UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL ANDRÉ LUÍS BURANELLI VIEIRA REUSO DE ÁGUA: EXPERIÊNCIAS NO BRASIL Feira de Santana - BA 2010
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL
ANDRÉ LUÍS BURANELLI VIEIRA
REUSO DE ÁGUA: EXPERIÊNCIAS NO BRASIL
Feira de Santana - BA
2010
ii
ANDRÉ LUÍS BURANELLI VIEIRA
REUSO DE ÁGUA: EXPERIÊNCIAS NO BRASIL
Orientador: Msc. Diogenes O. Senna
Feira de Santana - BA
2010
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na disciplina Projeto Final I, como requisito para obtenção de grau de Bacharel em Engenharia Civil, pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
iii
FOLHA DE APROVAÇÃO
REUSO DE ÁGUA: EXPERIÊNCIAS NO BRASIL
ANDRÉ LUÍS BURANELLI VIEIRA Trabalho de Conclusão de Curso foi defendido e julgado adequado como parte dos
requisitos para a obtenção do título de
ENGENHEIRO CIVIL
_______________________________________ Prof. Gerinaldo Costa Alves, Mestre
Coordenador do TCC (UEFS)
Banca Examinadora:
_____________________________________ Prof. Diogenes O. Senna, Mestre
Orientador (UEFS)
_____________________________________ Profº. Sandra Maria Furiam Dias, Doutor
(UEFS)
____________________________________ Adriano Cosme Pereira Lima, Mestre
(UEFS)
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Prof. Diógenes Senna, pela constância e auxílio a mim
dedicados durante a elaboração deste Trabalho de Conclusão de Curso.
A todos os colegas desse mundo que é a UEFS.
A toda minha família, pelo suporte e carinho.
A Yanne Rocha, por todos os momentos incrivelmente belos e simples que só sua
presença pode me propiciar.
A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram, mesmo quando distantes.
E, sobretudo, a Deus fonte inesgotável do saber e sentido da existência.
v
“Não sei como pareço aos olhos do mundo, mas eu mesmo vejo-me como um pobre garoto que brincava na praia e se divertia em encontrar uma pedrinha mais lisa uma vez por outra, ou uma concha mais bonita do que de costume, enquanto o grande oceano da verdade se estendia totalmente inexplorado diante de mim.”
(Memoirs of the Life, Writings, and Discoveries of Sir Isaac Newton)
vi
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Exemplos da utilização de esgotos sanitários nos Estados Unidos
................................ 25
Quadro 02 Lista de artigos selecionados para a discussão
................................ 30
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Uso final de água tratada para consumo doméstico na Suíça
................................ 22
Tabela 02 Uso da água tratada para consumo doméstico nos Estados Unidos
................................ 22
Tabela 03 Alturas médias dos feijoeiros de cada tratamento
................................ 32
Tabela 04 Fontes de consumo de água durante os anos de 2002, 2003 e 2004
................................ 35
Tabela 05 Determinação de resistência à compressão aos sete dias utilizando água potável e esgoto tratado
................................ 36
Tabela 06 Índices de consumo médio de água ................................ 38
viii
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS
CNPQ: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CTCC: Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco
DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO: Demanda Química de Oxigênio
ETAC: Estação de Tratamento de Águas Cinzas
ETE: Estação de Tratamento de Efluentes
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
INMET: Instituto Nacional de Meteorologia
NBR: Normas Brasileiras
NM: Normas do Mercosul
ONG: Organização Não-Governamental
ONU: Organização das Nações Unidas
OMS: Organização Mundial de Saúde
PROSAB: Programa de Pesquisas em Saneamento Básico
SESAB: Secretaria de Saúde do Estado da Bahia
SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
SISAUTO: Sistema de Auto-monitoramento de Efluentes Líquidos
UEFS: Universidade Estadual de Feira de Santana
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RESUMO
A necessidade de disposição e tratamento de efluentes é reconhecida, mas, por falta
de recursos, essas ações costumam ser postergadas, provocando problemas de
saúde nas populações e degradação no meio ambiente. O reaproveitamento de
água surge atuando como instrumento para redução do consumo dessa água
(controle de demanda), visto que esses efluentes podem ser considerados como um
recurso hídrico complementar, a ser utilizado em algumas aplicações, possibilitando
a disponibilização das águas de melhor qualidade, para fins mais nobres. Como
base para análises posteriores buscou-se neste trabalho mostrar o panorama
brasileiro referente ao reuso de água, tomando-se como base a análise de artigos
expostos no 23º, 24º e 25º encontro da ABES. Ao final chegou-se a conclusão que
nos setores industrial e agrícola esse reuso já ocorre com freqüência, porém no
setor residencial esse reuso ainda precisa de incentivos para se tornar uma
realidade.
Palavras chave: Reuso de água; Redução; Panorama Brasileiro; Experiências.
x
ABSTRACT
The need for disposal and sewage treatment is recognized, but for lack of resources,
these actions are often delayed, causing health problems in populations and
environmental degradation. The reuse of water arises acting as an instrument for
reducing consumption of water (demand control), since these effluents can be
considered as an additional water resource to be used in some applications, enabling
the delivery of water of better quality, for more noble purposes. As a basis for further
analysis in this paper sought to show the panorama of Brazil regarding the reuse of
water, taking as base the analysis set out in Articles 23, 24 and 25 meeting of ABES.
At the end came to the conclusion that in the industrial and agricultural reuse this
already happens routinely, but in the residential reuse this still needs incentives to
become a reality.
KEY WORDS: Water reuse; Reduction; Brazilian Experiences.
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 12
1.1 Objetivos ................................................................................................. 13
1.1.1 Objetivo geral ........................................................................................ 13
1.1.2 Objetivos específicos ............................................................................ 13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................. 14
2.1 A importância da água para a vida ....................................................... 14
2.2 Distribuição da água no planeta ........................................................... 16
2.3 A importância de se fazer o reuso ......................................................... 17
2.4 Leis que normatizam o reuso ................................................................ 21
2.5 Aplicações da água reaproveitada ......................................................... 23
2.6 Tipos de reuso ..................................................................................... 24
3 METODOLOGIA ..................................................................................... 28
3.1 Tipo da pesquisa ................................................................................... 28
3.2 Período de estudo ................................................................................... 28
3.3 Coleta de dados ..................................................................................... 29
4 DISCUSSÃO DOS ARTIGOS ................................................................ 30
4.1 Reuso de Água na Agricultura ................................................................ 31
4.2 Reuso de Água em Industrias ................................................................ 33
4.3 Reuso de Água em Residências ........................................................... 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 40
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 42
12
1 INTRODUÇÃO
A água foi, por muito tempo, considerada pela humanidade como um recurso
inesgotável e, talvez por isso, mal gerido. Não faltam exemplos de escassez de água
doce, observada pelo abaixamento do nível dos lençóis freáticos, o “encolhimento”
dos lagos e a secagem dos pântanos. Várias regiões do mundo possuem este
panorama exacerbado, sendo que para explicar tais fenômenos não raras vezes o
setor técnico evoca as condições meteorológicas ou os “caprichos do tempo”. No
entanto, o problema do balanço oferta versus demanda por recursos hídricos não é
um problema apenas das regiões áridas e semi-áridas, pois os conflitos pelo uso da
água também se notam em outras regiões, inclusive as que dispõem de recursos
hídricos com oferta significativa (PROSAB, 2009).
Apesar de 75% da superfície do planeta ser recoberta por massas líquidas, a
água doce não representa mais do que 3% desse total. Apenas um terço da água
doce - presente nos rios, lagos, lençóis freáticos superficiais e atmosfera - é
acessível. O restante está concentrado em geleiras, calotas polares e lençóis
freáticos profundos.
