1 TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS Eguimara Selma Branco Professora PDE 2009-2011 [email protected]RESUMO O presente trabalho é resultado de uma proposta de pesquisa desenvolvida para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do PR, onde, defendemos que professores de matemática podem interagir e socializar suas dúvidas e conhecimentos por meio dos mais diversos espaços oferecidos pelas tecnologias informáticas; e ainda nessa utilização, aprender a explorá-los (os recursos) de forma crítica, levando-os a refletir sobre as possibilidades e desafios deste uso. Desta forma, objetivamos propiciar aos professores de matemática conhecer espaços virtuais que contribuam para sua formação profissional num processo de interação e colaboração. Visto que ações como essas, podem reorganizar a maneira como eles percebem e desenvolvem suas aulas, possibilitando a reflexão, de maneira diferenciada, sobre elementos importantes do processo de aprendizagem, de conjecturar a partir de conteúdos/temas específicos, trocar ideias, manifestar-se, elaborar justificativas, participar e aprender junto. PALAVRAS CHAVE: Educação Matemática, Formação de Professores; Tecnologias da Informação e Comunicação INTRODUÇÃO Diariamente, professores em geral, encontram-se diante de novas e inesperadas situações e, precisam tomar decisões mesmo não se sentindo preparados. Esse fato não é algo restrito apenas a professores em início de carreira, mesmo aqueles com anos de experiência profissional necessitam discutir situações para superar problemas oriundos da sala de aula. Entretanto, a correria do dia-a-dia, o excesso de atividades e atribuições, os impede de reservar momentos para essa socialização. Em paralelo, na sociedade contemporânea, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) oportunizam novas maneiras de viver, de organizar a informação, o conhecimento e as formas de aprender. Computadores, internet, celulares, caixas bancários, cartões de crédito, redes, etc. permitem aos usuários criar, distribuir, receber, consumir e digerir diferentes informações. Vivemos em uma “nova era” na qual os nativos digitais 1 sentem-se muito a vontade ao conversar com amigos pelo celular ou internet, 1 Nativos digitais são aqueles que nasceram imersos com as tecnologias digitais presentes em sua vida.
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TECNOLOGIAS E PROFESSORES DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS E DESAFIOS
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O presente trabalho é resultado de uma proposta de pesquisa desenvolvida para o Programa
de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do PR, onde, defendemos que
professores de matemática podem interagir e socializar suas dúvidas e conhecimentos por
meio dos mais diversos espaços oferecidos pelas tecnologias informáticas; e ainda nessa
utilização, aprender a explorá-los (os recursos) de forma crítica, levando-os a refletir sobre
as possibilidades e desafios deste uso. Desta forma, objetivamos propiciar aos professores
de matemática conhecer espaços virtuais que contribuam para sua formação profissional
num processo de interação e colaboração. Visto que ações como essas, podem reorganizar
a maneira como eles percebem e desenvolvem suas aulas, possibilitando a reflexão, de
maneira diferenciada, sobre elementos importantes do processo de aprendizagem, de
conjecturar a partir de conteúdos/temas específicos, trocar ideias, manifestar-se, elaborar
justificativas, participar e aprender junto.
PALAVRAS CHAVE: Educação Matemática, Formação de Professores; Tecnologias da
Informação e Comunicação
INTRODUÇÃO
Diariamente, professores em geral, encontram-se diante de novas e inesperadas
situações e, precisam tomar decisões mesmo não se sentindo preparados. Esse fato não é
algo restrito apenas a professores em início de carreira, mesmo aqueles com anos de
experiência profissional necessitam discutir situações para superar problemas oriundos da
sala de aula. Entretanto, a correria do dia-a-dia, o excesso de atividades e atribuições, os
impede de reservar momentos para essa socialização.
