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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL RICARDO PEROTTI ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS SÃO PAULO 2011
60

TCC - FAAP 2011

Mar 09, 2016

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Ricardo Perotti

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Page 1: TCC - FAAP 2011

FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL

RICARDO PEROTTI

ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS

SÃO PAULO

2011

Page 2: TCC - FAAP 2011

RICARDO PEROTTI

ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS

Monografia apresentada à

Fundação Armando Alvares Penteado

como parte dos requisitos para a aprovação no

Curso de Desenho Industrial,

Habilitação em Projeto de Produto

FÁBIO RIGHETTO

SÃO PAULO

2011

Page 3: TCC - FAAP 2011

Perotti, Ricardo

Estudo de método para construção de cenários futuros. Estudo e construção de

método para desenvolvimento de cenários futuros como etapa do exercício projetual

em design. / Ricardo Perotti. São Paulo, s. n., 2011, 60 p. Monografia de Conclusão

de Curso - Fundação Armando Alvares Penteado. Faculdade de Artes Plásticas.

Orientador: Fábio Righetto

1. Cenários Futuros 2. Método projetual 3. Pesquisa I. Título.

Page 4: TCC - FAAP 2011

Ricardo Perotti

ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS

Monografia apresentada à

Fundação Armando Alvares Penteado

como parte dos requisitos para a aprovação no

Curso de Desenho Industrial,

Habilitação em Projeto de Produto

( ) Recomendamos exposição na biblioteca.

( ) Não recomendamos exposição na biblioteca.

Nota: __________________________________

São Paulo, _____ de _____ de ____/____/____

_______________________________________

Professor (a)

_______________________________________

Professor (a)

_______________________________________

Professor (a)

_______________________________________

Professor (a)

Page 5: TCC - FAAP 2011

Este trabalho é dedicado a todos os "filhos", "pais", "mães" e

"tios" que estiveram presentes na formação do autor e a todos

que acreditam que procurar respostas no futuro nos permite

encontrá-las no presente.

Page 6: TCC - FAAP 2011

AGRADECIMENTO

A meu pai, meu maior mentor, que me deu o mundo sem pedir nada em troca;

A minha mãe, pela educação dada e pelo antagonismo saudável que me fez

querer ser melhor sempre;

Aos meus padrinhos pelos conselhos, viagens, carinho e incentivo à leitura

desde sempre.

A minha irmã, que aguentou meu barulho nas madrugadas de trabalho,

Ao irmão André, pelos insights, por ouvir minhas teorias incontáveis vezes e

pela amizade incondicional.

Aos amigos Thiago, Ana Carolina e Maiara, pelas músicas, noites em claro,

histórias e por enxergarem o que eu não conseguiria sozinho.

Ao colega Eduardo Mercer, que para cada uma de minhas perguntas trazia

um mar de respostas;

À Professora Maria Stella Tedesco Bertaso, pelo poder de entender toda

minha gagueira e traduzi-la para o mundo;

À Professora Nancy Betts, pelas conversas, ensinamentos e amizade, por

abrir-me os olhos para um mundo de artistas e pensamentos que eu jamais

conheceria;

Ao Professor Caio Vassão, por acreditar tanto quanto eu em ficções;

Ao Professor Fabio Righetto, cujas ideias estão à frente deste tempo, pelas

horas extra de orientação, paciência e cooperação em todo o

desenvolvimento do projeto.

Page 7: TCC - FAAP 2011

“O futuro já chegou. Só não está uniformemente distribuído”

William Gibson

Page 8: TCC - FAAP 2011

Resumo

Perotti, R. Estudo de método para construção de cenários futuros. Estudo e

construção de método para desenvolvimento de cenários futuros como etapa do

exercício projetual em design.

A obra visa apresentar ferramentas de aprimoramento nas pesquisas e

projetos de design. Fundamenta as bases metodológicas utilizadas para a

construção de cenários futuros. Discute a importância do conhecimento das relações

complexas e emergenciais durante o exercício projetual. Apresenta um exemplo

detalhado do método em construção abrindo a discussão da validade da prática no

mercado e sua importância para o design estratégico.

Palavras-Chave: cenários futuros, projeto, tecnologia, metodologia, complexidade,

emergência.

Page 9: TCC - FAAP 2011

Abstract

Perotti, R. Methodology study for future scenarios construction. Method study for

future scenarios development as part of the project exercise in design.

The work aims to provide tools for improvement in research and design

projects. Presents the methodological basis used for the construction of future

scenarios. Discusses the importance of understanding the complex relations and

emergent patterns during the project exercise. Features a detailed example of the

construction method, opening the validity discussion of such practice in the market

and its importance to the strategic design.

Keywords: future scenarios, project, technology, methodology, complexity,

emergent patterns.

