Tcnicas Retrospectivas - PATOLOGIAS.docx
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISEscola de Arquitetura Dep.
Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo (TAU)
Bernardo CarvalhoCristiano DayrellLara SecchinMarina
SandersMateus Jacob
Selaria Estrela: patologias e diretrizes
Estudo realizado na disciplina TAU 079 Tcnicas Retrospectivas,
sob orientao do professor Marco Antnio Rezende.
Dezembro, 2014Belo Horizonte, MG
SUMRIO
1APRESENTAO32PATOLOGIAS72.1Estrutura72.2Vos e
vedaes92.3Pisos112.4Cobertura153CONCLUSO19REFERNCIAS20
1 APRESENTAO
A Selaria Estrela um imvel tombado em Prados, municpio
localizado na regio central de Minas Gerais, a 190km de Belo
Horizonte. No existem registros que determinem a data de construo
do casaro, entretanto, acredita-se que seja um exemplar da virada
dos sculos XVIII-XIX. Essa suposio validada por duas razes: o
arraial de Prados emergiu no incio do sculo XVIII, e a edificao
teria sido erguida somente aps um relativo perodo de consolidao
socio-econmica; por outro lado, tem-se registro que no ano de 1830
o casaro pertencia ao Padre Jos Maria Pamplona e fora construido
com esse intuito, e naquela poca, uma construo desse porte
demandava alguns anos at ser entregue.
Selaria Estrela.Fonte: Memria Arquitetura.
A Selaria Estrela ainda mantm as originais paredes do primeiro
pavimento: a espessura das mesmas garantida pela fundao feita de
pedras, cujas caractersticas se estendem para as funes estruturais.
J as divisrias do andar superior sugerem a utilizao de pau-a-pique,
tpico material das construes daquela poca. Em uma mescla de solidez
e simplicidade, o interior do casaro apresenta como complementaes o
piso, as janelas e as portas de madeira macia; entretanto, no se
pode afirmar com preciso quais ainda permanecem como originais da
construo, haja vista que uma grande reforma fora realizada no ano
de 1892, conforme a inscrio na fachada ainda explicita nos dias
atuais. (Memria Arquitetura, 2005)
O casaro funcionou como residncia at o final do sculo XIX quando
foi comprado pela famlia Caldas, que o subdividiu e alugou para
fins comerciais. Desde ento o imvel abrigou diversos usos, recebeu
bares, consultrios odontolgicos, e at mesmo a escola da cidade por
algum tempo. Mais recentemente, funcionou no local o Hotel Fonseca,
at incio da dcada de 1940, quando a famlia Caldas vendeu o casaro
ao senhor Jos Marques da Costa. Este foi o responsvel pelas novas
apropriaes do local, Jos Marques era o seleiro mais emblemtico da
regio, e mudou sua oficina para a edificao da selaria com intuito
de ampliar a sua produo. A fbrica foi muito bem sucedida at a dcada
de 1960, quando as vendas comearam a declinar. Com isso tambm
piorou o estado de conservao da edificao, uma vez que no havia
meios para fazer a cara manuteno da mesma.A Selaria encontra-se
implantada em um terreno de esquina, plano, alinhada s vias, e com
afastamentos posterior e lateral esquerdo. O acesso ao imvel feito
pela fachada frontal e lateral direita, e conta com um desnvel em
relao calada.A edificao original possui dois pavimentos e partido
em L. No primeiro, o sistema construtivo e a vedao so em pedra, j o
segundo possui estrutura autnoma de madeira, com vedao em
pau-a-pique, nota-se tambm alvenaria em tijolos em ambos
pavimentos. A insero das paredes em tijolos ocorreu ao longo do
tempo, e foi devida necessidade de modificaes internas para atender
aos diversos usos abrigados pelo imvel.Os vos externos possuem
vergas em arcos abatidos e sobrevergas. As portas, com vedao em
madeira, apresentam duas folhas de abrir. As janelas so do tipo
guilhotinha, com vedao em madeira e vidro, sendo que alguns
exemplares tambm apresentam folhas internas de madeira. As
aberturas do primeiro e segundo pavimento no so correspondentes, o
que se deve ao fato das diversas modificaes sofridas pela Selaria
ao longo dos anos.As fachadas so pintadas nas cores cinza (trreo) e
amarela (segundo pavimento), com cunhais marcados em branco.
