamda ao, mas vinte delas permanecem ocultas, resguardadas em seus abrigos e esconderijos. Essas mulheres, que possuem um histrico
de agresses, escrevem seus pensamentos em roupas brancas que sero vestidas por outras vinte mulheres e levadas ao espao pblicoda performance. gua cabe revelar os pensamentos vermelhos ocultos sob o branco dos vestidos. No gesto de lavar, enxaguar etorcer a roupa para extrair da cor branca o vermelho, evidencia-se a relao do trabalho com as alianas pelo sangue dos ritossacrificiais.
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https://vimeo.com/111885499Investigao sobre a mulher negra no Brasil
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Anna Bella Geiger, Variveis, Serigrafia e bordado mquina sobre linho, 56 x 62 cm,1978/2009.
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Rosana Paulino e Rosana Palazyan, duas artistas contemporneas, jovens, em plena atividade, e quecriticam as noes tradicionais de feminilidade amplamente disseminadas em nossa cultura, seja no senso-comum, seja na prpria tradio artstica culta. Para tanto, ambas articulam a crtica das representaes da linguagem que sustenta e dissemina os discursos. Utilizam-se de faturas tradicionalmente associadas apregoada docilidade dos espritos femininos, tais como os bordados; assim, criam obras nada dceis,pelo contrrio, so imagens agudas, incmodas, atordoantes, capazes de provocar amplas alteraes desentidos.
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As obras das duas Rosanas podem e devem ser compreendidas dentro desse panorama bem delineado por Chiarelli, no qual obordado se insere numa estratgia de ao (e reao) esttica que visa a demarcar um espao particular para a arte brasileira no
contexto internacional, recuperando, para tanto, certos elementos tradicionais e artesanais10
. Mas tambm, como espero mostrar,ambas articulam reflexes originais sobre as tenses que envolvem as relaes entre produo artstica e expectativas sociais degnero, no caso, termo indissociavelmente ligado aos objetos, s artistas e a seus meios expressivos.
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Como esclarece Chiarelli, so obras que evidenciam um desejo de diferenciar-se de uma produo caracterizada pelo rigor formal,pela frieza dos materiais empregados, pelo modo serial e impessoal dos objetos. Naquele momento, desponta uma gerao decriadores dedicada a pesquisas formais tomando como ponto de partida a prpria estrutura dos objetos, de sua materialidadepulsante, que lhes confere unicidade. Por meio do que o autor define como inteligncia artesanal, vo ligando um mdulo aooutro, vo tramando, amarrando, costurando... Agindo mais no mundo e com o mundo do que propriamente sobre o mundo, essesartistas igualmente esto se apropriando de uma inteligncia ou de uma nacionalidade que anterior a eles, e da qual no apenasse apropriam, mas a ela se integram (CHIARELLI, 2002, pp. 121- 127).
Trata-se de recuperar uma tradio artesanal nacional, expressa na cestaria, na pintura ornamental, na tecelagem e nos bordados,com vistas a reivindicar uma posio para seus projetos artsticos pessoais, bem como para a produo brasileira, diante de umdebate internacional. Em vez de enrolar, vincar, torcer, cortar, esses artistas vm costurando, bordando, ligando, colocandodobradias entre a visualidade no-erudita brasileira e algumas das grandes questes da arte internacional das ltimas dcadas
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http://www.ifch.unicamp.br/proa/ArtigosII/anasimioni.html
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http://www.ifch.unicamp.br/proa/ArtigosII/anasimioni.html
http://artenaescola.org.br/boletim/materia.php?id=74092
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?
aula=42328
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As artes aplicadas eram ainda associadas ao estigma do trabalho feminino. Em parte isso se explica pelo fato deas artistas terem sido excludas das Academias. Em nome da pudiccia, vetou-se s mulheres o acesso aos
estudos de modelo vivo, que eram monoplio de tais instituies. Conseqentemente, elas foram obstaculizadasde realizarem os gneros artsticos superiores, como a pintura de histria ou os retratos (NOCHLIN, 1973;CHADWICK, op.cit). Com isso, estavam aptas apenas a criarem o que ento se convencionou denominar degneros menores: as miniaturas, as pinturas em porcelana, as pinturas decorativas (vos, esmaltes etc), asaquarelas, as naturezas-mortas e, finalmente, toda a sorte de artes aplicadas, particularmente as tapearias ebordados.