Estudos realizados por pesquisadores em vários países, tais como Suíça,
Estados Unidos, Reino Unido, Colômbia e Brasil, apontam que o consumo de água
tratada para fins não potáveis em residências varia de 30% a 50% (SABESP, 2004),
percentual este que poderia ser poupado com o reuso de água, tendo impacto direto
no consumidor e indireto no meio ambiente.
Em função dessas características, o reuso vem sendo difundido de forma
crescente no Brasil, impulsionado pelos reflexos financeiros associados aos
instrumentos trazidos pela Lei 9.433 de 1997, que visam a implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos: a outorga e a cobrança pelo uso dos
recursos hídricos (RODRIGUES, 2005).
O aumento desordenado da população e o desenvolvimento de grandes
núcleos urbanos sem planejamento dificultam as ações de manejo de resíduos. A
necessidade de disposição e tratamento é reconhecida, mas, por falta de recursos,
essas ações costumam ser postergadas, provocando problemas de saúde nas
populações e degradação no meio ambiente. Aproximadamente, metade do Brasil
não tem coleta de esgoto, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de
13
Geografia e Estatística, apresentada no Plano Nacional de Recursos Hídricos, 52%
dos municípios não coletam nem tratam os esgotos (ZORATO, 2006)
E não bastando os problemas com abastecimento de água, os grandes
centros urbanos sofrem com problemas de enchente, devido ao alto grau de
impermeabilização e desmatamento do solo (HERNANDES et al, 2004).
No caso do setor da construção civil, os impactos a serem levados em conta
são diversos, já que além de ser uma das maiores consumidoras individuais de
recursos naturais, em especial a água, ela também é responsável pela geração de
um grande volume de resíduos sólidos. Contudo, esse setor também pode ser
considerado como uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável, já que pela
diversidade dos produtos por ela consumidos, torna-se fácil o setor atuar como
receptor, através da reutilização e da reciclagem, não só de seus resíduos, como
também de outras indústrias (CARNEIRO et al, 2010).
Entretanto para que possamos contribuir positivamente para a melhoria
ambiental, é indispensável que haja uma inversão de valores no modelo de gestão
adotado atualmente na maioria das municipalidades brasileiras. As medidas de
caráter corretivo e isolado precisam ceder lugar às preventivas, que visam solucionar
o problema em sua origem (CARNEIRO et al, 2010).
Como base para ações nesse sentido, justifica-se a montagem deste trabalho
mostrando o panorama atual de ações tomadas no sentido de fazer o reuso de água
e em quais ramos de atividade ela vem sendo reutilizada com sucesso.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 OBJETIVO GERAL
Propiciar uma visão do modo como o Brasil vem implementando o reuso de
água e principais usos.
1.1.2 OBJETIVO ESPECÍFICO
• Realizar um levantamento bibliográfico, com base em artigos, que mostre
as experiências envolvendo o reuso de água no país.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA PARA A VIDA
A água faz parte do patrimônio do nosso planeta. Cada continente, cada
povo, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos
de todos. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano
e sem ela não poderíamos conceber a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou
a agricultura como são (SILVEIRA, 2008).
A água se constitui, atualmente, no fator limitante para o desenvolvimento
agrícola, urbano e industrial, tendo em vista que a disponibilidade per capita de água
doce vem sendo reduzida rapidamente, face ao aumento gradativo da demanda
para seus múltiplos usos e à contínua poluição dos mananciais ainda disponíveis
(SAUTCHUK, 2005).
A preocupação com uma possível crise da água em nível global vem
alarmando populações em diversos países no mundo. Diversos estudos publicados
alertam para os riscos da falta da água em curto prazo. Segundo informações da
Organização Mundial da Saúde, a água já é escassa para um bilhão de habitantes.
Entender a água como um direito humano fundamental é um dos princípios básicos
para o setor público e privado (PETRELLA, 2001).
Florencio (2006) declara que o panorama torna-se ainda mais dramático,
quando se constata, simultaneamente, a deterioração dos mananciais de
abastecimento, como resultado, dentre outros fatores, do baixo nível de cobertura
dos serviços de tratamento de águas residuárias, da fragilidade da implementação
de políticas de proteção de mananciais e da não observação de boas práticas
agropecuárias.
A escassez e o mau uso dos recursos hídricos fizeram com que a ONU
considerasse a água o principal tema do século 21 e declarasse 2003 o ano
internacional da água. A proteção da água potável deve ser assegurada para
garantir que ela não se torne, num futuro próximo, um produto de luxo e, por isto, a
Unesco propõe que a década de 2005 a 2015 seja dedicada à busca de soluções
(PARA, 2004 apud QUICK, 2008).
15
A água é, provavelmente, o único recurso natural que tem a ver com todos os
aspectos da civilização humana, desde o desenvolvimento agrícola e industrial aos
valores culturais e religiosos arraigados na sociedade. É um recurso natural
essencial, seja como componente bioquímico de seres vivos, como meio de vida de
várias espécies vegetais e animais, como elemento representativo de valores sociais
e culturais e até como fator de produção de vários bens de consumo final e
intermediário (TERRA, 2009).
Segundo Rebouças (2004, p.61):
Segundo estatísticas, 70% do planeta é constituído de água, sendo que
somente 3% são de água doce e, desse total, 98% é de água subterrânea.
Isto quer dizer que a maior parte da água disponível e própria para consumo
é mínima perto da quantidade total de água existente em nossa Terra. Nas
sociedades modernas, a busca do conforto implica necessariamente em um
aumento considerável das necessidades diárias de água.
Outro problema detectado no que se refere ao uso desordenado das águas é
o desperdício residencial. Segundo EMBASA (2010) o desperdício residencial é o
campeão. As maiores vilãs domésticas são as válvulas convencionais de descarga.
Elas usam 40% de toda a água da casa. Cada segundo que uma pessoa permanece
com o dedo na descarga são 2 litros de água desperdiçados.
Segundo Rapoport (2004) devido a dificuldade de obtenção de água nas
grandes cidades e os custos crescentes de captação, tratamento e transporte
agravados pela crescente degradação dos mananciais, aponta para a necessidade
de conservação e uso racional do insumo. A preocupação com o tratamento jurídico
do uso e preservação da água é antiga no Brasil.
Em 1934 foi instituído o Código das Águas. A lei nº 6938/1981, instituiu a
Política Nacional do Meio Ambiente e o princípio do poluidor pagador. A Política
Nacional dos Recursos Hídricos, concretizada pela Lei nº 9433/97 fixa fundamentos,
diretrizes e instrumentos capazes de indicar a posição e orientação pública no
processo de gerenciamento dos recursos hídrico; além de instituir o conceito de
usuário pagador denotando clara preocupação com a quantidade da água captada e
qualidade das águas servidas devolvidas aos corpos hídricos reconhecendo a água
como um bem finito e vulnerável e de intrínseco valor econômico. Desta forma,
contribui para o incentivo à economia na captação de água pelos usuários e
16
conseqüente diminuição na geração de águas residuárias. O incentivo a uma menor
captação estimulará o desenvolvimento de alternativas para reuso do insumo.
2.2 DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO BRASIL E NO PLANETA
Quando se menciona potabilidade de água, logo se associa à parcela de
água que pode ser utilizada pelos seres humanos. Mesmo que toda água seja
plausível de uso humano, retirar os sais das águas oceânicas requer uma tecnologia
dispendiosa em energia elétrica e, por isso, onerosa. Portanto, os 97,5% de água
que estão contidos nos mares, ficam descartados quanto a usos potáveis para a
maioria da população, salvo aqueles que não têm outra forma de obtenção de água,
ou seja, aqueles que moram em regiões escassas deste recurso (FELDMANN,
1994).
