1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X VIOLÊNCIA E GÊNERO NAS RELAÇÕES AFETIVAS ENTRE ADOLESCENTES EM CONTEXTO ESCOLAR RURAL E URBANO NO INTERIOR DA REGIÃO SUL DO BRASIL Nathalia Amaral Pereira de Souza 1 Marlene Neves Strey 2 Resumo: A violência nas relações afetivas é uma realidade que atinge muitas/os adolescentes. Em alguns países pesquisas e ações são feitas para prevenir que esse tipo de violência aconteça. Entretanto, no Brasil, a escassez de estratégias gera a necessidade de investigações. As violências verbal, física, sexual e moral aparecem em elevada frequência nas narrativas de adolescentes. A perspectiva feminista de gênero problematiza entendimentos preconcebidos pela sociedade que dificultam a percepção e a identificação da violência de gênero nos relacionamentos. Este projeto tem como objetivo investigar a violência de gênero nas relações afetivas na adolescência e modo como as questões de gênero são apresentadas nas narrativas de adolescentes em duas escolas em contexto rural e urbano no interior da região sul do Brasil. É um estudo qualitativo e exploratório. Foram realizados seis grupos-focais com adolescentes entre 14 e 17 anos. Os dados foram analisados pela Análise de Conteúdo Temática. Conclusões preliminares apontam que as violências estão presentes nas relações afetivas de algumas/ns das/os participantes do estudo. A amizade e a família possuem impacto na percepção do que é relacionamento afetivo para as/os participantes. Além disso, há narrativas que demonstram uma divisão significativa do que sejam relacionamentos considerados “normais”. Essa associação está diretamente relacionada ao modo como as questões de gênero e a orientação sexual são expressas na adolescência. Palavras-chave: Violência de gênero. Adolescentes. Relações afetivas. Contexto escolar. Rural e urbano. Introdução A categoria “gênero”, a partir da segunda metade do século XX, é central na ação política e na teoria feminista. A partir de 1970, o termo gênero é entendido como uma construção histórica e social das relações desiguais entre homens e mulheres e é um elemento fundamental de análise da sociedade. A desigualdade entre os gêneros fez com que a teoria feminista se ocupasse da construção de entendimentos sobre a opressão das mulheres, da noção de gênero, de patriarcado, de política sexual e da reflexão sexo-gênero. Entendemos que é necessário falar de feminismos no plural, tendo em vista a pluralidade de movimentos e a diversidade de enfoques e de leituras que existem sobre temas como heteronormatividade, emancipação, igualdade, equidade, violência de gênero, entre outros (MAYORGA et al, 2013). 1 Psicóloga CRP 07/24299, mestranda em Psicologia com ênfase em Psicologia Social no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS e integrante do grupo de pesquisa Relações de gênero da mesma instituição, Porto Alegre/Brasil. 2 Psicóloga CRP 07/0985, professora titular no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS e coordenadora do grupo de pesquisa Relações de gênero da mesma instituição, Porto Alegre/Brasil.
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VIOLÊNCIA E GÊNERO NAS RELAÇÕES AFETIVAS ......4 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
VIOLÊNCIA E GÊNERO NAS RELAÇÕES AFETIVAS ENTRE
ADOLESCENTES EM CONTEXTO ESCOLAR RURAL E URBANO NO
INTERIOR DA REGIÃO SUL DO BRASIL
Nathalia Amaral Pereira de Souza1
Marlene Neves Strey2
Resumo: A violência nas relações afetivas é uma realidade que atinge muitas/os adolescentes. Em
alguns países pesquisas e ações são feitas para prevenir que esse tipo de violência aconteça.
Entretanto, no Brasil, a escassez de estratégias gera a necessidade de investigações. As violências
verbal, física, sexual e moral aparecem em elevada frequência nas narrativas de adolescentes. A
perspectiva feminista de gênero problematiza entendimentos preconcebidos pela sociedade que
dificultam a percepção e a identificação da violência de gênero nos relacionamentos. Este projeto
tem como objetivo investigar a violência de gênero nas relações afetivas na adolescência e modo
como as questões de gênero são apresentadas nas narrativas de adolescentes em duas escolas em
contexto rural e urbano no interior da região sul do Brasil. É um estudo qualitativo e exploratório.