Em paralelo, na sociedade contemporânea, as Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) oportunizam novas maneiras de viver, de organizar a informação, o
conhecimento e as formas de aprender. Computadores, internet, celulares, caixas
bancários, cartões de crédito, redes, etc. permitem aos usuários criar, distribuir, receber,
consumir e digerir diferentes informações. Vivemos em uma “nova era” na qual os nativos
digitais1 sentem-se muito a vontade ao conversar com amigos pelo celular ou internet,
1 Nativos digitais são aqueles que nasceram imersos com as tecnologias digitais presentes em sua vida.
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acessar sítios, receber todos os tipos de informação, interagir com naturalidade utilizando
ferramentas, coisas que há vinte anos eram desconhecidas da grande maioria da sociedade.
Por um motivo ou por outro, professores e TIC, ainda não convergem. Para Bairral
(2009), embora a utilização das novas tecnologias esteja mais freqüente no cotidiano dos
indivíduos, sua implementação efetiva nas atividades escolares, ainda é incipiente.
Assim, o presente trabalho é resultado de uma proposta de pesquisa desenvolvida
para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do PR, onde
defendemos que professores de matemática podem interagir e socializar suas dúvidas e
conhecimentos por meio dos mais diversos espaços oferecidos pelas tecnologias
informáticas, e ainda nessa utilização, aprender a explorá-los (os recursos) de forma crítica,
levando-os a refletir sobre as possibilidades e desafios deste uso. Nesse contexto,
questionamos de que maneira os recursos tecnológicos disponíveis na web, podem
contribuir para a formação profissional do professor de matemática? Desta forma,
objetivamos propiciar aos professores de matemática conhecer espaços virtuais que
contribuam para sua formação profissional num processo de interação e colaboração.
NOVAS TECNOLOGIAS
As tecnologias estão presentes na sociedade desde o início da atividade humana,
das primitivas como o domínio da roda, até as de última geração como as da TV digital.
Brito e Purificação (2008) apresentam o desenvolvimento da tecnologia associada ao
desenvolvimento da ciência. Conforme essas autoras, e concordamos com elas, “o homem
criou ciência e tecnologias (...) a tecnologia é a aplicação do conhecimento científico para
obter um resultado prático” (BRITO E PURIFICAÇAO, 2008, p. 22). Assim, entendemos
que todas as gerações tecnológicas, são fruto de inúmeras pesquisas científicas de
determinado contexto de época. Por essa razão, seu desenvolvimento é permanente e seu
relacionamento com a cultura da sociedade é constante. Tanto o conhecimento quanto a
atividade humana devem ser analisados sob a ótica do contexto histórico-social e cultural
que estão envolvidos (GRINSPUN, 1999).
Segundo Kenski (2007) as tecnologias estão em todo lugar, tão próximas e
presentes que fazem parte de nossa vida e nem nos damos conta disso. Exemplos são “o
lápis, cadernos, canetas, lousas, giz e muitos outros equipamentos e processos planejados e
construídos para que possamos ler, escrever, ensinar e aprender” (KENSKI, 2007, p.24).
3
Para a mesma autora, diariamente convivemos com tecnologias, e a “habilidade de lidar”
com cada tipo de tecnologia, para executar ou fazer algo, chamamos de técnicas.
Porém, para Brito e Purificação, o termo tecnologia vai muito além de meros
equipamentos. Ela permeia em toda a nossa vida. Citando Bueno2 as autoras conceituam
tecnologia como:
[...] um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica
e gera a sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade do ser humano de criar, a sua capacidade de interagir com a natureza,
produzindo instrumentos desde os mais primitivos até os mais modernos,
utilizando-se de um conhecimento científico para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundos do processo de
interação deste com a natureza e com os demais seres humanos (BRITO
E PURIFICAÇÃO, 2008, p.32).
De fato as tecnologias sempre existiram e permeiam nossa vida, porém seu
desenvolvimento não ocorre apenas em termos quantitativos, uma vez que com essa
evolução surgem novas formas de comunicação e interação.
Santaella (2007), analisando o acelerado das invenções tecnológicas nos últimos
séculos, propõe que se prestarmos atenção, ficará perceptível que grande parte dessas
invenções é constituída por tecnologias que incrementam a capacidade humana para a
produção de linguagem, chamadas pela autora de “tecnologias comunicativas ou meios de
comunicação” (SANTAELLA, 2007, p.194). Segundo a autora, a cada tempo, os meios
tecnológicos produziram formas diferentes de relacionamento e comunicação no mundo,
resumidas aqui em cinco gerações tecnológicas:
1. Tecnologias do reprodutível (tecnologias eletromecânicas) - jornal, fotografia e
cinema, que introduziram o automatismo e a mecanização da vida.