Nota-se a existncia de ornamentos com motivos orgnicos prximos aos
beirais e aos cunhais. Na fachada lateral direita h uma inscrio
datando o ano de realizao de uma grande reforma, 1892.A cobertura
do casaro composta por seis guas, com vedao em telhas cermicas
curvas, do tipo capa-canal, os beirais so feitos em guarda-p de
madeira, pintados na cor azul.Internamente a edificao possui vinte
e trs cmodos, simples, sem ornamentao ou pintura decorativa. As
paredes de pau-a-pique so, hoje em dia, revestidas com reboco de
terra, e as alvenarias de tijolo, com argamassa de cimento. A
pintura se d nas cores branca, amarela e azul, variando de acordo
com cada ambiente. A disposio interna muito caracterstica do XVIII,
com interligao mltipla entre os cmodos.Os pisos so muito variados,
sendo encontrados em madeira, na forma de tabuado, e tacos;
ladrilhos hidrulicos e cimento. Os forros, quando existentes, so
feitos majoritariamente em madeira, em lambri, barrote aparente ou
tabuado saia e camisa, nota-se tambm a presena de esteira de
taquara, e telhas vs.
Planta do pavimento trreo.Fonte: Memria Arquitetura.
Planta do segundo pavimento.Fonte: Memria Arquitetura.
2 PATOLOGIAS
Para a anlise das patologias, a edificao foi dividida em quatro
itens: estrutura, vos e vedaes, pisos e coberturas. Esses itens
sero detalhados a seguir.
2.1 Estrutura
Segundo o laudo, a estrutura se encontra em um estado ruim de
conservao. As principais patologias estruturais so: Desnivelamento
do piso ocasionado por trincas e rachaduras no edifcio.
Ressecamento e perda de material na estrutura autnoma de madeira,
alm de sinais de ataques de insetos xilfagos apodrecimento em
alguns pontos devido umidade. O alicerce de pedra apresenta umidade
ascendente ocasionado pelo fenmeno de capilaridade, o que tambm
contribui para o deterioramento de revestimentos, alm de trincas e
desprendimento do reboco, que tambm so causados pela trepidao
relacionada ao trnsito local de veculos. A estrutura auto-portante
de tijolos macios tambm demonstra trincas, umidade e perda de
revestimento, ocasionadas pelas causas citadas
anteriormente.Algumas dessas patologias citadas podem ser vistas
nas imagens abaixo:
O quadro a seguir, feito a partir de informaes encontradas no
laudo tcnico de estado de conservao, mostra claramente a progresso
da piora no estado de conservao do imvel. Nele possvel observar as
estruturas e a gradao do que est mais conservado ou menos.
Para conseguir reverter esse quadro progressivo de deteriorao,
algumas medidas devem ser tomadas. A primeira, que seria o
escoramento da estrutura, foi feita em 2012. Outra medida seria o
tratamento da estrutura autnoma de madeira, que sofre com a aes
insetos xilfagos, que devem ser exterminados atravs de substncias
prprias para isso. Em relao a umidade por capilaridade, pode-se
investir em uma melhor drenagem do terreno e do entrono em que se
encontra a Selaria, para evitar que a gua se acumule na terra e
seja captada pelos vasos capilares da estrutura da base e passe
para outras instncias do edifcio.
2.2 Vos e vedaes
A Selaria tem seus vos e vedaes compostos por paredes de
estrutura autnoma de madeira com vedao em pau-a-pique, alm de
alvenaria em pedra tijolos de barro. A edificao original de
pau-a-pique, mas posteriormente, sofre modificaes que receberam
diversos materiais das pocas de reforma. Na figura abaixo, podemos
ver a dimenso das diversas tcnicas usadas na casa. Sendo em laranja
as alvenarias de tijolo, e em verde as alvenarias originais do
sculo XVIII (Figura x).
Fonte: Memoria e Arquitetura.
As aberturas dos vos da fachada so vencidos por vergas
semi-circulares, e apresenta pintura a base de cal com pigmentao
natural em tom amarelo claro, alm de apresentar ornamentao e a
pintura dos madres e caibros em branco.O estado de conservao da
casa precrio, o que se deve ao fato da casa receber ao longo dos
anos, intervenes que no foram compatveis as tcnicas primeiramente
usadas na construo original. Como primeiro exemplo, internamente,
as alvenarias so atualmente revestidas de reboco e cimento e
argamassa de cimento quando construdas de tijolo. Esta uma das
intervenes que no se suportaram por muito tempo e so encontradas
hoje destrudas. Pelo fato dos materiais que utilizam do cimento no
conseguirem aderir superficialmente e cumprir sua funo estrutural,
quando em contato com a madeira e o pau-a-pique. (figura x)
Fonte: Memoria e Arquitetura.
As alvenarias autnomas com vedao em pau-a-pique so as principais
danificadas, sendo as mais antigas, nao foram conservadas. Cerca de
15 por cento de todas destas vedaes precisam de urgente reparo.
Enquanto isso, as janelas e portas, alm das ferragens, encontram em
melhor estado, mas ainda assim, chegam a ter 10 por cento de
danificao, segundo os dados coletados pelo dossi, com pintura
degastada e madeira envelhecida sem tratamento de rotina. Alguns
vidros esto quebrados e a madeira sofrendo corroso por
micro-organismos.Como diretriz de interveno est a execuo de reboco
onde houver depreendimento do mesmo, a impermeabilizao das vedaes,
principalmente das externas expostas s intempries. Na fachada, a
limpeza dos ornamentos e tambm o reestauro da vedao. A utilizao da
cal essencial na conservao e manuteno da edificao original. O
material tem boa aderncia ao barro a madeira alm de ser
quimicamente de efeito hidrulico, isto , a cal sofre carbonatao com
o tempo e cristalizao com a humidade, sem falar da sua capacidade
de preencher os menores poros.
2.3 Pisos
A selaria apresenta pisos em tabuado (primeiro e segundo
pavimento), taco de madeira (primeiro pavimento), ladrilho cermico
(primeiro pavimento), cimentado (primeiro pavimento e banheiro do
segundo paviento) e tambm em ladrilho hidrulico (segundo
pavimento). A grande parte dos pisos est com o estado de conservao
ruim ou regular. Ou seja, de acordo com o laudo, a maioria dos
pisos necessita de interveno. O estado dos pisos foi caindo
gradativamente, apresentando uma porcentagem cada vez maior de
pisos regulares ou ruins.
a) As principais patologias do tabuado de madeira (5% bom, 15%
regular e 80% ruim) so: perda da calafetao perdas de partes sinais
de ataques de insetos xilfagos sujidade aderida desnivelamentos
emendas com peas metlicas desgates por abraso, ranhuras pontos
atingidos por umidade (apodrecimento da madeira) abaulamento e
empenamento (no segundo pavimento)
Tabuado em madeira com emendas em peas metlicasFonte: Memria
Arquitetura.
b) As principais patologias do taco de madeira (15% bom,
30%regular e 55% ruim) so: acmulo de umidade com deteriorao de peas
emendas em cimentado de peas desprendidas ressecamento perda da
calafetao ranhuras sujidade aderida ataque de insetos xilfagos
Piso em taco de madeira com manchas de umidade e ressecamento
das peasFonte: Memria Arquitetura.
c) As principais patologias do ladrilho cermico (tijoleira) (10%
bom, 35% regular e 55% ruim) so: trincas quebras com perda de
material desnivelamento sujidade aderida acmulo de umidade com
bolor lodo e mofo deteriorao material
Deteriorao do piso de tijoleira devido a acmulo de umidadeFonte:
Memria Arquitetura.d) As principais patologias do cimentado (15%
bom, 40% regular e 45%ruim) so: trincas e rachaduras ranhuras
perdas de partes esfoliao superficial desnivelamento manchas de
umidade alterao cromtica
Cimentado com desnivelamento, esfoliao superficial, acmulo de
umidade e sujidadeFonte: Memria Arquitetura.
e) As principais patologias do ladrilho hidrulico (45% bom, 35%
regular e 20% ruim) so: sujidade aderida desgaste trincas quebras
com perda de fragmentos
Ladrilho hidrulico com sujidade aderida, trincas e
desgasteFonte: Memria Arquitetura.
A limpeza e a reconstituio dos pisos necessria, e mais grave no
caso do tabuado e dos tacos, que necessitam de tratamento e uma
nova imunizao. H buracos que devem ser reparados nos pisos, bem
como a soluo da fragmentao dos ladrilhos. O ladrilho hidrulico, que
apresentava as melhores condies de conservao (caiu de 55% de estado
bom para 45% nos ultimos laudos) ainda sim precisa de cuidados,
principalmente em relao a sujidade aderida, as trincas e o
desgaste, que compromete a visualizao dos padres.
2.4 Cobertura
A cobertura de todo o casaro da Selaria Estrela composta por
seis guas, como pode ser observar na planta de cobertura
abaixo:
Fonte: Memria Arquitetura.
Tais telhados foram construdos com telhas curvas do tipo
capa-canal, que esto em bom estado de conservao. Os beirais levam
guarda-p de madeira pintada de azul e apresentam algumas peas
descoladas. Os forros so revestidos por esteira de taquara no hall
de entrada; lambri e barrote aparente nos demais cmodos do primeiro
pavimento. Tabuado saia e camisa e telha v compem o teto do segundo
pavimento, mas em minoria, pois a esteira de taquara foi a mais
aplicada no local.
A Selaria Estrela atualmente est com a estrutura dos telhados
est em bom estado de conservao, excetuando-se em dois ou trs
cmodos, onde vemos um desgaste natural das peas estruturais (vigas
e pilares) . Nessa situao, sugere-se a troca da estrutura, e, se
necessrio, o escoramento da estrutura atual durante este servio. As
coberturas em telha cermica, de boa conservao na sua grande
maioria, apresentam algumas peas quebradas e deslocadas em pontos
isolados, demonstrando a necessidade de troca. As calhas e
condutores esto se desprendendo da cobertura e em alguns pontos j
no cumprem mais sua funo. O guarda-p est perdendo parte de suas
peas em funo de ataque de microorganismos e exposio a intempries.
Fonte: Memria Arquitetura.
O conjunto de forros da Serralheria Esteira, est em condies
ruins. O forro do tipo esteira est com um estado de conservao
deplorvel, desprendendo-se em vrios locais. Observa-se tambm forros
cados, j no cho, enfatizando o degradamento da casa. O forro de
madeira tem peas deformadas e pintura desgastada, sugerindo uma
troca e/ou reposio em diversos pontos. Em alguns pontos observam-se
indcios de ataques de cupins. J o lambri apresenta-se em melhores
condies, precisando apenas de pequenos reparos pontuais.Fonte:
Memria Arquitetura.
Os danos observados nos forros e na cobertura so causados,
majoritariamente, pelo desgaste natural devido ao do tempo e das
intempries. A falta de manuteno peridica, preventiva e corretiva
intensificou a gravidade da situao.
3 CONCLUSO
Ao analisar as infromaes sobre a Selaria Estrela, conclumos que
a mesma apresenta um estado precrio de conservao, mostrando
patologias em todos seus elementos: estruturais, arquitetnicos, e
decorativos. Os danos, em geral, foram causado devido a ao do
tempo, com o desgaste natural dos materiais, acmulo de sujidade,
ataque de insetos xilfagos, trepidao devido ao trnsito local,
desgaste causado pelas intempries. Entretanto o que agravou a
situao da edificao foi a falta de manuteno, peridica, preventiva e
corretiva, fazendo com que as patologias existentes fossem
ampliadas.Uma interveno de restauro faz-se urgentemente necessria,
necessitando intervir na estrutura, alvenarias, e outro elementos.
Caso isso no ocorra a Selaria Estrela corre risco de arruinar.
REFERNCIAS
MEMRIA ARQUITETURA. Dossi de Tombamento da Selaria Estrela,
Prados, MG. 2005.
MEMRIA ARQUITETURA. Laudos de estado Tcnico de Conservao do
Municpio de Prados, MG. 2012.
MEMRIA ARQUITETURA. Laudos de estado Tcnico de Conservao do
Municpio de Prados, MG. 2013.
MEMRIA ARQUITETURA. Laudos de estado Tcnico de Conservao do
Municpio de Prados, MG. 2014.