Top Banner
1 TEORIA DA ARQUITECTURA NO OCIDENTE: SÉCS. XVII-XVIII O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico J. M. Simões Ferreira Curso Livre de História da Teoria da Arquitectura: 26 de Abril a 21 Maio de 2012 Instituto de História da Arte – Centro de Investigação – Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa
170

Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

Jan 27, 2023

Download

Documents

Jorge Rocha
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

1

TEORIA DA ARQUITECTURA NO OCIDENTE: SÉCS. XVII-XVIII

O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó,

Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

J. M. Simões Ferreira

Curso Livre de História da Teoria da Arquitectura: 26 de Abril a 21 Maio de 2012

Instituto de História da Arte – Centro de Investigação – Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa

Page 2: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

2

TEORIA DA ARQUITECTURA NO OCIDENTE: SÉCS. XVII-XVIII

Ou o Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó,

Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

J. M. Simões Ferreira

Page 3: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

3

Curso Livre de História da Teoria da Arquitectura: 26 de Abril a 21 Maio de 2012

Instituto de História da Arte – Centro de Investigação – Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa

Page 4: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

4

Ah, que sont devenus ces fameux Edifices,

Ces Colonnes, ces Frontispices,

Qui paroisseient avoir été

Elevez pour l’Eternité

Figura da Capa: Fréart de Chambray, Paralléle de l’Architectvre Antiqve avec la Moderne, Paris, 1650

Figura do Frontispício: Pierre Le Muet, Manière de Bastir pour Toutes Sortes de Personnes, Paris, 1623

Figura desta página: J.-F. Blondel, Livre Nouveau ou Regles des Cinq Ordres d’Architecture, Paris, 1761

ÍNDICE

1. Itália: Pellegrini, Scamozzi, Guarini e outros, ou reformulações do Vitruvianismo entre

Maneirismo, Classicismo, e Barroco Pleno. – 1.1. França: O Grand Siècle do Classicisme,

ou vicissitudes do Vitruvianismo entre La Raison sur Tout, e a pintura, La Reyne des Arts............................7

2. Mitteleurope: Das Architectura’s de J. Furttenbach, ao Theatrum Architectura Civilis de

C. Ph. Dieussart (Séc. XVII). – 2.1. Inglaterra: Das primícias do Paladianismo, com Inigo

Jones, ao Vitruvius Britannicus, de Colen Campbell (Séc. XVII-inícios do Séc. XVIII)..............................23

Page 5: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

5

3. A Teoria da Arquitectura em Espanha: De Villalpando e Prado a Lorenzo de San Nicolás,

e de Juan Caramuel de Lobkowitz até Ortiz y Sanz (Séc. XVII-inícios do Séc. XIX)..................................41

4. O Caso Português: Ou a escassez de Teoria da Arquitectura em Portugal, e Excurso sobre

o significado da Arquitectura Chã (Séc. XVII-inícios do Séc. XIX).............................................................55

5. França e Itália: Da multiplicidade e diversidade de Teorias, Cour’s, Essai’s e Saggio’s

do Iluminismo aos Arquitectos da Revolução (Séc. XVIII-inícios do Séc. XIX)..........................................69

6. Mitteleurope: Do Historicismo de Fischer von Erlach ao Classicismo de J. W. Goethe,

e até à intervenção dos Filósofos (Séc. XVIII-inícios do Séc. XIX)..............................................................97

7. Inglaterra: Do Romantismo das Ruínas, da Poesia Tumular, da Teoria dos Jardins, da

Moda Chinesa, do Neogótico, e da Continuidade do Paladianismo, a uma Arquitectura

para Trabalhadores (Séc. XVIII-inícios do Séc. XIX).................................................................................117

8. Resumo (In)conclusivo: Desenvolvimento, Declínio, e Persistência do Vitruvianismo,

ou vicissitudes da Teoria da Arquitectura da Idade Moderna......................................................................141

Bibliografia......................................................................................................................................................149

Page 6: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

6

Middleton, The Architect and Builder’s Miscellany, on Pocket Library; Containing Original

Picturesque Designs in Architecture, &c., London, 1799, Primitive Huts.

1. Itália: Pellegrini, Scamozzi, Guarini e outros, ou reformulações do Vitruvianismo entre

Maneirismo, Classicismo, e Barroco Pleno. – 1.1. França: O Grand Siècle do Classicisme, ou

vicissitudes do Vitruvianismo entre La Raison sur Tout, e a Pintura, La Reyne des Arts.

Na Itália do Séc. XVII confrontam-se as três expressões estilísticas, acima referidas, que têm um

correlato doutrinário na Teoria da Arquitectura da época, avultando, para cada uma dessas correntes,

Page 7: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

7

três tratadistas: Pellegrino Pellegrini, Vincenzo Scamozzi e Guarino Guarini. – No entanto, é difícil

falar de uma tratadística maneirista ou barroca, pois todas as formulações teóricas elaboradas se

subsumem no Vitruvianismo, conjunto doutrinário que dominou por todo o período que se vai expor.

Pellegrino Pellegrini (1527-96): escreve L’architettura1 nos finais do Séc. XVI, mas a obra só é

impressa em 1990. – Divide-se em três partes: a primeira debruçada sobre as tipologias dos edifícios

públicos, sagrados e profanos, com especial relevo para as basílicas, donde derivara a Igreja Cristã,

reflectindo preocupações da Contra-Reforma, assim, parecendo querer legitimar o uso da tipologia

da basílica como igreja cristã; a segunda parte apresenta uma paráfrase do tratado de Alberti (De re

aedificatoria2, 1443-52, impr. 1485), e a terceira um resumo de Vitrúvio, embora muito lacunar.

Reflecte, nisto, a noção da dupla filiação da Teoria da Arquitectura da Idade Moderna.

Pellegrini, também conhecido como Tibaldi, viveu largos anos em Espanha, mas trabalhando mais

como pintor-decorador, do que propriamente como arquitecto. Do período em Itália conhece-se

vários estudos de arquitectura, de que se salienta a fachada do Santuário de Caravaggio (tipologia

basilical) e o corte-alçado de S. Sebastiano di Milano (Tempieto, utilizado num dos diapositivos),

em ambos se denotando um Maneirismo acentuado, com frontões quebrados, pórticos com mistura

de arcos e lintéis, relações de escala e de dimensões abruptas, etc..

Vincenzo Scamozzi (1548-1616): L’idea della architettura universale3, 1615. O mais volumoso e

denso tratado escrito até aí, e mesmo assim, incompleto, apenas se tendo editado seis dos livros

previstos, que seriam dez, à maneira dos fundadores, Vitrúvio e Alberti, o que, denota as intenções

de uma refundação da Teoria da Arquitectura, assente na racionalidade do conceito (está-se na

época do concettismo), ou idea universale.

A arquitectura seria uma ciência especulativa, caracterizada pela abstracção, devendo a forma obede-

cer à ideia, porque, diferente da pintura e da escultura, a arquitectura não imita tanto a natureza,

inspirando-se mais nas formas puras da geometria. Assim, propõe como específico da arquitectura

um terzo genere, que seria um compromisso entre as formas naturais, sensíveis, e as artificiais da

geometria e abstracção, ou de l’idea. – Isto está conexionado com o purismo geométrico e formal do

classicismo, que interpreta à maneira paladiana, embora com dimensões mais modestas e escala mais

humana, demarcando-se dos excessos do Maneirismo e do Barroco, que já se afirmava, ao tempo.

1 Pellegrini, P., L’architettura, ms. fins Séc. XVI, ed. critica a cura di G. Panizza, introd. e note di A. B. Maz-

zotta, Milano, 1990. 2 Alberti, L. B., L’Architettura [De re aedificatoria], esc. 1443-52, ed. 1485, ed. critica, texto latino e traduzione

a cura di G. Orlandi, introduzione e note di P. Portoghesi, Milano, 1966, 2 vols.. 3 Scamozzi, V., L’idea della architettura universale, Venetia, 1615, ed. facsimil, Bologna, 1982, 2 vols..

Page 8: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

8

Apresenta um projecto de cidade fortaleza, de forma poligonal, 12 lados, inscrita num círculo, com

um traçado ortogonal de ruas, e cinco praças, a maior no centro da cidade. Tem características de

cidade ideal, e conexão com Palmanova, projectada e construída a partir de 1593, em Udine, região

fronteiriça do Nordeste de Itália, então República de Veneza. – O projecto realizado deve-se a Giulio

Savorgnan (1510-95), mas uma proposta de Scamozzi, embora rejeitada, teve alguma influência.

Com Gian L. Bernini (1598-1680) e Francesco Borromini (1599-1667) o Barroco atinge um dos

seus apogeus, mas o primeiro não deixou obra teórica, apenas um texto exprimindo a ideia de que

os escultores e os pintores costumam ser os melhores arquitectos4; do segundo, tudo o que se conhece

é Opus architectonicum5, manuscrito descrevendo a intervenção no Oratorio dei Filippini, erigido

entre 1637-50; o manuscrito está datado, 1648, e foi redigido por Virgilio Spada, colaborador de

Borromini, sob a orientação deste, mas só veio a prelo em 1725, e depois em várias edições já no

nosso tempo. – No conjunto de observações exaradas, salienta-se o desejo de modéstia na construção

e ornamentação, e de regularidade e comodidade na disposição. E, com efeito, o conjunto brilha

pelo refinamento do desenho, da espacialidade e das proporções. Sendo notável que num sítio tão

irregular se tenha conseguido uma forma tão regular e desafogada.

Guarino Guarini (1624-83), o seu tratado, Architettura Civile6, publicado em 1737, reúne uma

série de escritos realizados no último quartel do Séc. XVII, em que se avultam as preocupações

com o Disegno o Idea, tratado em quatro partes: Icnografia, Ortografia elevata, Ortografia gettata

(procedimento para desenhar a fachada primeiro e, em seguida, projectá-la em planta), e Geodesia,

ignorando a Scenografia, que, no entanto, nomeara no início.

Com Guarini o disegno torna-se o grande protagonista da arquitectura, parecendo pretender centrar a

arquitectura no disegno. – Um desenho projectivo, pleno de virtuosidades geométricas e matemáticas

(Guarini é tido como um dos pioneiros do cálculo integral). E, com efeito, a sua arquitectura mostra

isso: a virtuosidade de uma geometria complexa ao serviço da espacialidade dilatada do barroco,

celebradora da cartesiana res extensa. – Conexa com essa espacialidade, a sua noção das proporções,

4 Chantelou, P. F., Tagebuch des Herrn von Chantelou über die Reise des Cavaliere Bernini nach Frankreich,

deutsche Ausg. von H. Rose, München, 1919, p. 36. 5 Borromini, F., Opus Architectonicum, 1648, ed. Roma, 1725; ed. critica del manoscrito originale con intro-

duzione di J. Connors, Milano, 1998. 6 Guarini, G., Architettura Civile, escrito c. 1680, ed. por B. Vittone, Torino, 1737; ed. critica con introd. di

N. Carboneri, note e appendice de B. T. La Greca, Milano, 1968.

Page 9: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

9

valorizando o gótico, considerado uma ordine, produzida por ingegnosi edificatori, que tinham feito

igrejas proporzionatamente alla largheza molto elevate e com colonne di somma sveltezza7.

Ao longo do Séc. XVII e até meados do Séc. XVIII, em Itália, no âmbito da cultura barroca, houve

muitos outros escritores, mas que são dispensáveis, porque pouco ou nada adiantaram para a Teoria

da Arquitectura, entretanto emigrada para França, também neste domínio, como se verá, a grande

potência europeia desse tempo, le Grand Siècle.

Em qualquer dos casos é de nomear Giovanni Pietro Bellori (1613-96), neo-platónico, crítico dos

excessos naturalistas do barroco, que em L’idea del pittore, dello scultore, e dell’architetto scelta

dalle belleza naturali superiori alla Natura8, 1664, propõe certo equilíbrio entre as formas derivadas

da natureza e as formas ideais inspiradas na Idea.

Vincenzo Giustiniani (1564-1637), aristocrata, colecionador de arte, no Discorso sopra l’Architet-

tura9, não editado no seu tempo, defende uma arquitectura baseada na commodità, sodezza (firmeza)

e sicurezza, mas não descurando a simmetria necessaria e a debita proporzione, bem assim como o

ornamento pubblico e generale della città e patria10.

Teofilo Gallaccini (1564-1641), em Trattato sopra gli errori degli architetti11, 1625, ed. em 1767,

debruça-se sobre os diversos erros em que se pode incorrer numa construção: relativos à escolha do

terreno e dos materiais, à concepção do projecto, e à determinação das proporções que, mais do que à

matemática, deviam atender à óptica. Critica a Cúpula de S. Pedro, pois resulta rebaixada, deveria ser

mais alta. Demarca-se dos excessos barrocos, advogando uma arquitectura imitatrice delle opere

della Natura. Além diso, devia-se respeitar a ordem e o decoro, poichè dove non si osserva ordine,

quivi è confusione, ivi è deformità, ed ove questa si vede, non regna perfezione alcuna12.

Antonio Visentini (1688-1782), em Osservazioni, che servono di continuazione al trattato di Teofilo

Gallacini13, 1771, critica o rococó com argumentos similares aos de Gallaccini na crítica do barroco,

7 Guarini, ob. cit. (1737), ed. 1968, p. 208. 8 Bellori, G. P., L’idea del pittore, dello scultore, e dell’architetto scelta dalle belleza naturali superiori alla

Natura, 1664, discurso lido perante a Academia, depois editado em Le vite de’pittori, scultori e architetti

moderni, Roma, 1672, como prólogo; ed. critica a cura di E. Borea, con introd. di G. Previtali, Torino, 1976. 9 Giustiniani, V., Discorso sopra l’Architettura, c. 1610, in Discorsi sulle arti e sui mestieri, ed. A. Banti,

Firenza, 1981, p. 47-62. 10 Giustiniani, ob. cit. (c. 1610), p. 59. 11 Gallaccini, T., Trattato sopra gli errori degli architetti, 1625, ed. con introd. di G. A. Pecci, Venezia, 1767. 12 Gallaccini, ob. cit. (1767), p. 56. 13 Visentini, A., Osservazioni, che servono di continuazione al trattato di Teofilo Gallacini, Venezia, 1771.

Page 10: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

10

utilizando as mesmas ilustrações, embora retocadas. Pretende far risorgere la perfetta Architettura,

ou seja, a ottima antica Architettura Greca e Romana14. Insere-se na corrente do Neoclassicismo,

sendo autor de vários edifícios em Veneza, de estilo Neopaladiano. – Escreveu muitas outras obras

sobre arquitectura e sobre Veneza.

Durante todo o Séc. XVII publicaram-se várias obras de tipo modesto e económico que visavam a

divulgação da Teoria da Arquitectura, intentando fazê-la chegar a um público mais vasto, ainda que

menos erudito. – Estão neste caso as obras seguintes:

Pietro Antonio Barca, Avvertimenti e regole circa l’architettura civile, Scultura, Pittura, Prospe-

ttiva e Architettura militare, Milano, 1620.

Gioseffe Viola Zanini, Della architettura libri due, Padova, 1629, reed. 1677 e 1698.

Giovanni Branca, Manuale d’Architettura, breve, e risoluta Pratica, diviso in sei libri, Ascoli,

1629, reed. Roma, 1718, 1757, 1772, 1781, 1783, 1784, 1786.

Carlo Cesare Osio, Architettura civile dimostrativamente proporzionata et accresciuta, Milano,

1641, reed. 1661, 1686.

Constanzo Amichevoli, Architettura civile ridotta a metodo facile e breve, Torino, 1675.

Alessandro Capra, La nuova Architettura civile e militare, Bologna, 1678, reed. 1717.

No seu conjunto, estes autores pouco ou nada acrescentaram à Teoria de Arquitectura, mas o êxito

prolongado de algumas das obras, sucessivamente reeditadas, principalmente no período da passa-

gem do Barroco para o Neoclassicismo, mostra que a Teoria da Arquitectura se democratizara e

tornara necessária, como alicerce e esclarecimento da prática, até para as obras mais modestas, do

âmbito da architettura civile, título usual deste tipo de tratados, ostentando, o de Alessandro Capra,

como subtítulo, architettura famigliare.

14 Visentini, ob. cit. (1771), p. 137.

Page 11: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

11

Pellegrini, studio per la facciata del santuario di Caravaggio; Scamozzi, Fabrica delli Pisani;

Guarini, Cupula di S. Filippe – O Maneirismo, o Classicismo Paladiano, e o Barroco, perfilados.

Scamozzi, il terzo genere, e planta de Citta Nuova (Palmanova?).

Guarini, Palazzo del Filiberto di Savoia, Torino, a ortografia gettata

Page 12: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

12

Borromini, San Carlino alle Quattro Fontane, Roma, 1634-67; Scamozzi, Villa Pisani, Vicenza, 1575-78

Guarini, Cúpula de San Lorenzo, Torino, 1668-87

Visentini, Palazzo Giusti, 1766, junto à Ca’ D’Oro; id., Palazzo Smith Mangilli Valmarana, 1740

Page 13: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

13

1.1. França: O Grand Siècle do Classicisme, ou vicissitudes do Vitruvianismo entre La Raison

sur Tout, e a Pintura, La Reyne des Arts.

A França, no Séc. XVII, devém a maior potência europeia, devido, antes de mais, a um fenómeno

demográfico: chega aos 20 milhões de habitantes, quase tantos como os da restante Europa Ocidental,

toda junta. Foi a época do absolutismo de Louis XIV, e do Grand Siècle, marcado pela supremacia

cultural da França: Descartes, Pascal, Moliére, Racine, Boileau, Le Brun, Le Vau, Le Nôtre, etc..

Na Arquitectura é a época do Classicisme, mas também da grande procura de bastiment, devido ao

crescimento da população e das cidades.

Pierre Le Muet (1591-1669), Manière de bastir pour touttes sortes de personnes15, 1623, propõe-se

como um manual utilitário, isento de retórica, mas referindo as categorias finalísticas básicas de

Vitrúvio, nomeadas como durée (firmitas), aisance ou commodité (utilitas), la belle ordonance

(venustas), a que junta la santé des appartments.

Depois, desenhados em plantas e alçados, é uma série de tipos de edifícios, para todas as dimensões e

categorias sociais urbanas (toutes sortes de personnes), indo do mais exíguo lote urbano (12 pés de

largura por 21 a 25 de profundidade) até à mansão de porte considerável (101 pés por 45), mas

sempre com idênticas regras compositivas, respeitando a proporção de 1 : 2, a simetria (principal

categoria estética da belle ordonance), a forma regular dos aposentos, e a sua insolação e arejamento,

todos com uma parede para o exterior ou para o cour, evitando compartimentos interiores.

À sequiosidade pela arquitectura, e intento de enobrecer as casas, ao menos com um portal, corres-

ponderá a obra de Alessandro Francini, arquitecto florentino, trabalhando em França, que edita

Livre d’Architecture contenant plusiers portiques...16, 1631, obra que se inspira no Extraordinario

Libro, de Serlio, e, tal como este, mostrando diversos tipos de portais.

Antoine Le Pautre (1621-1679), talvez o mais barroco dos arquitectos do Classicisme, publica Les

Oeuvres d’Architecture17, 1652, um mostruário de projectos de arquitectura, imaginados, intentando

15 Le Muet, P., Manière de bastir pour touttes sortes de personnes, Paris, 1623, reed. 1647, 1664, 1681, ed.

facsimile da ed. 1647, A. Blunt (ed.), Richmond / Surrey, 1972. 16 Francini, A., Livre d’Architecture contenant plusiers portiques..., Paris, 1631. 17 Le Pautre, A., Les Oeuvres d’Architecture, Paris, 1652; ed. facsimile Farnborough, 1966.

Page 14: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

14

uma síntese entre arquitectura italiana e francesa, ou visando afrancesar o barroco transalpino. – A

obra foi reeditada em 1691 e 1694, o que é indicativo de boa recepção.

Jean Marot (1619-79) publica dois livros de desenhos de arquitectura: Recueil des Plans Profils et

Elevations Des plusieurs Palais Chasteaux Eglises Sepultures Grotes et Hostels Bâtis dans Paris,

et aux environs, avec beaucoup de magnificence par les meilleurs Architects du Royaume...18,

meados Séc. XVII (não datado), e Architecture Françoise, Recueil des Plans...19, 1670. – Ambos

prescindem de texto, e apresentam desenhos, quer de obras feitas, quer apenas projectadas, caso

das fachadas para o Louvre, de Bernini.

Este tipo de livros nada acrescenta à teoria, mas celebram a arquitectura da época, contribuindo para

a sua difusão, além de revelarem a primazia da imagem sobre o conceito, ou da figura versus texto.

Louis Savot (1579-1640), médico, publica L’architecture françoise des bâtiments particuliers20,

em 1624, sobre os custos e as técnicas da construção. Várias vezes reeditado durante o Séc. XVII,

caracteriza-se como manual útil, especialmente para proprietários e empreiteiros.

A formulação da Teoria da Arquitectura por eruditos, oriundos de outras disciplinas, que não a

Arquitectura, intensifica-se por todo o Séc. XVII. – É o caso de Roland Fréart de Chambray

(1606-76), matemático, tradutor de Palladio, que, em Parallèle de l’architecture antique avec la

moderne21, 1650, opera uma destrinça entre as ordens de origem grega (dórica, jónica e coríntia, la

fleure et la perfection des ordres) e as romanas (toscana e compósita, cause de toute confusion qui

s’est introduite dans l’Architecture22). Com as ordens gregas (que não conhecera directamente,

apenas reproduções romanas e renascentistas) a arquitectura atingira a suma perfeição e nada mais

restava senão reproduzi-las. – Esta posição crítica em relação à arquitectura moderna, preterida em

favor da grega antiga, prefigura as objecções de Cordemoy e de Winckelmann, no século seguinte.

Fréart de Chambray estabelece correspondência entre as três ordens gregas e as trois manières de

batir: la solide (dórica), la moyenne (jónica), et la delicate (coríntia), fazendo coincidir la beauté

veritable et essentielle com a symmetrie, definida como harmonie visible. Como matemático aplica

18

Marot, J., Recueil des Plans Profils et Elevations Des plusieurs Palais Chasteaux Eglises Sepultures Grotes

et Hostels Bâtis dans Paris, et aux environs, avec beaucoup de magnificence par les meilleurs Architects du

Royaume..., Paris, meados Séc. XVII (não datado). 19 Marot, J., Architecture Françoise, Recueil des Plans..., Paris, 1670. 20 Savot, L., L’architecture françoise des bâtiments particuliers, Paris, 1624. 21 Fréart de Chambray, R., Parallèle de l’architecture antique avec la moderne, Paris, 1650; ed. facsimile

Génève, 1973. 22 Fréart de Chambray, ob. cit. (1650), p. 4.

Page 15: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

15

à Teoria da Arquitectura uma espécie de ratio ad geometrico more, baseada na simplicidade e na

elementaridade dos princípios, e no seu encadeamento ou concatenação lógica:

car l’excellence & la perfection d’un art ne consiste pas en la multiplité de ses principes; au contraire

les plues simples & en moindre quantité le doivent rendre plus admirable: ce que nous voyons en ceux

de la Geometrie, qui est cependant la base & le magazin general de tous les arts, d’ou celui-cy a esté

tiré, & sans l’aide de laquelle il est impossible qu’il subsiste23.

Define assim um programa de purismo minimalista, avant-la-lettre, que irá aplicar à revisão crítica

dos teóricos que o precederam: Vitrúvio, Palladio, Scamozzi, Serlio, Vignola, Barbaro, Cataneo,

Alberti, Bullant, e Delorme. Destaca Vitrúvio e Barbaro, o seu mais fiel intérprete, assim como

distingue a Ordem Coríntia, l’ordre des ordres, pois fora usada no Templo de Jerusálem, denotando

conhecimento da obra de Prado e Villalpando.

No total, com Chambray, define-se um ideal arquitectónico de retorno às origens, onde residia a

suma perfeição, revelando a História da Arquitectura um processo degenerativo. Perfila-se, assim, a

questão essencial, que seria polemizada na Querelle des Anciens et des Modernes: Há progresso

nas artes? Ou antes um processo de contínua decadência, uma espécie de entropia, sendo a Origem

e os Antigos inultrapassáveis, nada mais nos restando senão tentar imitá-los?

Fréart de Chambray escreveu ainda La perspective d’Euclide...24, editado juntamente com Idee de

la perfection de la peinture...25, 1662. Na primeira obra defende o ponto de vista de Euclides, sobre

a emissão de raios visuais, contra o entendimento moderne, de recepção pelo olhar des especes. Na

segunda, proclama a pintura como La Reyne des Arts. – Comsumando-se, assim, o privilégio que a

pintura e os pintores vinham a adquirir desde o Renascimento.

A aliança ou a sintonia entre Classicisme e Rationalisme terá um ponto alto na obra de Abraham

Bosse (1620-76), que na portada de Traité de manières de dessiner les ordres de l’architecture

antique26, 1664, proclama, como lema, la Raison sur Tout, sendo condição para aceder à raison dar

prioridade absoluta ao aspecto funcional. A identificação entre função e razão, tende a menorizar o

lado estético da arquitectura, tolerado apenas como o agradável. Todavia, noutra obra, publicada no

mesmo ano, e também sobre as ordens, Des ordres de colonnes en architecture...27, apropriando-se

da divisa de Chambray, proclamara a pintura La Reyne des Arts, assim, colocando a arquitectura

23 Fréart de Chambray, ob. cit. (1650), p. 7. 24 Fréart de Chambray, R., La perspective d’Euclide..., Paris, 1662 25 Fréart de Chambray, R., Idee de la perfection de la peinture..., Paris, 1662. 26 Bosse, A., Traité de manières de dessiner les ordres de l’architecture antique, Paris, 1664. 27 Bosse, A., Des ordres de colonnes en architecture..., Paris, 1664.

Page 16: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

16

sob outro signo, mais estético do que funcional. – Esta duplicidade de orientações percorrerá todo o

Classicisme, e ainda sobrará para os tempos que se lhe sucederam.

Colbert (1619-83), chanceler de Louis XIV, funda a Académie Royale d’Architecture em 1671. As

academias italianas tinham sido associações voluntárias de artistas, com liberdade para estabelecer

as suas normas. As francesas são uma emanação do Poder para controlar as actividades respectivas.

Entre outras tarefas, à Academia de Arquitectura estava-lhe acometida a de formular uma Teoria da

Arquitectura vinculante, impondo-se o estudo e a clarificação dos clássicos, além de estudos em

geometria, matemática, perspectiva, hidráulica, mecânica, etc.. – Foram posições da Academia:

–– Postular a raison como base da arquitectura, e a matemática base da certitude (cartesianismo);

–– Reconhecer a Antiguidade como autoridade;

–– Admitir o progresso na Arquitectura e a criação de uma Ordem Nacional Francesa;

–– Defesa da Arquitectura Antiga contra a Medieval, tida por insopportable;

–– Defesa do Classicismo contra a libertinage de M. Ângelo, Borromini, Guarini, etc.;

–– Refutação da fantasia individual e reivindicação de uma arquitectura com base numa ordre géné-

ral, expressão de uma beauté universelle;

–– Discussão sobre a objectividade / subjectividade do bon goût, e sua dependência de normas

fixas, ou da variação de critérios e da autoridade de personnes intelligentes;

–– Correlativamente, a polémica entre l’anciens et les modernes, onde desde o princípio duas perso-

nalidades se distinguiram: François Blondel (1617-1686), representante des anciens, e Claude

Perrault (1613-1688), arauto des modernes, ambos membros proeminentes da Académie.

Blondel, engenheiro e matemático, foi o primeiro director da Académie Royale d’Architecture, em

cujo seio ditou o Cours d’architecture enseigné dans l’Académie...28, 1675-83, reed. 1698. – Obra

densa, doutrinária, na dedicatória ao Rei, afirma o intuito de:

enseigner publiquement les règles de cet art tirée de la doctrine des plus grands Maîtres et des exem-

ples des plus beaux Edifices qui nous restent de l’antiquité29.

Assim, a doutrina de Vitrúvio, segundo a fórmula renascentista, é substituída ou acrescentada pela

des plus grands Maîtres, o que mostra o espírito aberto de François Blondel disposto a reconhecer

o progresso na Arquitectura e sua Doutrina, a par da variedade de fontes, embora tendo sempre

como referência l’antiquité (que escreve sem maiúscula!?).

28 Blondel, F., Cours d’architecture enseigné dans l’Académie..., Paris, 1675-83, 5 vols., reed. 1698; ed.

facsimile (ed. 1698), Hildesheim, 2002, 2 vols.. 29 Blondel, ob. cit. (1675-83), Epistre.

Page 17: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

17

Mas, ao contrário de Chambray, Blondel, admite que se podia inventar novas formas (uma Ordem

Francesa, por exemplo) e superar a Antiguidade, a grande referência, todavia.

De resto, a origem da arquitectura estava na necessidade de abrigo; as ordens tinham evolução, das

mais simples e despojadas para as mais ornamentadas: Dórica, Jónica, Coríntia, sendo a Toscana e

Compósita menorizadas; o seu significado era: Toscana / gigantesca; Dórica / hercúlea; Jónica /

matronal; Compósita / heróica; Coríntia / virginal; as proporções das colunas variavam consoante

os casos, e procediam da analogia com o corpo humano.

O decoro vitruviano é nomeado bien-seance e formulado como beauté reglant avec justesse l’aspect

d’un ouvrage30, apontando para uma estética de empirismo racionalista.

As proporções são o grande tema de Blondel que, reformulando as definições vitruvianas de euritmia

e symmetria, define a euritmia como l’aspect agreable & de bonne grace31 de um edifício bem

proporcionado, e symmetria como relação das partes com o todo, análoga à do corpo humano, que

de modo similar se encontrava na Música e na Geometria, e tinha un fondement certain & réel dans

la nature32. – Estas posições, além de Vitrúvio, são inspiradas nas obras de dois contemporâneos:

René Ouvrard (1624-94), Architecture harmonique, ou Application de la doctrine des proportions

de la musique à l’architecture33, 1679, e François B. de Saint-Hilarion (1625-83), Des proportions

d’architecture34, c. 1680 (obra que não chegou a ser publicada, existindo um ms. na BSB).

Assim, as proporções deviam ser regradas por princípios normativos, vinculantes, pois diziam res-

peito à natureza e eram a principal cause de la beauté dans l’architecture35. Deste modo, torna-se o

defensor de uma estética normativa, com fundamento na natureza.

Posições opostas serão formuladas por Claude Perrault (1613-88), médico e fisiólogo, adepto do

empirismo, à maneira de Locke, que duvidava de ideias congénitas e naturais, vendo o espírito como

uma tábua rasa, onde por interacção de sensações e reflexão se iam formando ideias. – Assim, também

com as proporções, a beleza, o gosto, tudo isso derivava da experiência e do raciocínio, não tendo

suporte algum na natureza, antes sendo de carácter positif et arbitraire, ou nas suas palavras:

Toute l’architecture est fondée sur deux principes, dont l’un est positif & l’autre arbitraire. Le fondement

positif est l’usage & la fin utile & necessaire pour laquelle un Edifice est fait, telle qu’est la Solidité, 30 Blondel, ob. cit. (1675-83), Cinquieme Partie, p. 727. 31 Blondel, ob. cit. (1675-83), Cinquieme Partie, p. 727. 32 Blondel, ob. cit. (1675-83), Cinquieme Partie, p. 765. 33 Ouvrard, R., Architecture harmonique, ou Application de la doctrine des proportions de la musique à

l’architecture, Paris, 1679. 34 Saint-Hilarion, F. B., Des proportions d’architecture, c. 1680, ms. COD.Icon. 193, BSB. 35 Blondel, ob. cit. (1675-83), Cinquieme Partie, p. 768.

Page 18: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

18

la Salubrité & la Commodité. Le fondement que j’appelle arbitraire, est la Beauté qui dépend de

l’Autorité & de l’Acoûtumance: Car bienque la Beauté soit aussi en quelche façon établie sur un fon-

dement positif, qui est la convenance raisonable & l’aptitude que chaque partie a pour l’usage auquel

elle est destinée36.

Assim, solidité, salubrité, e commodité, componentes da velha tríade vitruviana, como firmitas e

utilitas, devém categorias estéticas, fazendo parte da beleza positiva da arquitectura. E essa era a

fundamental para Perrault, sendo a função (usage) de um edifício o factor decisivo da beleza, pois

l’usage auquel chaque chose est destiné selon sa nature, doit etre une des principales raisons sur

lesquelles la beauté de l’Edifice doit etre fondée37.

As ideias de Perrault são expostas em duas obras: Les dix livres d’Architecture de Vitruve corrigez

et traduits... avec des Notes & Figures, 1673, 2.ª ed. 1684, e Ordonnance des cinq espèces de colon-

nes selon la methode des anciens38, 1683, e caracterizam-se por:

–– symmetria (comensurabilidade), segundo Vitrúvio, alterada para igualdade dos lados, o que representava

une grande partie de la beauté des Edifices39;

–– eurythmia, reconhecida como proporção subjectiva, mas sem base antropomórfica ou natural, apenas uma

convenção baseada no costume e tradição, ou no tipo de construção (massif, delicat), logo não podendo

ser objecto de normalização vinculante;

–– arbitrariedade das proporções, que eram mais questão de bon goût, arbitraire, sendo de privilegiar la grace

de la forme qui n’est rien autre chose que son agreable modification sur laquelle une beauté parfaite et

excellente peut etre fondée...40

–– reapreciação do gótico, justificando a sua proposta de colunas a par, para o Louvre: Le goust de nostre

siecle, ou du moins de notre nation, est different de celuy des Anciens, & peut-etre qu’en cela il tient un

peu du Gothique: car nous avons l’air, le jour & les dégagemens. Cela nous a fait inventer une sixiéme

maniere de disposer ces colonnes, qui est de les accouples & de les joindre deux à deux41.

Enfim, é uma visão da arquitectura que põe em causa os preceitos do Vitruvianismo, e des anciens,

abrindo caminho aos modernes, assim, em sintonia com as posições destes na Querelle des Anciens

et des Modernes, que agitou a França do tempo, e onde o irmão de Perrault, Charles (1628-1703),

36 Perrault, C., Les dix livres d’Architecture de Vitruve corrigez et traduits nouvellement en François, avec

des Notes & des Figures, Paris, 1673, 2e ed. 1684, p. 12, note 13. 37 Perrault, ob. cit. (ed. 1684), p. 214, note 6. 38 Perrault, C., Ordonnance des cinq espèces de colonnes selon la methode des anciens, Paris, 1683. 39 Perrault, ob. cit. (ed. 1684), p. 11, note 9. 40 Perrault, ob. cit. (1683), p. I. 41 Perrault, ob. cit. (ed. 1684), p. 79, note.

Page 19: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

19

se destacou com Paralléle des Anciens et des Modernes en ce qui regarde les arts et les sciences42,

1688-97, defendendo os Modernes.

A discussão em torno das Ordens, das proporções e das medidas dos Edifícios Antigos levou Col-

bert a enviar a Roma, em 1674, para esclarecer esses assuntos. um jovem académico, Antoine

Desgodetz (1653-1728), que publicou Les édifices antiques de Rome43, 1682, obra onde, a partir de

medições que se pretendem rigorosas, se constata o mistério das proporções em arquitectura, do

qual os antigos se tinham aproximado. – Organizado como um inventário de 25 monumentos, é

prefigurador do moderno rigor arqueológico.

Outros tratadistas da mesma época, embora menos notáveis, foram:

André Félibien (1619-95), secretário da Academia, edita Des Principes d’Architecture, de la Sculp-

ture, de la Peinture44, 1676, reed. 1690, 1699, afirmando: Il faut toujours en batissant se proposer

la solidité, la Commodité & la Beauté45. O filho, Jean-François Félibien (1658-1733), publica

Recueil historique de la vie et des ouvrages des plus célèbres architectes46, 1687, obra biográfica,

compilatória, continuada, cem anos depois, por Antoine-Nicholas Dezallier d’Argenville (1680-

1765), Vies des fameux architectes depuis la Renaissance des arts47, dando prioridade aos arquitectos

franceses, considerados superiores aos antigos.

A.-Ch. D’Aviler (1653-1701), publica Cours d’architecture qui comprend les ordres de Vignole48,

1691, obra de promoção da Regola de Vignola com bastante saída. Depois o Dictionnaire d’Archi-

tecture ou explication de tous les termes49, 1693, que pretende completar o Cours, fornecendo um

léxico, influenciado pelas ideias de Claude Perrault. Esta obra dará origem à de Ch.-F. Roland de

Virloy (1716-72), Dictionnaire d’Architecture civile, militaire et navale... dont tous Les Termes

sont exprimés, en François, Latin, Italien, Espagnol et Allemand50, 1770-71, 3 vols..

42 Perrault, Ch., Parallèle des anciens et des modernes, en ce qui regarde les arts et les sciences, Paris, 1688-

96, 4 vols.; ed. facsimile München, 1964. 43 Desgodetz, A., Les édifices antiques de Rome, Paris, 1682. 44 Félibien, A., Des Principes d’Architecture, de la Sculpture, de la Peinture, Paris, 1676, reed. 1690, 1699. 45 Félibien, ob. cit. (1699), p. 32. 46 Félibien, J.-F., Recueil historique de la vie et des ouvrages des plus célèbres architectes, Paris, 1687. 47 Dezallier d’Argenville, A.-N., Vies des fameux architectes depuis la Renaissance des arts, Paris, 1787; ed.

facsimile, Génève, 1972. 48 D’Aviler, A.-Ch., Cours d’architecture qui comprend les ordres de Vignole, Paris, 1691. 49 D’Aviler, A.-Ch., Dictionnaire d’Architecture ou explication de tous les termes, Paris, 1693. 50 Roland de Virloy, Ch.-F., Dictionnaire d’Architecture civile, militaire et navale... dont tous Les Termes

sont exprimés, en François, Latin, Italien, Espagnol et Allemand, 1770-71, 3 vols..

Page 20: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

20

Pierre Bullet (1639-1716), publica L’architecture pratique...51, 1691, onde se define la theorie

d’architecture [como] un amas de plusiers principes qui establissent, par exemple les regles de

l’analogie, ou science des proportions, pour composer cette harmonie qui touche si agreablement

la vûe52. E com Michel de Frémin, Mémoires critiques d’architecture contenans l’idée de la vray

et de la fausse Architecture53, 1702, obra orientada para os aspectos funcionais e construtivos em

detrimento dos estéticos, que já saturavam, encerra-se este período, já a entrar pelo Séc. XVIII.

No total, a Teoria da Arquitectura formulada em França, durante o Séc. XVII, apresenta duas orienta-

ções: a prática, dando primazia aos aspectos funcionais e de boa construção, e outra voltada para as

questões estéticas e de rigor filológico-arqueológico, que foram perdendo importância para o fim

do século, à medida que o Classicisme,comum a todas as orientações teóricas, se reformulava na

linguagem do Rococó, que sobretudo parece querer dar resposta ao anelo de Commodité, referido

por todos os tratadistas como uma das finalidades básicas e essenciais da Arquitectura.

Bosse, Traité des manières de dessiner les ordres d’architecture antique, 1664, anteportada, La Raison sur

Tout; Id., Des ordres des colonnes en architecture..., 1664, anteportada, a Pintura, La Reyne des Arts.

51 Bullet, P., L’architecture pratique..., Paris, 1691. 52 Bullet, ob. cit. (1691), Avant-Propos. 53 Frémin, M., Mémoires critiques d’architecture…, Paris, 1702.

Page 21: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

21

Le Muet, Manière de bien bastir, 1623; Fréart de Chambray, Parallèle, 1650 ; Blondel, Cours, 1675-83

Perrault, Colunata do Louvre, 1667-70, fig. da Encyclopédie de Diderot e D’Alembert, e fotografia actual

Page 22: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

22

Mansart, Temple du Marais, 16; Le Vau, Vaux-le-Vicomte, 16, pormenor do corpo central e planta

Le Notre, Le Brun, Le Vau, Versalhes, desenho de Lafontaine, fins do Séc. XVII

Page 23: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

23

2. Mitteleurope: Das Architectura’s, de J. Furttenbach, ao Theatrum Architectura Civilis, de

C. Ph. Dieussart (Séc. XVII) – 2.1. Inglaterra: Das primícias do Paladianismo, com Inigo Jones,

ao Vitruvius Britannicus, de Colen Campbell, e sucessores (Séc. XVII-meados Séc. XVIII).

A Teoria da Arquitectura do Séc. XVII chega à Mitteleurope, através da notável obra de Peter

Paul Rubens (1577-1640), Palazzi di Genova54, 1622, mostruário dos edifícios da Strada nuova,

construídos pouco antes, e exemplos significativos da arquitectura civil à antiga, de Itália, um tanto

quanto maneiristas, mas que convinha divulgar na Mitteleurope.

Joseph Furttenbach (1591-1667), que estagiou em Itália entre 1615-25, na peugada de Rubens, em

Newes itinerarium Italiae55, 1627, descreve esses edifícios, de Génova, como zierlichster (delicada)

Architectura alla moderna56, bem ventilados, e com Durchsehung aller Zimmer57, ou seja, vistas

através de todos os compartimentos.

Isto seria o começo de uma longa série de livros sobre arquitectura: Architectura civilis58, 1628;

Architectura navalis59, 1629; Architectura martialis60, 1630; Architectura universalis61, 1635;

Architectura recreationis62, 1640; Architectura privata63, 1641, e já depois da paz de Vestfália, seu

filho, Joseph Furttenbach, den Jüngern, edita Feriae architectonicae64, 1649, reed. 1662, em que

começa por apresentar uma interpretação da Arca de Noé, seguindo-se outros temas. Furttenbach

54 Rubens, P. P., Palazzi di Genova, Antwerpen, 1622; ed. facsimile mit Einleitung von H. Schomann, Dort-

mund, 1982. 55 Furttenbach, J., Newes itinerarium Italiae, Ulm, 1627; ed. facsimile mit Vorwort von H. Foramitti, Hildes-

heim-New York, 1971. 56 Furttenbach, ob. cit. (1627), p. 182. 57 Furttenbach, ob. cit. (1627), p. 193, Taf. 10, 11. 58 Furttenbach, J., Architectura civilis…, Ulm, 1628; ed. facsimile mit Vorwort von H. Foramitti, Hildesheim-

New York, 1971. 59 Furttenbach, J., Architectura navalis…, Ulm, 1629; ed. facsimile Hildesheim-New York, 1975. 60 Furttenbach, J., Architectura martialis…, Ulm, 1630; ed. facsimile Hildesheim-New York, 1975. 61 Furttenbach, J., Architectura universalis…, Ulm, 1635. 62 Furttenbach, J., Architectura recreationis…, Augsburg, 1640; ed. facsimile Berlin, 1988. 63 Furttenbach, J., Architectura privata…, Augsburg, 1641; ed. facsimile Hildesheim-New York, 1971. 64 Furttenbach, J., Feriae architectonicae…, Augsburg, 1649, reed. 1662.

Page 24: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

24

manifesta admiração pela arquitectura de Itália, pois aí se encontravam os edifícios mais belos, mais

engenhosos, mais dignos e mais fortes65, devendo fundir-se os costumes e os tipos de construção

italianos e alemães. Dá prioridade a aspectos funcionais e tipológicos, apresentando projectos de

colégios, albergues, quartéis, prisões, hospitais, arsenais, parques para artilharia, etc.. Embora se

refira a Vignola, as ordens e suas minúcias são omissas em todas as obras. Num dos projectos de

habitação representa todas as peças do mobiliário, dispostas de maneira funcional e cómoda.

No total, a sua obra reflecte uma visão da arquitectura marcada pelo humanismo burguês, prático,

funcional, mais voltado para o conforto e a comodidade (os cuidados com a calefacção) que para

questões estéticas ou simbólicas. – Contra a opinião de Kruft julga-se que a presença constante de

quartéis, cidades-fortaleza, parques de artilharia, hospitais e prisões, reflecte a realidade da Guerra

dos Trinta Anos que assolava toda a Mitteleurope, em particular a Alemanha.

A obra de Furttenbach ecoará nas de Johann Wilhelm (1595-1669), Architectura civilis66, 1649,

reed. Nürnberg, 1668, 1702 sobre construções de madeira, muito necessárias no fim da Guerra dos

Trinta Anos, e de Daniel Hartmann, Bürgerliche Whonungs Baw-Kunst67, 1673, reed. 1688, sobre

um edifício de habitação, mas que podia ter outras funções: armazém, celeiro, estábulo (!?).

Georg Andreas Böckler (1617/20-87), o mais profícuo teórico da 2.ª metade do Séc. XVII, publica

Compendium Architectura Civilis68, 1648, obra prática orientada para a reedificação da Germânia

devastada pela guerra, e em que a civilidade das Ordens de Arquitectura se impunha. Denota-se

influências dos tratadistas franceses e de Hans Blum, tal como em Architectura Civilis Nova &

Antiqua, das ist: Von den Fünff Säulen69, 1663, reed. 1684, mas acaba por se fixar em Palladio de

cujos dois primeiros livros empreendeu uma tradução comentada: Die Baumeisterin Pallas, oder in

Teutschland erstandene Palladius...70, 1698. Escreveu ainda sobre arquitectura militar, jardins,

fontes e jogos d’água, matemática e geometria, etc..

Ao enfoque prático, funcional e constructivo dos tratadistas anteriores contrapõe-se a obra de

Joachim von Sandrart (1608-88), L’Academia Todesca della Architectura Scultura et Pictura:

65 Furtenbach, ob. cit. (1628), Vorrede: das in Italia die allerköstlichste, Kunstreicheste, Würlichste und

Stärkeste Gebäw alss irgend anderstwo in ganz Europa zu sehen, gefunden werden (em Itália, encontram-se

os edifícios mais belos, mais engenhosos, mais dignos e mais fortes, que se podem ver em toda a Europa). 66 Wilhelm, J., Architectura civilis..., Frankfurt, 1649. 67 Hartmann, D., Bürgerliche Whonungs Baw-Kunst , Basel, 1673, reed. 1688. 68 Böckler, G. A., Compendium Architectura Civilis, Frankfurt, 1648. 69 Böckler, G. A., Architectura Civilis Nova & Antiqua, das ist: Von den Fünff Säulen, Frankfurt, 1663, 1684. 70 Böckler, G. A., Die Baumeisterin Pallas, oder in Teutschland erstandene Palladius..., Nürnberg, 1698.

Page 25: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

25

oder Teutschen Academia...71, 1675, reed. 1679, 1683 (em latim) e, mais tarde, sob a direccção de

Jacob Volkmann, Teutsche Academia der Bau-Bildhauer- und Mahler-Kunst72, 1768-75, em três

partes, oito volumes. – Segundo este editor a obra pretenderia:

mostrar os melhores exemplares da arquitectura tanto antiga como moderna e dar alguma informação

sobre ela. A teoria ou as regras da arte tiveram uma importância secundária.

(die besten Muster der alten und neuen Baukunst in Kupfern vorzustellen, und von derselben einige Nach-

richten zu geben. Die Theorie oder die Regeln der Kunst hat er nur als eine Nebenabsicht betrachtet73).

E, com efeito, Sandrart apresenta exemplos da Arquitectura Antiga, do Renascimento italiano e do

Barroco romano, mas ignora por inteiro os edifícios medievais. Palladio é o seu autor de referência,

tomando-o como modelo para os textos e para as ilustrações.

Teoria da Arquitectura dos Cortesãos: O príncipe Karl E. von Liechtenstein (1611-84), escreveu

Das Werk von der Architektur74 (não publicado), e o duque Heinrich von Sachsen (1650-1710,

publicou Fürstliche Baulust, nach dero eigenen hohen Disposition75, Glücksburg, 1698. Ambos

ilustram uma visão da arquitectura como arte refinada para satisfação da corte e embelezamento do

mundo: uma arquitectura apenas utilitária,

sem adornos e com muros lisos é de todo desprezível e não é digna de atenção. É uma obra vulgar

(ordinari Werk) por cuja culpa o mundo está cheio de casas vulgares (ordinari Heusern).

(in allen zu schenden und zu verachten und ganz nichts zu schatzen und keiner Gedechtnus wierdig,

und nur ein ordinari Werk, dehren die gantae weld mit ordinari Heusern vol ist76).

Isto poderia servir como lema a Paulus Decker (1677-1713), Fürstlichen Baumeister77, 1711-16, e

Ausfürliche Anleitung zur Civilbau-Kunst78, 1715, obras que reflectem o interesse cortesão pela

arquitectura, com uma série de faustosos palácios, cuja arquitectura parece mero suporte da pintura

71 Sandrart, J. von, L’Academia Todesca della Architectura Scultura et Pictura: oder Teutschen Academia...,

Nürnberg, 1675, reed. 1679, 1683 (latim). 72 Volkmann, J. (Hrsg.), Sandart, J. von, Teutsche Academia der Bau-Bildhauer-und Mahler-Kunst, Nürn-

berg, 1768-75, 8 Bde. 73 Sandrart, ed. por Volkmann, ob. cit., I. Teil, 2. Bd. (1769), p. 6. 74 Liechtenstein, K. E. von, Das Werk von der Architektur, publicado por Fleischer, V., Fürst Karl Eusebius

von Liechtenstein als Bauherr und Kunstsammler (1611-1684), Wien-Leipzig, 1910, p. 87-209. 75 Sachsen, H. von, Fürstliche Baulust, nach dero eigenen hohen Disposition, Glücksburg, 1698. 76 Fleischer, V., ob. cit. (1910), p. 96. 77 Decker, P., Fürstlichen Baumeister, Augsburg, 1711-16, 3 vols.. 78 Decker, P., Ausfürliche Anleitung zur Civilbau-Kunst, Nürnberg, 1715, 3 vols..

Page 26: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

26

e da escultura. Na segunda obra começa pelas Ordens, a seguir uma habitação burguesa, a de um

comerciante, e depois mais palácios.

Na ilustração da anteportada de Fürstlichen Baumeister, Decker apresenta uma concepção da relação

entre arquitectura, pintura e escultura, que ele próprio explicita:

Com a finalidade do meu estimado leitor poder compreender as ideias expressas na gravura da porta-

da (...) tenho de explicar que se trata da Divindade descendo do céu, rodeada de nuvens e com uma

chama sobre a cabeça; numa mão leva o ceptro que a identifica como rainha do mundo, e sustém uma

ilustração representando o plano (Abzeichnung) de um edifício; com a outra mão entrega um compasso

e uma régua à Arquitectura, que está ao seu lado, aludindo com isso que desta maneira lhe outorga a

sabedoria e razão adequadas para elaborar todo o tipo de coisas de modo correcto e delicado (...)

Junto à Arquitectura está ajoelhada a Pintura, sua fiel companheira que adorna e decora as obras e

edifícios construídos pela Arquitectura (...) As Artes queimam perfumes de oferta à Divindade, expres-

sando que estas Artes nobres estão dedicadas a Deus, e em sua honra constróem todo tipo de edifícios,

como Templos, Escolas (Schulen), Altares, etc.. Junto ao tripé onde se realiza a oferta encontra-se um

velho homem com um espelho na mão, representando as instruções sábias (kluge Anweisung) que se

deve seguir para aceder às Artes. Veloz aproxima-se a Escultura com o modelo de uma estátua nos

braços; recorda assim que as estátuas são o melhor adorno dos edifícios belos, e além disso infundem-

lhes vida. Junto à Divindade (...) aparecem dois anjos que levam uma coroa de estrelas, significando

que os verdadeiros virtuosos não só alcançam glória e honra em vida, mas que também depois da

morte a sua glória é imperecível. Por cima há outro anjo com uma cornucópia cheia de frutas numa

mão e na outra uma cadeia de ouro donde pendem preciosas medalhas simbolizando que os verdadeiros

virtuosos conseguem o favor dos soberanos mediante a sua habilidade, e não são poucas as ocasiões

em que também obtém riquezas e satisfação. Ao longe vê-se, dum lado, o templo das honras, do outro,

um pavilhão de recreio.

(Damit der Geneigte Leser meine Gedanken von dem Titul-Kupffer (…) so stellet sich hier die Gottheit

für mit einer Flamme auf dem Haupt und die Wolken durch eine Glorie, sich hernieder lassend; in der

einen Hand hält sie den Scepter als Regentin der Welt benebenst einer Tafel, auf welcher die Abzei-

chnung eines Gebäudes zu sehen ist; mit der andern Hand überreicht Sie der Ihr zu Seiten stehenden

Architectur einen Circul und Winckel-Mass, anzudeuten, Sie pflanze Ihr hiermit den gehörigen Vers-

tand und Weissheit ein, allerley Sachen schiklich und zierlich auszuarbeiten (...) Die Mahlerey als der

Architectur getreue Gehülffin, welche die angelegten Wercke und Gebäude ansehnlich schmücket und

zieret (...) Der Drey-Fuss, auf welchem besagte Künste der Gottheit ein wohlriechendes Opffer brin-

gen, zielet dahin, dass diese edle Künste sich Gott widmen und Ihm zu Ehren allerhand Gebäudes, z.E.

Tempel, Schulen, Altäre, u.s.f. auffrichten. Neben dem Dery-Fuss findet sich ein alter Mann mit einem

Spiegel in der Hand, welcher die kluge Anweisung, durch die man zu den Künsten gelangen muss,

vorstellig macht. Hart an ihm kommt die Bildhauer-Kunst hastig herzu gelauffen und herzu geeleit und

hält in hiren Armen ein Modell von einer Statua, zu bemercken, dass schöne Gebäude durch die

Page 27: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

27

Statuen am besten ausgeschmückt und lebendig gemacht werden. Zu nächst der Gottheit zeigen sich

zwey Engel (…) und tragen eine Sternen-Crone, anzudeuten, die wahren Virtuosen erlangten nicht

allein in hirem Leben allbereit grosse Her und Estime; sondern ihr Ruhm bleibe nach ihrem Tod un-

sterblich. Noch mehr oben folget ein anderer Engel in einer Glorie und trägt in einer Hand ein Cornu

Copiae mit verschiedenen Früchten; in der anderen aber hält er eine guldene Kette, daran kostbahre

Medaillen hangen, und geht seine Absicht dahin, dass wahre Virtuosen durch ihre Geschicklichkeit

grosser Herren Gnade erlangen und nicht selten Reichtum und Vergnügen sich erwerben. In der Fer-

ne ist auf der einen Seiten der Tempel der Ehren, auf der andern ein Lust-Gebäude entworfen79).

A concepção barroca da arte apresenta-se de modo retumbante nesta ilustração, e mais ainda na

explicação de Decker, arquitecto e gravador de Nürnberg e Augsburg, cidades do Sul da Alemanha,

zona agrária, aristocrática, católica, por onde, na sequência das vitórias sobre os turcos, se espalhou

a arquitectura do barroco tardio e triunfal. Dando-nos, entre outras coisas, as obras dos Dientzenho-

fer, de Lucas von Hildebrandt, e de Balthasar Neumann.

Interpretações germânicas do Templo de Salomão: Com Salomon de Bray (1597-1664), pintor

e arquitecto holandês, em Architectura Moderna...80, 1631, assiste-se ao intento de explicar a arqui-

tectura dum ponto de vista cristão, reformista, procurando suas origens no Antigo Testamento,

Arca de Noé, e Templo de Salomão, denotando influência de Villalpando. Idêntico intuito anima o

matemático Nicolaus Goldmann (1611-65) e o editor L. Ch. Sturm (1669-1719), em Vollständige

Anweisung zu der Civil-Bau-Kunst81, 1696, que intentam fundir as ideias cristãs com as pagãs de

Vitrúvio e dos seus intérpretes renascentistas, estudando as Ordens e o Templo de Salomão.

Arquitectura como Teatro: Para o fim do século, em 1682, C. Ph. Dieussart, publica Theatrum

Architecturae Civilis82, 1682, reed. 1697, tratando dos materiais, estudo comparado das Ordens (ao

modo de Chambray), e elementos da arquitectura, como escadas e janelas.

De Nikolaus Person (†1710), engenheiro, gravador, editor, surge Novum Architecturae Speculum83,

1699-1710, sem texto, apresentando muitos edifícios do fim do Séc. XVII, e com pormenores da

arquitectura copiados de D’Aviler e doutros. Trata dos jardins e da mecânica em capítulos próprios

e destacados por portadas alusivas aos temas. – Também inspirados em D’Aviler, são os Auer

79 Decker, P., ob. cit. (1711), Erklärung des Tittel-Kupffers. 80 Bray, S. de, Architectura Moderna..., Amsterdam, 1631. 81 Goldmann, N. und Sturm, L. Ch., Vollständige Anweisung zu der Civil-Bau-Kunst, Wolfenbüttel 1696. 82 Dieussart, C. Ph., Theatrum Architecturae Civilis82, Güstrow, 1682, reed. Bamberg, 1697. 83 Person, N., Novum Architecturae Speculum83, Mainz, 1699-1710.