Foram realizados seis grupos-focais com adolescentes entre 14 e 17 anos. Os dados foram
analisados pela Análise de Conteúdo Temática. Conclusões preliminares apontam que as violências
estão presentes nas relações afetivas de algumas/ns das/os participantes do estudo. A amizade e a
família possuem impacto na percepção do que é relacionamento afetivo para as/os participantes.
Além disso, há narrativas que demonstram uma divisão significativa do que sejam relacionamentos
considerados “normais”. Essa associação está diretamente relacionada ao modo como as questões
de gênero e a orientação sexual são expressas na adolescência.
Palavras-chave: Violência de gênero. Adolescentes. Relações afetivas. Contexto escolar. Rural e
urbano.
Introdução
A categoria “gênero”, a partir da segunda metade do século XX, é central na ação política e
na teoria feminista. A partir de 1970, o termo gênero é entendido como uma construção histórica e
social das relações desiguais entre homens e mulheres e é um elemento fundamental de análise da
sociedade. A desigualdade entre os gêneros fez com que a teoria feminista se ocupasse da
construção de entendimentos sobre a opressão das mulheres, da noção de gênero, de patriarcado, de
política sexual e da reflexão sexo-gênero. Entendemos que é necessário falar de feminismos no
plural, tendo em vista a pluralidade de movimentos e a diversidade de enfoques e de leituras que
existem sobre temas como heteronormatividade, emancipação, igualdade, equidade, violência de
gênero, entre outros (MAYORGA et al, 2013).
1 Psicóloga CRP 07/24299, mestranda em Psicologia com ênfase em Psicologia Social no Programa de Pós-Graduação
em Psicologia da PUCRS e integrante do grupo de pesquisa Relações de gênero da mesma instituição, Porto
Alegre/Brasil. 2 Psicóloga CRP 07/0985, professora titular no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS e coordenadora
do grupo de pesquisa Relações de gênero da mesma instituição, Porto Alegre/Brasil.
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Outra categoria que faz intersecção com o conceito de gênero é a violência de gênero que,
de forma mais intensa, atinge mulheres, crianças e adolescentes de ambos os gêneros. Neste artigo
nos centramos na violência de gênero que ocorre nas relações afetivas entre adolescentes. Embora
muitos estudos abordem a violência de gênero, o Brasil está carente de estratégias que previnam a
violência nos relacionamentos afetivos na adolescência. São diversos os tipos de relações que
moças e rapazes vivenciam e a escola e a família possuem participação importante na reflexão sobre
violência e relações afetivas (CAMPOS, SILVA, 2014).
O estudo investigará a violência de gênero nas relações afetivas na adolescência e o modo
como as questões de gênero são apresentadas nas narrativas de adolescentes de duas escolas
municipais em contexto rural e urbano no interior do Rio Grande do Sul. Apresentaremos aqui um
recorte da dissertação de mestrado da primeira autora, os trechos dos grupos focais apresentados
não representam todo o conteúdo encontrado sobre violência de gênero com as/os participantes da
pesquisa.
(Re)pensando o contexto escolar
Entendemos as escolas como espaços plurais, diversos e que não possuem características
universais e imutáveis (HARAWAY, 1995) para descrevê-las. Sabemos que as escolas, ou pelo
menos a maioria delas, são preenchidas por assuntos, informações e dúvidas que podem aparecer de
forma rápida, intensa e até inesperada. Os pontos de vistas de diferentes temas passam pelos
corredores, nas redes sociais, na internet dos aparelhos celulares e chegam nas salas de aulas pelas
alunas/os, pelas/os professoras/es e/ou profissionais das escolas. Não podemos desconsiderar que
temas como as relações de gênero e a sexualidade surgem de diversas maneiras, algumas são
imprevisíveis e podem gerar inseguranças nas professoras/es e funcionárias/os das escolas. As salas
de aulas têm sido invadidas pelas temáticas de gênero, de sexualidade, de violências, do machismo
e do preconceito. Isso tem estimulado a desacomodação de partes das escolas, fazendo com que
professoras/es procurem capacitações em como abordar esses temas (SEFFNER, 2011).