2. Tecnologias da difusão (tecnologias eletroeletrônicas) - rádio e televisão, que
deram origem à chamada cultura de massa, se tornou mais aguda com a transmissão via
satélite.
3. Tecnologias do disponível (tecnologias de pequeno porte) - vídeo-cassete,
controle remoto, walkman, DVD, TV a cabo, fotocópia, personalizaram a recepção,
colocaram disponível a possibilidade de se gravar um programa ou trocar freneticamente
de canais na televisão, ouvir música andando na rua, tirar cópias de apenas uma parte de
uma obra, etc.
2 BUENO, L. N. O desafio da formação do educador para o Ensino Fundamental no contexto da Educação
Tecnológica. Dissertação de Mestrado em Tecnologia. Curitiba: UFTPR, 1999.
4
4. Tecnologias do acesso (tecnologias da inteligência) - modem, mouse, software,
mas, principalmente a Internet, que permite, em um clique, o acesso a uma infinidade de
informações, essas tecnologias alteram completamente as formas tradicionais de
armazenamento, manipulação e diálogo com as informações.
5. Tecnologias da conexão contínua (tecnologias móveis) - telefones celulares e
outras tecnologias nômades que independem de cabos e outros recursos, operam em
espaços físicos não contíguos.
Santaella (2007) ainda defende que cada uma dessas gerações não substitui a
anterior, a nova geração tecnológica pode diminuir o uso das tecnologias anteriores, mas
não extingue a anterior e, assim, cada cultura de uma época nasce da mistura do antigo
com o mais recente. Essas gerações tecnológicas, ainda presentes na sociedade
contemporânea, criam impactos sociais, econômicos, culturais e cognitivos, que dependem
da natureza e do grau de adesão em cada cultura.
Em específico, as oportunidades que surgem a partir das “tecnologias do acesso”,
amparadas pelo uso da internet3, modificaram de vez as formas de comunicação e
transmissão da informação.
Essas novas tecnologias4,
[...] rompem com as formas narrativas circulares e repetidas da oralidade e com o encaminhamento contínuo e seqüencial da escrita e se apresenta
como um fenômeno descontínuo, fragmentado e, ao mesmo tempo,
dinâmico, aberto e veloz. Deixa de lado a estrutura serial e hierárquica na
articulação dos conhecimentos e se abre para o estabelecimento de novas relações entre conteúdos, espaços, tempos e pessoas diferentes (KENSKI,
2007, p.31).
Para a autora, a base da linguagem digital é o hipertexto, ou seja, uma sequência de
documentos interligados que funcionam como páginas sem numeração, que trazem
informações e conhecimento. “O hipertexto é uma evolução do texto linear, na forma como
conhecemos” (KENSKI, 2007, p.32). Se neste texto, acrescentarmos outras mídias –
imagens, vídeos, sons, etc. -, o que temos é uma hipermídia. “Hipertextos e hipermídias
reconfiguram as formas como lemos e acessamos as informações” (KENSKI, 2007, p.32).
3 Brito e Purificação definem a internet como uma gigantesca rede interconectada por milhares de diferentes
tipos de redes, que se comunicam por meio de uma linguagem em comum (protocolo) e um conjunto de
ferramentas que viabiliza a comunicação a obtenção de informações. Nela, qualquer usuário conectado pode
estar em contato com o mundo (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2008, p.102). 4 Neste texto, chamaremos novas tecnologias, as tecnologias que surgem a partir da geração das “tecnologias
do acesso” citadas por Santaella (2007).