Page 28: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

28

Lehrgänge84, dos arquitectos barrocos de Voralberg, concebidos para utilização restrita em círculos

familiares e corporativos, não para serem publicados.

J. G. Bergmüller publica Nachbericht zu der Erklärung des geometrischen Maasstabes der Säulen-

ordnung85, 1752, singularizada por deduzir todas as Ordens, e suas proporções, da Ordem Dórica.

J. J. Schübler (1689-1741) edita vários livros sobre arquitectura e temas afins, tratando as Ordens, o

eclectismo arquitectónico e, sobretudo, Perspectiva, Pes Picturae...86, 1719-20, sobre as virtualidades

da representação, mais que sobre a arquitectura – E com a teatralização da Teoria da Arquitectura,

chega-se ao fim de um período que teria notáveis herdeiros. Veja-se, a seguir, a Inglaterra.

Furttenbach, Architectura Universalis, 1635, planta de uma casa com o mobiliário;

Decker, Fürstlichen Baumeister, 1711-13, Perspectiva de um palácio real, e anteportada com alegoria.

84 Sobre os Auer Lehrgänge ver Lieb, N., und Dieth, F., Die Vorarlberger Barockbaumeister, München-

Zurich, 1960, p. 14 ss.; id., Oechslin, W., Die Voralberger Barockbaumeister, Einsielden, 1963, p. 62 ss. 85 Bergmüller, J. G., Nachbericht zu der Erklärung des geometrischen Maasstabes der Säulenordnung,

Augsburg, 1752. 86 Schüller, J. J., Perspectiva, Pes Picturae..., Nürnberg, 1719-20, 2 vols..

Page 29: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

29

Wilhelm, Architectura Civilis, 1649; Sandrart, Teutschen Academie, 1675; Bockler, Compendium, 1648

Schübler, Perspectiva, Pes Picturae, 1719-20

Johann Dientzenhofer, Catedral de Fula, 1600; id., Neumünster, Wurzburg, 1700

Page 30: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

30

Hildebrandt, Belvedere, Viena, 1700

Neumann, Vierzehnheiligen, fachada, planta, e interior: altar central

Page 31: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

31

2.1. Inglaterra: Das primícias do Paladianismo, com Inigo Jones, ao Vitruvius Britannicus de

Colen Campbell, e sucessores (Séc. XVII-meados Séc. XVIII)

In architecture ye outward ornaments oft (outhg) to be solid, proporsionable according to the rulles,

masculines and unaffected, Inigo Jones, 1615.

A Teoria da Arquitectura do Séc. XVII, em Inglaterra, começa por um notável escritor, filósofo e

governante, Francis Bacon (1561-1626), que em Essays, 45. Of Building87, 1625, diz:

As casas são construídas para dentro delas se viver e não para que possam ser admiradas por fora;

por isso deve ser considerado mais o uso do que a forma, se ambos não o poderem ser igualmente.

Deixai o cuidado da beleza na edificação para os palácios encantados dos poetas que os constróem

com pouco custo88.

Em 46. Of Gardens89, 1625, defende os jardins como o mais puro dos humanos prazeres, onde

estava a maior perfeição, e perante os quais, todos os edifícios e palácios não passam de grosseiras

construções90, prefigurando a importância que os ingleses iriam dar à Arte dos Jardins e sua(s)

Teoria(s), no Séc. XVIII e Séc. XIX.

Idem, na sua utopia, New Atlantis91, 1623, a Teoria da Arquitectura se manifesta, com a descrição da

cidade dos atlantes, as suas casas, o hospital e o prodigioso laboratório, onde se gizava a civilização

moderna, com seu afã construtivista, e seu desígnio de domínio utilitário da Natureza. De resto,

para Francis Bacon, a utilitas tem primacia sobre a venustas, a que sempre se refere com ironia e

desdém. – A este respeito, o par de colunas isoladas na portada da 1.ª edição de Instauratio Magna92,

sua obra filosófica mais importante, é bem representativo da utilização, como símbolos do Poder,

das Colunas, principalmente as deste género, Ordem Toscana, ordem viril e martialis, própria para

expressar o Poder, que a Inglaterra, ao tempo, se preparava para instaurar.

87 Bacon, F., Essays, 45. Of Building, London, 1625. – Usou-se a edição portuguesa, Ensaios, trad. de Á.

Ribeiro, Lisboa, 1952, p. 200-205. 88 Bacon, ob. cit. (ed. 1952), p. 200. 89 Bacon, F., Essays, 46. Of Gardens, London, 1625. – Id., ed. portuguesa, 1952, p. 205-214. 90 Bacon, ob. cit. (ed. 1952), p. 205. 91 Bacon, F., New Atlantis, London, 1624 – Usou-se a ed. portuguesa, trad. de F. P. Rodrigues, Lisboa, 1976. 92 Bacon, F., Instauratio Magna, London, 1620.

Page 32: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

32

Os arquitectos fazem a sua entrada com Inigo Jones (1573-1652), que viaja por Itália em 1601 e

1613-14, onde convive com Palladio e Scamozzi, e concebe um tratado com o discípulo, John

Webb (1611-72), mas não passaram das ilustrações que fariam parte do livro, e que revelam uma

sensibilidade afecta às formas do classicismo paladiano. Mais tarde, essas ilustrações serão aprovei-

tadas por Isaac Ware (1704-66), que as junta com gravuras suas na considerada súmula teórica,

como mostruário extenso, do paladianismo inglês, A Complete Body of Architecture93, 1756.

Na nota a um dos esboço para as ilustrações encontra-se a frase que se usou na portada, e que se

traduz, agora: Na arquitectura os ornamentos devem ser sólidos, de proporções em acordo com as

regras, masculinos e não afectados94. – Enfim, a postura de Inigo Jones, contrariamente à de Francis

Bacon, é de primazia à venustas, mas não afectada, e sim dentro da disciplina e ordem do Classi-

cismo, que marcará a arquitectura inglesa da época.

Depois, é a vez de um diplomata, Henry Wotton (1568-1639), em The Elements of Architecture95,

1624, um livro modesto, mas sensato, e denotando bons conhecimentos, propor uma síntese entre a

utilitas de Francis Bacon e a venustas de Inigo Jones, designada como Delight, a par da Commoditie

and Firmenes (suas traduções da tríade vitruviana), as three Conditions [para] Well Building.

De resto, denotando certo dualismo, assume uma posição funcionalista quando afirma: que o lugar

de cada parte há-de ser determinado pelo uso96, e uma posição esteticista, quando diz: Assim como

os edifícios são regulares, os jardins devem ser irregulares, ou ao menos concebidos com uma

regularidade bastante livre97 (assim, também prefigurando a Teoria dos Jardins Inglesa, formulada

nos séculos seguintes), ou quando se refere à secret Harmony in the Proportions.

O tratado de Wotton, com múltiplas reedições e traduções, foi a primeira contribuição importante

dos ingleses para uma específica Teoria da Arquitectura; depois dele, durante o Séc. XVII, a pro-

dução teórica é escassa. Só com muito atraso apareceram traduções, resumos e edições dos grandes

tratados italianos e franceses. – Enfim, Teoria da Arquitectura não seria com os ingleses desse tempo,

quando se começou a formar o Império, e já se avizinhavam as Revoluções Comercial e Industrial

que tão decisivamente marcaram a Inglaterra (e depois, o Mundo).

93 Ware, I., A Complete Body of Architecture, London, 1756. 94 Ver, Summerson, J., Architecture in Britain 1530-1830, Harmondsworth, 1953, 5.ª ed. 1970: Inigo Jones,

Nota de 20 Janeiro de 1615, p. 118. 95 Wotton, H., The Elements of Architecture, London, 1624. 96 Wotton, ob. cit. (1624), p. 7: That the Place of every part is to be determined by the Use. 97 Wotton, ob. cit. (1624), p. 109: For as fabriques should bee regular, so Gardens should bee irregular, or

at least cast into a very wilde Regularitie.

Page 33: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

33

Entre os traductores destaca-se John Evelyn (1620-1706), Chambray, Parallel, 1664, (reed. 1680,

1697, 1707, 1723, 1733), a que junta The Elements of Architecture de Wotton, um curto texto de

Cosimo Bartoli sobre Ammanati, o Statua de Alberti, e An Account of Architects and Architecture,

together with An Historical, Etymological Explanation of certains Terms particularly Affected by

Architects98, um texto de sua autoria sobre aquilo que o título extenso indica claramente: definições

conceptuais tomadas de Vitrúvio e outros autores, mas dentro de uma perspectiva histórica, e aten-

dendo à etimologia dos termos; assim, define o decoro à maneira vitruviana:

Decoro não só é a adequação da habitação ao habitante (...) mas também que o edifício, e em particular

os seus ornamentos, se devem conformar conveniente e oportunamente, tal como Vitrúvio o demonstra

expressamente ao adequar as diversas ordens ao seu carácter natural99.

É dos primeiros a imputar aos mouros e árabes a origem do gótico, que abomina, falando das nossas

redundantes frivolidades góticas na composição das cinco ordens, que explicariam os absurdos nas

nossas estruturas modernas100. – Esta teoria, da origem moura do gótico, influenciará Christopher

Wren com quem estabeleceu intercâmbio cultural.

Roger Prat (1620-84), aristocrata, após o grande incêndio de Londres, 1666, escreveu um tratado,

não concluído nem publicado101, onde se equaciona a percepção da arquitectura por parte do obser-

vador, e se intenta compreendê-la na base dos movimentos da vista, como se arquitectura fosse

apenas a arquitectura percebida, o que parece dar continuidade a análogas intuições de Du Cerceau,

e prefigurar os conceitos do filósofo George Berkeley (1685-1753), sobre a percepção. Define

uma noção expressionista da arquitectura, afirmando:

As fachadas dos edifícios são consideradas sobretudo como um meio para expressar nobreza e majes-

tade, e exige ao arquitecto que conheça a natureza e propriedade de todos os materiais102.

Balthazar Gerbier (1591-1667) publica A Brief Discourse, concerning the three principles of

Magnificent Building103, 1662, nomeados como Solidity, Conveniency e Ornament, a que se segue

98 Evelyn, J., An Account of Architects and Architecture, together with An Historical, Etymological Explana-

tion of certains Terms particularly Affected by Architects, in Fréart de Chambray, A Parallel of the Ancient

Architecture with the Modern… by John Evelyn, London, 1664, reed. 1680, 1697, 1707, 1723, 1733. 99 Evelyn, ob. cit. (1664), p. 122. 100 Evelyn, ob. cit. (1664), The Epistle Dedicatory. 101 Ver, Gunter, R. T., The Architecture of Sir Roger Pratt. Charles II’s Commissioner for the Rebuilding of

London after the Great Fire Now printed for the First Time from his Note-Books, Oxford, 1928. 102 Ver, Gunter, ob. cit. (1928), p. 34, e p. 83. 103 Gerbier, B., A Brief Discourse, concerning the three principles of Magnificent Building, London, 1662.

Page 34: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

34

Counsel and Advise to all Buiders104, 1663, combinando os pontos de vista de Bacon e de Wotton

com a admiração por Inigo Jones e Palladio, e expressando admiração pelos contrafortes góticos

que opõe às meias colunas adossadas do Renascimento.

Christopher Wren (1632-1723), arquitecto e homem de vasta erudição, os seus pontos de vista

sobre a arquitectura, ainda que expressos de modo fragmentário em Tract’s I a IV, e Discourse on

Architecture105, e não publicados no seu tempo, evidenciam ter ideias próprias e originais sobre a

arquitectura. – Wren começa por afirmar:

A arquitectura tem uma função política; os edifícios são o ornato de um país; estabiliza uma nação,

atrai o povo e o comércio.

(Architecture has its Political Use; publick Buildings being the Ornament of a Country; it establishes

a Nation, draws People and Commerce106).

Além disso, crê que a arquitectura era conforme a uma lei natural e obedecia a princípios eternos,

que define, misturando as categorias finalísticas de Vitrúvio, venustas e firmitas, com a categoria

consistencial do decorum, designado Convenience:

Beauty, Firmenes, Convenience (...) the first two depend upon geometrical Reasons of Opticks and

Staticks; the third only makes the Variety107.

Opõe-se a normas fixas para as proporções das Ordens, e distingue dois tipos de beleza: a natural e

a costumary, aproximando-se de Perrault, que teria conhecido em Paris. Faz constantes referências

a Villalpando e à reconstrução do Templo de Salomão, intentando também reconstruir grandes

monumentos da Antiguidade. A História da Arquitectura é esboçada, dando atenção aos condicio-

namentos políticos da arquitectura: as pirâmides, não seriam vãos monumentos à glorificação, mas

um programa estatal para a ocupação de trabalhadores. Manifesta compreensão pelo gótico, que

designa de Saracen Style, a cujas formas se subordina no projecto para a Catedral de Westminster:

a torre era para reconstruir according to the original Intention of the Architect.

No seu projecto para a reconstrução de Londres, após o incêndio, apresenta uma planta mista de

traçado ortogonal e radial, com grandes Circles irradiando as vias principais, mostrando assimilação

dos princípios do urbanismo tridentino, e prefigurando as propostas de Pierre Patte (1723-1814)

104 Gerbier, B., Counsel and Advise to all Buiders, London, 1663. 105 Ver, Wren, Ch., Tract’s I-IV, e Discourse on Architecture, in Wren, S., Parentalia: or Memoirs of the

Family of the Wren, London, 1750; id., Bolton, A. T., ed. Wren Society 19, 1942. 106 Wren, Ch., Tract I (ed. 1942), p. 126. 107 Wren, ob. cit. (ed. 1942), p. 126.

Page 35: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

35

para Paris, de meados do Séc. XVIII. – Além disso, argumentando com a salubridade, propõe-se

deslocar os cemitérios urbanos para a periferia, fora da cidade.

Também John Vanburgh (1664-1728) e Nicholas Hawksmoor (1661-1736), contemporâneos de

Wren e, tal como ele, notáveis arquitectos, se pronunciaram em memorandos e cartas sobre a arqui-

tectura, revelando ideias teóricas interessantes: assim, sobre a construção de igrejas, estas seriam

monumentos para a posteridade e um título para a nação108. Hawksmoor considera necessária para

a plena satisfação das funções:

a disposição das partes úteis da construção e um aspecto com Graça e Beleza (Grace and Beauty),

mas consistindo num estilo simples, embora justo e nobre109.

Além disso, as igrejas deviam estar isoladas, de modo a salientar a sua solenidade e visibilidade no

contexto urbano; deviam ter um pórtico monumental e prático, torres altas e ousadas; prescreve que

os enterros deviam ser fora da igreja, em cemitérios adjacentes, com forma arquitectónica, em Lofty

and Noble Mausoleums. Sobre os ornamentos vê-os como mais apropriados para palácios luxuosos.

– Do ponto de vista teórico estes autores integram-se na tradição do Renascimento e do Barroco,

mas tal como Evelyn e Wren mostram grande compreensão pelo gótico, omnipresente em Inglaterra.

Com Anthony Ashley Cooper, Earl of Shaftesbury (1671-1713), a polémica contra o Gótico

acentua-se, desconsiderando a arquitectura barroca inglesa, que qualifica como gótica. Defende a

superioridade dos gregos, sobretudo a sua simplicidade, o que viria a influenciar Winckelmann.

Propôs uma arquitectura nacional para Inglaterra, cujos critérios se demarcam do barroco, abrindo

a porta – já entreaberta por Inigo Jones – para o paladianismo das gerações sucessivas110, cujos

pioneiros serão Colen Campbell e seu Vitruvius Britanicus, como se verá a seguir.

A Teoria da Arquitectura dos Paladianos Ingleses: Com a publicação do Vitruvius Britannicus,

or the British Architect111, 1715-25, de Colen Campbell (1676-1729), o paladianismo torna-se

dominante na Inglaterra, por quase todo o Séc. XVIII. A obra consta apenas de gravuras e pretende

provar que a arquitectura inglesa da época deriva da antiga e renascentista. Os antigos estavam out

of the Question, e os renascentistas italianos eram o Nec plus ultra da arquitectura, embora durante o

Séc. XVII tivessem perdido o seu exquisite Taste of Building e a Antique Simplicity; isto é uma clara

demarcação do barroco, cujos representantes mais notados classifica de góticos, dados a capricious

108 Ver, Downes, K., Hawksmoor, London, 1959, reed. 1979, p. 257. 109 Ver, Downes, ob. cit. (1959, reed. 1979), p. 257 ss. 110 Shaftesbury, A. A. C., Earl of, Characteristicks of Men, Manners, Opinions, Times, London, 1708-1714, 3

vols.; id., Letter concerning the Art, or Science of Design, written from Italy, London, 1712. 111 Campbell, C., Vitruvius Britannicus, or the British Architect…, London, 1715-25, 3 vols..

Page 36: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

36

ornaments. Refere Inigo Jones como o Palladio inglês, considerando insuperável o seu projecto

para Whitehall. Estes comentários acompanham as gravuras e são breves, dentro do estilo lacónico

que marca a cultura inglesa. Campbell exprime-se criticamente em relação aos contemporâneos,

excepção a Vanbrugh, e destaca os seus próprios projectos, com relevo para Wanstead House, obra

fundacional para as villas paladianas em Inglaterra.

No total, e resumindo, a obra de Campbell deve ser considerada a que mais marcaria a prática e a

teoria da arquitectura na Inglaterra do Séc. XVIII, com o seu paladianismo, que tantos representantes

e continuadores teve, como se verá a seguir, ainda que muito resumidamente, quase só citando os

nomes dos autores e os títulos e anos de publicação das obras, sob pena desta exposição se tornar

enfadonha, tantos foram os herdeiros do Vitruvius Britannicus, obra repetida e emulada por vários

autores e editores, mas que pouco ou nada acrescentaram de novo, embora sejam de referir:

J. Badeslade e J. Rocque, editam um quarto volume do Vitruvius Britannicus112, 1739, dez anos

após a morte de Campbell, quatorze depois da publicação do último dos três volumes iniciais. A

obra contém, quase exclusivamente, palácios rurais e jardins, mas nem tudo o que apresenta pode

ser classificado de paladiano, e teve fraca recepção.

J. Woolfe e J. Gandon, publicam um outro “quarto volume” do Vitruvius Britannicus113, 1767, no

qual, com o intuito de informar os contemporâneos e a posteridade, se afirma:

durante este século, neste reino, a arquitectura alcançou um nível de perfeição tão elevado como ja-

mais o tivera sob os gregos e os romanos (...) avantajamos a grande distância os nossos contemporâ-

neos de qualquer outro país114.

As gravuras deste volume têm apenas exemplos de arquitectura paladiana, com relevo para palácios

rurais ingleses; ainda editam um “quinto volume”, 1771, mas sem unidade estilística, denotando

que o paladianismo inglês, entretanto, entrara em crise.

A fama da obra chega à Escócia com W. Adam (1689-1748), e seu Vitruvius Scoticus115, concebido

em 1726, editado em 1810, e que balança entre Wren, os paladianos e James Gibbs (1682-1754),

que, entretanto, publicara A Book of Architecture116, 1728, uma das obras mais influentes do Séc.

XVIII, o que se deverá à qualidade dos desenhos feitos pelo autor, à sua categoria como arquitecto, e

112 Badeslade, J., and Rocque, J., Vitruvius Britannicus, Volume the Fourth…, London, 1739. 113 Woolfe, J., and Gandon, J,. Vitruvius Britannicus, or the British Architect…, vol. IV, London, 1767. 114 Woolfe and Gandon, ob. cit. (1767), Introduction. 115 Adam, J., Vitruvius Scoticus…, concebido 1726, ed. Edimburgh, 1810 (o nome que surge como autor é o

de John Adam, filho de William Adam). 116 Gibbs, J., A Book of Architecture…, London, 1728.

Page 37: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

37

à atitude anti-dogmática expressa, combinando de modo feliz o barroco com o paladianismo, cujo

dictatorship questiona. De resto, dirige-se às pessoas que possam estar interessadas em construir,

sobretudo nos mais remotos lugares do país, onde resulta difícil encontrar ajuda para o desenho117.

Giacomo Leoni (1686-1746), arquitecto italiano, a trabalhar em Inglaterra, edita The Architecture

of A. Palladio, in Four Books118, 1716-19, e Ten Books on Architecture by Leone Battista Alberti119,

1726, traduções das obras respectivas, que terão influenciado a voga do paladianismo em Inglaterra,

embora não tenham tido grande recepção, nunca sendo reeditadas. Leoni adapta as ilustrações de

Palladio ao gosto barroco da época, o que desvaloriza a obra, e lhe valerá críticas dos paladianos

rigorosos. Benjamin Cole e Edward Hoppus, editarão Andrea Palladio’s Architecture in Four

Books120, 1733-35, que é obra plagiada de outras anteriores, logo sem valor, mas significativa da

voga do paladianismo. De resto, essa voga já começara por volta de 1709, quando se edita, em

Oxford, a obra de Palladio, L’Antichità di Roma121, em versão bilingue, italiano-latim, devida a

Charles Fairfaix, por encargo de Henry Aldrich, Deão da Igreja de Cristo. O desenho da portada

deve-se a Christopher Wren e representa o Teatro Sheldoniano, por ele projectado.

Para a cultura paladiana em Inglaterra contribuiram ainda: Richard Boyle, Earl of Burlington

(1694-1753), que constituiu a maior colecção de desenhos de Palladio e Inigo Jones, tendo publicado

uma parte em Fabricche Antique disegnate da Andrea Palladio122, 1730; William Kent (1685-

1753), ajudado por Boyle, já publicara The Designs of Inigo Jones123, 1727. Kent considera Jones

discípulo de Palladio, e considera ambos uma igual demonstração da superioridade (...) a respeito

de todos os demais124; finalmente, surge a edição de Isaac Ware (1704-66), The Four Books of

Andrea Palladio125, 1738, tida como a melhor, revista por Lord Burlington, com as xilografias de

Palladio vertidas em cobre, mas invertidas, e com uma portada, que se repete em todos os quatro

livros, desenho de William Kent, que nada tem de palladiano, afectando uma sensibilidade barroca.

Alexander Pope (1688-1744), poeta, exprime apoio à Antiguidade e ao paladianismo em vários

escritos, e na construção da sua casa em Twickenham, ao gosto paladiano. Robert Castell publica

117 Gibbs, ob. cit. (1728), p. I: such Gentlemen as might be concerned in Building, especially in the remote

parts of the Country, where little or no assistance for Design can be procured. 118 Leoni, G., The Architecture of A. Palladio, in Four Books, London, 1716-19, 4 vols.. 119 Leoni, G., Ten Books on Architecture by Leone Battista Alberti, London, 1726. 120 Cole, B., and Hoppus, E., Andrea Palladio’s Architecture in Four Books, London, 1733-35. 121 Palladio, A., L’Antichità di Roma, Oxford, 1709. 122 Boyle, R., Fabricche Antique disegnate da Andrea Palladio, London, 1730. 123 Kent, W., The Designs of Inigo Jones, London, 1727. 124 Kent, ob. cit. (1727), Advertisement. 125 Ware, I., The Four Books of Andrea Palladio, London, 1738.

Page 38: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

38

The Villas of the Ancients Illustrated126, 1728, interpretando as villas romanas, descritas por Plínio, o

Jovem, à maneira paladiana. Com Robert Morris (1701-54), e An Essay In Defence of Ancient

Architecture127, 1728, o paladianismo envereda pelo dogmatismo, querendo tornar-se estilo nacional

de toda a Grã-Bretanha. James Ralph, arquitecto, edita A Critical Review of the Public Buildings,

Statues and Ornaments, In, and about London128, 1736, reed. várias vezes. Guia de Londres, dedicado

a Lord Burlington, exprimindo ideias de Wren e Vanbrugh, faz a apologia da simplicity paladiana,

e refere-se ao gótico pejorativamente, ao modo dos paladianos.

Com estes autores finam-se as formulações teóricas do paladianismo, que afinal foram mais práticas,

baseadas em mostruários de tipos considerados modélicos, do que outra coisa, e um tanto quanto

eclécticas, à boa maneira do liberalismo dominante na Albion. Triunfante até meados do Séc.

XVIII, iria depois ter de competir com outras sensibilidades arquitectónicas que já não se reviam na

disciplina do classicismo paladiano, por vezes interpretado de maneira rígida e sombria, talvez por

influências do clima; mas mesmo assim, sem o sol do Veneto ou da planura padana, não deixou de

dar origem a belos exemplos de arquitectura, tanto mais que o verde vicejante da relva inglesa, de

algum modo compensaria a ausência do sol italiano, como se intentará mostrar em seguida.

Jones, Banqueting House; Wren, plano reconstrução Londres, e St. Paul; Campbell, Houghton Hall.

126 Castells, R., The Villas of the Ancients Illustrated, London, 1728. 127 Morris, R., An Essay In Defence of Ancient Architecture; or a Parallel of the Ancient Buildings with the

Modern, London, 1728. 128 Ralph, J., A Critical Review of the Public Buildings, Statues and Ornaments, In, and about London, 1736.

Page 39: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

39

Evelyn-Chambray, Parallel, 1664; Campbell, Vitruvius, 1715-25; Gibbs, A Book of Architecture, 1728

Wren, St. Paul, London, interior e exterior, 1666-1711; Hampton Court, 1689-1702

Page 40: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

40

Hawksmoor, Spitalfields, 1714-29; Clarendon, 1711-15; St. Georges, 1714-29; Blenheim Palace, 1705-24

Kent, Chiswick House, 1726-29; Gibbs, Warrington Town Hall, 1749-50

Page 41: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

41

3. A Teoria da Arquitectura em Espanha: De Villalpando e Prado a Fray Lorenzo de San

Nicolás, e de Juan Caramuel de Lobkowitz até Ortiz y Sanz (Séc. XVII-inícios do Séc. XIX)

quando eles suspeitam ter sido abandonados de Deus mesmo, quando reduzidos a cinza e sepultados

de alguma maneira no olvido, o templo e a cidade, parecia ter sido deixada toda a esperança de recu-

perar a antiga dignidade, a fim de excitar esta esperança na sua gente, o amantíssimo Vate mostra-

lhes a dimensão da cidade e do templo, a figura da casa (usando as palavras do profeta mesmo) e da

edificação, suas saídas e entradas, e toda a sua descrição, e lhes mostrou todos os seus preceitos, e

toda a sua ordem, e todas as suas leis, e escreveu ante seus olhos, prometendo em nome de Deus a

restauração, e íntegra restituição de todas as coisas.

Villalpando, J. B., Prado, J., In Ezechielem, Explanationes… ac Templi Hierosolymitani, 1596-1604.

A Arquitectura do Renascimento e a sua Teoria, inspiradas na Antiguidade pagã, começam a afluir

a Espanha durante o Séc. XVI e, embora com resistências, foram-se impondo. No dealbar do Séc.

XVII o projecto de guardiã da cristandade, que Espanha se arrogava e levava a construir igrejas por

todo o lado, chocava-se com o facto da arquitectura do tempo ser de origem pagã, devendo procurar-

se uma arquitectura e respectiva teoria de natureza e origem cristã, tanto mais que se estava construin-

do El Escorial, destinado a ser a última de las moradas dos reis de Espanha. – E é neste contexto que

surge a ciclópica obra de Juan Bautista Villalpando (1552-1608) e Jerónimo Prado (1547-95),

In Exechielem, Explanationes et Apparatus Urbis, ac Templi Hierosolymitani129, 1596-1604, 3 vols..

Obra volumosa, densa, exegética, trata da reconstrução do Templo de Salomão e da origem das

Ordens de Arquitectura, que situa no Templo de Salomão, donde os gregos as teriam copiado; o

scopus é a cristianização das Ordens, que afinal não eram pagãs, mas sagradas, ditadas a Ezequiel

por Deus, como reza no Eclesíastes. Apresenta uma definição desenhada da Ordem Salomónica.

Teve repercussão em toda a Europa, dando origem ou intensificando uma vasta literatura que sobre

o tema se debruçou. – Em Hamburgo, cidade luterana, com uma grande colónia de judeus, remota-

mente oriundos da Península Ibérica, por iniciativa do advogado Gerhard Schott (1641-1702),

cerca de 1680, construiu-se uma enorme maqueta de madeira, representando o Templo, segundo os

desenhos de Villalpando, que está hoje depositada no Museum für Hamburgische Geschichte.

129 Prado, J. e Villalpando, J. B., In Exechielem, Explanationes et Apparatus Urbis, ac Templi Hierosolymi-

tani Commentariis et imaginibus illustratus, Roma, 1596-1604, 3 vols..

Page 42: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

42

O mosteiro de El Escorial (que mereceu a Francis Bacon o comentário de ser uma construção tão

grande (...) onde dificilmente se encontra uma bela sala, entenda-se uma sala cómoda), dará lugar a

uma literatura que o descreve encomiasticamente, salientando-se:

Fray Juan de San Jerónimo, Memorias desde Monasterio de Sant Lorencio el Real130, 1563-91,

uma crónica da construção do mosteiro, com as intenções subjacentes à construção, os intervenien-

tes, o elevado custo, todas as peripécias que a rodearam, etc..

Fray José de Següenza (1544-1606), Historia de la Orden de San Geronimo131, 1605, na sua descri-

ção dá relevo ao facto de as obras terem começado no ano decisivo do Concílio de Trento, 1563, e

nele se espelharem as ideias sobre arquitectura cristã que então foram expressas.

Fray Francisco de los Santos (†1699), Descripción breve del Monasterio de San Lorenzo el Real

de El Escorial132, 1657, reed. 1667, 1671, 1681, 1698, 1760, e trad. em inglês133, 1671, classifica o

mosteiro, de unica maravilla del mundo, e descreve os seus compartimentos, mobiliário, colecções

de obras de arte, etc., e o pavoroso incêndio ocorrido em 1671, na edição desse ano.

Fray Andrés Ximénez, Descripción del Real Monasterio de San Lorenzo de El Escorial134, 1654,

reed. 1764, descreve todo o mosteiro, apresentando vários desenhos do edifício, e contém uma

ampla descrição das obras de arte e do mobiliário que o decoram. Apresenta no fim, como epílogo,

Descripción de la Capilla Real del Panteón, corona de esta maravilla de S. Lorenzo135. – O scopus

principal da edificação do mosteiro revela-se nesta descrição e, essencialmente, naquela classificação

do Panteón, como corona de todo o mosteiro, essa maravilla, palavra de que usa e abusa.

A Tratadística espanhola na época do Barroco: Com Fray Lorenzo de San Nicolás (1595-1679),

e seu Arte y Uso de Arquitectura136, 1639 e 1665, surge o melhor livro sobre instrução arquitectónica

jamais escrito, seg. Georg Kubler (ob. 1957), onde o Escorial é referido como a oitava maravilha

130

Fray Juan de San Jerónimo, Memorias desde Monasterio de Sant Lorencio el Real, 1563-91, ed. in Colec-

ción de documentos inéditos para la Historia de Espanha VII, Madrid, 1845; agora ed. como livro, Memorias

de Fray Juan de San Geronimo, por M. Salvà y P. Sainz de Baranda, Madrid, 1984. 131 Fray José de Següenza, Historia de la Orden de San Geronimo, Madrid, 1605. 132 Fray Francisco de los Santos, Descripción breve del Monasterio de San Lorenzo el Real de El Escorial,

Madrid, 1657, reed. 1667, 1671, 1681, 1698, 1760. 133 Francisco de los Santos, The Escurial; or, a Description of that Wonder of the vvorld..., translated into

English by a Servant of the Earl of Sandwich, London, 1671. 134 Fray Andrés Ximénez, Descripción del Real Monasterio de San Lorenzo de El Escorial, Madrid, 1654,

reed. 1764. 135 Fray Andrés Ximénez, ob. cit. (1654), p. 319-78. 136 Fray Lorenzo de San Nicolás, Arte y Uso de Arquitectura, Madrid, 1639-65, 2 vols..

Page 43: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

43

do mundo (uma despromoção, frente à unica maravilha de Fray Francisco). Apesar de escrever em

plena época do Barroco, revela pendor classicista, opondo-se ao predomínio de pintores e escultores,

e defende a autonomia e especificidade da Arquitectura, muito marcada pela Aritmética e Geometria,

suas irmãs, pois que a Arquitectura necessite das duas é coisa assentada. – Todavia, também afirma:

ainda que Aritmética e Geometria possam passar sem a Arquitectura, com tudo isso, necessitam em

muitas coisas dela, e dado que se apure que não têm necessidade, por esta razão me hão de conceder

que sim, e é o ser da Arquitectura parte necessária para seu maior exercício, pois ela forma os corpos

difíceis, onde Aritmética e Geometria mais campeiam, pois descobrem mais sua entidade, e quase em

seu modo não se teria necessidade das duas, senão houvesse Arquitectura137.

Esta tirada revela bem a primazia à prática, vista como um desafio à teoria, que percorre a obra, toda

ela voltada para a Arte (entenda-se fabrica) e o Uso, sendo firmitas e utilitas, os aspectos da tríade

vitruviana que privilegia, advogando a adaptação aos lugares e às propriedades de los materiales

para construção, aí existentes, prefigurando a teoria da nature of materials, tão cara a certas facetas

da Modernidade. O segundo livro é quase inteiramente dedicado às Ordens, interpretadas a partir de

Serlio e Palladio, e estabelece uma curiosa relação entre as cinco ordens, as cinco operações elemen-

tares da aritmética, e os cinco corpos regulares, tetaedro, octaedro, cubo, quinto, e dodecaedro. – Em

tudo se observariam diferentes formas e proporções, mas dentro da mesma Ordem Aritmética.

A obra de Fray Lorenzo, embora com um hiato de 26 anos entre a publicação da I.ª parte e a 2.ª, teve

larga recepção por todos os domínios espanhóis, tanto mais que as suas prescrições, em relação à

adaptação aos lugares e ao uso dos materiais para construção lá existentes, facilitavam a vida aos

mestres de obras locais. Até 1794 houve 4 edições. Enfim, o tratado surge quando o declínio da

Espanha já começara, e o seu realismo e pragmatismo, adverso aos luxos, estão relacionados com

esse contexto; además, como dissera outro ibérico, Séneca, non est ornamentum virile concinnitas.

Juan Carlos de Faille (1597-1652), jesuíta, de origem belga (Antuérpia), matemático e geómetra

distinto, deixou um manuscrito de 20 páginas, com texto e desenhos, Tratado de la Arquitectura138,

1636, que começa pelas Ordens, à maneira de Paladio, mas adoptando uma atitude antivitruviana e

especulativa, questionando a arquitectura de origem grego-romana, e valorizando o gótico e outras

linguagens arquitectónicas. Propõe o Templo de Salomão como base modélica da arquitectura, e dá

início à indagação em torno da arquitectura não-ortogonal, ou não-recta, em planos inclinados ou

oblíquos, prefigurando as teses de Juan Caramuel de Lobkowitz.

137 Fray Lorenzo de San Nicolás, ob. cit., Vol. I (1633), f. 1. 138 Faille, J. C. de, Tratado de la Arquitectura, meados Séc. XVII; extractos in Sánchez-Cantón, F. J., Fuen-

tes literarias para la Historia del Arte Español, Madrid, 1923-1941, 5 vols.: Vol. 5 (1941), p. 275 ss.

Page 44: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

44

Domingo de Andrade (1639-1712), arquitecto, galego, bastante activo em Santiago de Compostela,

escreveu Excelencias, antigüedad y nobleza de la Arquitectura139, 1695, debruçando-se sobre arqui-

tectura militar, principalmente, mas referindo os conceitos básicos da arquitectura, na linha de

Vitrúvio, e esboçando as Ordens, interpretadas a partir de Serlio.

Outros tratadistas, como Diego de Arenas, Compendio de la Carpintería140, 1633, ou Juan de Torri-

ja, Breve Tratado de todo Genero de Bobedas141, e Tratado breve de las Ordenanzas de la Villa de

Madrid142, 1661, versaram temas específicos, menos importantes para a Teoria.

Outra obra importante, que ficou sem publicar até 1930, é a de Juan Ricci (c. 1600-81), Tratado de la

pintura sabia143, ms., 1662, que, além da pintura, da anatomia e das proporções humanas, trata de

arquitectura e da sua representação. Retoma o tema da Ordem Salomónica com colunas torsas à

maneira das de Bernini para S. Pedro, mas aplicando a torsão a todos os demais componentes das

Ordens, de modo a criar uma arquitectura ondulante, que servia também para arcos triunfais e para

altares. – Terá chegado a expor as suas ideias ao Papa, embora, ao que consta, sem grande êxito.

Se há uma Teoria da Arquitectura Barroca, ela começará por ser formulada por Juan Caramuel de

Lobkowitz (1606-82), aristocrata e clérigo espanhol de origem boémia (mãe) e luxemburguesa (pai),

intelectual multifacetado – filósofo, próximo das teses de Descartes, Pascal, e dos lógicos de Port-

Royal, matemático (pioneiro do cáculo infinitesimal e do binário), astrónomo, teólogo, poliglota

falando cerca de 20 línguas, filólogo e literato de grande mérito (interveio na discussão sobre a

independência da coroa portuguesa, com uma notável diatribe, comparando Portugal a uma ingrata

cortesã, que depois de ter vivido largos anos à custa do seu generoso amante, o resolvera deixar,

porque este empobrecera, além de envelhecer, e estar doente; mas ele recuperaria, e então...). – Para

lá de tudo isto, exerceu actividade como arquitecto, erigindo a Catedral de Vigevano, no Milanado,

e escreveu o mais denso e volumoso tratado de arquitectura espanhol: Architectura Civil Recta, y

Oblíqua144, 1678, onde os princípios da arquitectura oblíqua, já aflorados por Carlos de Faille, são

expostos de modo extensivo e fundamentado no Tratado VI, ponto nodal ou central, e convergente,

de uma obra controversa, mas estimulante e desafiadora.

No total, a obra organiza-se num Tratado Proemial, sobre o Templo de Salomão, inspirado em Prado-

Villalpando, a que se seguem nove Tratados – e não apenas os sete, a que se refere Hanno-Walter 139 Andrade, D. de, Excelencias, antigüedad y nobleza de la Arquitectura, Santiago de Compostela, 1695. 140 Diego de Arenas, Compendio de la Carpintería..., Sevilla, 1633. 141 Torrija, J. de, Breve Tratado de todo Genero de bobedas..., Madrid, 1661. 142 Torrija, J. de, Tratado breve, sobre las Ordenanzas de la villa de Madrid, y policia de ella, Madrid, 1661. 143 Ricci, J., Tratado de la pintura sabia, ms. 1662 144 Lobkowitz, J. C., Architectura Civil Recta, y Oblíqua, Vigevano, 1678, 3 vols..

Page 45: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

45

Kruft (1938-93), o malogrado historiador da Teoria da Arquitectura, e que são os únicos mencio-

nados, no início da obra, em Lo que se contiene en este Libro –, dando conta dos assuntos que se

intentarão mostrar no diapositivo seguinte:

Tratado I: Formação do arquitecto (mais exigente que Vitrúvio);

Tratados II, III e IV: Aritmética, logaritmos (de que foi pioneiro), geometria;

Tratado V: Os princípios da Architectura Recta, assumindo as categorias vitruvianas, que nomeia

Comodidad, Hermosura y Perpetuidad;

Tratados VI: A doutrina da Architectura Oblíqua, parte mais original e polémica, módulo central

da obra e seu ponto convergente ou fulcral;

Tratado VII: Das artes e ciências que acompanham e adornam a arquitectura;

Tratado VIII: Sobre a Architectura Pratica, i. é, a arquitectura existente;

Tratado IX: Sobre nuestra Architectura Natural, ou seja, sobre a própria obra, sua organica.

Assim, e somando o Tratado Proemial, tem-se o significativo número de dez tratados, tal como

Vitrúvio e Alberti – os instauradores – ou Scamozzi, parecendo querer medir forças com eles, embora

o seu tratado esteja longe de ter semelhante unidade orgânica, apresentando-se fragmentado, contra-

ditório, paradoxal, e com largo uso da perífrase.

O ponto de partida de Lobkowitz é o que se passa com os elementos arquitectónico situados em

planos inclinados ou oblíquos, como balaústres de escadas, ou colunas de arcadas curvas, como as

do Vaticano, e tendo em atenção a percepção visual, impondo-se correcções, de modo a manter o

aspecto proporcional. Em relação aos balaústres, a coisa é óbvia, e foi bem acolhida pela prática da

arquitectura. Já em relação às colunas, parece haver um equívoco, pois tem como pressuposto uma

visão estática, num ponto fixo, o que, de facto não acontece num espaço exterior e de passagem.

Todavia, terá exposto o assunto a Bernini, que teve em conta as suas ideias, alterando, ainda que

ligeiramente, as colunas. – Num breve relance, vejamos o que o tratado diz:

architectura oblíqua es edificar mal, edificar sin guardar las leyes y preceptos del Arte. Y edificar

oblíqua, es edificar muros, que com outros, com quienes hazen ángulo oblíquo, tengam buena corres-

pondencia145.

Por ordem arquitectónica deve-se entender um composto de diferentes partes, com boa proporção entre

si e unidas, como o fazem os membros, formam um corpo inteiro, em que haja bizarria e formosura,

que deleite os olhos146.

145 Lobkowitz, ob. cit. (1678), Vol. II, Tratado VI, p. 2. 146 Lobkowitz, ob. cit. (1678), Vol. II, Tratado V, p. 33.

Page 46: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

46

Ponho por primeiro fundamento desta ciência, que seu juíz não há-de ser Vitrúvio, nem nenhum Es-

critor Antigo ou Moderno, mas sim só a Vida147.

Lobkowitz identifica onze Ordens: as cinco clássicas, e mais seis, entre as quais, a Salomónica ou

Tyria (criada por Hiramo, arquitecto do Templo, que era de Tyro), a Atlante (Persas), a Paranynfica

(Cariátides), e a Ordem Gótica, sendo o primeiro a nomeá-la como uma Ordem.

Sobre a antiguidade da Arquitectura Oblíqua, declara a sua origem em Deus, o primeiro arquitecto,

que no Céu e na Terra fez linhas oblíquas, e argumenta com a Elíptica que o Sol descreve, e também

com o facto de na Terra os montes serem oblíquos, bem como os rios, que é devido à obliquidade

(inclinação do leito) que correm para o mar.

Com Juan Caramuel de Lobkowitz o melhor da Tratadística espanhola fina-se, acompanhando o

declínio geral dos países da Península Ibérica, seguindo-o de imediato epígonos das suas ideias,

como Tomás Vicente Tosca (1651-1725), Compendio Matemático148, Tomo V, 1712, que trata de

Architectura Civil, Montea, y Canteria, Arquitectura Militar, Pirothecnia, y Artilleria, e onde define

a arquitectura oblíqua, desta maneira:

La arquitectura oblíqua edifica sus fábricas sobre suelos inclinados o en pasadizos y puertas que

corren en viaje o en templos redondos ou elípticos149.

Juan García Berruguilla edita Verdadera prática de las resoluciones de la geometría, sobre las tres

dimensiones para un perfecto arquitecto150, 1747, revelando vastos conhecimentos de matemática,

geometria, e técnicas de construção necessárias a um arquitecto e, surpreendentemente, afirma ser o

primeiro a tratar da arquitectura oblíqua. – Veja-se:

Darè tambien la resolucion de la Architectura obliqua, la qual hà sido ignorada de todos los Architectos

hasta hoy, y tengo la felicidad de ser entre tantos famosos hombres qui hè tratado, y lido sus obras el

unico que la hè descubierto151.

Tratadistas “menores” entre Barroco, Rococó, e Ilustracion: Em paralelo com os autores maiores

já referidos, nesta época vê-se surgir uma série de autores que, embora menos importantes, não

deixaram de ter o seu papel na formação da Teoria da Arquitectura, em Espanha. – É o caso de:

147 Lobkowitz, ob. cit. (1678), Vol. II, Tratado V, p. 33. 148 Tosca, T. V., Compendio Matemático, Tomo V, Valencia, 1712. 149 Tosca, ob. cit., Tomo V (1712), p. 1-2. 150 Berruguilla, J. G., Verdadera prática de las resoluciones de la geometría, sobre las tres dimensiones para

un perfecto arquitecto, Madrid, 1747 151 Berruguilla, ob. cit. (1747), Prologo al Lector.

Page 47: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

47

Bartolomé Ferrer († 1719) publica Curiosidades útiles, Arithmetica, Geometrica, Architectonica...

ou Cartilla de Architectura152, 1719. – Começa com a Regra de Ouro, a seguir vários preceitos

aritméticos e geométricos aplicáveis à edificação de igrejas paroquiais, apresentando uma planta

com a sua geometria explicitada, e as Ordens de Arquitectura, também, fornecendo desenhos e

preceitos para o seu traçado e as suas proporções.

Matias de Irala (1680-1753), Método sucinto y compendioso de cinco simetrias apropriadas a los

cinco órdenes de Arquitectura153, 1739, que essencialmente consiste num mostruário de ornamen-

tos arquitectónicos, dentro do estilo Rococó, representados em belas gravuras.

Nicolás de Churriguera (1710-71), Tratado de curiosos gyros de quentas, utiles a los professores

de arquitectura y assimismo a los dueños de Obras...154, 1756, essencialmente, trata da aritmética

que seria necessária para controlar os diversos aspectos da edificação.

Phelipe Medrano (?), Tablas de reduccion que comprehenden quantas comparaciones puedan

hacerse entre el Pie, y vara de Castilla, y Pie de Rey, y Toisa de Paris en longitud quadrado, y

cubico...155, 1748. – Obra preciosa, e indispensável a todos que lidavam com medidas, logo também

a arquitectos, mestres de obras, artifícies, &c.

Os alvores da Ilustración na Teoria da Arquitectura Espanhola: Na primeira metade do Séc.

XVIII, após o fim da Guerra da Sucessão (1702-14), será nas obras de Teodoro Ardemans († 1726),

Ordenanzas de Madrid156, 1720, e Fluencias de la Terra, y Curso Subterraneo de las Aguas157, 1724,

que se denotam os primeiros sinais de mudança de mentalidade, pela maneira de abordar os assuntos

que se prendem com a disciplina urbanística, e a captação, adução e distribuição de água às cidades.

Depois, Athanasio Genaro Brizguz y Bru, pseudónimo e anagrama de Agustín Bruno Zaragoza

y Ebri (1713-?), em cuja Escuela de Arquitectura Civil158, 1738, se prefiguram algumas das questões

152 Ferrer, B., Curiosidades útiles, Arithmetica, Geometrica, Architectonica... ou Cartilla de Architectura,

Madrid, 1719. 153 Irala, M. de, Método sucinto y compendioso de cinco simetrias apropriadas a los cinco órdenes de Arqui-

tectura, Madrid, 1739. 154 Churriguera, N. de, Tratado de curiosos gyros de quentas, utiles a los professores de arquitectura y assi-

mismo a los dueños de Obras..., Madrid, 1756. 155 Medrano, Ph., Tablas de reduccion que comprehenden quantas comparaciones puedan hacerse entre el

Pie, y vara de Castilla, y Pie de Rey, y Toisa de Paris en longitud quadrado, y cubico..., s.l., 1748. 156 Ardemans, T., Ordenanzas de Madrid, Madrid, 1720. 157 Ardemans, T., Fluencias de la Terra, y Curso Subterraneo de las Aguas, Madrid, 1724. 158 Brizguz y Bru, A. G., Escuela de Arquitectura Civil, Valencia, 1738.

Page 48: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

48

que Laugier levantaria 15 anos mais tarde, relativas à cabana primitiva como origem e essência da

Arquitectura, além da atenção dada às casas privadas, no que se terá inspirado em Charles Daviler

(1653-1701), teórico francês, que estivera muito na moda pelos finais do Séc. XVII, inícios do

XVIII. – É o primeiro tratadista, em Espanha, a apresentar desenhos de casas modestas, inseridas

em lotes urbanos de pequena dimensão, à maneira da francesa art de bien bastir.

Também na obra de Manuel Losada (?), Critica y Compendio Especulativo-Practico de la Arqui-

tectura Civil159, 1740, o criticismo e enciclopedismo anuncia-se logo no título, e com um pretendido

enfoque especulativo, mas voltado para a práctica (enfim, nada contraditório como foi próprio

daquela época, que pretendeu abalar os préjuices fundamentadores da cultura dominante). E, na

realidade, é a prática da construção que domina este tratado.

Prolongando o influxo dos matemáticos na Teoria da Arquitectura, Miguel Benavente (?) publica

Elementos de toda la Architectura Civil160, 1763, tradução da obra do vienense Christiano Rieger

(1714-80), Universae Architecturae civilis Elementa161, 1756, que diz aumentados por el mismo.

Começa propondo uma divisão da História da Arquitectura em Antiquissima, Antigua, Gothica, y

Moderna; e refere a tríade vitruviana, dizendo:

Todo edificio debe ser firme (...) Qualquiera Edificio se debe hacer útil, y cómmodo (...) Todo Edificio

debe hacerse hermoso [e] la hermosura se divide en verdadera, y aparente (...) Hermosura verdadera

es una perfecta correspondencia de las diversas partes, que conponen el Edificio, assi en quanto à la

qualidade de la Obra, como en quanto à la perfeccion, y conveniencia (...) Aparente es la que de

qualquiera outro modo llama la atención, no sin la trabazón, y conveniencia162.

Assim, reconhece dois tipos de beleza e, aparentemente, ambos válidos, mas logo dirá:

Villalpando, y Vitruvio manifestan bien quanto ofenden à la perfección de la Architectura los demasia-

dos adornos, e inutiles atavìos de las Columnas163.

Isto manifesta concordância com o despojamento neoclássico que então se gizava por toda a Europa,

e para o qual, as formas austeras da arquitectura militar, de que o autor era especialista, bastante

contribuiram. Rieger virá a escrever Universae Architecturae militaris Elementa164, 1758, mas esta

obra não terá interessado o tradutor espanhol. A obra revela bons conhecimentos da literatura sobre

159 Losada, M., Critica y Compendio Especulativo-Practico de la Arquitectura Civil, Madrid, 1740. 160 Rieger, Ch., Elementos de toda la Architectura Civil, trad. do latim de M. Benavente, Madrid, 1763. 161 Rieger, Ch., Universae Architecturae civilis Elementa, Vindobonae (Wien), Pragae, & Priestae, 1756. 162 Rieger, ob. cit. (1763), p. 17-19. 163 Rieger, ob. cit. (1763), p. 19. 164 Rieger, Ch., Universae Architecturae militaris Elementa, Vindobonae (Wien), 1758.

Page 49: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

49

a Teoria da Arquitectura, em geral, e tem uma parte interessante sobre a cidade, considerando as

Plazas Mayores, um dos anunciados aumentos do tradutor, decerto, embora esse tipo de praças,

com outros nomes, fosse uma preocupação comum a toda a Europa do Absolutismo.

Obras de carácter prático, tipo manuais instrutivos: Como o Séc. XVIII é uma época de plura-

lismo cultural, o anterior enfoque matemático conviverá com El Arquitecto pratico, civil, militar, y

agrimensor165, 1767, de Antonio Plò y Camin (?), arquitecto e Profesor de estas Ciencias, como diz

a portada. Começa pela agrimensura e são, essencialmente, os problemas de geometria, estereome-

tria, medições, e projecções as matérias sobre que incide, e com um enfoque prático.

Esse mesmo tipo de enfoque, visando a segurança das construções, motiva Joachim de Sotomayor

(?) em Modo de hacer incombustibles los Edificios, sin aumentar el coste de su construccion166,

1776, que é extractado de el, que escrivió en Francês el Conde de Espie (?), e descreve, em três

curtos capítulos, um processo de, com abobedas llanas, se evitarem os incêndios, pois estas abóba-

das, de cerâmicos e gesso, eram incombustíveis.

O Tratado elemental de los cortes de canteria, o arte de la montea167, 1795, é outra obra traduzida

do francês por Fausto Martinez de la Torre, e Josef Asensio, Professores de Arquitectura e Gra-

vura. O autor francês é Mr. Simonin (?), e o livro, dado a luz por Mr. Delagardette Arquitecto

Pensionado de S. M. Christianíssima, é o Traité élémentaire de la coupe des pierres ou art du

trait168, Paris, 1792. – A tradução cinge-se ao original, descrevendo todos os complexos processos

de corte das pedras e sua junção em arcos, lintéis e abóbadas, ilustrando-os amplamente.

Estas obras, traduzidas de autores franceses ou austríacos, mostram que a Espanha se atrasara, mas

tentava acertar o passo, abrindo-se ao mundo e à técnica.

Com Diego de Villanueva (1715-74), e seu amigo Antonio Ponz (1725-92), as teorias da Ilustra-

ción e do Neoclassicismo consolidam-se em Espanha. – De Villanueva há um ensaio (é a época em

que a ensaística começa a substituir a tratadística), Colleción de diferentes papeles criticos sobre

todas las partes de la arquitectura169, 1766, e antes, ainda, as ilustrações para Regla de las Cinco

165 Pló y Camin, A., El Arquitecto pratico, civil, militar, y agrimensor, Madrid, 1767. 166 Sotomayor, J. de, Modo de hacer incombustibles los Edificios, sin aumentar el coste de su construccion,

extractado de el, que escrivió en Francés el Conde Espie, Madrid, 1776. 167 Simonin-Delagardette, Tratado elemental de los cortes de canteria, o arte de la montea, trad. al español

por F. Martinez de la Torre, e J. Asensio, Madrid, 1795. 168 Simonin-Delagardette, Traité élémentaire de la coupe des pierres ou art du trait, Paris, 1792. 169

Villanueva, D., Colleción de diferentes papeles criticos sobre todas las partes de la arquitectura, Madrid, 1766.

Page 50: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

50

Ordenes de Arquitectura de Jacome de Vigñola170, 1764. Tal como as de Laugier e Lodoli-Algaroti,

de cujos purismos se demarca, a obra não tem ilustrações, e persegue a onda crítica do Neoclassi-

cismo voltado para a Grécia, só aceitando as suas três Ordens, no que parece influenciado por Fréart

de Chambray (1650) e por Robert Morris (1728). Demarca-se do Barroco e do Rococó, criticando-

os na figura de Borromini e de Meissonier, bem como das tradições locais. Tem os olhos postos em

França e na literatura daí vinda – é a época dos Bourbons em Espanha – imitando o vocabulário

francês da Teoria de Arquitectura do tempo, traduzido para castelhano: conveniencia, regularidad,

comodidad, distribuición, buen gosto, grandeza, simplicidade, carácter, são as suas key words. – Tem

obra notável como arquitecto, foi da Academia de S. Fernando (tendo feito o projecto da fachada

do edifício de Madrid), e teve como irmão Juan de Villanueva, arquitecto notável da época.

Na Viage de España171, 1772-94 (18 vols.), de Antonio Ponz, assiste-se à descrição, ilustrada, dos

mais notáveis edifícios de España, vistos pelos olhos de um adepto do Classicismo, mas, curiosa-

mente, também sensível à imponência e aos encantos das Catedrais Góticas.

Pelo fim do Séc. XVIII, já o Neoclassicismo era o estilo arquitectónico dominante em Espanha,

produzem-se algumas das obras teóricas mais significativas dessa corrente artística:

Domingo Antonio Lois Monteagudo (1723-86), Libro de barios Adornos172, c. 1780, é um ms.,

com preceitos de ornamentação neoclássica, interpretada com grande liberdade, mesclada de motivos

regionais, à maneira do Norte Peninsular: o autor, arquitecto, era galego, e trabalhou nas obras do

complexo da Catedral de Santiago de Compostela. A obra não foi publicada no seu tempo, não se

sabendo do seu impacto, mas deve ser encarada como reflectindo as ideias dessa época.

Benito Bails (1731-97), Elementos de matemática, Tomo IX, Parte I, De la arquitectura civil173,

1783, obra densa e volumosa, muito centrada nos problemas da construção vista por um matemático

– talvez o maior daquele tempo, em Espanha. Postumamente, em 1802, edita-se Diccionário de

Arquitectura174 e, em 1785, editara-se uma obra que é das primeiras na Península a chamar a atenção

para a arquitectura dos cemitérios: Pruebas de ser contrario a la prática de todas las Naciones y a

la Disciplina Eclesiástica, perjudicial a la salud de los vivos, enterrar a los difuntos en las Iglesias

170 Vigñola, J., Regla de las Cinco Ordenes de Arquitectura de Jacome de Vigñola, desenhadas por Diego de

Villanueva, Madrid, 1764. 171 Ponz, A., Viage de España, Madrid, 1772-94, 18 vols.. 172 Monteagudo, D. A. L., Libro de barios Adornos172, ms. c. 1780, agora editado por La Coruña, 1985. 173 Bails, B., Elementos de matemática, Tomo IX, Parte I, De la arquitectura civil, Madrid, 1783. 174 Bails, B., Diccionário de Arquitectura, Madrid, 1802.