Por mais que haja o interesse em renovar as discussões nas salas de aulas, alguns entraves
estão presentes nas escolas. A partir de um entendimento prévio de que é um dos locais de
normalização e de padronização, alguns obstáculos são impostos às escolas por instituições como
religião, família, poder judiciário, partidos políticos que querem apresentar o modo “adequado” de
informar sobre a sexualidade, gênero e preconceito na escola. Esses posicionamentos colaboram
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para a desorganização e colocam as/os professoras/es em situações contraditórias (SEFFNER,
2011).
No Brasil, atualmente, o projeto de Lei nº 867 Programa Escola sem Partido de 2015
pretende a neutralidade política, ideológica e religiosa na educação nacional. Dentre os princípios,
não poderá haver em sala de aula nenhum tipo de prática que possa doutrinar politicamente e
ideologicamente atividades e/ou conteúdos que não estejam de acordo com as ideias religiosas e/ou
morais de pais/mães/responsáveis das/os alunas/os. Além disso, pais/mães/responsáveis deverão no
ato da matrícula autorizar para que as escolas com vínculos religiosos e com valores morais possam
apresentar seus princípios aos estudantes. Da mesma forma, o projeto pretende tipificar como crime
qualquer prática que impeça a neutralidade das/os professoras/es dentro de sala de aula. Com a
aprovação da Lei essas práticas serão consideradas assédio ideológico e haverá detenção de 3 meses
a 1 ano e multa para quem realizá-las. As/os favoráveis ao movimento da escola sem partido
mantêm websites com informações, documentos e depoimentos a respeito da importância de
defender esse tipo de projeto.
Para Silva (2013), desde a infância, as crianças constroem suas identidades de gênero de
maneira desigual. A escola é um dos espaços nos quais as crianças experienciam momentos
coletivos e são educadas. O autor acredita que desde cedo as crianças passam por experiências de
desigualdade e de violência de gênero. Como forma de prevenção desses acontecimentos, Silva
(2013) sugere a reflexão da função da educação, juntamente, com as/os professoras/es. É a partir
desse movimento que será possível incluir a didática crítica, igualitária, emancipatória e não
discriminatória entre os gêneros nas escolas (SILVA, 2013). Da mesma forma, deve-se ter a
discussão da aceitação da pluralidade e de como a diferença se mantém e se conserva no ponto de
vista do poder. As discussões da riqueza do diverso e do plural devem fazer parte das reflexões
sobre a diversidade sexual e de gênero dentro das escolas (SEFFNER, 2013).
Violência de gênero nas relações afetivas entre adolescentes
No Brasil inexistem estratégias consolidadas para a prevenção das violências nos
relacionamentos afetivos entre adolescentes. O tema não é visto com destaque pelos estudos na
adolescência de modo geral. Dessa forma, tratar da violência de gênero nas relações afetivas e das
relações de gênero entre adolescentes pode auxiliar no modo como a sociedade percebe esse
fenômeno. Políticas públicas, programas, ações e materiais pedagógicos podem ajudar no combate à
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desigualdade e à violência de gênero em todas relações afetivas na adolescência. Além de
problematizações, atitudes devem ser articuladas com a família e a escola para que os discursos
permanentes que reforçam as diferenças entre homens e mulheres sejam desnaturalizados
(CAMPOS, SILVA, 2014).
Entendemos gênero como uma categoria analítica e relacional a partir das relações de poder
entre homens, entre mulheres e entre homens e mulheres (incluindo pessoas trans e intersexo
(SCOTT, 1995). A violência de gênero engloba diversos tipos de violências, importante destacar
que ela não ocorre apenas em adultos ou em jovens, assim como não é especificamente de relações
heterossexuais. Para ser considerada como violência de gênero é necessário englobar diversos
aspectos preconcebidos como comportamentos de gênero na sociedade e nas relações afetivas
(SALDANHA, 2013).
Murta, Santos, Martins, e Oliveira (2013) destacam que a escassez do Brasil em relação às
políticas que tratem da violência de gênero nos relacionamentos afetivos entre adolescentes deve
gerar articulações no Brasil. Tendo em vista essa realidade, é interessante citar Portugal, que desde
2007 criminaliza as violências no namoro. Há 12 anos são realizados estudos como meio de
prevenção a todas as formas de violências. Em pesquisa realizada com 2.500 adolescentes de idades
entre 12 e 18 anos, concluiu-se que mais de 22% das/os participantes não percebem
comportamentos de controle e de agressão como práticas de violência. Além de Portugal, outros
países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e México realizam pesquisas e ações avançadas para
a prevenção da violência no namoro entre adolescentes (NASCIMENTO, CORDEIRO, 2011).
