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Do seu esconderijo atrs do relgio, Hugo podia ver
tudo. Esfregava nervosamente os dedos no caderninho
em seu bolso e dizia a si mesmo para ter pacincia.
O velho na loja de brinquedos estava discutindo com
a menina. Ela devia ter a mesma idade de Hugo, e ele
frequentemente a via entrar na loja com um livro debaixo
do brao e desaparecer atrs do balco.
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Hoje o velho parecia agitado. Ser que descobriu que
alguns de seus brinquedos sumiram? Bem, j no era
possvel fazer nada sobre isso agora.
Hugo precisava dos brinquedos.
O velho e a menina discutiram um pouco mais e, por
fim, ela fechou o livro e saiu correndo.
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Felizmente, em poucos minutos o velho tinha cruza-
do os braos sobre a barriga e fechado os olhos.
Hugo se arrastou atravs das paredes, saiu por uma
entrada de ventilao e disparou pelo corredor at alcan-
ar a loja de brinquedos. Nervoso, esfregou o caderni-
nho mais uma vez e ento, cautelosamente, envolveu
com a mo o brinquedo de corda que desejava.
Mas de repente houve um movimento dentro da loja,
e o velho adormecido voltou para a vida. Antes que Hugo
pudesse correr, o velho o agarrou pelo brao.
O ratinho azul de corda que Hugo tinha apanhado se
soltou de sua mo, deslizou pelo balco e caiu no piso
com um estalo.
Ladro! Ladro! gritou o velho para o corredor
vazio. Algum chame o inspetor da estao!
A meno ao inspetor fez Hugo entrar em pnico.
Contorceu-se e tentou fugir, mas o velho apertava seu
brao com fora e no deixava que ele escapasse.
At que enfim te peguei! Agora esvazie os bolsos.
Hugo rosnou feito um cachorro. Estava furioso con-
sigo mesmo por ter sido apanhado.
O velho puxou ainda mais, at Hugo ficar pratica-
mente na ponta dos ps.
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O senhor est me machucando!
Esvazie os bolsos!
Relutante, Hugo tirou, um a um, dezenas de objetos
dos bolsos: parafusos, pregos e lascas de metal, porcas e
cartas de baralho amassadas, pecinhas de relojoaria e ro-
das dentadas. Mostrou uma caixa de fsforos esmagada e
algumas velinhas.
Falta um bolso ainda disse o velho.
No tem nada nele!
Ento coloque ele do avesso.
No estou com nada seu! Me solte!
Onde est o inspetor? gritou o velho mais uma
vez para o corredor. Por que ele nunca vem quando
preciso?
Se o inspetor da estao aparecesse, com seu unifor-
me verde, no final do corredor, Hugo sabia que tudo es-
taria acabado. O menino se debateu contra o velho, mas
em vo. Por fim, Hugo enfiou a mo trmula no bolso e
de l tirou seu caderninho de papelo surrado. A capa
estava lisa de to esfregada.
Sem relaxar o aperto no brao do menino, o velho agar-
rou o caderninho, levou-o para longe do alcance de Hugo,
abriu e o folheou. Uma pgina chamou sua ateno.
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3. More close up of mechanical mans head.
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Me devolve isso! meu! gritou Hugo.
Fantasmas murmurou o velho para si mes-
mo. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles me
achariam aqui.
Fechou o caderninho. A expresso em seu rosto mu-
dava rapidamente, de medo para tristeza, de tristeza pa-
ra raiva.
Quem voc, garoto? Foi voc que fez esses de-
senhos?
Hugo no respondeu.
Eu perguntei: foi voc que fez esses desenhos?
Hugo rosnou novamente e cuspiu no cho.
De quem voc roubou esse caderno?
No roubei.
O velho grunhiu e, com um safano, soltou o brao
de Hugo.
Me deixe em paz, ento! Fique longe de mim e da
minha loja.
Hugo esfregou o brao e deu um passo atrs, esmagan-
do sem querer o rato de corda que tinha cado no cho.
O velho se arrepiou ao som do brinquedo sendo
quebrado.
Hugo apanhou as peas fragmentadas e as colocou
sobre o balco.
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No vou embora sem o meu caderno.
No mais o seu caderno. meu, e vou fazer com
ele o que eu quiser.
O velho balanou no ar a caixa de fsforos de Hugo.
Talvez eu ponha fogo nele!
No!
O velho recolheu tudo que cara dos bolsos de Hugo,
incluindo o caderninho. Colocou tudo num leno, deu
um n e o cobriu com as mos.
Ento me fale dos desenhos. Quem fez?
Hugo nada disse.
O velho deu um soco com o punho no balco, fazen-
do tremer todos os brinquedos.
Saia j daqui, seu ladrozinho!
O senhor o ladro! gritou Hugo enquanto se
virava e saa correndo.
O velho gritou alguma coisa atrs dele, mas tudo o que
Hugo ouvia era o toque-toque de seus sapatos ecoando
pelas paredes da estao.
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