Retirando a parcela oceânica, restam para meios potáveis, nada mais que
2,5% de água doce. Ainda assim, desta parcela de água potável, cerca de 90,0%
encontra-se na forma de gelos polares ou em depósitos muito profundos,
impossibilitando que o homem, em dias atuais, tenha seu aproveitamento (TIETÊ,
2009).
Então, segundo Feldmann (1994) a água que efetivamente é utilizada pela
população humana, corresponde a uma parcela diminuta do total global, ou seja,
14.000 Km3 de um total de 1,4 bilhões Km3, ou 0,001% das águas do planeta,
embora não haja consenso sobre esses valores.
É possível afirmar ainda que a água é um elemento constantemente
presente no nosso dia-a-dia, essencial para o desenvolvimento de praticamente
todas as atividades realizadas pelo homem, como atividade doméstica, industrial ou
agropecuária, mas também ser elemento de destruição, doença e morte. Ela pode
ser considerada como elemento natural que delimita as diferenças existentes na
sociedade, já que o acesso da população à mesma apresenta desigualdades.
Por isso é necessário garantir o uso de uma água segura, com qualidade,
pura e cristalina a todos os seres de forma equitativa.
17
Para Tundisi (2003, p.21):
No Brasil a preocupação quanto ao gerenciamento dos recursos hídricos se iniciou em 1934 com o Código de Águas, mas o mesmo somente foi regulamentado e plenamente aplicado quanto ao aproveitamento dos potenciais hidráulicos para a geração de energia elétrica. Com a escassez de água mundial, a questão voltou à tona havendo a promulgação da Lei nº 9.433 de janeiro de 1997, instituindo a Política Nacional de Recursos Hídricos e criando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Apesar de o Brasil ser detentor de aproximadamente 15% da águas doces
do planeta, a maior parte dessa água (70%) está na bacia Amazônica, onde vivem
apenas 7% da população. Assim sendo, a maior parte da população brasileira tem
que dividir os 30% restantes. Outro dado importante: metade da água consumida no
Brasil ocorre na agricultura irrigada, sendo que o país tem somente cerca de 5% de
área cultivada irrigada (BRASIL DAS ÁGUAS, 2010).
2.3 A IMPORTÂNCIA DE SE FAZER O REUSO DA ÁGUA
O reuso reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição
da água potável por uma água de qualidade inferior. Essa prática, atualmente muito
discutida, posta em evidência e já utilizada em alguns países é baseada no conceito
de substituição de mananciais. Tal substituição é possível em função da qualidade
requerida para um uso específico. Dessa forma, grandes volumes de água potável
podem ser poupados pelo reuso quando se utiliza água de qualidade inferior
(geralmente efluentes pós-tratados) para atendimento das finalidades que podem
prescindir desse recurso dentro dos padrões de potabilidade (ZARED FILHO et al,
2007)
O reuso das águas é um recurso utilizado para economizar/poupar esta
substância fundamental à existência da vida na Terra e tem sido estudado por
pesquisadores de todo o mundo. Isto se faz necessário uma vez que os meios
naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito
limitados. Assim sendo, esta deve ser manipulada com racionalidade, preocupação
e moderação, não devendo ser desperdiçada, poluída ou envenenada. De maneira
geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se
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chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das
reservas atualmente disponíveis (ZAMPIERON, 2005).
O reuso das águas consiste na utilização dessa substância por duas ou mais
vezes, reproduzindo o que ocorre espontaneamente na natureza através do “ciclo da
água”, com a finalidade de evitar que as indústrias ou grandes condomínios
residenciais e comerciais continuem consumindo água limpa em atividades em que
seu uso é dispensável. Com isso, preserva-se a água potável para o atendimento
exclusivo das necessidades que exigem sua pureza e para o consumo humano
(SILVEIRA, 2008).
Assim, o reaproveitamento e reuso de água surgem atuando em dois
aspectos: como instrumento para redução do consumo de água (controle de
demanda) e essa água pode ser considerada como um recurso hídrico
complementar, a ser utilizado em algumas aplicações, possibilitando a
disponibilização das águas de melhor qualidade, para fins mais nobres
(RODRIGUES, 2005).
Segundo Rodrigues (2005), um dos atuais desafios da Gestão de Recursos
Hídricos é o equilíbrio entre a necessidade dos usuários e a disponibilidade de água.
A redução da utilização dos recursos hídricos tem como base algumas
características principais: a necessidade do controle e redução de demanda e a
busca de recursos complementares.
Os programas de conservação de água compreendem ações que resultam
em economia de água, incidindo não somente sobre os domicílios, as redes de
distribuição e em outras partes do sistema de abastecimento, mas também sobre os
mananciais, através da criação de áreas de preservação, do combate à poluição na
origem e ao desmatamento. Na prática, busca-se a racionalização do uso através de
técnicas e procedimentos que resultem na conservação do recurso, sem que haja
comprometimento dos usos fundamentais que mantém a vida nas áreas urbanas
(GONÇALVES, 2004).
É importante realçar que o fator econômico deve ser considerado durante o
planejamento e implantação de um sistema de reuso de água, visto que esse
impacto é o mais facilmente notado aos donos da propriedade em que essa água
será utilizada.
19
Na concepção dos autores Correia Neto et al (2010) o reuso de água já vem
sendo amplamente empregado na indústria, principalmente em torres de
resfriamento, caldeiras, construção civil, irrigação de áreas verdes e em alguns
processos industriais onde a utilização de água com menor padrão de qualidade não
ocasione maiores problemas. Desta forma, o reuso de água para fins não potáveis
deve ser considerado como a primeira opção para o crescimento sustetável.
Sendo considerada uma alternativa muito importante para integrar as
atividades de reuso que pode ser considerada é a utilização da água de rejeito de
um processo produtivo, que necessita de uma água com maior qualidade, em outro
processo que possa utilizar uma água com menor qualidade. Esta alternativa se
mostra ambientalmente correta, entretanto, continua incorporando impurezas aos
corpos receptores de água (CORREIA NETO et al, 2010).
Uma prática cada vez mais freqüente nas construções é o aproveitamento
de águas pluviais para fins não-potáveis, como lavagem de jardins e calçadas e
descarga de vasos sanitários. Apesar de ser uma boa iniciativa, o cidadão que fizer
uso de tal sistema deve se lembrar de que a água não tratada, quando em contato
com a pele humana, pode causar alergias e infecções, por isso, recomenda-se que a
água armazenada seja tratada (MAIA NETO, 2010).
Os componentes para a captação e armazenamento da água dependem das
características das edificações, mas são compostos, basicamente, de uma bacia
coletora, que irá captar a água; calhas e tubulações, que irão transportar o material
recolhido; peças, como peneiras, para reter materiais sólidos; cisterna; filtros de
areia, para reter certas impurezas; bombas centrífugas para alimentar os filtros de
areia; reservatório de retrolavagem; uma unidade de desinfecção; além de um
sistema de pressurização, que irá destinar a água, já tratada, para os locais nos
quais ela será utilizada. É recomendável o não aproveitamento da água das
primeiras chuvas, tendo em vista a concentração de poluentes tóxicos na atmosfera
dos grandes centros. O tamanho do reservatório deve ser escolhido de acordo com
a disponibilidade hídrica e a demanda. Quando não aproveitada, a água pode ser
liberada no solo, reabastecendo, assim, o lençol freático (MAIA NETO, 2010).