Nos estudos que as autoras Schleiniger e Strey (2015) realizaram com adolescentes, alguns
temas tiveram destaque, tais como a violência banalizada como um fenômeno cultural; o casamento
da violência com o ideal romântico; a violência de gênero nas relações afetivo-sexuais das/os
adolescentes; e a ocorrência da combinação festas, álcool e violência. A banalização da violência é
percebida nos discursos das/os adolescentes não apenas no tocante aos relacionamentos afetivos,
mas também nas amizades, na família, na escola, nas festas, na vizinhança e também nas relações
afetivas e sexuais (CASTRO, 2009; SCHLEINIGER; STREY, 2015), tendo-se em vista que tudo
deve ser suportado para alcançar o amor, que é sacrifício.
Além disso, o ciúme é o maior responsável pelas brigas que ocorrem nos relacionamentos
afetivos. A traição é vista como algo muito sério nos namoros, podendo colocar fim ao
relacionamento, visto que a quebra de confiança é algo grave (NASCIMENTO, CORDEIRO,
2011). O alto índice do uso de álcool também é um fator agravante para a perpetração da violência.
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A combinação de festas, uso de álcool e prática de violência propicia ambientes com diversos tipos
de violências (psicológica, física, patrimonial, sexual e simbólica). Esse modelo explicativo
demonstra uma perspectiva macrossocial e crítica que não vê o humano separado do social, do
cultural e da história (SCHLEINIGER; STREY, 2015).
Método
A presente pesquisa define-se por ser de base qualitativa e do tipo exploratória (MINAYO,
2011; MARCONI, LAKATOS, 2009). A cidade onde o estudo foi realizado está localizada a 67 km
da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Possui 25.793 habitantes (IBGE, 2015), distribuídos
em uma área de 818.799 km² (IBGE, 2016). Conta com 7 escolas de ensino médio, 21 escolas de
ensino fundamental e 17 pré-escolas. Não há escolas particulares. Esta pesquisa foi realizada em
duas escolas municipais da cidade. Selecionamos uma que se encontra em contexto rural e outra em
contexto mais urbano e central da cidade. A distância de uma escola para a outra é de,
aproximadamente, 25km.
Nesta pesquisa, adolescência é compreedida no período entre 12 e 18 anos, segundo o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Lei n. 8.069/1990). Foram convidados para o estudo
adolescentes entre 14 e 17 anos e que estavam devidamente matriculadas/os no 1º e 2º ano do
Ensino Médio das escolas pesquisadas. Foram realizados três grupos focais mistos de rapazes e de
moças nas duas escolas participantes. Durante a coleta dos dados, a pesquisadora que acompanhou
os grupos realizou um diário de campo.
O presente estudo respeitou as normativas da Resolução 466/12 (Conselho Nacional de
Saúde), a qual prevê os cuidados a serem tomados com seres humanos em pesquisas científicas.
Foram utilizados os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (para pais/mães/responsáveis) e
os Termos de Assentimento para as/os adolescentes menores de idade. Os procedimentos desta
pesquisa foram aplicados após a aprovação do Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul – PUCRS, CAAE 60884316.2.0000.5336.
Em nossa análise, buscamos explorar o conjunto de significados e de sentidos atribuídos
ao fenômeno estudado. Isso foi possível por meio da análise de conteúdo do tipo temática
(BARDIN, 1979) das falas provenientes dos grupos focais. Foram considerados nesta pesquisa
os conteúdos manifestos nas transcrições dos grupos focais, bem como os conteúdos latentes
como silêncio, sinais, posturas e sorrisos. Ou seja, a comunicação não verbal foi importante
para a análise.
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No decorrer do artigo não faremos distinção das narrativas das/os adolescentes pelas escolas
em que estudam. Não é nosso objetivo neste artigo comparar a escola rural da escola urbana. No
artigo discutiremos a interseccionalidade da categoria violência de gênero com os
relacionamentos afetivos que as/os adolescentes consideram importantes na adolescência . A
seguir, apresentaremos os resultados e as discussões dos dados.