5
Silva também defende que o hipertexto é o “novo paradigma tecnológico que
liberta o usuário da lógica unívoca da mídia de massa” (2001, p.12). Segundo o autor, o
hipertexto democratiza a relação do usuário com a informação gerando um ambiente que
não se limita à lógica da distribuição. O hipertexto seria essencialmente um sistema
interativo e o fato de professores conhecerem e experimentarem essa nova dimensão pode
resultar em novas possibilidades de práticas em sala de aula (SILVA, 2001).
O espaço onde ocorre a comunicação, no qual as pessoas estão quando conectadas a
internet, Lévy (1999) define como ciberespaço. Assim, o ciberespaço é
o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Para
Lévy, o termo especifica “não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital,
mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres
humanos que navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999, p.17). Conforme o autor,
o ciberespaço, além de possibilitar a independência da presença geográfica para
relacionamentos, estimula a telepresença, a telecomunicação e a comunicação assíncrona
(independente de tempo). De certa forma, o ciberespaço seria similar a um mundo paralelo
virtual, heterogêneo, em constante transformação constante.
Enfim, as novas tecnologias baseadas da internet, impõem mudanças irreversíveis
nas formas de comunicação e de acesso à informação, a cultura e ao entretenimento. Na
próxima seção buscaremos articular essas tecnologias a escola e a sala de aula.
ESCOLA, SALA DE AULA E NOVAS TECNOLOGIAS
Os avanços tecnológicos têm provocado mudanças sociais, que podem possibilitar
aos indivíduos, além da obtenção de informações e de entretenimento, sua inserção em
comunidades virtuais ou grupos com identidades próprias. Nas novas gerações esses
processos são muito comuns, pois se sentem muito a vontade ao falar no celular, mandar
ou receber uma mensagem, participar de comunidades virtuais, interagir e se comunicar no
mundo virtual. No entanto, Almeida (2007) pondera que não se pode esperar que eles
cresçam e se tornem profissionais nos sistemas educativos para incorporarem às suas
práticas os espaços propiciados pelas novas tecnologias.
6
Para Brito e Purificação (2008), citando Bastos5, o fato das tecnologias estarem
presentes em todos os setores da sociedade constitui um justo argumento para sustentar sua
necessidade na escola e na educação. Concordamos com essas autoras ao assumirem:
[...] educação e tecnologia como ferramentas que podem proporcionar ao
sujeito a construção de conhecimento, preparando-o para saber criar
artefatos tecnológicos, operacionalizá-los e desenvolvê-los. Ou seja, estamos em um mundo em que as tecnologias interferem no cotidiano,
sendo relevante, assim, que a educação também envolva a
democratização do acesso ao conhecimento, à produção e a interpretação
das tecnologias (BRITO E PURIFICAÇAO, 2008, p.23).
Porém as mesmas autoras alertam que é preciso cuidado e planejamento na sua
utilização/proposição, pois qualquer recurso aplicado a educação pode ser apenas
instrumentos “reprodutores dos velhos vícios e erros dos sistemas” (BRITO E
PURIFICAÇAO, 2008, p.24).
Por conta dessa situação, concordamos com Valente (2007), ao afirmar que há que
se desenvolverem diferentes letramentos para lidar com tais avanços, visto que há um
processo de integração de tecnologias distintas em um mesmo artefato. Evoluções e
junções muito breves se levarmos em conta as inovações nas políticas da educação.
Mas, como fica então a escola frente a essas transformações?
Brito e Purificação (2008) afirmam que a escola, bem como as demais organizações
estão sendo pressionadas por esses avanços, pois, todos devem “(re)aprender a conhecer, a
comunicar, a ensinar; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal
e o social” (BRITO E PURIFICAÇÃO, 2008, p. 24). Porém, conforme as autoras, a
inovação na educação escolar, no que diz respeito às novas tecnologias, tem causado muita
confusão, pois muitas vezes, apenas é dada uma nova roupagem para o conceito de
tecnologia educacional6,sendo que o enfoque metodológico que as aborda, permanece
tradicional.