O aproveitamento de águas pluviais é uma alternativa sócio-ambientalmente
responsável, e possível economicamente, mas, em Minas Gerais, a adoção deste
20
sistema é facultativo. No entanto, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro,
Espírito Santo e Paraná a retenção de águas da chuva já é obrigatória, onde leis
foram criadas no intuito de amenizar os impactos das constantes enchentes nesses
estados (MAIA NETO, 2010).
Segundo Cutolo (2009) apud Hespanhol (2003) através do ciclo hidrológico a
água se constitui em um recurso renovável. Quando reciclada através de sistemas
naturais, é um recurso limpo e seguro, que é, através da atividade antrópica,
deteriorada em níveis diferentes de poluição. Entretanto, uma vez poluída, a água
pode ser recuperada e reusada para fins benéficos diversos, visto que a qualidade
da água bruta e o objeto específico da reutilização das águas de descargas de
decantadores e de lavagem de filtros, estabelecerão os níveis de tratamento
recomendados, os critérios de segurança a serem adotados, os custos de capital, de
operação e manutenção associados.
Segundo Gianchinni et al (2010) a água da chuva pode ser utilizada em
diversos processos, é uma ótima fonte de água e de tecnologia relativamente
simples e econômica. Segundo Fendrich (2002), captação da água de chuva é um
processo antigo e muito utilizado em regiões áridas e semi-áridas como é o caso do
Nordeste Brasileiro.
Na Alemanha e no Japão, por exemplo, o processo de captação da água de
chuva começou visando a retenção das águas pluviais como medida preventiva no
combate a enchentes urbanas. Porém no decorrer do tempo o aproveitamento da
água ganhou espaço em função do risco de escassez e, também, com o objetivo de
promover a recarga dos subsolos, principal fonte de abastecimento de água nestes
países (GIANCHINI et al, 2010 apud GROUP RAINDROPS, 2002).
O uso eficiente da água em todos os tipos de edificações está relacionado
diretamente com o comportamento dos usuários quanto à utilização deste recurso
finito. Diante disso, muitos programas relacionados ao uso racional da água estão
sendo desenvolvidos no mundo todo, inclusive no Brasil. Em âmbito nacional,
atualmente vem sendo aplicado o Programa Nacional de Combate ao Desperdício
de Água – PNCDA, coordenado pelo Governo Federal, que tem por finalidade
promover o uso racional da água de abastecimento público nas cidades brasileiras,
21
em benefício da saúde pública, do saneamento ambiental e da eficiência dos
serviços dos sistemas (MARINHO, 2007).
O reuso de águas está associado a processos desenvolvidos para obtenção
de águas cujas características qualitativas possam atender aos fins pretendidos, e
que, por óbvio, dependem de seu uso anterior, no entanto, a prática do reuso de
águas pode não estar associada a qualquer tratamento prévio. De forma a facilitar
sua compreensão, o reuso pode ser entendido como o aproveitamento de uma água
já utilizada previamente, seja para atender a um uso igual ao anterior, seja para
atender a outra modalidade de uso, o que pode incluir ou não um tratamento prévio
e o seu planejamento, como se verá adiante (CARNEIRO et al, 2010)
A conceituação precisa da expressão reuso de águas está condicionada ao
exato momento a partir do qual se admite que o reuso tenha sido realizado, o que
por vezes não é de fácil conclusão. E isto porque a prática de descarregar esgotos,
tratados ou não, em corpos hídricos superficiais, para afastar os resíduos líquidos é
comumente adotada no mundo inteiro. Geralmente esses corpos hídricos são fontes
de abastecimento de mais de uma cidade, acontecendo inclusive casos em que a
mesma cidade lança seus esgotos e usa o mesmo corpo hídrico como manancial de
abastecimento. A população da cidade, a indústria ou o agricultor que capta a água,
na realidade, está reusando-a pela segunda, terceira ou mais vezes. (BREGA FILHO
E MANCUSO, 2003 apud CARNEIRO et al, 2010).
2.4 APLICAÇÕES DA ÁGUA REAPROVEITADA
Segundo Hespanhol (2000) apud Mieli (2001), um dos pilares do uso
eficiente da água é o combate incessante às perdas e aos desperdícios - no caso do
Brasil a média de perdas nos sistemas de abastecimento é de 40%. Um sistema de
abastecimento de água potável não deve ter como objetivo principal tratar água para
irrigação ou para servir como descarga para banheiros ou outros usos menos
nobres. Esses usos podem ser perfeitamente cobertos pelo reuso ou por água
reciclada.
Estudos que identificam os usos finais de água tratada nas áreas
residenciais estão sendo feitos em todo o mundo. As tabelas abaixo mostram
22
detalhadamente os percentuais de consumo de água tratada em cada ponto de
utilização de uma residência para alguns países.
Tabela 01 - Uso final de água tratada para consumo doméstico na Suíça
Ponto de Consumo Uso Final (%) Bacia sanitária 40 Ducha 37 Cozinha 6 Bebidas 5 Máquina de lavar roupa 4 Limpeza de piso 3 Jardins 3 Lavação de automóveis 1 Outros 1 Total 100 Total não potável 51 Fonte: SABESP, 2003
Tabela 02 - Uso de água tratada para consumo doméstico nos Estados Unidos
Ponto de Consumo Uso Final (%) Bacia sanitária 27 Ducha 17 Máquina de lavar roupa 22 Máquina de lavar louça 2 Vazamentos 14 Torneiras 16 Outros 2 Total 100 Total não potável 49 Fonte: SABESP, 2003
Outras aplicações para reuso da água ou da água reciclada incluem os
industriais, irrigação de lavouras, a irrigação de parques e jardins, campos de
futebol, sistemas decorativos aquáticos, tais como fontes, chafarizes, espelhos e
quedas d'água, reserva de proteção contra incêndios, lavagem de trens e ônibus
públicos, gramados, árvores e arbustos decorativos ao longo de avenidas e
rodovias, quadras de golfe, jardins de escolas e universidades (SILVEIRA, 2008).
Portanto, a regulamentação do reuso da água encontra-se em pleno curso
no Brasil, até mesmo pelo reconhecimento (explicitado nos considerandos da
Resolução CNRHN 54/2005) de que práticas de reuso já são uma realidade no país.
23
É importante salientar que a Resolução CNRH 54/2005 coloca a atividade de reuso
da água como integrante das políticas de gestão de recursos hídricos vigentes no
país (FLORENCIO, 2006)
O reuso de água pode parecer uma solução aparentemente mágica para a
escassez da água, na prática não é tão simples, um dos principais problemas do
reuso de água é a presença de compostos deletérios à saúde. Com o
desenvolvimento industrial, principalmente com da indústria química, diariamente
novos compostos são sintetizados, o que torna necessário a análise da presença
destes compostos nas águas a fim de que seja garantida sua qualidade.
O reuso planejado de águas residuárias não é um conceito novo e já é
praticado há muitos anos. Este comportamento deve ser cada vez mais considerado,
pois a recuperação da água reduz a demanda sobre os mananciais de água bruta.