Page 51: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

51

y los Poblados175. De resto, a salubridade é uma das suas key words, que o levara a traduzir António

Nunes Ribeiro Sanches (1699-1783), Tratado de la conservacion de la salud de los pueblos y consi-

deraciones sobre los terremotos176, 1781, obra a ver nesta exposição, ainda. De la arquitectura civil

integra-se na tradição que considera a arquitectura um ramo da matemática, logo um enfoque mais

técnico-científico que artístico, dando primazia à firmitas, à utilitas e à salubridade, mas considerando

também as Ordens. O Diccionário é sobretudo um elucidário do vocabulário da arquitectura.

Francisco A. Valzania (?), Instituciones de Arquitectura del Arquitecto177, 1792, desenvolvidas

em 5 capítulos: 1) de la Arqui. en general; 2) de la Solidez; 3) de la Comodidad; 4) de la Belleza;

5) de la Hidráulica. Trata-se de uma interpretação ilustrada de Vitrúvio.

E com Joseph Ortiz y Sanz (1739-1822), presbítero ilustrado, historiador, arqueólogo, encerra-se a

exposição, abrindo-se um novo campo na Teoria da Arquitectura: o da indagação filológica-arqueo-

lógica, como o anuncia a primeira das suas obras: Abaton Reseratum...178, 1781, de exegese duma

passagem de Vitrúvio, cap. ult., lib. tert., relativa aos scamillos impares, e à secunda Adjectione in

Epistyliis; depois, a sua tradução comentada e ilustrada de Los Diez Libros de Archîtectura de M.

Vitruvio Polión179, 1787, que começa pelas Memorias sobre la vida de Vitruvio, seguindo-se uma

interpretação marcada pelo pretendido rigor do Classicismo, de que as ilustrações são a prova cabal.

A exegese do Classicismo leva-o, dez anos depois, à edição de Los quatro Libros de Arquitectura de

Andres Paladio180, 1797, que se ficou pelo dois primeiros livros, embora tendo feito as figuras para

os outros, e rematará com Instituciones de Arquitectura Civil acomodadas en lo possible a la doctrina

de Vitruvio181, 1819. Pelo meio, inconcluso, ficou um projecto de ViageArquitectónico-Anticuario

por España, c. 1790, que pretenderia ser uma carta arqueológica da Espanha de fins do Séc. XVIII.

No total, a sua obra denota a consciência histórica do tempo e a exegese de um classicismo rigoroso,

originário, mas que não se devia alhear da especificidade espanhola, antes marcar essa diferença e

independência, quer no plano prático quer no teórico.

175

Bails, B., Pruebas de ser contrario a la prática de todas las Naciones y a la Disciplina Eclesiástica, perju-

dicial a la salud de los vivos, enterrar a los difuntos en las Iglesias y los Poblados, Madrid, 1784. 176 Sanches, A. R., Tratado de la conservacion de la salud de los pueblos, y consideraciones sobre los terre-

motos, Madrid, 1781 177 Valzania, F. A., Instituciones de Arquitectura del Arquitecto, Madrid, 1792. 178 Ortiz y Sanz, J., Abaton Reseratum..., Romae, 1781. 179 Ortiz y Sanz, J., Los Diez Libros de Archîtectura de M. Vitruvio Polión, Madrid, 1787. 180 Ortiz y Sanz, J., Los quatro Libros de Arquitectura de Andres Paladio, Madrid, 1797. 181 Ortiz y Sanz, J., Instituciones de Arquitectura Civil acomodadas en lo possible a la doctrina de Vitruvio,

Madrid, 1819.

Page 52: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

52

Nesta época, e com este conjunto de autores, que vai de Diego de Villanueva e Antonio, a Francisco

Valzania e Ortiz y Sanz, a Teoria de Arquitectura, em Espanha, recuperará algo do fulgor manifes-

tado durante o Séc. XVII, quando por toda a Europa se debateu o conjunto de questões levantado

na obra de Prado e Villalpando, ou depois em Lobkowitz. A nova Teoria está conexionada com a

nova sensibilidade cultural, pluralista e polimorfa, como foi próprio da Ilustración, e que, no campo

das artes e da arquitectura se traduziu no Neoclassicismo, no Romantismo, e no Neo-Gótico. Não

estando clarificadas as relações entre Teoria e Prática, e não sendo admissível tipo algum de relação

de causalidade (a Teoria como causa e origem da Prática, ou viceversa), e podendo até considerar-se

a Teoria da Arquitectura como fenómeno autónomo, que não explica a prática, nem por ela é expli-

cado, e a carecer de interpretação, como fenómeno cultural paralelo (Panofsky, 1915182), não deixa,

contudo, de se fazer observar uma conexão entre o que se escreveu e o que se projectou e construiu.

Prado e Villalpando, In Ezechielem Explanationes, 1596-1604, Templo de Salomão;

Fray Francisco de los Santos, El Escorial, 1657;

Fray Lorenzo de San Nicolás, Arte y Uso de Arquitectura, 1639-65, Ortographia de uma Igreja;

Juan Caramuel de Lobkowitz, Architectura Civil Recta y Obliqua, 1678, Colunata de S. Pedro;

Joseph de Ortiz y Sanz, Los diez Libros de Vitruvio, 1787, Ordens de Arquitectura

182 Panofsky, E., Dürers Kunsttheorie, Berlin, 1915.

Page 53: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

53

Juan Bautista de Toledo, Juan de Herrera, e outros, El Escorial, 1561-84

Fray Lorenzo, Agustinas Descalças, Salamanca, 1635: exterior e interior (Altar-mor)

Juan Caramuel de Lobkowitz, Catedral de Vigevano, c. 1670-80

Page 54: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

54

Juan de Villanueva, Observatório Astronómico, Madrid, 1700;

Diego de Villanueva: Palácio Goyenche, Madrid, 1700 (hoje, Academia de San Fernando)

Justo Antonio de Olaguíbel, Plaza Nueva o de España, Vitória, País Vasco

Page 55: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

55

4. O Caso Português: Ou da escassez de Teoria da Arquitectura, em Portugal, e Excurso sobre

o significado da Arquitectura Chã (Séc. XVII-inícios do Séc. XIX)

[Nós, portugueses] temos por desprezo e galantaria fazer pouca conta das artes, e quase injuriamos

de saber muito delas, onde sempre as deixamos imperfeitas e sem acabar.

Francisco de Holanda, Diálogos de Roma, ms., 1548.

O Séc. XVII começa com Portugal integrado nos domínios da coroa espanhola, o que determinou a

subordinação da cultura portuguesa aos interesses da Espanha, e uma certa menoridade, face à gran-

diosidade da cultura espanhola, nesta época do Siglo d’Oiro, nada por cá ocorrendo de paragonável

em quase todos os âmbitos da expressão cultural (talvez com excepção da Literatura) e, natural-

mente, também neste, da Tratadística e Teoria da Arquitectura, tanto mais que a obra de Francisco

de Holanda (1517-84) ficara por publicar, e decerto caíra no olvido.

Manuscritos sobre Arquitectura Militar:

No acervo da BNP estão dados como tratados de arquitectura militar vários manuscritos dos Sécs.

XVII-XVIII. A arquitectura militar, designadamente a parte que trata da construção de fortifica-

ções, é um ramo periférico da arquitectura e da sua teoria, mas que lhe pertence, e terá sido onde

mais se investiu, quer para defesa do império, quer para defesa do solo pátrio, depois de 1640 e até

1668. – Os recursos eram limitados, e optou-se pelos canhões, em detrimento da manteiga artística e

sua teoria. – Estando fora do âmbito deste trabalho considerar todos esses documentos, a exposição

vai debruçar-se sobre os tidos por mais significativos, e mais acessíveis, nomeadamente os que

foram impressos, ou manuscritos digitalizados pela BNP.

O primeiro documento que surge é de Filippo Terzi, italiano, architetto e ingegnere militare in

Portogallo, um ms. de 17 págs., Embadometria o Misura di Superficie183, 1578, escrito em italiano,

com canhões, apontamentos de geometria, e as Ordens de Colunas, seu traçado e ornamentação,

que chega a ser intensa, dentro do espírito do Maneirismo e do Protobarroco; acaba apresentando o

desenho de um altar, feito para Bologna. Admite-se que terá sido usado como sebenta, nas aulas

que sobre arquitectura daria no Paço da Ribeira, no tempo do Cardeal, depois Rei, D. Henrique.

183 Terzi, F., Embadometria o Misura di Superficie, ms. 1578. – Em depósito na BNP, Cota COD 15956,

digitalizado em PURL 117.

Page 56: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

56

Depois, surge outro italiano, Leonardo Turriano (1559-1629), com um ms. redigido em castelhano,

Dos discursos de [...] el primero sobre el fuerte de San Lourenço de Cabeça Ceca en la boca del

Taxo, el segundo sobre limpiar la barra del dicho rio y otras diferentes184, c. 1622, trata-se duma

espécie de memória descritiva sobre os trabalhos referidos no título, ilustrada com desenhos con-

templando três alternativas para o forte, uma de forma oval e duas circulares, e vários mecanismos

para a dragagem do leito do rio. No fim, um projecto de modernização da Fábrica da Pólvora de

Barcarena, com vários mecanismos.

Do mesmo autor existe outro ms., Descripção e Historia das Ilhas do Mar Atlântico com arbitrios

sobre as suas fortificações185, cópia e traslação em vulgar (português) de Fr. Francisco de Santo

Thomaz, 1798; descrição extensa, 380 págs., e 36 mapas e desenhos das fortalezas das Ilhas Canárias

e da Madeira, cujo título original, em italiano, é Descrittione et historia del Regno de l’Isole Canaria

Gia dette le Fortunate, con il parere delle loro fortificationi186, escrito c. 1592. O autor descreve as

ilhas, as cidades principais, e sua história, geografia, religião, antropologia, e a ilha de San Boròndon,

que ficaria a Norte da ilha de Hierro, e é de natureza imaginária, atingindo laivos de utopia.

Datados 1631 e 1631-41, há dois ms. de Mateus do Couto, o Velho (?-1676), Tractado de Archi-

tectura que leo o Mestre, e Architecto...187, e Tratado de Prospectiva188. É pena nenhum deles estar

digitalizado, e não se poder fotocopiá-los, pois, além do texto, com interessantes reflexões sobre os

temas respectivos, contêm ilustrações bastante elucidativas. Ambos são os primeiros documentos

desta época, não periféricos, que atingem o cerne da Teoria da Arquitectura, embora o tractado

esteja incompleto, seja centrado no tema das fortificações – preocupação maior, ao tempo –, e trate

as ordens superficialmente. No fim, perde-se em considerações sobre a genealogia de D. Nuno

Álvares Pereira, chegando a apresentar um quadro comparativo dos reis de Portugal. Enfim, a fazer

lembrar a tirada de Nietzsche, sobre o arquitecto ser o grande serventuário do Poder.

184 Turriano, L., Dos discursos de [...] el primero sobre el fuerte de San Lourenço de Cabeça Ceca en la boca

del Taxo, el segundo sobre limpiar la barra del dicho rio y otras diferentes184, c. 1622. – Em depósito na

BNP, COD. 12892, digitalizado em PURL 15386. 185 Turriano, L., Descripção e Historia das Ilhas do Mar Atlântico com arbitrios sobre as suas fortificações,

ms. bilingue, italiano-português, cópia e tradução de Fr. Francisco de Santo Thomaz, 1798. – Em depósito na

BNP, COD. 892. 186 Turriano, L., Descrittione et historia del Regno de l’Isole Canaria Gia dette le Fortunate, con il parere

delle loro fortificationi186, escrito c. 1592. 187 Mateus do Couto, o Velho, Tractado de Architectura que leo o Mestre, e Architecto..., 1631. – Em depósito

na BNP, Cota COD. 946//1. 188 Mateus do Couto, o Velho, Tractado de Prospectiva, ms. 1631-1641. – Em depósito na BNP, Cota COD.

946//4.

Page 57: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

57

A estes, seguem-se vários, todos manuscritos, e a maior parte parecendo ser traduções ou paráfrases

de obras de autores estrangeiros, especialistas na matéria. Por vezes contém desenhos, ou constituí-

dos quase só por desenhos, como é o caso da obra de Nicolau de Langres (?-1665), Desenhos e

plantas de todas as praças do Reyno de Portugal...189, c. 1661, redigida em francês, e apresentando

desenhos de 57 praças fortes portuguesas.

Também constituído quase só por desenhos é o Livro de varias plantas deste reino e de Castela190,

de João Tomás Correia (1667-?), que apresenta uma miscelânia de desenhos, alguns bastante naifs,

de povoações, castelos, fortificações, planos de batalhas, fontes barrocas, e, no fim, brasões, a fazer

lembrar que se está, por toda a Europa, na época do Blason, de que C.-F. Ménèstrier, já referido a

propósito das imagens, foi grande teórico. O Livro de Tomás Correia não está datado, mas pela data

de nascimento do autor, e por factos como a batalha de libertação de Budapeste, do domínio turco,

1686, representada numa ilustração, se presume ser de fins do Séc. XVII, princípios do Séc. XVIII,

quando este género de livros eram moda na Europa, mas também mostra o nosso atraso e desfaza-

mento, dada a incipiência dos desenhos.

Manuel Pinto de Villalobos (?-1734), Tratado do uso do Pantometra de Desenhar as Forteficasoins

Assim do lado do Polygono exterior para fora, como do lado do Polygono interior pera dentro nas

figuras tanto regulares como irregulares Pello Methodo de Luis Serrão Pimentel...191, c. 1688-97.

O pantómetra era um instrumento de cálculo e medição dos valores angulares, logo, indispensável

para o traçado das fortificações. – Apresenta esquemas de figuras geométricas regulares e irregula-

res, e traçados elementares de fortificações de forma pentagonal, com baluartes salientes. No texto

refere-se a fortalezas em forma de Pentagono, Exagono, Eptagono, Octogono, e Enneagono. O

autor, engenheiro militar e arquitecto, foi aluno de Francisco Pimentel, filho de Luís Serrão Pimentel,

na Aula de Fortificação de Lisboa, e o livro seria de apontamentos das aulas.

Obras de Teoria da Arquitectura Militar Impressas:

A obra de Luís Serrão Pimentel (1613-79), Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das

Praças Regulares & Irregulares, Fortes de Campanha, e outras obras pertencentes à Architectura 189 Langres, N. de, Desenhos e plantas de todas as praças do Reyno de Portugal..., ms. redigido em portu-

guês e francês, c. 1661. – Em depósito na BNP, Cota COD. 7445, digitalizado em PURL 15387. 190 Correia, J. T., Livro de varias plantas deste reino e de Castela, ms. entre 1699 e 1743. – Em depósito na

BNP, Cota D.A. 7 A., digitalizado em PURL 12158. 191 Villalobos, M. P. de, Tratado Do uso do Pantometra de Desenhar as Forteficasoins Assim do lado do

Polygono exterior para fora, como do lado do Polygono interior pera dentro nas figuras tanto regulares

como irregulares Pello Methodo de Luis Serrão Pimentel..., ms. c. 1688-97. – Em depósito na BNP, Cota

COD. 13201, digitalizado em PURL 11495.

Page 58: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

58

Militar...192, 1680, é o primeiro tratado de arquitectura a ter o privilégio das honras de prelo; mais

uma vez, a arquitectura militar mostrando a sua primazia, entre nós. – A obra divide-se em duas

partes, Operativa e Qualificativa, e faria parte de um conjunto mais vasto, que não se conhece, mas

também sobre arquitectura militar, em exclusivo.

De Johann F. Pfeffinger (1667-1730), edita-se Fortificaçam moderna, ou recompilaçam de diffe-

rentes methodos de fortificar... com hum diccionário alphabetico dos termos militares193, 1713,

tradução de Manuel da Maia (1677-1768), que viria a ser Engenheiro-Mor do Reino, no tempo do

Marquês de Pombal e, nessa qualidade, dirigir os trabalhos para a reedificação da Lisboa, destruída

pelo Terramoto de 1755. A obra, de seu título original, francês, é Nouvelle fortification françoise,

espagnole, italienne & hollandaise ou Recueil de differentes manieres de fortifier en Europe , 1698,

reed. 1740. Esta obra será depreciada por Azevedo Fortes que, no entanto, aproveitará algumas das

suas gravuras. – Dado não estar digitalizada, e ser difícil o acesso a fotocópias, usa-se a versão

original, francesa, digitalizada por Books.Google.

Depois, é ainda outro tratado de arquitectura militar: Manuel de Azevedo Fortes (1660-1743), O

Engenheiro Portuguez...194, 1728-1729. O autor era Engenheiro-Mor do Reino, ao tempo de D.

João V, e a obra foi concebida, segundo afirma:

Esta obra (...) não foi feita para se dar ao publico: o primeiro fim que me propuz, foi a minha própria

instrucção; e passou depois em postila para servir de Methodo aos Praticantes da Academia Militar,

de que Sua Magestade foy servido de encarregar-me195.

A obra divide-se em dois tomos, o primeiro, tratando a Geometria pratica sobre o papel e sobre o

terreno; o segundo, a Fortificação regular e irregular: o ataque, e defensa das Praças; e no

Appendice o uso das Armas de guerra. – Refere-se à literatura publicada, dizendo de Pimentel:

cujos methodos já hoje senão usa nas mais Nações da Europa; de Pfeffinger, que não era methodo

fixo, e determinado, mas huma compilação de varios methodos, que pódem mais servir para noticia

historica, do que para dar abertura de entendimento, e facilidade aos principiantes; e dizendo da sua

obra: Estes dois defeitos senão acharão nesta obra; porque a doutrina, que se contém em hum, e outro

tratado, he a mais moderna, que se está praticando nos nossos tempos196.

192 Pimentel, L. S., Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares & Irregulares,

Fortes de Campanha, e outras obras pertencentes à Architectura Militar..., Lisboa, 1680. 193 Pfeffinger, J. F., edita-se Fortificaçam moderna, ou recompilaçam de differentes methodos de fortificar...

com hum diccionário alphabetico dos termos militares, tradução de Manuel da Maia, Lisboa, 1713. 194 Fortes, M. A., O Engenheiro Portuguez..., Lisboa, 1728-1729, 2 vols.. 195 Fortes, ob. cit. (1728), Vol. 1, Prologo ao Leitor. 196 Fortes, ob. cit. (1728), Vol. 1, Prologo ao Leitor.

Page 59: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

59

Essa doutrina, mais moderna, era inspirada em Antonio de Ville, o Conde de Pagan, Monsieur Vauban,

e a Fortificação de hum author Anonimo, que tomou por guia aos tres precedentes, cuja delineação

seguiremos nesta obra197. O programa anunciado é cumprido com rigor, de modo extensivo, não

isento de certa dose de retórica, e no fim de cada tomo são apresentadas figuras exemplificadoras.

Obras versando a Arquitectura do Efémero, a Civil, e o Urbanismo:

Finalmente, em 1733, é impressa uma obra que, embora não sendo específicamente um Tratado de

Arquitectura, é tida como andando próximo de tal: Artefactos Symmetriacos e Geometricos198, do

Pde. Ignacio da Piedade Vasconcellos (1676-1752). – Trata-se de uma obra singular, que em

cerca de dois terços do seu volume se ocupa da descrição dos procedimentos relativos à criação de

figuras de pasta, ou seja, pasta de papel (muito usadas nas festas públicas), e de como se fundirão

figuras de metal ocas. O Livro III, trata das principais regras, e figuras da geometria, tratando das

cinco Ordens, Toscana, Dórica, Jónica, Coríntia e Compósita, mas muito elementarmente, sendo o

mais curto dos quatro livros em que se divide a obra, com apenas cinco capítulos (5), num total de

cento e treze capítulos (113). Enfim, só com muita boa vontade se o pode considerar um tratado de

arquitectura, mais valendo a classificação de escrito variopinto que, entre outros assuntos, no âmbito

das actividades artísticas, ou da Arquitectura do Efémero, trata das Ordens de Colunas. Também

neste caso não é possível apresentar imagens, pois a obra não está digitalizada.

Já referido como tradutor de Pfeffinger, 1715, Manuel da Maia, Engenheiro-Mor do Reino, na

Dissertação sobre a renovação da Cidade de Lisboa, 4 Dez. 1755; Segunda Parte da Dissertação

sobre a renovação da Cidade de Lisboa, 16 Fev. 1756; e Terceira Parte sobre a renovação de Lisboa,

19 Abr. 1756199, expressa toda uma série de notáveis observações sobre o urbanismo da época, consi-

derando as várias hipóteses, relativas à reedificação da cidade, e até à sua deslocalização (hipótese

refutada). O enfoque é do tipo pragmático, conciso, mas não deixa de revelar os pressupostos que

lhe subjazem, e que apelam à regularização do traçado da cidade, alargando as ruas, limitando as

cérceas, disciplinando o desenho das fachadas... Enfim, tudo aquilo que veio a caracterizar a Baixa

Pombalina, esse espaço urbano, actualmente moribundo, mas que chegou a ser considerado, como

197 Fortes, ob. cit. (1728), Vol. 1, Prologo ao Leitor. 198 Vasconcellos, Pe. I. da P., Artefactos Symmetriacos e Geometricos, advertidos, e descobertos pela indus-

triosa perfeição das Artes Esculturaria, Architectonica, e da Pintura: com certos fundamentos, e regras

infalliveis para a symmetria dos corpos humanos, escultura, e pintura dos Deoses Fabulosos, e noticia de

suas propriedades, para as cinco ordens de architectura, e suas figuras geometricas, e para alguns novos, e

curiosissimos artefactos de grandes utilidades..., Lisboa, 1733. 199 Ver, Ayres, Ch., Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terramoto de 1755, Lisboa,

1910, p. 25-57.

Page 60: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

60

dos espaços urbanos mais significativos do urbanismo ocidental, nele se reflectindo as ideias do

Iluminismo do Séc. XVIII, a par de uma específica tradição portuguesa: a da arquitectura chã.

Questões específicas dentro da Teoria da Arquitectura: Salubridade, Segurança, e Utopias –

Consequências do Terramoto?

António Nunes Ribeiro Sanches (1699-1783), médico, um dos nomes maiores da nossa cultura,

no Tratado da Conservação da Saúde dos Povos200, 1756, expressa uma elegia da salubridade dos

ares, tema do Cap. I, e velha questão vitruviana, que dos loci saluberrimi faz um dos seus topos,

referido por Ribeiro Sanches, no Cap. IX, Dos sítios mais sábios para fundar Cidades, mas segundo

um entendimento diferente do de Vitrúvio, pois para o nosso médico, já não se trata de defender as

ruas dos ventos molestos, mas sim de expor toda a cidade à acção benéfica dos ventos, renovando

continuamente o ar, impedindo-o de se corromper, por inércia (ares parados). Nesse mesmo capítulo,

Ribeiro Sanches, cita Alberti, De re aed.. I, 4 e 5, Argentorati, 1545, e suas recomendações para a

escolha de sítio para fundar a cidade:

a primeira, as qualidades do terreno; e a segunda, a bondade das águas201.

Também a questão das sepulturas e dos cemitérios é contemplada, advogando o fim do sepultamento

dentro das igrejas, e a construção de cemitérios fora dos limites da cidade.

Noutra das suas obras, Cartas sobre a educação da mocidade202, 1759 – de que se fez somente 50

exemplares, em Paris, e dirigidos apenas à mais restrita elite do país, afirma:

[Aulas a criar] Duas ou três do Risco, Fortificação, Architectura militar, naval, civil, com os instru-

mentos e modelos necessários para aprender essas ciências203.

À salubridade segue-se a segurança com Mathias Ayres Ramos da Silva de Eça (1705-63), cuja

obra, O Problema de Arquitectura Civil, demonstrado por...204, ed. 1777, 2 vols., terá sido escrita na

sequência do Terramoto de 1755, c. 1762, e nela reflecte-se o problema da reconstrução da cidade,

pondo-se, logo do princípio, como epígrafe, a seguinte questão:

Porque razão os edifícios antigos tinham, e têm mais duração do que os modernos? E estes porque

razão resistem menos ao movimento da terra quando treme?205

200 Ribeiro Sanches, A. N., Tratado da Conservação da Saúde dos Povos, Paris, 1756. 201 Ribeiro Sanches, ob. cit. (1756), p. 70. 202 Ribeiro Sanches, A. N., Cartas sobre a educação da mocidade, Lisboa, 1759. 203 Ribeiro Sanches, A. N., ob. cit. (1759), p. 198. 204 Mathias Ayres, O Problema de Arquitectura Civil, demonstrado por..., escrito 1762, ed. Lisboa, 1777. 205 Mathias Ayres, ob. cit. (1777), p. 1.

Page 61: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

61

A resposta desenvolve-se extensivamente nos dois volumes constitutivos da obra, indiciando-se

logo no Cap. I, que o problema residia nos modernos construtores, pois que:

sendo escrupulosos na ordem da perspectiva, e em outras partes menos importantes, são fáceis na

eleição dos materiais com que fabricam206.

E é nos materiais, concebidos como a pureza da substância (sic!), de que seriam constituídos os

edifícios, que centra a resposta, afirmando:

A razão, porque os edifícios antigos eram tão duráveis, é por terem sido feitos com bons materiais: e

a razão porque os modernos não têm a mesma duração, é porque são comunmente fabricados com

materiais impróprios207.

Assim, integra-se na tradição tratadística que dá primazia à firmitas, vendo-se esta como dependente

da qualidade das alvenarias, que deviam ser formadas somente de pedra, cal, areia e água, e sem

misturas, nem substâncias agressivas, mas o mais puras possíveis, só assim se podendo atingir a tal

pureza da substância, que parece sua preocupação maior.

Os quatro elementos primordiais, ar, fogo, terra e água, são referidos como os agentes agressivos

da Natureza, que provocavam a ruína dos edifícios, atacando os materiais de má qualidade, não

homogéneos, sem a tal pureza da substância, que se afigura como a key word da sua indagação,

lembrando, a este propósito, o vidro, pois que o vidro é o primeiro composto artificial, contra quem

os elementos não têm força. – E continua:

com efeito a vitrificação é o último termo, ou o último aparato, a que a natureza, e a arte chegam.

Nem cada um dos elementos, nem todos juntos podem causar no vidro a menor mudança; porque os

corpos, depois de vitrificados, ficam de tal sorte unidos em um corpo só, que este, ainda que composto

seja de dois ou mais ingredientes, não admite separação alguma, e com união muito mais indissolúvel,

do que seriam as águas de fontes diferentes, confundidas, ou misturadas entre si em um só vazo208.

Enfim, trata-se de uma utopia, a da incorruptibilidade e perpetuidade das construções operadas pelo

homem, ser destinado a morrer, mas cuja memória se poderia perpetuar, através das suas obras,

fossem elas edifícios ou livros, pois como afirma na dedicatória:

O Livro, que me atrevo a dedicar a V. S. é do mesmo autor, que compôs o da Vaidade dos Homens. O

único objectivo, que me obriga a imprimi-lo, é a gratidão de filho, que quer levantar das sombras da

sepultura o nome de quem lhe deu o ser, e a fortuna, fazendo durar a sua memória neste escrito consa-

grado à utilidade da pátria209.

206 Mathias Ayres, ob. cit. (1777), p. 3. 207 Mathias Ayres, ob. cit. (1777), p. 3. 208 Mathias Ayres, ob. cit. (1777), p. 12-13. 209 Mathias Ayres, ob. cit. (1777), Dedicatória, p. I-II.

Page 62: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

62

Mas, tirando esta faceta utópica e memoralista, em termos de tecnologia da construção, a obra de

Matias Ayres está desfasada do tempo, pois a resposta dos engenheiros pombalinos foi tudo menos

um processo puro, e sim o da mistura e cruzamento de materiais, porque o sistema de construção

pombalino, basicamente, consistiu numa estrutura de madeira, a gaiola, cruzada com paredes de

alvenaria, além de uma base sólida, de abóbadas em tijoleira, no r/chão.

Também com características utópicas, ou antes, distópicas, é o ms. de José de Figueiredo Seixas

(?-1773), Tratado da Ruação para emenda das Ruas das Cidades, Villas, e Lugares deste Reyno...210,

c. 1760, dividido em duas partes:

Primeira Parte: Modo de edificar perfeitamente hua regular povoação. – Segunda Parte: Modo como a

fealdade das plantas das Povoações antigas deste Reyno se devem fazer formozas, por courelas regula-

res de casas, dos campos e baldios, emendando-lhe nas suas praças, ruas, estradas, caminhos o defeito

de serem estreitos, tortos, esconsos, curtos ou compridos211.

O projecto consistia em dividir o país, segundo uma malha rectangular regular, que faz lembrar as

descrições da Ilha de Atlântida de Platão, esse avô dos utopistas, a propósito do qual já se disse que

metafísica, idealismo, platonismo (e utopismo, pode acrescentar-se), significam sensívelmente a

mesma coisa (Heidegger, 1936, parafraseado por Simões Ferreira, 2005).

Já próximo do fim do século, 1787, em Lisboa e Coimbra, editam-se duas Regras das sinco Ordens

de Architectura, segundo os principios de Vignhola; a de Lisboa, trad. de Jozé Carlos Binhetti212,

de obra de F. Galli Bibiena; e a de José Calheiros de Magalhães e Andrade213, que basicamente

consiste numa tradução da obra do francês Pierre-Edme Babel (1720-75), Regles des cinq ordres

d’architecture de Jacques Barrozio de Vignole, nouveau livre, on y joint un essai sur les mésmes

ordres, suivant le sentiment des plus célébrés Architects214, acrescentada de uns Principios praticos

de Geometria que facilitam a inteligencia desta obra (autoria do tradutor), do prólogo do tradutor,

e da dedicatória do livreiro-editor, Antonio Barneoud, de Coimbra, que afirma:

Quem acreditaria nas futuras idades, que no fim do seculo decimo oitavo, quando as sciencias, e as

artes parece que tem chegado na Europa ao seu ultimo ponto de perfeiçaõ, huma das Naçoens cultas,

210 Seixas, J. F., Tratado da Ruação para emenda das Ruas das Cidades, Villas, e Lugares deste Reyno..., ms.

c. 1760. – Em depósito na BNP, Cota COD. 6961, digitalizada em PURL 16597. 211 Seixas, ob. cit. (1760), f. 7 e f. 35. 212 Binhetti, J. C., Regras das cinco ordens de architectura de Jacomo Barozio de Vinhola, Lisboa, 1787. 213 Magalhães e Andrade, J. C. (trad.), Regras das sinco Ordens de Architectura, segundo os principios de

Vignhola, Coimbra, 1787. 214 Babel, P.-E., Regles des cinq ordres d’architecture de Jacques Barrozio de Vignole, nouveau livre, on y

joint un essai sur les mésmes ordres, suivant le sentiment des plus célébrés Architects, Paris, 1747.

Page 63: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

63

e das mais engenhosas della, não tinha um só livro de Architectura civil capaz de servir de instruçaõ á

mocidade! Estas consideraçoens moveraõ a hum zeloso compatriota a escolher entre as Obras elemen-

tares das Naçoens estrangeiras, a que pareceo mais capaz para este effeito pela clareza e gosto com

que he tratada. Tomou o trabalho de vertela na lingoa portugueza, e acrescentar-lhe aquelles principios

preliminares, que julgou necessarios, e observaçoens de gosto...215 (Sublinhou-se).

A obra organiza-se em três partes diferenciadas, com a das ordens subdividida em duas:

Principios praticos da Geometria que facilitam a inteligencia desta obra;

Das Ordens de Architectura em geral, que apresenta duas subdivisões:

– Das Ordens em particular; – Methodos para traçar a voluta;

Ensaio sobre as sinco Ordens de Architectura.

Tirando a parte sobre a geometria, o resto é decalcado, texto e figuras, da obra francesa.

Cirilo Volkmar Machado (1748-1823), publica Conversações sobre a Pintura, Escultura, e Archi-

tectura216, 1794, que na primeira das seis conversações que o divide, revela o seu objectivo, assim:

se à Itália chamaõ o jardim da Europa, Portugal he talhado pela natureza, para ser o paraízo do

mundo. He quanto sei dizer, como individuo da especie humana; como Artista, naõ poderei decidir de

cousa alguma, em quanto naõ visitar o interior dos Templos, dos Palacios, das Casas nobres, e dos

Edifícios públicos; e em quanto naõ vir as Bibliotecas, os Gabinetes, os Museus, as Academias, as

Galerias de estatuas, de Quadros, de Antiguidades; e naõ examinar attentamente as obras de archi-

tectura civil, e militar217.

Seria o objectivo do livro: chamar a atenção para o facto da natureza não bastar, e estar o país, do

ponto de vista cultural, designadamente artístico, desfasado da restante Europa. A obra organiza-se

em seis conversações, em que se vão abordando temas de estética, teoria da arte e arte: pintura,

escultura, arquitectura. Revela bom conhecimento da mais recente reflexão sobre a arte, trazendo à

liça, os nomes de Mengs, Winckelmann, Du Fresnoy, Metastasio, Webb, Diderot, Voltaire (nomeado

como o Author de Lettres sur les Anglois218), Wolfio, e os Leibnizianos, o systema de Hutcheson,

Pére André, e outros, além dos clássicos: Platão, Cícero, Plínio, Vitrúvio (vastamente), &c.

É na IV.ª Conversação que a Arquitectura tem protagonismo, papel, até aí, reservado à Pintura,

chegando a contestar que arquitectura seja a mesma coisa que arte de edificar. Mas veja-se avulso,

como que num sortido de juízos:

215 Magalhães de Andrade (trad.), ob. cit. (1787), Dedicatória de A. Barneoud. 216 Machado, C. V., Conversações sobre a Pintura, Escultura, e Architectura, Lisboa, 1794. 217 Machado, ob. cit. (1794), I.ª Conversação, p. 28. 218 Machado, ob. cit. (1794), III.ª Conversação, p. 41.

Page 64: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

64

Pois a Architectura não é a mesma cousa que a Arte de edificar? – Não: a Edificação começou no

princípio do Mundo; mas a Architectura teve princípio quasi 3 mil annos depois. Theodoreto [Teodo-

reto de Cirro (399-466), teólogo, historiador e mártir] diz que a Edificação das cabanas nasceo logo

depois da Agricultura. Caim edificou uma cidade chamada Enoc; porém a Architectura, todos convém

com Vitruvio, que começou no tempo da transmigração Jonica, e do Reinado de David219.

As invenções e o Gosto, fazem o Architecto; e a Mathematica e a Fysica o socorrem, e auxilião. As

primeiras são como a cabeça do homem, e as segundas como as mãos. A Invenção requer grande

talento; e a Arte de fabricar he toda mecanica e material220.

Huma peça de Architectura será semelhantemente [às da Pintura] Bélla, quando mostrar nas propor-

ções, na elegancia das fórmas, no decóro, &c. imitar também a perfeição das Ordens inventadas, ou

apuradas pelos mesmos Authores Gregos, e Romanos221.

Além da Belleza em geral, cada peça deve ter em particular o caracter que lhe convém (...) assim o

Arsenal deve ser mui differente do Templo; e a Relação, do Theatro. A casa tambem deverá ser bem

diversa do Palacio, não tanto em grandeza, e riqueza, como nas fórmas, e nos tons222.

Cirilo Volkmar Machado foi dos mais profícuos autores lusos de Kunsliteratur, ou seja, Literatura

de Arte, tendo escrito, ainda:

Nova Academia de Pintura: dedicada às senhoras portuguezas que amão ou se applicão ao estudo

das Bellas Artes, Lisboa, 1817;

Colleção de memorias relativas às vidas dos pintores, e escultores architectos, e gravadores portu-

gueses, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal, recolhidas e ordenadas por..., Lisboa, 1823;

Tratado de Architectura & Pintura, ms. c. 1801-10, ed. 2002, Fund. Gulbenkian.

Destas obras, as duas primeiras pertencem mais aos domínios da teoria da pintura e da história da

arte do que ao da Teoria da Arquitectura, pelo que se os dispensa comentar; o Tratado de Architec-

tura & Pintura é obra dentro deste domínio, mas que também se dispensa comentar, pois permane-

ceu inédito durante muitos anos, e assim pouco terá contribuído para a Teoria da Arquitectura entre

nós. – Todavia, é de salientar que declara dupla filiação, em Vitrúvio e Alberti. – De resto, como

foi objecto de edição recente, remete-se, os eventuais interessados, para a sua leitura directa.

Da sua obra, como arquitecto, pouco ou nada se conhece, mas há umas gravuras sobre as invasões

francesas onde, como cenário de fundo, aparecem imagens de arquitectura de tipo neoclássico,

assim como nas ilustrações do Tratado...

219 Machado, ob. cit. (1794), IV.ª Conversação, p. 38-39. 220 Machado, ob. cit. (1794), IV.ª Conversação, p. 42. 221 Machado, ob. cit. (1794), IV.ª Conversação, p. 32-33. 222 Machado, ob. cit. (1794), IV.ª Conversação, p. 43-44.

Page 65: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

65

Obras sobre a Teoria dos Jardins:

Estabelecido em Portugal desde 1768, Domingos Vandelli (1730-1816), italiano, químico e natura-

lista, discípulo de Carl von Linné (1707-78), publica Diccionario dos Termos Technicos de Historia

Natural...223, seguido de Memoria sobre a Utilidade dos Jardins Botanicos224, 1788, que é decerto

o primeiro escrito relacionável com a Teoria dos Jardins, entre nós produzido. – O autor foi o cria-

dor do Jardim Botânico da Ajuda, e do de Coimbra, em cuja universidade foi lente de Historia Na-

tural e de Química. Embora o escrito sobre jardins seja cingido à reivindicação da sua utilidade não

deixa de nele se expressar o carácter pedagógico que aos jardins era atribuído.

Talvez preocupado por Portugal, apesar de ser o paraízo do mundo, não ser o jardim da Europa,

Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), traduz dois livros que respeitam à Teoria dos

Jardins, logo também, ainda que perifericamente, à Teoria da Arquitectura: Os Jardins, de Jacques

Delille (1738-1813), 1800, e As Plantas225, de Robert Castel (1758-1832), 1801. – O título do poema

de Delille, por extenso, Os Jardins ou Arte de aformosear as paizagens226, tradução de Les Jardins

ou l’Art d’embellir les paizages227, 1782, diz tudo; com efeito, trata-se duma descrição poética dos

trabalhos do campo e da jardinagem, ao longo das quatro estações do ano, tendo em vista que:

Quem dos Campos o amor inspira aos Homens, / Também, Virtudes, vosso amor lhe inspira228.

Isto é tradução de qui fait aimer les champs, fait aimer la virtu, divisa que é o leitmotiv do poema, e

o foi da arte dos jardins e sua teoria.

Com a frescura dos Jardins de Delille-Bocage dá-se por encerrada esta apresentação de Teoria da

Arquitectura em Portugal, em que se utilizou um critério largo, abarcando a Teoria da Arquitectura

Militar e a Teoria dos Jardins (ao contrário do que se fez para as outras regiões consideradas, em que

se limitou a exposição às obras de Teoria da Arquitectura, stricto sensu, e apenas as mais conhecidas).

As (in)conclusões que se impõem é que a Teoria da Arquitectura andou arredia do país. Com efeito,

apenas se tem duas edições de tratados de arquitectura, Regras de Vignola, e não passam de tradu-

ções: uma de um autor francês epigonal, mero compendiador, embora excelente gravador.

223 Vandelli, D., Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural..., Coimbra, 1788. 224 Vandelli, D., «Memoria sobre a Utilidade dos Jardins Botanicos», in Diccionario dos Termos Technicos

de Historia Natural..., Coimbra, 1788, p. 293-301. 225 Castel, R., As Plantas, trad. de M. M. Barbosa du Bocage, Lisboa, 1801. 226 Delille, J., Os Jardins ou Arte de aformosear as paizagens, ed. bilingue, francês-português, trad. para por-

tuguês de M. M. Barbosa du Bocage, Lisboa, 1800. 227 Delille, J., Les Jardins ou l’Art d’embellir les paizages, Paris, 1782. 228 Delille, ob. cit. (1800), Prologo do Author, p. V.

Page 66: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

66

O Tratado de Cirillo deixa-se em suspensão de juízo por razões já adiantadas... E embora Conver-

sações seja uma obra notável, não é, propriamente, um Tratado de Arquitectura.

Quanto aos Artefactos, do Padre Inácio, obra que necessitou de 13 vistos censórios para vir a prelo,

só se pode acrescentar que, tanto visto, ajuda a compreender a nossa escassez de Tratadística.

Isto, a somar à opção pelos canhões em vez da manteiga, que levou a produzir dezenas de manuscritos

sobre Arquitectura Militar, Fortificações, e similares, poderá ter sido o factor determinante; além do

mais, natural, num país que se expandira e atingira a glória (vã glória ?), desprezando as teorias e

privilegiando o saber de experiência feito; mais natural num país irremediavelmente aristotélico,

como dizia o saudoso Delfim Santos, filósofo e professor de Filosofia, desta Faculdade de Letras.

Assim, o termo usado, escassez de Teoria da Arquitectura, talvez deva ser corrigido para ausência

de Teoria da Arquitectura. – Todavia, o não haver Teoria, não impediu que houvesse uma prática

pujante, de que se irá recordar alguns aspectos, através de imagens. É possível a fabrica sem a subja-

zente ratiocinatio? – Deixa-se a pergunta, e responder, responda o leitor, se o poeta o permite.

Terzi, Embadometria, 1578; Turriano, Dos Discursos, 1622; Fortes, O Engenheiro Português, 1729;

Seixas, Tratado da Ruação, 1760; Magalhães e Andrade, Vignhola, 1787; Vandelli, Memoria, 1788

Page 67: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

67

Maneirismo em Portugal: S. Vicente de Fora, Lisboa; S. Bento da Vitória, Porto, interior e exterior.

Barroco em Portugal: Mafra; Planta da Igreja de Sta Engrácia, Lisboa; Solar de Mateus, Minho.

Rococó em Portugal: Palácio de Queluz, exterior e interior; Igreja dos Congregados, Porto;

Neoclassicismo em Portugal: Teatro de S. Carlos, Lisboa; Hospital de Santo António, Porto

Page 68: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

68

Do Neoclássico do Jazigo Palmela ao Neogótico do Elevador de Sta. Justa

Excurso sobre a Arquitectura Chã

Há uma maneira de edificar, sóbria, despojada, com decoro, simples (não confundir com fácil), que se chama

Arquitectura Chã. Mais que ideias ilustradas, que não desconheceriam, é essa a tradição que os “arquitectos

pombalinos” assumiram, originando o dito, impropriamente, Estilo Pombalino, que tanto caracteriza Lisboa.

Como observou Kubler, remontando a Júlio de Castilho, que cunhara o termo, o que caracteriza a arquitectura

chã, não é o desconhecimento da linguagem arquitectónica erudita, mas antes a capacidade de fingir ignorá-la.

De resto, essa arquitectura chã, e a fingida atitude que lhe subjaz, pode ser considerada como uma invariante

da arquitectura, ou melhor, da edificação feita, ao longo dos tempos (também na Modernidade), em Portugal,

país de pedra / e vento duro, onde quer a escassez de recursos, quer a sobriedade e o pudor das gentes, sempre as

motivaram a cuidar a prática e encarar com reserva a teoria. – Ou, aristotelicamente, a reconhecer a sabedoria

(φρόνεσις) sobrepondo-a ao saber (σοφία). – Sempre, ou quase sempre... Mas a exposição obedece à matriz da

História, que impõe como um dos seus princípios basilares, a distanciação (tal como a descontaminação), e do

presente não se vai falar, pelo menos, por enquanto; restando apenas esperar, paciente mas atentamente, que a

crise passe. Crise para a qual, certa edificação, bem pouco ou nada chã, decerto bastante deverá ter contribuído.

E voltando ao tema, o fenómeno observado, da escassez ou ausência de Teoria da Arquitectura, face à qualidade

da Arquitectura que se praticou, não deixa de pôr a questão que, afinal, a teoria talvez não seja indispensável.

Page 69: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

69

5. França e Itália: Da multiplicidade e diversidade de Teorias, Cour’s, Essai’s e Saggio’s do

Iluminismo aos Arquitectos da Revolução (Séc. XVIII-inícios do Séc. XIX)

La petite cabane rustique que je viens de décrire, est le modele sur lequel on a imaginé toutes les magni-

ficences de l’Architecture, c’est en se raprochant dans l’exécution de la simplicité de ce premier modéle,

que l’on évite les défauts essentiels, que l’ont faisit les perfections véritables.

Marc-Antoine Laugier, Essai sur l’architecture, 1753, 2. ed. 1755, p. 12-13.

A Crise da Consciência Europeia e dos seus Estilos e Teorias:

Na transição do Séc. XVII para o Séc. XVIII abre-se por toda a Europa um debate que se intensifica

no período do Iluminismo, em meados do século. Em todos os campos do conhecimento e da menta-

lidade se assiste a um questionar dos seus pressupostos, crenças, fundamentos; assiste-se à abrupta

mudança das concepções de uma cultura fundada no sentido do dever para outra que se pretende

fundamentar no princípio do direito (Hazard229), assistindo-se à revisão crítica de todos os precon-

ceitos e ao desenvolvimento generalizado de um preconceito contra os preconceitos e, com tal, a

toda uma despotenciação da tradição (Gadamer230).

Em França, o questionar das tradições faz-se observar na teoria cognitiva de Étienne Bonnot de

Condillac (1714-80), dando primazia às sensações231, e revalorizando o frívolo a elas associado232,

e na teoria estética de Yves-Marie André (1675-1764), sobre o belo arbitrário ou de criação humana,

e o gosto233. No tocante à Teoria da Arquitectura assiste-se ao aparecimento de enorme diversidade

de perspectivas, mesmo dentro da tradição clássico-vitruviana, assim tendo:

229 Hazard, P., La crise de la conscience européenne: 1680-1715, Paris, 1935. – Ed. portuguesa, A Crise da

Consciência Europeia: 1680-1715, trad. de Ó. F. Lopes, Lisboa, 1948. 230 Gadamer, H.-G., Wahrheit und Methode. Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik, Tübingen, 1960,

in GW 1, Tübingen, 1990. – Ed. em português, Verdade e Método. Traços fundamentais de uma hermenêutica

filosófica, trad. F. P. Meurer, revis. de Ê. P. Giachini, Petrópolis, 1998. 231 Condillac, E. B., Traité des sensations, Paris, 1754, 2 Tomes. 232

Condillac, E. B., Essai sur l’origine des connaissances humaines (1746), précédé de Derrida, J., L’archéo-

logie du frivole, Auvers-sur-Oiseau, 1973. – Ed. portuguesa, Ensaio sobre a origem dos conhecimentos huma-

nos, seguido de Derrida, J., A Arqueologia do Frívolo, trad. de J. B. Miranda e J. A. Santos, Lisboa, 1979. 233 André, Y.-M., Essai sur le Beau, où l’on examine en quoi consiste précisèment dans la physique, dans la

moral, dans les ouvrages d’esprit et dans la musique, Paris, 1741.

Page 70: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

70

Teorias do Neoclassicismo e do Rococó: Cordemoy, Oppenort, Boffrand;

Consensos da Academia e Teoria Clássica: Briseux, J.-F. Blondel, Patte;

A Tradição da Arte de Construir e sua Tratadística: Frézier;

Teoria da Arquitectura nas Encyclopedie’s, e outros “enciclopedistas”;

Engenharia Militar, École des Ponts et Chaussées, sua Teoria e Prática;

A Guinada Esteticista: Le Clerc, Lepautre’s, Legeay, Peyre, Le Camus de Mézières;

Teorias Singulares: Viel de Saint-Maux, Ribart de Chamoust, Ch.-F. Viel;

Teorias do Neoclassicismo e do Rococó: Cordemoy, Oppenort, Boffrand:

Jean-Louis Cordemoy (1660-1713), Nouveau traité de toute l’architecture234, 1706, reed. 1714, ques-

tiona a sintaxe renascentista das Ordens e a tradição vitruviana; parte do pressuposto de a maioria das

obras que se faziam ao tempo serem feitas por indivíduos que nada percebiam de arquitectura; assim,

assume-se como crítico duma praxis corrompida, restaurador dos verdadeiros princípios em que a

arquitectura se devia fundamentar, apontando para a Grécia, onde a arquitectura tivera suas origens.

Os objectivos da arquitectura eram Ordonnance, Disposition ou Distribution, e Bienséance, corres-

pondentes às vitruvianas categorias de venustas, utilitas e decoro, omitindo a firmitas; parecendo

antecipar a moderação de dimensões e o sentido de escala do Rococó, afirma:

L’Ordonnance est ce qui donne à toutes parties d’un Bâtiment la juste grandeur qui leur est pro-

pre par rapport à leur usage. / La Disposition ou Distribution, est l’arrangement convenable de ces

mêmes parties. / Et la Bienséance est ce qui fait que cete Disposition est télle qu’on n’y puisse rien

trouver qui soit contraire à la nature, à la accotumance, ou à l’usage des choses235.

É dos primeiros a fazer a reavaliação do gótico, conjugando-o com as ordens gregas, e a referir-se à

cidade, esquecida na tratadística anterior, concentrando a atenção nas praças públicas, abertas e donde

irradiariam várias ruas, denotando influência da jardinagem e suas teorias; refere também pontes com

casas envidraçadas ladeando-as. No total, o seu tratado, parco em ilustrações, antecipa uma série de

tensões que na tratadística e ensaísmo de meados do século iriam ser reformuladas por Laugier.

Gilles Marie Oppenort (1762-1742), Livre de Fragments d’Architectures, Recüeilis et dessinés à

Rome, d’apres les plus beaux Monuments236, 1715. Bolseiro da Academia em Roma, de 1692 a

234 Cordemoy, J.-L., Nouveau traité de toute l’architecture, Paris, 1706, reed. 1714. 235 Cordemoy, ob. cit. (1714), p. 3. 236 Oppenort, G. M., Livre de Fragments d’Architectures, Recüeilis et dessinés à Rome, d’apres les plus

beaux Monuments, Paris, 1715.

Page 71: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

71

1699, deu ao seu encargo de inventariação de les plus beaux monuments o conteúdo das obras do

barroco romano, o que não deveria estar muito de acordo com os desígnios da Académie Royale

d’Architecture, que o deve ter considerado uma espécie de traidor.

O livro incide especialmente sobre obras de Borromini, mostrando pormenores da ornamentação, ou

fragmentos, apresentados como uma série de collages. – É um característico manual, tipo mostruário,

mas com a novidade de, em vez de apresentar modelos da Antiguidade, recorrer a uma tradição

mais recente: o barroco mignone de Francesco Borromini. Note-se que aqui mignone não é avaliativo,

designa somente o carácter das obras de Borromini, de pequenas dimensões, que terá tocado na

sensibilidade de Oppenort, um dos principais arquitectos do Rococó, dos primeiros onde tal estilo

se denota, tendo decorado o Palais-Royal, que foi residência do Regente.

Germain Boffrand (1667-1754), publica Livre d’architecture237, 1745, antecedido por Dissertation

sur ce qu’on appelle le bon goust en architecture, comunicação apresentada à Academia uns anos

antes, 1734, onde, partindo do ce non se che piace, de Lodovico Dolce (1508-68), acrescido de um

je (je ne-sçais-quoi qui plaît), demarca-se dessa perspectiva, afirmando:

On peut dire pour définir le goût, que c’est une faculté qui distingue l’excellent d’avec le bon238.

No entanto, opõe-se à completa subjectivização do gosto, considerando-o do domínio de hommes

plus éclaires, um critério ao gosto da Academia, e que mais do que a uma qualidade do arquitecto

ou do observador, se devia ao cumprimento dos princípios base da arquitectura: belles proportions,

convenance, commodité, sûreté, santé, bon sens. Esses princípios tinham-se formado ao longo dos

séculos, e comandavam o bom gosto. Assim, o gosto torna-se sinónimo de um certo grau de civili-

zação. Para Boffrand, a arquitectura tinha uma base natural, mas evoluia com o tempo, através da

réflexion et de l’experience (Locke, dixit), sendo a Natureza aperfeiçoada pela Arte.

Mas, o contributo mais original de Boffrand, para a Teoria da Arquitectura, é o conceito de carac-

tère, devendo cada edifício expressar o seu caractère nos exteriores e no interior:

Les différents Edifices par leur disposition, par leur structure, par la manière dont ils sont décorés,

doivent annoncer au spectateur leur destination239.

O carácter teria duas componentes: o uso social e o uso funcional. Este conceito está na base da

architecture parlante dos arquitectos da Revolução, e ressoará em Adolf Loos (1870-1933).

237 Boffrand, G., Livre d’architecture, Paris, 1745; id., Dissertation sur ce qu’on appelle le bon goust en

architecture (1734), in ob. cit. (1745), p. 3-15. 238 Boffrand, ob. cit. (1734), in ob. cit. (1745), p. 4. 239 Boffrand, ob. cit. (1745), p. 16.

Page 72: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

72

Consensos da Academia e Teoria Clássica: Briseux, J.-F. Blondel, Patte:

Cumprindo o que lhe estava encomendado desde a fundação, formular uma Teoria da Arquitectura de

carácter normativo e vinculante, a Academie Royal d’Architecture, em 1734, acerta em definições

do bom gosto, a ordenação e a conveniência, em que o bom gosto é posto na dependência destas, e

estas na dependência do uso, abrindo as portas a considerações teóricas de carácter funcionalista, e

também ao clássico, na versão esteriotipada, que mais tarde seria classificada de Academismo.

Por outro lado, a saturação do rococó manifesta-se num conjunto de teóricos, que se reaproximam

dos consensos da Academia em torno do clássico, a começar por Charles-Etienne Briseux (1660-

1754), autor de L’Architecture moderne, ou l’Art de bien bâtir pour toutes sortes de personnes240,

1728, um manual-mostruário de tipos de habitação, dentro do tipo iniciado por Le Muet, ou mais

remotamente, Serlio, Liv. VI. A obra será continuada com L’Art de bâtir des Maisons de campagne241,

1743, que trata das habitações de campo, acrescentando pormenores da decoração de interiores. Mas

a obra maior de Briseux é Traité du Beau essentiel dans les Arts242, 1752, onde procura reformular a

doutrina das proporções harmónicas a partir da obra de René Ouvrard, Architecture harmonique, ou

Application de la doctrine des proportions de la musique à l’architecture, 1679, referindo-as à

natureza, dando-lhes uma origem objectiva, assim demarcando-se da subjectividade eurítmica, e da

arbitrariedade de Perrault. No entanto, mediatiza a objectividade das proporções, admitindo que

dependeriam da educação estética e do hábito, com o que se aproxima da accoutumance de Perrault.

Jacques-François Blondel (1705-74), autor do mais volumoso tratado de arquitectura de sempre,

Cours d’architecture civile ou traité de décoration, distribution et construction des Bâtiments243,

1771-77, 6 vols. de texto e 3 de figuras, num total de 3565 págs.! – Obra de intuito pedagógico e

enciclopédico, começa por uma revisão geral da história da arquitectura, seguindo-se uma elegia

sobre a necessidade e utilidade da arquitectura. Depois, a obra divide-se em três partes:

LA PREMIERE PARTIE, qui aura pour objet la décoration des Edifices… LA SECONDE PARTIE, qui

aura pour objet la distribution… LA TROISIEME PARTIE, qui aura pour objet la construction…244.

Assiste-se assim a uma inversão da ordem com que as similares categorias vitruvianas são referidas,

deslocando-se a venustas, nomeada décoration, para o primeiro lugar, e a firmitas fica no último. No

entanto, esta inversão, na Teoria da Arquitectura, já se vinha a operar desde há muito. 240

Briseux, Ch.-E., L’Architecture moderne, ou l’Art de bien bâtir pour toutes sortes de personnes, Paris, 1728. 241 Briseux, Ch.-E., L’Art de bâtir des Maisons de campagne, Paris, 1743. 242 Briseux, Ch.-E., Traité du Beau essenciel dans les Arts, Paris, 1752. 243

Blondel, J.-F., Cours d’architecture civile ou traité de décoration, distribution et construction des Bâti-

ments, Paris, 1771-77, 9 vols. (6 de texto + 3 de figuras, num total de 3565 páginas!). 244 Blondel, ob. cit. (1771), Vol. 1, Préface, p. XIX, XXI, XXIV.

Page 73: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

73

No centro do Cours estão as proporções, vistas como derivadas da natureza e das medidas do homem.

A teoria de Blondel é fortemente antropomórfica: as formas e proporções do homem explicavam

todas as formas e proporções da arquitectura. Outro aspecto decisivo é a sua noção de caractère,

desenvolvida a partir de Boffrand, e que conjuga com o style, que resultava do caractère, mas o

sublimava, pois o caractère, expressão da função, seria naif, simple, vrai; e o style, seu efeito, sublime,

noble, élevé. – Assim, Blondel, que parte do Rococó, aproxima-se do Classicismo, contrapondo ao

ornamento arbitrário, o grand goût de la belle simplicité, não devendo, un vrai style, usar, que les

ornements qui lui sont nécessaires pour l’embellir245.