Resultados e Discussão
O assunto “violência(s)” não costuma ser um assunto simples, leve e espontâneo. Por ser um
tema que envolve discursos que, geralmente, carregam marcas emocionais e/ou físicas, histórias de
vidas são contadas (SALDANHA, 2013). Tanto para quem trabalha, estuda, vivencia ou para quem,
de alguma forma, já passou por alguma experiência que envolveu violência essa é uma realidade
frequente. O mesmo ocorre ao falar dessa temática com adolescentes. Cautela, respeito e cuidado
são necessários para prevenção de possíveis desconfortos. Neste artigo apresentaremos um recorte
da investigação realizada em grupos focais com adolescentes de duas escolas no interior do Rio
Grande do Sul. Os trechos citados representam uma parte dos dados obtidos sobre a temática da
violência de gênero nos relacionamentos afetivos. Vale ressaltar que as/os participantes estavam à
vontade para dialogar sobre as relações afetivas que consideravam importantes na adolescência, as
pesquisadoras não induziram as respostas com nenhum tipo de relacionamento pré-estabelecido.
Em um dos grupos utilizamos a pergunta “O que você considera violência?” com o
objetivo de introduzir o tema com as/os participantes. O grupo já se conhecia e o quebra-gelo inicial
já havia sido realizado. Porém, a resposta que sobressaiu após a pergunta foi o silêncio. Um silêncio
que durou aproximadamente 2 minutos e que despertou respostas não-verbais jamais esperadas para
o início do encontro. Inquietação, curiosidade e insegurança foram os sentimentos que
transpareceram aqueles olhares atentos e tímidos. Ali nós confirmamos que falar de violência é falar
de histórias, de tristezas, de vidas e de perdas. Após aqueles 2 minutos, um rapaz rompeu o silêncio
ao responder que achava que violência era “Quando alguém bate em alguém, pode ser verbal
também, ofensas” (T, rapaz de 16 anos). O comentário deu abertura para que outras duas
adolescentes comentassem que sentem dificuldade em falar sobre violência, por ser um assunto
delicado.
Para auxiliar na discussão, reportagens da internet, de jornais e de revistas e vídeos da
Alvares.; FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da.; EGRY, Emiko Yoshikawa. A prevenção da
violência por parceiro(a) íntimo(a) na adolescência: uma revisão integrativa. Revista da Escola de
Enfermagem, São Paulo, n. 1, v. 50, 2016. p. 137-147. Disponível em: < http://www.revistas.usp.br/reeusp/article/view/112703.> Acesso em 12 de abril de 2016.
PROJETO DE LEI Nº 867/15. Programa Escola Sem Partido. 2015. Disponível em:
<http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/files/PL.pdf .> Acesso em: 10 de setembro de 2016.
RESOLUÇÃO 466/12. Conselho Nacional de Saúde. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf.> Acesso em: 5 de abril de 2016.
SALDANHA, Marília. Pontos de intersecção: psicologia, feminismo e violências. Diálogo, Canoas,
n. 24, dez 2013. p. 35-44. Disponível em:
<http://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Dialogo/article/view/1324.> Acesso em: 09 de junho de
2017.
SCHLEINIGER, Cristiane dos Santos.; STREY, Marlene Neves. Namoro e violência não
combinam. Guia de conteúdo didático – pedagógico do/a educador/a social. Grupo de Pesquisa
Relações de Gênero, FAPERGS, Projeto Pescar. Porto Alegre. 2015.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, Porto
Alegre, n. 2, v. 20, jul./dez 1995. p. 71-99. Disponível em:
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
<http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721.> Acesso em 12 de março de
2016.
SEFFNER, Fernando. Sigam-me os bons: apuros e aflições nos enfrentamentos ao regime da
heteronormatividade no espaço escolar. Educação e pesquisa, São Paulo, n. 1, v. 39, jan/mar 2013.
p. 145-159. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
97022013000100010.> Acesso em: 17 de junho de 2017.
SEFFNER, Fernando. Um bocado de sexo, pouco giz, quase nada de apagador e muitas provas:
cenas escolares envolvendo questões de gênero e sexualidade. Estudos feministas, Florianópolis, n.
2, v. 19, maio-agosto 2011. p. 561-588. Disponível em: