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MINISTMINISTRIO GOELRIO GOEL
Pr. A. Carlos G. BentesPr. A. Carlos G. BentesDOUTOR EM
TEOLOGIADOUTOR EM TEOLOGIA
PhD em Teologia SistemPhD em Teologia Sistemticatica
TEONTOLOGIA A DOUTRINA DE DEUS
A SUA UNO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS (1 Jo
2.27)
A sabedoria a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim
com tudo o que
possuis adquire o conhecimento (Pv 4.7).
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
2
Copyright 2012 Antnio Carlos Gonalves Bentes Capa: Carlos Bentes
Reviso e diagramao: Charles Reuel de Andrade Bentes 1 edio: 1984 2
edio: 2012 Bentes, Antnio Carlos Gonalves
Teontologia Belo Horizonte: edio do autor, 2012 .
ISBN CDD CDU
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
3
EPGRAFE
Ganhar almas a principal ocupao do ministro cristo. Na verdade,
deveria ser a
principal atividade de todo crente verdadeiro.
Eu desejaria antes levar um s pecador a Jesus Cristo do que
desvendar todos os
mistrios de Deus, pois a salvao aquilo pelo que devemos
viver.
Charles H. Spurgeon
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
4
NDICE
INTRODUO: A TRPLICE REVELAO DE DEUS 5
PREFCIO 6
UMA TEOLOGIA, NO UMA RELIGIO 7
TEONTOLOGIA 9
I. REFLEXES SOBRE A TEOLOGIA 9
II. O QUE TEOLOGIA? 10
III. A NECESSIDADE DA TEOLOGIA SISTEMTICA 25
IV. A EXISTNCIA DE DEUS 28
VI. IMANNCIA E A TRANSCENDNCIA DE DEUS 42
VII. A NATUREZA DE DEUS. 47
VIII. A PERSONALIDADE DE DEUS 53
IX. CARTER DE DEUS 59
X. COSMOLOGIA 59
XI. ATRIBUTOS 76
DEFINIES DOS ATRIBUTOS DE DEUS 103
XII. OS NOMES DE DEUS 105
O NOME DE DEUS 107
O NOME DENOTA ESSNCIA 114
XIII. DECRETO DE DEUS 121
XIV. PREDESTINAO 132
XV. A TRINDADE NAS ESCRITURAS: 152
XVI. CONCLUSO 169
BIBLIOGRAFIA 171
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
5
A DOUTRINA DE DEUS
INTRODUO: A TRPLICE REVELAO DE DEUS TRPLICE REVELAO DE DEUS I. A
REVELAO NATURAL: Sl 19.1,2; At 14.17; Rm 1.19,20
1.1. A NATUREZA REVELA O SEU CRIADOR: Sl 19.1,2; 1.2. A NATUREZA
D TESTEMUNHO DE DEUS: At 14.17; 1.3. A NATUREZA REVELA: [Rm
1.19,20]:
1.3.1. OS ATRIBUTOS INVISVEIS DE DEUS; 1.3.2. O SEU ETERNO
PODER; 1.3.3. A SUA DIVINDADE.
II. A REVELAO VERBAL: 2 Rs 17.13; Sl 103.7
2.1. A REVELAO ESCRITA ATRAVS DOS PROFETAS: 2 Rs 17.13; 2.2. A
REVELAO ESCRITA ATRAVS DE MOISS: Sl 103.7; 2.3. A REVELAO ESCRITA
ATRAVS DOS APSTOLOS:
III. A REVELAO PESSOAL: Jo 1.18; Hb 1.1,2
3.1. JESUS O DEUS UNIGNITO REVELA O PAI: Jo 1.18; 14.9; Cl 1.15;
3.2. DEUS NOS FALA PELO FILHO: Hb 1.2; 3.3. JESUS A IMAGEM DO DEUS
INVISVEL: Cl 1.15-20; Jo 12.45; 14.8-10.
O CONHECIMENTO DE DEUS
Revelao Natural Revelao Especial Dada a todos Destinada a todos
Dada a Poucos Destinadas a Todos
Suficiente para a Condenao Suficiente para a Salvao Declara a
Grandeza de Deus Declara a Graa de Deus
Manifestaes 1. Natureza: Salmo 19.1 2. Histria: Israel 3.
Conscincia Moral Humana 4. Natureza Religiosa do Ser Humano
Manifestaes 1. Moiss e os Profetas: Hb 1.1 2. A Encarnao: Hb 1.2
3. Os Apstolos: Hb 2.3,4
Apologtica 1. Argumento Cosmolgico 2. Argumento Teleolgico 3.
Argumento Antropolgico 4. Argumento Ontolgico
Natureza 1. Pessoal: Fp 3.10 2. Antropolgica: Linguagem Humana
3. Analgica: Rm 5.7,8
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6
PREFCIO 1
Dt 6.5: Ame o SENHOR, o seu Deus, de todo o seu corao, de toda a
sua alma e de
todas as suas foras.
Dt 6.4,5: Oua, Israel: O SENHOR, o nosso Deus, o nico SENHOR.
Ame o
SENHOR, o seu Deus, de todo o seu corao, de toda a sua alma e de
todas as suas foras.
Mc 12.30: Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu corao, de toda
a sua alma, de
todo o seu entendimento () e de todas as suas foras.
Quando foi perguntado a Jesus qual era o principal dos
mandamentos, ele respondeu
citando um versculo do Antigo Testamento; mas ao faz-lo, ele
efetuou uma adio
importante. O texto que ele citou a prpria essncia do Judasmo:
Ouve, Israel, o Senhor,
nosso Deus, o nico Senhor. Amars, pois, ao Senhor, teu Deus, de
todo o teu corao, de
toda a tua alma e de toda a tua fora. Assim est escrito em
Deuteronmio 6.4,5. Mas Jesus
adicionou: Amars, pois, o Senhor teu Deus... de todo o teu
entendimento [dia/noia - mente]
(Mc 12.30). Esta adio fornece a razo de ser desta apostila.
Sempre houve (e continua
havendo) uma necessidade de se estudar teologia porque o Mestre
exortou seus discpulos a
amarem seu Deus, no somente com o corao e a fora, mas tambm com
a mente.
Ainda que o Mestre nunca tivesse dado tal prescrio, seus
discpulos dificilmente
poderiam se esquivar do uso de suas mentes, uma vez que foram
compelidos a us-las em
virtude das exigncias do mundo greco-romano, ambiente no qual
estavam inseridos; homens
de mente aguada, que compartilhavam esse ambiente com a Igreja
Primitiva propunha aos
cristos questes que exigiam profunda reflexo e distines
rigorosas. Hoje tambm temos
que usar a nossa mente para estudarmos a Palavra, para
ensinarmos e para fazermos
apologia. As exigncias atuais se no so iguais so maiores.
O Cristianismo, enraizado na histria, assevera uma revelao dada
de uma vez por
todas. Mas esta revelao ainda tem que ser explicada.
A Palavra Teologia
O termo Teologia, segundo os seus aspectos etimolgicos, um
vocbulo composto de
duas palavras gregas - (theos, Deus), e (logos, discurso ou
expresso). Tanto
Cristo, a Palavra Viva, quanto a Bblia, a Palavra Escrita, so
Logos de Deus. Eles so para
Deus o que a expresso para o pensamento e o que o discurso para
a razo.
1 Prefcio do livro: Uma Histria do Pensamento Cristo. Vol. 1 de
Justo Gonzles. Editora cultura Crist.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
7
Uma Teologia, No Uma Religio 2
H uma diferena profunda entre o estudo de teologia e o estudo de
religio.
Historicamente, o estudo de religio tem sido includo sob os
cabealhos de antropologia,
sociologia, ou at mesmo psicologia. A investigao acadmica de
religio tem procurado ser
fundamentada num mtodo emprico-cientfico. A razo disso bastante
simples. A atividade
humana parte do mundo fenomenal. uma atividade que visvel,
sujeita anlise
emprica. Psicologia pode no ser concreta como a biologia, mas o
comportamento humano
em resposta a crenas, mpetos, opinies, etc. pode ser estudado de
acordo com o mtodo
cientfico.
Para afirmar isso de modo mais simples, o estudo da religio
principalmente o estudo
de certo comportamento humano, seja sob a rubrica da
antropologia, sociologia ou psicologia.
O estudo de teologia, por outro lado, o estudo de Deus. Religio
antropocntrica; teologia
teocntrica. A diferena entre religio e teologia , em ltima
anlise, a diferena entre Deus e
o homem dificilmente uma diferena pequena.
A revelao de Deus trplice:
I. A REVELAO NATURAL: Sl 19.1,2; At 14.17; Rm 1.19,20. Estudando
a natureza
encontramos indcios sobre a natureza de Deus. A isto chamamos de
teologia natural.
Teologia natural se refere a informao sobre Deus colhidas na
natureza. As pessoas
abordam a teologia natural por duas perspectivas distintas.
Primeiro h aqueles que vem a
teologia natural como uma teologia derivada de pura especulao
humana por um raciocnio
sem ajuda nenhuma passam a refletir filosoficamente sobre a
natureza. Em segundo lugar h
aqueles que, de acordo com a abordagem histrica teologia
natural, vem isso como sendo
produto de e baseado em revelao natural. Revelao algo que Deus
faz. a sua auto-
revelao.3
A teologia natural algo que ns adquirimos. o resultado ou de
especulao humana,
vendo a natureza como um objeto neutro em si, ou de recepo
humana de informao dada
pelo Criador em e atravs de sua criao. A segunda abordagem v a
natureza no como um
objeto neutro em si que mudo, mas como um teatro da revelao
divina no qual a informao
transmitida atravs da ordem criada.4
2 SPROUL. Robert Charles. O Que Teologia Reformada. 1 ed. So
Paulo: Editora Cultura Crist, 2009, p. 6-7. 3 SPROUL. Robert
Charles. Op. Cit., p. 29. 4 Ibid. p. 29.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
8
A forte antipatia teologia em nossos dias, baseada em especulao
humana sem
suporte, trouxe em consequncia uma rejeio ampla e por atacado de
toda a teologia
natural.5
II. A REVELAO VERBAL: 2 Rs 17.13; Sl 103.7. Ns estudamos
teologia de vrias
maneiras. A primeira estudando a Bblia. Historicamente a Bblia
foi recebida pela igreja
como um depsito ou armazm normativo de revelao divina.
Pensou-se, em ltima
instncia, ser seu autor o prprio Deus. por isso que a Bblia foi
chamada o verbum Dei
(Palavra de Deus) ou a vox Dei (voz de Deus). Foi considerada um
produto de auto-revelao
divina. A informao contida dentro dela vem no como resultado de
uma investigao
emprica ou especulao humana, mas sim por revelao sobrenatural.
chamada de
revelao porque vem da mente de Deus.6
Jesus respondendo aos discpulos no caminho de Emas disse:
nscios, e tardos de
corao para crerdes tudo o que os profetas disseram! Porventura
no importava que o Cristo
padecesse essas coisas e entrasse na sua glria? E, comeando por
Moiss, e por todos os
profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as
Escrituras. A Bblia revela quem
Deus, revela a Santssima Trindade.
A teologia clssica fez uma distino forte entre revelao especial
e revelao geral.
As duas espcies de revelao so distinguidas pelos termos especial
e geral por causa da
diferena em alcance de contedo e na recepo de cada uma.7
A revelao especial especial porque fornece informaes especficas
sobre Deus
que no podemos encontrar na natureza. A natureza no nos ensina o
plano de Deus para a
salvao; a Bblia ensina. Aprendemos muito mais pontos especficos
sobre o carter e
atividades de Deus com as Escrituras do que jamais poderamos
colher da criao. A Bblia
tambm chamada de revelao especial porque a informao nela contida
desconhecida
por pessoas que nunca a leram ou a tiveram proclamada para
elas.8
III. A REVELAO PESSOAL: Jo 1.18; Hb 1.1,2. A encarnao do Verbo
a
revelao suprema de Deus. Ningum jamais viu a Deus. O Deus
unignito, que est no seio
do Pai, esse o deu a conhecer (Jo 1.18). Havendo Deus
antigamente falado muitas vezes, e
5 SPROUL. Robert Charles. Op. Cit., p. 29. 6 SPROUL. Robert
Charles. O Que Teologia Reformada. 1 ed. So Paulo: Editora Cultura
Crist, 2009, p. 7.
7 SPROUL. Robert Charles. Op. Cit., p. 9. 8 SPROUL. Robert
Charles. Op. Cit., p. 9.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
9
de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes ltimos dias
a ns nos falou pelo Filho, a
quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez
tambm o mundo (Hb 1.1,2). COM QUE PROPSITO SE ENCARNOU? 9
1. PARA PODER MANIFESTAR DEUS AO HOMEM. O Cristo encarnado a
resposta
divina pergunta: Como Deus ? O Logos, o Deus-Homem, expressa em
ideias e realidade
humanas tudo aquilo que pode ser traduzido do Infinito. Ningum
jamais viu a Deus: o Deus
unignito, que est no seio do Pai, quem o revelou (Jo 1.18).
2. PARA PODER MANIFESTAR O HOMEM A DEUS. Cristo em Sua
humanidade, o
ltimo Ado, o ideal que satisfaz completamente o Criador: Este o
meu Filho amado em
que me comprazo (Mt 3.17).
TEONTOLOGIA
A Teontologia o estudo do Ser de Deus. chamada tambm de Teologia
Prpria. TE THEOS () = Deus On () = Ser Logia () = Estudo
Lembra-se ao aluno que o texto essencial para ser estudado a
prpria Bblia. A teologia
sistemtica, tem como interesse sistematizar o contedo teolgico
da mesma para transmitir
suas verdades de forma coerente e organizada.
Mesmo que o esforo da sistemtica de resumir e organizar o ensino
bblico, haver
sempre a necessidade de recorrer ao texto bblico por pelo menos
trs razes: 1) a falcia e
limitao humana em resumir e categorizar todo o ensino teolgico
da Bblia; 2) a
responsabilidade do indivduo em averiguar de acordo com a prpria
Bblia a certido dos
ensinos transmitidos; e 3) a riqueza da narrativa bblica em
transmitir verdades teolgicas
atravs de eventos revelacionais, os quais no se classificam de
forma natural em listas e
definies sistemticas, mas no quotidiano do indivduo e do povo
(essas formas
comunicativas encerram ensino teolgico nas interaes humanas e
divinas, como tambm no
revelar as pressupostos teolgicos com os quais os personagens
trabalham).
I. REFLEXES SOBRE A TEOLOGIA
O que no teologia: as formas do anncio.
Teologia a reflexo intelectual sobre o ato, o contedo e
implicaes da f crist. 9 CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemtica.
1 ed. Vol. 1. So Paulo: Editora Hagnos, 2003, p.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
10
Vrias so as formas pelas quais se realiza este anncio:
1. Kerigma. Edital, notificao, intimao por meio de um arauto ou
mensageiro. Seu
escopo estabelecer o primeiro contato com Cristo, suscitar o
interesse por Ele,
transmitir a sua mensagem central, por si mesmo suficiente para
abrir para uma
resposta de adeso, e assim iniciar o processo de converso.
2. Catequese.10 Instruir de viva voz. Ensino da doutrina da
Igreja ministrado de forma
metdica e sobretudo oral. Pedagogia da f destinada no s formao,
como
adeso do catecmeno () mensagem da Salvao. Doutrinao.
3. Homilia. Exposio em tom familiar feita pelo pastor ou
sacerdote para explicar as
matrias de religio e sobretudo o Evangelho.
II. O QUE TEOLOGIA?
A partir do momento em que comeamos a refletir e a falar acerca
de Deus, estamos
fazendo teologia.
Teologia :
1. Discurso concernente a Deus;
2. A cincia do sobrenatural;
3. A cincia da religio;
4. O estudo sobre Deus.
5. A f buscando o entendimento da verdade de Deus.
Definies mais elaboradas:
1. A cincia de Deus segundo ele se revelou em sua Palavra
(Ernest Kevan);
2. A apresentao dos fatos da Escritura, em sua ordem e revelao
prprias (Charles
Hodge);
3. a argumentao sobre a substncia divina cognoscvel, por meio de
Cristo na obra
da redeno (Ugo de So Vtor sc. XI- XII).
4. A interpretao metdica dos contedos da f crist (Paul
Tillich);
10
A palavra Catequese () se origina do verbo grego katch (), que
significa ensinar de viva voz, anunciar, educar, catequizar.
Catequese uma palavra composta de kata = contra e chsis = rudo;
sendo a katchsis
() a ao de proclamar, de anunciar. Catequese a ao de educar e de
instruir os crentes depois da sua converso;
primeira funo da Igreja, depois do anncio da f.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
11
5. Dogmtica a cincia na qual a igreja, segundo o estado atual do
seu conhecimento,
expe o contedo da sua mensagem, criticamente, isto , avaliando-o
por meio das
Sagradas Escrituras e guiando-se por seus escritos confessionais
(Karl Barth).
6. A Teologia a reflexo da Igreja a respeito da salvao trazida
por Cristo e a
respeito do Evangelho da salvao proclamada e explicada pelos
apstolos (Roger
Olson).
7. Uma cincia que segue um esquema ou uma ordem humana de
desenvolvimento do
utrinrio e que tem o propsito de incorporar no seu sistema a
verdade a respeito de
Deus e o Seu universo a partir de toda e qualquer fonte (Lewis
Sperry Chafer).
8. A teologia sistemtica o ramo da teologia crist que rene as
informaes
extradas da pesquisa teolgica, organiza-as em reas afins,
explica as suas
aparentes contradies e, com isso, fornece um grande sistema
explicativo
(diferentemente da teologia histrica ou da teologia bblica).
9. A cincia da teologia sistemtica assim chamada porque procura
compreender a
doutrina de maneira coerente e unificada. No alvo da teologia
sistemtica impor
Bblia um sistema derivado de certa filosofia. Antes, seu alvo
discernir o
interrelacionamento dos ensinos da prpria Bblia (R. C.
Sproul).
Kevan somente se refere revelao de Deus em sua Palavra.
Barth mais abrangente, j que assinala que essa cincia forjada
pela igreja.
Histria
Paralelos entre as estruturas da Teologia Sistemtica e a Histria
da Igreja
TEOLOGIA SISTEMTICA HISTRIA DA IGREJA SCULO
I. BIBLIOLOGIA Gnosticismo e Cnon do NT II a IV
II. TEONTOLOGIA
III. CRISTOLOGIA
IV. PNEUMATOLOGIA
Controvrsia Trinitria
Controvrsia Cristolgica
IV
V
V. ANTROPOLOGIA Controvrsia Pelagiana V
VI. SOTERIOLOGIA Reforma Protestante;
Reformados x Arminianos
XVI
XVII
VII. ECLESIOLOGIA Reforma;
Luteranos x Anabatistas
XVI
XVI e XVII
VIII. ESCATOLOGIA Dispensacionalismo, Adventismo etc. XIX e
XX
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
12
A tentativa de organizar as variadas ideias da religio crist (e
os vrios tpicos e temas
de diversos textos da Bblia) em um sistema simples, coerente e
bem-ordenado uma tarefa
relativamente recente. Na ortodoxia oriental, um exemplo antigo
a Exposio da F
Ortodoxa, de Joo de Damasco (feita no sculo VIII), na qual se
tenta organizar, e demonstrar
a coerncia, a teologia de textos clssicos da tradio teolgica
oriental. No Ocidente, as
Setenas de Pedro Lombardo (no sculo XII), em que coletada uma
grande srie de
citaes dos Pais da Igreja, tornou-se a base para a tradio de
comentrio temtico e
explanao da escolstica medieval - cujo grande exemplo a Suma
Teolgica de Toms de
Aquino. A tradio protestante de exposio temtica e ordenada de
toda a teologia crist
(ortodoxia protestante) surgiu no sculo XVI, com os Loci
Communes de Felipe Melanchton e
as Institutas da Religio Crist de Joo Calvino. No sculo XIX,
especialmente em crculos
protestantes, um novo modelo de teologia sistemtica surgiu: uma
tentativa de demonstrar que
a doutrina crist formava um sistema coerente baseado em alguns
axiomas centrais. Alguns
telogos se envolveram, ento, numa drstica reinterpretao da f
tradicional com o fim de
torn-la coerente com estes axiomas. Friedrich Schleiermacher,
por exemplo, produziu Der
christliche Glaube nach den Grundsatzen der evangelischen
Kirche, na dcada de 1820, onde
a ideia central a presena universal em meio humanidade (algumas
vezes mais oculta,
outras, mais explcita) de um sentimento ou conscincia de
absoluta dependncia; todos os
temas teolgicos so reinterpretados como descries ou expresses de
modificaes deste
sentimento.
A teologia crist, como a maioria das disciplinas, proveniente de
diversas fontes. Tem havido
uma grande discusso na tradio crist quanto identidade e relativa
importncia dessas
fontes para anlise teolgica. 11
Em termos gerais, quatro fontes principais tm sido reconhecidas
dentro da tradio crist:
1. As Escrituras;
2. A Razo;
3. A tradio;
4. A experincia
11 McGRATH, Alister E. Teologia: Sistemtica, histrica e
filosfica. So Paulo: Ed. Shedd Publicaes, 2005, p. 199.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
13
A teologia move-se em trs plos: 12
1. O Evangelho bblico; 2. A tradio da Igreja; 3. As formas do
pensamento do mundo contemporneo.
OS MDULOS DA TEOLOGIA SISTEMTICA
10.Escatologiaeskhatos
5. Hamartiologiahamartia
9. Pneumatologia pneuma
4. Angelologiaanguelos
8. Eclesiologiaekklesia
3. Antropologiaantropos
7. Soteriologia soter
2. Teontologiathes
6. Cristologia= mashiha
1. Bibliologia
Principais Divises da Teologia Sistemtica 13
1. BIBLIOLOGIA. Uma considerao dos fatos essenciais a respeito
da Bblia.
2. TEONTOLOGIA. Uma considerao dos fatos a respeito de Deus Pai,
Filho e
Esprito Santo, parte das obras deles.
3. ANGELOLOGIA. Uma considerao dos fatos a respeito dos anjos,
eleitos e cados.
4. ANTROPOLOGIA. Uma considerao dos fatos a respeito do ser
humano.
5. HAMARTIOLOGIA. Uma considerao dos fatos a respeito da Queda
(do pecado).
6. CRISTOLOGIA. Uma considerao de tudo que a Escritura diz a
respeito do Senhor
Jesus Cristo.
7. SOTERIOLOGIA. Uma considerao dos fatos a respeito da
salvao.
8. ECLESIOLOGIA. Uma considerao de todos os fatos a respeito da
Igreja.
9. PNEUMATOLOGIA. Uma considerao das Escrituras a respeito do
Esprito Santo.
10. ESCATOLOGIA. Uma considerao de tudo na Escritura que foi
preditivo no tempo
em que foi escrito.
12 GRENZ, Stanley e OLSON, Roger E. Teologia do Sculo 20. 1 ed.
So Paulo. Editora Cultura Crist, 2003. 13 CHAFER, Lewis Sperry.
Teologia Sistemtica, vol. 1 e 2. 1 ed. So Paulo: Editora Hagnos,
2003, p. 58
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
14
O tema central da teologia Deus; no deve haver dvidas quanto a
isso. A questo
que se levanta saber se a primeira pergunta que o ser humano faz
naturalmente refere-se a
um Ser superior, ou se antes a pergunta sobre si mesmo.
provvel que o clssico tema principal da Teologia Sistemtica,
Deus, sua existncia e
atributos, seja uma herana do pensamento grego em torno do ser,
e do qual se derivou a
formulao das formosas provas testas, aceitas sem maiores
vacilaes pelos telogos
sistemticos e incorporadas ao inconsciente coletivo dos cristos
que as aceitaram como se
fossem parte da prpria revelao.
A TEOLOGIA UMA CINCIA RELACIONADA A OUTRAS
Cincia significa simplesmente saber.
Um modo de conhecimento que se prope, mediante uma linguagem
rigorosa e
apropriada, formular leis por meio das quais se regem os
fenmenos.
O Que Cincia? uma forma de conhecimento que aspira formular,
recorrendo a uma
linguagem rigorosa e apropriada se possvel, com auxlio da
linguagem matemtica.
Cincias especulativas: So as que estudam as relaes entre os
conceitos abstratos. Ex.:
Matemtica.
Cincias Naturais: So as que estudam os fenmenos na natureza,
tanto em seu aspecto
terico como prtico. Ex.: Biologia, Geologia, Botnica etc.
Cincias Sociais. So as que tm como objeto de estudo o ser
humano. Ex.: Histria,
Psicologia e Sociologia.
Teologia Escolstica. Baseia-se em argumentos racionais e
filosficos.
Teologia Positiva. Baseia-se em pressupostos tirados da
Bblia.
H duas ordens de conhecimento que se distinguem tanto por seu
princpio quanto por seu
objeto:
1. Lumen Rationis luz da razo. Princpio pelo qual, inicialmente,
conhecemos alguma
coisa;
2. Lumen Fidei luz da f. Objeto pelo qual podemos atingir os
chamados mistrios da
Criao, uma vez que estes no so atingveis pela razo natural, mas
somente pela
revelao.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
15
COM QUE CINCIAS A TEOLOGIA SE RELACIONA? 14
TEOLOGIA
LingsticaHermenuticaFilologiaFilosofia (Teologia
Sistemtica)Psicologia (Teologia Pastoral)SociologiaPoltica
(Teologia da Esperana, Teologia da libertao)
Relaciona-se intimamente com as cincias humanas, sociais e as da
linguagem. Por
exemplo, ao falar de teologia estamos nos referindo a um
discurso, elaborado a partir de dados
tirados de um livro (a Bblia). Portanto, isto implica uma
vinculao direta com a lingstica15, a
hermenutica, e a filologia16.
A cincia no um rgo novo de conhecimento. A cincia a hipertrofia
de
capacidades que todos tm. Isto pode ser bom, mas pode ser muito
perigoso. Quanto maior a
viso em profundidade, menor a viso em extenso. A tendncia da
especializao conhecer
cada vez mais de cada vez menos (Rubem Alves).
A POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA17
S Deus pode falar sobre Deus (Karl Barth).
Um pr-requisito para se construir um sistema teolgico provar que
o conhecimento
teolgico possvel. Jesus diz que Deus Esprito (Joo 4.24); ele
transcende a
existncia espao-temporal do homem. A questo que ento se levanta
diz respeito a
como os seres humanos podem conhecer algo sobre ele. Deuteronmio
29.29 tem a
resposta:
14 ROLDN, Alberto F. Para que serve a Teologia? 1 ed. Londrina,
PR. Descoberta Editora Ltda, 2004. 15 Lingstica o Estudo das lnguas
nas suas mtuas relaes e nos seus princpios, leis fonticas e
semnticas, morfologia e
sintaxe. 16 Filologia uma Cincia que, por meio de textos
escritos, estuda a lngua, a literatura e todos os fenmenos de
cultura de um
povo. 17 CHEUNG, Vicent. TEOLOGIA SISTEMTICA. Boston, MA 02215,
USA. 2003, p. 6-9.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
16
As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus, mas as
reveladas
pertencem a ns e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos
todas as palavras
desta lei (Deuteronmio 29.29).
Teologia possvel porque Deus se revelou a ns atravs das palavras
da Bblia.
Deus revelou sua existncia, atributos e exigncias morais a todo
ser humano, incluindo tal
informao dentro da mente do homem. A prpria estrutura da mente
humana inclui algum
conhecimento sobre Deus. Esse conhecimento inato,
conseqentemente, faz com que o homem
reconhea a criao como a obra de um criador. A grandeza,
magnitude e o desgnio complexo
da natureza servem para lembrar ao homem de seu conhecimento
inato sobre Deus.
Os cus esto declarando a glria de Deus. A vasta expanso mostra o
seu
trabalho manual. Um dia fala disso a outro dia; uma noite mostra
conhecimento a outra
noite. No h discursos, no h palavras; Nenhum som ouvido delas.
Sua voz estende-se por
toda a terra, suas palavras at os confins do mundo (Salmo
19.1-3).18
Portanto, a ira de Deus revelada dos cus contra toda impiedade e
injustia dos homens
que suprimem a verdade pela injustia, pois o que de Deus se pode
conhecer
manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a
criao do mundo os
atributos invisveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza
divina, tm sido vistos
claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de
forma que tais homens
so indesculpveis; porque, tendo conhecido a Deus, no o
glorificaram como Deus, nem lhe
renderam graas, mas os seus pensamentos tornaram-se fteis e o
corao insensato deles
obscureceu-se (Romanos 1.18-21).19
Embora o testemunho da natureza concernente ao seu criador seja
evidente, o
conhecimento do homem sobre Deus no vem da observao da criao. A
ltima
passagem em Romanos nos informa que o conhecimento de Deus no
vem de
procedimentos empricos, mas do que tem sido diretamente escrito
na mente do homem
um conhecimento inato:
De fato, quando os gentios, que no tm a Lei, praticam
naturalmente as coisas
requeridas pela lei, tornam-se lei para si mesmos, embora no
possuam a Lei; pois mostram
que os requerimentos da Lei esto escritas em seu corao. Disso do
testemunho tambm a
18 Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian
Faith; Nashville, Tennessee: Thomas Nelson, Inc.; p. 396. Lemos na
NVI assim: Os cus declaram a glria de Deus; o firmamento proclama a
obra das suas mos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o
revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, no se ouve a sua
voz.. 19 Sua realidade invisvel seu eterno poder e sua divindade
tornou-se inteligvel, desde a criao do mundo, atravs das criaturas,
de sorte que no tm desculpa (v. 20, Bblia de Jerusalm).
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
17
sua conscincia e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora
defendendo-os (Romanos
2:14-15).20
Os telogos chamam isso de REVELAO GERAL. Esse conhecimento de
Deus inato
na mente do homem e no se origina da observao do mundo externo.
O homem no infere do
que ele observa na natureza que deve existir um Deus; antes, ele
conhece o Deus da Bblia
antes de ter acesso a qualquer informao emprica. A funo da
observao estimular a
mente do homem a recordar esse conhecimento inato de Deus, que
foi suprimido pelo pecado, e
tambm por esse conhecimento inato que o homem interpreta a
natureza.
Toda pessoa tem um conhecimento inato de Deus, e para onde quer
que ele olhe,
a natureza lembra disso. Todos os seus pensamentos e todas as
suas experincias do
testemunho irrefutvel da existncia e dos atributos de Deus; a
evidncia inescapvel.
Portanto, aqueles que negam a existncia de Deus so acusados de
suprimir a verdade pela sua
perverso e rebelio, e ao reivindicaram ser sbios, tornaram-se
loucos (Romanos 1:22).
Em outras palavras, a revelao geral de sua existncia e atributos
por toda a sua criao
isto , o conhecimento inato do homem e as caractersticas do
universo deixam
aqueles que negam a sua existncia sem escusa, e assim eles so
justamente
condenados.
Embora uma pessoa tenha um conhecimento inato da existncia e dos
atributos de Deus,
e o universo criado sirva como um lembrete constante, a revelao
geral insuficiente para
conceder conhecimento salvfico de Deus e de informao impossvel
de ser assim obtida.
Assim, Deus revelou o que Lhe agradou nos mostrar atravs da
revelao verbal ou
proposicional isto , a Escritura. Essa a sua REVELAO ESPECIAL.
Atravs dela, ganha-
se informao rica e precisa concernente a Deus e s suas coisas.
tambm atravs da
Escritura que uma pessoa pode obter um conhecimento salvfico de
Deus. Uma pessoa que
estuda e obedece a Escritura ganha salvao em Cristo:
Quanto a voc, porm, permanea nas coisas que aprendeu e das quais
tem
convico, pois voc sabe de quem o aprendeu. Porque desde criana
voc conhece as
Sagradas Letras, que so capazes de torn-lo sbio para a salvao
mediante a f em Cristo
Jesus. (2 Timteo 3.14-15).
O conhecimento de Deus tambm possvel somente porque ele fez o
homem
sua prpria imagem, de forma que h um ponto de contato entre os
dois, a despeito da 20 Quando ento os gentios, no tendo Lei, fazem
naturalmente o que prescrito pela Lei, eles, no tendo Lei, para si
mesmo so Lei; eles mostram a obra da lei gravada em seus coraes,
dando disto testemunho sua conscincia e seus pensamentos... (v.
14-15, Bblia de Jerusalm).
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18
transcendncia de Deus. Animais ou objetos inanimados no podem
conhecer a Deus como o
homem, mesmo se lhes fosse dada sua revelao verbal.
Deus preferiu nos revelar informao atravs da Bblia em palavras,
ao invs de
imagens ou experincias. A comunicao verbal tem a vantagem de ser
precisa e
acurada, quando propriamente feita. Visto que esta a forma de
comunicao que a Bblia
assume, um sistema teolgico digno deve ser derivado de proposies
encontradas na
Bblia, e no de quaisquer meios de comunicao no-verbais tais como
sentimentos ou
experincias religiosas.
Ora, todo sistema de pensamento parte de um princpio primeiro, e
usa o
raciocnio dedutivo ou indutivo, ou ambos, para derivar o
restante do sistema. Um sistema que
usa raciocnio indutivo no confivel e desbanca para o ceticismo,
visto que a induo
sempre uma falcia formal, que freqentemente depende de informao
emprica, e produz
concluses universais a partir de particularidades. A certeza
absoluta vem somente de
raciocnio dedutivo, nos quais particularidades so deduzidas de
universalidades por
necessidade lgica.
Contudo, visto que o raciocnio dedutivo nunca produz informao
que j no esteja
implcita nas premissas, o princpio primeiro de um sistema
dedutivo contm todas as
informaes para o resto do sistema. Isto significa que um
princpio primeiro por demais
estrito no conseguir produzir um nmero suficiente de proposies
para providenciar aos
seus partidrios uma quantidade significativa de conhecimento.
Assim, induo e princpio
primeiro inadequados tornam ambos impossvel o conhecimento.
Mesmo que um primeiro princpio parea ser amplo o suficiente,
devemos providenciar
justificativa para afirm-lo. Sua justificao no pode vir de uma
autoridade ou princpio
mais altos, porque ento ele no seria o primeiro princpio ou a
autoridade ltima dentro
do sistema. Uma autoridade ou princpio menor dentro de um
sistema no pode verificar o
primeiro princpio, visto que deste prprio princpio primeiro que
esta autoridade ou princpio
menor depende. Portanto, um primeiro princpio de um sistema de
pensamento deve ser auto-
autenticador ele deve provar a si mesmo verdadeiro.
A autoridade ltima dentro do sistema cristo a Escritura;
portanto, nosso princpio
primeiro a infalibilidade bblica, ou a proposio, A Bblia a
palavra de Deus. Embora
haja argumentos convincentes para apoiar um tal princpio mesmo
se algum fosse empregar
mtodos empricos, de forma que nenhum incrdulo poderia refut-los,
o cristo deve consider-
los como inconclusivos, visto no serem os mtodos empricos
confiveis. Alm do mais, se
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19
fssemos depender da cincia ou de outros procedimentos empricos
para verificar a
verdade da Escrituras, estes testes permaneceriam ento como
juzes sobre a prpria palavra
de Deus, e assim, a Escritura no mais seria a autoridade ltima
em nosso sistema. Como
Hebreus 6:13 diz, Quando Deus fez a sua promessa a Abrao, por no
haver ningum superior
por quem jurar, jurou por si mesmo. Visto que Deus possui
autoridade ltima, no h nenhuma
autoridade maior pela qual algum possa pronunciar a Escritura
como infalvel.
Entretanto, nem todo sistema que reivindica autoridade divina
tem dentro do seu
princpio primeiro o contedo para provar a si mesmo. Um texto
sagrado pode contradizer
a si mesmo, e auto se destruir. Outro pode admitir a dependncia
da Bblia crist, mas por outro
lado, essa condena todas as outras alegadas revelaes. Ora, se a
Bblia verdadeira, e ela
reivindica exclusividade, ento todos os outros sistemas de
pensamento devem ser falsos.
Portanto, se algum afirma uma cosmoviso no-crist, ele tem de, ao
mesmo tempo, rejeitar a
Bblia.
Isto gera um confronto entre as duas cosmovises. Quando isto
acontece, o cristo pode
estar confiante que seu sistema de pensamento impenetrvel aos
ataques alheios, e que o
prprio sistema bblico fornece o contedo para tanto defender como
atacar em tais embates.
O cristo pode destruir a cosmoviso de seus oponentes
questionando o princpio primeiro
e as proposies subsidirias do sistema. O princpio primeiro do
sistema se contradiz?
Ele falha em satisfazer aos seus prprios requerimentos? O
sistema se desmorona por
causa de problemas fatais de empirismo e induo? As proposies
subsidirias contradizem
uma a outra? Ele se apropria de premissas crists no dedutveis de
seu prprio primeiro
princpio? O sistema d respostas adequadas e coerentes para as
questes ltimas, tais
como aquelas concernentes epistemologia, metafsica e tica?
Para repetir, o princpio primeiro do sistema cristo a
infalibilidade bblica, ou a
proposio, A Bblia a palavra de Deus. Deste princpio primeiro, o
telogo pe-se a construir
um sistema de pensamento inclusivo baseado na revelao divina
infalvel. At onde este
raciocnio correto, toda parte do sistema deduzido por
necessidade lgica do princpio
primeiro infalvel, e , assim, igualmente infalvel. E, visto que
a Bblia a revelao
verbal de Deus, que requer nossa adorao e comanda nossa
conscincia, um sistema
de teologia deduzido com validade lgica autorizado e obrigatrio.
Portanto, at onde este
livro for acurado na apresentao do que a Escritura ensina, seu
contedo resume o que todos
os homens devem crer, o que os cristos esto comprometidos a
crer, e o que objetivamente
verdadeiro.
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20
Resumindo:
A Teologia possvel a partir de trs realidades:
1. Deus se revelou em Jesus Cristo e na sua Palavra;
2. O ser humano foi criado imagem de Deus;
3. O Esprito Santo atua iluminando-nos (No h teologia sem o
Esprito Santo).
A Cincia da Teologia do Velho Testamento 21
1. A palavra teologia pode ser em si fonte de confuso porque tem
sido usada de muitos
modos diferentes. A palavra no ocorre no Antigo ou no Novo
Testamento. Plato e
Aristteles a empregam no sentido de cincia das coisas divinas,
ideia que pode insinuar
que as coisas divinas podem ser compreendidas s com o intelecto.
Terrien ops-se a
essa definio de Plato e Aristteles. Ele disse que, no Antigo
Testamento, a expresso
mais prxima de teologia o conhecimento de Deus. Essa expresso
indica uma
realidade que induz e transcende a investigao e a discusso
intelectual. Ela designa a
presena de Iav.
2. A teologia a cincia que trata da natureza de Deus e da sua
relao com o universo. A
Teologia do Velho Testamento o estudo dos atributos de Deus e o
propsito das suas
atividades na histria e na vida do povo de Israel, de acordo com
a doutrina da revelao
divina nos livros sagrados deste povo.
3. A cincia da Teologia do Velho Testamento propriamente se
limita ao estudo dos ensinos
caractersticos, distintivos e persistentes dos veculos da
revelao divina.
4. A cosmologia dos escritores tem pouca importncia para o
telogo, mas a doutrina da
criao do mundo e das atividades de Deus na direo da histria tem
importncia
especial, porque pe em relevo o poder e a autoridade do Senhor.
A Exegese das
Escrituras essencial na exposio dos seus ensinos teolgicos, e
deve acompanhar a
discusso das doutrinas. O conhecimento do hebraico indispensvel
para o telogo que
deseje aprofundar-se no estudo da teologia do Velho Testamento.
preciso estudar os
ensinos dos escritores segundo a sua prpria norma psicolgica,
reconhecendo e
interpretando as experincias religiosas, reconhecendo e
interpretando as experincias
religiosas que so distintivas e que se relacionam
entranhadamente com as doutrinas
bblicas.
5. Qual o valor do estudo da Teologia do Velho Testamento para o
cristo? Os dois 21 SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento.
So Paulo: Vida Nova, 2001, pg. 68.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
21
testamentos esto entrelaados de tal modo que no se pode entender
a fundo um, sem
conhecimento bsico do outro. O Novo Testamento surgiu do Antigo.
O Velho Testamento
era a Bblia dos cristos primitivos antes da produo do Novo. O
pregador, ou qualquer
outro estudante do Evangelho pode estudar o Velho Testamento, a
Bblia do Mestre, no
somente com proveito, mas com o corao enlevado22 (Lc 24.29-49).
Os ensinos
teolgicos da primeira diviso da Bblia constituem as verdades
religiosas e bsicas que
produziram a Segunda parte.
6. O Antigo Testamento a histria das experincias de comunho do
povo de Israel com
Deus, e a resposta progressiva de Deus fome espiritual dos
homens.
7. Os dois Testamentos so complementos um do outro e o
cristianismo no pode
abandonar a primeira parte da sua Bblia sem grande prejuzo da f
crist.
A Revelao de Deus nas Obras da Criao.23
1. O Velho Testamento no faz distino especial entre a revelao
geral ou natural, e a
revelao direta aos escritores da Bblia.
2. No h no hebraico a palavra natureza, mas as obras do mundo
fsico, segundo os
escritores bblicos, dependem absolutamente de Deus, o seu
Criador e Sustentador.
3. Como o controlador do mundo, Deus usa a natureza para revelar
o seu poder, a sua
sabedoria, a sua glria e a sua benignidade (Am 5.8; J 38; Is
40.12,26; Pv 8,9; Sl 104).
4. Devido psicologia dos hebreus, difcil encontrar no Velho
Testamento qualquer apoio
do conceito moderno da revelao natural ou geral, no sentido de
que o homem, sem
qualquer orientao divina, capaz de descobrir, nas obras da
natureza, provas
satisfatrias da existncia de Deus.
Deus Se Revela Diretamente aos Escritores Bblicos24
1. Deus conhecido, segundo o Velho Testamento, no porque os
homens nos seus
esforos intelectuais o descobriram, mas somente porque o prprio
Deus se revelou.
2. O processo da revelao transcende os poderes racionais do
homem. Essencialmente a
revelao bblica a comunicao de conhecimento da Pessoal
(Pessoalidade) de Deus.
Ora, estas verdades a respeito da Pessoalidade, da vontade e dos
planos de Deus que o
homem no tem a capacidade de descobrir, mas uma vez comunicadas
por Deus, no
intercurso25 com homens idneos, concordam perfeitamente com o
conhecimento racional
22 ENLEVADO. Causar xtase, arroubamento, enlevo a; extasiar;
arrebatar; deliciar; prender a ateno, absorver. 23 CRABTREE, A. R.
Teologia do Velho Testamento, 2 ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1977, p.
45-52. 24 CRABTREE, A. R. Op. Cit., p. 20. 25 Comunicao, trato,
Relacionamento.
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22
da humanidade.
3. Quando a revelao se refere s verdades comunicadas por Deus,
estas se tornam
elementos do conhecimento que mais enriquecem a vida humana.
4. Segundo o conceito bblico, o homem no recebe, no processo da
revelao, doutrinas
teolgicas acerca de Deus, mas recebe conhecimento pessoal do
Senhor, da sua
majestade, santidade e glria. Recebe tambm conhecimento da
justia do Senhor, do
seu propsito e da sua vontade para com o seu povo. A essncia da
revelao bblica o
intercurso de inteligncias.
Deus se revela por suas atividades na vida e na histria do seu
povo, escolhido para ser a sua
possesso peculiar dentre todos os povos do mundo (x 19.4-6;
20.2). Pelas atividades
constantes do Senhor, em favor de Israel, atravs de todas as
vicissitudes da histria, ele
revelou o seu hesed ( ),26 o seu amor firme, fiel, constante e
imutvel. Na orientao persistente de Israel, Deus levantou os seus
mensageiros para interpretar a sua vontade e o
seu propsito na escolha deste povo. Os profetas apresentavam ao
povo as suas credenciais
pela convico inabalvel de que eram portadores da palavra (dabar
) 27 de Deus, e pela qualidade da mensagem que lhe transmitiam. O
fato essencial da revelao a verdadeira
atividade de deus na vida do povo atravs de seus agentes, os
profetas. O mais alto conceito
da religio fraternidade entre Deus e o homem, mas no pode haver
fraternidade quando a
comunicao se limita ao homem. Se Deus ficasse eternamente
silencioso, a religio seria a
mais triste de todas as decepes humanas, e esta experincia
espiritual da personalidade
humana seria a mais cruel iluso do universo irracional. 5. Os
escritores do Antigo Testamento no faziam uma distino formal entre
a revelao
geral e a revelao especial. Deus conhecido em parte por todas as
suas operaes no
mundo fsico e na conscincia do homem.
A revelao nunca uma mera transmisso de conhecimento, mas sim
um
relacionamento que traz vida e transformao (Alister E.
Mcgrath).
A revelao envolve a manifestao da presena pessoal de Deus e no
meras
informaes a seu respeito (Emil Brunner).
26 Hesed. A palavra significa o amor firme, persistente,
imutvel, no cumprimento das promessas do seu concerto com Israel,
mesmo quando o povo falhava e se mostrava indigno. A palavra sempre
acentua a fidelidade de Deus para com o seu concerto com Israel. 27
Dabar significa comunicao do Senhor, mensagem, mandamento, ordem ou
promessa. O Logos do Novo Testamento relaciona-se com Dabar do
Senhor.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
23
A Teologia serve Igreja:
A proteo da f dos mais fracos necessria, exigindo que se leve em
conta a
situao especfica das pessoas e dos grupos e que se lance mo de
recursos
catequticos e pedaggicos mais convenientes. Todavia, isso no
significa que devam
ser escondidos dos fiis os problemas e as questes teolgicas que
hoje so os mais
defendidos e ensinados nas instituies teolgicas mais
competentes, bem como na
maioria das faculdades de teologia. Manter o povo na ignorncia
pode ser uma
estratgia adequada a curto prazo para defender o atual status
quo eclesial, mas a
longo prazo conduz formao de guetos e torna-se invivel em uma
sociedade
pluralista e de meios de comunicao de massa, como a nossa.28
Onde falta a teologia, a ao crist torna-se uma prtica crist
irrefletida, correndo o
risco de ser ingnua e sujeita manipulao ideolgica. Onde falta a
prtica, a teologia torna-
se especulao abstrata que no gera vida (Hoch, L. C.).
A AUTORIDADE NA TEOLOGIA
1. Autoridade Suprema: Bblia (2 Tm 3.16,17; Jo 10.35; Mt
5.17,18);
2. Credos;
3. Declaraes de F.
A teologia hodierna uma verdadeira cincia, porm uma cincia sui
generis, que foge
do modelo das cincias emprico-formais, possuindo uma analogia
estrutural com sua prpria
metafsica, e, como saber cientfico, constituda de trs elementos
principais: 29
1. O sujeito epistmico: 30 o telogo;
2. O objeto terico: Deus e a criao;
3. O mtodo especfico: o caminho para o sujeito chegar ao
objeto.
assunto central da epistemologia saber que o objeto determina o
mtodo, pois a
verdade se procura, se encontra e no pode ser inventada nem
criada.31
28 ESTRADA. Juan Antnio. Para Compreender Como surgiu a Igreja.
So Paulo: Editora Paulinas, 2005, p. 24. 29 MARINO, Raul Jnior. A
religio do Crebro. So Paulo: Editora Gente, 2005, p. 126. 30
Epistemologia. Do Gr. epistme, cincia + lgos, tratado. Estudo
crtico das vrias cincias; gnosiologia, teoria do
conhecimento. 31 MARINO, Raul Jnior. Op. Cit., p. 126.
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24
O objeto da teologia o prprio Deus e tudo o que se refere a sua
realidade que
determina todas as realidades; aquela dimenso da realidade que
estuda o Sentido Supremo
e o Ser Supremo.32
MTODOS DEDUTIVO E INDUTIVO33
H desenvolvimento do pensamento metodolgico regendo as regras da
lgica que se
utiliza de certos mtodos para tratar com experincias. Quando
esse pensamento metodolgico
se expressa, por meio da fala ou de escritos e comunicado a
outras pessoas, produz
doutrinas teolgicas (Paul Tillich).34
A teologia uma cincia cujo objeto Deus em sua revelao, e que
trata das relaes
que ele tem com o ser humano e o mundo. Ora, se a teologia uma
cincia, que mtodos ela
utiliza?
Como sabemos, existem dois mtodos bsicos em toda cincia:
1. O Dedutivo (a priori). Trabalha a partir de dados existentes.
De uma proposio
(afirmao) ou uma srie de proposies deduz ou infere uma srie de
fatos.
Deduo tirar inferncias e concluses lgicas dos dados.
2. O Indutivo (a posteriori). Ele parte do particular e chega a
um enunciado ou
afirmao geral.
MTODO DEDUTIVO: do geral para o particular a priori
MTODO INDUTIVO: do particular para o geral a posteriori
Destes dois mtodos resultam os dois tipos ou maneiras de fazer
teologia:
MTODO DEDUTIVO TEOLOGIA SISTEMTICA
MTODO INDUTIVO TEOLOGIA BBLICA
No mtodo dedutivo o geral Bblia e cada doutrina o
particular.
No mtodo indutivo cada livro da Bblia o particular e o geral a
revelao de Deus.
1. TEOLOGIA SISTEMTICA. aquela disciplina que tenta dar uma
exposio das
doutrinas da f crist, baseada principalmente nas Escrituras,
falando s perguntas e questes
da cultura e poca em ela existe, com aplicao vida pessoal do
telogo e outros (John
Hammett).
32 MARINO, Raul Jnior. Op. Cit., p. 126. 33 ROLDN, Alberto F.
Op. Cit., p. 42,43. 34 TILLICH, Paul. Op. Cit., p. 18,19.
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25
2. TEOLOGIA BBLICA. A Teologia Bblica o brao da teologia
exegtica que estuda
o processo da auto-revelao de Deus depositada na Bblia. A
Teologia Bblica se prope
expor o contedo da revelao de Deus em seu desenvolvimento
histrico. Ela confere
importncia decisiva ao trabalho exegtico, j que forma uma espcie
de elo entre a exegese e
a Teologia Sistemtica.35
Sua metodologia (Teologia Bblica) indutiva, j que, comeando com
os particulares,
chega-se ao enunciado geral. A Teologia Bblica privilegia as
formas de pensamento e
cosmoviso dos autores bblicos (todos hebreus, exceo de Lucas),
em vez de tomar como
instrumento analtico a filosofia grega. Quando dizemos Teologia
Bblica no estamos dizendo
que a Teologia Sistemtica no bblica.
EXEGESE DO TEXTO
TEOLOGIA BBLICA
TEOLOGIA SISTEMTICA
III. A Necessidade da Teologia Sistemtica36
Um dia ouvimos no rdio do nosso carro a transmisso da pregao de
um evangelista
do outro lado do pas. Embora alegando pregar a palavra de Deus
como um cristo crente na
Bblia, ele pregava uma f que ns no poderamos reconhecer como
bblica, nem o Deus do
qual ouvimos falar na Bblia. Esse homem assegurou seus ouvintes
convertidos e no-
convertidos que Deus est sempre do seu lado. Ele tambm falou de
Deus como nosso
Papai no cu, rico em recursos e vido e ansioso em nos ajudar, se
apenas permitirmos que
Ele assim o faa. Ns no pudemos reconhecer no que ele pregou o
Deus soberano da
Escritura, nem algo que lembrasse os Seus mandamentos, a Bblia.
O evangelista era um
humanista que estava usando, ou tentando usar, Deus como a maior
fonte possvel disponvel
ao homem; o ponto central do seu pensamento era o homem e as
necessidades deste. Ele
35 LADD, George E. Teologia do Novo Testamento. 2 ed. Rio de
Janeiro, JUERP, 1985, p. 25. 36 RUSHDOONY, Rousas John. Systematic
Theology volume 1. p. 59-61.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
26
carecia de qualquer teologia sistemtica de Deus; em vez disso,
havia traos em sua breve
mensagem de uma teologia do homem como o verdadeiro centro e o
deus das coisas.
Bem resumidamente, a teologia sistemtica diz que Deus Deus. Ela
declara que,
porque Deus soberano, onipotente, todo sbio, todo santo, e
conhece desde a eternidade
tudo o que Ele ordena e decreta, no existe, portanto, nenhuma
possibilidade oculta ou
potencialidade em Deus, mas que Deus tanto plenamente
auto-consciente como totalmente
auto-consistente. Somente com tal Deus a teologia sistemtica
possvel. Onde quer que a f
na soberania de Deus decline, a tambm a teologia entra em
eclipse.
A palavra sistemtica em teologia sistemtica significa, entre
outras coisas, primeiro,
que ela uma declarao abrangente e unificada do que a Escritura
como um todo ensina
sobre Deus. A revelao de Deus na Escritura reunida numa forma
resumida e abrangente,
e os resultados da teologia bblica, a exegese e anlise da
Escritura e seu significado,
so organizados e apresentados.
Segundo, a palavra sistemtica significa que o Deus totalmente
soberano, que no
muda (Ml 3.6), verdadeiramente cognoscvel. Ele sempre o mesmo.
Os homens mudam de
carter, crescem e regridem, mas Deus sempre o mesmo, totalmente
auto-consistente e
absolutamente soberano. Somente sobre tal Deus uma palavra
sistemtica possvel. Esse
o porqu a teologia moderna no pode produzir sistemticas. A posio
de Karl Barth era uma
negao da possibilidade de sistemticas. Assim, ele escreveu:
Mas no o Todo-Poderoso que Deus. Ns no podemos entender quem
Deus do ponto de vista de um conceito supremo de poder. E o homem
que clama ao Deus Todo-Poderoso erra na sua concepo da maneira mais
terrvel, visto que o Todo-Poderoso mau, da mesma forma que
poder-em-si mau. O Todo-Poderoso representa o caos, o mal, o diabo.
No haveria melhor descrio e definio para o diabo do que pensar
nessa ideia de uma capacidade livre, soberana e independente Deus e
poder-em-si so conceitos mutuamente exclusivos. Deus a essncia do
possvel, mas poder-em-si a essncia do impossvel.37
O Deus de Barth no o Deus da Escritura que declara: Eu sou o
Deus Todo-
Poderoso (Gn 17.1). O Deus de Barth um conceito limitado, o
produto da imaginao do
homem. Barth nos d apenas uma exposio sistemtica de sua
incredulidade; ele no
pode nos dar uma teologia sistemtica do Deus da Escritura.
37 Karl Barth, Dogmatics in Outline, p. 48. New York:
Philosophical Library, 1949.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
27
Similarmente, Haroutunian sustentava que a teologia sistemtica
era impossvel,
pois tal doutrina de Deus no pode fazer justia s complexidades
da vida humana.38 O
centro da teologia de Haroutunian a vida humana: o Deus da
Escritura no pode em
nenhum grau, nem em sentido algum, colidir com a soberania do
homem autnomo.
Por conseguinte, para ele teologia sistemtica uma iluso,39 pois
o Deus da teologia
sistemtica por definio excludo de toda considerao.
Em terceiro lugar, sistemtica significa que a pressuposio da
teologia no a mente
do homem autnomo, mas o Deus soberano da Escritura. A
sistemtica, como a apologtica,
no procura provar Deus e Sua existncia; antes, ela pressupe o
Deus trino como o nico
fundamento e significado do raciocnio e prova. Como Van Til
demonstrou to
excelentemente, todas as disciplinas devem pressupor Deus, mas
ao mesmo tempo a
pressuposio a melhor prova.40 Sobre qualquer outra pressuposio,
se aplicada
logicamente, nenhuma prova possvel, pois toda realidade reduzida
factualidade bruta,
como Van Til mostrou.41 Em vez de factualidade bruta e sem
sentido, todo o universo nos d
somente a factualidade criada por Deus, e por conseguinte a
pressuposio necessria para
todo pensamento o Deus trino.
Quarto, como Van Til sempre enfatizava, a sistemtica nega o
conceito de neutralidade.
No existe nenhum fato neutro, nenhum pensamento neutro, nenhum
homem neutro e
nenhum raciocnio neutro. Todos os homens, fatos e pensamentos ou
comeam com o
Deus soberano e trino, ou comeam com rebelio contra Ele. A
sistemtica afirma esse
Deus; a negao da sistemtica uma negao de Deus.
Quinto, a sistemtica necessria se os homens ho de pensar
inteligente e
logicamente. Sem o conceito de sistemtica e o Deus que ela
apresenta, no podemos
sustentar um universo racional e cognoscvel, nem qualquer ordem
com significado nele. A
razo e lgica do homem no-regenerado so em essncia mais que
irracional: elas
so absurdas. A sistemtica no somente torna o raciocnio racional,
mas declara que
existe uma conexo necessria e significativa entre todos os
fatos, pois todos os fatos
so criao do Deus soberano e onipotente e, assim, revelaes do Seu
propsito e ordem.
A ideia de pregar todo o conselho de Deus uma possibilidade
apenas se a
38 Joseph Haroutunian, First Essay in Reflective Theology, p.
10. Chicago: McCormick Theological Seminary, 1943. 39 Idem. 40
Cornelius Van Gil, An Introduction to Theology, vol . I, p. 3.
Philadelphia: Westminster Theological Seminary, 1947. 41 Ver R. J.
Rushdoony, By What Standard? An Introduction to the Philosophy of
Cornelius Van Til. Fairfax, Va.: hoburn Press, (1958) 1974; e R. J.
Rushdoony, The Word of Flux. Fairfax, Va.: Thoburn Press, 1975.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
28
sistemtica for uma realidade. De outra forma, no existe nenhuma
conexo e unidade
necessria e real na palavra de Deus, e temos em vez disso, sob
diferentes
dispensaes, uma palavra e plano mutveis e em desenvolvimento.
Temos ento uma
palavra fragmentada, no um conselho inteiro que uma unidade
necessria e autoritativa.
Assim, sem sistemtica no existe nenhuma palavra, e, na verdade,
nenhum Deus
como Sua revelao na Escritura apresenta. Temos ento outro deus
com uma palavra
ocasional que constituda de momentos de insight, e de poderes
superiores ao homem, mas
no um Deus absoluto, todo-poderoso e soberano, cuja palavra
infalvel, e cuja revelao
manifesta o nico sistema de verdade possvel. Esse
O Deus vivo declara: Eu sou Deus, e no h outro Deus, no h outro
semelhante a
mim (Is. 46:9). No existe outro Deus, nem outra verdade, outra
possibilidade, sistema ou
significado fora dele. Ele Deus o Senhor.
IV. A EXISTNCIA DE DEUS
At o comeo do sculo XIX era quase geral a prtica de comear o
estudo da dogmtica
com a doutrina de Deus, mas ocorreu uma mudana sob a influncia
de Scheleiermacher que
procurou salvaguardar o carter cientfico da teologia com a
introduo de um novo mtodo. A
conscincia religiosa do homem substituiu a palavra de Deus como
a fonte da teologia. A f na
Escritura como autorizada revelao de Deus foi desacreditada e a
compreenso humana
baseada na apreenso emocional ou racional do homem, veio a ser o
padro do pensamento
religioso. A religio gradativamente tomou lugar de Deus como
objeto da teologia. O homem
deixou de ser ou de reconhecer o conhecimento de Deus como algo
que lhe foi dado na Escritura
e comeou a orgulhar-se de ter a Deus como seu objeto de
pesquisa.
Conseqncia natural deste sistema teolgico: Deus criado segundo a
imagem e
semelhana do homem.42 Doutrina a revelao da verdade como se
encontra nas Escrituras; dogma43 a
afirmao dos homens acerca da verdade quando apresentada num
credo. Que maior objeto de
pensamento existe seno o estudo da existncia de Deus?.
Deus Esprito Pessoal, perfeitamente bom, que, em santo amor,
cria, sustenta e
dirige tudo. 42
http://textoscalvinistasteontologia.blogspot.com. 43 Dogma. Vem do
vocbulo grego doken que significa pensar, imaginar ou ter uma
opinio. Dogma. Ponto ou princpio de f definido pela Igreja. 2.
Fundamento de qualquer sistema ou doutrina. 3. O conjunto das
doutrinas fundamentais do cristianismo
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
29
Deus Esprito, infinito, eterno e imutvel em seu ser, sabedoria,
poder, santidade,
justia, bondade e verdade (Definio do Breve Catecismo).
Se existe ou no uma suprema inteligncia pessoal, infinita e
eterna, onipotente,
onisciente e onipresente, o Criador, Sustentador e Governante do
universo, imanente em tudo
ainda que transcendente a tudo, gracioso e misericordioso, o Pai
e Remidor da humanidade,
sem dvida o mais profundo problema que possa agitar a mente
humana. Jazendo base de
todas as crenas religiosas do homem, est ligado no apenas
felicidade temporal e eterna
do homem, mas tambm ao bem-estar e progresso da raa.
(Whitelaw).
O Deus Uno nos conhecido no especulativamente, mas
existencialmente. Sem
Deus no se pode conhecer a Deus. Deus jamais objeto. Em todo
conhecimento ele que
conhece em ns e por nosso meio. Somente ele se conhece a si
mesmo. Ns apenas
podemos participar nesse conhecimento de Deus. Mas ele no um
objeto que possamos
conhecer a partir do exterior. No se pode conhecer Deus em sua
grandeza, em seu carter
absoluto e incondicional. Ele s conhecido no amor que vem a ns.
Portanto, para se
conhecer Deus preciso estar dentro de Deus; participar
nele.44
O conhecimento de Deus no est posto em fria especulao, mas lhe
traz consigo o
culto (Joo Calvino).
A Questo da metafsica e da cosmologia45
O termo metafsica significa literalmente alm da fsica. Trata-se
da disciplina da
filosofia que estuda as causas primeiras e os primeiros
princpios, sendo o cerne da
preocupao filosfica clssica. Aristteles afirma que o objeto de
investigao da metafsica
o ser enquanto ser e as propriedades que necessariamente o
acompanham. A pergunta
por que as coisas so em vez de no serem? O ser a essncia de
algo; a qualidade
essencial de um ente sem a qual ele no pode subsistir.
A preocupao metafsica sistemtica existe desde os filsofos
pr-socrticos.
Parmnides o considerado o primeiro filsofo propriamente
metafsico. Plato via o ser numa
realidade superior distinta do mundo em que vivemos, o mundo das
ideias; j Aristteles via o
ser nas prprias coisas e no fora delas e definia Deus, o motor
imvel, como o Ser Absoluto.
A filosofia crist medieval estabeleceu relao entre o Deus cristo
e as teorias metafsicas
gregas, de modo que Agostinho segue Plato e Toms de Aquino
baseia-se em Aristteles.
44 TILLICH, Paul. Histria do Pensamento Cristo. 3 Edio. So
Paulo: Editora ASTE, 2004, p. 61. 45 SAYO, Luiz A. T. Cabeas
Feitas. 33 Edio. So Paulo: Editora Hagnos, 2004, p. 16-18.
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30
Na idade moderna, depois do ceticismo de David Hume e do
idealismo de Kant, desistiu-se da
busca metafsica. Kant defendeu a existncia do ser, mas disse que
este se encontrava numa
dimenso numnica46, inacessvel ao intelecto. Assim, teramos
acesso apenas ao
fenmeno, manifestao do ser enquanto ente particularizado. Tal
interpretao fechava as
portas para a metafsica. Por esse motivo, os filsofos modernos,
desde Descartes desistiram
da metafsica, dando ateno ao problema do conhecimento.
Recentemente, Martin
Heidegger, retomou o interesse pelo ser, afirmando que este se
manifesta nos entes, sendo o
ente do homem a porta de acesso ao ser. O mtodo de Heidegger
chamado
fenomenolgico, distinto dos clssicos mtodos dedutivo e
indutivo.
A questo cosmolgica tambm merece ser aqui abordada, pois
historicamente
confundia-se com o problema metafsico. Cosmologia quer dizer o
estudo do mundo. Qual a
origem do mundo? Quais os seus constitutivos fundamentais? Qual
o seu fim ltimo? Os pr-
socrticos perceberam a diversidade do mundo e se puseram a
refletir qual seria o elemento
fundamental na constituio do mundo. O primeiro filsofo a propor
uma soluo foi Tales de
Mileto (da sia Menor). Acreditava ele que a gua era o fundamento
do mundo; outros
pensadores defenderam outras alternativas como o fogo, o ar, o
indeterminado, o nmero (no
caso dos pitagricos). Plato delineou um mundo dualista, sendo o
nosso mundo uma cpia
do mundo superior e perfeito das ideias. Tal cpia fora feita
pelo Demiurgo, uma espcie de
divindade inferior, que tambm infundira uma alma ao mundo.
Aristteles partia da ideia de
que o mundo era eterno, caracterizado pela mudana, o movimento
perene, isto , o devir.
Todavia, o devir (vir a ser) sinal de imperfeio. Assim, o mundo
precisa de um ser que no
se modifica e ao mesmo tempo a causa de tudo, sendo o motor que
a tudo move, e
permanece imvel. Ainda segundo ele, o mundo constitudo de forma
e matria.
Ainda na Grcia antiga, Leucipo, Demcrito e Epicuro formularam a
teoria atomista
como modelo cosmolgico, afirmando que o mundo era composto de
partculas pequenas e
indivisveis chamada tomos. Os tomos com suas combinaes mltiplas
davam origem
diversidade do mundo. Vemos aqui os prenncios da qumica.
Depois do Renascimento, despontou a perspectiva mecanicista,
desenvolvendo-se
muito a cincia da natureza. A viso mecanicista e matemtica do
mundo se estabelece, e
teorias cientficas como a teoria cintica e teoria molecular
tornam-se alternativas de
explicao do mundo. Assim, diminui-se o interesse e a esperana de
que se possa achar 46 Numnica, numinoso. Sentimento nico vivido na
experincia religiosa, a experincia do sagrado, em que se confundem
a fascinao, o terror e o aniquilamento.
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31
respostas para a origem do mundo (criao x acaso), sua durao, sua
extenso, se seu
mover-se teleolgico ou no, etc. Por fim, a verdade que chegamos
a um ponto onde
cincia, filosofia e teologia compartilham do assunto. Os
cristos, como j dissera Agostinho
no IV sculo, defendem a criao do mundo por Deus a partir do
nada. Deus o ser absoluto
que comunica o seu ser ao mundo, fazendo com que do nada surja o
mundo. Todavia isso no
nos impede de abrir espao para ver o que a cincia nos diz sobre
a constituio do mundo,
sem esquecer todavia que sobre esse assunto h questes
pertinentes unicamente cincia
emprica, mas h aquelas que sempre ficaro de fora do mbito da
cincia.
SILOGISMO. Para falarmos mais sobre estes argumentos precisamos
lembrar um
pouco sobre silogismo.
Um silogismo (do grego antigo , conexo de ideias, raciocnio;
composto pelos termos com clculo) um termo filosfico com o
qual
Aristteles designou a argumentao lgica perfeita, constituda de
trs proposies
declarativas que se conectam de tal modo que a partir das duas
primeiras, chamadas
premissas, possvel deduzir uma concluso. A teoria do silogismo
foi exposta por Aristteles
em Analticos Anteriores.
Num silogismo, as premissas so um ou dois juzos que precedem a
concluso e dos
quais ela decorre como conseqente necessrio dos antecedentes,
dos quais se infere a
consequncia. Nas premissas, o termo maior (predicado da
concluso) e o termo menor
(sujeito da concluso) so comparados com o termo mdio, e assim
temos a premissa maior e
a premissa menor segundo a extenso dos seus termos.
Um exemplo clssico de silogismo o seguinte:
Premissa maior: Todo homem mortal.
Premissa menor: Scrates homem.
Concluso: Logo, Scrates mortal.
1. A CRENA NA EXISTNCIA DE DEUS INTUITIVA.
Os escritores bblicos tanto presumem quanto defendem a existncia
de Deus.
Premissa Maior: Uma crena intuitiva se for universal e
necessria.
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Tanto a Escritura como a histria provam que a crena em Deus
universal (Rm 1.19-
21: Pois o que de Deus se pode conhecer manifesto entre eles,
porque Deus lhes
manifestou. Pois desde a criao do mundo os atributos invisveis
de Deus, seu eterno poder e
sua natureza divina, tm sido vistos claramente, sendo
compreendidos por meio das coisas
criadas, de forma que tais homens so indesculpveis; porque,
tendo conhecido a Deus, no o
glorificaram como Deus, nem lhe renderam graas, mas os seus
pensamentos tornaram-se
fteis e o corao insensato deles obscureceu-se).
Premissa menor: A crena na existncia de Deus tambm necessria.
necessria
no sentido de que no podemos negar Sua existncia sem violarmos
as prprias leis da nossa
natureza.
Concluso: Deus existe.
2. A CRENA EM DEUS ASSUMIDA NAS ESCRITURAS (Gn 1).
As Escrituras trabalham com algumas pressuposies bsicas das
quais no abrem
mo: a de que Deus existe, que ele criador e que ele
soberano.
3. A CRENA NA EXISTNCIA DE DEUS CORROBORADA POR ARGUMENTOS:
Tesmo a doutrina de um Deus extraterreno, pessoal, o criador,
preservador e
governador deste mundo. O desgnio de todos os argumentos sobre
este tema mostrar que
os fatos que nos cercam, e os fatos da conscincia, carecem da
hiptese da existncia de tal
Ser. Os argumentos usualmente enfatizados sobre este tema so o
Ontolgico, o
Antropolgico, o Teleolgico, o Cosmolgico, o do Consenso
Universal e o Esttico.
Os dois primeiros argumentos, o ontolgico e o antropolgico esto
baseados na
natureza da alma humana:
1. ONTOLGICO. Da palavra grega ON, EXISTENTE, SER. O homem tem a
ideia inerente
de um Ser Perfeito. Esta ideia naturalmente inclui o conceito de
existncia, j que um ser, em
tudo mais perfeito, que no existisse, no seria to perfeito
quanto um ser perfeito que
existisse. Portanto, visto que a ideia de existncia est contida
na ideia de um Ser Perfeito,
esse Ser Perfeito deve necessariamente existir. Foi Anselmo de
Canturia quem produziu este
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argumento. Se quisssemos afirmar este argumento em forma de
silogismo47, usaramos as
seguintes premissas:
a) Premissa maior: Uma crena intuitiva universal entre os homens
deve ser
verdadeira.
b) Premissa menor: A crena de que h Deus universal e intuitiva
entre os homens
c) Concluso: A crena de que h um Deus verdadeira.
O argumento ontolgico48 tenta provar a partir do prprio conceito
de Deus que
Deus existe. Se Deus imaginvel, tem de existir realmente. Esse
argumento foi
formulado por Anselmo e defendido por Scotus, Descartes,
Espinosa, Leibnitz e, na poca
moderna, por Norman Malcolm, Charles Hartshorne e Alvin
Plantinga, entre outros.
Veremos o argumento de Anselmo.
Anselmo (1033-1109) queria encontrar um nico argumento que
provasse no
apenas que Deus existe, mas tambm que ele tem todos os atributos
superlativos que a
doutrina crist lhe atribui. Depois de quase desistir do projeto,
Anselmo chegou ao
seguinte raciocnio: Deus o maior ser que se pode imaginar. Isso
verdadeiro por
definio, pois se pudssemos imaginar algo maior do que Deus, isso
seria Deus.
Portanto, nada maior do que Deus pode ser imaginado. E mais
importante existir na
realidade do que apenas na mente. Anselmo d o exemplo de um
quadro. O que maior:
a ideia que o artista tem do quadro ou o quadro em si, como
existe na realidade?
Obviamente esse ltimo, pois o quadro em si existe no apenas na
mente do artista, mas
tambm na realidade. De modo semelhante, se Deus existisse apenas
na mente, algo
maior do que ele poderia ser imaginado, que sua existncia no
apenas na mente, mas
tambm na realidade. Deus, porm, o maior ser que se pode
imaginar. Por isso ele tem
de existir no apenas na mente, mas tambm na realidade. Portanto,
Deus existe.
Outra maneira de dizer isso, mostra Anselmo, a seguinte: um ser
cuja no-
existncia inimaginvel maior do que um ser cuja no-existncia
imaginvel. Deus,
porm, o maior ser imaginvel. Portanto, a no-existncia de Deus
tem de ser
inimaginvel. No h contradio nessa ideia. Por isso, Deus tem de
existir. Esse
argumento aparentemente simples muito debatido at hoje.
47 si.lo.gis.mo. s. m. Lg. Argumento que consiste em trs
proposies: a primeira, chamada premissa maior; a segunda, chamada
premissa menor; e a terceira, concluso. Admitida a coerncia das
premissas, a concluso se infere da maior por intermdio da menor. 48
ROLDN, Alberto Fernando. Op. Cit., p. 77.
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34
2. ANTROPOLGICO. Da palavra grega ANTHROPOS (), homem.
Chamado
tambm de argumento moral. Este argumento deriva da existncia de
um Legislador Supremo
que Deus, e do fato de haver a presena de uma lei moral no
universo. J que o homem
um ser moral e intelectual, deve ter um criador que tambm seja
moral e inteligente (At 17.29).
A natureza moral, os instintos religiosos, a conscincia e a
natureza emocional do homem
argumentam em favor da existncia de Deus.
Os dois argumentos seguintes, o teleolgico e o cosmolgico, esto
baseados na
natureza do universo:
3. TELEOLGICO. Da palavra grega TELOS, fim. O universo no apenas
prova a
existncia de um criador, mas indica a existncia de um Arquiteto,
um Planejador (Rm 1.18-
20). H um propsito observvel no universo que indica a existncia
de Deus como seu
planejador. Se quisssemos afirmar este argumento em forma de
silogismo, usaramos as
seguintes premissas corretas, para chegar a uma concluso
razovel:
a) Premissa maior: A ordem e a harmonia do universo somente
podem ser explicadas
quando pressupomos um Arquiteto inteligente, ou uma causa maior
inteligente.
b) Premissa menor: O universo como um todo e em todas as suas
partes um grande
projeto que demonstra ordem e simetria.
c) Concluso: O mundo tem um Arquiteto ou projetista inteligente
que Deus.
4. COSMOLGICO. Da palavra grega KOSMOS, mundo, que significa um
arranjo
ordenado. O universo um efeito que exige uma causa adequada, e a
nica causa suficiente
Deus (Sl 19; Hb 3.4). Este argumento remonta ao tempo de
Aristteles e tambm
encontrado em outros escritores antigos, como Ccero, por
exemplo. No tempo do
escolasticismo, este argumento foi desenvolvido por Anselmo e
por Toms de Aquino. Se
quisssemos afirmar este argumento em forma de silogismo,
usaramos as seguintes
premissas:
a) Premissa maior: Cada nova existncia ou mudana em qualquer
coisa previamente
existente deve ter tido uma causa preexistente e adequada. Em
outras palavras, cada efeito
tem uma causa adequada.
b) Premissa menor: O universo como um todo e em todas as suas
partes um sistema
e mudanas. Ou seja, o mundo um efeito.
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c) Concluso: O universo deve ter tido uma causa exterior a si
prprio; a causa ltima
ou absoluta deve ser externa, no-causada e imutvel. Portanto, o
mundo tem uma causa
adequada, fora de si mesmo, que o produziu Deus.
Os dois ltimos argumentos tm a ver com a histria:
5. O ARGUMENTO DO CONSENSO UNIVERSAL. Este argumento deriva a
existncia de
Deus da universalidade da religio. No h notcia de que tenha
havido qualquer tribo no
mundo, por mais remota que fosse, que no tenha tido uma religio.
O fator religio est
inserido na alma humana e nenhum ser humano escapa do fenmeno
religioso. A religio
inescapvel no ser humano. Ccero, o grande pago admirado por
Calvino, considerou este
argumento de grande valor, e o estudo da religio tem fortalecido
a relevncia desse
argumento. A. A. Hodge afirma:
A histria total da raa humana revela uma ordem moral e um
propsito que
no podem ser explicados pela inteligncia ou propsito dos
agentes
humanos. Estas coisas existentes revelam a unidade de um plano
que inclui
todas as raas em todas pocas. Os fenmenos da vida nacional e
da
distribuio etnolgica, do desenvolvimento e da difuso das
civilizaes e
religies podem ser explicados somente pela existncia de um
governador e
educador sbio, justo e benevolente da raa humana.
Todavia, o fato de se considerar a religio como fator universal
no significa que todas
as pessoas possuam um conceito correto sobre Deus e nem que a
divindade que elas adoram
seja verdadeira. Todavia, o argumento do consenso universal um
argumento que no pode
ser desprezado, pois uma vez mais mostra o semen religionis e o
sensus divinitatis presentes
na alma humana, apontando para um ser superior.
At mesmo aqueles que no possuem ainda uma f segura ou uma
teologia bem
formada seriam acordes em admitir que o Universo deve ter tido
uma causa primeira, um
criador (argumento cosmolgico), pois o desgnio evidente do
Universo aponta para uma
mente ou um esprito supremo (argumento teleolgico) enquanto a
natureza do homem, com
seus impulsos, aspiraes, sentimentos e emoes, aponta para a
existncia de um demiurgo
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pessoal (argumento antropolgico). O mesmo se diga da Histria
humana, a qual d
evidncias de uma Providncia que governa sobre toda a criao
(argumento histrico), sendo
essa uma crena universal (argumento do consenso comum). 49
6. O ARGUMENTO ESTTICO. H beleza no universo. Os seres humanos
so criados com a
grande capacidade de apreciar a beleza da criao. Ora, se h tanto
uma coisa como a outra,
s pode haver uma inteligncia e uma sabedoria para fazer algo to
belo, a saber, Deus.
Crtica: Essas provas racionais da existncia de Deus somente
funcionam para aqueles
que, por graa, j crem que ele existe. Esse exerccio racional
sempre feito pelos telogos
que j crem no Deus das Escrituras. Dificilmente encontramos
pessoas completamente
alienadas da f crist fazendo tais exerccios. Se os fizessem,
todas as pessoas que exercitam
sua razo de maneira razovel haveriam de crer nele.
As famosas provas testas 50
At nos nossos dias, as famosas provas testas elaboradas a partir
da filosofia
integram os contedos essenciais de muitas Teologias Sistemticas.
Trata-se de
argumentaes especulativas cujo ponto de partida no a Escritura
Sagrada, mas o
pensamento aristotlico que concebia Deus como o ser imvel,
porque o que est em
movimento significa mudana e contingncia. A gente se pergunta:
Que relao essencial
haver entre esse motor imvel e o Deus vivo e verdadeiro que se
revelou na histria de
Israel e de Jesus de Nazar? Alm disso, ainda que fosse possvel
demonstrar a sua
existncia, seria este o mesmo Deus da revelao na histria? Por
outro lado, a avaliao,
depois de tantos sculos de especulao filosfica sobre a existncia
de Deus e de elaborao
de argumentos que demonstram sua existncia, resulta antes
negativa. Ou seja, os resultados
parecem no ser os esperados. Em outras palavras, as provas
testas como argumentos que
falam de uma causa no causada (Deus) ou uma finalidade em todas
as coisas que vemos
(argumento teleolgico), j no parecem to convincentes como quando
foram formuladas, o
que no quer dizer que perderem seu fascnio. Na verdade, o telogo
catlico Hans Kng
sustenta:
49 MARINO, Raul Jnior. Op. Cit., p. 138,139. 50 ROLDN, Alberto
F. Op. Cit.
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possvel que as provas da existncia de Deus tenham fracassado e
fenecido
como tais. No obstante, ainda que fracassadas e fenecidas,
continuam
despertando respeito nas geraes que nasceram depois. E no so
poucos os
que, perante o atade das provas da existncia de Deus, viram-se
assombrados
por um ressentimento nostlgico: Deveria ser possvel, apesar de
tudo!
Apesar dos fatos comentados, at o dia de hoje as famosas provas
da existncia de
Deus constam de algumas teologias sistemticas como contedos
essenciais da f e da
teologia. E isso tanto nas dogmticas catlicas como nas
protestantes. sabido que Toms de
Aquino (um telogo do sculo XIII), Doutor Anglico para a Igreja
Catlica, estrutura todo o
seu pensamento segundo as diretrizes de Aristteles, que na poca
tinha sido redescoberto
atravs das tradues das suas obras do grego para o rabe. No mbito
protestante h
teologias sistemticas que insistem, com maior ou menor nfase,
nas importncias das provas
testas.
Devemos insistir que a leitura das Escrituras nos fornece um
panorama bem diferente
do que foi exposto. Realmente, observamos que o Deus vivo est
ativo na histria humana e
profundamente interessado nos processos espirituais e sociais do
seu povo. Em sntese, trata-
se do Deus que age e no de um mero motor imvel. Nas palavras de
Justo Gonzles:
A f do Novo Testamento um monotesmo dinmico. [...] O Deus da
Bblia no
o primeiro motor imvel da filosofia aristotlica. Quando os
autores bblicos
falam sobre Deus, eles no o fazem em termos estticos, como se
Deus fosse
um ser impassvel e imutvel, mas falam dele em termos dinmicos e
de relao.
O Papel de Argumentos e Provas 51
Para o que cr, Deus no a concluso de um silogismo; ele o Deus
vivo de Abrao,
Isaque e Jac que vive em ns.
O uso magisterial da razo ocorre quando a razo est acima do
evangelho, como um
magistrado, e o julga com base em argumentos e provas. O uso
ministerial da razo ocorre
quando a razo se submete e serve ao evangelho. Somente o uso
ministerial da razo pode
ser aceito. A filosofia realmente serva da teologia. A razo uma
ferramenta para nos ajudar
51 CRAIG, William L. A VERACIDADE DA F CRIST. So Paulo: Editora
Vida Nova, 2004, p.35.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
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a compreender e defender melhor a nossa f; como disse Anselmo,
temos uma f procura
de compreenso. Aquele que sabe que o cristianismo verdadeiro com
base no testemunho
do Esprito tambm pode ter uma boa apologtica, que lhe refora ou
fortalece o testemunho
do Esprito, mas ela no serve de base para a sua f. Quando surge
um conflito entre o
testemunho do Esprito Santo quanto veracidade fundamental da f
crist e convices
baseadas em argumentos e provas, o primeiro que precisa ter
precedncia sobre o segundo,
e no o contrrio.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
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V. CONCEPES RIVAIS ACERCA DE DEUS Concepo Politesmo
Idealismo
Partidrios
Antigas Religies da Natureza Hindusmo Zen-Budismo Mormonismo
Josiah Royce William Hocking Cincia Crist Plato, Hegel,
Emerson
Sntese da Doutrina
Crena de que existe uma pluralidade de deuses. Alguns dizem que
surgiu como rejeio do monotesmo. Muitas vezes intimamente ligado ao
culto da natureza. a contraparte popular
Essa filosofia um reducionismo intelectual que explica o
dualismo observado entre mente e matria em termos de uma mente
infinita que inclui tudo. Todos os componentes do universo,
inclusive o bem e o mal, tornam-se nada mais que equivalente
finitos do infinito. Todos os elementos fundem-se com o bem ltimo.
O bem, por sua vez, representa a realidade ideal.
Ideia de Deus
Deus relegado a um entre muitos em um panteo de deuses. Difere
do henotesmo, o qual, embora admita muitos deuses, v um deus acima
de todos os demais.
Deus uma personificao nebulosa do Absoluto. Embora perfeito,
imutvel e transcendente, ele impessoal
Contraste com a Bblia
H somente um Deus verdadeiro (Dt 6.4; Is 43.10,11; 1Co 8.4-6; Gl
4.8).
Deus pessoal bem como transcendente (Sl 103.13; 113.5,6; Is
55.8,9). O ser humano est naturalmente alienado de Deus (Ef
4.18).
Concepo Realismo Pantesmo Partidrios Thomas Reid
Neo-realista Spinoza, Radhakrishnan, Hindus,
Transcendentalistas
Sntese da
Doutrina
Os universais tm uma existncia em certo sentido independente das
percepes particulares da mente. Em sua forma pura, diametralmente
oposto ao reducionismo. Procura estabelecer o equilbrio entre a
objetividade e a subjetividade. Sua estrutura sistematizada
Esta concepo d nfase identificao de Deus com todas as coisas. A
realidade representada como uma fuso amorfa de toda matria e
esprito. O ser pessoal absorvido na Alma Superior predominante.
Como tal, essa concepo diametralmente oposta ao desmo
Ideia de
Deus
Essa concepo essencialmente o mesmo que o Idealismo. Deus
distinto da sua criao e, portanto, transcendente
Deus equivale a tudo e tudo equivale a Deus (Deus impessoal e
imanente, mas no transcendente).
Contraste com a Bblia
Ver o Idealismo com relao aos trs primeiros pontos. O ser humano
em nenhum sentido independente de Deus, nem pode alcanar a verdade
espiritual de modo autnomo (At 17.28; 1Co 2.10-14).
Deus pessoal e transcendente (Sl 103.13; 113.5,6; Is 55.8,9). O
ser humano uma entidade real (Gn 2.7; 1Ts 5.23) e um agente moral
livre limitado.
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Autor: A. Carlos G. Bentes. E-mail: [email protected]
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CONCEPES RIVAIS ACERCA DE DEUS Concepo Panentesmo Desmo
Partidrios Digenes, Henry Bergson, John Cobb, Charles
Hartshorne, Alfred N. Whitehead, Schubert Ogden
Voltaire, Thomas Hobbes, Charles Blount, John Toland,
Evolucionistas testas Thomas Jefferson
Sntese da
Doutrina
Uma concepo processiva da realidade e de Deus (em contraste com
uma concepo esttica) na qual um Deus finito que compreende todas as
possibilidades do mundo gradualmente concretizado no mundo em
parceria com o ser humano. Deus tem plo potencial e um plo factual,
e por isso s vezes usa-se o termo bipolartesmo.
A natureza e a razo apontam para certas verdades bsic