Entre as alternativas existentes para viabilizar o reuso, o desenvolvimento das
técnicas de separação dos materiais por membranas ganha grande destaque. As
técnicas de separação por membranas apresentam as vantagens de serem
operadas sem aditivos e possibilitar separação seletiva de materiais
(STEPHEENSON, 2000 apud BARBOSAL et al, 2009)
Os sistemas de tratamento de esgoto sanitários, em geral, resultam em bom
nível de redução de matéria orgânica. No entanto, somente, tratamentos avançados
levam a uma significativa redução bacteriológica, e a remoção de contaminantes que
permitem reuso para fins mais nobres (STEPHEENSON, 2000; FANE et al., 2000). A
tecnologia de membranas já é efetiva no tratamento de águas para abastecimento e
contribui para resolver problemas de ordem sanitária ligados aos esgotos. Ainda,
essa técnica de tratamento evita a geração de subprodutos tóxicos, como os
trihalometanos, pela interação de moléculas não biodegradáveis com oxidantes
clorados (HABERT et al, 2006; LAPOLLI, 1998) apud Barbosal et al (2009)
2.5 TIPOS DE REUSO DE ÁGUA
Segundo Lavrador Filho (1987), citado por Brega e Mancuso (2003) a
reutilização de água pode ser direta ou indireta, decorrentes de ações planejadas ou
não:
24
• Reuso indireto não planejado da água: ocorre quando a água, utilizada
em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e
novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não
intencional e não controlada. Caminhando até o ponto de captação para o
novo usuário, a mesma está sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico
(diluição, autodepuração).
• Reuso indireto planejado da água: ocorre quando os efluentes, depois de
tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas
superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira
controlada, no atendimento de algum uso benéfico. O reuso indireto
planejado da água pressupõe que exista também um controle sobre as
eventuais novas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o
efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros efluentes que
também atendam ao requisito de qualidade do reuso objetivado.
• Reuso direto planejado das águas: ocorre quando os efluentes, após
tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o
local do reuso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso com
maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria ou irrigação.
2.6 LEIS QUE NORMATIZAM O REUSO DA ÁGUA
Nos EUA, ainda em 1918, o Departamento de Saúde Pública do Estado da
Califórnia emitiu a primeira regulamentação oficial sobre a utilização agrícola de
esgotos sanitários que se tem conhecimento. Neste país, o reuso da água (utilização
de esgotos sanitários tratados) em suas diversas modalidades (agrícola, urbano,
industrial etc.) é hoje objeto de regulamentação em todo o território nacional,
complementada por legislações vigentes em vários estados. Organismos
internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), também têm se
dedicado à recomendação de critérios de saúde para a utilização de esgotos
sanitários. Em 1973 a OMS publicou suas primeiras diretrizes sanitárias sobre o uso
de águas residuárias, constantemente atualizadas (FLORENCIO, 2006).
25
Por possuir dados concretos e confiáveis é importante atentar ao Quadro 01,
onde é citado o exemplo de como a água tratada de esgotos sanitários nos Estados
Unidos é utilizada.
Quadro 01 – Exemplos da utilização de esgotos sanitários nos Estados Unidos
Ano Localidade Aplicação da água de reuso
1912 - 1985 Parque Golden Gate, São Francisco, Califórnia
Irrigação de gramados e abastecimento de lagos ornamentais
1926 Parque Nacional Grand Canyon, Arizona
Descargas em sanitários, aspersão em gramados, água para resfriamento e água para aquecedores
1929 Cidade de Pomona, Califórnia Irrigação de gramados e jardins
1942 Cidade de Baltimore, Maryland Resfriamento de metais e em processamento de ao na Companhia Siderúrgica Bethkehem
1960 Cidade de Colorado Springs, Colorado
Irrigação de campos de golfe, parques, cemitérios e rodovias
1961 Distrito de Irvine Ranch Water, Califórnia
Irrigação de jardins e descarga de sanitários em grandes edificações
1962 Distrito de Country Sanitation de Los Angeles, Califórnia
Recarga de aquíferos usando bacias de inundação em Montebello Forebay
1977 Cidade de São Petersburgo, Flórida
Irrigação de parques, campos de golfes, escolas, gramados residenciais e água de reposição em torres de resfriamento
1985 Cidade de EL Paso, Texas Recarga de aquíferos por injeção direta, no aqüífero Hueco Bolson, e como água de resfriamento em usinas de geração de energia
1987 Agencia Regional de Monterey de Controle da Poluição da Água, Califórnia
Irrigação de diversas hortaliças, incluindo alcachofra, aipo, brócolis, alface e couve-flor
Fonte: FLORENCIO, 2006
No Brasil, desde a promulgação da Lei Nº. 9433 de 8 de janeiro de 1997,
que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, a gestão dos recursos hídricos é respaldada
em um moderno aparato normativo e institucional, em fase crescente de
implementação (FLORENCIO, 2006).
Segundo Rodrigues (2005), essa lei instituiu a Política Nacional de Recursos
Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(SNGRH), baseada nos seguintes fundamentos:
• a água é um bem de domínio público;
• é limitada e dotada de valor econômico;
• os usos prioritários são para consumo humano e dessedentação de
animais;
26
• a gestão dos recursos hídricos deve proporcionar os usos múltiplos das
águas;
• a bacia hidrográfica deve ser a unidade territorial para a implementação
da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do SNGRH;
• a gestão deve ser descentralizada, contando com a participação do
poder público, usuários e comunidades.
O reuso planejado da água faz parte da Estratégia Global para a
Administração da Qualidade da Água, proposta pelo Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005). Ela
prevê o alcance simultâneo de três importantes elementos que são a proteção da
saúde pública, a manutenção da integridade dos ecossistemas e o uso sustentado
da água (SILVEIRA, 2008).
Segundo Barbosa et al (2010) apesar da utilização racional e integrada dos
recursos hídricos serem um dos objetivos da PNRH (art. 2º, II), a lei não prevê o
reuso da água como instrumento da Política. Atualmente no Brasil, o único diploma
legal que trata especificamente do reuso é a Resolução CNRH nº 54/05, que
estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reuso direto
não potável de água. De acordo com a referida resolução, “o reuso de água se
constitui em prática de racionalização e de conservação de recursos hídricos,
conforme princípios estabelecidos na Agenda 21, podendo tal prática ser utilizada
como instrumento para regular a oferta e a demanda de recursos hídricos”.
No Brasil, o tratamento jurídico dado às águas até a promulgação da Carta
Magna de 1988, considerava a água como Política Nacional dos Recursos Hídricos
– Lei n.º 9.433/97, trouxe a consciência de que os recursos hídricos tem fim, e
encontram-se em escassez (Melis et al, 2010).
Nosso país despertou para temas como a racionalização do uso primário da
água, estabelecendo princípios e instrumentos para a sua utilização. Porém, não
houve por parte do legislador preocupação a fixação de princípios ou critérios para a
reutilização da água. (SETTI, 1995 apud MELIS et al, 2010)
Entretanto, a resolução CNRH nº 54 de 28/01/2005, ao instituir os
fundamentos da gestão dos recursos hídricos, abriu a possibilidade para a hipótese
27
do reuso de água, como sendo uma forma de utilização racional e preservação
ambiental, que juntamente com a aplicação de tecnologia específica, amenizariam o
problema da escassez da água garantindo a existência desse bem natural que é
essencial à vida dos seres viventes e das plantas (MELIS et al,2010).
28
3 METODOLOGIA
3.1 TIPO DA PESQUISA
Este estudo tratou de uma pesquisa qualitativa. Onde a pesquisa utiliza o
método descritivo qualitativo assumindo a forma de pesquisa bibliográfica por
procurar estudar a metodologia através de referências teóricas adquiridas em
literaturas (pesquisa bibliográfica e documental) e informações existentes a respeito
do tema estudado.
Como foi feito um estudo investigativo com campo definido, então os critérios
da pesquisa, de acordo com Gil (2002, p. 39), em função dos procedimentos
técnicos utilizados, mostram que as pesquisas podem ser classificadas em
pesquisas bibliográficas e documentais.
A pesquisa bibliográfica se desenvolveu a partir de material já elaborado,
constituído, sobretudo, de livros, artigos científicos e materiais veiculados em jornais,
revistas ou publicações de cunho acadêmico, científico ou da área profissional do
pesquisador.
Após o levantamento bibliográfico, foi realizada a leitura exploratória do
material encontrado. Com essa leitura, foi possível obter uma visão global do
material, considerando-o de interesse ou não à pesquisa.
3.2 PERÍODO DE ESTUDO
O recorte temporal da pesquisa foi do ano 2005 até os atuais, em 2009. Para
realizar a busca na base de dados foram utilizadas as seguintes palavras-chave:
reuso de água, meio ambiente, economia, redução ou reuso, panorama do Brasil.
3.3 COLETA DE DADOS
A base de dados utilizada reúne artigos expostos no 23º, 24º e 25º
Congressos Brasileiros de Engenharia Sanitária e Ambiental, organizado pela
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES.
29
4 DISCUSSÃO DOS ARTIGOS
Nesta fase foi realizada a pesquisa descritiva. Conforme Lakatos e Marconi
(2002), esta pesquisa procura observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os
fatos ou fenômenos (variáveis), sem interferência ou manipulação do pesquisador.
O foco desta análise foram artigos que descrevem ações realizadas no Brasil
com a meta de reutilizar a água.
É interessante notar que no 23º congresso da ABES, realizado em 2005,
foram apresentados seis artigos técnicos que tratam do reuso de água. No 24º
congresso foram apresentados trinta e seis artigos sobre o reuso. E, por fim, no 25º
congresso foram apresentados quarenta e um artigos sobre o tema, mostrando de
maneira inequívoca a preocupação crescente com um futuro sustentável para a
população.
Para esta análise foi elaborada uma ficha de seleção de artigos, conforme
apresentada no Quadro 02, mostrando os autores que se encontram presentes na
discussão e contribuem para expor como o reuso esta se desenvolvendo no cenário
nacional.
Nesse estudo, as categorias construídas após a leitura e exploração do
material selecionado foram divididas em três categorias principais:
• Reuso de Água na Agricultura
• Reuso de Água em Indústrias
• Reuso de Água em Residências
Na etapa seguinte ocorrerá a discussão das categorias montadas, realizando
a análise propriamente dita do conteúdo manifesto nas informações coletadas.
30
Quadro 02 – Lista de artigos selecionados para a discussão
Número do trabalho Autor, título do trabalho, data
01
NETTO, Rogério de Medeiros. Reuso de efluentes de um conjunto fossa séptica e filtro anaeróbio na agricultura do semi-árido baiano. 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 20 a 25 de setembro de 2009 - Recife/PE. 2009.
02
PERIN, Kamila. SILVA, Marjorye Boldrini da. Gonçalves, Ricardo Franci. CASSINI, Sérvio Túlio Alves. KELLER, Regina. Reuso de efluentes de lagoa de polimento em cultivos agrícolas. 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 18 a 23 de setembro de 2005 - Campo Grande/MS. 2005.
03
ABUJAMRA, Renata Carolina Pifer. NETO, Cícero Onofre de Andrade. MELO, Henio Normando de Souza. Reuso de águas residuárias tratadas no cultivo de grama hidropônica. 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 18 a 23 de setembro de 2005 - Campo Grande/MS. 2005.
04
FERNANDES, Jadison Alexsander. SILVA, Joel Dias da. Gerenciamento das águas de chuva para uso não-potável em uma edificação residencial em Blumenau – SC: estudo de caso. 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 20 a 25 de setembro de 2009 - Recife/PE. 2009.
05
FELIX, Eduardo Silva. NODA, Manuela Merçon. GONÇALVES, Ricardo Franci. Consumo de água potável e não potável em uma edificação dotada de sistema de conservação da água. 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 20 a 25 de setembro de 2009 - Recife/PE. 2009.
06
VALENTINA, Renata Spinassé Della. VAZ, Laila de Oliveira. PERTEL, Monica. EMERY, Raphael Depes Bruzzi. GONÇALVES, Ricardo Franci. Desempenho de uma estação de tratamento de água cinza para reuso não-potável em uma edificação residencial. 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 20 a 25 de setembro de 2009 - Recife/PE. 2009.
07
VIEIRA, Maria de Fátima Almeida. COSTA, Maria Angélica do Socorro Miná. RAMOS, Maria Coutinho. Redução e economia de água no setor industrial de curtume com o reuso do seu efluente tratado. 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 18 a 23 de setembro de 2005 - Campo Grande/MS. 2005.
08
TENÓRIO, Rosa Maria Barros. CALLADO, Nélia Henriques. Águas de Reuso em uma Indústria Sucroalcooleira de Alagoas. 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 02 a 07 de setembro de 2007 - Belo Horizonte/MG. 2007.
09
SILVA, Jorge Luis Melo da. MOTA, Suetônio. Utilização de esgoto doméstico tratado em sistema de lagoas de estabilização como água de amassamento e cura de concreto. 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 20 a 25 de setembro de 2009 - Recife/PE. 2009.
31
4.1 REUSO DE ÁGUA NA AGRICULTURA
Foi constatado que a aplicação controlada de efluente tratado na agricultura
vem sendo realizada no Brasil e tem surtido bons efeitos, visto que esse efluente
apresenta nutrientes necessários a agricultura.
Netto (2009) mostra que, além a escassez de água, outro fator que contribuiu
para o desenvolvimento das práticas de reuso foi o maior rigor das legislações
ambientais em relação ao padrão de qualidade dos efluentes, além do que estados
como a Bahia, que tem cerca de 70% de sua área incluída na região semi-árida,
onde habita, aproximadamente, a metade da população, urgem por iniciativas no
sentido de reutilizar os efluentes.
Ainda de acordo com o Netto (2009), a aplicação dos efluentes domésticos na
agricultura, por meio de irrigação, além de propiciar o desenvolvimento de uma
agricultura comercial, pois disponibilizaria uma fonte permanente de água, rica em
nutrientes, também evitaria a poluição dos corpos d’água, pois o solo é um meio
capaz de absorver a matéria orgânica e os cultivos absorvem os nutrientes contidos
nos efluentes.
Compartilhando com a mesma opinião, Perin (2005) e Abujamra (2005)
ressaltam que o uso de efluentes tratados como fonte de nutrição vegetal preserva
os recursos hídricos já bastante escassos para usos mais nobres. Quando utilizado
em substituição às soluções nutritivas convencionais, tem condições de fornecer
macro e micronutrientes às plantas, passando estes a serem retirados do próprio
efluente doméstico, evitando assim o seu descarte no meio ambiente e conseqüente
poluição.
Netto (2009), Perin (2005) e Abujamra (2005) mostram que têm sido
estudadas diversas possibilidades na reutilização de efluentes para irrigação. Desde
efluentes com um pré-tratamento até mesmo esgoto bruto aplicados diretamente em
lavouras.
É importante ressaltar que as iniciativas são bem sucedidas, visto que as
mudas de vegetais que receberam tal tratamento apresentam melhores
características em relação as mudas que receberam o tratamento convencional.
Conforme os Netto (2009) e Abujamra (2005), além dos feijoeiros, foram irrigados
32
com sucesso pequenas lavouras de: grama hidropônica, trigo, arroz, batata e
algodão.
Analisando a Tabela 03, é possível perceber que as mudas de feijão quanto
irrigadas com efluentes apresentaram um desenvolvimento até 50% melhor do que
quando irrigadas com água e recebendo adubação química. O que mostra que os
nutrientes presentes nos efluentes primários são bem aproveitados pela lavoura de
feijão, superando a adubação química, com menor impacto ambiental e custo
econômico.
Os autores concluem com resultados positivos quanto ao uso de efluentes na
irrigação de suas amostras, conforme mostrado nas tabelas abaixo:
Tabela 03: Alturas médias dos feijoeiros de cada tratamento (cm)
Tratamentos 15 dias 30 dias 45 dias T1 (adubação química + água) 9,33 9,90 10,15 T2 (efluente diluído 1:10) 10,06 11,23 12,08 T3 (efluente diluído 1:5) 10,74 11,71 12,89 T4 (efluente não diluído) 10,79 13,00 15,53 Fonte: PERIN et al, 2005.
Abujamra (2005), demonstra através da Figura 01 que a grama hidropônica
quando alimentada com efluentes apresentou um rendimento inferior comparando-
se com quando ela foi alimentada com solução nutritiva comercial. Porém o autor faz
uma ressalva afirmando que essa diferença deve-se a menor presença de nutrientes
no efluente do que as mudas necessitam e que com alterações na drenagem no
canteiro seria possível irrigar a grama com quantidades maiores de efluentes,
fornecendo assim a quantia necessária de nutrientes necessários para igualar o
rendimento obtido com a solução nutritiva.
A Figura 01 foi montada seguindo a nomenclatura indicada abaixo:
• T1 – Areia grossa - alimentado com solução nutritiva comercial em sistema
fechado com recirculação.
• T2 – Areia fina, alimentado com esgoto tratado.
• T3 – Areia grossa, alimentado com esgoto tratado.
33
Figura 1 – Desenvolvimento das mudas de grama (ABUJAMRA et al, 2005)
As experiências contidas nos artigos supracitados concluem ressaltando a
eficiência destas novas técnicas em relação ao cultivo tradicional, do ponto de vista
econômico, e que a irrigação com efluentes proporcionaram melhores resultados em
relação ao tamanho e massa fresca e seca das plantas quando comparados com as
plantas cultivadas com os demais tratamentos, provavelmente devido ao maior
aporte de nutrientes contido no efluente.
4.2 REUSO DE ÁGUA EM INDUSTRIAS
A água também é fator fundamental para a operação e expansão das
industrias brasileiras. Isso engloba praticamente todos os ramos da industria:
construção civil, agroindústria, metalúrgica, dentre outros.
Vieira (2005), Tenório (2007) e Silva (2009) concordam ao mostrar que já
existem diversas iniciativas no meio industrial para se fazer a reutilização da água.
Seja no arrefecimento de máquinas, lavagem da produção ou na própria produção
dos materiais.
34
Tomando como exemplo a construção civil que faz uso de quantidades
notórias de água em praticamente todas as suas atividades. Nas atividades
executados nos canteiros de obras, embora a água não seja tratada como material
de construção, seu consumo é elevado.
Para a produção de um metro cúbico de concreto, se gasta, em média, de
150 a 250 litros e, na compactação de um metro cúbico de aterro, podem ser
consumidos até 300 litros de água (CLETO, 2010).
Por isso é desnecessário afirmar que fazer uso da mesma água necessária
para fins de higienização, limpeza, preparo de alimentos e consumo humano, na
realização de processos construtivos é inaceitável, visto que é possível empregar
águas de qualidade inferior.
Assim, Silva (2009) evidencia esse fato ao propor um uso para os efluentes
parcialmente tratados para uma água que normalmente não é contabilizada durante
sua utilização, porém é fator fundamental para a obtenção de um dos materiais mais
utilizados na construção civil, o concreto. Esse reuso ocorreria ao substituir a água
de amassamento e cura do concreto por efluente predominantemente doméstico,
oriundo de sistema de tratamento por lagoas de estabilização, para concreto
produzido em escala laboratorial.
Efluentes tratados na indústria possuem uma enorme gama de utilizações.
Tenório (2007) cita que cerca de 90% das águas empregadas nas usinas de cana-
de-açúcar devem-se basicamente a quatro operações: lavagem de cana (25%),
águas dos condensadores barométricos ou multijatos da fabricação do açúcar
(29%), águas de resfriamento de dornas de fermentação (14%) e águas dos
condensadores de álcool (19%).
Um estudo em dez parques industriais do estado de Alagoas, dos quais sete
são produtores de açúcar e álcool, um apenas de açúcar e dois somente de álcool,
mostrou que o consumo de água varia de 0,7m3 a 12,2m3 por tonelada de cana
esmagada (TENORIO, 2007 apud BUARQUE, 2003).
Tenório (2007) prossegue afirmando que as principais vantagens do reuso da
água na usina estudada é o menor volume de água captada no manancial, e a
busca do descarte zero dos efluentes industriais em corpos de água. Porém, o autor
ressalta que esse mesmo reuso também gera algumas desvantagens. Dentre elas é
35
necessário citar a quantidade de água descartada para o canavial após sua
utilização na usina, pois embora não haja ressalvas quanto a qualidade desta para
isto, não é possível lançá-la em corpos de água, e em caso de chuvas fortes, essa
água pode causar o alagamento do local.
É necessário mostrar que o reuso já esta sendo feito com sucesso em
indústrias de curtume, como exposto por Vieira (2005), onde esse efluente passa por
uma ETE, e reutilizado na etapa de processo conhecido como wet-blue, pois esta é
a etapa que mais consome recursos hídricos dentro do processo da produção de
couro.
Mesmo que esse reuso não tenha uma maior abrangência dentro dessa
indústria especificamente, excluindo áreas como laboratórios, setor de calçados,
refeitório e banheiros, notou-se uma diminuição significativa no consumo de água
fornecida pela companhia de água local.
Assim é possível afirmar que temos boas práticas sendo adotadas no meio
industrial. O curtume estudado por Vieira (2005) realizou um uso médio de
aproximadamente 20% de efluente tratado em relação ao total de água consumida
durante todo seu processo produtivo.
Tabela 04: Fontes de consumo de água durante os anos de 2002, 2003 e 2004
Fonte de consumo
Volume em Porcentagem (%)
Valor Pago (R$)
ANO 2002 Companhia de Abastecimento 72,37 13.691,44 Reservatório de Efluente Tratado 27,63 5.226,50
ANO 2003 Companhia de Abastecimento 73,86 20.668,65 Reservatório de Efluente Tratado 26,14 7.316,61
ANO 2004 Companhia de Abastecimento 94,8 28.823,55 Reservatório de Efluente Tratado 5,2 1.575,85 Fonte: VIEIRA et al, 2005.
A partir da tabela acima é possível notar que mesmo com a queda brusca na
utilização de efluente tratado no curtume, a economia gerada pelo seu uso foi
significativa, perfazendo R$ 14.118,96 durante os três anos em que o estudo foi
36
realizado, provando que a utilização de efluentes tratados é economicamente viável
nesse ramo.
Silva (2009) mostra que, conforme os ensaios realizados, foi constatado que é
possível utilizar o efluente tratado da ETE do município de Aquiraz - CE, desde que
o mesmo atenda as especificações da ABNT (1997), como água de amassamento e
cura de concreto, sem perdas para a resistência do concreto ou alterações de suas
características.
Tabela 05: Determinação de resistência à compressão aos sete dias utilizando
água potável e esgoto tratado
Data da moldagem
Data do ensaio
Água potável Esgoto tratado
Corpo-de-prova
Resistência (MPa)
Média (MPa)
Corpo-de-prova
Resistência (MPa)
Média (MPa)
20/10/07 27/10/07 01 24,00
24,03 07 22,80
23,23 02 24,20 08 22,90 03 23,90 09 24,00
27/10/07 03/11/07 01 23,80
23,47 07 24,20
24,27 02 23,40 08 24,70 03 23,20 09 23,90
03/11/07 10/11/07 01 22,90
23,23 07 22,50
23,10 02 22,80 08 23,70 03 24,00 09 23,10
10/11/07 17/11/07 01 23,70
24,00 07 23,60
24,00 02 23,50 08 24,10 03 24,80 09 24,30
Fonte: SILVA et al, 2009.
4.3 REUSO DE ÁGUA EM RESIDÊNCIAS
Ao contrário de áreas que possuem um consumo massivo de água, como a
agricultura e o setor industrial, o reuso de água em residências se mostra com mais
possibilidades, uma vez que é possível combinar o uso de água cinzas com o de
águas pluviais, gerando uma fonte segura de abastecimento para tais residências.
Fernandes (2009), Felix (2009) e Valentina (2009) expõem que há diversas
maneiras de se fazer o reuso de água a nível residencial. Seja utilizando águas
pluviais ou águas cinzas, é possível através de meios simples de tratamento obter
37
níveis de qualidade excelentes. O que torna o reuso de água economicamente viável
e ambientalmente recomendado.
O reuso é possível mesmo em pequenas residências, conforme Fernandes
(2009), pois devido ao pequeno consumo de água destas, é possível fazer uso de
sistemas menores e mais baratos de tratamento de água. Utilizando-se um sistema
de captação de águas pluviais através de calhas, filtração com areia e carvão
ativado e um sistema de cloramento artesanal foi possível atingir um nível de
tratamento excelente desta água captada, propiciando um uso amplo da mesma.
Porém, mesmo obtendo uma água teoricamente potável, devemos ressaltar
que a água de reuso para fins potáveis é associada a riscos muito elevados. Até
mesmo a OMS (WHO, 2010) desencoraja o reuso direto, ou seja, a conexão direta
dos efluentes de uma estação de tratamento de esgoto ao sistema de distribuição
pública ou reservatórios de água potável.
Em locais onde não há chuvas freqüentes o método acima não se mostra
muito eficaz, uma vez que ele depende de chuvas regulares para abastecer o
reservatório da residência.
Em lugares assim é possível apresentar a solução utilizada por Valentina
(2009), onde através da captação das águas cinzas produzidas nas residências e
seu encaminhamento a Estação de Tratamento de Águas Cinzas (ETAC) presente
no próprio prédio.
Segundo FIORI et al (2006) “as águas cinzas são aquelas provenientes dos
lavatórios, chuveiros, tanques e máquinas de lavar roupa e louça”. Porém, quanto ao
conceito, observa-se que ainda não há consenso internacional.
Se o objetivo principal forem o uso de chuva e águas cinzas em descargas
sanitárias, a água de reuso produzida a partir de água cinza deve possuir baixa
turbidez, cor reduzida e ausência de odor desagradável. A utilização de água cinza
bruta em descargas sanitárias ou na irrigação de jardins é uma prática vigente em
alguns países, apesar do aspecto relativamente desagradável da água de reuso
(FIORI et al, 2006).
38
Valentina (2009, p.2) explica como é composto a ETAC das residências
estudadas:
A estação de tratamento de águas cinza (ETAC) é composta por um
reator anaeróbio compartimentado dividido em três compartimentos,
um filtro biológico aerado submerso, um decantador, um tanque de
equalização de vazão, um filtro terciário de membrana e um clorador de
pastilha.
E mesmo um sistema relativamente simples de tratamento de águas cinzas
apresentou ótimos resultados conforme mostrado por Valentina (2009), onde esse
sistema apresentou grande eficiência na remoção da DBO, DQO, sólidos e matéria
orgânica, sulfetos e coliformes totais.
Os autores estudados apresentam valores semelhantes quanto ao uso de
águas potáveis e não potáveis em edificações residenciais. Com consumo de águas
não potáveis variando entre 15 a 32% do consumo total. Assim é possível inferir que
ações no sentido de diminuir o consumo além de terem impacto econômico direto, a
água de reuso é uma opção correta do ponto de vista ambiental, já que contribui
para diminuição da captação e conseqüente redução nas vazões de lançamento de
efluentes nos corpos de água.
Conforme Fernandes (2009), Felix (2009) e Valentina (2009) o consumo
doméstico de águas cinzas ou pluviais é uma alternativa economicamente viável.
Em volumes menores, como em residências, o tratamento de efluentes pode se dar
de maneira simplificada, assim prédios residenciais podem implantar sugestões
como a mostrada por Felix (2009) e Valentina (209), que propiciam um tratamento
automatizado e eficaz das águas cinzas produzidas no local.
Felix (2009) estudou o consumo de água de residências e constatou que esse
consumo é significativo, principalmente em grandes prédios. E que parte desse
consumo de água potável pode ser substituído por água reciclada, conforme
mostrado na Tabela 06:
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Tabela 06: Índices de consumo médio de água
Autor/Entidade Ano Per capita (l/hab.dia)
Per área (l/m2.dia)
OBSERVAÇÕES
PROSAB 2005 155 5 Edificação SIMIC 189 6 Edificação BASC 223 6 Edificação SECO
Pertel et al. 2008 214 7 Edificação convencional: Verão 237 8 Edificação convencional: Inverno
SNIS 2006 200 - Consumo médio da cidade de Vitória
Resultado da pesquisa 2008
152 3 Água potável na edificação com reuso de água cinza
46 1 Água não potável na edif. com reuso de água cinza
198 4 Consumo total Fonte: FELIX et al, 2009.
Com a população do prédio estimada pelo autor em 70 pessoas, o reuso de
águas cinzas pouparia aproximadamente 100m3 de água potável por mês. Uma
economia de aproximadamente 25% em valores totais, o que causa uma economia
realmente significante, o que torna o reuso de efluentes bastante atraente.
40
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A água é um elemento essencial para a nossa sobrevivência e para todos
seres vivos, a água potável esta se tornando cada vez mais cara e escassa.
Previsões realizadas por diversas organizações resultam na previsão unânime que
irá faltar água potável em um futuro próximo.
A forma mais comum de captação de água é, em geral, proveniente de rios,
que estão a cada dia mais poluídos, necessitando de tratamentos mais complexos
para viabilizar seu consumo. Portanto, a reciclagem de água, dentro de poucos
anos, será uma prática que vai ganhar muitos adeptos, pois a água se tornará um
produto muito caro.
Assim como constatado, o abastecimento de água potável permanece sendo
um problema em diversas partes do país, mas já é possível notar iniciativas no
sentido de se poupar água potável fazendo reuso de águas negras, cinzas e
pluviais.
Quando se evidencia o meio agrícola e industrial já é possível notar iniciativas
palpáveis quanto ao reuso de água, seja na irrigação de colheita, como fonte de
nutrientes para a lavoura, como método de resfriamento dos equipamentos, dentre
outros.
A discussão dos artigos nos permitiu conhecer em que estágio está o cenário
brasileiro de reuso de água, mostrando que existem iniciativas isoladas nesse
sentido.
Para que o reuso se torne algo corrente para a população, além de iniciativas
visando a educação da população brasileira é necessário que a legislação brasileira
conceda incentivos quando se refere ao reuso de águas em edificações residenciais,
pois embora em setores mais desenvolvidos isso já esteja se tornando realidade, no
setor de edificações residenciais o sistema de reuso de efluentes ainda esta
“engatinhando”.
A diversidade das realidades de cada local onde conflitam problemas sociais,
econômicos e ambientais mostra que somente grandes iniciativas, englobando o
reuso, unidas a uma legislação que fomente e fortaleça esse reuso de água como
42
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