Muitas escolas inclusive já contam com laboratórios de informática e acesso a
internet, porém autores como Moran (1998, 2005), Kenski (2003, 2007) e Brito e
Purificação (2008), alertam que não basta apenas à aquisição de equipamentos, mas
propõem que o uso das novas tecnologias tem que ocorrer de forma consciente e com
5 BASTOS. J. A. A. (Org) Educação tecnológica: imaterial & comunicativa. Curitiba: Cefet-PR, 2000.
(Coletânea Educação & Tecnologia). 6 Brito e Purificação (2008) consideram tecnologia educacional todos os recursos tecnológicos, desde que em
interação com o ambiente escolar no processo ensino-aprendizagem.
7
conhecimento das possibilidades de uso. Consideram que o mais importante é a criação de
uma “cultura” 7 necessária para se utilizar desses recursos de maneira adequada, “é preciso
respeitar as especificidades do ensino e da própria tecnologia para poder garantir que o seu
As ferramentas da Web 2.0 estimulam a experimentação, a reflexão e produção de
novos conhecimentos, favorecendo a construção de um espaço de aprendizagem coletiva.
As possibilidades de aprendizagem colaborativa com a Web 2.0 surgem para superar a
estrutura rígida da Internet com poucos emissores e muitos receptores. Assim, surge uma
nova plataforma onde as aplicações são fáceis de usar, permitindo muitos emissores,
muitos receptores e uma quantidade significativa de comunicação e cooperação. Estas
mudanças permitem o surgimento de redes colaborativas de conhecimento, onde vários
assuntos são colocados em discussão, e o conhecimento é estruturado de forma contínua
(CARVALHO, 2008). Exemplos disso são o Orkut13
, o MySpace14
e o Facebook15
que
propiciam uma série de discussões por meio de seus fóruns. No Second Life16
, outro
exemplo, os usuários existem virtualmente, e por meio de seus avatares interagem,
assistem palestras, exploram diferentes ambientes. Dentro desse espaço já funcionam
verdadeiros campus virtuais. Vale aqui lembrar que não precisamos nos utilizar de todas
essas ferramentas, mas o fato é que para nossos alunos isso é muito normal, pois navegam,
participam, interagem nestes espaços com muita naturalidade.
Os recursos disponíveis da Web 2.0, além de aperfeiçoarem a organização das
informações, também favorecem a formação de novas redes de conhecimento com base
nas trocas e na cooperação. Por isso, a necessidade dos professores estarem também
imersos neste mundo virtual, propondo uma nova estrutura de aprendizado, tanto para sua
formação profissional e no enriquecimento de sua atuação, como para o trabalho que
desenvolvem com seus alunos.
PRODUÇÃO COLETIVA
Para Vygotsky (1988) as funções psicológicas superiores, memória e linguagem,
são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Os
processos voluntários, as ações conscientes e os mecanismos intencionais - funções
psicológicas superiores - dependem de processos de aprendizagem. O pensamento tem
origem na motivação, no interesse, na necessidade, no afeto e na emoção e, a construção
13
Ver: http://www.orkut.com 14
Ver: http://www.myspace.com 15
Ver: http://www.facebook.com/ 16
Ver: http://www.secondlife.com
14
do conhecimento se dá por uma interação mediada por essas várias relações feitas com
outros sujeitos.
Na internet, por meio dos diferentes recursos disponíveis, essas relações podem ser
potencializadas de uma maneira bastante evidente. Um exemplo disso são os blogs,
chamados também de diários virtuais, onde as pessoas escrevem sobre diversos assuntos,
expressam idéias, sentimentos, coisas cotidianas. Os blogs tem origem no hábito de alguns
pioneiros de conectar na web para fazer anotações, transcrever, comentar, interagir nestes
diferentes espaços virtuais. Em sua estrutura de publicação, apresenta-se similar a uma
página web, composta por postagens (ou posts) que ficam dispostas de forma cronológica
como se fosse um jornal. Cada post (fig.1) vem acompanhado da data da publicação e
também de um espaço para inserir comentários, abrindo espaço para discussão e troca de
idéias. Acompanha também marcadores que funcionam como palavras-chave. Estas
páginas podem ser acompanhadas de imagens, sons ou vídeos, inseridas de maneira fácil e
dinâmica, permitindo aos usuários participarem do que chamam blogosfera17
.
Fig.1
Conforme Bairral (2009), uma das vantagens dos blogs é que seus usuários podem
publicar conteúdos de maneira fácil, prática e rápida. Facilitando, dessa forma, que as
pessoas tenham seus espaços próprios dentro da web, “a ideia de um diário online tem sido
bem aceita pelos usuários da internet e, consequentemente, tranformou-se nessa grande
ferramenta comunicativa” (BAIRRAL, 2009, p.70).
17 Blogosfera é o termo coletivo que compreende todos os blogs (ou weblogs) como uma comunidade ou
rede social. Fonte: Wikipédia.
15
Cabe destacar que uma das vantagens da utilização de blogs é a possibilidade de
interação. Por meio destas ferramentas os usuários podem agir, interagir, publicar
experiências, discutir e apresentar assuntos de interesse conjunto, criando grandes redes
colaborativas. Para Vygotsky (1987) a colaboração entre os pares contribui para
desenvolver recursos para a solução de problemas, por meio do processo cognitivo
implícito na interação e na comunicação. Segundo esse autor, a linguagem seria um fator
fundamental para estruturar o conhecimento.
Ao trazer esses conceitos para os ambientes criados com a tecnologia dos blogs,
destaca-se a interação, elemento básico e inicial, responsável pela abertura do canal de
comunicação. “A interação entre as pessoas e objetos de conhecimento ocorrida nesses
ambientes, possibilita processos colaborativos e cooperativos de aprendizagem”
(MANTOVANI, 2006, p.333).
Assim, a partir deste contexto, propomos o uso dos blogs como uma possibilidade
para professores discutirem, socializarem práticas, e proporem reflexões sobre sua própria
prática por meio da investigação e da colaboração utilizando-se das tecnologias de
informação e comunicação como linguagem nesta formação. Muitas das insatisfações
enquanto educadores podem ser “resolvidas” por meio destes ambientes, uma vez que o
“estar junto virtual” (VALENTE, 1999), possibilita aproximações e abertura para
discussões. Inclusive professores que sentem-se tímidos ao fazer questionamentos ou
revelar produções, encontram espaço neste modelo.
Penteado citando Levy (2004, p.286) nos diz,
[...] a qualidade da ação docente depende da capacidade de interagir com
os colegas e outros profissionais. Gosto de pensar o professor como um nó de uma rede que conecta atores tais como: o projeto pedagógico da
escola, o computador, outras mídias, os centros de pesquisas, os
técnicos, os alunos, as famílias, as regras sociais, o professor, as imagens, os sons, etc., de forma que o movimento de cada um deles ative
outras redes e coloque em jogo o contexto e o seu sentido. O trabalho
docente pressupõe o estabelecimento de conexões entre esses autores. É
a imagem de uma rede.
Ponte (2003) aponta a colaboração como uma estratégia fundamental para lidar
com problemas difíceis de serem enfrentados individualmente. Que esta estratégia constitui
um elemento importante para muitos projetos envolvendo professores, uma vez que
investigar e socializar a própria prática de modo colaborativo constitui um processo
16
fundamental de construção do conhecimento. O autor ainda nos diz que professores
estudando juntos em grupos colaborativos podem,
[...] ajudar a encarar o professor de uma nova maneira. Em vez do semi-profissional dependente das intenções de quem faz os currículos, o
professor pode aparecer numa nova luz, como alguém que pensa e age com intencionalidade, com conhecimento próprio e com capacidade para
decidir e agir de acordo com as necessidades da sua situação concreta
(PONTE, 2003, p.2.).
TECENDO A REDE, ALGUMAS INICIATIVAS
São vários os professores que já se valem desta tecnologia, ou seja, que utilizam
dos blogs para divulgar, socializar e difundir suas produções. Um exemplo deste é o Blogs
Educativos18
. Para participar deste espaço basta ter um blog cujo foco principal sejam
assuntos educacionais, a partir de um cadastro, você pode compor essa rede, publicar,
interagir e participar. Esse grupo também tem um espaço de discussão via e-mail,
hospedado no Yahoo Grupos19
.
Outro espaço que também tem a mesma iniciativa de publicação e socialização,
porém com pesquisas voltadas ao uso das tecnologias no ambiente escolar, é o GEPETE20
-
Grupo de Estudos Professor, Escola e Tecnologias, criado pela professora Glaucia Brito,
pesquisadora da área na UFPR.
Especificamente para professores de Matemática, entre muitos outros espaços,
destacamos o Matemática Recreativa21
do professor português Paulo Afonso, um blog
onde ele propõe diferentes tarefas que podem ser trabalhadas em sala de aula, disponibiliza
jogos, vídeos e outras atividades, tudo aberto a discussões e contribuições. No Blog do
Bigode22
, o professor Antonio José Lopes, apresenta encaminhamentos de aula para seus
alunos, reflexões, tarefas e outras coisas. O blog Matematizando23
do professor Marcelo
Bairral, propõe testar a utilização do blog no ensino da matemática. Na mesma concepção,
18
Blogs Educativos, disponível em http://blogseducativos.teia.bio.br, , acesso em 10 de maio de 2010. 19
Grupos Yahoo, disponível em br.groups.yahoo.com, acesso em 10 de maio de 2010. 20
Gepete, disponível em http://gepete.blogspot.com/, acesso em 10 de maio de 2010. 21
Recreamat, disponível em http://recreamat.blogs.sapo.pt/, acesso em 10 de maio de 2010. 22 Blog do Bigode, disponível em http://www.matematicahoje.com.br/telas/mat_blogode.asp, acesso em 10
de maio de 2010. 23 Matematizando, disponível em http://ruralmat.zip.net/, acesso em 10 de maio de 2010.
a professora Miriam Penteado desenvolve no Blog do Grupo de Estudo e Pesquisa em
Educação Matemática Inclusiva24
.
Enfim, destacamos aqui algumas poucas iniciativas, porém vários são os espaços na
internet onde encontramos professores pesquisadores que se utilizam dos blogs como
espaço para divulgação de seus trabalhos.
Acreditamos que a partir das novas possibilidades, da ousadia, do desafio em
redimensionar o velho, e da vontade de desvendar saberes novos, da vontade de divulgar e
socializar nossos trabalhos nos impele a conhecer outros ambientes a caminhar por terrenos
desconhecidos e a propor outros encaminhamentos.
ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA
Para atender o objetivo proposto, neste projeto, intenciona-se criar um grupo de
pesquisa formado pela pesquisadora25
em conjunto com os professores de matemática do
Colégio Estadual Lysimaco Ferreira da Costa.
A metodologia escolhida é a da pesquisa qualitativa, onde os métodos utilizados
serão: a entrevista e a observação participante. Neste estudo a entrevista, tem por objetivo
obter dados que interessam a investigação e a observação participante, por sua vez, seguirá
de forma natural, uma vez que, a pesquisadora é integrante do grupo a ser investigado.
A pesquisa se dará em quatro etapas, onde a primeira será a entrevista
intencionando levantar os conhecimentos dos professores a respeito do uso das TIC, sua
familiaridade, envolvimento, encaminhamentos; a segunda etapa dar-se-á no Laboratório
de Informática da escola onde os professores poderão conhecer e posteriormente, criar
espaços virtuais pessoais (portfólios) para que possam socializar conhecimentos técnicos,
teóricos e metodológicos acerca dos ambientes e da utilização das TIC nas aulas de
matemática; a terceira etapa consiste na observação dos movimentos dos professores nos
espaços criados; e finalmente, a quarta e última etapa será para a análise dos resultados
obtidos com a pesquisa.
Resumindo, o que se pretende é criar um ambiente pessoal de estudo e trabalho
para cada professor de matemática da escola. Esse ambiente deverá agregar outros
24 Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática Inclusiva, disponível em
http://devamat.blogspot.com/, acesso em 10 de maio de 2010. 25 A autora é participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná e para
tanto, precisa desenvolver um projeto de intervenção na escola que tem fixação de padrão. Para saber mais,