É a Blondel que se deve a chamada de atenção para o Estilo (Style), na Teoria da Arquitectura, que

seria a pedra de toque da verdadeira arquitectura, pois, como afirma:

On dit métaphoriquement, Cette Architecture est vrai, lorsqu’on veut désigner celle qui conserve dans

toutes ses parties le style qui lui est propre sans aucune espece de mélange (...) celle où l’on évite une

variété déplacée qui tient du contraste, & où la simétrie & la régularité sont préferées; enfin une Archi-

tecture vraie est celle qui plait aux yeux, par l’idée qu’on s’est formée du genre de l’édifice, & qui ne

tenant ni du préjugé national ni de l’opinion particuliere de l’Artiste, paroit puisée dans le fond propre

de l’Art, & qui par cette raison ne permet à l’Architecte, ni la prodigalité dans les ornements, ni l’habi-

tude dans ses goûts, ni la futilité dans les détails; en un mot, celle qui dépouillée de toute équivoque, se

montre belle dans son ordonnance, commode dans sa distribuction, & solide dans sa construction246.

Blondel escrevera também sobre De la distribuction des Maisons de Plaisance, et de la Décoration

des édifices en general247, 1737-38, 2 vols., e Architecture françoise, ou Recueil des plans, élévations,

coupes et profils des églises, maisons royales, palais, hotels et édifices les plus considérables de

Paris248, 1752-56, 4 vols. – Os temas são os anunciados nos títulos, devendo salientar-se Architecture

françoise, que é uma magnífica recolha de toda a mais notável arquitectura francesa, desenvolvida a

partir do Renascimento, e contém magníficas ilustrações, sendo ainda hoje uma obra indispensável

a historiadores, arqueólogos, e estudiosos da arquitectura em geral.

Com Jacques-François Blondel, antes de mais, um epígono extraordinário, para quem na arquitectura

já tudo estava inventado, o teoria do Classicisme, na versão francesa, encerra com chave de ouro o

seu percurso, seguindo-se outras formulações.

245 Blondel, ob. cit. (1771), Vol. I, p. 391. 246 Blondel, ob. cit. (1771), Vol. I, p. 391-92. 247 Blondel, J.-F., De la distribuction des Maisons de Plaisance, et de la Décoration des édifices en general,

Paris, 1737-38, 2 vols. 248 Blondel, J.-F., Architecture françoise, ou recueil des plans, élévations, coupes et profils des églises, maisons

royales, palais, hotels et édifices les plus considérables de Paris, Paris, 1752-56, 4 vols..

Page 74: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

74

Pierre Patte (1723-1812), discípulo de Blondel, escreveu várias obras sobre arquitectura de que se

salientam, Monumens érigés en France a la gloire de Louis XV249, 1765, notável pelas transformações

urbanas que preconiza para Paris, e Mémoires sur les objets les plus importantes de l’Architecture250,

1769. Em ambos os tratados Patte expõe ideias da arquitectura na linha de Boffrand, e de Blondel,

seu mestre. É nas ideias para embelezamento da cidade que surge o contributo mais significativo

para a Teoria da Arquitectura, preconizando o derrube das muralhas, melhor articulação com os

fauxbourgs, e em geral uma cidade funcional, estruturada de forma cómoda, mas não monótona:

Il n’est pas nécessaire, pour la beauté d’une ville, qu’elle soit percée avec la froide symmetrie des villes

du Japon & de Chine, & que ce soit toujours un assemblage de maisons disposées bien régulièrement

dans des quarrés ou dans des parallélogrammes (...) Il convient surtout d’éviter la monotonie & la

trop grande uniformité dans la distribution totale de son plane, mais d’affecter (...) de la varieté & du

contraste dans les formes, afin que tous les quartiers ne se rassemblent pas251.

Este enfoque será complementado, nas Mémoires, com a reivindicação da salubridade, preconizando

esgotos, calcetamento das ruas, distribuição de água potável, confinação das actividades poluentes

na periferia da cidade, e até, medidas de policiamento, expulsando os mendigos e estropiados, que

enxameavam as cidades, do seu centro, e confinando-os em asilos252.

No total, na teorização de Patte, prefiguram-se as actividades urbanísticas do Séc. XIX, de sanea-

mento e embelezamento das cidades europeias, com a abertura de grandes vias e praças, e também

a estratégia de confinação do que era menos agradável.

A Tradição da Arte de Construir e sua Tratadística: Frézier

Amédée François Frézier (1682-1773), engenheiro militar, publica La theorie et la pratique de la

coupe des pierres et des bois... ou traité de stereotomie a l’usage de l’architecture253, 1737-39, 3 vols.,

obra densa, científica, fundamentando na matemática e geometria, e explicitando em desenho, todos

os complexos cortes das pedras e da madeira, que se usavam na arquitectura, mostrando que, aquilo

que começara como uma arte, se transformara numa ciência altamente complexa e sofisticada.

Frézier, na juventude, envolvera-se em polémica com Cordemoy, 1709-12, defendendo a velha e

familiar sintaxe romano-renascentista das ordens. Mais tarde, polemizará com Laugier, pelas mesmas

249 Patte, P., Monumens érigés en France a la gloire de Louis XV, Paris, 1765. 250 Patte, P., Mémoires sur les objets les plus importantes de l’Architecture, Paris, 1769. 251 Patte, ob. cit. (1765), p. 222. 252 Patte, ob. cit. (1769), p., note. 253 Frézier, A. F., La theorie et la pratique de la coupe des pierres et des bois... ou traité de stereotomie a

l’usage de l’architecture, Paris, 1737-39, 3 vols..

Page 75: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

75

razões, defendendo o carácter maciço das construções, ao modo antigo e ancestral, que preferiria ao

estruturalismo recticular dos clérigos, Cordemoy, Laugier, e Lodoli, seus contemporâneos.

Teoria da Arquitectura nas Encyclopedie’s e outros “enciclopedistas”:

A Encyclopedie (1751-72) é o marco referencial do conhecimento e cultura da segunda metade do

Séc. XVIII, em França, e é coeva do Iluminismo, do qual se poderá considerar como consequência e

catalizador, ou de acordo com a linguagem do tempo, causa e efeito. As intenções da Enciclopédia

eram mostrar, descrevendo e ilustrando, além das Regiões, Costumes, Religiões, Fauna, Flora, etc.,

todos os conhecimentos das Técnicas, Ciências e Artes do tempo, apresentados por ordem alfabética.

A voz Architecture254, terá sido da responsabilidade de J.-F. Blondel, e pouco adianta à sua teoria,

sendo de realçar a exclusão de Palácios e Mansões Reais, e a inclusão dum canal navegável e dos

banhos de Brest, em Inglaterra, país para o qual os olhos dos enciclopedistas estavam voltados.

Depois, surgirá a Encyclopedie Methodique, cujos volumes dedicados à Architecture255, 1788-

1825, 3 vols., se devem a Antoine Chrysostome Quatremère de Quincy (1755-1849), que de A a Z,

metodicamente, expõe na linguagem concisa, própria das enciclopédias, todos os conceitos e nomes

relacionados com a arquitectura, salientando-se a definição de type, distinguindo-o de modèle.

A seguir, o que se pode classificar de verdadeira enciclopédia das formas arquitectónicas, embora

se apresente como elementar: Jean-François de Neufforge (1714-1791), Recueil élémentaire

d’Architecture256, 10 vols., publicados entre 1757 e 1780 (23 anos!). Obra que mostra em cerca de

900 figuras, magnificamente desenhadas e gravadas, quase todos os aspectos formais da arquitectura,

desde o léxico compositivo e ornamental das Ordens, seguindo-se as habitações da art de bâtir, até

aos monumentos e sua profusa ornamentação.

Engenharia Militar, École des Ponts et Chaussées, sua Teoria e Prática:

A engenharia que desde o Renascimento se vinha a tornar independente da arquitectura, no Séc.

XVIII, consumará essa independência, usurpando até algumas das funções tradicionalmente do

domínio da arquitectura. Começa com as fortificações, seguindo-se as pontes, estradas, portos,

aquedutos, etc.. A fundação da École des Ponts et Chaussées, 1774, dará novo alento à usurpação

de funções, começando os engenheiros a projectar igrejas, escolas, hospitais, habitações.

254 Blondel, J.-F. ( ?), «Architecture», in Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des

métiers, de Diderot et D’Alembert, Paris, 1751-1772. 255 Quatremére de Quincy, A. Ch., Architecture, in Encyclopédie Methodique, Paris, Vol. I, A-C, 1788, Vol.

II, C-M, 1801, Vol. III, M-Z, 1825. 256 Neufforge, J.-F., Recueil élémentaire d’Architecture, Paris, 1757-1780, 10 vols..

Page 76: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

76

Apresentam o projecto numa só folha, cingido ao essencial, com soluções práticas, despojadas,

económicas, indo ao encontro dos interesses das novas camadas sociais e da indústria. Recorrem aos

novos materiais, e tomam consciência do seu potencial expressivo, o que os ajudará, no futuro, a

encontrar novas formas, de que virá a ser exemplo a arquitectura do ferro e do vidro do Séc. XIX.

Além disso, intensificam o emprego da matemática e da geometria como bases da projectação,

usando esquemas, contas e fórmulas em vez de imagens.

O movimento culminará, no último ano do século, num matemático e geómetra genial, Gaspard

Monge (1746-18), cuja Géométrie descriptive,257 1800, permitiria:

représenter avec exactitude, sur des desseins qui n’ont que deux dimensions, les objets qui en ont

trois, et qui sont susceptibles de définition rigoureuse258 (Sublinhou-se).

Ensuite on appliquera la méthode des projections aux constructions graphiques, nécessaires au plus

grand nombre des arts (...) le reste du cours sera employé, d’abord à la description des éléments des

machines (...) soit que les machines aient pour objet de donner au travail plus de precision et plus uni-

formité, soit qu’elles aient pour but d’employer à la production d’un certain travail les forces de la

nature, et par là d’augmenter la puissance nationale259 (Sublinhou-se).

As palavras e frases que se sublinharam, représenter avec exactitude, définition rigoureuse, preci-

sion, uniformité, exprimem a ideologia que subjaz aos intuitos de Monge: criação de uma ciência

que possibilitaria employer à la production d’un certain travail les forces de la nature, e, como

resultado e finalidade última, augmenter la puissance nationale.

A Guinada Esteticista: Le Clerc, Lepautre’s, Legeay, Peyre, Le Camus de Mézières:

A par das demais tendências, todo o Séc. XVIII – uma época de relativismo cultural, expresso em

múltiplas formas, talvez como contraponto do absolutismo político dominante – é percorrido por

uma pulsão esteticizante, tendente a considerar a arquitectura apenas como arte visual, dando relevo

aos aspectos de la beauté, le bon goût, l’élegance. – Estas seriam as key words de Sébastien Le

Clerc (1637-1714), Chevalier Romain, tal como se apresenta no seu Traité d’Architecture260, 1714,

onde explana um ponto de vista deveras aristocrático sobre a arquitectura, não lhe interessando os

edifícios simples, apenas os magnifiques, nobles, pompeux261, e expressa juízos sobre as proporções

eivados de subjectivismo:

257 Monge, G., Géométrie descriptive, Paris, An VII (1800). 258 Monge, ob. cit. (1800), Programme, p. 2. 259 Monge, ob. cit. (1800), Programme, p. 4. 260 Le Clerc, S., Traité d’Architecture, Paris, 1714. 261 Le Clerc, ob. cit. (1714), p. 3.

Page 77: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

77

Par proportion, on n’entend pas ici un rapport de raisons à la manière des geomètres; mais une

convenance de parties, fondée sur le bon goût de l’architecte262.

O bon goût dependeria de le plaisir visual, e ambos de natureza subjectiva, não dependendo de

convenções sociais, ou do gosto de grupos privilegiados, apenas do indivíduo. Le Clerc fez para cima

de 3.000 gravuras, que estão catalogadas numa obra organizada por Charles-Antoine Jombert

(1712-84), Catalogue raisonné de l’oeuvre de Sebastien Le Clerc263, 1774, 2 vols. (sessenta anos

após a morte de Le Clerc), e escreveu várias obras sobre geometria e visão.

Com este nome de família surgem dois personagens: Pierre Lepautre (1659-1744), autor de uma

série de desenhos da Chapelle Royale de Versailles264, e Jean Lepautre (1618-82), Architecte, Des-

sinateur & Graveur du Roi, cuja obra foi recolhida e editada por Charles Antoine Jombert, sob o

título Oeuvres d’Architecture265, 1751, 3 vols.. – Em ambas, embora muito diferentes, se denota a

intensificação do lado estético da arquitectura: no primeiro, pela enfatização da espacialidade, no

segundo, através da exuberância ornamental.

Jean-Laurent Legeay (c. 1710-84), Collection des divers sujets des Vases, Tombeaux, Ruines et

Fontaines utiles aux Artistes, inventée et gravée par...266, 1770, leva a considerá-lo o Piranesi francês,

de quem é contemporâneo, e cuja temática é similar, explorando o grotesco, as antiguidades, as

ruínas, a didascália-caleidoscópica de imagens excitantes, cujo fito parece esgotar-se no efeito espec-

tacular que provocam. – Admite-se que tenha influenciado os Arquitectos da Revolução, bem como o

autor que segue: Marie-Joseph Peyre (1730-85), bolseiro da Academia, em Roma, que publica

Oeuvres d’Architecture267, 1765, consistindo numa série de projectos, tentando d’imiter (...) le gen-

re des Edifices les plus magnifiques, élevés par les Empereurs Romains268.

Nicolas Le Camus de Mézières (1721-89), Le génie de l’architecture, ou l’analogie de cet art avec

nos sensations269, 1780. Esta obra entronca com as anteriores pelo enfoque no estudo dos efeitos da

arquitectura na percepção, ou sensações que provoca. É uma obra onde as teorias cognitivas de

Condillac, privilegiando as sensações, e as de Charles Le Brun (1619-90), sobre a expressividade

262 Le Clerc, ob. cit. (1714), p. 39. 263 Jombert, Ch.-A., Catalogue raisonné de l’oeuvre de Sebastien Le Clerc…, Paris, 1774, 2 vols.. 264 Lepautre, P., Chapelle Royale de Versailles, Paris, 1725. 265 Lepautre, J., Œuvres d’architecture, Paris, 1751, 3 vols.. 266 Legeay, J.-L., Collection des divers sujets des Vases, Tombeaux, Ruines et Fontaines utiles aux Artistes,

inventée et gravée par..., Paris, 1770. 267 Peyre, M.-J., Oeuvres d’Architecture, Paris, 1765. 268 Peyre, ob. cit. (1765), Avertissement, p. 3. 269

Le Camus de Mézières, N., Le génie de l’architecture, ou l’analogie de cet art avec nos sensations, Paris, 1780.

Page 78: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

78

das paixões270, se conjugam e culminam, no que à Teoria da Arquitectura se refere. Outras fontes

são o já referido Ouvrard e sua teoria sobre a architecture harmonique, e as de Louis-Bertrand

Castel (1688-1757) sobre o clavecin oculaire, 1734, e L’Optique des Couleurs fondée sur les simples

Observations, & tournée surtout à la practique de la peinture271, 1740. Também a cenografia teatral e,

sobretudo, a arquitectura dos novos jardins de tipo picturesque o terão inspirado. Para ele o caractère

não se liga à identidade dos edifícios, mas às emoções que provoca. Do genre terrible, afirma:

Le genre terrible est l’effet de la grandeur combinée avec la force. On peut comparer la terreur

qu’inspire une scêne de la nature à celle qui naît d’une scêne dramatique272.

Com o primado do caractère, entendido como expressão dos diversos genres, dirigido às sensações

de modo a excitar emoções, Le Camus de Mézières, antecipará Boullée e Ledoux, e o seu radicalismo

expressionista, baseado na enfatização do caractère e respectivo genre. No entanto, dado haver em

Ledoux e Boullée toda uma outra problemática, para além desta (e todo um outro fulgor), isola-se

Le Camus, pondo-o nesta prateleira do esteticismo, que parece o traço dominante da sua obra.

Teorias Singulares: Viel de Saint-Maux, Ribart de Chamoust, Ch.-F. Viel:

É uma obra singular a de Viel de Saint-Maux, Lettres sur l'architecture des anciens et celle des

modernes, dans laquelles se trouve developpé le génie symbolique qui préside aux Monuments de

l'Antiquité273, 1787, onde expõe uma visão da arquitectura, em especial os monumentos, mais do

que meras construções ditadas pela necessidade e conformes à utilidade. Ao enfoque técnico que

tende a ver a arquitectura como arte da edificação destinada a satisfazer a necessidade individual e

social de segurança, conforto e representação estética, contrapõe Saint-Maux uma perspectiva da

arquitectura como arte antropológica e de sentido cosmológico em que o homem expressa os seus

anseios profundos de natureza simbólica e religiosa. É para a ligação da arquitectura à terra e aos

ritos agrícolas, com sua religiosidade, intentando interpretar e representar a Natureza e o Criador, e

influenciá-los através dos rituais, que o autor pretende chamar a atenção. O que lhe interessa, mais

que as formas da arquitectura, com sua hipotética beleza muda, é o conteúdo expressivo, simbólico

da arquitectura, com a sua capacidade (perdida entre os civilizados) de representar o sagrado e de

estabelecer uma relação telúrica do homem com a Terra, a Divindade e o Cosmos. A obra de Viel de

270 Le Brun, Ch., Méthode pour apprendre à dessiner les passions, Amsterdam, 1702. 271 Castel, L.-B., L’Optique des Couleurs fondée sur les simples Observations, & tournée sur-tout à la prac-

tique de la peinture..., Paris, 1740. 272 Le Camus de Mézières, ob. cit. (1780), p. 59. 273 Saint-Maux, Lettres sur l'architecture des anciens et celle des modernes, dans laquelles se trouve deve-

loppé le génie symbolique qui préside aux Monuments de l'Antiquité, Paris, 1787.

Page 79: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

79

Saint-Maux integra-se no espírito iluminista, no sentido mais radical de busca das origens e do

sentido antropológico da cultura, manifestando um romantismo de tipo rousseanístico. – E, pelo

primado da função simbólica, que expressa para a arquitectura, pode-se considerar inspiradora da

dita Arquitectura da Revolução.

Poucos anos antes surgira outra obra singular se bem que um nada anacrónica: L’Ordre François

trouvé dans la Nature274, 1783, de Ribart de Chamoust (?). Como o título indica e as ilustrações

explicitam, trata-se da proposta de formulação de uma ordem nacional, um velho sonho da tratadís-

tica gaulesa, iniciado por Philibert Delorme, 1567, agora, pretexto para uma obra específica e de

dedicação exclusiva. – O autor afirma:

L’ordre françois est plus léger, plus exhaussé et plus orné. Il doit tout à la nature, et principalement

aux grâces qui embellissent la beauté même. Les colonnes groupés par trois déterminent presque tou-

tes les parties, soit en élévation, soit en plane275.

Uma outra obra, editada sem exacta explicitação de autor (apenas assinada M. Chamoust), mas que

lhe está atribuída, consta de desenhos de arquitectura (!?), entre os quais este é o mais conhecido e

divulgado: Trata-se de uma fonte em forma de elefante, a erigir nos Champs Elysées, em Paris; no

seu interior havia compartimentos de habitação, alguns decorados como florestas. A obra intitula-

se, Architecture singulière. L’Éléphant triomphal, grand Kiosque à la gloire du Roi276, 1758. Um

título significativo, e que calha bem a esta exposição!

Com Charles-François Viel (1745-1819) e a Décadence de l’Architecture, à la fin du Dix-huitième

Siécle277, editada no último ano do século, 1800, epilogam-se as tendências esboçadas neste período

de crise da consciência europeia, quando emerge a consciência estética e histórica (Gadamer, 1960),

e um difuso sentimento de decadência se começa a instalar nas mentalidades e a corroê-las. – Veja-se:

Jamais les causes générales et particulières de décadence de l’architecture n’agirent avec plus

d’activité qu’aujourd’hui; jamais ses véritables principes ne furent plus nécessaires à propager, pour

les opposer à un esprit de mode qui l’exercent; esprit dont l’influence puissante port à cet art, les at-

teintes les plus nuisibles278.

Le but de cet ouvrage qui est de faire connaître l’état de décadence réelle de l’architecture à l’époque

où j’écris, à également pour fin de rappeler aux vrais principes de cet art et de stimuler les élèves qui

274 Chamoust, R. de, L’Ordre François trouvé dans la Nature, Paris, 1783; ed. facsimile, Farnborough, 1967. 275 Chamoust, ob. cit. (1783), p. 12. 276 Chamoust, R. de (?), Architecture singulière. L’Éléphant triomphal, grand Kiosque à la gloire du Roi,

Paris, 1758. 277 Viel, Ch.-F., Décadence de l’Architecture, à la fin du Dix-huitième Siécle, Paris, 1800. 278 Viel, ob. cit. (1800), p. 5.

Page 80: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

80

veulent obtenir une célébrité durable, à suivre les routes que nous ont tracé les auteurs dont les ou-

vrages ont fixé l’admiration publique. Mon dessein est de convaicre mes lecteurs, que toute doutrine

sur l’ordonnance comme sur la construction, qui s’écarte de celle des anciens déposé dans la struc-

ture de leurs bâtimens, est vicieuse279.

Estão em causa as críticas e indecisões em relação ao acabamento do Panthéon e sua cúpula, que

deu origem a uma vasta polémica. Viel demarca-se das críticas, pleiteando pelo acabamento do

monumento, cujo modelo deveriam ser as obras mais meritórias da Antiguidade e a doutrina dos

Antigos. Assim, opõe à decadência do presente uma busca das origens modélicas e doutrinárias da

verdadeira arquitectura, cujo exemplo seria preciso reassumir. – Intentos similares terão estado na

origem da enquête radical que o Pére Laugier empreendera a partir de 1753.

Da rousseanística busca das origens, com Laugier, aos Arquitectos da Revolução: Ledoux,

Boullée e Lequeu :

On ne peut réfléctir sur les moeurs, qu’on ne se plaise à se rappeler l’image de la simplicité des pre-

miers temps, Rousseau, J.-J., Discours sur les sciences et les arts, Paris, 1750.

Com Marc-Antoine Laugier (1713-69) e seu Essai sur l’architecture280, 1753, ocorre um giro na

Teoria da Arquitectura. O que até aí fora uma doutrina estável, o vitruvianismo, com um corpus e

um scopus definidos, é irreversívelmente abalado pela rousseanística enquête de Laugier, que vê a

origem e essência da arquitectura na necessidade de abrigo do homem primitivo (le bon sauvage, à

Rousseau) e na sua primitiva e originária cabana, formada por quatro troncos, fincados no solo e

erectos, quatro outros, na horizontal, a ligá-los por cima, e mais um conjunto, formando hastiais e

cumeeira, donde pendiam os ramos que cobriam o abrigo e o homem nele logé; nesses singelos

elementos estava tudo o que na arquitectura era essencial: colunas, entablamento, frontão. A neces-

sidade de encerramento tinha licenciado as paredes, janelas e portas; o capricho acrescentara os

defeitos: pilastras, plintos e outros ornatos, pois na sua visão essencialista:

Dans tout ordre d’Architecture, il n’y a que la colomne, l’entablement & le fronton qui puissent entrer

essentiellement dans sa composition. Si chacune de ces trois parties se trouve placée dans la situation

& avec la forme qui lui convient, il n’y aurait rien à ajouter pour que l’ouvrage soit parfait281.

Doze anos depois, em Observations sur l’architecture282, 1765, o Pére Laugier (jesuíta), então já

Abbé (beneditino), define as ordens, desta maneira:

279 Viel, ob. cit. (1800), p. 24. 280 Laugier, M.-A., Essai sur l’architecture, Paris, 1753, reed. 1755. 281 Laugier, ob. cit. (1753), p. 14-15. 282 Laugier, M.-A., Observations sur l’architecture, Paris, 1765.

Page 81: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

81

Une ordre d’Architecture n’est autre chose qu’une maniere de combiner avec grace dans un bâtiment

les montants qui doivent supporter, & les traverses qui sont dans le cas d’être supportées. Les mon-

tants sont les pilliers ou les murs posés perpendiculairement. Les traverses sont les planchers & le toît

qui portent sur le montans ou horisontalement ou sur des plans inclinés283.

É toda uma mecânica de forças e dos seus efeitos que é referida na sua essencialidade abstracta.

Outro aspecto do pensamento de Laugier é as observações sobre a cidade, já expressas no Essai,

em que se sente a contribuição da paisagística ou arte dos jardins:

Il faut regarder une ville comme une forêt. Les rues de celle-lá sont les routes de celle-ci; & doivent

être percées de même. Ce qui fait l’essentielle beauté d’un parc, c’est la multitude des routes, leur

largeur, leur alignement; mais cela ne suffit pas: il faut qu’un Le Notre en dessine le plan, qu’il y

mette le goût & de la pensée, qu’on y trouve tout-à-la fois de l’ordre & de la bisarrerie, de la symme-

trie & de la variété284.

No total, com Laugier, a Teoria da Arquitectura é impelida numa nova direcção, de busca duma

natureza intrínseca à arquitectura, ou seja, a sua verdade essencial. Laugier não era arquitecto. A

sua postura é a de um filósofo, indagando das origens e causas primordiais de um fenómeno. De

acordo com o espírito do tempo, em que a natureza aparecia sempre como a grande explicação para

tudo, Laugier, também aí vai procurar a origem da arquitectura; rousseanisticamente vê-a na pequena

cabana rústica formada por quatro postes e quatro travessas com que o homem construíra o primeiro

abrigo; era nessa singeleza que residia toda a verdade e autenticidade da arquitectura e era esse o

modelo sobre o qual se tinha desenvolvido a arquitectura, e nem sempre bem.

A posição de Laugier é a de um regresso ou reconsideração das origens; e aí chega a uma postura

que não se pode deixar de considerar notável: melhor seria abandonar as Ordens, dada a sua incom-

patibilidade ou inconveniência, como diz, com a maioria das construções, do que usá-las contra a

sua natureza e dignidade; é uma postura em que estética e ética se entrelaçam e que parece algo

diferenciada do esteticismo dominante ao tempo; para Laugier, a aplicação ou uso das Ordens, era

um problema de verdade, ou seja, de conhecimento, sendo o seu uso como meros elementos deco-

rativos, ou contra as razões do clima, da localização, e da comodidade, um uso desviado, que em

nada dignificava as Ordens, nem tão pouco os edifícios que delas se apropriavam.

Pureza, autonomia, absoluto são os paradigmas estéticos que marcam o fenómeno da arte e da arqui-

tectura modernas (Kaufmann, 1933, 1952; Sedlmayr, 1948, 1955). Sintomas que se manifestam, a

primeira vez, em vésperas da Revolução Francesa, nos autores nomeados.

283 Laugier, ob. cit. (1765), p. 254. 284 Laugier, ob. cit. (1753), p. 259-60.

Page 82: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

82

Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806), L’architecture considerée sous le rapport de l’art, des moeurs

et de la législation285, 1804, descreve o projecto da cidade salineira de Chaux, incluindo instalações

fabris, habitações, igrejas, edifícios públicos, cemitérios, etc.. No âmbito da tratadística é o primeiro

projecto de uma cidade ideal tendo por objecto a indústria. Ledoux considera a salubridade dos

ventos e a idoneidade do lugar, a unidade de concepção, a fisionomia de cada tipo de edifício, a

conveniência, o decoro (visto como carácter ou expressão do destino das construções), a economia

de materiais, a simetria, o gosto e, por fim, o método que dá precisão a todas as ideias; nesta obra

os desenhos tem predomínio sobre o texto e caracterizam-se por apresentar uma arquitectura despo-

jada da tradicional ornamentação, e articulada de maneira diferente; com efeito, não é só um léxico

arquitectural diferenciado que salta à vista; mais do que isso, é a sintaxe do discurso arquitectónico

que é diferente. Enquanto na arquitectura clássica, seja na vertente renascentista, ou maneirista,

barroca, rococó, neoclássica, a unidade de composição, era encarada no sentido das partes serem

concordantes com um todo ou conjunto que as subsumia, aqui vai-se notar uma independência das

partes ou elementos constituintes, que gera efeitos surpreendentes, nem sempre harmoniosos, face

às regras da composição clássica. É a esta independência das partes que Kaufmann vai chamar

arquitectura autónoma, e é na sua esteira, aprofundando o significado e sentido decorrentes, que

Sedlmayr detecta o problema da aspiração à pureza e à libertação das regras da unidade e tectonici-

dade entre outras, que parece prefigurar um desejo de absoluto.

No desejo de pureza, autonomia, absoluto, que antecipa a geometria pura da arquitectura da moder-

nidade, Sedlmayr vê uma espécie de hierofania da arte, prenunciadora da perda do centro em que a

arte sempre se apoiara, e que era o homem e a sua ideia de Deus, a que a arte sempre se referia. Ao

afastar-se desse centro, incorria-se no risco de perda do centro, e queda no vazio da ausência de

significação. Note-se todavia que a significação é precisamente a aspiração máxima deste tipo de

arquitectura, e basta atender-se aos comentários empolados com que Ledoux acompanha os seus

projectos para se dar conta disso; com efeito, na suam teoria, o decisivo, é a ideia de caractère e de

architecture parlante, a que todas as tradicionais categorias da arquitectura deveriam ser submetidas

e que consistia numa caracterização social e funcional do edifício, que passa agora a ser visto em

termos de expressividade, no sentido romântico de sentimentos de grandeza, terror e sublimidade.

Parece tratar-se de uma arquitectura que já não se preocupa tanto com o construir, mas mais com o

representar e expressar. A categoria da solidez quase não é referida em Ledoux, que a nomeia só de

passagem, dizendo que decorre da simetria (equilíbrio). Também a França e todo o Ocidente se

iriam encaminhar para uma organização social e política baseada na representação e expressão, em

que mais do que ao ser se atenderia ao parecer.

285 Ledoux, C.-N., L’architecture considerée sous le rapport de l’art, des moeurs et de la législation , Paris, 1804, reed. 1847, 2 vols.. (ed. Ramée, aumentada com gravuras).

Page 83: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

83

Etienne-Louis Boullée (1728-99), Architecture. Essai sur l’Art286, texto de 1796-97, e um conjunto

de desenhos realizados entre 1778-88, somente publicados a partir de 1953, são a base das suas

ideias sobre arquitectura, que têm como lema a frase de Corregio anche io sono pittore, demarcando-

se da tradição vitruviana da arquitectura, arte da construção, embora defina a arquitectura como a

arte de meter em obra a natureza. Boullée conjuga a herança de Blondel, de quem foi discípulo,

com o sensacionismo de Le Camus de Mézières, e define o caractère como, mais do que ligado à

função ou uso, ligado à forma que despertaria emoções através das sensações. Tudo isto remetido à

natureza, o grande contentor (e usa-se a expressão no sentido duplo do que contém e do que

contenta) das teorias desta época e doutras. Nos desenhos denota-se a perda do sentido da escala,

submerso na desmesura das proporções e dimensões em absoluto. O purismo das formas, a esfera

em especial, mostra o anelo da pureza, autonomia, absoluto.

Jean-Jacques Lequeu (1751-1825), o último dos três mosqueteiros da Arquitectura da Revolução,

talvez o Aramis, devido ao perfume Kitsch que exala da sua arquitectura (só desenhada)287. O tema

da esfera como forma arquitectónica é o mais perseguido; a sua arquitectura, como era próprio ao

tempo, igualmente se pretende inspirada na natureza e na terra. Ora esta, de forma esférica, consti-

tuia um desafio aos arquitectos e ao mesmo tempo uma sedução: Não é a esfera a mais perfeita e

uniforme forma geométrica, a que melhor poderia representar o princípio da Igualdade? – Lequeu,

assim o vai sentir e experimentar em dois projectos: o Templo da Terra e o Templo da Igualdade;

no primeiro, a entrada, marcada por um frontão, ostentava a seguinte legenda: à la sagesse suprême.

Despedimo-nos de Lequeu, com a convicção da convenance de sagesse relative nestas coisas da

arquitectura como da vida.

Cordemoy, Noveau Traité, 1708; Oppenort, Livre de Fragments, 1714; Boffrand, Livre d’Architecture, 1745

286 Boullée, E.-L., Architecture. Essai sur l’Art, texto de 1796-97, desenhos de 1778-88, Paris, 1953. 287 Lequeu, J.-J., os desenhos são acessíveis in www.gallica.bnf.fr/.

Page 84: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

84

Briseux, Traité, 1752 (Ordem Francesa); Blondel, J.-F., Cours, 1771-79; Patte, Memoirs, 1769

Peyre, Oeuvres, 1765; Le Camus de Mézières, Le Génie de l’Architecture, 1780, e Les Halles du Blé.

Chamoust, L’Ordre François, 1783; id., Architecture singuliére, 1758; Laugier, Essai, 1755

Ledoux, L’Architecture, 1804; Boullée, Essai sur l’Art, 1778-97; Lequeu, L’Architecture Civile, c. 1800

Page 85: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

85

Palais Royal, Paris, antes e depois da intervenção de Oppenort, c. 1720-25

Boffrand, Hôtel de Soubise, Paris, Salon de la Princesse, 1704-07.

Boffrand, Château de Luneville, Lorraine, 1707-10

Page 86: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

86

J.-F. Blondel, Place d’Arms, Metz, 1750

Legeay, Schwerin Schloss Garten, 1750 (o Palácio, ao fundo, é do Séc. XIX)

Ledoux, Barrière de la Villette, 1770: Projecto e realização (ver diferença dos pilares)

Page 87: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

87

Itália: Os vitruvianos, Bibiena’s, altri, Vittone e Vanvitelli; os illuminati, Lodoli, Algarotti,

Memmo, Piranesi, Milizia; os eruditos, Galiani, Bottari, Comolli:

A Itália do Séc. XVIII, destino obrigatório de todos os estudiosos de Arte e Arquitectura, perdido o

fulgor dos três séculos anteriores, atrasara-se, nada produzindo de notável até meados do século,

quando o Illuminismo aporta à península italiana. Mesmo assim toda uma obra de epígonos merece

ser mencionada, a começar pela dos Bibiena’s:

Ferdinando Galli Bibiena (1657-1743), Architettura Civile288, 1711, é um mostruário de cenários

de arquitectura, perspectivada per angolo, a que junta um texto teórico, tratado de modo a ridurre il

tutto al più facile sia possible, entendível por le persone di mediocre ingegno. – O filho, Giuseppe

Galli Bibiena (1695-1757), em Architetture e Prospettive289, 1740, segue as peugadas do pai, mais

laconicamente, sem texto, e explorando sobretudo cenografias teatrais, e decorações para festas. In

folio, de excelente apresentação, teve recepção auspiciosa, e admite-se que virá a influenciar Piranesi,

entre outros. – Depois, há um conjunto de onze autores, que se vai apenas nomear:

Giovanni Rizzeti, Elementi di architettura per erigerla in scienza..., Venezia, 1744;

Giuseppe M. Ercolani, I tre ordini d’architettura, Roma, 1744 (um título nada vitruviano);

Girolamo F. Cristiani, Dissertazione epistolare intorno l’utilità de’modelli nello studio di varie facoltà

matematiche e principalmente dell’architettura militare, Brescia, 1763; id., Della media armonica da

applicarsi nell’architettura civile, Brescia, 1767 (dedicado a Giovanni Bottari);

Girolamo Fonda, Elementi di architettura civile, e militare ad uso del Colegio Nazareno, Roma, 1764;

Federico Sanvitali, Elementi di architettura civile del padre... Opera postuma, Brescia, 1765;

Mario Gioffredi, Dell’architettura... nella quale si tratta degli ordini dell’architettura, Napoli, 1768;

Ermenegildo Pini, Della Architettura. Dialogi, Milano, 1770 (Teoria da Arquitectura como diálogo platónico

ou filareteano, versando cúpulas de igrejas e arquitectura militar);

Giambattista Passeri, Della ragione dell’architettura, in Nuova raccolta d’opuscoli scientifici e filologici,

Tomo 22, Venezia, 1772 (o vitruvianismo illuminato pela indagação filológica);

Paolo Frisi, Instituzioni di Meccanica, d’Idrostatica, d’Idrometria e dell’Architettura Statica, e Idraulica ad

uso della Regia Scuola eretta in Milano, per gli Architetti, e per gl’Ingegneri, Milano, 1777 (A Teoria da

Arquitectura “científica”, para engenheiros);

Francesco M. Preti (1701-74), Elementi di Architettura, Venezia, 1780;

Girolamo Masi, Teoria e Pratica di Architettura per istruzioni della gioventù, Roma, 1788.

288 Bibiena, F. G., Architettura Civile, Bologna, 1711. 289 Bibiena, G. G., Architetture e Prospettive, Paris, 1740.

Page 88: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

88

No conjunto, estes autores, apresentam toda uma série de tendências, similar à dos autores franceses

estudados, parecendo ser por eles influenciados, embora também se reconheça a grande tradição e a

familiaridade da Teoria da Arquitectura elaborada em Itália durante os Sécs. XV, XVI e XVII,

sendo a tutela de Vitrúvio, Palladio, Scamozzi, e por vezes Alberti notória. – Contudo, pouco há de

original no que escreveram, sendo aliás uma boa parte das obras de carácter pedagógico e divulga-

tivo, pelo que se acha dispensável apresentar uma exposição e interpretação crítica, sob pena de

tornar esta comunicação demasiado longa e fastidiosa, para além do tolerável, assim referindo-os

apenas, e apresentando algumas imagens das obras (nas comunicações orais, com Powerpoint).

Um altro troppo speciale, Bernardo Vittone (1705-70), cujo primeiro contributo para a Teoria da

Arquitectura foi promover a edição do tratado de Guarino Guarini, 1739, publicou Istruzioni elemen-

tari per indirizzo de’giovani allo studio dell’Architettura Civile290, 1760, 2 vols., e seis anos depois,

Istruzioni diverse concernenti l’officio dell’Architetto Civile... ad aumento alle Istruzioni elementari..

Della misura delle Fabriche, del Moto, Misura delle acque correnti, estimo de beni291, 1766, 2 vols..

Vittone, como é reconhecido, foi dos maiores arquitectos do barroco tardio, embora a sua obra,

característica da espacialidade barroca, tenha uma grande singeleza ornamental, e até afecte certa

naiveté. – A singeleza confirma-se no seu tratado, quando afirma:

i punti principali, che conviene aver de mira nella produzione delle idee (...) sono: primo la semplicità,

e naturalezza dell’origine degli oggetti in ordine a quel che rapprasentano; secondo la varietà, e lo

scherzo delle loro figure292.

Vê na ornamentação um licenzioso capriccio, amesquinhador da obra (baroccheto), non ammettendo

se non quelle, che per la naturalezza loro possono ad essi propriamente convenire, e devia-se evitar

troppo grande semplicità, e rustichezza, mas através da varietà. Parece ter conhecimento das ideias

de Laugier, e Lodoli, seu compatriota, mas nunca os refere, atendo-se essencialmente a Vitrúvio. A

obra teórica de Vittone é elucidativa da não existência de uma específica tratadística do barroco,

pois ele em tudo reivindica os valores e regras do classicismo, julgando-se um vitruviano.

E esta fase encerra com Luigi Vanvitelli (1700-73), e a sua Dichiarazione dei Disegni del Reale

Palazzo di Caserta293, 1756, que é apenas isso, mas merece ser referida e vista.

290 Vittone, B., Istruzioni elementari per indirizzo de’giovani allo studio dell’Architettura Civile, Lugano,

1760, 2 vols.. 291

Vittone, B., Istruzioni diverse concernenti l’officio dell’Architetto Civile... ad aumento alle Istruzioni elemen-

tari... della misura delle Fabriche, del Moto, Misura delle acque correnti, estimo de beni, Lugano, 1766, 2 vols. 292 Vittone, ob. cit. (1760), Vol. I, p. 412. 293 Vanvitelli, L., Dichiarazione dei Disegni del Reale Palazzo di Caserta, Napoli, 1756.

Page 89: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

89

Os Illuminati, Lodoli, Algarotti, Memmo, Piranesi, Milizia:

Em meados do século as ideias iluministas eram irrefreáveis em Itália, irrompendo, no que toca à

Teoria da Arquitectura, com Carlo Lodoli (1690-1761), franciscano, professor de matemática e

geometria, e arquitecto amador. Nada escreveu sobre arquitectura, daí ser designado o Sócrates da

Teoria da Arquitectura. Mas as suas ideias foram divulgadas pelos discípulos, o primeiro dos quais,

Francesco Algarotti (1712-64), aristocrata, mundano, e escritor relevante, as deu a conhecer em

Saggio sopra l’architettura294, em 1756 (três anos após o Essai de Laugier, com que tem afinidades,

e cujas ideias precederia, ao que consta295).

Segundo Algarotti, Lodoli pretenderia que na arquitectura tudo se deveria subordinar à razão, assim,

também os fundamentos teóricos deveriam ser submetidos all più rigoroso esame della ragione, que

revelava as tarefas da arquitectura como consistindo em formare, ornare e mostrare (i. é, representar).

O que carecia de uffizio proprio (função específica), estava a mais, e devia ser eliminado, pois não

passava de affettazione ou falsità. Não haveria beleza onde não há função, parecendo radicalizar a

relação agostiniana do belo com o útil, reduzindo a beleza à função, e entendendo esta, acima de tudo,

como a decorrente das funções mecânicas de suporte e carga, e das propriedades dos materiais para

responderem a essas funções, assim quase reduzindo a arquitectura à mecânica de uma engenharia

estrutural – e tudo em nome della verità – o que leva Algarotti a concluir, cinicamente:

che del vero più bella è la menzogna296.

Mais extensa e merecedora de confiança é a exposição das ideias de Lodoli feita por Andrea

Memmo (1729-92), em Elementi d’Architettura lodoliana ossia l’arte del fabbricare con solidità

scientifica e com eleganza non capricciosa297, 1786, principalmente na sua segunda edição, 1833-

34, 2 vols., cujo Tomo 2, apresenta dois manuscritos de Lodoli com o seu esboçado tratado, que

não seria tão radical quanto o pretende Algarotti. – A primeira edição, na anteportada, envolvendo

um retrato de Lodoli, apresentava a divisa seguinte:

Devonsi unire fabrica e ragione e sia funzion la rappresentazione.

294 Algarotti, F., Saggio sopra l’architettura, datado 1756, publicado pela primeira vez in Opere Varie,

Venezia, 1757; ed. recente, presentazione di A. B. Mazzotta, Milano, 2005. 295

Rykwert, J., The First Moderns: The Architects of the Eighteenth Century, Camb./Mass., 1980. – Ed. espan-

hola, Los primeros modernos. Los arquitectos del Siglo XVIII, Barcelona, 1982, p. 213 e nota 28, p. 429.

Rykwert refere uma conexão maçónica que determinou a publicação da obra de Laugier em primeiro lugar. 296 Algarotti, ob. cit. (1756, ed. 1784), p. 44. 297 Memmo, A., Elementi d’Architettura lodoliana ossia l’arte del fabbricare con solidità scientifica e con

eleganza non capricciosa, 1786, reed. 1833-34, 2 vol..

Page 90: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

90

Esta seria a divisa-síntese do pensamento de Lodoli, a quem Memmo atribui a génese do conceito

de architettura orgánica, que seria a arquitectura derivada da ragione, e com tal devia entender-se

uma ligação intíma entre retta funzione e rappresentazione, ou nas suas palavras:

La retta funzione e la rappresentazione sono i due oggeti finali scientifici dell’architettura civile...

L’ornamento non é essenziale, ma accessorio alla retta funzione e rappresentazione298.

Assim, nada que não tivesse função teria direito a representação, ou seja, todas as colunas deveriam

suportar cargas, e ser dimensionadas em acordo com as cargas que suportavam, pondo em causa a

sua utilização como meros ornamentos, desvinculados de qualquer função. Isto estendia-se a todos

os elementos e formas da arquitectura, de certo modo, prefigurando o conceito de form follow func-

tion299, de Louis Sullivan (1856-1924). – De resto, a única obra de arquitectura atribuída a Lodoli,

um albergue para estudantes no Convento de S. Francesco della Vigna, mostra isso com eloquência

nos aros de cantaria da fenestração, cuja forma (assaz rebarbativa!) pretenderia optimizar a função

de carga do lintel, e talvez também a sua solidarização com a parede.

A obra de Piranesi, ou seja, Giovan Battista Piranesi (1720-78) está mais que divulgada (leia-se,

vulgarizada), embora duma maneira que se contenta em exibir as imagens dos seus desenhos, sendo

mais raro, a leitura dos seus textos. Para a Teoria da Arquitectura o mais importante dos textos é

Parere su l’architettura300, incluído em Osservazioni sopra la Lettre de Monsieur Mariette aux

auteurs de la Gazette Littéraire de l’Europe, 1765, que surge na sequência duma crítica, aí publicada,

desfavorável às teses que apresentara em Della Magnificenza ed Architettura de’ Romani301, 1761,

que é talvez a sua obra magna, de reconhecimento e reverência perante essa insânia edificatória (a

aedificandi libidine, na designação de Alberti) dos antigos romanos, seus ancestrais.

Nessa obra, Piranesi, remontando a um sentimento bem romano, referido por Plínio, O Velho (23-

79), dera grande relevo às obras, que apesar de essencialmente utilitárias, como a Cloaca Maxima,

que toma por referência, mais contribuíam para a magnificenza (termo pliniano, traduzido) das obras

antigas. Isso, a tese da antecedência histórica da arquitectura dos etruscos sobre a dos gregos – sendo

a etrusca a que mais validamente marcara a de Roma –, e sobretudo a exuberância ornamental dos

desenhos de Piranesi, tinham provocado a crítica de Jean-Pierre Mariette (1694-1774), ao qual

Piranesi irá respondeu com o Parere, onde duas personagens, Protopiro (o grego, defensor de uma

298 Memmo, ob. cit. (ed. 1833-34), Tomo 2, p. 59. 299 Sullivan, L., «The Tall Office Building Artistically Considered», in Lippincott’s Magazine, March 1896. 300 Piranesi, G.-B., «Parere su l’Architettura», in Osservazioni sopra la Lettre de Monsieur Mariette aux au-

teurs de la Gazette Littéraire de l’Europe, Roma, 1765, p. 9-16. 301 Piranesi, G.-B., Della Magnificenza ed Architettura de’ Romani, Roma, 1761.

Page 91: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

91

arquitectura núa, despojada) e Didáscalo (o romano-etrusco, apologeta de uma arquitectura vestida,

e exuberantemente ornamentada), expõem os seus pontos de vista, questionando:

Via scegliete, Signor Protopiro, che cosa vole abbattere? Le pareti o il pilastre? Non rispondete? E io

distruggerò tutto. Mettete da parte, Edifizi senza pareti, senza colonne, senza pilastri, senza fregj, senza

cornici, senza volte, senza tetti; piazza, piazza, campagna raza302.

A pergunta contém a resposta, e embora seja falaciosa, a resposta pode não o ser menos. Com efeito,

Piranesi pode considerar-se o representante dum Iluminismo, mais do que à razão, ligado à emoção e

aos sentimentos; mais do que ao Classicismo, ao Romantismo, então despontante em toda a Europa:

um movimento que terá começado no culto melancólico das ruínas, das tumbas, dos cemitérios, e da

morte dos poetas ingleses dos inícios do Séc. XVIII, e que agora se espalhava pelo Continente, dando

origem, entre outras coisas, ao culto piranesiano do anticho, da rovine, do capriccio... Tudo coisas

que, na arquitectura, se reconfigurarão no Eclectismo do(s) século(s) seguinte(s).

Francesco Milizia (1725-98), que se julgava un amasso di eterogeneo (coisa nada dentro do signifi-

cado do Eclectismo), representa a faceta enciclopédica do Iluminismo, no que à Teoria da Arte e da

Arquitectura toca. Com efeito, não foi apenas sobre Arquitectura que escreveu, mas todo o conjunto

das Belas Artes, com relevo para o Desenho, e até sobre Teatro (um velho tema dentro da Teoria da

Arquitectura, desde Vitrúvio, e com relevo em Serlio, Palladio, Inigo Jones, Dieussart, Patte, e tutti

quanti). A sua obra principal, Principij di Architettura Civile303, 1781, é um conjunto de 3 vols., a

que, em 1817, Giovanni Antolini (1753-1841) junta um quarto volume, Osservazioni ed Aggiunte

ai Principii di Architettura Civile di Francesco Milizia304. A obra é parca em desenhos. Foi caracte-

rística dos teóricos iluministas apresentarem só texto, dispensando desenhos, como se quizessem

sublinhar o carácter intelectual da Teoria da Arquitectura em detrimento do lado visual, ligando-a

mais ao conceito do que à imagem. Cada um dos três volumes trata duma das categorias da tríade

vitruviana, de firmitas, utilitas e venustas, mas alterando a ordem: assim, o primeiro trata da bellezza

(venustas), o segundo da comodità (utilitas), o terceiro da solidità (firmitas). Esta inversão de priori-

dades vinha a desenvolver-se desde meados do Séc. XVI, e é recorrente no Vitruvianismo ou Teoria

da Arquitectura da Idade Moderna. – Milizia começa o seu tratado afirmando:

La Bellezza dell’Architettura dipende de quatro principij, che sono, 1. ORNATO, 2. SIMMETRIA,

3. EURITMIA, 4. CONVENIENZA305.

302 Piranesi, ob. cit. (1765), p. 11. 303 Milizia, F., Principij di Architettura Civile, Venezia, 1781, 3 vols.. 304

Antolini, G., Osservazioni ed Aggiunte ai Principii di Architettura Civile di Francesco Milizia, Milano, 1817 305 Milizia, ob. cit. (1781), Vol. I, p. 1.

Page 92: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

92

A Belezza começa pelo Ornato, dividido em Ordini, Storia dell’Arch., Origine, Essenza e Parti

componenti dell’Ordini; e é sobre a Essenza, que surge a sua mais conhecida afirmação:

L’Architettura è un’Arte d’Imitazione (...) come la Pittura, la Scultura, l’Eloquenza, la Poesia, la Musi-

ca (...) alcune di queste Arti hanno dinanzi il modelo naturale, e non hanno que aprir gli occhi, con-

templare gli oggetti, che lor sono d’intorno, e sopra quelli formare un sistema d’imitazione.

L’Architettura non ha tal modello. E dove trovansi case fabbricate dalle mani della Natura, che gli

Architetti possano prendere come un esempio da imitare? (...) All’Architettura mancha in verità il

modello formato della Natura; ma ne ha un’altro formato dagli Uomini, seguendo l’industria naturale

in costruire le lor prime abitazioni. La rozza capanna è l’Architettura naturale; la rozza capanna è

l’origine della Bellezza dell’Architettura Civile306.

Deste modo, Milizia postula o carácter auto-referencial da arquitectura, contido em Vitrúvio, mas

olvidado pelos vitruvianos, com sua natureza radicalmentre antropológica. Sente-se o legado de

Laugier, e ainda mais o da antropologia de Giambattista Vico (1668-1744), cuja Scienza Nuova307,

1730, postulara o homem como activo e livre produtor da cultura e da história. – Assim como que

um Man Makes Himself308, avant-la-lettre, ou before time.

A auto-referencialidade da arquitectura, desligando-a da tradicional mimesis, é o conceito mais

original de Milizia, cuja obra, de intuito enciclopédico, abraça todos os aspectos teóricos e práticos

da arquitectura, e onde se observa toda uma série de tensões que vão do dominante Neoclassicismo,

ao emergente Neogótico (considera o gótico scienza trascendente e invenzione tanto sublime), e

pela sua eterogeneità, prefigura o Eclectismo, que ao tempo já batia à porta.

Com Milizia fecha-se esta alínea sobre as teorias iluministas, que tanto mudaram o modo de ver e

pensar a arquitectura. – Essas mudanças terão motivado os eruditos que se seguem.

O contributo dos eruditos: Galiani, Bottari, Comolli:

Uma das consequências do Iluminismo, ao pôr em causa quase todos os pressupostos da civilização

ocidental, foi provocar um acréscimo na indagação dos seus fundamentos culturais. Isso, a par das

emergentes consciência histórica e consciência estética, estarão na origem dos autores e dos empre-

endimentos eruditos que se vai agora referir:

Berardo Galiani (1724-1774), marquês, eclesiástico, jurista, filólogo, e homem de vasta erudição,

muito cedo se interessou pela Teoria da Arquitectura, tendo publicado a que é considerada a melhor

306 Milizia, ob. cit. (1781), Vol. I, p. 20. 307 Vico, G., La Scienza Nuova, Napoli, 1730. – A ed. de referência para estudo é a 3.ª, Milano, 1744. 308 Childe, V. G., Man Makes Himself, 1936. – Obra de leitura obrigatória da minha geração, na trad. portu-

guesa de V. M. Godinho e J. B. Macedo, O Homem Faz-se a Si Próprio, Lisboa, 1947.

Page 93: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

93

edição setecentista de Vitrúvio: L’Architettura di M. Vitruvio Pollione colla traduzione italiana e

comento del...309, 1758 (quando teria 34 anos); edição bilingue, latim-italiano, páginas enfrentadas,

profusamente anotada, precedida de Prefazione del traduttore, Idea generale dell’Architettura estra-

tta da’ dieci Libri di..., e Vita di M. Vitruvio Pollione; no fim, Indices, e 25 figuras, desenhadas

pelo próprio Galiani (um marquês desenhador!), com uma interpretação visual e gráfica da obra de

Vitrúvio, mostrando um Neoclassicismo rigoroso, purista mesmo, e denotando conhecimento dos

templos dóricos de Paestum, entretanto descobertos, aparecendo o de Atena, reproduzido em vinheta

no fim do livro III (todos os fins de livro são assinalados com vinhetas desenhadas por Galiani). A

edição fez-se sobre dois manuscritos emprestados por Giovanni Bottari, ao tempo bibliotecário do

Vaticano, e revela o novo enfoque exegético, baseado na conjugação da filologia com a arqueologia.

Giovanni Gaetano Bottari (1689-1775), clérigo, filólogo, formado em teologia e filosofia, os seus

interesses fixaram-se na Literatura Clássica e na Literatura sobre Arte, tendo organizado uma ampla

Raccolta di Lettere sulla Pittura Scultura ed Architettura, scritte da’ più celebri Professori che in

dette Arti fiorirono dal Secolo XV, al XVII310, 1774-1825, 8 vols. (a obra é póstuma, na maioria,

tendo os volumes finais colaboração de S. Ticozzi). O interesse da obra radica em mostrar uma

visão da arte e questões que a envolvem por parte dos artistas, em trocas de correspondência, não

destinada, à partida, a ser publicada, logo independente de modelos literários, gostos de público, e

outras convenções, que não deixam de condicionar os escritos destinados a publicação, e assim,

revelando uma visão da arte mais intíma, despojada, sem os véus e máscaras mais habituais.

Finalmente, Angelo Comolli (não se conseguiu obter dados biográficos), Bibliografia storio-critica

dell’architettura ed arti subalterne311, 1788-92, 4 vols. – Destes quatro volumes, os três primeiros

referem-se à História da Arte, Biografias, Ciências Auxiliares, só o quarto volume é que, verdadei-

ramente, trata em exclusivo do tema anunciado, para o qual é uma obra de referência, indispensável

aos estudiosos da Teoria da Arquitectura.

E, encerrando esta parte da exposição sobre um período que tanto marcou e alterou a Teoria da

Arquitectura, nada como mostrar algumas imagens da Teoria e da Prática da Arquitectura. Não é

que se pense que a prática seja o resultado da teoria, ou viceversa, mas admite-se haver conexão

entre uma e outra. De resto, só no Séc. XVIII, se formula o princípio de que as teorias deviam ser

realizadas na prática, o que se deve a Immanuel Kant (1724-1804), determinado a passar da Kritik

der reinen Vernunft, 1781, 2.ed. 1786, à Kritik der praktischen Vernunft, 1788. 309 Galiani, B., L’Architettura di M. Vitruvio Pollione colla traduzione italiana e comento del..., Napoli, 1758. 310 Bottari, G. G., Raccolta di Lettere sulla Pittura Scultura ed Architettura, scritte da’ più celebri Professori

che in dette Arti fiorirono dal Secolo XV, al XVII, Roma, 1774-1825, 8 vols. 311 Comolli, A., Bibliografia storio-critica dell’architettura ed arti subalterne, Roma, 1788-92, 4 vols..

Page 94: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

94

Bibiena, F., Architettura Civile, 1711; Vanvitelli, Dichiarazione, 1756; Vittone, Istruzioni elementari, 1760

Algarotti, Saggio sopra l’Architettura, 1757, reeds.; Memmo, Elementi dell’Architettura Lodoliana, 1786

Piranesi, Parere, 1765; Milizia, Principij, 1781; Galiani, L’Architettura di M. Vitruvio, 1758

Page 95: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

95

Vittone, Chiesa, Grignasco, c. 1750; Vanvitelli, Chiesa di Gesù, Ancona, c. 1735

Vanvitelli, Palazzo di Caserta, Torino, 1750-70: vista exterior e interior, escadaria

Page 96: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

96

Piranesi, Santa Maria del Priorato, Roma, 1770; Memmo, Prato della Valle, Padova, 1775

Page 97: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

97

6. Mitteleurope: Do Historicismo de Fischer von Erlach ao Classicismo de J. W. Goethe, e até

à intervenção dos Filósofos (Séc. XVIII-inícios do Séc. XIX)

O historicismo, consequência da consciência histórica, desde logo eivado de relativismo cultural,

faz-se assinalar na obra de Johann Bernhard Fischer von Erlach (1656-1723), Entwürff einer

Historischen Architectur312, 1721, várias reeds. e trads. em francês e inglês.

Fischer von Erlach, como arquitecto, é um representante do barroco tardio e triunfal, que após a

vitória sobre os turcos, Viena, 1683, se expande pelo Sul e Leste da Mitteleurope. Na sua arquitec-

tura denota-se a noção do infinito de Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), além das anteriores

noções do espaço como res extensa (Descartes) e Deus sive substantia (Spinoza), tudo se conju-

gando para provocar um novo olhar, não apenas sobre a espacialidade arquitectónica, mas também

sobre os espaços geográficos e históricos a ser abarcados e reavaliados pela Teoria da Arquitectura.

E será essa a tarefa de Fischer von Erlach. Com efeito, Entwürff é considerada a primeira história

universal comparada da arquitectura (Kunoth, 1956), abarcando, além do Ocidente, coisa já tentada

por Scamozzi e N.-F. Blondel, o Oriente Antigo e a Ásia Oriental, e que se pretende, como afirma a

divisa da primeira ilustração, Essai d’une Architecture Historique, orientado para servir ao fomento

das ciências como das artes (zu Beförderung sowohl der Wissenschaften als der Künste dienen313),

além de agradar à vista dos aficionados e sugerir novas invenções aos artistas (das Auge der Lieb-

haber ergötzen und denen Künstlern zu Erfindungen geben314). Adopta uma atitude pluralista, acei-

tando o gosto dos países (Geschmack der Landes-Arten), a par duma arquitectura de que não discute

a nenhum povo nem o seu bom critério nem o seu gosto (Regel-lose Gewonhnheit wo man einem

jeden Volke sein Gutdunken so wenig abstreiten kan als den Geschmack315). – No entanto, tempe-

rando o relativismo, ou com ele se conjugando, afirma ser necessário:

alguns princípios gerais que não podem ser omitidos sem sério dano da arquitectura. Entre os quais a

Symmetria... (gewissen allgemeinen Grund-Sätzen, welche ohne offenbahren Ubelstand nicht können

vergessen wurden. Dergleichen sind die Symmetrie...316)

312 Fischer von Erlach, J. B., Entwürff einer Historischen Architectur, Wien, 1721, 2. ed. Leipzig, 1725, várias

reeds. e trads. em francês e inglês. 313 Fischer von Erlach, ob. cit. (ed. 1725), Vorrede. 314 Fischer von Erlach, ob. cit. (ed. 1725), Vorrede. 315 Fischer von Erlach, ob. cit. (ed. 1725), Vorrede. 316 Fischer von Erlach, ob. cit. (ed. 1725), Vorrede.

Page 98: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

98

A segunda ilustração do Primeiro Livro, onde mostra alguns edifícios antigos de judeus, egípcios,

sírios, persas & gregos, logo após a alegoria da arquitectura ostentando a divisa, em francês, Essai

d’une Architecture Historique, representa um mapa da região, bacia oriental do Mediterrâneo, onde

essa arquitectura se realizou e jazem as suas ruínas, assim, somando à consciência histórica a noção

duma geografia dilatada. As portadas dos Livros, bem como as figuras, têm textos bilingues, alemão-

francês; o francês era a língua culta, filosófica da época, logo a mais própria para um Essai.

De resto, a obra divide-se em 5 livros: o primeiro mostra o Templo de Salomão, as sete maravilhas do

Mundo, e monumentos dos judeus, sírios, egípcios e gregos; o segundo, as construções dos romanos;

o terceiro, arquitectura islâmica e asiática; o quarto mostra alguns projectos do autor, começando

por um arco triunfal em Viena, e acabando numa sepultura (outra forma de triunfo) em Praga, as

duas únicas ilustrações compostas na vertical; o quinto, diversos vasos antigos e modernos, alguns

de invenção do autor. Para reconstituição dos exemplos apresentados serve-se de escavações, textos

antigos, medalhas e diários de viagem, devindo um percursor da moderna arqueologia. Omisso

sobre as ordens, limita-se a nomear a coríntia que teria sido tomada do templo de Salomão, primeiro

pelos fenícios e os gregos (Corinthische Ordnung zu erst nach dem Salomonischen Bau durch die

Phoenicier und Griechen entlehnet317).

No total, é uma obra que alia à fantasia o rigor, referindo todas as fontes usadas, embora algumas

das reconstruções não deixem de ser fantasistas, como a Domus Aurea de Nero, dada a falta de

referências e documentação. Embora a divisa, Essai d’une Architecture Historique, se justifique,

não chega a constituir um sistema teórico, apenas representando, ou melhor, ensaiando uma visão da

arquitectura universal, que serve para fundamentar a sua própria arquitectura, recheada de citações

historicizantes, mas mantendo-se na área do Vitruvianismo.

Há ainda três figuras do Entwürff, que é de comentar: as ruínas de Palmira, cidade romana do Norte

de África, as surpreendentes estruturas de rochas de Stonehengs, e as Cataratas do Nilo. Estas

figuras e as legendas que as acompanham denotam que o fascínio de Fischer von Erlach não se

esgotava nas arquitecturas das civilizações, mas seria extensivo a outro tipo de “arquitecturas”.

Enfim, talvez influências do Deus sive Natura, da res extensa, ou o sentido do infinito...

Teoria da Arquitectura Cortesã: Kleiner, e os Cuvilliès:

O relativismo histórico-arquitectónico ressoará em obras tipo mostruário, celebrando a arquitectura

cortesã, como se observará em Salomon Kleiner (1703-61), talvez o mais importante desenhador e

gravador de arquitectura europeu, com vários dos palácios dos Schönborn, de que se salienta o

317 Fischer von Erlach, ob. cit. (ed. 1725), Tab. I. II. Der Salomonischen Tempel.

Page 99: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

99

Favorita318, de Mainz, e sobre Viena319. Também a obra de François Cuvilliès (1695-1768), Morce-

aux de caprices, à divers usages320, 1738, várias reeds., e continuada por seu filho, François Cuvil-

liès der Jüngere (1731-77), ambos dos mais importantes arquitectos do Rococó bávaro, se integra

nessa categoria, representando palácios, jardins, pequenos e luxuosos teatros privados, etc..

Um percurso singular na Teoria da Arquitectura: J. J. Schübler, von Perspectivae Pes Picturae,

1719-20, bis Synopsis Architecturae Civilis Eclecticae, 1732-35:

Com formação em matemática é a essa disciplina que pretende subordinar toda a arquitectura,

como antes o formulara em relação à pintura e representação em perspectiva. A sua obra Synopsis

Architecturae Civilis Eclecticae321, 1732-35, 4 vols., retoma o tema da representação arquitectónica

em desenho, incidindo sobre temas complexos, a começar pelos dispositivos para extracção de águas

subterrâneas, seguindo-se a Scenografischer durchschnitt des Souterreins, depois a Perspectivische

Elevation, von der halben Disposition, e assim todos os aspectos menos visíveis, ou mesmo invisíveis

de uma edifícação, como as fundações, a geometria estrutural, os traçados da ordenação, a estereo-

tomia, etc. O termo ecléctica, aqui, tem a ver essencialmente com a variedade de assuntos complexos

que uma arquitectura civil desenvolvida, sofisticada, necessariamente implica.

Arquitectura Civil Burguesa e seus teóricos: Penther, Suckow, Cancrin, Steingruber, Izzo:

Conexionada com as mudanças operadas na Mitteleurope, ao longo do Séc. XVIII, consequência da

ascensão da burguesia, intensifica-se a formulação de uma Teoria da Arquitectura Civil de resposta

aos interesses dessa burguesia numa edificação complexa, ilustrada, erudita.

O primeiro teórico a responder é Johann Friedrich Penther (1693-1749), matemático, geómetra e

arquitecto, com Anleitung zur Burgerlichen Bau-Kunst322, 1744-48, 4 vols.; o primeiro, um Lexicon

Architectonicum elucidando o vocabulário da arquitectura em alemão, francês e italiano, e nos outros

três, tratando dos edifícios privados, das ordens de arquitectura, e dos edifícios públicos, de uma

maneira didática, orientada para fornecer instruções práticas.

A Penther segue-se Lorenz Johann Daniel Suckow (1722-1801), físico e matemático, cujo Erste

Gründe der bürgerlichen Baukunst im Zusammenhang entworfen323, 1751, reeds. 1763, 1781, 1798,

apesar de menos volumoso, e não tão profusamente ilustrado, é bem mais rico em conceitos, e teve

318 Kleiner, S., Representation naturelle et exacte de la FAVORITE…, Augsburg, 1726; 319 Kleiner, S., Das floriende Wien. Vedutenwerk in vier Teilen aus den Jahren 1724-37, Augsburg, 1724-37. 320 Cuvilliés, F., Morceaux de caprices, à divers usages, München-Paris, 1738, reed. sucessivas até 1799. 321 Schübler, J. J., Synopsis Architecturae Civilis Eclecticae, Nürnberg, 1732-35, 4 vols.. 322 Penther, J. F., Anleitung zur Burgerlichen Bau-Kunst, Augsburg, 1744-48, 4 vols.. 323 Suckow, L. J. D., Erste Gründe der bürgerlichen Baukunst im Zusammenhang entworfen, Jena, 1751.

Page 100: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

100

excelente recepção, como se constata pelo número de reedições. Na Vorrede refere a importância

política da arquitectura, pela distribuição de dinheiro público entre artesãos e empresas que partici-

pam na construção, assim fomentando a economia, fenómeno já assinalado por Plutarco, a propósito

das obras empreendidas por Péricles em Atenas.

Depois, começa pelas propriedades dos materiais, as técnicas de construção, e a função, sendo a

beleza o resultado de tudo isso, pois o que não é firme nem funcional não pode ser belo, critério

que estende às ordens arquitectónicas, concebidas como:

suportes decorados, que na sua função de suportes de uma carga devem evitar a queda da construção

(verzierte Stützen, die als Stützen eine Last vor dem Falle sicher stellen sollen324).

Utiliza conceitos dos teóricos franceses, como usage, traduzido por Absicht (intenção), com o sentido

de função, e symmetrie, tal como teorizada por Perrault, afirmando que:

A beleza de um edifício (die Schönheit eines Gebäude) dependia de todas as suas partes terem uma

disposição simétrica (alle ihre Theile eine Symmetrische Lage haben325).

Mas, não terá sido esta parte conceptual, ainda que pouco especulativa, que lhe rendeu audiência, e

sim as instruções práticas sobre os materiais e as diferentes técnicas e distintas tarefas da construção,

em que é fértil, e facilmente utilizável.

A obra de Suckow, já próximo do fim do século, terá réplica na de Franz Ludwig von Cancrin

(1738-1816), Grundlehren der bürgerlichen Baukunst nach Theorie und Erfahrung vorgetragen326,

1792, mas que pouco ou nada acrescenta à original, embora o autor, geólogo ou engenheiro de

minas, e arquitecto, fosse homem de vasta erudição e experiência.

Uns anos antes, Johann David Steingruber (1702-87), editara Practische bürgerliche Baukunst327,

1773, cujas intenções seriam mostrar modelos de uma arquitectura adequada à Alemanha, e distinta

da francesa, mas acaba por se ficar pelas intenções, embora ainda apresentando dois exemplos,

exaustivamente descritos, e desenhados com todos os pormenores.

Nesse mesmo ano, 1773, da autoria de Johann Baptist Izzo (?), clérigo jesuíta, surgirá Anfangs-

gründe der bürgerlichen Baukunst328, que já publicara em francês, no ano anterior, 1772, intitulada

Elemens de l’architecture civil, e em latim, 1764, com o título Elementa architectura civilis. É uma

obra de grande erudição, remontando a Vitrúvio, cuja tríade finalística, firmitas, utilitas, venustas,

324 Suckow, ob. cit. (1751), Vorrede. 325 Suckow, ob. cit. (1751), Vorrede. 326

Cancrin, F. L., Grundlehren der bürgerlichen Baukunst nach Theorie und Erfahrung vorgetragen, Gotha, 1792 327 Steingruber, J. D., Practische bürgerliche Baukunst, Nürnberg, 1773. 328 Izzo, J. B., Anfangsgründe der bürgerlichen Baukunst, Wien, 1773.

Page 101: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

101

nomeada Festigkeit, Bequemlichkeit, Schönheit, lhe serve de estrutura básica, embora também se

sinta a presença de Alberti no aedificandi arte commentationes com que parece subtitular e resumir

a obra, na dedicatória ao Eminentissime Princeps da edição latina. A obra é de grande modernidade:

para a categoria da solidez (Festigkeit), recorre à estática, teoria da resistência dos materiais (ciências

novas ao tempo, desenvolvidas a partir das experiências de Buffon sobre a resistência da madeira,

1738 ss.), e descreve as técnicas construtivas de acordo com essas novas premissas.

Mas as suas observações de maior actualidade são a propósito da comodidade (Bequemlichkeit),

referindo os factores de higiene, de psicologia, sociais e de vivência. – Veja-se:

uma edificação é cómoda quando cada uma das suas partes e o edifício no seu conjunto dispõem de

uma distribuição que permita realizar de forma cómoda e sem obstáculos os propósitos para os quais

o proprietário a destinou. Poderá cumprir com tais propósitos uma edificação na qual tem sempre de se

lutar com as incomodidades e temer pela saúde? Na qual falta a luz, tão importante para o desempenho

da maioria das actividades humanas? Na qual, devido à disposição inconveniente das partes, se tem

de suportar o mau tempo, o cansaço, os maus cheiros e outras incomodidades? Na qual, finalmente, é

necessário fazer longos percursos para ir de uma parte a outra?

(Bequem ist ein Gebäude wenn das Ganze und die einzelnen Theile also angeordnet sind, dass man

die Geschäfte, zu welchen es vom Bauherrn bestimmet ist, gemächlich, ohne Hinderniss, und Eckel

darinn verrichten könne. Wird aber ein Gebäude wohl alles dieses leisten, in welchem man immer mit

Unpässlichkeiten kämpfen oder immer wegen seiner Gesundheit in Sorgen stehen muss? in welchem man

das Licht, das bey den meisten Handlungen des menschlichen Leben so unentbehrlich ist, vermisset? In

welchem man wegen der ungeschickten Anordnung der Theile von schädlicher Witterung, Müdigkeit,

üblem Geruche und andern Unbequemlichkeiten belästiget wird? In welchem man endlich von einem

Theile zum andern nur durch lange Umschweife kommen kann?329)

Como se vê o funcionalismo aqui expresso é diferente do de Laugier ou de Lodoli, que tem a ver

com as funções mecânicas (suporte e carga) dos elementos de construção; aqui expressa-se um

conceito de funcionalidade na disposição, permitindo um uso cómodo. Depois, as observações

sobre a beleza e o gosto, em que se demarca do relativismo de Perrault, posicionando-se entre a

estética normativa e o sensualismo. – Veja-se:

Quanto mais facilmente se possa apreender a distribuição das partes e do conjunto do edifício, tanto

mais belo será e mais prazer produzirá nos observadores; pois que só resulta belo o que salta à vista

e agrada (Diese Anordnung der Theile und des Ganzen wird desto schöner seyn, und in dem Gemüthe

der Ansehenden ein desto grössers Vergnügen erwecken, je leichter sie das Aug wird bemerken und

untersheiden können; indem nur jenes für schön gehalten wird, was in die Sinne fällt und gefällt330).

329 Izzo, ob. cit. (1773), p. 73. 330 Izzo, ob. cit. (1773), p. 113.

Page 102: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

102

Considera a beleza verdadeira (wahre Schönheit) derivada das proporções, mas valida a beleza

aparente (scheinbare Schönheit), que liga ao decor, designando os usos funcionais dos edifícios

públicos, ou o estatuto social dos proprietários nos edifícios privados.

No total, as ideias de Izzo apontam para o Neoclassicismo, todavia, paradoxalmente, as suas figuras

têm expressão barroca, o que exemplifica a não imediata correspondência entre Teoria e Prática, ou

Teoria da Arquitectura e Arquitectura da Praxis.

Outros teóricos da Mitteleurope: Rieger, e Locke:

Christian Rieger (1714-80), austríaco, clérigo jesuíta, escreve Universae Architecturae Civilis

Elementa331, 1756, que nesse mesmo ano aparece traduzida em Espanha, e sobre a qual já se falou,

assinalando o seu carácter laugeriano, logo na figura da anteportada citado, e a cuja doutrina o texto

dá seguimento, mas as figuras não tanto.

Samuel Locke (1710-1793), embora considerado um arquitecto do Spätbarocks, a sua obra teórica,

Die Verbindung und Übereinanderstellung der Säulen332, 1783, debruçada exaustivamente sobre as

Ordens, reflecte todo o léxico e sintaxe do Neoclassicismo.

A Consciência Estética do Séc. XVIII: Baumgarten, Winckelmann, Sulzer:

A irrompante consciência estética, que, a par da já referida consciência histórica, tanto terá modifi-

cado a sensibilidade ocidental, começa por se manifestar, teoricamente, no filósofo Alexander

Gottlieb Baumgarten (1714-62), cuja obra, Aesthetica333, 1750-58, 4 vols., se propõe indagar sobre

o conjunto de fenómenos, que começa por definir assim:

Aesthetica (theoria liberalium artium, gnoseologia inferior, ars pulchre cogitandi, ars analogi ratio-

nis) est scientia cognitionis sensitivae334.

A estética (teoria das belas artes, gnoseologia inferior, pensamento do belo, arte das analogias racio-

nais) é a ciência das cognições sensíveis [ou sensitivas].

O ponto de partida de Baumgarten é o reconhecimento de haver um nível de conhecimento inter-

médio, entre o conhecimento sensível e o intelectual ou racional, e que esse conhecimento, embora

fosse uma gnoseologia inferior, merecia ser indagado e explicitado, pois lidava com fenómenos de

331 Rieger, Ch., Universae Architecturae civilis Elementa, Vindobonae (Wien), Pragae & Triestae, 1756. 332 Locke, S., Die Verbindung und Übereinanderstellung der Säulen, Dresden, 1783. 333 Baumgarten, A. G., Aesthetica, Frankfurt an der Oder, 1750-58, 4 vols.; ed. recente, resumida, bilingue,

Theoretische Ästhetik. Die grundlegenden Abschnitte aus der “Aesthetica” (1750-58), H. R. Schweizer (Übers.

und Hrsg.), Hamburg, 1983, 2. Aufl. 1988; Id., Texte zur Grundlegung der Ästhetik, Hamburg, 1983. 334 Baumgarten, ob. cit. (1750-58), Vol. I (1750), p. 1.

Page 103: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

103

grande importância: as artes, a beleza, a analogia, e as cognições sensíveis, devendo constituir-se

como ciência filosófica. – A reavaliação e valorização da arte, do belo, do sensível, que no Ocidente,

paulatinamente, se vinha a desenrolar desde os alvores da Idade Moderna, atinge uma culminação,

com esta promoção a ciência, contribuindo largamente para a formação da consciência estética, e

desde logo isso verificar-se-á em Winckelmann e Sulzer, como se vai referir.

Johann Joachim Winckelmann (1717-68), em Gedanken über die Nachahmung der Griechischen

Werke in der Mahlerey und Bildhauer-Kunst335, 1755, exprimira juízos estéticos como nobre simpli-

cidade (edle Einfalt) e serena grandeza (stille Grösse), que se observariam na arte grega, a tornavam

compreensível, e talvez inultrapassável. Daí, ser a arte grega, producto de particulares factores

naturais e sociais, que lhe permitiam maior proximidade com o essencial (Wesentlichen) e o verda-

deiro (Wahren), a que podia constituir um modelo para imitar, ou ser levado à prática (Ausüben

vorgetragen), como advogará na sua Geschichte der Kunst des Alterthums336, 1764, entroncando

com as ideias mais radicais do Iluminismo, que opunham à decadência do tardo barroco, do seu

tempo (como já acontecera com a arte antiga tardia), a imarcescibilidade da arte grega.

Em Abhandlung von der Fähigkeit der Empfidung des Schönen in der Kunst337, 1763, sobre arquitec-

tura grega, exprime o ideal da beleza como resultado das proporções:

Na arquitectura, o belo tem um carácter geral, pois consiste primordialmente nas proporções: mediante

elas, um edifício pode chegar a ser belo, não precisando de decoração.

(In der Baukunst ist das Schöne mehr allgemein, weil es vornehmlich in der Proportion besteht: denn

ein Gebäude kann durch dieselbe allein, ohne Zierrathen, schön werden und seyn338).

Mas o seu contributo para a Teoria da Arquitectura mais significativo é Anmerkungen über die

Baukunst der Alten339, 1762, em que parte das indicações fornecidas pelos, entretanto redescobertos,

templos de Paestum, na Campania, Sul de Itália, de um dórico primitivo, para formulações gerais

sobre a arquitectura. Assim, estabelece a diferença entre o essencial e o ornamental, postulando que

os materiais, a construção, e a forma arquitectónica são o essencial na arquitectura:

O essencial compreende por uma parte os materiais e a maneira de construir, por outra a forma dos

edifícios e as partes necessárias dos mesmos.

335 Winckelmann, J. J., Gedanken über die Nachahmung der Griechischen Werke in der Mahlerey und Bild-

hauer-Kuns, Dresden und Leipzig, 1755. 336 Winckelmann, J. J., Geschichte der Kunst des Alterthums, Dresden, 1764. 337

Winckelmann, J. J., Abhandlung von der Fähigkeit der Empfidung des Schönen in der Kunst, Dresden, 1763. 338 Winckelmann, ob. cit. (1763), p. 22. 339 Winckelmann, J. J., Anmerkungen über die Baukunst der Alten, Leipzig, 1762.

Page 104: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

104

(Das Wesentliche begreif in sich, vornehlich theils die Materialen, und die Art zu bauen, theils die

Form der Gebäude und die nöthigen Teil derselben340).

O ornamento também fazia parte da beleza do edifício, resultando num acréscimo de elegância e

graciosidade, mas desde que ligado intimamente ao essencial, e não arbitrariamente:

Um edifício sem ornamentação é como uma fraca saúde (...) e, em arquitectura, quando a ornamentação

se une à simplicidade, cria-se a beleza: pois uma coisa é boa e bela quando é o que deve ser. Assim, a

ornamentação dum edifício deve corresponder tanto ao objectivo geral como ao particular dele mesmo

(...) e quanto maior é o edifício, menos ornamentação requer.

(Ein Gebäude ohne Zierde ist wie die Gesundheit in Dürftigkeit... und wenn die Zierde in der Baukunst sich

mit Einfalt gesellet, entsteht Schönheit: denn eine Sache ist gut und schön, wenn sie ist, was sie seyn soll.

Es sollen daher Zierrathen eines Gebäude ihrem allgemein so wohl, als besonderem Endzwecke gemäss

bleiben (...) und je grösser ein Gebäude von Anlage ist, desto weniger erfordert es Zierrathen341).

No total, as teses de Winckelmann tornam-o o grande corifeu do Neoclassicismo de inspiração grega

e, essencialmente, dórica, oposto ao romano (toma partido contra Piranesi), assim como à excessiva

decoração (überhäuften Zierate) e à minuciosidade na arquitectura (Kleinlichkeit in der Baukunst).

Finalmente, com Johann Georg Sulzer (1720-79), suíço-alemão a viver na Prússia, em Allgemeine

Theorie der Schönen Kunste342, 1771-74, 2 vols., surge o maior contributo para a Teoria da Arte,

formulado na Mitteleurope, e que se estende pelas artes visuais, a arquitectura, a poesia e a música,

nach alphabetischer Ordnung (por ordem alfabética), como é próprio das enciclopédias, sendo a

Encyclopédie de Diderot e D’Alembert, em que colaborou, o modelo que subjaz à obra, cujo enfoque

é de ordem pedagógica, ética e social, sendo tarefa das artes, mediante a beleza, contribuir para:

O desenvolvimento da sensibilidade ética [pois] Do reiterado regozijo no bom e no belo surge o afã por

consegui-lo; e da aversão que nos produz o feio e mau, surge a recusa por tudo que infrinja a ordem moral.

(Pflege des sittlichen Gefühless [pois] Aus einem öfters wiederholten Genuss des Vergnügens an dem Schö-

nen und Guten, erwächst die Begierde nach demselben, und aus dem widrigen Eindruck, den das Hässliche

und Böse auf uns macht, entsteht der Widerwillen gegen alles, was der sittlichen Ordnung entgegen ist343).

A arte levaria o ser humano à felicidade absoluta, o que o aproxima do idealismo inglês. Sobre a

arquitectura, esta formaria parte das Belas Artes, e partia da necessidade e da solidez, provocando o

efeito (Wirkung) de admiração, veneração, devoção, emoção (…) tudo efeito da obra do génio guiado

pelo bom gosto (Bewundrung, Ehrfurcht, Andacht, feyerliche Rührung (...) dieses sind Würkungen des

340 Winckelmann, ob. cit. (1762), Kap. I. Von dem Wesentlichen der Baukunst, p. 1. 341 Winckelmann, ob. cit. (1762), Kap. II. Von der Zierlichkeit in der Baukunst, p. 50. 342 Sulzer, J. G., Allgemeine Theorie der Schönen Kunste, Leipzig, 1771-74, 2 vols.. 343 Sulzer, ob. cit. (1771-74, ed. 1773), Erster Theil, p. IV.

Page 105: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

105

durch Geschmack geleiteten Genies344), o que é análogo a posições de Boffrand e J.-F. Blondel, sobre

caractère e gosto. Expõe uma tese orgânico-funcionalista, de modelo na natureza e no corpo humano:

Qualquer corpo organizado é um edifício; cada uma das partes interiores cumpre perfeitamente as

funções para as quais está concebida; no conjunto, todas as partes constituem uma combinação cómoda

e orgânica; o conjunto tem ao mesmo tempo a melhor forma exterior e resulta agradável graças à

adequada relação entre as partes, à harmonia, ao brilho e à cor.

(Jeder organisierte Körper ist ein Gebäude; jeder innere Theil ist vollkommen zu dem Gebrauch, wozu

er bestimmt ist, tüchtig; alle zusammen aber sind in der bequemsten und engesten Verbindung; das

Ganze hat zugleich in seiner Art die beste äusserliche Form, und ist durch gute Verhältnisse, durch

genaue Ueberreinstimmung der Theile, durch Glanz und Farbe angenehm345).

Também a paisagem e o clima têm importância destacada na arquitectura, postulando a relação

causal entre o temperamento de uma nação (Gemüthszustand einer Nation) e sua arquitectura, daí

ser necessária a regulamentação da arquitectura, por parte do Estado.

Como Winckelman, expõe uma concepção desenvolvimentista da arquitectura, sendo necessário

assimilar o verdadeiro gosto da Antiguidade (sich in den wahren Geschmack des Altertums zu set-

zen), pois nessa arquitectura havia uma nobre simplicidade e grandeza nas formas (eine edle Einfalt

und Grösse in den Formen346); a do Renascimento italiano, combinava a grandeza, a magnificência e

a simplicidade (Grösse und Pracht mit Einfalt); a dos franceses tinha menos grandeza e simplicidade,

mas mais sentido decorativo e comodidade (weniger Grösse und Einfalt, aber mehr Zierlichkeit und

Annehmlichkeit347); e assim o ideal seria construir juntando tudo isso, ou como dirá:

Quando se pergunta qual a melhor maneira de construir, pode responder-se do seguinte modo: para

templos, arcos de triunfo e grandes monumentos, a melhor arquitectura é a antiga; para palácios, a

italiana, combinada com a exactidão grega; para a habitação, a francesa.

(Wenn man fragt, welche Bauart die beste sey; so könnte man antworten: für Tempel, Triumphbogen

und grosse Monumente sey die alte Bauart die beste; für Palläste die italiänische, aber mit der grie-

chischen Genauigkeit verbunden; zu Wohnhäusern aber die französische348).

Isto aponta para o que se devia fazer na Alemanha, mas, ao mesmo tempo, parece prefigurar o

Eclectismo do Séc. XIX, embora a teoria de Sulzer seja uma resultante das ideias do Iluminismo

inglês e francês, e não tenha sido aceite pela geração que lhe sucedeu, a do Sturm und Drang (Clamor

e Ímpeto, ou Tempestade e Ímpeto), isto é, a do Romantismo.

344 Sulzer, ob. cit. (1771-74, ed. 1773), Erster Theil, Baukunst, p. 170. 345 Sulzer, ob. cit. (1771-74, ed. 1773), Erster Theil, Baukunst, p. 171. 346 Sulzer, ob. cit. (1771-74, ed. 1773), Erster Theil, Bauart, p. 169. 347 Sulzer, ob. cit. (1771-74, ed. 1773), Erster Theil, Bauart, p. 169. 348 Sulzer, ob. cit. (1771-74, ed. 1773), Erster Theil, Bauart, p. 169.

Page 106: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

106

Teoria da Arquitectura entre Aufklärung e Sturm und Drang: Weinlig, Moritz, Anonym, e a

opção pelo Classicismo, de J. W. Goethe:

Embora todos os autores e teorias, dentro do período exposto, pertençam à época e ao Zeitgeist do

Aufklärung (Iluminismo), no período de transição entre Aufklärung e Sturm und Drang surgem

autores de transição, como Christian Traugott Weinlig (1739-99), cujas Briefe über Rom349, 1767-

69, ed., 1782-87, 3 vols., expõem uma teoria que parece sintetizar o funcionalismo de Lodoli, via

Algarotti, com a cabana primitiva de Laugier, distanciando-se consideravelmente do vitruvianismo e

das ordens arquitectónicas, a que contrapõe uma teoria dos materiais e processos construtivos como

origem e essência da arquitectura. – Sobre as ordens, e sua tratadística sistematizadora, é particu-

larmente severo, chegando a ver em tal, conjuntamente, a causa da decadência da arquitectura:

Talvez não seja escassa a contribuição das obras sistemáticas de Vignola, Scamozzi, Branca e outros

para a decadência da arquitectura.

(Vielleicht trugen aber auch die systematischen Werke eines Vignola, Scamozzi, Branca und Andrer zu

diesem Verlaff der Baukunst nicht wenig bey350).

O ataque às ordens intensifica-se com Karl Philipp Moritz (1756-93), amigo de Goethe, que em

Vorbegriffe zu einer Theorie der Ornamente351, 1793, afirma, provocatoriamente:

A mais bela das colunas não suporta melhor que um fuste sem capitel – A moldura mais delicada não

protege mais do que a parede lisa (Das schönste Säulenkapitäl trägt und stüzt nicht besser, als der

stumpfe Schafft – Das kostbarste Gesimse deckt und wärmt nicht besser, als die platte Wand352).

Advoga pois uma visão despojada da arquitectura, que parece prefigurar a da modernidade, embora

reconheça ao ornamento a capacidade de fazer significar a arquitectura, identificá-la, e humanizá-la.

No total, a sua visão da arquitectura é uma mistura de pontos de vista iluministas, classicistas e

funcionalistas, sentindo-se a influência dos mais notáveis teóricos franceses desse tempo e de Lodoli.

A influência francesa far-se-á sentir no tratado Anonym, Untersuchung über den Charakter der

Gebäude353, 1785, que postula uma visão da arquitectura, como devendo reflectir a condição do ser

humano (uns den Zustand des Menschen354) e não imitar a natureza. Assim, dá primazia ao carácter

das edificações, imagem do carácter humano; a expressão do carácter implica a unidade da forma,

resultado da dos volumes; o carácter romântico seria a excepção à regra, o que está de acordo com a

349 Weinlig, Ch. T., Briefe über Rom, escritas entre 1767-69, eds., Dresden, 1782-87, 3 vols.. 350 Weinlig, ob. cit. (1782-87), Vol. II (1784), p. 2. 351 Moritz, K. Ph., Vorbegriffe zu einer Theorie der Ornamente, Berlin, 1793. 352 Moritz, ob. cit. (1793), p. 4. 353 Anonym, Untersuchung über den Charakter der Gebäude, Dessau, 1785. 354 Anonym, ob. cit. (1785), Erster Abschnitt. Theorie des Characters, Kap. I, p. 10.

Page 107: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

107

estética do pintoresco, imperante na Inglaterra; ao volume tudo seria subordinado: as Ordens apenas

enfatizariam o carácter expresso pelo volume, o que ilustra, comparando três diferentes propostas

para um mesmo edifício; retoma as ideias de Winckelmann, falando da simplicidade da decoração,

(Einfalt der Verzierungen) já que todo o supérfluo é ignóbil (alles Müssige unedel), e a serena

grandiosidade (stille Grösse355) era função da uniformidade. – Este tratado, que abarca ainda a teoria

da jardinagem, segundo Hirschfeld, e a obra de Peyre, sobre os monumentos antigos, é talvez o que

mais se aproxima da Arquitectura da Revolução, dos franceses de fins do século, que ainda não estava

formulada por escrito, ou não tinha sido publicada; enfim, coisas do Zeitgeist, tão germânico...

E para finalizar este item, tem-se Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), começando por Von

deutscher Baukunst356, 1772, escrito na juventude, onde expressa admiração pela arquitectura gótica,

a propósito da Catedral de Strassburg, vista como a fusão de inumeráveis partes em grandes volumês

(die unzähligen Teile zu ganzen Massen), e como algo simples e grande (als einfach und gross357),

aplicando ao gótico os critérios de Winckelmann para a arquitectura da Antiguidade Grega.

Na Italienische Reise, 1786, dá-se o encontro com Vitrúvio, Palladio, e a arquitectura antiga, a que

aplica os critérios de Laugier, vendo contradição na combinação de colunas e muros; mas reconhece

que o trabalho de Palladio de pilastras e meias colunas transforma a verdade e a mentira num terceiro

elemento, cuja artificialidade nos encanta (aus Wahrheit und Lüge ein Drittes bildet, dessen erbor-

gtes Dasein uns bezaubert358). A sua visão da arquitectura grega, firmada nas viagens a Paestum,

evolui da estranheza, a densa multitude destas colunas aplastadas e coniformes resulta-nos molesta,

e até nos parece horrível (so dass uns diese stumpfen, kegelförmigen, enggedrängten Säulenmassem

lästig, ja furchtbar erschienen359), para o que, numa segunda viagem a Paestum, lhe surgirá como

última ideia, e quase podia dizer, a mais maravilhosa que levarei para o Norte (die letzte und, fast

möcht’ ich sagen, herrlichste Idee, die ich nun nordwärts vollständig mitnehme360). – Isto opera a sua

conversão ao Classicismo, o que em Baukunst361, 1788, é evidente, a par do afastamento do Gótico:

Lamentavelmente, no Norte, os decoradores de igrejas buscavam a grandeza na multiplicação do peque-

no (Leider suchten alle nordischen Kirchenverzierer ihre Grösse nur in der multiplizierten Kleinheit362).

355 Anonym, ob. cit. (1785), Zwenter Abschnitt. Einige Arten des Characters, Kap. VII, p. 179. 356

Goethe, J. W., Von deutscher Baukunst, Darmstadt, 1772, in Goethe, Werke. Berliner Ausgabe, Bd. 19: Kunst-

theoretische Schriften und Überstetzungen. Schriften zur bildenden Kunst, 1, Hrsg. von S. Seidel, Berlin, 1973. 357 Goethe, ob. cit. (1772), in Goethe, ob. cit. (1973), p. 33. 358 Goethe, J. W., Italienische Reise, Vicenza, den 19. September 1786, in GW HA, Bd. XI, 1950, p. 53. 359 Goethe, J. W., Italienische Reise, Neapel, Freitag, den 23. März 1787, in ob. cit. (1950), p. 219. 360 Goethe, J. W., Italienische Reise, Neapel, den 17. Mai 1787, in ob. cit. (1950), p. 323. 361 Goethe, J. W., Baukunst, 1788, in Goethe, ob. cit. (1973). 362 Goethe, ob. cit. (1788), in Goethe, ob. cit. (1973), p. 75.

Page 108: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

108

Em Baukunst363, 1795, aproxima-se das ideias do Iluminismo francês: refere os materiais, o intuito

e o efeito estético como condicionantes da arquitectura, advogando as propriedades dos materiais,

mas admitindo a combinação de colunas e pilastras com os muros, opondo-se aos puristas que tudo

queriam converter em prosa; assim, afirma: é na verdade a poesia, a ficção, o que converte um edifí-

cio numa obra de arte (Es ist eigentlich der poetische Teil, die Fiktion, wodurch ein Gebäude wirklich

zum Kunstwerk wird364), com o que se aproxima de análogas posições dos Arquitectos da Revolução.

No Wilhelm Meisters Wanderjahre365, 1821, descreve a arquitectura da sua provincia pedagógica,

uma característica utopia, de um modo que confere carácter educativo (Bildung) à arquitectura:

Os exteriores dos edifícios expressavam de modo inequívoco as suas intenções; eram distinguidos e

vistosos, mais belos que faustosos. Aos mais nobres e sóbrios do centro da cidade seguiam graciosa-

mente os mais alegres, até que, no fim, belos subúrbios se estendiam até ao campo, em que se achavam

dispersas as casas com jardins.

(Das Äussere der Gebäude sprach ihre Bestimmung unzweideutig aus, sie waren würdig und stattlich,

weniger prächtig als schön. Den edlern und ernsteren in Mitte der Stadt schlossen sich die heitern gefäl-

lig an, bis zuletzt zierliche Vorstädte anmutigen Stils gegen das Feld sich hinzogen, und endlich als

Gartenwohnungen zerstreuten366).

Já para o fim da vida, cinquenta anos após o primeiro escrito sobre arquitectura alemã, publica com o

mesmo título, Von deutscher Baukunst367, 1823, um novo ensaio corrigindo os pontos de vista da sua

juventude, e exprimindo toda uma série de reservas em relação ao gótico, que vê com olhos clássicos:

Assim contemplamos com prazer alguns dos volumes daqueles edifícios góticos, cuja beleza parece

basear-se na simetria e nas proporções do conjunto com as suas partes, e das partes entre si, tudo

isto, apesar dos feios ornamentos que os cobrem...

(So beschauen wir mit Vergnügen einige Massen jener gotischen Gebäude, deren Schönheit aus Sym-

metrie und Proportion des Ganzen zu den Teilen und der Teile untereinander entsprungen erscheint

und bemerklich ist, ungeachtet der hässlichen Zierraten, womit sie verdeckt sind...368)

Demarca-se assim da paixão romântica pela Idade Média, muito comum ao tempo, e permanece

um clássico, adscrito ao pensamento histórico de Winckelmann, embora saiba avaliar a arquitectura

363 Goethe, J. W., Baukunst, 1795, in Goethe, ob. cit. (1973). 364 Goethe, ob. cit., 1795, in Goethe, ob. cit. (1973), p. 119. 365 Goethe, J. W., Wilhelm Meisters Wanderjahre, Stuttgart und Tübingen, 1821. 366 Goethe, ob. cit. (1821), Buch II, Kap. 8. 367 Goethe, J. W., Von deutscher Baukunst, 1823, in Goethe Werke. Berliner Ausgabe, Bd. 20: Schritfen zur

bildenden Kunst, 2, Hrsg. S. von Seidel, Berlin, 1974. 368 Goethe, ob. cit. (1823), in Goethe, ob. cit. (1974), 336.

Page 109: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

109

medieval, determinada na sua historicidade, como coisa do passado. De resto, endereçada à moda

medievalista dos românticos, ainda afirmará:

Um dos signos mais claros do declínio da arte é a promiscuidade das suas distintas formas (Eines der

vorzüglichsten Kennzeichen des Verfalls der Kunst ist die Vermischung der verschieden Arten der-

selben369).

Se pode considerar que as reflexões de Goethe representam o culminar de uma Teoria da Arquitec-

tura de expressão alemã, que, embora tendo começado muito dependente das congéneres europeias,

italiana e francesa sobretudo, no fim do Séc. XVIII, a entrar pelo Séc. XIX, se exprime com auto-

nomia e independência, e irá atingir elaboradas e complexas formulações com os filósofos.

A intervenção dos filósofos na Teoria da Arquitectura: Schelling, Hegel, Schopenhauer:

A Teoria da Arquitectura faz parte da Teoria da Arte, logo participa da Estética, que por sua vez faz

parte da Teoria do Conhecimento, o mesmo é dizer que da Filosofia, pelo que o interesse e a inter-

venção dos filósofos na Teoria da Arquitectura é natural, o que acontecerá, indirectamente, com

Baumgarten, como se viu, ou com Ch. C. L. Hirschfeld (1742-92), professor de filosofia em Kiel,

autor da volumosa Theorie der Gartenkunst370, 1779-85, 5 vols., já referida, mas que não é para aqui

chamada, pois foi opção do Curso deixar a Teoria dos Jardins de fora, embora reconhecendo-a.

Agora, o estudo debruçar-se-á sobre os filósofos nomeados na epígrafe, começando por Friedrich

Wilhelm Joseph von Schelling (1775-1854), cuja Philosophie der Kunst371, 1802-03, onde expõe

uma concepção da arte, como a expressão mais elevada do espírito humano, trata da arquitectura,

definindo-a como representação da forma orgânica num contexto inorgânico, assim fundamentando,

por um lado a regularidade geométrica da arquitectura, por outro as suas proporções baseadas na

analogia com o corpo humano, e ainda serve de apoio à Teoria clássica das Ordens de Arquitectura.

A sua concepção de organismo, de grande complexidade, irá ressoar nas formulações teóricas dos

Sécs. XIX e XX, parecendo estar na base dos diversos organicismos de então.

Também Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), nas suas Vorlesungen über die Aesthetik372,

1820-21, eds. 1835-38, se debruça sobre a arte, de que a arquitectura era a primeira manifestação

importante, seguindo-se a escultura, pintura, música e poesia, assim estabelecendo uma como que

hierarquia da mais afectada pela matéria (a arquitectura), para a mais intimamente ligada ao espírito

(a poesia). No entanto, ao contrário de Schelling, para Hegel, a arte já não era a expressão mais

369 Goethe, J. W., Einleitung in die “Propyläen”, I, 1798, p. XXIV. 370 Hirschfeld, Ch. C. L., Theorie der Gartenkunst, Leipzig, 1779-85, 5 vols.. 371 Schelling, F. W. J. von, Philosophie der Kunst, esc. 1802-03, ed. Stuttgart, 1859. 372 Hegel, G. W. F., Vorlesungen über die Aesthetik, 1820-21, ed. Berlin, 1835-38, 3 vols..

Page 110: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

110

elevada do espírito, estando abaixo da filosofia e da religião. Chega até a afirmar que a arte era

coisa do passado. – Para Hegel, no seu desenvolvimento (conceito fundamental na filosofia de

Hegel, a par do de dialéctica), a arquitectura passara por três fases ou períodos:

die symbolische Architektur, caracterizada pelo ascendente da matéria ou forma sobre a ideia ou

conteúdo, cuja concreção era a arquitectura das civilizações egípcia e orientais.

die klassische Architektur, fase de equilíbrio entre a matéria-forma e a ideia-conteúdo, o que na

arquitectura clássica dos gregos se tinha alcançado plenamente.

die romantische Architektur, marcada pelo predomínio da ideia-conteúdo sobre a forma-matéria,

que se tinha alcançado com a arquitectura cristã, no seio da qual ainda se estava.

Hegel parece adoptar a noção de organismo de Schelling (que marcaria a arquitectura clássica); a

ideia de a construção de pedra derivar da de madeira, extraída do arqueólogo Aloys Hirt (1759-

1837), e o distinguo entre massas que suportam e massas que são suportadas (que inspirará Scho-

penhauer), como o que mais marcaria a arquitectura, sendo a coluna o elemento de suporte mais

notável, o muro como elemento envolvente, e qual síntese desta oposição, a meia coluna integrada

no muro. No entanto, essa síntese seria imperfeita, pois como, laugerianamente, admite:

Não obstante, as meias colunas repugnam porque combinam e misturam dois propósitos antagónicos

sem que exista necessidade intrínseca alguma.

(dennoch sind Halbsäulen schlechtthin widerlich, weil dadurch zweierlei entgegengesetzte Zwecke

ohne innere Notwendigkeit nebeneinander stehen und sich miteinander vermischen373).

Mas o mais importante e significativo contributo de Hegel para a Teoria da Arquitectura, talvez seja

a reavalorização a que procede da arquitectura gótica, concreção mais elaborada de die romantische

Architektur, onde encontra, como afirma:

o perfeitamente adequado para o culto cristão, assim como a concordância da configuração arquitec-

tónica com o espírito intrínseco do Cristianismo.

(das eigentümlich Zweckmässige für den christlichen Kultus sowie das Zusammenstimmen, der archi-

tektonischen Gestaltung mit den inneren Geist des Christentums374).

Na concordância (Zusammenstimmen) da forma com o conteúdo encontra, Hegel, o grande valor da

arquitectura gótica, que exprimiria, a seu modo, o princípio do predomínio do conteúdo-ideia sobre

a forma-matéria. Com esta valorização do conteúdo-ideia, Hegel distingue-se dos teóricos do gótico,

que lhe sucederam, Pugin, Ruskin e Viollet-le-Duc, que acentuaram os aspectos formais e de técnica

373 Hegel, ob. cit. (1820-21, ed. 1835-38), Dritter Theil, Erster Abschnitt. Die Architektur, Kap. II, 2, b, p. 316. 374 Hegel, ob. cit. (1820-21, ed. 1835-38), Dritter Theil, Erster Abschnitt. Die Architektur, Kap. III, p. 332.

Page 111: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

111

constructiva, em detrimento dos aspectos ideais e de conteúdo, ou significado. Não é por acaso que

os teóricos e historiadores das formas simbólicas e do significado (Cassirer, Panofsky, Sedlmayr),

sempre reivindicaram a sua filiação em Hegel.

E por fim tem-se Arthur Schopenhauer (1788-1860), que em Die Welt als Wille und Vorstellung375,

1819-59, 3 vols., contrapõe ao idealismo e historicismo de Schelling e Hegel, que viam as artes como

expressão do Espírito Humano (Schelling), ou concreção, através da História, do Espírito Absoluto

(Hegel), uma visão dos princípios fundamentais das artes como objectivação da vontade da natureza

(Objektivation des Willens der Natur), vendo na arquitectura expressão de um único e eterno tema

(einzigen und beständigen Thema): o Suporte (die Stütze) e a Carga (die Last376). Na Teoria da

Arquitectura estas ideias já tinham sido formuladas por Laugier, Lodoli, Suckow, em meados do Séc.

XVIII, e na Filosofia, Hegel já as expressara também. O que é novo em Schopenhauer é a radicali-

dade com que as eleva a princípio único e absoluto. Assim, em relação à arquitectura grega, afirma:

Unicamente na colunata se dá a especialização por completo: o entablamento como pura carga, as

colunas como puro suporte.

(In der Säulenreihe allein ist die Sonderung vollständig, indem hier das Gebäck als reine Last, die

Säule als reine Stütze auftritt377).

Em conformidade, Schopenhauer, refuta as teorias dos modelos da mimesis da natureza (troncos de

árvore, cabanas primitivas, grutas, ninhos das andorinhas ou covas das toupeiras), assim como os da

analogia com o corpo humano – alicerces profundos do vitruvianismo – em relação às Ordens de

Arquitectura, e às formas e proporções das colunas, sobre as quais argumenta:

Todas as leis das Ordens de Arquitectura, incluíndo a forma e a proporção da coluna em todos os seus

elementos mesmo os mais pequenos, derivam da análise do suporte apropriado e justo para um determi-

nado peso – entende-se que esta análise tem de estar bem formulada e se deve aplicar adequadamente;

trata-se pois de uma definição a priori. Por consequência fica manifesto o erro da ideia, tantas vezes

repetida, que troncos de árvore ou até a forma humana (que lamentavelmente o próprio Vitrúvio, IV, 1,

expõe) tenham servido de modelo para a coluna.

(Weil nun also aus dem wohlverstandenen und konsequent durchgeführten Begriff der reichlich angemes-

senen Stütze zu einer gegebenen Last alle Gesetze der Säulenordnung, mithin auch die Form und Propor-

tion der Säule, in allen ihren Teilen und Dimensionen bis ins einzelne herab folgt, also insofern a priori

bestimmt ist, so erhellt die Verkehrtheit des so oft wiederholten Gedankens, dass Baumstämme oder gar

(was leider selbst Vitruvius, IV, 1, vorträgt) die menschliche Gestalt das Vorbild der Säule gewesen sei378).

375 Schopenhauer, A., Die Welt als Wille und Vorstellung, Leipzig, 1819-59, 3 vols.: I, 1819; II, 1844, III, 1859. 376 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 466-67. 377 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 467. 378 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 470.

Page 112: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

112

Assim, as proporções, a simetria e as demais categorias sobre a regularidade da forma eram meras

propriedades espaciais, não podendo constituir o tema de uma arte bela (das Thema einer schönen

Kunst), devendo considerar-se que somente as leis do peso, a rigidez e a coesão (leis der Natur)

eram determinantes na arquitectura, que é concebida em função da gravidade, valorizando assim,

além da força e do esforço, a massa, o volume, a dimensão, a grandeza:

para alcançar efeito estético, as obras de arquitectura devem possuir dimensões consideráveis; nunca

serão demasiado grandes, mas facilmente pequenas demais.

(Vielmehr müssen die Werke der Architektur, um ästhetich zu wirken, durchaus eine Grösse haben, já

sie können nie zu gross, aber leicht zu klein sein379).

E esta concepção do efeito estético, baseado no tamanho, nas grandes massas, na presença da gravi-

dade, sai reforçada, logo a seguir, no desenvolvimento da frase:

O efeito estético rege-se na razão directa do tamanho dos edifícios, porque só as grandes massas expõem

de forma evidente e claramente compreensível a presença da gravidade.

(Sogar steht, ceteris paribus, die ästhetische Wirkung im geraden Verhältnis der Grösse der Gebäude,

weil nur grosse Massen die Wirksamkeit der Schwerkraft in hohem Grad augenfällig und eindringlich

machen380). – Assim, e em consequência, Schopenhauer, defende uma arquitectura baseada em:

figuras regulares, feitas de linhas rectas ou curvas regulares, assim como de corpos gerados por estas,

como cubos, paralelipípedos, cilindros, esferas, pirâmides e cones.

(lauter regelmässigen Figuren aus geraden Linien oder gesetzmässigen Kurven, imgleichen die aus sol-

chen hervorgehenden Körper wie Würfel, Parallelopipeden, Zylinder, Kugeln, Pyramiden und Kegel381).

A geometria pura dos Arquitectos da Revolução, bem como a dos construtivistas russos (outros

revolucionários), parece ter aqui a sua legitimação teórica, e Albert Speer, arquitecto do III Reich,

também não devia ignorar este texto do seu compatriota, filósofo. Há ainda um aspecto das ideias de

Schopenhauer, para quem o arquitecto moderno não podia alhear-se das regras e arquétipos da

Antiguidade (kann der moderne Architekt sich von den Regeln und Vorbilden der Alten nicht

merklich entfernen382), que merece ser referido: é a sua crítica do gótico e, ainda mais, do Neogótico,

em afirmação ao tempo – Com efeito, segundo Schopenhauer, a arquitectura gótica era arbitrária,

desrespeitando as leis da gravidade; daí talvez a virulência da sua crítica ao Neogótico e às obras

para acabamento das catedrais góticas, que por toda a Alemanha se faziam:

379 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 470-71. 380 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 471. 381 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 471. 382 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 473.

Page 113: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

113

Quando vejo como esta época descrente continua com tanto empenho a construção das igrejas góticas

que a crente Idade Média nos legou inconclusas, parece-me como se quisessem embalsamar o defunto

Cristianismo.

(Wenn ich nun sehe, wie dieses ungläubige Zeitalter die vom gläubigen Mittelalter unvollendet gelas-

senen gotischen Kirchen so emsig ausbaut, kommt es mir vor, als wolle man das dahingeschiedene

Christentum einbalsamieren383).

Schopenhauer é, pois, defensor acérrimo de um Classicismo, que tem por base teórica a sua filosofia

da Vontade e Representação, e que de algum modo se repercute no Neoclassicismo então em voga.

Mas também as teorias do Romantismo, do Naturalismo e, sobretudo, do Funcionalismo, principal-

mente as defensoras do primado da estrutura de suporte, o podem reivindicar como guia.

No conjunto, a intervenção dos filósofos na Teoria da Arquitectura iria frutificar, vindo a observar-se

a sua influência em toda uma série de gerações alemãs de historiadores da arte, que aprofundaram a

Teoria da Arte e da Arquitectura, através da perspectiva filosófica, como Carl Schnaase, Franz

Kugler, Gottfried Semper, Heinrich Wölfflin, August Schmarsow, Alois Riegl, Wilhelm Worringer,

Erwin Panofsky, Hans Sedlmayr, até Hans Belting, e outros mais recentes. – De resto, e como síntese

deste período, pode-se considerar que a Teoria da Arquitectura na Mitteleurope alcançou um nível de

formulações similar ao da restante Europa Ocidental, e em certos aspectos até o superou, deixando de

ser a Teoria de Arquitectura um negócio exclusivo de italianos, franceses, e espanhóis (que entretanto

declinaram), para ter de se passar a contar com os teóricos da Mitteleurope. O mesmo se vai passar,

neste mesmo período, com a Inglaterra, como se verá a seguir. – Antes, no entanto, tal como se tem

feito, ver-se-á algumas imagens da theoria que se expôs e da praxis, sua contemporânea.

Fischer von Erlach, Entwürff einer Historischen Architektur, 1721, ed. 1724:

Essai d’une Architecture Historique, e Spectacvla Babilonica

383 Schopenhauer, ob. cit. (1819-59), Zweiter Band (1844), Kap. 35. Zur Aesthetik der Architektur, p. 476.

Page 114: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

114

Kleiner, Representation naturelle et exacte de la FAVORITE..., 1726, perspectiva;

Penther, Burgerlichen Bau-Kunst, II, 1745, Fig. 1, Edifícios públicos e privados

Rieger, Architectura Civilis, 1756, anteportada; Winckelmann, Baukunst der Alten, 1762, portada

Sulzer, Theorie der Schönen Kunste, 1771-73, anteportada; Hegel, Aesthetik, 1820-21, portada;

Schopenhauer, Die Welt als Wille und Vorstellung, 1819-59, portada;

Page 115: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

115

Fischer von Erlach, Karolkirche, Wien

Cuvilliés, Hoftheater, München; Cancrin, Hanau, Wilhelmsbad, Kuranlage

Karl G. Langhans, Brandenburg Tor, Berlim (reine Last, reine Stütze = pura carga, puro suporte)

Page 116: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

116

Langhans, Belvedere im Charlottenburger; Leo von Kenze, Glypothek, München

Schinkel, Altesmuseum, Berlin, c. 1900, e Babelsbergschloss, Potsdam

Leo von Klenze, Akropolis, óleo sobre tela, 1846; Schinkel, Mittelalterliche Stadt, óleo sobre tela, 1815

Page 117: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

117

7. Inglaterra: Do Romantismo das Ruínas, da Poesia Tumular, da Teoria dos Jardins, da

Moda Chinesa, do Neogótico, e da Continuidade do Paladianismo, a uma Arquitectura para

Trabalhadores (Séc. XVIII-inícios Séc. XIX)

Fall’n, fall’n, a silent heap; her heroes all

Sunk in their urns; behold the pride of pomp,

The trone of nations fall’n; obscur’d in duft

John Dyer, Ruins of Rome, 1740.

O Romantismo das Ruínas na Poesia Tumular e nas Publicações sobre a Antiguidade, e sua

convergência na Teoria dos Jardins, e na Teoria da Arquitectura:

A par do Classicismo de matriz paladiana, que, a partir de meados do Séc. XVII, marcou a Arqui-

tectura Inglesa e sua Teoria por todo um largo período, Sécs. XVIII e XIX incluídos, em meados do

Séc. XVIII começam a gizar-se outras tendências: Romantismo e Neogótico, que têm conexão com

o Romantismo das Ruínas, por sua vez, relacionado com a Poesia Tumular inglesa, e as Publica-

ções Arqueológicas sobre a Antiguidade, vindo a convergir na Teoria dos Jardins, formulada em

Inglaterra, e tudo junto, convergindo e influenciando a Teoria da Arquitectura.

O fenómeno começa a observar-se com John Dyer (1699-1758), cujo poema Ruins of Rome384 (título

nada sugestivo), publicado em 1740, exprime a melancolia perante as ruínas que atestam a grandeza

e decadência (Fall) do Império Romano. Segue-se de imediato toda uma plêiade de poetas, como

Edward Young (1683-1765), The Complaint, or Night Thoughts385, 1742; Robert Blair (1699-

1746), The Grave386, 1743; Thomas Warton (1728-90), The Pleasures of Melancholy387, 1747 (tema

significativo para um jovem de 18, 19 anos); James Hervey (1714-58), Meditations among the

Tombs388, 1748; e Thomas Gray (1716-71), Elegy Written in a Country Churchyard389, 1751.

384 Dyer, J., Ruins of Rome, London, 1740. 385 Young, E., The Complaint, or Night Thoughts, London, 1742, reeds. sucessivas e trads. em várias línguas

europeias. – Ed. portuguesa, Noites de Young. Opúsculos. Pensamentos, trad. J. C. de Oliveira, Lisboa, 1781. 386 Blair, R., The Grave, London, 1743, reeds. sucessivas, a de 1808, com 12 ilustrações de William Blake. 387 Warton, Th., The Pleasures of Melancholy, London, 1747, reeds. sucessivas. 388 Hervey, J., Meditations among the Tombs, London, 1748, reeds. sucessivas. 389 Gray, Th., Elegy Written in a Country Churchyard, London, 1751, reeds. sucessivas., trad. para português

por A. de Araújo de Azevedo, Elegia de Gray escrita no Adro de uma Igreja de Aldeia, Hamburgo (?), 1799,

BNP, Cota L. 4534 V., constando também haver uma tradução da Marquesa de Alorna.

Page 118: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

118

De comum, todos estes poetas exprimem melancolia e desgosto perante o declínio e a morte, conse-

quência da marcha inexorável do tempo, de que as ruínas, as sepulturas e os cemitérios eram signos

pétreos, visíveis, disseminados na paisagem envolvente, ou de uma topografia imaginária (Roma).

Esse culto das ruínas, observado na poesia tumular inglesa, tem conexão com a divulgação de toda

uma série de obras sobre as ruínas da Antiguidade, que se iria incrementar em meados do Séc.

XVIII, com a publicação do trabalho de Robert Wood (1717-71), The Ruins of Palmyra, otherwise

Tedmor, in the Desart390, 1753 (também publicada em francês no mesmo ano e pelo mesmo editor),

a que se seguiu, The Ruins of Balbec, otherwise Heliopolis in Coelosyria391, 1757 (idem, em francês).

Wood, embora reconheça as características romanas daquelas ruínas, refere-se a uma remota origem

judaica da cidade, donde derivava o nome de Tedmor:

Que Salomão construiu Tedmor no deserto lemos no Velho Testamento; e essa foi a mesma cidade à

qual os Gregos e Romanos, mais tarde, chamaram Palmyra.

(That Salomon built Tedmor in the widerness we are told in the Old testament; and that this was the

same city wich the Greeks and Romans called afterwards Palmyra392).

Denota assim a influência das teorias da origem judaica das Ordens de Arquitectura, tão populares

no Séc. XVII, e que em Inglaterra, 1741, tinham sido reactualizadas por John Wood, the Elder, em

obra sobre The origin of building..., como se verá. – Wood descreve as ruínas como o mais surpreen-

dente que nos ficou da magnificência da Antiguidade (most surprising of antient magnificence wich

are now lest393). Ambas as obras são profusamente ilustradas, mostrando as ruínas tal como estavam,

e apresentando reconstituições, que intentam dar an idea of the building, when it was entire394.

As obras de Robert Wood, que tiveram auspiciosa recepção, por sua vez, estão conexionadas com a

fundação de duas sociedades destinadas a fomentar a pesquisa de antiguidades e a arqueologia: a

Society of Antiquaries395, que remonta ao ano de 1707, e a Society of Dilettanti396, criada em 1734,

390 Wood, R., The Ruins of Palmyra, otherwise Tedmor, in the Desart, 1753; id., Les Ruines de Palmyre,

autrement dite Tedmor, au desert, London, 1753. 391 Wood, R., The Ruins of Balbec, otherwise Heliopolis in Coelosyria, London, 1757; id., Les Ruines de

Balbec, autrement dite Heliopolis, dans le Coelosyrie, London, 1757. 392 Wood, ob. cit. (1753), p. 2. 393 Wood, ob. cit. (1753), p. 1. 394 Wood, ob. cit. (1753), p. 35. 395 Ver, Dobai, J., Die Kunsliteratur des Klassizismus und der Romantik in England, Bd. 1: 1700-1750, Bern,

1974, p. 798 ss. 396 Ver, Cust, L., and Colvin, S., History of Society of Dilettanti, London, 1898, 2. ed. 1914; id., Kelly, J. M.,

Page 119: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

119

por jovens aristocratas, talvez entediados com o seu tempo e espaço, e sequiosos de outros, e dos

seus arruinados faustos arquitectónicos. Principalmente a última, a partir de meados do século, terá

desenvolvido acção significativa de patrocínio e mecenato, financiando expedições e campanhas

arqueológicas, em Itália, na Grécia, e na Ásia Menor. – Essas campanhas originaram as obras de:

Richard Chandler (1738-1810), Ionian Antiquities, published with permision of the Society of

Dilettanti397, 1769, e Antiquities of Jonia, published by the Society of Dilettanti398, 1797; no total, 2

vols., in folio; os trabalhos de campo foram realizados entre 1764-66, com a colaboração do pintor

William Pars (1742-82), e do arquitecto Nicholas Revett (1720-1804).

Este último, juntamente com James Stuart (1713-88), participara já num projecto que dera origem

à publicação de Antiquities of Athens and other Monuments od Greece399, a partir de 1762, e que

teve reeds. sucessivas, ainda hoje se reeditando.

Também de autor britânico, é de incluir neste apanhado a obra sobre o palácio de Diocleciano, na

Dalmácia, publicada em 1764, da autoria de Robert Adam, que será referida mais adiante.

Todavia, é de notar que em Inglaterra, e remontando mais uma vez a Inigo Jones, a pesquisa em

torno das ruínas, tocando à Teoria da Arquitectura, produzira, já em 1725, obra notável: The most

notable Antiquity of Great Britain vulgarly called Stone-Heng... restored by Inigo Jones400; a obra é

editada 73 anos após o falecimento de Inigo Jones, 53 após o de John Webb, seu discípulo, pelo

Dr. Charleton, que lhe junta escritos polémicos de sua autoria.

O livro refere-se às ruínas de Stonehenge, e a um seu projecto de restauro atribuído a Inigo Jones. É

obra surgida alguns anos depois da de William Stukeley, sobre Stonehenge, de 1717, e da qual

parece aproveitar sugestões e algumas das ilustrações.

No total, estas obras contribuiram largamente para popularizar o Romantismo das Ruínas, fornecendo

a uma sociedade, que estava lançada no afã construtivista da Revolução Industrial, testemunhos de

um passado remoto, quando ainda não havia indústria, e no entanto se produziam objectos artísticos

e monumentos arquitectónicos, reconhecidos como de uma perfeição inultrapassável. E, ao mesmo The Society of Dilettanti: Archaeology and Identity in the British Enlightenment, New Haven-London, 2009,

Yale University Press. 397 Chandler, R., Pars, J., Revett, N., Ionian Antiquities, published with permision of the Society of Dilettanti,

London, 1769. 398

Chandler, R., Pars, J., Revett, N., Antiquities of Jonia, published by the Society of Dilettanti, London, 1797. 399 Stuart, J., and Revett, N., Antiquities of Athens and other Monuments of Greece, London, 1762. 400 Charleton, Dr., The most notable Antiquity of Great Britain vulgarly called Stone-Heng... restored by

Inigo Jones, London, 1725.

Page 120: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

120

tempo, as ruínas não somente testemunhavam da grandiosidade doutras eras, mas também depunham

a favor da evidência da dimensão temporal, subjugadora de todas as expressões espaciais, designa-

damente as artísticas e arquitectónicas, talvez com excepção para a mater natura, que permaneceria

invariável ao longo dos tempos. Daí, o serem rapidamente absorvidas pela Teoria e a Prática dos

Jardins, donde terão passado para a Teoria da Arquitectura, como se intentará mostrar a seguir.

A Teoria dos Jardins na Inglaterra do Séc. XVIII:

Embora nos outros espaços geo-culturais que dividem esta exposição se tenha deixado a Teoria dos

Jardins de fora, por ser uma teoria específica e periférica à da arquitectura, no caso da Inglaterra do

Séc. XVIII, tal não é conveniente, devido ao seu influxo na Teoria da Arquitectura, que bastante

veio a influenciar, introduzindo os conceitos de variety e irregularity na composição arquitectónica.

Em breves traços a Teoria dos Jardins inglesa acusa a recepção do jardim chinês, cuja irregularidade

era o oposto da regularidade geométrica dos jardins europeus, designadamente os grandes jardins

barrocos. Como o expressara Sir William Temple (1628-99), em Upon the Gardens of Epicurus;

or of Gardening in the Year 1685401, ed. 1690:

Entre nós a beleza de construir ou plantar está concebida basicamente em relação a certas propor-

ções, simetrias e uniformidades; os nossos caminhos e as nossas árvores estão dispostas de tal modo

que se correspondem entre si, e têm distâncias exactas. Os chineses desprezam esta forma de plantar

e afirmam que um menino que saiba contar até cem é capaz de plantar árvores em linha recta e uma

frente à outra na extensão que lhe apeteça. Mas a riqueza da sua imaginação manifesta-se em figuras

fantasiosas nas quais a beleza pode ser grande e saltar à vista, mas sem uma ordem ou disposição das

partes que possa ser observada facilmente.

(Among us, the Beauty of Building and Planting is placed in some certain Proportions, Symmetries or

Uniformities; our Walks and our Trees ranged so, as to answer one another; and at exact Distances. The

chinese scorn this Way of Planting, and say a Boy, that can tell an Hundred, may plant Walks and Trees in

straight Lines, and overagainst one another, and so what Lenght and Extent he pleases. But their greatest

Reach of Imagination is employed in Contriving Figures, where the Beauty shall be great, and strike the

Eye, but without any Order or Disposition of Parts, that shall be commonly or easily observ’d402).

E é na sequência da exposição que surge o termo Sharawadgi, cunhado pelos chineses para desi-

gnar essa forma de organização irregular, naturalista de um jardim. – Veja-se:

Assim pois, nós temos apenas uma noção deste tipo de beleza, enquanto eles possuem um termo espe-

cial para designá-la; quando chama a atenção à primeira vista dizem que o Sharawadgi é delicado ou

admirável, ou alguma outra expressão de estima.

401 Temple, W., Upon the Gardens of Epicurus; or of Gardening in the Year 1685, London, 1690 reed. 1909. 402 Temple, ob. cit. (1690, reed. 1908), p. 53-54.

Page 121: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

121

(And though we have hardly any Notion of this Sort of Beauty, yet they have a particular Word to express

it; and, where they find it hit their Eye at first Sight, they say the Sharawadgi is fine or is admirable,

or any such Expression of Esteem403).

O Sharawadgi será o fio condutor da estruturação do jardim inglês do Séc. XVIII, designado de

jardim naturalista, paisagístico, ou picturesque, embora outros factores, como o culto das ruínas, da

melancolia, dos cemitérios de aldeia e sepulturas, quais memento mori, introduzindo a dimensão

tempo nesses espaços, o genius loci, e a inspiração ou emulação pictórica, também contribuam para

a definição e caracterização de uma forma de arte que, mais do que submeter a Natureza, parece

querer sublimá-la, subordinando a intervenção cultural ao que alvitra como seu genius.

Num breve relance, limitado à nomeação dos principais autores da Teoria dos Jardins à inglesa, e

assinalação das suas formulações básicas, tem-se:

Shaftesbury (1671-1713), c. 1700, critica o jardim barroco, tipo Versailhes, no qual não vê senão a

deformação da natureza pelo absolutismo político, contrapondo-lhe a natureza em estado primitivo

como uma imagem da liberdade do homem404.

Joseph Addison (1672-1719), em Essay on the Pleasures of the Imagination405, 1712, propõe uma

agreeable Mixture of Garden and Forest, como forma de equilíbrio entre natureza e arte na compo-

sição dos jardins; associa a utilidade com a estética, chamando a atenção para o que designa de

Pleasant Prospect de uma seara de trigo; e estabelece analogias entre tipos de jardins e géneros

literários: os pequenos jardins domésticos eram como epigramas ou sonetos, os grandes jardins

como novelas. A ele se deve a associação entre o Sharawadgi, descoberto por Sir William Temple,

e a natureza em estado primitivo, teorizada por Shaftesbury.

Robert Castells († 1729), em The Villas of the Ancients Illustrated, 1728, já referida no Capítulo 2,

baseando-se em Vitrúvio, em Plínio, o Jovem, e em Varrão, descreve três tipos de villas e de jardins:

regulares, irregulares e uma mistura de ambos, que recria em desenhos, nos quais projecta as ideias

que estavam em formação nesse tempo sobre o jardim inglês.

Alexander Pope (1688-1744), constrói um jardim em Twickenham, junto ao Tamisa, a partir de 1718,

concebido como cenário de uma sociedade ideal; o centro do jardim era uma gruta, representando a

403 Temple, ob. cit. (1690, reed. 1908), p. 54. 404 Para Shaftesbury, ver: Dobai, J., Die Kunstliteratur des Klassizismus und der Romantik in England, I:

1700-1750, Bern, 1974, p. 87 ss., 552 s. 405 Addison, J., Essay on the Pleasures of the Imagination, in Addison, J., and Steele, R. (eds.), The Specta-

tor, N.º 411-421, 1712. – Edição usada: London Stereotype Edition, New York, 1826, 2 vols.. A obra está no

Vol. II, p. 132-147.

Page 122: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

122

concepção newtoniana do mundo, e uma câmara escura. A ele se deve, num célebre poema, a elegia

do Genius of the Place, ou seja, do Espírito ou Natureza do Lugar:

Consult the Genius of the Place in all...406

Também Stephen Switzer (1682-1745), em Ichnographia Rustica, or the Nobleman, Gentleman

and Gardener’s407, 1715-18, 3 vols., contempla jardins intermédios, entre os de tipo francês e os de

tipo inglês, paisagísticos, advogando a adaptação à configuração do terreno. É o primeiro a ver nas

ruínas um potencial de caracterização dos lugares, pois:

para espíritos nobres, uma ruína é mais deleitosa que o mais belo edifício e as reflexões melancólicas

que suscita alcançam o mesmíssimo céu. – Sublinhou-se o juízo referente às ruínas.

(to Nobles and Ingenious Natures a Piece of Ruin is more entertaining than the most beautiful Edifice;

and the sorrowful Reflections they draw from the Soul ascend to very Heav’ns408).

A intuição do potencial das ruínas, com suas características melancólicas, na composição dos jardins,

surgida através de Switzer em 1718, beneficiaria, a partir de 1740, do culto das ruínas suscitado pela

poesia tumular inglesa e as publicações sobre a Antiguidade, estando na génese do Romantismo

das Ruínas, que por sua vez influenciou a Teoria da Arquitectura formulada em Inglaterra.

Na Inglaterra, desse tempo, gizava-se a Revolução Industrial, com toda a conturbação que terá

causado nas estruturas físicas, sociais e mentais da Old Albion, cujas topografia e paisagem estavam

legendariamente poetizadas por uma tradição difusa, mas ancestral; o Romantismo das Ruínas, tal

como o Jardim Paisagístico, parecem ser formas ínvias de resposta a essa conturbação, vislumbrando

os arruinados escombros, ferindo a paisagem e as consciências, de um futuro, que já se adivinhava

e avizinhava. – Em paralelo, e concomitância, a Inglaterra formara um Império, que se estendia

pelos cinco continentes, com uma dimensão e potencial nunca visto antes, o que não deixava de

suscitar comparações com o Império Romano, e seu destino, comum aos Impérios409.

Tudo isto se irá reflectir na Teoria dos Jardins, que se continuará a desenvolver, através de muitos

outros autores, dos quais se salientaram:

Batty Langley (1696-1751), New Principles of Gardening…, London, 1728;

William Shenstone (1714-63), The Leasowes (poema), 1728, e Unconnected Thoughts on Gardening, edição

póstuma, London, 1764;

Thomas Whately († 1772), Observations on Modern Gardening, escrito em 1765, publicado, London, 1770;

406 Pope, A., Epistle IV to Richard Boyle, Earl of Burlington, 1731, in Pope, A., Epistles to Several Persons

(Moral Essays), ed. by F. W. Bateson, London-New Haven, 1951, 2. ed. 1961, p. 142. 407 Switzer, S., Ichnographia Rustica, or the Nobleman, Gentleman and Gardener’s, London, 1715-18, 3 vols.. 408 Switzer, ob. cit. (1715-18), Vol. I, Chap. 7, Scet. I. Directions for the Raising Forest Trees, p. 198. 409 Lembrar, Gibbon, E., The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, London, 1766-88, 6 vols..

Page 123: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

123

Horace Walpole (1717-97), On modern Gardening, escrito c. 1770, ed. London, 1771;

William Mason (1725-97), The English Garden, London, 1772-81;

William Chambers (1723-96), Designs of Chinese Buildings, Cap. Of the Art of Laying out Gardens among

the Chinese, London, 1757, e A Dissertation on Oriental Gardening, London, 1772;

William Gilpin (1724-1804), Three Essays: On Picturesque Beauty…, London, 1792; Observations, relative

chiefly to Picturesque Beauty, made in the Year 1772…, id., 1776…, London, 1782 ss..

Langley postula a diversidade entre as partes, e a necessidade de apresentar sempre objectos novos

que entretenham constantemente a vista, e aumentem um prazer de imaginação (always presenting

new Objects, wich is continual Entertainment to the Eye, and raises a Pleasure of Imagination410); a

Irregularity do jardim é concebida em analogia com a dos labirintos, em tudo se opondo a that abomi-

nable Mathematical Regularity and Stiffness411; chega a fazer um imperativo trocadilho, a propósito

da plantação de arvoredos: In the Planting of Groves, you must observe a regular Irregularity412.

Shenstone define o jardim como uma pintura, e afirma que o pintor paisagista é o melhor desenhador

de jardins (the landskip painter is the gardiner’s best designer413); à simetria opõe o ballance dos

pintores, assim como o contraste entre a building e a group of trees, a large oack, or a rising hill414;

tal como Edmund Burke (1729-97)415, propõe o sublime como superior ao belo416; para a beleza e

grandeza de um jardim, o decisivo era a variedade e a simplicidade, chegando a afirmar: Variety is

the principal ingredient in beauty; and simplicity is essential to grandeur417.

Whately considera o jardim paisagista superior à pintura de paisagens (It is as superior to landskip

painting, as a reality to a representation418), dada a tridimensionalidade, o movimento e as condições

cambiantes, como a luz; considera a utilidade compatível com a jardinaria, e advoga o caractère

410 Langley, ob. cit. (1728), Part VI. Of the Situation and Disposition of Gardens in general, Sect. II. Of the

Disposition of Gardens in general, p. 193. 411 Langley, ob. cit. (1728), Part VI. Of the Situation and Disposition of Gardens in general, Sect. II. Of the

Disposition of Gardens in general, p. 193. 412 Langley, ob. cit. (1728), Part VI. Of the Situation and Disposition of Gardens in general, Sect. II. Of the

Disposition of Gardens in general, p. 202. 413 Shenstone, ob. cit. (1764), in Shenstone, W., The Works in Verse and Prose, London, 1764, Vol. II, p. 129. 414 Shenstone, ob. cit. (1764), in Shenstone, W., The Works in Verse and Prose, London, 1764, Vol. II, p. 133. 415 Burke, E., A Philosophical Enquiry into the Origin of our Ideas of the Sublime and Beautiful, London,

1757, reeds. sucessivas. – Ed. em português, Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do

sublime e do belo, trad. de E. Abreu, Campinas, 1993. 416 Shenstone, ob. cit. (1764), in Shenstone, W., The Works in Verse and Prose, London, 1764, Vol. II, p. 129. 417 Shenstone, ob. cit. (1764), in Shenstone, W., The Works in Verse and Prose, London, 1764, Vol. II, p. 147. 418 Whately, ob. cit. (1765, ed. 1770), 2. ed. 1770, Introduction, p. 1.

Page 124: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

124

dos edifícios nos parques-jardins419. Foi dos mais populares tratados de jardinaria desse tempo,

como se comprova pelas múltiplas reedições e traduções.

Walpole vê no jardim inglês expressão da constituição inglesa, enquanto o francês o era do absolu-

tismo; refuta as fórmulas do jardim chinês, considerado como work of caprice and whim420.

Mason, para quem a english simplicity (no princípio do poema nomeada divine SIMPLICITY) era o

renascimento da liberdade grega, advoga que os edifícios se deviam adaptar à paisagem; recomenda

a pintura como guia da jardinagem, e afirma não terem os romanos conhecido os jardins naturais,

invenção dos gregos, embora evoque a possibilidade de, em Inglaterra, if Nature lend / Materials...

/ Produce new TIVOLIS421 (jardim da Villa Adriana, residência de imperadores romanos).

Chambers, para quem, no jardim chinês, Nature is their pattern422, reformula o conceito do Shara-

wadgi, com as beautiful irregularities e variety of scenes, chegando a afirmar dos jardins chineses:

The perfection of their gardens consists in the number, beauty, and diversity of these scenes… Their

artists distinguish three different species of scenes, to which they give the appellations of pleasing,

horrid and enchanted423; postula que nos jardins não se devia apenas imitar a natureza, mas também

corrigi-la, collected from nature the most pleasing objects424; demarca-se do jardim inglês do seu

tempo, e das suas eternal, uniform, undulating lines, are, of all things, the most unnatural, the most

affected, and the most tiresome to purpuse425; assim, concluindo, paradoxalmente, que os Gardens

[deviam]… to be natural, without resemblance to vulgar Nature426.

Finalmente, Gilpin reformula a concepção do picturesque onde confluíam a irregularity e a rough-

ness, assim como a happy union of simplicity and variety, para que contribuiam the rough ideas427.

Este conceito, de roughness (rugosidade ou aspereza) e rough ideas (ideias ou imagens ásperas ou

rugosas), é o aspecto mais rico da sua teorização, apontando para aspectos menos amenos, ou mais

ásperos, da paisagem, e nele parece reflectir-se as experiências e reflexões do autor, tal como as

419 Whately, ob. cit. (1765, ed. 1770), 2. ed. 1770, XLI. Of buildings expressive of characters, p. 123-127. 420 Walpole, ob. cit. (1770), in Walpole, W., Anedoctes of Painting in England, London, 1771, a new ed., rev.

with additional notes by R. N. Wornum, London, 1849, Vol. III, p. 798. 421 Mason, W., The English Garden, London, 1772-81, a new ed. corrected by W. Burgh, London, 1783, p. 4. 422 Chambers, ob. cit. (1757), Cap. Of the Art of Laying out Gardens among the Chinese, p. 15. 423 Chambers, ob. cit. (1757), Cap. Of the Art of Laying out Gardens among the Chinese, p. 15. 424 Chambers, ob. cit. (1757), Cap. Of the Art of Laying out Gardens among the Chinese, p. 15. 425 Chambers, ob. cit. (1772), p. 50 426 Chambers, ob. cit. (1772), p. 94. 427 Gilpin, ob. cit. (1792), p. 28. – A obra por completo, intitula-se: Three Essays: On Picturesque Beauty;

On Picturesque Travel; and on Sketching Landscape: to wich is added a poem, On Landscape Painting.

Page 125: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

125

expressa em Observations, relative chiefly to picturesque beauty, made in the year 1772, idem,

1776, centradas nas montanhas e lagos de Cumberland e Westmoreland, ou High-Lands of Scotland,

ou ainda, Remarks on Forest Scenery other Woodland Views428, obra de 1791. No total, em Gilpin,

considerado o grande teórico da picturesque beauty, observa-se uma nova visão da Natureza, que

devia ser respeitada na sua variety, simplicity, irregularity, roughness, etc., ou seja, na sua realidade

intrínseca, ainda não alterada pela frenética actividade humana, tendente a subvertê-la, submetendo-a

à sua ânsia de dominação. – Os jardins barrocos eram a prova disso, e seria obrigação dos britânicos

criar um outro tipo de jardins, que respeitasse a Natureza, guiando-se pela sua ordem.

Os mencionados conceitos de variety, simplicity, irregularity, roughness, picturesque beauty, são

a pedra de toque da Teoria dos Jardins inglesa, que, a par do culto das ruínas, que assimilou, vai

marcar de um modo decisivo a Teoria da Arquitectura inglesa, como se verá a seguir.

A Teoria da Arquitectura influenciada pelo Romantismo das Ruínas e pela Teoria dos Jardins:

John Wood, the Elder, Batty Langley, Paul Decker:

John Wood, the Elder (1704-53), arquitecto na tradição do paladianismo britânico, o mesmo é

dizer, dentro do vitruvianismo, edita The origin of Building: or, the Plagiarism of the Heathens

detected in Five Books429, 1741, obra singular pela radicalidade e exclusividade com que atribui a

origem arquetípica de todos os princípios da arquitectura ao tabernáculo construído por Moisés no

deserto, vendo no Templo de Salomão o modelo de toda a arquitectura antiga, que se devia seguir,

a par da vitruviana, mas tendo anterioridade e primazia sobre esta, pois como afirma:

as estruturas sagradas dos judeus foram precursoras das mais importantes que produziu a humanidade

durante 4 distintos períodos de aproximadamente 500 anos cada um.

(the Jewish sacred structures were the Forerunners of the most considerable Works the World ever

produced, in 4 different Periods of Time, of about 500 Years in each Period430).

Formula uma História da Arquitectura baseada no Antigo Testamento, a partir de textos de Moisés

e Vitrúvio, deduzindo critérios arquitectónicos de natureza psicológica, que constituiriam a causa

definitiva da arquitectura, e que exprimiriam, Shame, Fear, Pity, Gratitude, and Fidelity; estabelece

uma analogia com a tríade vitruviana, utilitas, firmitas, venustas, que nomeia Convenience, Strength,

and Beauty. Com tudo isto, afasta-se do Vitruvianismo, enveredando por subtilezas e subjectivismos,

que acabam por aproximar a teoria clássica do absurdo.

428 Gilpin, W., Remarks on Forest Scenery other Woodland Views…, London, 1792. 429 Wood, J., the Elder, The origin of Building: or, the Plagiarism of the Heathens detected in Five Books,

London, 1741; ed. facsimile, Farnborough, 1968. 430 Wood, ob. cit. (1741), Chap. XIII. Of the Temple at Jerusalem, as built by Herod the Great, p. 180.

Page 126: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

126

Mas onde a obra de Wood é mais original, e onde mais se detecta o Romantismo das Ruínas, é nas

considerações que tece a propósito das ruínas de Stonehenge, entretanto descobertas, e interpretadas

na obra de William Stukeley (1687-1765), Stonehenge: a Temple Restaur’d to the British Druids431,

1740, onde a sua construção é atribuída aos druídas celtas; John Wood aceita essa interpretação,

mas acaba por ver, também naquelas ruínas, origens judaicas432.

Num escrito sobre as ordens, A Dissertation upon the Orders of Columns433, 1750, intentará conciliar

as duas origens e tradições: a bíblica e a vitruviana-paladiana, mas com uma exegese de rigor, pois

a modos de Fréart de Chambray e Robert Morris, só admite as três ordens gregas proscrevendo all

Compositions that have the least Tendency to vitiate the Orders bearing the Graecian Names434. A

partir da analogia vitruviana árvore-coluna, postula as colunas dóricas como significando árvores

mortas, as coríntias árvores vivas, e as jónicas, estando no meio, um compromisso entre ambas. Mas

mantém a sua anterior postura da origem judaica das ordens, atribuindo a Moisés a sua invenção.

Na sua última obra escrita, An Essay towards a Description of Bath435, 1742, reeds. 1749, 1769,

ensaia uma descrição e justificação para o seu projecto (Bath é a principal obra de arquitectura de

Wood) na base do seu entendimento da História; argumenta que Bath foi a capital dos druídas, logo

também com marcas judaicas, e apresenta o seu plano como inspirado no de Dinócrates para o

Monte Athos (Vitr., II, Praef., 1-4), embora Bath seja uma cidade na planície.

No total, a obra teórica de Wood – cuja obra prática é de matriz paladiana – exprime uma atitude

romântica, de intuitos pouco claros, mas que indiciam a crise do vitruvianismo.

Batty Langley, já referido a propósito da Teoria dos Jardins, exerceu actividade como arquitecto,

empresário de objectos de decoração, professor de desenho de arquitectura, e jardineiro paisagista,

tudo sem grande êxito, talvez por estar à margem do paladianismo dominante. A faceta mais frutuosa

da sua actividade foi a teórica, escrevendo vários livros, entre os quais, The Builder´s Chest-Book436,

1727, onde afecta proximidade do paladianismo, prometendo aos leitores familiarizá-los com:

aquelas belas proporções como foram praticadas por esse grande arquitecto Palladio.

(those beautiful Proportions as were pratics’d by that grand Architect Palladio437)

431 Stukeley, W., Stonehenge: a Temple Restaur’d to the British Druids, London, 1740. 432 Wood, ob. cit. (1741), Chap. X. Of the State of Building in Britain, p. 218-222, em especial, p. 221. 433 Wood, J., the Elder, A Dissertation upon the Orders of Columns, London, 1750. 434 Wood, ob. cit. (1750), p. 13. 435 Wood, J., the Elder, An Essay towards a Description of Bath, London, 1742, reeds. 1749, 1769. 436 Langley, B., The Builder´s Chest-Book, London, 1727. 437 Langley, ob. cit. (1727), The Preface to the Reader, p. I.

Page 127: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

127

A obra, diálogo entre mestre (P.) e discípulo (M.), tem carácter didáctico e manualístico, começando

com: M. What is an Architect?, a que responde: P. A Person Skilful (hábil) in the Art of Building438;

seguindo-se a geometria e matemática básicas, cálculo de preços, explicações de tipo funcionalista, e

as ordens de arquitectura, única parte a merecer ilustrações (2 de grande formato, desenho singelo).

Esta obra terá continuação em The City and Country Builder’s439, 1740, acentuando a componente

manualística (24 págs. de texto para 185 fls. ilustradas apenas no verso), sendo um característico

mostruário de elementos de arquitectura, começando pelas ordens, sua aplicação a portais, janelas,

lareiras, tumbas, urnas e outros monumentos funerários, móveis, serralharias, etc.. Noutra obra, em

que aparece como co-autor seu irmão Thomas Langley, The Builder’s Jewel...440, 1741, apresenta no

frontispiece uma alegoria das ordens em conformidade com a tríade maçónica, Sabedoria, Força,

Beleza, e depois mais uma vez as ordens, juntando-lhes The Builder’s Dictionary...441, como o título

indica, um dicionário dos vocábulos usados in architecture, em especial, os referente às ordens.

No mesmo ano, 1741, publicará Ancient Architecture, Restored and Improved by a Great Variety of

Grand and Useful Designs, entirely new, in the Gothick Mode, for the Ornamenting of Building and

Gardens, que a partir da segunda edição, 1742, passa a intitular-se somente Gothick Architecture,

Improved by Rules and Proportions442. Com esta obra o gótico, cuja reavaliação, no continente, já

decorria desde as obras de Lobkowitz (Espanha), Guarini (Itália), e Cordemoy (França), atinge a

Grã-Bretanha, onde a arquitectura gótica tinha grande presença e das mais conseguidas realizações.

Todavia, a obra é decepcionante, pois Langley pouco mais faz do que aplicar à interpretação do

gótico os critérios vitruvianos para as ordens clássicas e as proporções, de acordo com os quais

afirma que a arquitectura gótica supera até a grega, e insinuando assim que os ingleses seriam os

herdeiros dos gregos – uma teoria histórica em voga nesse tempo – De acordo com estas premissas

chega a imaginar ter descoberto, através de medições, the Rules by wich the Ancient Buildings in

this Kingdom were erected and adorned443, e a postular a Arquitectura Gótica como verdadeiro

estilo nacional (dos ingleses), e rectificação da Antiguidade.

438 Langley, ob. cit. (1727), The Preface to the Reader, p. I. – Na sequência do diálogo é dito: P. The Art of

Building dwelling Houses, commodious Habitations, Publick Edifices, &c. (p. 2). 439 Langley, B., The City and Country Builder’s, London, 1740. 440 Langley, B. and Langley, Th., The Builder’s Jewel; Or the Youth’s Instructor, and Workman’s Remen-

brancer…, London, 1741. 441 Langley, B., and Langley, Th., The Builder’s Dictionary..., in Langley and Langley, ob. cit. (1741), p. 35-62. 442 Langley, B., and Langley, Th., Ancient Architecture, Restored and Improved by a Great Variety of Grand

and Useful Designs, entirely new, in the Gothick Mode, for the Ornamenting of Building and Gardens, Lon-

don, 1741; depois, na 2. ed., Gothick Architecture, Improved by Rules and Proportions, London, 1742. 443 Langley and Langley, ob. cit. (1741, 2. ed. 1742), An Historical Dissertation on Gothic Architecture, p. 1.

Page 128: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

128

Apresenta, em excelentes desenhos, cinco ordens góticas, análogas às clássicas, assim uma espécie

de dórica-gótica, jónica-gótica, etc., mas que não são mais que uma mistura estranha de elementos

das ordens clássicas com os das colunas góticas, resultando num produto híbrido, prontamente

apelidado de Batty-Langley-Manner, e de bastard gothic (Walpole). Kenneth Clark no seu notável

estudo The Gothic Revival, 1928, classifica-o de gótico-rococó.

No total, as obras de Batty Langley, assim como as de John Wood, the Elder, ou as de Paul Decker,

Gothic Architecture Decorated444, e Chinese Architeture, Civil and Ornamental445, ambas de 1759,

e que constam apenas de desenhos à maneira gótica ou chinesa, mostram que o Vitruvianismo e o

Classicismo estavam a perder força, a favor de outro tipo de expressões, encaminhando-se a Teoria

e a Prática arquitectónicas para o Eclectismo do Séc. XIX, um estilo que admitia todos os estilos.

Da redescoberta do Gótico à formação do Neogótico: Walpole, Hogarth, Reynolds:

A redescoberta do gótico, assinalada nas obras de Langley e Decker, rapidamente se irá reflectir

numa série de autores, entre os quais é de salientar Horace Walpole (1717-97), a quem se deve a

criação da novela neogótica, com génese na sua novela The Castle of Otranto446, 1764, que descreve

um drama lúgubre num cenário de Idade Média: o castelo, as suas caves e subterrâneos, a cripta, por

fim, um cemitério, onde a acção atinge o paroxismo, com o pai, por equívoco, a apunhalar a filha...

Walpole, um aristocrata liberal, em meados do século resolve afastar-se da vida social e política,

empreendendo a construção de uma villa, Strawberry Hill em Twickenham, que seria o seu refúgio,

e concreção das suas ideias estéticas e arquitectónicas. Desde o início, Walpole procurou distanciar-

se do paladianismo, pois achava que as ordens e a arquitectura de molde clássico se deviam usar

somente em edifícios públicos (ideia que remonta a Plínio). Assim, à sua dissidência político-social

somar-se-ia uma análoga dissidência cultural, que o leva a rejeitar o paladianismo, dominante entre

os liberais, e a procurar estilísticas alternativas, como o chinês, o gótico, e a dos jardins, então em

fase de afirmação. – Do “estilo” chinês, a que associa tudo o que era assimétrico, dirá:

Entusiasma-me o Sharawaggi, ou a ausência de simetria no chinês, seja nos edifícios, nos solares ou

em jardins (I am almost fond of the Sharawaggi, or Chinese want of symmetrie, in Buldings, as in

ground or gardens447).

444 Decker, P., Gothic Architecture Decorated, London, 1759; ed. facsimile Farnborough, 1968. 445 Decker, P., Chinese Architecture, Civil and Ornamental, London, 1759; ed. facsimile Farnborough, 1968. 446 Walpole, H., The Castle of Otranto, London, 1764. – Ed. portuguesa, O Castelo de Otranto, trad. do poeta

Manuel João Gomes, Lisboa, 1978. 447 Walpole, H., «To Sir Horace Mann, Strawberry Hill, Feb. 25, 1750», in The Letters of Horace Walpole,

Fourth Earl of Orford, ed. by P. Cunningham, Edinburgh, 1906, Vol. II, p. 193-98, citação, p. 198.

Page 129: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

129

No entanto, o “estilo” preferido viria a ser o gótico, que era o mais disponível, e mais de acordo

com sua nostalgia de uma Inglaterra ancestral, ainda não abalada pela Revolução Industrial. Em

conformidade com essa preferência pela Idade Média e o Gótico a edificação dispôs-se de um

modo orgânico, adaptando-se ao terreno, evitando qualquer forma de simetria, e mimetizando as

formas da arquitectura e da edificação gótica, quer no exterior quer no interior, por vezes recorrendo

a imitações de gesso (material quase não usado na Idade Média).

Walpole em A Description of the Villa... at Strawberry Hill near Twickeman448, 1774, reed. 1784,

descreve a obra como projecção de my own taste, e do desejo de in some degree to realize my own

visions; também se lhe refere como small capricious house e fantastic fabric, e como sendo strictly

ancient... the designs of the inside and outside449, embora reconheça:

Na verdade, eu não queria fazer a minha casa tão gótica, que tivesse de excluir a conveniência e os

modernos refinamentos do luxo (In truth, I did not mean to make my house so Gothic as to exclude

convenience, and modern refinements in luxury450).

A obra foi realizada com grande empenho, tendo-se constituído um Committee of Taste, para a

acompanhar, fiscalizando a sua realização. Foi considerada uma obra-bandeira, de ruptura com o

Classicismo paladiano e, concomitantemente, com o Vitruvianismo, vindo a ser reconhecida como a

primeira grande, e perfeitamente intencional, obra do Neogótico, perseguido em todos os aspectos,

intentando a unidade própria de um estilo. No entanto, a falsificação de materiais, como o gesso,

alguns caprichos formais, e um certo ambiente de bric-a-brac, tendem a desqualificá-la, remetendo-a

para o âmbito do eclectismo extravagante, senão mesmo do kitsch, ambos já a gizarem-se.

A fuga aos princípios de regularidade e uniformidade do classicismo acentuara-se com William

Hogarth (1697-1764), pintor que interpretou a pintura de costumes segundo critérios inovadores,

que em Analysis of Beauty451, 1753, explana o conceito da Line of Beauty, canon central de todas as

formas belas, e que seria uma linha em forma de “S”, mais larga no meio, que se podia inscrever

num prisma piramidal com as suas mesmas dimensões. Os critérios estéticos básicos, para Hogarth,

tinham a ver com Adequação, Variedade (Variety, divisa da portada do seu livro), Complexidade,

Quantidade, Linha Ondulante e Linha Serpentina, refutando a regularidade e simetria como causas

principais da beleza, só as aceitando quando se justificavam por uma questão de adequação, que é

um dos seus critérios principais, e a propósito do qual afirma:

448 Walpole, H., A Description of the Villa... at Strawberry Hill near Twickeman, London, 1774, reed. 1784. 449 Walpole, ob. cit. (1774, reed. 1784), p. III. 450 Walpole, ob. cit. (1774, reed. 1784), p. III. 451 Hogarth, W., Analysis of Beauty, London, 1753. – Usou-se ed. espanhola, Análisis de la Belleza, traduc-

ción, prólogo y notas por M. Cereceda, Madrid, 1997.

Page 130: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

130

A adequação das partes ao fim para que cada coisa individual foi criada, seja pela arte ou pela natureza,

deve ser considerada em primeiro lugar como algo da maior importância para a beleza do conjunto452.

Com isto revela-se porta-voz de um funcionalismo arquitectónico exacerbado, que põe em causa a

simetria, não só como critério estético geral, visando as proporções, mas também como princípio da

composição em arquitectura, tal como fora proposto por Perrault, dando assim mais uma machadada

no vitruvianismo. Para Hogarth, também na composição arquitectónica devia imperar a Variety, a

que outorga estatuto de lei arquitectónica. – A conexão destes conceitos, adequação, linha ondulada,

linha serpentina, variety, complexidade, etc., com os da Teoria dos Jardins, do “estilo” Chinês, e do

Neogótico julga-se de tal modo evidente que dispensa desenvolvimento extensivo.

O conceito de variety, como princípio da composição arquitectónica, e em oposição ao de uniformity,

irá observar-se também em Joshua Reynolds (1723-92), Discourses on Art, 1769-90, Discourse

XIII, December, 11, 1786453, onde expressa críticas à planificação urbanística regular e uniforme,

tomando como exemplo o plano seiscentista para Londres, da autoria de Christopher Wren, que

considera pouco atraente (rather unpleasing), e adiantando:

a uniformidade produzirá um certo esgotamento e um ligeiro grau de desgosto.

(the uniformity might have produced wearines, and a slight degree of disgust454).

Mas não é só a variety que contrapõe à regularidade, também chama a atenção para o acidental

(accident) na arquitectura, pelos efeitos estéticos imprevistos que ocasionava. Em relação ao gótico,

julga descobrir na obra barroca de John Vanbrugh (1664-1728) elementos característicos desse estilo,

estabelecendo conexão entre Barroco e Gótico, ambos formas estilísticas afastadas do Classicismo

Paladiano, e assim pondo-o em causa, tal como ao vitruvianismo, seu suporte doutrinário.

William Halfpenny, entre Clássico, Gótico, e Chinês: Teoria e Prática for all seasons, ou um

característico ecléctico:

Em meados do Séc. XVIII a curiosidade pelo gótico e o gosto chinês chegam à tratadística através

de William Halfpenny († 1755), arquitecto oriundo do meio artesanal, de formação clássica, dentro

do paladianismo em voga, que após editar vários livros, tipo manual, sobre os diversos aspectos da

452 Hogarth, ob. cit. (1753, ed. 1997), p. 45. 453 Reynolds, J., Discourses on Art, 1769-90, ed. whit notes and an historical and biographical introd. by E.

G. Johnson, Chicago, 1891, Discourse XIII. Art not merely imitation, but under the direction of the imagina-

tion – In what manner Poetry, Painting, Acting, Gardening, and Architecture depart from Nature, December,

11, 1786, p. 305-326. 454 Reynolds, ob. cit. (1786, ed. 1891), p. 324.

Page 131: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

131

arquitectura e da construção, publica duas obras sobre arquitectura chinesa, New Designs for Chinese

Temples455, 1750-52, e Rural Architecture in the Chinese Taste456, 1750-52, outro sobre arquitectura

gótica, Rural Architecture in the Gothic Taste457, 1752, e um outro misto, Chinese and Gothic Archi-

tecture properly Ornamented458, 1752, tudo obras de pequeno formato, acessíveis a vários tipos de

bolsas, muitas vezes reeditadas, e que constam quase só de desenhos, mostrando construções estru-

turadas de modo simples, à maneira clássica, sendo o gótico e o chinês mera ornamentação.

Noutra obra, The Country Gentleman’s Pocket Companion and Builders Assistant for Rural Deco-

rative Architecture... in the Augustine [?], Gothic and Chinese Taste459, 1753, apresenta vários (the

variety, allways) desenhos de Chinese Temple’s, Indian Temple’s, Gothic Hutt’s, Gothic Temple’s,

Modern Summer House’s, e no fim alguns modelos de Chinese Pleasures Float’s e Boat’s. – Mas

fica-se sem saber o que seja o Augustine Taste.

William Chambers: Charneira entre Moda Chinesa, Teoria dos Jardins, e Parte Decorativa

da Arquitectura Civil:

Todas as novas tendências gizadas durante a primeira metade do século se irão afirmar na obra

teórica de William Chambers (1723-96), que começa com Designs of Chinese Buildings460, 1757,

prossegue com A Treatise on Civil Architecture, 1759, modificado no título, a partir da 3.ª ed., A

Treatise on the Decorative Part of Civil Architecture461, 1791, depois, Plans, Elevations, Sections,

and Perspective Views of the Gardens and Buildings of Kew in Surrey462, 1763, e fina-se com A

Dissertation on Oriental Gardening, 1772, obra já referida a propósito da Teoria dos Jardins.

A primeira destas obras é, como o título indica, um amplo mostruário de desenhos de edifícios de

tipo chinês, acompanhados de texto comentador, onde afirma reconhecer a originalidade artística

dos chineses, embora a arquitectura europeia antiga e moderna lhe fosse superior; desejava acabar

455 Halfpenny, W., New Designs for Chinese Temples, London, 1750-52. 456 Halfpenny, W., Rural Architecture in the Chinese Taste, London, 1750-52. 457 Halfpenny, W., Rural Architecture in the Gothic Taste, London, 1752. 458 Halfpenny, W., Chinese and Gothic Architecture properly Ornamented, London, 1752. 459 Halfpenny, W., The Country Gentleman’s Pocket Companion and Builders Assistant for Rural Decorative

Architecture... in the Augustine [?], Gothic and Chinese Taste, London, 1753. 460 Chambers, W., Designs of Chinese Buildings, London, 1757. 461 Chambers, W., A Treatise on Civil Architecture, 1759, a partir da 3.ª ed., A Treatise on the Decorative

Part of Civil Architecture, London, 1791. – Ed. facsimile, with introd. by J. Harris, Farnoborough, 1969. 462 Chambers, W., Plans, Elevations, Sections, and Perspective Views of the Gardens and Buildings of Kew

in Surrey, London, 1763.

Page 132: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

132

com the extravagancies that daily appear under the name of Chinese463, pondo à disposição do

público os seus desenhos, feitos por motivos de curiosidade pessoal. A arquitectura chinesa era

inadequada para a Europa, quer por questões climáticas, quer por revelar um gosto inferior ao da

Antiguidade, embora em grandes jardins, exigindo variety of scenes, o Chinese taste fosse possível,

desde que aplicado a obras arquitectónicas subordinadas, dando como exemplo, a Villa Adriana de

Tivoli, onde se aplicara the manner of the Egyptians and of other nations.464 Chambers obtivera o

encargo para projectar o jardim de Kew, onde ensaia estas ideias, caracterizando-o como um jardim

exótico, bastante marcado pela arquitectura chinesa, que não podia ser matéria de indiferença a um

verdadeiro amante das artes (cannot be a matter of indifference to a true lover of the arts465), tanto

mais que haveria remarkable affinity entre a arquitectura chinesa e a da Antiguidade, que tinha a

ver com a piramidização dos volumes e o emprego e proporções das colunas, cuja relação entre

diâmetro e altura do fuste flutuaria entre oito e doze diâmetros, consoante os seis tipos identificados.

As descrições e ilustrações de Chambers sobre a habitação chinesa, seus móveis e utensílios, barcos,

caracteres, e trajes, que ocupam as lâminas XIII a XXI, foram as primeiras, divulgadas na Europa,

admitindo-se que bastante contribuiram para a moda da chinoiserie, tão menosprezada depois.

Quanto aos jardins chineses, nas suas descrições, intentando definir o Sharawadgi, usa expressões

como beautiful irregularities e variety of scenes, com que os chineses tentariam imitar a natureza, e

as categorias de pleasing, horrid and enchanted, como valores emocionais provocados por esses

jardins. Estas expressões e categorias serão usadas mais tarde em Dissertation on Oriental Gardens,

1772, como já se viu. – As ruínas disseminadas pelos parques chineses, igualmente são referidas,

como indutoras de emoções e sentimentos acima da beleza, logo aproximando-se do sublime, nisso

tendo similitude com a já referida obra de Edmund Burke, A Philosophical Enquiry into the Origin

of Our Ideas of the Sublime and Beautiful, publicado nesse mesmo ano, 1757.

No desenrolar do seu pensamento, expresso noutras obras, Chambers acerca-se de uma concepção

eudemonística da arquitectura ao afirmar que contribuía para a felicidade da humanidade, além de as

grandes obras públicas atraírem o turismo, como em Roma, podendo a arte com uma administração

extraordinariamente boa, ser um tesouro inesgotável (by some extraordinary good management,

there is a treasure never to be exhausted466), e também, devido aos materials in architecture, are

like words in phraseology467, poder contribuir para a fama de um indivíduo e de uma nação.

463 Chambers, ob. cit. (1757), Preface, p. a. 464 Chambers, ob. cit. (1757), Preface, p. av. 465 Chambers, ob. cit. (1757), Preface, p. av. 466 Chambers, ob. cit. (1759, 3. ed. 1791), Preface, p. II. 467 Chambers, ob. cit. (1759, 3. ed. 1791), Preface, p. Chambers, ob. cit. (1759, 3. ed. 1791), Preface, p. III.

Page 133: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

133

Afirma dirigir-se somente a persons of high rank, and large fortune; the fit encouragers of elegan-

ce468; nos seus projectos públicos visa a simplicidade, ordem, carácter, beleza e, assim, determinar

standards of imitation e true taste; a propósito da origem e progresso da edificação explana uma

visão larga da história, demarcando-se de Vitrúvio que atribue quase toda a invenção nesta arte

aos gregos (ascribes almost every invention in that art to the Greeks469) chamando a atenção para a

arte dos egípcios e babilónios, ainda que esta expressasse mais poder e riqueza que habilidade e

gosto; atribue aos egípcios a invenção das colunas, bases, capitéis e entablamentos, que teriam

transmitido aos gregos, tomando o partido romano na polémica do tempo entre partidários de Roma e

da Grécia. Sobre as Ordens é convencional, cingindo-se a Vignola, defendendo uma ornamentação

sem excessos, feita com os próprios materiais da construção, não acrescentando corpos estranhos.

Também o Gótico é revalorizado, devido à excelência construtiva, o que denota influências de

Cordemoy e Laugier, e por motivos nacionais, fazendo parte de the riches of Britain.

No total, a sua teoria é incompleta: denotam-se influências do sensualismo de Edmund Burke, mas

o empirismo e o pragmatismo, adversos a qualquer sistema, acabam por dominar.

Chambers publica ainda, 1763, a obra referida no início sobre o jardim exótico projectado a partir

de 1757; o tratado sobre jardinagem oriental, 1772, e deixou uma série de manuscritos, intitulados

Materials for a History of Gothic Architecture in England and its Origins470, com que pretenderia

dar a conhecer ao público as origens e a história dessa forma de arquitectura, e mostrar aqueles

edifícios que considera fazerem parte de as riquezas da Bretanha (the riches of Britain471).

Persistência e Continuidade do Paladianismo: Ware, Adam’s, e outros:

Em paralelo às tendências teóricas assinaladas assiste-se à persistência e continuidade do Paladia-

nismo, o mesmo é dizer, que do Classicismo e do Vitruvianismo, seu suporte doutrinário, que neste

período, segunda metade do Séc. XVIII, parece rejuvesnecer.

Esse fenómeno observa-se na obra de Isaac Ware (1704-66), A Complete Body of Architecture472,

1756, surgido na sequência da publicação de The Four Books of Architecture by Andrea Palladio473,

468 Chambers, ob. cit. (1759, 3. ed. 1791), Preface, p. IV. 469 Chambers, ob. cit. (1759, 3. ed. 1791), Of the Origin and Progress of Building, p. 17. 470 Chambers, W., Materials for a History of Gothic Architecture in England and its Origins, conjunto de

manuscritos depositados no RIBA (Royal Institut British Architects). – Ver, J. Harris, ed. 1969, p. 128, nota 2. 471 Chambers, ob. cit. (1759, 3. ed. 1791), Of the Origin and Progress of Building, p. 24. 472 Ware, I., A Complete Body of Architecture, London, 1756, 2 vols., reeds. 1757, c. 1758-60, e 1768. – Ed.

facsimile (ed. 1768), s.l., s.d., UMI (prints on demand), 2 vols.; id., Farnborough, 1971, 2 vols.. 473 Ware, I., The Four Books of Architecture by Andrea Palladio, London, 1738.

Page 134: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

134

1738, e Designs of Inigo Jones474, 1743, onde tinha começado por dar conta da sua assimilação do

paladianismo, e também prestando homenagem ao pioneiro do paladianismo britânico: Inigo Jones.

A Complete Body of Architecture é considerado a suma do paladianismo, sendo uma obra volumosa,

de teor enciclopédico, que pretende tratar toda a ciência da arquitectura, desde os seus primeiros

rudimentos até à sua última perfeição (the whole science of architecture, from the first Rudiments

to its utmost perfection475), tornando desnecessário o estudo da literatura antecedente, pois teria

incorporado tudo o que merecia ser conhecido nesta obra, definitiva, e onde começa por definir

uma concepção funcionalista da arquitectura, afirmando:

a arte da construção não pode ser tão mais grandiosa que útil, nem a sua dignidade mais admirada

que a sua conveniência (the art of building cannot be more grand than it is useful; not its dignity a

greater praise than its convenience476).

A obra estrutura-se em dez livros, à maneira de Vitrúvio, Alberti, Scamozzi, vincando bem as suas

pretensões de corpo completo da arquitectura, ou da sua teoria. De início, um dicionário de termos

da arquitectura, com definições concisas mas certeiras; depois os materiais, expressando o desejo

barbariano-paladiano477, que the form triumph over the materials; segue-se as Ordens, consideradas

not essential parts of architecure, podendo realizar-se arquitectura de qualidade sem elas, embora

as proporções fossem o essencial, ainda que sendo arbitrárias (Perrault). Para mais, como Fréart,

apenas seriam autênticas as três Ordens de origem grega, Dórica, Jónica, e Coríntia. A influência

dos teóricos franceses continuará a sentir-se quando define as colunas, como imitação dos troncos

de árvore (à maneira de Laugier), e como estas não têm estrias, pronuncia-se por colunas lisas, de

great simplicity, sendo as estrias a false ornament; de resto, afirmará:

The simple and the natural is the proper path to beauty478.

E esta pode ser a divisa de Ware, a que tudo o mais será subordinado.

Robert Adam (1728-92) e James Adam (1730-94), irmãos, foram os principais representantes do

Neoclassicismo orientado para a Grécia em Inglaterra, apesar de ser a um deles, Robert, que se

deve a publicação de Ruins of the Palace of the Emperor Diocletian at Dalmatia479, 1764, obra que

474 Ware, I., Designs of Inigo Jones, London, 1743. 475 Ware, ob. cit. (1757, reed. 1768), Preface, p. 476 Ware, ob. cit. (1757, reed. 1768), p. 40. 477

Ver, Simões Ferreira, J. M., Recepção de Vitrúvio e Formação da Teoria da Arquitectura da Idade Moderna

(Sécs. XV-XVI), 4. Edições e Traduções do De Architectura em Itália, Lisboa, 2011, p. . – Esta publicação

resultou do anterior Curso Livre, Abril-Maio 2011, edição do autor em colaboração com o IHA-CI-FLUL. 478 Ware, ob. cit. (1757, reed. 1768), p. 137. 479 Adam, R., Ruins of the Palace of the Emperor Dioclectian at Dalmatia, London, 1764.

Page 135: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

135

celebra a urbanística e a arquitectura dos romanos (o palácio está organizado como uma pequena

cidade), e onde se encontram expressas as observações e as prescrições seguintes:

Os edifícios dos antigos são para a arquitectura o que as obras da natureza são com respeito às outras

artes; eles servem como modelos que deveríamos imitar, e como padrões pelos quais deveríamos julgar.

(The buildings of the Ancients are in Architecture, what the works of Nature are with respect to the other

Arts; they serve as modells wich we should imitate, and as standards by wich we ought to judge480).

Isto só por si valeria ser aprofundado, mas não é esta a obra que interessa aos fins desta exposição,

e sim a que realizaram em conjunto, The Works in Architecture481, 1773, a qual basicamente trata

de mostrar os seus próprios projectos de arquitectura, com que pretendiam contribuir para the rise

and progress of architecture in Great Britain (e fazer uma certa propaganda do seu atelier, claro).

A obra caracteriza-se como um mostruário, mas não deixa de apresentar um texto desenvolvendo

conceitos, entre os quais se distingue o de variety of movement, que tem a ver com escalonamento

dos volumes arquitectónicos, na vertical, e diferenciação de planos, na horizontal, de acordo com

os efeitos de percepção a uma certa distância, tudo tendo em vista the picturesque of the composition,

uma categoria estética oriunda da pintura e da arte dos jardins, e teorias respectivas. Os desenhos

apresentados são característicos do Neoclassicismo de feição grega, mas as suas premissas teóricas

apontam para um compromisso entre gregos e romanos, que se exprime na alegoria da anteportada

da obra: um estudante de arquitectura, guiado pela Geometria, a quem Minerva (Pallas Athena ou

Palladio, em grego), com um dedo aponta para a Grécia, e com outro para Roma.

Esta publicação, bem como a obra prática dos irmãos Adam deu origem ao que veio a designar-se de

Adam style, objecto de inúmeras publicações tipo mostruário, feitas por epígonos do paladianismo,

entre os quais é de considerar, James Paine (1717-89), Plans, Elevations and Sections of Noblemen

and Gentleman Houses482, 1767-83; William Pain (1730-90), The British Palladio483, 1786, e meia

dúzia de obras congéneres; e George Richardson (1737-1813), Treatise of the Five Orders of Archi-

tecture484, 1787, e New Designs in Architecture485, 1792. Este último continuará a obra de Campbell,

publicando The New Vitruvius Britannicus486, 1802, 1808, 2 vols., com que se considera encerrado o

vitruvianismo teórico na Grã-Bretanha, embora o prático tenha resistido pelos Sécs. XIX e XX.

480 Adam, ob. cit. (1764), Introduction, p. 1. 481 Adam, R., and Adam, J., The Works in Architecture, London, 1773. 482 Paine, J., Plans, Elevations and Sections of Noblemen and Gentleman Houses, London, 1767-83. 483 Pain, W., The British Palladio, London, 1786. 484 Richardson, G., Treatise of the Five Orders of Architecture, London, 1787. 485 Richardson, G., New Designs in Architecture, London, 1792. 486 Richardson, G., The New Vitruvius Britannicus486, 1802, 1808, London, 2 vols..

Page 136: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

136

O despontar de uma Arquitectura para Trabalhadores:

John Wood (1728-81), que não se deve confundir com John Wood, the Elder, publica A Series of

Plans for Cottages and Habitations of the Labourer487, 1781, obra tratando exclusivamente de habita-

ções para a classe trabalhadora. – Classe que fora excluída do domínio da Teoria da Arquitectura

desde Filarete, que a designa de poveraglia, com o argumento de perchè non v’entra troppa spesa,

neanche magistero488. – É uma obra verdadeiramente pioneira, a de Wood, e bem dentro do que de

melhor the Enleightenment produziu. O autor diz ter considerado o ruinous state of the cottages of

this kingdom, e, desassombradamente, afirma:

as habitações deste útil e necessário grupo de indivíduos, os TRABALHADORES, resultam na sua

maior parte ofensivas tanto à decência como à humanidade.

(the habitations of that useful and necessary rank of men, the Labourers, were become for the most

part offensive both to decency and humanity489).

Wood, para a realização do trabalho, estudou as condições locais, procedendo a inquéritos, ouvindo

as queixas, as necessidades, e as sugestões, pois considera:

que nenhum arquitecto pode conceber um projecto adequado, salvo se ele mesmo se põe idealmente

na situação da pessoa para quem projecta.

(that no architect can form a convenient plan, unless he ideally places in the situation of the person

for whom he designs490).

Depois, estabelece um conjunto de SEVEN following principles, on wich all cottages should be

built. – E esses princípios seriam: DRY and HEALTHY; WARM, CHEERFUL, and CONFORTABLE;

CONVENIENT... OECONOMY; e por último, A PIECE OF GROUND for a garden should be allot-

ted to every cottage...491 Obedecendo a esses princípios apresenta um conjunto de 28 desenhos com

habitações de four classes or degrees: First, cottages with ONE room; Secondly, cottages with TWO

rooms; Thirdly, cottages with THREE rooms; Fourthly, cottages with FOUR rooms...492

E é tudo! – Antes, na Introduction, considerara que a sua tarefa se justificava, pois não haveria mais

que uma diferença gradual entre o plano da mais simples cabana e o do mais soberbo palácio;

pois, um palácio não é mais que uma cottage MELHORADA (the regular gradation between the

487 Wood, J., A Series of Plans for Cottages and Habitations of the Labourer, London, 1781, reed. 1806. 488

Filarete, A. A. detto il, Trattato di Architettura, esc. 1461-64, trascrizione a cura di A. M. Finoli e L. Grassi,

introd. e note di L. Grassi, Milano, 1972, 2 vols.. – Passagem referida, Vol. I, L, II, p. 52. 489 Wood, ob. cit. (1781, ed. 1806), Introduction, p. 3. 490 Wood, ob. cit. (1781, ed. 1806), Introduction, p. 3. 491 Wood, ob. cit. (1781, ed. 1806), Introduction, p. 4-7. 492 Wood, ob. cit. (1781, ed. 1806), Introduction, p. 7.

Page 137: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

137

plan of the most simple hut and that of the most superb palace; that a palace is nothing more than a

cottage IMPROVED493). – Assim, todos tinham direito à Arquitectura e, mais que isso, Direito a uma

Habitação Decente, ou seja, Seca, Saudável, Quente, Alegre, Confortável, Decente, e com Jardim.

Pouco se sabe acerca da recepção desta obra – que parece ressoar em John Soane e em Ch. Th.

Middleton –, apenas que foi objecto de A New Edition em 1806, ou seja, 25 anos depois da editio

princeps. Do autor também pouco se sabe, não tendo registo em nenhuma História da Arquitectura

(excepção para o Dictionary, de Curl). Todavia, sabe-se que a habitação for labourers viria a ser

uma das preocupações da arquitectura e da sua teoria, a partir de meados do Séc. XIX.

Um Teórico essencialmente Prático na transição Séc. XVIII-XIX: John Soane:

John Soane (1753-1837), arquitecto notável, publica Designs in Architecture consisting of Plans,

Elevations and Sections for Temples, Baths, Cassines, Pavillons, Garden-Seats, Obelisks, and other

Buildings494, 1778; dez anos depois, Plans, Elevations and Sections of Buildings, Executed in the

Counties of Norfolk, Suffolk, etc.495, 1788, e ainda, Sketches in Architecture Containing Plans and

Elevations of Cottages, Villas and other Useful Buildings496, 1793. – Todos se caracterizam como

mostruários de desenhos de arquitectura, os dois últimos concentrados na sua própria obra. No texto

de introdução à primeira destas últimas obras, define-se a sua visão da arquitectura, a partir de uma

interpretação do ornamento, que deveria ser simples, regular, nitído, indicador da função do edifício

e destacando o seu carácter; além disso, a utility in the plans seria o mais importante, devendo-se:

unir conveniência e conforto na distribuição interior e simplicidade e uniformidade no exterior (to unite

convenience and comfort in the interior distributions, and simplicity and uniformity in the exterior497).

Acusa a recepção de John Wood, dedicando, em a smaler scale, uma parte consisting of cottages

for the laborius and industrious part of the community498. – A recepção do picturesque, tal como se

vinha a explanar na Teoria dos Jardins, igualmente se faz assinalar.

De resto, é também a recepção do picturesque que marca as obras de Charles Thomas Middleton

(1756-1818), Picturesque and Architectural Views for Cottages, Farmhouses and Country Villas499,

493 Wood, ob. cit. (1781, ed. 1806), Introduction, p. 3. 494 Soane, J., Designs in Architecture consisting of Plans, Elevations and Sections for Temples, Baths, Cassi-

nes, Pavillons, Garden-Seats, Obelisks, and other Buildings, London, 1778. 495 Soane, J., Plans, Elevations and Sections of Buildings, Executed in the Counties of…, London, 1788. 496 Soane, J., Sketches in Architecture Containing Plans and Elevations of Cottages, Villas…, London, 1793. 497 Soane, ob. cit. (1788), p. 11. 498 Soane, ob. cit. (1788), Introduction. 499 Middleton, Ch. Th., Picturesque and Architectural Views for Cottages, Farmhouses and…, London, 1795.

Page 138: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

138

1795, e The Architect and Builder’s Miscellany, on Pocket Library; Containing Original Picturesque

Designs in Architecture, &c.500, 1799, ambas enfatizando a relação entre picturesque e arquitectura.

Com os autores referidos encerra-se este período da Teoria da Arquitectura em Inglaterra, ou melhor,

na Grã-Bretanha, em que a par do Paladianismo e Vitruvianismo dominantes, se assistiu à emergência

de toda uma série de formulações teóricas e culturais, como o Romantismo das Ruínas, Poesia Tumu-

lar, Teoria dos Jardins, Moda Chinesa, Neogótico, etc., que convergiram na Teoria da Arquitectura

e a terão influenciado, preparando o terreno para o Eclectismo do(s) século(s) seguinte(s).

Dyer, Ruins of Rome, 1740; Shenstone, The Leasowes, ed. 1764; Stukeley, Stonehenge, 1740

Wood, A Description of Bath, 1742; Langley, Builder’s Jewel, 1741; Hogarth, The Analysis of Beauty, 1753

500 Middleton, Ch. Th., The Architect and Builder’s Miscellany, on Pocket Library; Containing Original

Picturesque Designs in Architecture, &c., London, 1799.

Page 139: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

139

Chambers, Designs of Chinese Buildings, 1757; Halfpenny, The Country Gentleman’s, 1753

Ware, The Four Books of Andrea Palladio, trad., 1738; id., A Complete Body of Architecture, 1756

Chambers, Pagode Chinês nos Jardins de Kew

Page 140: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

140

Walpole, Strawberry-Hill, c. 1750; Halfpenny, Blak Castle Public House, e Coopers Hall, Bristol, c. 1750

Chambers, Somerset House, London; id., Ruína com urna e estátua num nicho nos Jardins de Kew

Ware, Clifton Hill House, c. 1760; Adam’s, Edinburgh City Chambers

Soane, Royal Hospital, Chelsea, London; id., Bank of England, London

Page 141: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

141

8. Resumo (In)conclusivo: Desenvolvimento, Declínio, e Persistência do Vitruvianismo, ou

vicissitudes da Teoria da Arquitectura da Idade Moderna.

Vitruve ne nous a proprement appris que ce qui se pratiquoit de son tems; & quoiqu’il lui échappe des

lueurs qui annoncent un génie capable de´pénétrer dans les vrais mysteres de son art, il ne s’attache point

à déchirer le voile qui les couvre, & s’éloignant toûjours des abysmes de la théorie, il nous mene par des

chemins de pratique, qui plus d’une fois nous égarent du but. Tous les modernes, à l’exception de M.

De Cordemoy, ne font que commenter Vitruve, & le suivent avec confiance dans tous ses égaremens.

Laugier, Essai sur l’architecture, 1753, 2e ed. 1755.

Em que consiste o Vitruvianismo, sua génese e expansão:

toute la théorie de l’architecture, de la Renaissance jusqu’au néoclassicisme, représente une confronta-

tion continue au texte de Vitruve: ainsi parle-t-on souvent de la théorie vitruvienne à l’âge moderne ou,

plus simplement, de Vitruvianisme.

German, G., Einführung in die Geschichte der Architekturtheorie, Darmstadt, 1980; ed. suíça, Vitruve

et le Vitruvianisme. Introduction à l’Histoire de la Théorie Architecturale, Lausanne, 1987.

O Vitruvianismo, doutrina da arquitectura da Idade Moderna, inspirada em Vitrúvio, que teve a sua

génese e primeiros desenvolvimentos na Península Italiana, no período do Renascimento, começara

a expandir-se para a França e a Península Ibérica nas primeiras décadas do Séc. XVI e, a partir de

meados desse século, chegara à Europa do Centro e do Norte, incluindo a Inglaterra.

Nos Sécs. XVII e XVIII, balizas temporais desta exposição, o Vitruvianismo torna-se dominante

em todos esses espaços geo-culturais, além de ter continuado o seu desenvolvimento em Itália,

podendo considerar-se o correlato teórico da Arquitectura Maneirista, Barroca, do Classicismo

Paladiano, do Classicisme francês, e depois, do Rococó, e do Neoclassicismo.

As características essenciais do Vitruvianismo consistem num conjunto de princípios e regras, que

visam definir a arquitectura como ciência erudita, implicando largos conhecimentos (precognizione,

lhes chama Scamozzi); composta de teoria e prática; com procedimentos e categorias consistenciais

específicas: ordinatio, dispositio, eurythmia, symmetria, decor e distributio; dividida em aedificatio,

gnomonice e machinatio; e visando como finalidades a firmitas, a utilitas e a venustas.

Além disso, estipula uma arquitectura antropomórfica (que toma como analogia para as suas formas

e proporções as do corpo de um homo bene figuratus), e dedicada ao restabelecimento da arquitectura

Page 142: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

142

da Antiguidade Grego-Romana, designadamente, do seu sistema construtivo mais nobre, baseado

em pórticos de colunas e lintéis. Depois, é a questão dos tipos de edifícios públicos e privados da

Antiguidade, como a basílica, o templo, o teatro, o forum devindo praça, a villa, etc., e sobrepondo-

se a tudo isso, a ornamentação, inspirada nos genera de colunas da Antiguidade, mas que cedo se

transforma no sistema das Ordens de Arquitectura: Toscana, Dórica, Jónica, Coríntia e Compósita. –

Criação que, mais do que a Vitrúvio, se deverá aos vitruvianos...

Embora se possa remontar o fenómeno do Vitruvianismo, à edição do Vitrúvio de Giocondo501,

1511, é com Serlio, Regole generali di Architettura502, 1537, e Le Antiqvità di Roma503, 1540, que

ganha uma nova e decisiva faceta: a da architettura tipografica504, ou seja, uma arquitectura feita a

partir de imagens divulgadas pelos tratados, do tipo manuais ou mostruários; imagens que rapida-

mente ganham o estatuto de ícones, ou mesmo, de fetiches da Arquitectura da Antiguidade, e da

sua parte tida como mais preciosa: As Ordens de Arquitectura.

Desenvolvimento do Vitruvianismo durante os Sécs. XVII e XVIII:

Na Itália do Séc. XVII, ao mesmo tempo que se assiste à consolidação da arquitectura maneirista,

do classicismo paladiano, e à emergência do barroco, vê-se surgir múltiplos autores de tratados de

arquitectura, mas todos seguindo, no essencial, a linha do vitruvianismo, tal como se vinha a definir

desde o século anterior, sendo difícil falar duma específica tratadística do Maneirismo, do Barroco,

ou do Classicismo Paladiano, antes considerando uma Tratadística Clássica, que subsume todos os

diversos autores e teorias, assim como as diferentes tendências da prática. Em qualquer dos casos,

considerou-se personagens singulares, Pellegrini, como teórico da Contra-Reforma e do Maneirismo;

Scamozzi, como doutrinador do Classicismo de matriz paladiana; e Guarini, como tratadista do

Barroco; não sendo a obra de Borromini, passe o seu interesse e valor, propriamente um tratado.

Na França desse período começa a desenvolver-se uma Teoria da Arquitectura, entendida como art

de bien bastir pour toutes sortes de personnes (Le Muet), acessível a largas camadas da população,

designadamente le tiers état, a burguesia, então em fase de afirmação, ao mesmo tempo, que se

divulgam manuais sobres as Ordens segundo as formulações de Palladio e de Vignola.

Com Fréart de Chambray e seu Parallèle de l’Architecture Antique avec la Moderne, 1650, enceta-se

o caminho para o Classicisme, que será enfatizado pela Academie e por Blondel, ao mesmo tempo que

se abrem novas vias teóricas através de Perrault, com seus conceitos de beauté npositif e arbitraire,

501 Giocondo, G., M. Vitruvius per Iocundum solito castigator factus cum Figuris et tabula..., Venetia, 1511. 502 Serlio, S., Regole generali di architetvra sopre le cinque maniere de gli edifici..., Venetia, 1537. 503 Serlio, S., Il Terzo Libro, nel qval si figvrano e descrivono le antiqvitá di Roma..., Venetia, 1540. 504 Carpo, M., L’architettura dell’età della stampa..., Milano, 1998, p. 15 e 49 ss.

Page 143: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

143

d’acoûtumance, a questionação das proporções, e a reformulação conceptual da symmétrie. – São

as primeiras brechas num sistema teórico, o Vitruvianismo, que até aí se mostrara sólido e coeso.

O que se passa em França tem réplicas na Mitteleurope, onde se começa por assistir à emergência de

uma tratadística para a Civil Baukunst (Furttenbach, Wilhelm, Hartmann, Böckler), seguindo-se uma

Teoria da Arquitectura para cortesãos, correlato do Barroco: von Liechtenstein, von Sachsen, Decker,

cujas tendências esteticizantes culminarão na obra de Dieussart, Theatrum Architecturae Civilis.

Talvez como forma de oposição ao esteticismo do Barroco, os ingleses, muito cedo, desenvolveram

uma prática e teoria baseada no Classicismo Paladiano (talvez, apenas, outra forma de esteticismo),

mas que se manteve firme por todo o Séc. XVII, adentrando-se pelo século seguinte. Foram protago-

nistas desse movimento, Jones, Wren, Campbel, Gibbs, e Ware, entre muitos outros.

Na Espanha, onde a Teoria da Arquitectura tivera as suas primícias logo nas primeiras décadas de

Quinhentos, no Séc. XVII, assiste-se à indagação em torno do Templo de Salomão (Villalpando e

Prado), intentando cristianizar a Arquitectura da Antiguidade, designadamente, as Ordens; seguindo-

se Fray Lorenzo, com o seu excelente manual, Arte y Uso de Arquitectura, 1639-65, e depois, as

especulações sobre a arquitectura oblíqua, em que se salientou Lobkowitz. – Das últimas décadas

de Seiscentos até meados de Setecentos assiste-se a um certo declínio na produção teórica, mas

com a Ilustración, a Teoria da Arquitectura, em Espanha, renasce através das obras de Villanueva,

Ponz, Valzania, Bails, Ortiz y Sanz, já apontando para o Neoclassicismo.

Em Portugal, não aproveitado o ímpeto inicial, de meados de Quinhentos, presente na obra de Holan-

da, faz-se sentir uma certa escassez na produção de Teoria da Arquitectura, quase só se produzindo

obras sobre arquitectura militar e fortificações, e mesmo essas, poucas vindo a prelo, excepção a

Pimentel e Fortes. A obra do Pe. Vasconcelos não é propriamente um tratado de arquitectura, nem

a de Mathias Ayres, ou a de J. F. Seixas; as únicas obras específicas de Teoria da Arquitectura são as

traduções dos Vignole´s, devidas a Magalhães e Andrade, e a Binhetti, 1787. Fica, como consolação,

os pareceres de Manuel da Maia, sobre a reedificação de Lisboa, 1755, que assinalam não ser a

Teoria da Arquitectura e do Urbanismo totalmente ignorada entre nós. E na transição do Séc. XVIII

para o XIX, as obras de Cirilo V. Machado, apontando já para o Neoclassicismo.

No Séc. XVIII, em França e Itália, assiste-se à emergência de múltiplas Teorias, Cours, Essai’s e

Saggio’s que, por um lado, reformulam o Vitruvianismo, diversificando-o, ou intensificando a sua

componente esteticista, ou enveredando por teorias singulares, ou desviando os domínios da arquitec-

tura e da sua teoria para outras disciplinas (a engenharia); por outro, começam a questioná-lo, pondo

em causa a síntese renascentista das Ordens (Cordemoy), indagando da origem e essência da arqui-

tectura (Laugier, Lodoli), com o que abalam os seus fundamentos, pondo em causa todo o sistema.

Page 144: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

144

Entre fins do Séc. XVIII e inícios de Oitocentos, com os Arquitectos da Revolução, emerge a tentativa

de definição duma architecture parlante, autónoma e atectónica, com características utópicas, mais

dada à representação do que à edificação (Boullée, Ledoux), e aproximando-se do Kitsch (Lequeu).

O que se passou em França e Itália cedo ressoará nos outros espaços geoculturais, a Mitteleurope, com

o despertar da consciência histórica (von Erlach) e da consciência estética (Baumgarten, Winckel-

mann, Sulzer), e a Inglaterra ou Grã-Bretanha, com o Romantismo das Ruínas, a Poesia Tumular, o

influxo da Teoria dos Jardins, a Moda Chinesa, e a atracção pelo Gótico. – Tudo factores que vão

pesar na modificação da Teoria da Arquitectura, pondo em causa o Vitruvianismo, embora este, em

paralelo, se mantenha no Classicismo de Goethe, e dos Paladianos britânicos.

Cordemoy, primeiro, Laugier e Lodoli, depois, ao questionarem a síntaxe e o significado das Ordens,

abalam todo um sistema, que era nas Ordens de Arquitectura que tinha a sua marca mais distintiva,

a sua pedra de toque. Com efeito, o Vitruvianismo, desde o início, além das Ordens, estabelecera

como seu objectivo o restabelecimento dos tipos de edifícios da Antiguidade. Todavia, estes eram

pouco compatíveis com as necessidades da vida na Idade Moderna, não sendo o Templo Antigo

convertível em Igreja Cristã, nem a Villa Antiga em Palácio Urbano, ou de Campo, além de já não

se usarem Anfiteatros, nem Circos, etc.. Assim, quase acabou por ter de se limitar ao sistema das

Ordens, e mesmo estas, vistas essencialmente como um conjunto de ornamentos, e aplicadas de

uma maneira que cada vez as desviava mais do seu significado original.

Depois, alguns dos países do Ocidente tinham-se expandido muito para além das suas fronteiras

naturais, entrando em contacto com outras civilizações e culturas, como as da Índia e da China,

com outros sistemas de arquitectura, a que alguns teóricos se mostraram receptivos, chegando na

Grã-Bretanha a assistir-se a uma verdadeira onda de Moda Chinesa, além de os princípios da Jardi-

nagem Chinesa (a irregularidade, o Sharawadgi, etc.) terem influenciado, de um modo decisivo, a

Teoria dos Jardins e, a partir daí, a Teoria da Arquitectura.

Mas o Vitruvianismo, ou seja, a Teoria Clássica da Arquitectura do Ocidente, embora abalado na

sua firmitas, foi resistindo, e prova disso, além do Classicismo de Goethe, é a obra dos Paladianos

Britânicos, e do Neoclassicismo, por toda a Europa expandido. Ainda no Séc. XX, na obra dos

representantes do Classicismo Nórdico, como Asplund e Lewerentz, ou na dos Proto-Modernistas,

como Loos, Perret, Behrens, entre outros, um Vitruvianismo impregnado não deixa de ressoar,

mostrando sua vitalidade e sua capacidade de resposta às solicitações da praxis.

Há mesmo quem pretenda que o Vitruvianismo, sistema bem mais aberto do que ao princípio se ti-

nha suposto, persiste, e que ressoa (por vezes, com estrépido), nas diversas e diferentes manifesta-

ções práticas e teóricas da mais recente Modernidade (Arnau Amo, 1988).

Page 145: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

145

Asplund, Biblioteca de Estocolmo, 1924-28

Asplund, Capela do Bosque, Estocolmo, 1917-20; Lewerentz, Capela da Ressureição, Estocolmo, 1914-34;

Asplund e Lewerentz, Skogskyrkogarden (Cemitério Bosque do Sul, Estocolmo), 1914-40

Page 146: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

146

Loos, Prédio na Michaelerplatz, Wien, 1909; id., Chicago Tribune, 1922; id., Casa Tristan Tzara, Paris, 1925;

Perret, Prédio na Rua Franklin, Paris, 1904

Behrens, Turbinenhalle AEG, Berlin, 1909

Page 147: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

147

Le Corbusier, Ville Savoye, Poissy, Yvellines, arredores de Paris, 1928-31

Aldo Rossi, Teatro del Mondo, Veneza, 1979; id., Casa Aurora, Torino, 1987

Page 148: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

148

Isaac Ware, A Complete Body of Architecture adorned with plans and elevations…,

London, 1756, Kiln for burning tyle and brick

Pierre Giraud, Les Tombeaux ou Essai sur les Sépultures. Ouvrage dans lequel l’Auteur rappelle les Coutumes des Anciens

Peuples, cite sommairement celles observées par les modernes, donne les procédés pour dissoudre les chairs, calciner les

ossements humaines, les convertir en une substance indestructible, et composer le médaillon de chaque individu, Paris, 1801

Os Algozes do Vitruvianismo

Page 149: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

149

BIBLIOGRAFIA

Citada ou referida no texto e notas, e por ordem alfabética•

ADAM, J., Vitruvius Scoticus…, concebido 1726, ed. Edimburgh, 1810 (o nome que surge como autor é o de

John Adam, filho de William Adam); ed. facsimile, s.l./USA, 2011, Dover Publications.

ADAM, R., Ruins of the Palace of the Emperor Dioclectian at Dalmatia, London, 1764; acessível in www.

digicoll.library.wis.edu/; ed. facsimile, s.l/USA, s.d., Archival Reprint; id., a cura di M. Navarro, Can-

nitelo, 2001, Biblioteca del Cenide.

––––, and ADAM, J., The Works in Architecture, London, 1773; acessível in www.digicoll.library.wis.edu/;

ed. facsimile, s.l/USA, 2006, Dover Publications.

ADDISON, J., Essay on the Pleasures of the Imagination, in ADDISON, J., and STEELE, R. (eds.), The

Spectator, N.º 411-421, 1712. – Edição usada: London Stereotype Edition, New York, 1826, 2 vols.. A

obra está no Vol. II, p. 132-147; acessível in www.books.google.de/.

ALGAROTTI, F., Saggio sopra l’architettura, datado 1756, publicado pela primeira vez in Opere Varie,

Venezia, 1757; reed. 1784, acessível in www.books.google.de/; ed. recente, presentazione di A. B.

Mazzotta, Milano, 2005, Edizioni Il Polifilo.

ALBERTI, L. B., L’Architettura [De re aedificatoria], 1443-52, ed. 1485, ed. critica, texto latino e traduzione

a cura di G. Orlandi, introduzione e note di P. Portoghesi, Milano, 1966, Edizioni Il Polifilo, 2 vols..

AMICHEVOLI, C., Architettura civile ridotta a metodo facile e breve..., Torino, 1675, Roma 1684; ed. 1675

acessível in www. fermi.imsss.it/: É dado como autor, ESCHINARDI, F., Architettura civile ridotta a

metodo facile e breve da’ Costanzo Amichevoli, Torino, 1675.

ANDRADE, D. de, Excelencias, antigüedad y nobleza de la Arquitectura, Santiago de Compostela, 1695 ;

ed. facsimile, Santiago de Compostela, 1993, Xunta de Galicia / Edicións del Cerne.

ANDRÉ, Y.-M., Essai sur le Beau, où l’on examine en quoi consiste précisèment dans la physique, dans la

moral, dans les ouvrages d’esprit et dans la musique, Paris, 1741; acessível in www.books.google.de/.

reed. Amsterdam 1749, acessível in www.archive.org.de/.

ANONYM, Untersuchung über den Charakter der Gebäude, Dessau, 1785; acessível in www.digital.slub-

dresen.de/; ed. facsimile, mit Einführung von H.-W. Kruft, Nördlingen, 1986, Alfons Uhl Verlag.

ANTOLINI, G., Osservazioni ed Aggiunte ai Principii di Architettura Civile di Francesco Milizia, Milano,

1817; acessível in www.books.google.de/.

ARDEMANS, T., Ordenanzas de Madrid, Madrid, 1720, reeds. sucessivas; ed. de 1720, acessível in www.

bibliotecadigitalhispanica.bne.es/; ed. facsimile da reed. de 1830, Valladolid, 2005, Editorial Maxtor.

• Só se indica editor para edições recentes, a partir de 1901. Sempre que possível indica-se: 1) acesso via Net;

2) eds. facsimile; 3) eds. actuais, de preferência, eds. críticas; 4) ed. portuguesa quando existente.

Page 150: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

150

––––, Fluencias de la Terra, y Curso Subterraneo de las Aguas. Dedicado a Maria Santissima..., Madrid,

1724; acessível in www.bibliotecadigitalhispanica.bne.es/.

ARNAU AMO, J., La Teoria de la Arquitectura en los Tratados, 3: Filarete, Di Giorgio, Serlio, Palladio,

Madrid, 1988, Tebas Flores.

AYRES, Ch., Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terramoto de 1755, Lisboa, 1910,

Imprensa Nacional: acessível in http://purl.pt/848/3.

ARENAS, D. de, Breve compendio de la carpintería... y tratado de alarifes..., Sevilla, 1633, reeds. sucessivas;

ed. 1633 e reed. 1727, acessíveis in www.books.google.de/; ed. facsimile da ed. de 1912, Valladolid,

2003, Maxtor; ed. anotada y estudio preliminar de M.ª A. Toajas Roger, Madrid, 1997, Visor Libros.

BABEL, P.-E., Regles des cinq ordres d’architecture de Jacques Barrozio de Vignole, nouveau livre, on y

joint un essai sur les mésmes ordres, suivant le sentiment des plus célébrés Architects, Paris, 1747;

acessível in www.books.google.de/. – Pierre-Edmé Babel notabilizou-se como gravador sendo da sua

autoria a maior parte das gravuras da talvez mais faustosa edição setecentista de Vignole, devida a

BLONDEL, J.-F. [que se apresenta como Monsieur B.***], Livre Nouveau ou Regles des Cinq Ordres

d’Architecture par Jacques Barozzio de Vignole…[seguido de] Recueil des plus beaux Edifices anciens

et Modernes, Paris, 1761; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

BACON, F., Essays, 45. Of Building, London, 1625. – Ed. portuguesa, Ensaios, trad. de Á. Ribeiro, Lisboa,

1952, Guimarães Editores, p.

––––, Essays, 46. Of Gardens, London, 1625. – Id., ed. portuguesa, 1952, p.

––––, New Atlantis, London, 1624. – Usou-se a ed. portuguesa, trad. de F. P. Rodrigues, Lisboa, 1976.

––––, Instauratio Magna, London, 1620; acessível in www.archive.org.de/; ed. crítica, G. Rees (ed.), The

“Instauratio Magna”, Oxford/UK, 2000, Oxford University Press, 2 vols..

BADESLADE, J., and ROCQUE, J., Vitruvius Britannicus, Volume the Fourth…, London, 1739; ed. facsimile,

s.l./USA, 2009, Dover Publications.

BAILS, B., Elementos de matemática, Tomo IX, Parte I, De la arquitectura civil, Madrid, 1783; acessível in

www.bibliotecadigitalhispanica.bne.es/; ed. facsimile, De la arquitectura civil, con Estudio Crítico por

P. Navascués Palacio, Murcia, 1983, COAATM / Lib. Yerba, 2 vols..

––––, Diccionário de Arquitectura, Madrid, 1802; acessível in www.bibliotecadigitalhispanica.bne.es/; ed.

facsimile, Oviedo, 1973, COATAO.

––––, Pruebas de ser contrario a la prática de todas las Naciones y a la Disciplina Eclesiástica, perjudicial

a la salud de los vivos, enterrar a los difuntos en las Iglesias y los Poblados, Madrid, 1784; acessível

in www.bibliotecadigitalhispanica.bne.es/.

BARCA, P. A., Avvertimenti e regole circa l’architettura civile, Scultura, Pittura, Prospettiva e Architettura

militare, Milano, 1620; acessível in www.books.google.de/; ed. facsimile, Como, 1997, A. Dominioni.

BAUMGARTEN, A. G., Aesthetica, Frankfurt-an-der-Oder, 1750-58, 4 vols.; acess. in www.books.google.de/;

ed. recente, resumida, bilingue, Theoretische Ästhetik. Die grundlegenden Abschnitte aus der “Aes-

thetica” (1750-58), H. R. Schweizer (Übers. und Hrsg.), Hamburg, 1983, 2. Aufl. 1988, Felix Meiner

Verlag; id., Texte zur Grundlegung der Ästhetik, Hamburg, 1983, Felix Meiner Verlag.

BELLORI, G. P., L’idea del pittore, dello scultore, e dell’architetto scelta dalle belleza naturali superiori

Page 151: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

151

alla Natura, 1664, discurso lido perante a Academia, depois editado em Le vite de’pittori, scultori e

architetti moderni, Roma, 1672, como prólogo; acessível in www.books.google.de; ed. critica a cura

di E. Borea, con introd. di G. Previtali, Torino, 1976, Einaudi.

BERGMÜLLER, J. G., Nachbericht zu der Erklärung des geometrischen Maasstabes der Säulenordnung,

Augsburg, 1752. – Exemplar consultável in Bibliotheca Oettingen-Wallerstein, Inventar-Nr III 3 fol. 60.

BERRUGUILLA, J. G., Verdadera prática de las resoluciones de la geometría, sobre las tres dimensiones

para un perfecto arquitecto, Madrid, 1747; acessível in www.bibliotecadigitalhispanica.bne.es/.

BIBIENA, F. G., Architettura Civile, Bologna, 1711; acessível in www.fermi.imss.it/; ed. facsimile, Bologna,

1989, Arnaldo Forni Editore.

BIBIENA, G. G., Architetture e Prospettive, Paris, 1740; acessível in www.e-rara.ch/; ed. facsimile, Ridge-

wood, 1964, Gregg Press; id. Bologna, 1977, Arnaldo Forni Editore.

BINHETTI, J. C. (trad.), Regras das cinco ordens de architectura de Jacomo Barozio de Vinhola, Lisboa,

1787. – Em depósito na BNP, Cotas B.A. 2441 P., F. 7603. – Não está digitalizada! (Holanda, explicit)

BLAIR, R., The Grave, London, 1743, reeds. sucessivas, a de 1808, com 12 ilustrações de William Blake.

BLONDEL, F., Cours d’architecture enseigné dans l’Académie..., Paris, 1675-83, 5 vols.; acessível in www.

digi.ub.uni-heidelberg.de/; reed. 1698, ed. facsimile, Hildesheim, 2002, Georg Olms Verlag, 2 vols..

BLONDEL, J.-F., De la distribuction des Maisons de Plaisance, et de la Décoration des édifices en general,

Paris, 1737-38, 2 vols.; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

––––, Architecture françoise, ou Recueil des plans, élévations, coupes et profils des églises, maisons royales,

palais, hotels et édifices les plus considérables de Paris, Paris, 1752-56, 4 vols.; acessível in www.

gallica.bnf.fr/; ed. facsimile, Hildesheim, Georg Olms Verlag, in Vorbereitung (em preparação).

––––, Cours d’architecture civile ou traité de décoration, distribution et construction des Bâtiments, Paris,

1771-77, 9 vols. (6 de texto + 3 de figuras, num total de 3565 páginas!); acessível in www.e-rara.ch;

ed. facsimile, Hildesheim, Georg Olms Verlag, in Vorbereitung (em preparação).

–––– ( ?), «Architecture», in Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, de

Diderot et D’Alembert, Paris, 1751-1772; ed. facsimile, Paris, 1994, Inter-Livres.

––––, Livre Nouveau ou Regles des Cinq Ordres d’Architecture par Jacques Barozzio de Vignole… Recueil des

plus beaux Edifices anciens et Modernes, Paris, 1761; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

BÖCKLER, G. A., Compendium Architectura Civilis, Frankfurt, 1648; acessível in www.books.google.de/.

––––, Architectura Civilis Nova & Antiqua, das ist: Von den Fünff Säulen, Frankfurt, 1663, 1684; acessível

in www.archive.org.de.

––––, Die Baumeisterin Pallas, oder in Teutschland erstandene Palladius..., Nürnberg, 1698; acessível in

www.digital.slub-dresden.de/.

BOFFRAND, G., Livre d’architecture, Paris, 1745; acessível in www.gallica.bnf.fr/; ed. facsimile, juntamente

com BOFFRAND, G., Description… de la figure équestre de Louis XIV élevée par la ville de Paris… en

1699, Nördlingen, Alfons Uhl Verlag, in Vorbereitung (em preparação), aceitando subscritores.

BORROMINI, F., Opus Architectonicum, 1648, ed. Roma, 1725; ed. critica del manoscrito originale con

introduzione di J. Connors, Milano, 1998, Edizioni Il Polifilo.

BOSSE, A., Traité de manières de dessiner les ordres de l’architecture antique, Paris, 1664; acessível in

Page 152: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

152

www.gallica.bnf.fr/; reed. 1690, acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

––––, Des ordres de colonnes en architecture..., Paris, 1664; acessível in www.bvh.univ-tours.fr/; reed. 1690,

acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

BOTTARI, G. G., Raccolta di Lettere sulla Pittura Scultura ed Architettura, scritte da’ più celebri Professori

che in dette Arti fiorirono dal Secolo XV, al XVII, Roma, 1774-1825, 8 vols.; acessível in www.books.

google.de; ed. facsimile, Hildesheim, 1976, Georg Olms Verlag, 8 vols..

BOULLÉE, E.-L., Architecture. Essai sur l’Art, texto de 1796-97, desenhos de 1778-88; acessível in

www.gallica.bnf.fr/ (apenas os desenhos); para desenhos e textos: ed. H. Rosenau, Boullée’s Treatise

on Architecture, London, 1953; id., ed. J.-M. P. de Montclos, Etienne-Louis Boullée. Architecte. Essai

sur l’art, avec d’autres écrits de Boullée, Paris, 1968, Hermann.

BOYLE, R. (EARL OF BURLINGTON), Fabricche Antiche disegnate da Andrea Palladio, London, 1730;

exemplar digitalizado consultável in www.ribapix.com/.

BRANCA, G., Manuale d’Architettura, breve, e risoluta Pratica, diviso in sei libri, Ascoli, 1629, reed.

Roma, 1718, 1757, 1772, 1781, 1783, 1784, 1786; acessível eds. 1629 e 1772 in www.archive.org./;

ed. 1772, facsimile, print on demand, s.l./USA, 2012, Kessinger Publishing.

BRAY, S. de, Architectura Moderna ofte bouwinge van onsen typ, Amsterdam, 1631; ed. facsimile, E. Taverne

(ed.), Soest, 1971, Davaco Publishers; acessível in www.dbnl.org/.

BRISEUX, Ch.-E., L’Architecture moderne, ou l’Art de bien bâtir pour toutes sortes de personnes, Paris, 1728,

2 vols.; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/; ed. facsimile, Génève, 1973, Minkoff (por equí-

voco, atribuída a Ch. A. Jombert, o editor)

––––, L’Art de bâtir des Maisons de campagne, Paris, 1743; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

––––, Traité du Beau essenciel dans les Arts, Paris, 1752; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

BRIZGUS Y BRU, A. G., Escuela de Arquitectura Civil, Valencia, 1738; acessível in www.bibliotecadigital

hispanica.bne.es/; ed. facsimile, Valencia, 1999, Librerías Paris-Valencia.

BULLET, P., L’architecture pratique, qui comprend le detail du toisé, & du devis des Ouvrages…, Paris,

1691; acessível in www.gallica.bnf.fr/; ed. facsimile, Génève, 1973, Minkoff.

BURKE, E., A Philosophical Enquiry into the Origin of our Ideas of the Sublime and Beautiful, London,

1757, reeds. sucessivas. – Ed. em português, Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas

ideias do sublime e do belo, trad. de E. Abreu, Campinas, 1993, Papirus/Ed. Unicamp.

CAMPBELL, C., Vitruvius Britannicus, or the British Architect…, London, 1715-25, 3 vols.; ed. facsimile,

s.l./USA, 2010, Dover Publications.

CANCRIN, F. L., Grundlehren der bürgerlichen Baukunst nach Theorie und Erfahrung vorgetragen, Gotha,

1792; livro electrónico em PDF, eBooks & more, SLUB, acessível in www.books2ebooks.eu/.

CAPRA, A., La nuova Architettura civile e militare, Bologna, 1678, reed. 1717; reed. 1717, acessível in

www.archive.org/; ed. facsimile, Bologna, 1987, Arnaldo Forni Editore; id., ed. facsimile, print on

demand, s.l./USA, 2012, Nabu Press.

CASTEL, L.-B., L’Optique des Couleurs fondée sur les simples Observations, & tournée sur-tout à la prac-

tique de la peinture..., Paris, 1740; acessível in www.books.google.de.

CASTEL, R. R., As Plantas, trad. de M. M. Barbosa du Bocage, Lisboa, 1801. – Em depósito na BNP, Cota

Page 153: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

153

L. 2429 V.; digitalizado em PURL 11800; acessível in http://purl.pt/11800/.

––––, Les plantes, Paris, 1797, 3e ed., Paris, 1802, existente na BNP, Cota L. 4304 P.

CASTELLS, R., The Villas of the Ancients Illustrated, London, 1728; acessível in www.e-rara.ch/.

CHAMBERS, W., Designs of Chinese Buildings, London, 1757; ed. facsimile Farnborough, 1969, Gregg

International Publishers Limited ou Gregg Press.

––––, A Dissertation on Oriental Gardening, London, 1772; acessível in www.digitale-sammlungen.de/.

––––, A Treatise on Civil Architecture, 1759, a partir da 3.ª ed., A Treatise on the Decorative Part of Civil

Architecture, London, 1791; ed. facsimile, with introd. by J. Harris, Farnoborough, 1969, Gregg Press.

––––, Plans, Elevations, Sections, and Perspective Views of the Gardens and Buildings of Kew in Surrey,

London, 1763; ed. facsimile, Farnborough, 1966, Gregg Press.

––––, Materials for a History of Gothic Architecture in England and its Origins, conjunto de manuscritos

depositados no RIBA (Royal Institut British Architects). – Ver, J. Harris (ed.), ed. 1969, p. 128, nota 2.

CHAMOUST, R. de, L’Ordre François trouvé dans la Nature, Paris, 1783; ed. facsimile, Farnborough,

1967, Gregg Press.

–––– (?), Architecture singulière. L’Éléphant triomphal, grand Kiosque à la gloire du Roi, Paris, 1758.

CHANDLER, R., PARS, J., REVETT, N., Ionian Antiquities, published with permision of the Society of

Dilettanti, London, 1769; acessível in www.arachne.uni-koeln.de/.

––––, Antiquities of Jonia, published by the Society of Dilettanti, London, 1797; acessível in www.digi.ub.

uni-heidelberg.de/: no site atribuído a Society of Dilettanti (Hrsg.).

CHANTELOU, P. F., Tagebuch des Herrn von Chantelou über die Reise des Cavaliere Bernini nach Frank-

reich, deutsche Ausg. von H. Rose, München, 1919, Bruckmann. – Ed. espanhola, Diario del viaje del

caballero Bernini a Francia…, trad. por A. Carmona, Murcia, 1986, CGCOAAT/Lib. Yerba.

CHARLETON, Dr., The most notable Antiquity of Great Britain vulgarly called Stone-Heng... restored by

Inigo Jones, London, 1725; acessível in www.digicoll.library.wis.edu/.

CHILDE, V. G., Man Makes Himself, London, 1936, Watts & Co. – Obra de leitura obrigatória da minha geração

na trad. portuguesa de V. M. Godinho e J. B. Macedo, O Homem Faz-se a Si Próprio, Lisboa, 1947.

CHURRIGUERA, N. de, Tratado de curiosos gyros de quentas, utiles a los professores de arquitectura y

assimismo a los dueños de Obras..., Madrid, 1756; acessível in www.bibliotecadigital.rah.es/.

CLARK, K., The Gothic Revival: an essai in the history of taste, London, 1928, Constable & Co; reeds. sucess.

COLE, B., and HOPPUS, E., Andrea Palladio’s Architecture in Four Books, London, 1733-35.

COMOLLI, A., Bibliografia storio-critica dell’architettura ed arti subalterne, Roma, 1788-92, 4 vols.;

acessível in www.books.google.de/; ed. facsimil, printed on demand, s.l/USA, 2011, Nabu Press.

CONDILLAC, E. B., Traité des sensations, Paris, 1754, 2 Tomes; acessível in www.gallica.bnf.fr/; ed. crítica,

introd. et éclaircis. par F. Picavet, Paris, 1928, Lib. Philosophique J. Vrin.

––––, Essai sur l’origine des connaissances humaines (1746), précédé de Derrida, J., L’archéologie du frivole,

Auvers-sur-Oiseau, 1973. – Ed. portuguesa, Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos, seguido

de Derrida, J., A Arqueologia do Frívolo, trad. de J. B. Miranda e J. A. Santos, Lisboa, 1979.

CORDEMOY, J.-L., Nouveau traité de toute l’architecture, Paris, 1706; acessível in www.gallica.bnf.fr/;

reed. 1714, acessível in www.books.google.de/; ed. facsimile, Farnborough, 1966, Gregg Press.

Page 154: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

154

CORREIA, J. T., Livro de varias plantas deste reino e de Castela, ms. entre 1699 e 1743. – Em depósito na

BNP, Cota D.A. 7 A., digitalizado em PURL 12158; acessível in http://purl.pt/12158.

CUST, L., and COLVIN, S., History of Society of Dilettanti, London, 1898, 2. ed. 1914, reed. 1932, Macmil-

lan & Co.; ed. facsimile, print on demand, s.l./USA, 2012, Kessinger Publishing.

CUVILLIÉS, F., Morceaux de caprices, à divers usages, München-Paris, 1738, reed. sucessivas até 1799.

D’AVILER, A.-Ch., Cours d’architecture qui comprend les ordres de Vignole, Paris, 1691; acessível in www.

purl.pt/707/3/; id., www.architecture.cesr.univ-tours.fr/; reed. 1738, acessível in www.archive.org.de.

––––, Dictionnaire d’Architecture ou explication de tous les termes, Paris, 1693; acess. in www.gallica. bnf.fr/.

DECKER, P., Gothic Architecture Decorated, London, 1759; ed. facsimile Farnborough, 1968, Gregg Press.

––––, Chinese Architecture, Civil and Ornamental, London, 1759; ed. facsimile, Farnborough, 1968, Gregg Pr.

DECKER, P., Fürstlichen Baumeister, oder: Architectura Civilis…, Augsburg, 1711-16, 3 vols.; acessível in

www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

––––, Ausfürliche Anleitung zur Civilbau-Kunst…, Nürnberg, 1715, 3 vols.; acessível in www.digi.ub.uni-

heidelberg.de/.

DELILLE, J., Os Jardins ou Arte de aformosear as paizagens, ed. bilingue, francês-português, trad. para por-

tuguês de M. M. Barbosa du Bocage, Lisboa, 1800; acessível in http://purl.pt/11808/3.

––––, Les Jardins ou l’Art d’embellir les paizages, Paris, 1782; acessível in www.books.google.de/.

DESGODETZ, A., Les édifices antiques de Rome, Paris, 1682; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

DEZALLIER D’ARGENVILLE, A.-N., Vies des fameux architectes depuis la Renaissance des arts, Paris,

1787, 2 vols.; acessível in www.gallica.bnf.fr/; ed. facsimile, Génève, 1972, Minkoff.

DIEUSSART, C. Ph., Theatrum Architecturae Civilis, Güstrow, 1682; acessível in www.digital.slub-

dresden.de/; reed. Bamberg, 1697; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

DOBAI, J., Die Kunstliteratur des Klassizismus und der Romantik in England, I: 1700-1750, Bern, 1974,

Benteli Verlag.

DOWNES, K., Hawksmoor, London, 1959, reed. 1979, Thames & Hudson.

DYER, J., Ruins of Rome, London, 1740; reed. 1761, acessível in www.books.google.de/.

EVELYN, J., An Account of Architects and Architecture, together with An Historical, Etymological Explana-

tion of certains Terms particularly Affected by Architects, in FRÉART DE CHAMBRAY, A Parallel

of the Ancient Architecture with the Modern… by John Evelyn, London, 1664, reed. 1680, 1697, 1707,

1723, 1733; ed. 1733, acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/; esta ed. contém ainda, WOTTON,

H., The Elements of Architecture, p. ij-xxxviij; o ensaio de Evelyn está no fim, mas numerado 1-53.

FAILLE, J. C. de, Tratado de la Arquitectura, meados Séc. XVII; extractos in SÁNCHEZ-CANTÓN, F. J.,

Fuentes literarias para la Historia del Arte Español, Madrid, 1923-1941, 5 vols.; Vol. 5, 1941.

FÉLIBIEN, A., Des Principes d’Architecture, de la Sculpture, de la Peinture, Paris, 1676, reed. 1690, 1699;

reed. 1690, acessível in www.e-rara.ch/;

FÉLIBIEN, J.-F., Recueil historique de la vie et des ouvrages des plus célèbres architectes, Paris, 1687; reed.

Londres, 1705, acessível in www.books.google.de; ed. facsimile, Généve, 1972, Minkoff.

FERRER, B., Curiosidades útiles, Arithmetica, Geometrica, Architectonica... ou Cartilla de Architectura,

Madrid, 1719; acessível in www.bibliotecadigitalhispanica.bne.es/.

Page 155: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

155

FILARETE, A. A. detto il, Trattato di Architettura, esc. 1461-64, trascrizione a cura di A. M. Finoli e L. Gras-

si, introd. e note di L. Grassi, Milano, 1972, 2 vols..

FISCHER VON ERLACH, J. B., Entwürff einer Historischen Architectur, Wien, 1721, 2. ed. Leipzig, 1725,

várias reeds. e trads. em francês e inglês; 2. ed. 1725 acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

FORTES, M. A., O Engenheiro Portuguez..., Lisboa, 1728-1729, 2 vols.. – Em depósito na BNP, Cotas S.A.

3905 P., S.A. 3906 P., TR. 1053 P., TR. 1054 P., TR. 1055 P., TR. 1056 P., TR. 1057 P., F. 167, F.

168, F. 7389; também, Univ. Católica Port. – Bibl. João Paulo II, SARD-1874, e Univ. Coimbra Dep.

Arquitectura, 623.1/4”17” FOR. – Digitalizado em PURL 14547; acessível in http://purl.pt/14547; ed.

facsimile, Lisboa, 1993, Direcção da Arma de Engenharia.

FRANCINI, A., Livre d’Architecture contenant plusiers portiques, Paris, 1631; acessível in www.architectura.

cesr.univ-tours.fr/.

FRANCISCO DE LOS SANTOS, The Escurial; or, a Description of that Wonder of the vvorld..., translated

into English by a Servant of the Earl of Sandwich, London, 1671; ver, VEGA-LOECHES, J. L., «Sobre

la primera traducción al inglés de la Descripción breve de El Escorial de Francisco de los Santos. La-

tely consumed by fire (1671), del entorno del conde de Sandwich», in Anales de Historia del Arte,

2009, 19, p. 181-194.

FRAY JUAN DE SAN JERÓNIMO, Memorias desde Monasterio de Sant Lorencio el Real, 1563-1591, ed.

in Colección de documentos inéditos para la Historia de Espanha VII, Madrid, 1845; agora ed. como

livro, Memorias de Fray Juan de San Geronimo, por M. Salvà y P. Sainz de Baranda, Madrid, 1984.

FRAY JOSÉ DE SEGÜENZA, Historia de la Orden de San Geronimo, Madrid, 1605; reed., Madrid, 1909,

Bailly-Bailliére, 2 vols., acessível in www.archive.org/.

FRAY FRANCISCO DE LOS SANTOS, Descripción breve del Monasterio de San Lorenzo el Real de El

Escorial, Madrid, 1657, reeds. sucessivas; ed. 1657, acessível in www.books.google.de/.

FRAY ANDRÉS XIMÉNEZ, Descripción del Real Monasterio de San Lorenzo de El Escorial, Madrid,

1654, reed. 1764; acessível in www.archive.org/.

FRAY LORENZO DE SAN NICOLÁS, Arte y Uso de Arquitectura, Madrid, 1639-65, 2 vols., reeds. suces-

sivas; acessível in www.fondosdigitales.us.es/; ed. facsimile, con Noticia..., de J. J. Martin Gonzalez,

Valencia, 1989, Albatros Ediciones, 2 vols..

FRÉART DE CHAMBRAY, R., Parallèle de l’architecture antique avec la moderne, Paris, 1650; acessível

in www.gallica.bnf.fr/; ed. facsimile Génève, 1973, Minkoff.

––––, La perspective d’Euclide..., Paris, 1662 ; acessível in www.bibliotheque-numerique.inha.fr/.

––––, Idee de la perfection de la peinture..., Paris, 1662; acessível in www.bibliotheque-numerique.inha.fr/.

FRÉMIN, M., Mémoires critiques d’architecture…, Paris, 1702; acessível in www.gallica.bnf.fr/; ed. facsi-

mile, print on demand, s.l./USA, 2005, UMI.

FRÉZIER, A. F., La theorie et la pratique de la coupe des pierres et des bois... ou traité de stereotomie a

l’usage de l’architecture, Paris, 1737-39, 3 vols.; acessível in www.books.google.de/; ed. facsimile,

Nogent-le-Roi, 1980, Jacques Laget, 3 vols..

FURTTENBACH, J., Newes itinerarium Italiae, Ulm, 1627; ed. facsimile mit Vorwort von H. Foramitti,

Hildesheim-New York, 1971, Georg Olms Verlag.

Page 156: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

156

––––, Architectura civilis…, Ulm, 1628, 2 vols.; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/; ed. facsimile

mit einer Vorbemerkung von H. Foramitti, Hildesheim, 1971, Georg Olms Verlag (Juntamente com

Architectura recreationis, e Architectura privata, no mesmo volume).

––––, Architectura navalis…, Ulm, 1629; acessível in www.digital,slub-dresden.de/; ed. facsimile, mit einer

Vorbemerkungen von H. Foramitti, Hildesheim, 1975, Georg Olms Verlag (Juntamente com Architec-

tura martialis, e Architectura universalis, no mesmo volume).

––––, Architectura martialis…, Ulm, 1630; acessível in www.digital,slub-dresden.de/; ed. facsimile Hilde-

sheim, 1975, Georg Olms Verlag.

––––, Architectura universalis…, Ulm, 1635; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/; ed. facsimile,

Hildesheim, 1975, Georg Olms Verlag.

––––, Architectura recreationis…, Augsburg, 1640; ed. facsimile, Hildesheim, 1971, Georg Olms Verlag; id.,

Berlin, 1988, Verlag für Bauwesen.

––––, Architectura privata…, Augsburg, 1641; acessível in www.digital,slub-dresden.de/; ed. facsimile

Hildesheim, 1971, Georg Olms Verlag.

FURTTENBACH, J., DER JÜNGERE, Feriae architectonicae…, Augsburg, 1649, reed. 1662; ed. 1642,

acessível in www.digital,slub-dresden.de/.

GADAMER, H.-G., Wahrheit und Methode. Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik, Tübingen, 1960,

in GW 1, Tübingen, 1990, J. C. B. Mohr. – Ed. em português, Verdade e Método. Traços fundamentais

de uma hermenêutica filosófica, trad. F. P. Meurer, revis. de Ê. P. Giachini, Petrópolis, 1998, Vozes.

GALIANI, B., L’Architettura di M. Vitruvio Pollione colla traduzione italiana e comento del..., Napoli,

1758; acessível in www.fermi.imss.it/.

GALLACINI, T., Trattato sopra gli errori degli architetti, 1625, ed. con introd. di G. A. Pecci, Venezia,

1767; ed. facsimile, Farnborough, 1970, Gregg Press; id., Bologna, 1898, Arnaldo Forni Editore.

GERBIER, B., A Brief Discourse, concerning the three principles of Magnificent Building, London, 1662;

ed. recente, Hrsg. und einleitet von Ch. Davis, 2008, in Fontes E-Quellen und Dokumente zur Kunst

1350-1750, URL http://archiv.ub. uni-heidelberg.de/artdock/volltext/.

––––, Counsel and Advise to all Buiders, London, 1663; ed. recente, Hrsg. und einleitet von Ch. Davis, 2008,

in Fontes E-Quellen und Dokumente zur Kunst 1350-1750, URL http://archiv.ub.uni-heidelberg.de/

artdock/volltext/.

GIBBS, J., A Book of Architecture…, London, 1728; acessível in www.e-rara.ch/; ed. facsimile, s.l./USA,

2008, Dover Publications.

GIBBON, E., The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, London, 1766-88, 6 vols..

GILPIN, W., Three Essays: On Picturesque Beauty; On Picturesque Travel; and On Sketching Landscape:

to wich is added a poem, On Lanscape Painting, London, 1792; acessível in www.archive.org.de/.

––––, Observations, relative chiefly to Picturesque Beauty, made in the Year 1772…, London, 1782, 2 vols.;

reed. 1792, acessível in www.archive.org.de/.

––––, Observations, relative chiefly to Picturesque Beauty, made in the Year 1776…, London, 1786, 2 vols.;

reed. 1792, acessível in www.archive.org.de/.

––––, Remarks on Forest Scenery other Woodland Views, London, 1792, 2 vols.; reed. by Sir Th. D. Lauder,

Page 157: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

157

Bart., Edinburgh-London-Dublin, 1834, 2 vols.; acessível in www.books.google.de/.

GIUSTINIANI, V., Discorso sopra l’Architettura, c. 1610, in GIUSTINIANI, V., Discorsi sulle arti e sui

mestieri, ed. A. Banti, Firenza, 1981, Sansoni, p. 47-62.

GOETHE, J. W., Von deutscher Baukunst, Darmstadt, 1772, in GOETHE, Werke. Berliner Ausgabe, Bd. 19:

Kunst-theoretische Schriften und Überstetzungen. Schriften zur bildenden Kunst, 1, Hrsg. von S. Seidel,

Berlin, 1973, Aufbau Verlag.

––––, Italienische Reise, 19. September 1786, in GOETHE, Werke. Hamburger Ausgabe, Bd. 11, Hrsg. u.

Komment. H. von Einem, Hamburg, 1962, Christian Wegner Verlag.

––––, Italienische Reise, 23. März 1788, in GOETHE, ob. cit. (ed. 1962).

––––, Italienische Reise, 17. Mai 1786, in GOETHE, ob. cit. (ed. 1962).

––––, Baukunst, 1788, in GOETHE, ob. cit. (1973).

––––, Baukunst, 1795, in GOETHE, ob. cit. (1973).

––––, Wilhelm Meisters Wanderjahre, Stuttgart und Tübingen, 1821; acessível in www.books. google.de/.

––––, Von deutscher Baukunst, 1823, in GOETHE, Werke. Berliner Ausgabe, Bd. 20: Schritfen zur bildenden

Kunst, 2, Hrsg. von S. Seidel, Berlin, 1974.

––––, Einleitung in die “Propyläen”, I, 1798, p. XXIV; reed., GOETHE, J. W., Propyläen; eine periodische

Schrift, Hrsg. H. Meyer, Darmstadt, 1965, Wissenschaftiche Buchgesellschaft.

GOLDMANN, N. und STURM, L. Ch., Vollständige Anweisung zu der Civil-Bau-Kunst, Wolfenbüttel 1696;

acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de.

GRAY, Th., Elegy Written in a Country Churchyard, London, 1751, reeds. sucessivas., trad. para português

por A. de Araújo de Azevedo, Elegia de Gray escrita no Adro de uma Igreja de Aldeia, Hamburgo (?),

1799, BNP, Cota L. 4534 V., constando também haver uma tradução da Marquesa de Alorna.

GUARINI, G., Architettura Civile, c. 1680, ed. por B. Vittone, Torino, 1737; acessível in www.fermi.imss.it/;

ed. critica con introd. di N. Carboneri, note e appendice de B. T. La Greca, Milano, 1968, Ed. Il Polifilo.

GUNTHER, R. T., The Architecture of Sir Roger Pratt. Charles II’s Commissioner for the Rebuilding of

London after the Great Fire Now printed for the First Time from his Note-Books, Oxford, 1928, Ayer

Publishing; acessível in www.books.google.de.

HALFPENNY, W., New Designs for Chinese Temples, London, 1750-52; acessível in www.archive.org.de/.

––––, Rural Architecture in the Chinese Taste…, London, 1750-52, 3th ed. 1755, acessível in www.e-rara.ch/.

––––, Rural Architecture in the Gothic Taste…, London, 1752, acessível in www.archive.org.de/.

––––, Chinese and Gothic Architecture properly Ornamented, London, 1752; ed. facsimile, New York, 1968,

B. Blom; id., printed od demand, s.l./USA, 2010, Gale Ecco.

––––, The Country Gentleman’s Pocket Companion and Builders Assistant for Rural Decorative Architec-

ture... in the Augustine, Gothic and Chinese Taste, London, 1753; acessível in www.archive.org.de/.

HARTMANN, D., Bürgerliche Whonungs Baw-Kunst , Basel, 1673; acessível in www.digital.slub-

dresden.de/; reed. 1688, acessível in www.digital.slub-dresden.de/.

HAZARD, P., La crise de la conscience européenne: 1680-1715, Paris, 1935. – Ed. portuguesa, A Crise da

Consciência Europeia: 1680-1715, trad. de Ó. F. Lopes, Lisboa, 1948, Edições Cosmos.

HEGEL, G. W. F., Vorlesungen über die Aesthetik, 1820-21, ed. Berlin, 1835-38, 3 vols.; 2. Aufl., 1842,

Page 158: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

158

acessível in www.books.google.de (exemplar com Ex libris do teólogo P. J. Tillich, Harvard Divinity

School); ed. recente, HEGEL, G. W. F., SW 12-14, mit einem Vorwort von H. G. Hotho, Stuttgart,

1953, Fromann Verlag. – Ed. portuguesa, Estética, trad. de O. Vitorino e Á. Ribeiro, Lisboa, 1952-64,

Guimarães Editores, 7 vols., reimp. 1993, 1 vol..

HEIDEGGER, M., Nietzsche I (1936-1939), e Nietzsche II (1939-46), Hrsg. B. Schillbach, in GA 6.1 e 6.2,

Frankfurt am Main, 1996-97, Vittorio Klostermann.

HERVEY, J., Meditations among the Tombs, London, 1748, reeds. sucessivas; reed. 1824, acessível in

www.books.google.de.

HIRSCHFELD, Ch. C. L., Theorie der Gartenkunst, Leipzig, 1779-85, 5 vols.; acessível in www.digi.ub.uni-

heidelberg.de; ed. facsimile em francês (versão do próprio autor?), Theórie de l’Art des Jardins, Lei-

pzig, 1779-85, 5 vols, Génève, 1973, Minkoff, 5 volumes encadernados em 3 vols.

HOGARTH, W., Analysis of Beauty, London, 1753. – Usou-se ed. espanhola, Análisis de la Belleza, traduc-

ción, prólogo y notas por M. Cereceda, Madrid, 1997, Visor Libros.

HOLANDA, F. De, Diálogos de Roma, ms., 1548, ed. Felicidade Alves, Lisboa, 1984, Livros Horizonte.

IRALA, M. de, Método sucinto y compendioso de cinco simetrias apropriadas a los cinco órdenes de Arqui-

tectura, Madrid, 1739; ed. facsimile con introd. por A. Bonet Correa, Madrid, 1979, Editorial Turner.

IZZO, J. B., Anfangsgründe der bürgerlichen Baukunst, Wien, 1773; acessível in www.books.google.de.

JOMBERT, Ch.-A., Catalogue raisonné de l’oeuvre de Sebastien Le Clerc…, Paris, 1774, 2 vols.; acessível

in www.gallica.bnf.fr/.

KAUFMANN, E., Von Ledoux bis Le Corbusier: Ursprung und Entwicklung der Autonomen Architektur,

Wien-Leipzig, 1933, Passer Verlag.

––––, Three Revoluctionary Architects: Boullée, Ledoux and Lequeu, Philadelphia, 1952, American Philoso-

phical Society.

KELLY, J. M., The Society of Dilettanti: Archaeology and Identity in the British Enlightenment, New Haven-

London, 2009, Yale University Press.

KENT, W., The Designs of Inigo Jones, London, 1727; acessível in www.archive.org.de; ed. facsimile, Farn-

borough, 1967, Gregg Press.

KLEINER, S., Representation naturelle et exacte de la FAVORITE…, Augsburg, 1726; ed. facsimile (livro de

pequeno formato), mit einem Nachwort von H. Keller, Dortmund, 1980, Harenberg Kommunikation.

––––, Das floriende Wien. Vedutenwerk in vier Teilen aus den Jahren 1724-37, Augsburg, 1724-37; ed. fac-

simile, Nachwort von E. Herget, Dortmund, 1979, Haremberg Kommunikation.

KUNOTH, G., Die historische Architektur Fischers von Erlach, Düsseldorf, 1956, Schwann Verlag.

LANGLEY, B., New Principles of Gardening: Or The Laying out and Planting…, London, 1728; acessível

in www.books.google.de/.

––––, The Builder´s Chest-Book, London, 1727; ed. facsimile, Farnborough, 1971, Gregg Press.

––––, The City and Country Builder’s and Workman's Treasury of Designs: or, The Art of Drawing and Wor-

king the Ornamental Parts of Architecture, London, 1740; ed. acessível in www.e-rara.ch/.

––––, and LANGLEY, Th., The Builder’s Jewel; Or the Youth’s Instructor, and Workman’s Remenbrancer…,

London, 1741; ed. facsimile, printed on demand, s.l./USA, s.d., Kessinger Publishing.

Page 159: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

159

––––, and LANGLEY, Th., The Builder’s Dictionary..., in LANGLEY and LANGLEY, ob. cit. (1741), p. 35-62.

––––, and LANGLEY, Th., Ancient Architecture, Restored and Improved by a Great Variety of Grand and Use-

ful Designs, entirely new, in the Gothick Mode, for the Ornamenting of Building and Gardens, London,

1741; depois, a partir da 2. ed., Gothick Architecture, Improved by Rules and Proportions, London, 1742;

acessível in www.archive.org.de/.

LANGRES, N. de, Desenhos e plantas de todas as praças do Reyno de Portugal..., ms. redigido em portu-

guês e francês, c. 1661. – Em depósito na BNP, Cotas F. 2359, COD. 7445; digitalizado em PURL

15387; acessível in www.purl.pt/15387/.

LAUGIER, M.-A., Essai sur l’architecture, Paris, 1753; acessível in www.books.google.de/; reed. 1755, ed.

facsimile, Génève, 1973, Minkoff; id., avec introd. par G. Bekaert, Bruxelles, 1974, Pierre Mardaga

(no mesmo volume, LAUGIER, M.-A., Observations sur l’architecture, Paris, 1765).

––––, Observations sur l’architecture, Paris, 1765; acessível in www.gallica.bnf.fr/; ed. facsimile, Géneve,

1974, Minkoff; id., avec introd. par G. Bekaert, Bruxelles, 1974, Pierre Mardaga.

LE CAMUS DE MÉZIÈRES, N., Le génie de l’architecture, ou l’analogie de cet art avec nos sensations,

Paris, 1780; acessível in www.gallica.bnf.fr/.

LE BRUN, Ch., Méthode pour apprendre à dessiner les passions, Amsterdam, 1702; ed. facsimile, Hildes-

heim, 1982, Georg Olms Verlag; acessível (ed. facsimile, 1982) in www.archive.org.de/.

LE CLERC, S., Traité d’Architecture, Paris, 1714; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

LE MUET, P., Manière de bien bastir pour toutes sortes de personnes, Paris, 1623, reeds. 1647, 1664, 1681; ed.

1623 acessível in www.cnum-cnam.fr/; ed. facsimile da ed. 1647, A. Blunt (ed.), Richmond / Surrey,

1972, Gregg Press; id., avec introd. et des notes de C. Mignot, Aix-en-Provence, 1981, Pandora Éditions.

LE PAUTRE, A., Les Oeuvres d’Architecture, Paris, 1652; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/; ed.

facsimile Farnborough, 1966, Gregg Press.

LEDOUX, C.-N., L’architecture considerée sous le rapport de l’art, des moeurs et de la législation , Paris,

1804; acessível in www.gallica.bnf.fr/; reed. 1844, 2 vols. (ed. Ramée, aumentada com gravuras), ed.

facsimile, Nördlingen, 1990-94, Alfons Uhl Verlag, 2 vols..

LEGEAY, J.-L., Collection des divers sujets des Vases, Tombeaux, Ruines et Fontaines utiles aux Artistes,

inventée et gravée par..., Paris, 1770; ver, EROUART, G., L’architecture au pinceau : Jean-Laurent

Legeay. Un Piranésien Français dans l’Europe des Lumières, Paris, 1982, Electa Moniteur.

LEONI, G., The Architecture of A. Palladio, in Four Books, London, 1716-19, 4 vols.; acess. in www.e-rara.ch/.

––––, Ten Books on Architecture by Leone Battista Alberti, London, 1726; acessível in www.digi.ub.uni-

heidelberg.de/.

LEPAUTRE, P., Chapelle Royale de Versailles, Paris, 1725; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de.

LEPAUTRE, J., Œuvres d’architecture, Paris, 1751, 3 vols.; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de.

LEQUEU, J.-J., Architecture Civil, os desenhos são acessíveis in www.gallica.bnf.fr/.

LIEB, N., und DIETH, F., Die Vorarlberger Barockbaumeister, München-Zurich, 1960, Schnell & Steiner.

LIECHTENSTEIN, K. E. von, Das Werk von der Architektur, publicado por FLEISCHER, V., Fürst Karl Euse-

bius von Liechtenstein als Bauherr und Kunstsammler (1611-1684), Wien-Leipzig, 1910, p. 87-209.

LOBKOWITZ, J. C., Architectura Civil Recta, y Oblíqua..., Vigevano, 1678, 3 vols.; I.º e II.º vols. acessíveis

Page 160: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

160

in www.fermi.imss.it/; ed. facsimile con Estudio Preliminar de A. Bonet Correa, Madrid, 1984, Editorial

Turner, 3 vols.. – A BNP, em 1998-99, tinha um exemplar da edição original (em muito mau estado),

que entretanto deixou de constar do catálogo informático PORBASE.

LOCKE, S., Die Verbindung und Übereinanderstellung der Säulen, Dresden, 1783; acess. in www.e-rara.ch/.

LOSADA, M., Critica y Compendio Especulativo-Practico de la Arquitectura Civil, Madrid, 1740; acessível

in www.books.google.es/.

MACHADO, C. V., Conversações sobre a Pintura, Escultura, e Architectura, Lisboa, 1794, 2 vols.. – Em

depósito na BNP, Cotas B.A. 2957 P., B.A. 2958 P., L. 83535 P., F.G. 676; digitalizado em PURL

12120; acessível in http://purl.pt/12120/.

––––, Nova Academia de Pintura: dedicada às senhoras portuguezas que amão ou se applicão ao estudo

das Bellas Artes, Lisboa, 1817. – Em depósito na BNP, Cota B.A. 388 P.; acess. in http://purl.pt/6228/.

––––, Colleção de memorias relativas às vidas dos pintores, e escultores, architectos, e gravadores portugue-

ses, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal, recolhidas e ordenadas por..., Lisboa, 1823, reed.

com notas de J. M. Teixeira de Carvalho e V. Correia, Coimbra, 1922, Imp. da Universidade. – Ed.

1823, em depósito na Biblioteca Central da Marinha, Cota 3R5-18; ed. 1922, em depósito na BNP,

Cotas B.A. 1154, B.A. 13291, B.A. 16354, F.G. AP 1442, BG 131, RS 8122, RS 8122.2.

––––, Tratado de Architectura & Pintura, ms. c. 1801-10, ed. com paleog., A. C. Inácio, transc., pref. e

notas de F. G. Brandão, nota de abertura, A. P. Brandão, Lisboa, 2002, Fundação Gulbenkian.

MAGALHÃES DE ANDRADE, J. C. (trad.), Regras das sinco Ordens de Architectura, segundo os princi-

pios de Vignhola, Coimbra, 1787; acessível in www.archive.org.de/. – Em depósito na BNP, Cotas

B.A. 377 P., F. 7497.

MAROT, J., Recueil des Plans Profils et Elevations Des plusieurs Palais Chasteaux Eglises Sepultures Grotes

et Hostels Bâtis dans Paris, et aux environs, avec beaucoup de magnificence par les meilleurs Architects

du Royaume, Paris, meados Séc. XVII (não datado); acessível in www.bibliotheque-numerique.inha.fr/.

––––, Architecture Françoise, Recueil des Plans..., Paris, 1670; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

MASON, W., The English Garden, London, 1772-81, a new ed. corrected by W. Burgh, London, 1783;

acessível in www.books.google.de/.

MATEUS DO COUTO, O VELHO, Tractado de Architectura que leo o Mestre, e Architecto..., 1631. – Em

depósito na BNP, Cota COD. 946//1.

––––, Tractado de Prospectiva, ms. 1631-1641. – Em depósito na BNP, Cota COD. 946//4.

MATHIAS AYRES, Problema de Arquitectura Civil, demonstrado por..., escrito 1762, ed. Lisboa, 1777, 2

vols.; acessível in www.brasiliana.usp.br/. – Em depósito na BNP, Cotas B.A. 346 P., Cotas B.A. 454

P., F. 7601, F.G. 209, Univ. Católica Port. – Bibl. João Paulo II UCPL.

MEDRANO, Ph., Tablas de reduccion que comprehenden quantas comparaciones puedan hacerse entre el

Pie, y vara de Castilla, y Pie de Rey, y Toisa de Paris en longitud quadrado, y cubico..., s.l., 1748;

acessível in www.bibliotecadigitalhispanica.bne.es/.

MEMMO, A., Elementi d’Architettura lodoliana ossia l’arte del fabbricare con solidità scientifica e con

eleganza non capricciosa, 1786, reed. 1833-34, 2 vol.; acessível in www.books.google.de; ed. facsimile,

Page 161: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

161

Milano, 1973, Gabriele Mazzotta Editore.

MIDDLETON, Ch. Th., Picturesque and Architectural Views for Cottages, Farmhouses and…, London,

1793; ed. facsimile, Farnborough, 1972, Gregg Press.

––––, The Architect and Builder’s Miscellany, on Pocket Library; Containing Original Picturesque Designs

in Architecture, &c., London, 1799; acessível in http://digitalgallery.nypl.org/.

MILIZIA, F., Principij di Architettura Civile, Venezia, 1781, 3 vols.; acessível in www.books.google.de; ed.

facsimile, s.l., 2000, Sapere.

MONGE, G., cuja Géométrie descriptive, Paris, An VII (1800); acessível in www.gallica.bnf.fr/.

MONTEAGUDO, D. A. L., Libro de barios Adornos, ms. c. 1780, agora editado por La Coruña, 1985, Fun-

dación Pedro Barrié de la Maza / Editorial Atlântico.

MORITZ, K. Ph., Vorbegriffe zu einer Theorie der Ornamente, Berlin, 1793; acess. in www.books.google.de/;

ed. facsimile, mit Einführung von H.-W. Krutf, Nördlingen, 1986, Alfons Uhl Verlag.

MORRIS, R., An Essay In Defence of Ancient Architecture; or a Parallel of the Ancient Buildings with the

Modern, London, 1728; acessível in www.archive.org.de; ed. facsimile, Farnborough, 1971, Gregg Pr.

NEUFFORGUE, J.-F., Recueil élémentaire d’Architecture, Paris, 1757-80, 10 vols.; acessível in www.biblio-

theque-numerique.inha.fr/.

OECHSLIN, W., Die Voralberger Barockbaumeister, Einsielden, 1963, Benziger AG.

OPPENORT, G. M., Livre de Fragments d’Architectures, Recüeilis et dessinés à Rome, d’apres les plus

beaux Monuments, Paris, 1715; acessível in www.archive.org.de/.

ORTIZ Y SANZ, J., Abaton Reseratum..., Romae, 1781; acessível in www.books.google.es.

––––, Los Diez Libros de Archîtectura de M. Vitruvio Polión, Madrid, 1787; acessível in www.sedhc.es/

bibliotecaD/; ed. facsimil, Madrid, 1990, COAM.

––––, Los cuatro Libros de Arquitectura de Andres Paladio, Vicentino, Madrid, 1797; acessível in www.

sedhc.es/bibliotecaD/; ed. facsimile, Barcelona, 1987, reed. 1993, Alta Fulla.

––––, Instituciones de Arquitectura Civil acomodadas en lo possible a la doctrina de Vitruvio, Madrid, 1819;

ed. facsimile, Madrid, 1990, COAM.

OSIO, C. C., Architettura civile dimostrativamente proporzionata et accresciuta, Milano, 1641, reed. 1661,

1686; ed. 1661, acessível in www.fermi.imss.it/;

OUVRARD, R., Architecture harmonique, ou Application de la doctrine des proportions de la musique à

l’architecture, Paris, 1679. – Obra raríssima de que se conservam apenas dois exemplares: um na BNF,

Cote RES- V- 1886 (mais microfilme), e outro no Kunstgeschichtemuseum / Univ. Bern / Suíça.

PAIN, W., The British Palladio, London, 1786; ed. facsimile, printed on demand, s.l./USA, 2010, Gale Ecco.

PAINE, J., Plans, Elevations and Sections of Noblemen and Gentleman Houses, London, 1767-83; ed. facsimi-

le, with introd. by Dr. B. Barber, Howden/UK, 2002, Hull Academic Press.

PALLADIO, A., L’Antichità di Roma, Oxford, 1709; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de.

PATTE, P., Monumens érigés en France a la gloire de Louis XV, Paris, 1765; acessível in www.bibliotheque-

numerique.inha.fr/.

––––, Mémoires sur les objets les plus importantes de l’Architecture, Paris, 1769; acessível in www.e-rara.ch/;

ed. facsimile, Génève, 1973, Minkoff.

Page 162: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

162

PANOFSKY, E., Dürers Kunsttheorie – vornehemlich in ihrem Verhältnis zur Kunsttheorie der italiener,

Berlin, 1915, Reimer Verlag.

PFEFFINGER, J. F., Fortificaçam moderna, ou recompilaçam de differentes methodos de fortificar... com

hum diccionário alphabetico dos termos militares, tradução de Manuel da Maia, Lisboa, 1713. – Em

depósito na BNP, Cotas S.A. 3944 A., F. 3216, F. 7730, RES. 4556 P. – Original francês, Nouvelle

Fortification Françoise, Espagnole, Italienne, et Hollandoise. Ou Recueil de Differentes Manières de

Fortifier en Europe..., Amsterdam, 1698, reed. com o título, Fortification Nouvelle, ou Recueil de dif-

férentes Maniéres de fortifier en Europe, La Haye, 1740; acessível in www.books.google.de.

PIMENTEL, L. S., Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares & Irregulares,

Fortes de Campanha, e outras obras pertencentes à Architectura Militar..., Lisboa, 1680; acessível in

www.books.google.de/. – Original em depósito na BNP, Cotas S.A. 386 A., S.A. 946 A., S.A. 947 A.,

S.A. 1138 A., S.A. 4612 A., S.A. 4868 A., S.A. 4869 A., F. 169, F. 274, F. 4689, RES. 460 A., RES.

912 V.; ed. facsimile, Lisboa, 1993, Direcção do Serviço de Fortificações e Obras Militares.

PELLEGRINI, P., L’architettura, ms. fins Séc. XVI, ed. critica a cura di G. Panizza, introd. e note di A. B.

Mazzotta, Milano, 1990, Edizioni Il Polifilo.

PENTHER, J. F., Anleitung zur Burgerlichen Bau-Kunst, Augsburg, 1744-48, 4 vols.; acessível in www.digi.

ub.uni-heidelberg.de.

PERRAULT, C., Les dix livres d’architecture de Vitruve corrigez et traduits nouvellement en François avec des

Notes & des Figures, Paris, 1673; ed. facsimile, presentée par A. Delmas, Paris, 1965, 2e ed. 1979, Bal-

land; 2e ed. 1684; acessível in www.gallica.bnf.fr/; ed. facsimile, Bruxelles, 1996, P. Mardaga. – Desta há

ed. portuguesa, Os Dez Livros de Architectura de Vitrúvio, trad. de H. Rua, Lisboa, 1998, ICIST.

––––, Ordonnance des cinq espèces de colonnes selon la methode des anciens, Paris, 1683; acessível in www.

digi.ub.uni-heidelberg.de/.

PERRAULT, Ch., Paralèlle des anciens et des modernes, en ce qui regarde les arts et les sciences, Paris,

1688-96, 4 vols.; acessível in www.books.google.de/; ed. facsimile, Hrsg. H. R. Jauss und M. Imdahl,

München, 1964, Eidos Verlag, 4 vols.; id. s.l./USA, 2009, Kessinger Publishing, 4 vols..

PERSON, N., Novum Architecturae Speculum, Mainz, 1699-1710; ed. facsimile, Hrsg. F. von Arens, mit

Beiträgen von E. Gleck und R. Schneider, Mainz, 1977, Stadtbiliothek.

PEYRE, M.-J., Oeuvres d’Architecture, Paris, 1765; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/; ed. facsimile

Farnborough, 1967, Gregg Press.

PIRANESI, G.-B., Della Magnificenza ed Architettura de’ Romani, Roma, 1761; acessível in www.digi.ub.

uni-heidelberg.de/; ed. facsimile, con introd. di A. Giuliano, Milano, 1993, Edizioni Il Polifilo.

––––, «Parere su l’Architettura», in Osservazioni sopra la Lettre de Monsieur Mariette aux auteurs de la Ga-

zette Littéraire de l’Europe, Roma, 1765, p. 9-16; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/; ed. re-

cente, Napoli, 1993, Clean Edizioni.

PLÓ Y CAMIN, A., El Arquitecto pratico, civil, militar, y agrimensor, dividido en tres libros..., Madrid,

1767; acessível in www.sedhc.es/bibliotecaD/; ed. facsimile, Valencia, 1998, Librería Paris-Valencia.

PONZ, A., Viage de España, Madrid, 1772-94, 18 vols.; acessível in www.archive.org/.

POPE, A., Epistle IV to Richard Boyle, Earl of Burlington, 1731, in POPE, A., Epistles to Several Persons

Page 163: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

163

(Moral Essays), ed. by F. W. Bateson, London-New Haven, 1951, 2. ed. 1961, Yale University Press.

PRADO, J. e VILLALPANDO, J. B., In Exechielem, Explanationes et Apparatus Urbis, ac Templi Hiero-

solymitani Commentariis et imaginibus illustratus, Roma, 1596, 1604, 1604, 3 vols.; acessível in

www.fondosdigitales.us.es/; ed. facsimile, Madrid, 2000, Siruela, 3 vols.; também, VILLALPANDO,

J. B., El Tratado de la Arquitectura Perfecta en la Ultima Vision del Profeta Ezequiel, pról. de P. Gavi-

lanes, trad. de Fray L. Rubio, Madrid, 1990, COAM (Colegio Oficial de Arquitectos de Madrid).

QUATREMÉRE DE QUINCY, A. Ch., Architecture, in Encyclopédie Methodique, Paris, Vol. I, A-C, 1788,

Vol. II, C-M, 1801, Vol. III, M-Z, 1825; acessível in www.gallica.bnf.fr/.

RALPH, J., A Critical Review of the Public Buildings, Statues and Ornaments, In, and about London, Lon-

don, 1736, reeds. sucessivas; reed. 1783, acessível in www.archive.org.de/.

REYNOLDS, J., Discourses on Art, 1769-90, ed. whit notes and an historical and biographical introd. by E.

G. Johnson, Chicago, 1891; ed. 1891, acessível in www.archive.org.de/.

RICCI, J., Tratado de la pintura sabia, ms. 1662; consultável na Fundação Lázaro Galdiano; ed. facsimile,

Toledo, 2002, Antonio Pareja Editor, 2 vols..

RICHARDSON, G., Treatise of the Five Orders of Architecture, London, 1787; ed. facsimile, Farnborough,

1969, Gregg Press; id., print on demand, s.l./USA, 2002, UMI.

––––, New Designs in Architecture, London, 1792; ed. facsimile, printed on demand, s.l./USA, 2010, Gale Ecco.

––––, The New Vitruvius Britannicus, 1802, 1808, London, 2 vols.; ed. facsimile, New York, 1970, B. Blom.

RIEGER, Ch., Universae Architecturae civilis Elementa, Vindobonae (Wien), Pragae & Triestae, 1756;

acessível in www.books.google.de.

––––, Elementos de toda la Architectura Civil, trad. do latim de M. Benavente, Madrid, 1763; acessível in

www.gilbert.aq.upm.es/sedhc/; ed. facsimile, Sevilla, 2011, Consejeria de Obras Publicas y Trans-

portes; id., s.l./USA, print on demand, 2012, Nabu Press.

––––, Universae Architecturae militaris Elementa, Vindobonae (Wien), 1758; acessível in www.e-rara.ch/.

ROLAND DE VIRLOYS, Ch.-F., Dictionnaire d’Architecture Civile, Militaire et Navale... dont tous Les

Termes sont exprimés, en François, Latin, Italien, Espagnol et Allemand, 1770-71, 3 vols.; acessível

in www.bsb.muechen-digital.de/.

RUBENS, P. P., Palazzi di Genova, Antwerpen, 1622; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de; ed. facsi-

mile mit Einleitung von H. Schomann, Dortmund, 1982, Harenberg Kommunikation.

RYKWERT, J., The First Moderns: The Architects of the Eighteenth Century, Camb./Mass., 1980, MIT

Press. – Ed. espanhola, Los primeros modernos. Los arquitectos del Siglo XVIII, trad. por J. G. Bera-

mendi, Barcelona, 1982, Gustavo Gili.

SACHSEN, H. von, Fürstliche Baulust, nach dero eigenen hohen Disposition, Glücksburg, 1698; livro elec-

trónico em PDF, eBooks & more, SLUB, acessível in www.books2ebooks.eu/; ver, também, «Die

Fürstlichen Bau-Lust des Herzogs Heinrich von Sachsen-Römhild», in www.archimaera.de/.

SAINT-HILARION, F. B., Des proportions d’architecture, c. 1680, ms. COD.Icon. 193, BSB; acessível in

www.digitale-sammlungen.de/.

SAINT-MAUX, J.-L. V. de, Lettres sur l'architecture des anciens et celle des modernes, dans laquelles se

trouve developpé le génie symbolique qui préside aux Monuments de l'Antiquité, Paris, 1787; ed. fac-

Page 164: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

164

simile, Génève, 1974, Minkoff. – Por equívoco atribuída a Charles François Viel de Saint-Maux.

SANCHES, A. N. R., Tratado de la conservacion de la salud de los pueblos, y consideraciones sobre los

terremotos, trad. por B. Bails, Madrid, 1781, reed. 1798; acessível in www.books.google.de.

––––, Tratado da Conservação da Saúde dos Povos, Paris, 1756. – Em depósito na BNP, Cotas S.A. 8166 P.,

S.A. 22566 P., RES. 6359 P.. – ed. 1756, acessível in www.books.google.de; ed. texto actualizado,

Covilhã, 2003, Universidade da Beira Interior; acessível in www.estudosjudaicos.ubi.pt/rsanches.

––––, Cartas sobre a educação da mocidade, Colonia [Köln], 1760. – Em depósito na BNP, Cota RES. 250

V.; reed. M. de Lemos, Coimbra, 1922, Imprensa da Universidade; acessível in http://purl.pt/6377/4/.

SANDRART, J. von, Teutsche Academia der Bau-Bildhauer-und Mahler-Kunst, Nürnberg, 1675-79, 3 Bde,

id., Hrsg. J. Volkmann, Nürnberg, 1768-75, 8 Bde.; ed. facsimile (ed. 1675-79), mit einer Einführun-

gtexte von Ch. Klemm und J. Becker, Nördlingen, 1994, Alfons Uhl Verlag, 3 Bde,;

––––, L’Academia Todesca della Architectura Scultura et Pictura: oder Teutschen Academia..., Nürnberg,

1675-79, 2 Theile, 9 Bde.; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

SAVOT, L., L’architecture françoise des bâtiments particuliers, Paris, 1624, reeds. sucessivas; reed. 1642

acessível in www.digitale-sammlungen.de/; ed. facsimile reed. 1685, Génève, 1973, Minkoff.

SCAMOZZI, V., L’idea della architettura universale, Venetia, 1615, 2 vols.; acessível in www.digi.ub.uni-

heidelberg.de; ed. facsimil, Bologna, 1982, Arnaldo Forni Editore, 2 vols..

SCHELLING, F. W. J. von, Philosophie der Kunst, esc. 1802-03, ed. Stuttgart, 1859; ed. recente, Darmstadt,

1990, Wissenschaftliche Buchgesellschaft. – Ed. espanhola, Filosofía del Arte, trad. por V. López

Domínguez, Madrid, 1999, 2.ª ed. 2006, Editorial Tecnos.

SCHOPENHAUER, A., Die Welt als Wille und Vorstellung, Leipzig, 1819-59, 3 vols.: I, 1819; II, 1844, III,

1859; acessível in www.books.google.de;

SCHÜBLER, J. J., Synopsis Architecturae Civilis Eclecticae, Nürnberg, 1732-35, 4 vols.; acessível in www.

digi.ub.uni-heidelberg.de/;

––––, Perspectiva, Pes Picturae..., Nürnberg, 1719-20, 2 vols.; acessível in www.echo.mpiwg-berlin.mpg.de/.

SEDLMAYR, H., Verlust der Mitte: Die bildende Kunst des 19. und 20. Jahrunderts als Symptom und Sym-

bol der Zeit, Salzburg, 1948, Otto Müller Verlag.

––––, Die Revolution in der modernen Kunst, Hamburg, 1955, Rowohlt Taschenbuch Verlag. – Ed. portu-

guesa, A Revolução na Arte Moderna, trad. de A. Candeias, Lisboa, s.d., LBL.

SEIXAS, J. F., Tratado da Ruação para emenda das Ruas das Cidades, Villas, e Lugares deste Reyno..., ms. c.

1760. – Em depósito na BNP, Cota COD. 6961, digital. em PURL 16597; acess. in http://purl.pt/16597.

SHAFTESBURY, Characteristicks of Men, Manners, Opinions, Times, London, 1708-1714, 3 vols.;

acessível in www.archive.org.de/.

––––, Letter concerning the Art, or Science of Design, written from Italy, London, 1712; acessível in

www.books.google.de/.

SHENSTONE, W., The Leasowes, 1728, e Unconnected Thoughts on Gardening, edição póstuma, London,

1764; ambos in The Works in Verse and Prose, of William Shenstone…, London, 1764, 2 vols.;

acessível in www.books.google.de/.

SIMÕES FERREIRA, J. M., Recepção de Vitrúvio e Formação da Teoria da Arquitectura da Idade Moderna

Page 165: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

165

(Sécs. XV-XVI). – Esta publicação resultou do anterior Curso Livre, Abril-Maio 2011, edição do autor

em colaboração com o IHA-CI-FLUL.

SIMONIN-DELAGARDETTE, Tratado elemental de los cortes de canteria, o arte de la montea, trad. al

español por F. Martinez de la Torre e J. Asensio, Madrid, 1795; acessível in www.sedhc.es/biblioteca/.

––––, Traité élémentaire de la coupe des pierres ou art du trait, Paris, 1792; acess. in www.books.google.de/.

SOANE, J., Designs in Architecture consisting of Plans, Elevations and Sections for Temples, Baths, Cassines,

Pavillons, Garden-Seats, Obelisks, and other Buildings, London, 1778; ed. facsimile, Farnborough,

1968, Gregg Press; id., printed on demand, s.l./USA, 2011, Gale Ecco.

––––, Plans, Elevations and Sections of Buildings, Executed in the Counties of…, London, 1788; ed. facsimile,

Westmead, 1971, Gregg Press.

––––, Sketches in Architecture Containing Plans and Elevations of Cottages, Villas…, London, 1793; ed.

facsimile, Westmead, 1971, Gregg Press.

SOTOMAYOR, J. de, Modo de hacer incombustibles los Edificios, sin aumentar el coste de su construccion,

extractado de el, que escrivió en Francés el Conde Espie, Madrid, 1776; acessível in www.sedhc.es/

biblioteca/tratados/.

STEINGRUBER, J. D., Practische bürgerliche Baukunst, Nürnberg, 1773; livro electrónico em PDF, eBooks

& more, SLUB, acessível in www.books2ebooks.eu/.

STUART, J., and REVETT, N., Antiquities of Athens and other Monuments of Greece, London, 1762; aces-

sível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

STUKELEY, W., Stonehenge: a Temple Restaur’d to the British Druids, London, 1740; acessível in www.

sacred.texts.com/; ed. by A. Burl and N. Mortimer, New Haven-London, 2005, Yale University Press

SUCKOW, L. J. D., Erste Gründe der bürgerlichen Baukunst im Zusammenhang entworfen, Jena, 1751;

acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de.

SULLIVAN, L., «The Tall Office Building Artistically Considered», in Lippincott’s Magazine, March 1896.

SULZER, J. G., Allgemeine Theorie der Schönen Kunste, Leipzig, 1771-74, 2 vols.; acessível in www.digital.

ub.uni-duesseldorf.de/.

SUMMERSON, J., Architecture in Britain 1530-1830, Harmondsworth, 1953, 5.ª ed. 1970, Pelican Books.

SWITZER, S., Ichnographia Rustica, or the Nobleman, Gentleman and Gardener’s, London, 1715-18, 3

vols.; reed. 1718, acessível in www.archive.org/.

TEMPLE, W., Upon the Gardens of Epicurus; or of Gardening in the Year 1685, London, 1690, reed. 1909,

acessível in www.archive.org/.

TERZI, F., Embadometria o Misura di Superficie, ms. 1578. – Em depósito na BNP, Cota COD 15956, digi-

talizado em PURL 117; acessível in www.purl.pt/117/.

TURRIANO, L., Dos discursos de [...] el primero sobre el fuerte de San Lourenço de Cabeça Ceca en la

boca del Taxo, el segundo sobre limpiar la barra del dicho rio y otras diferentes1, c. 1622. – Em de-

pósito na BNP, COD. 12892, digitalizado em PURL 15386; acessível in www.purl.pt/15386/.

––––, Descripção e Historia das Ilhas do Mar Atlântico com arbitrios sobre as suas fortificações, ms. bilingue,

italiano-português, cópia e trad. de Fr. F. de Santo Thomaz, 1798. – Em depósito na BNP, COD. 892.

––––, Descrittione et historia del Regno de l’Isole Canaria Gia dette le Fortunate, con il parere delle loro

Page 166: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

166

fortificationi, escrito c. 1592; ed. como TORRIANI, L., Die Kanarischen Inseln und ihre Urbewohner,

Hrsg., eingeleitet, übersetzt und mit Fussnoten versehen von D. J. Wölfel, Leipzig, 1940, Verlag F. K.

Köhler, reed., Hallein, 1979, Burgfried-Verlag/IC. – Esta edição contém o ms. facsimilado. O editor é o

grande estudioso das particularidades linguísticas das Ilhas Canárias, e do seu mítico povo, os Guanches.

TORRIJA, J. de, Breve tratado de todo genero de bobedas, Madrid, 1661; acessível in www.fondosdigitales.

us.es/; ed. facsimile con Noticia del..., de G. Barbé-Coquelin, Valencia, 1981, Albatros Ediciones.

––––, Tratado breve, sobre las Ordenanzas de la villa de Madrid, y policia de ella, Madrid, 1661; acessível

in www.books.google.de/; ed. facsimile da reed. de 1760, con Noticia del..., de P. Navascués Palacio,

Valencia, 1979, Albatros Ediciones.

TOSCA, T. V., Compendio Matemático, Tomo V, Valencia, 1712; acessível in www.books.google.de/; ed.

facsimile, print on demand, s.l./USA, 2012, Nabu Press.

VALZANIA, F. A., Instituciones de Arquitectura del Arquitecto, Madrid, 1792; acessível in www.books.

google.de/; ed. facsimile, s.l./USA, 2012, Kessinger Publishing.

VANDELLI, D., Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural..., Coimbra, 1788. – Em depósito na

BNP, Cota S.A. 12112 P.; digitalizado em PURL 13958; acessível in http://purl.pt/13958.

––––, «Memoria sobre a Utilidade dos Jardins Botanicos», in Diccionario dos Termos Technicos de Historia

Natural..., Coimbra, 1788, p. 293-301; acessível in http://purl.pt/13958.

VANVITELLI, L., Dichiarazione dei Disegni del Reale Palazzo di Caserta, Napoli, 1756; acessível in

www.e-rara.ch/.

VASCONCELLOS, Pe. I. da P., Artefactos Symmetriacos e Geometricos, advertidos, e descobertos pela indus-

triosa perfeição das Artes Esculturaria, Architectonica, e da Pintura: com certos fundamentos, e regras

infalliveis para a symmetria dos corpos humanos, escultura, e pintura dos Deoses Fabulosos, e noticia

de suas propriedades, para as cinco ordens de architectura, e suas figuras geometricas, e para alguns

novos, e curiosissimos artefactos de grandes utilidades..., Lisboa, 1733; acessível in www.bibliothek-

oeschslin.ch/. – Originais em depósito na BNP, Cotas B.A. 237 V., B.A. 238 V., B.A. 549 V., B.A.

550 V., B.A. 551 V., S.A. 727 A., S.A. 4908 A., Fg. 1945, Fg. 7733.

VICO, G., La Scienza Nuova, Napoli, 1730; ed. de referência para estudo, 3.ª, Milano, 1744. – Ed. portuguesa,

trad. de J. V. de Carvalho, pref. A. M. B. de Melo, Lisboa, 2005, Fundação Gulbenkian.

VIEL, Ch.-F., Décadence de l’Architecture, à la fin du Dix-huitième Siécle, Paris, 1800; acessível in www.

archive.org.de/.

VIGÑOLA, J., Regla de las Cinco Ordenes de Arquitectura de Jacome de Vigñola, desenhadas por Diego de

Villanueva, Madrid, 1764; acessível in www.books.google.es; ed. facsimile, Madrid, 1994, COAM;

id., Madrid, 2009, Editorial Extramuros; id., s.l/USA, 2012, Nabu Press.

VILALOBOS, M. P. de, Tratado Do uso do Pantometra de Desenhar as Forteficasoins Assim do lado do

Polygono exterior para fora, como do lado do Polygono interior pera dentro nas figuras tanto regula-

res como irregulares Pello Methodo de Luis Serrão Pimentel..., ms. c. 1688-97. – Em depósito na

BNP, Cota COD. 13201; digitalizado em PURL 11495; acessível in www.purl.pt/11495/.

VILLANUEVA, D., Collecion de diferentes papeles criticos sobre todas las partes de la arquitectura, Madrid,

1766; acessível in www.udc.es/etsa/biblioteca/; ed. recente, Madrid, 1979, RABA de San Fernando.

Page 167: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

167

VISENTINI, A., Osservazioni, che servono di continuazione al trattato di Teofilo Gallacini, Venezia, 1771;

ed. facsimile, Farnborough, 1970, Gregg Press; id., Bologna, 1898, Arnaldo Forni Editore.

VITRÚVIO, Tratado de Arquitectura, trad. do latim, introd. e notas por M. Justino Maciel, ilusts. Th. N.

Howe, nota de apresentação, P. Varela Gomes, Lisboa, 2006, IST Press. – Ed. crítica, De l’architecture

(De architectura), Paris, 1969-2009, Collection des Universités de France / Les Belles Lettres, 10 vols. –

Ed. crítica, bilingue, da responsabilidade de vários especialistas: Ph. Fleury, P. Gros, Ch. Saliou, etc..

VITTONE, B., Istruzioni elementari per indirizzo de’giovani allo studio dell’Architettura Civile, Lugano,

1760, 2 vols.; acessível in www.archive.org.de.

VITTONE, B., Istruzioni diverse concernenti l’officio dell’Architetto Civile... ad aumento alle Istruzioni ele-

mentari... Della misura delle Fabriche, del Moto, Misura delle acque correnti, estimo de beni, Lugano,

1766, 2 vols.; acessível in www.archive.org.de.

YOUNG, E., The Complaint, or Night Thoughts, London, 1742, reeds. sucessivas e trads. em várias línguas

europeias. – Ed. portuguesa, Noites de Young. Opúsculos. Pensamentos, trad. J. C. de Oliveira, Lisboa,

1781, 2 vols.. – Em depósito na BNP, Cota L. 7064 P., L. 7065 P.

WALPOLE, H., On modern Gardening, escrito c. 1770, ed. London, 1771, in WALPOLE, H., Anedoctes of

Painting in England, London, 1771, a new ed., rev. with additional notes by R. N. Wornum, London,

1849, Vol. III, p. 783-813; acessível in www.books.google.de/.

––––, The Castle of Otranto, London, 1764. – Ed. portuguesa, O Castelo de Otranto, trad. do poeta Manuel

João Gomes, Lisboa, 1978, Editorial Estampa.

––––, «To Sir Horace Mann, Strawberry Hill, Feb. 25, 1750», in The Letters of Horace Walpole, Fourth Earl

of Orford, ed. by P. Cunningham, Edinburgh, 1906, John Grant, Vol. II, p. 193-98.

––––, A Description of the Villa... at Strawberry Hill near Twickeman, London, 1774, reed. 1784; ed. 1774,

acessível in www.books.google.de/.

WARE, I., A Complete Body of Architecture, London, 1756, 2 vols., reeds. 1757, c. 1758-60, e 1768. – Ed.

facsimile (ed. 1768), print on demand, s.l., s.d., UMI, 2 vols.; id., Farnborough, 1971, 2 vols..

––––, The Four Books of Architecture by Andrea Palladio, London, 1738; Books III e IV, acessíveis in

www.ub.uni-heidelberg.de/; ed. facsimile, New York, 1965, reed. 1977, Dover; ed. transl. by R. Tav-

ernor and R. Schofield, introd. By R. Tavernor, Camb./Mass., 1997, MIT Press.

––––, Designs of Inigo Jones and others…, London, 1743; acessível in www.e-rara.ch/.

WARTON, Th., The Pleasures of Melancholy, London, 1747; acessível in www.archive.org/.

WEINLIG, Ch. T., Briefe über Rom, escritas entre 1767-69, eds., Dresden, 1782-87, 3 vols..

WHATELY, Th., Observations on Modern Gardening, 1765, publicado, London, 1770; 2. ed. London, 1770,

acessível in www.books.google.de/.

WILHELM, J., Architectura civilis..., Frankfurt, 1649; acessível in www.digital.slub-dresden.de/.

WINCKELMANN, J. J., Gedanken über die Nachahmung der Griechischen Werke in der Mahlerey und

Bildhauer-Kuns, Dresden und Leipzig, 1755; acessível in www.archive.org.de.

––––, Geschichte der Kunst des Alterthums, Dresden, 1764; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de;

––––, Abhandlung von der Fähigkeit der Empfidung des Schönen in der Kunst, Dresden, 1763; acessível in

www.digitale-sammlungen.de;

Page 168: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

168

––––, Anmerkungen über die Baukunst der Alten, Leipzig, 1762; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de.

WOOD, J., THE ELDER, The origin of Building: or, the Plagiarism of the Heathens detected in Five Books,

London, 1741; ed. facsimile, Farnborough, 1968; id., printed on demand, s.l./USA, 2012, Gale Ecco.

––––, A Dissertation upon the Orders of Columns, London, 1750; ed. facsimile, printed on demand, s.l./USA,

2012, Gale Ecco, Print Editions (edições baratas mas de fraca qualidade).

––––, An Essay towards a Description of Bath, London, 1742, 2 vols.; reeds. 1749, 1765, 1769; reed. 1765

acessível in www.books.google.de/; ed. facsimile, printed on demand, s.l./USA, 2010, Gale Ecco.

WOOD, J., A Series of Plans for Cottages and Habitations of the Labourer, London, 1781; reed. 1806, ed.

facsimile, Farnborough, 1972, Gregg Press.

WOOD, R., The Ruins of Palmyra, otherwise Tedmor, in the Desart, 1753; acessível in www.digi.ub.uni-

heidelberg.de/; ed. Facsimile, Farnborough, 1971, Gregg Press ; id., Les Ruines de Palmyre, autrement

dite Tedmor, au desert, London, 1753; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/.

––––, The Ruins of Balbec, otherwise Heliopolis in Coelosyria, London, 1757; acessível in www.digi.ub.uni-

heidelberg.de/; ed. facsimile, Farnborough, 1972, Gregg Press; id., Les Ruines de Balbec, autrement

dite Heliopolis, dans le Coelosyrie, London, 1757.

WOOLFE, J., and GANDON, J,. Vitruvius Britannicus, or the British Architect…, Vol. IV, London, 1767;

ed. facsimile, s.l./USA, 2008, Dover Publications.

WOTTON, H., The Elements of Architecture, London, 1624; ed. facsimile with introd. by F. Hard, Char-

lottesville, 1968, University Press of Virginia; id., Farnborough, 1969, Gregg Press.

WREN, Ch., Tract’s I-IV, e Discourse on Architecture, in WREN, S., Parentalia: or Memoirs of the Family

of the Wren, London, 1750; id., BOLTON, A. T., ed. Wren Society 19, 1942.

ZANINI, G. V., Della architettura libri due, Padova, 1629, reed. 1677 e 1698; eds. 1629 e 1677 acessíveis in

www.archive.org/; ed. facsimile da ed. 1629, a cura di A. Hopkins, pref. di M. Piana, Vicenza, 2001,

CISAAP (Centro Internazionale di Studi d’Architettura Andrea Palladio).

História da Teoria da Arquitectura, incl. Antologias, Bibliografias e Dicionários:

AA VV., Architekturtheorie. Von der Renaissance bis zur Gegenwart, Hrsg. Ch. Thoenes und B. Evers, Köln,

2003, Taschen Verlag. – Ed. portuguesa, Teoria da Arquitectura. Do Renascimento até aos nossos dias.

117 Tratados apresentados em 89 Estudos, trad. de M.ª R. P. Boléo, Köln, 2004, Taschen Verlag.

ARNAU AMO, J., 72 Voces para uno Diccionario de Arquitectura Teorica, Madrid, 2000, Celeste.

BONET CORREA, A. (dir.), Bibliografia de arquitectura y urbanismo en España (1498-1880), Madrid-

Vaduz, 1980, Editorial Turner-Topos Verlag, 2 vols..

FICHET, F. (dir.), La théorie architecturale à l’âge classique. Essai d’anthologie critique, Bruxelles, 1979,

Pierre Mardaga.

GELERNTER, M., Sources of architectural form: A critical history of Western design theory, Manchester-

New York, 1995, Manchester Universty Press.

GERMAN, G., Einführung in die Geschichte der Architekturtheorie, Darmstadt, 1982, Wissenschaftliche

Buchgesellschaft. – Ed. suíça, Vitruve et le Vitruvianisme. Introduction à l’Histoire de la Théorie Archi-

tecturale, trad. par M. Zaugg et J. Gluber, préf. par J. Gubler, Lausanne, 1991, PPUR.

Page 169: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

169

GRASSI, L., Teorici e storia della critica d’arte, Roma, 1970-79, Multigrafica, 3 vols..

GRAVAGNUOLO, B., e CAPPELIERI, A., Le teorie dell’architettura nel Settecento, Napoli, 1998, Pironti.

HARRISON, CH., WOOD, P. J., and GEIGER, J., Art in Theory 1648-1815: An Anthology of Changing

Ideas, London, 1998, Blackwell.

HUNT, J. D., and WILLIS, P. (eds.), The Genius of the Place. The English Landscape Garden 1620-1820,

Camb./Mass., 1975, new ed. 2000, MIT Press.

JORMAKKA, K., Geschichte der Architekturtheorie, Wien, 2003, Selene.

KRUFT, H.-W., Geschichte der Architekturtheorie: Von der Antike bis zur Gegenwart, München, 1985, 4.

Aufl. 1995, Verlag C. H. Beck; eds. em italiano, castelhano, e inglês, esta, A History of Architectural

Theory: from Vitruvius to the Present, transl. by R. Taylor, E. Callader and A. Wood, New York,

1994, Princeton Architectural Press, acessível in www.books.google.de/.

MALLGRAVE, H. F., Modern Architectural Theory: A Historical Survey, 1673-1968, Cambridge, 2005,

Cambridge University Press.

––––, Architectural Theory: An Anthology from Vitruvius to 1870, Oxford , 2006, Blackwell.

SCHLOSSER, J., Die Kunstliteratur. Ein Handbuch zur Quellenkunde der Neueren Kunstgeschichte, Wien,

1924, 2. Aufl. 1985, Kunstverlag Anton Schroll.

SCIOLLA, G. C., Letteratura artistica dell’età barocca. Antologia di testi, Torino, 1984, G. Giappichelli.

SIMÕES FERREIRA, J. M., História da Teoria da Arquitectura no Ocidente: De forma resumida e como

Guião para o seu estudo mais aprofundado, pref. de Vítor Serrão, Lisboa, 2010, Vega.

––––, Arquitectura, Desenho Urbano e Tratadística: De Aldo Rossi a Vitrúvio, ou o “Breviário Mediterrânico”

da Teoria da Arquitectura e do Desenho Urbano, Diss. Mestrado em Desenho Urbano, Lisboa, 1999,

ISCTE, 4 vols.. – Em depósito na BNP, Cotas B.A. 20074-77 V; acessível in www.universia.es/.

––––, Visões de Utopia: As Teorias da Arquitectura e as Utopias Políticas nos alvores da Idade Moderna,

Diss. Mestrado em Filosofia, Lisboa, 2002, FCSH/UNL, 3 vols.. – Em depósito na BNP, Cotas B.A.

23760-62 V, e Uni. Nova Lisboa Fac. Ciên. Sociais Hum. T 292/1-/3; acessível in www.universia.es/.

––––, Arquitectura para a Morte: A Questão Cemiterial e seus reflexos na Teoria da Arquitectura, Diss.

Doutoramento em História e Teoria das Ideias, Lisboa, 2005, FCSH/UNL, 3 vols.. – Em depósito na

BNP, Cotas (ainda não cotada ?), e Univ. Nova Lisboa Fac. Ciên. Sociais Hum. T 1750/1-/3 – Idem,

com Nota de Apresentação de Luís Cunha, Lisboa, 2009, FCT/MCTES-Fundação Gulbenkian.

SOURIAU, É., Vocabulaire d’esthétique, publié sous la direction de A. Souriau, Paris, 1990, PUF.

SZAMBIEN, W., Symmetrie, gout, caractère. Théorie et terminologie de l’architecture à l’Âge Classique

1550-1800, Paris, 1986, Picard.

TATARKIEWICZ, W., História de la estética, 3. La estética moderna 1400-1700, trad. del polaco de D.

Rurzyka; trad. de fuentes latinas, A. Moreno; alemanas, francesas, inglesas, italianas y portuguesas, J.

Barja, Madrid, 1991, reed. 2004, Ediciones Akal.

TELLO, F. J. L. y SANZ SANZ, M.ª V., Estética y Teoria de la Arquitectura en los Tratados Españoles del

Siglo XVIII, Madrid, 1994, CSIC (Consejo Superior de Investigación Científica).

VIDLER, A., The Writhing of the Walls: Architectural Theory in the Late Enlightment, New York, 1986,

Princeton University Press.

Page 170: Teoria da Arquitectura no Ocidente, Sécs. XVII-XVIII - O Vitruvianismo entre Maneirismo, Classicismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Neogótico

170

VIZENTINI, M. A. (a cura), L’arte dei giardini: Scritti teorici e pratici dal XIV al XIX secolo, Milano, 1999,

Edizioni Il Polifilo, 2 vols..

WIEBENSON, D. (ed.), Architectural Theory and Practice from Alberti to Ledoux, Chicago, 1982, Architec-

tural Publications.

Dicionários e Histórias da Arquitectura e da Arte dos Jardins (bibliografia sucinta):

BENEVOLO, L., Storia dell’architettura del Rinascimento, Bari, 1968, 2 vols.., reeds. sucessivas.

CHUECA GOITIA, F., Historia de la arquitectura ocidental, Madrid, 1979, Dossat, 6 vols..

CORREIA, J. E. H., Arquitectura portuguesa: Renascimento, Maneirismo e Estilo Chão, Lisboa, 1991, Presença.

CURL, J. S., A Dictionary of Architecture and Landscape Architecture, Oxford, 2006, Oxford Univ. Press.

GOTHEIN, M. L., Geschichte der Gartenkunst, I: Von Ägypten bis zur Renaissance in Italien, Spanien und

Portugal; II: Von der Renaissance in Frankreich bis zur Gegenwart, Jena, 1914, 2. Aufl. 1926, Diedrichs,

2 vols. (reeds. recentes e trads. em inglês e italiano. – Refere os jardins portugueses no final do Vol. I).

HARRIS, C. M. (ed.), Illustrated Dictionary of Historic Architecture, New York, 1977, Dover Publications.

KOSTOV, S., A History of Architecture, Oxford, 1985, Oxford University Press.

KUBLER, G., Art and Architecture in Spain and Portugal and their American dominions, Harmonsworth,

1959, Penguin Bokks.

––––, Portuguese plain architecture: between spices and diamonds, 1521-1706, Middletown / Conn. / USA,

1972, Wesleyan University Press. – Ed. portuguesa, A arquitectura portuguesa chã: entre as especi-

arias e os diamantes, 1521-1706, trad. J. H. Pais da Silva, pref. J. E. H. Correia, Lisboa, 1988, Vega.

NERVI, P. L. (dir.), Storia universale dell’architettura, Milano, 1972-78, Electa, 14 vols. – Cada volume,

correspondente a diferentes períodos, é tratado por especialistas; reeds. e trads. em várias línguas. Para

os períodos estudados recomenda-se: P. MURRAY (Renascimento e Maneirismo), CH. NORBERG-

SCHULZ (Barroco e Barroco Tardio), e R. MIDDLETON e D. WATKIN (Sécs. XVIII e XIX).

NUTTGENS, P., The Story of Architecture, London, 1997, Phaidon Press.

PEVSNER, N., FLEMING, J., and HONOUR, H., A Dictionary of Architecture, Harmondsw., 1975, Penguin.

PIGAFETTA, G., Parole chiave per la storia dell’architectura, Milano, 2002, Jaca Book.

PORTOGHESI, P. (dir.), Dizionario Enciclopedico di Architettura e Urbanistica, 1968, Istituto Editorial

Romano, 6 vols..

SERRÃO, V., História da Arte em Portugal – O Renascimento e o Maneirismo (1500-1620), Lisboa, 2001,

Editorial Presença.

––––, História da Arte em Portugal – O Barroco, Lisboa, 2003, Editorial Presença.

VARELA GOMES, P., A Cultura Arquitectónica e Artística em Portugal no Século XVIII, Lisboa, 1988,

Editora Caminho.

ZOPPI, M., Storia del giardino europeo, Roma-Bari, 1995, Laterza.