Page 10: TCC - FAAP 2011

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................. 11

A História do Futuro ............................................................................................. 15

Método................................................................................................................... 17

Procedimento - Cenários Futuros ....................................................................... 19

Repertório Inicial .................................................................................................. 22

Complexidade ....................................................................................................... 26

Padrões Emergenciais ......................................................................................... 29

Status Quo e Spimes ........................................................................................... 32

Reestruturações Profissionais ............................................................................ 39

Panóptico e Monitoramento ................................................................................ 43

Disponibilização vs Controle da Informação ..................................................... 46

Acesso e Colaboração ......................................................................................... 50

Conclusão ............................................................................................................. 55

Bibliografia ............................................................................................................ 57

Webgrafia .............................................................................................................. 59

Page 11: TCC - FAAP 2011

11

INTRODUÇÃO

Imagine a prática da corrida. Reflita sobre como cada movimento, cada

passada é única e cada momento do desenvolvimento desse exercício corresponde

a um momento singular, composto de mais elementos que sua percepção cognitiva

e sensorial jamais seria capaz de compreender plenamente. Sair de um plano

horizontal e entrar em uma elevação faz com que o esforço para continuar à mesma

velocidade que vinha sendo desempenhada aumente. Um desgaste físico ou

mudança nas características da atividade, uma elevação no terreno, por exemplo,

somados a uma série de outros fatores aparentemente desconexos poderiam

resultar lesões ou até mesmo complicações cardiovasculares.

Imagine, então, que cada um dos fatores contribuintes para que o acidente

ocorra estejam sendo monitorados e voltemos à elevação do terreno: tal incremento

é imediatamente detectado a partir de leituras de sua frequência cardíaca, tensão

muscular, ritmo de respiração, formação de ácido lático, elevação geográfica, entre

outras. Enquanto todas estas mudanças ocorrem, também são monitorados os

níveis de umidade do ar, temperatura, partículas de poluição e pólen, proximidade

com outros corredores, pressão em diversos pontos das palmilhas dos tênis, taxas

de hidratação, glicemia, etc.

Com base nestes e diversos outros dados previamente computados, como

horários de ingestão de alimentos, horas de sono, desempenhos anteriores em

atividades físicas similares, comparações com indivíduos de faixa etária e

comportamentos semelhantes, medicações e incontáveis outros parâmetros, emerge

uma avaliação de eficiência na prática da corrida. Apontamentos sobre o risco

crescente de uma complicação cardíaca, de que o vestuário utilizado não é o mais

adequado, indicações de horários e ritmos de corrida mais eficientes para seu grupo

etário e alertas de esforço com projeções de lesões futuras são atualizados em

tempo real, garantindo total imersão na atividade desenvolvida.

Nenhum humano consegue detectar, tampouco avaliar, o incontável número

de variáveis e elementos inter-relacionados em uma dada situação: neste caso a

corrida no parque. Isto ocorre por duas razões: primeiro, pelo fato de não

Page 12: TCC - FAAP 2011

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possuirmos hoje a totalidade de dispositivos sensoriais necessários para mensurar

os diversos tipos de variáveis que podem ser utilizadas para obter uma leitura

completa de um fenômeno complexo. Em segundo lugar, mesmo com a

possibilidade de realizar tais leituras, não somos capazes de processar mentalmente

o volume massivo de dados que seria gerado por tais dispositivos.

Concentramo-nos na atividade a ser desenvolvida e, independente de quão

capacitado é o indivíduo em multitasking, simplesmente não há como lidar com

tantas variáveis e suas relações.

Esta plenitude de informações – potencialmente disponível e não passível de

ser processada – pode ser compreendida pela teoria da complexidade. Cada um dos

elementos fundamentais que compõem a situação é de simples compreensão, mas

conforme se acumulam em número e em suas relações menos óbvias, resultam em

um sistema complexo cuja compreensibilidade é dificultada. Esta problematização

ocorre justamente pelo fato de que não conseguimos lidar com tantas informações e

relações analíticas ao mesmo tempo.

O processo de cognição dá-se com o auxílio dos chamados modelos

conceituais. Nestas construções ocorre uma simplificação do evento ou objeto

estudado e tal fenômeno apresenta-se de acordo com o conjunto de expertises e

repertórios do observador. Esta é a razão pela qual obtemos leituras tão distintas de

um mesmo item: cada observador irá descrevê-lo de acordo com suas

especialidades e poderá contribuir apenas para a construção de um modelo

lateralizado, incompleto da entidade.

Poderia-se, no entanto, utilizar cada uma das leituras distintas do objeto ou

situação, descritas por observadores distintos e formular uma leitura pervasiva a

todas as áreas de interesse do objeto de estudo.

Esta leitura composta poderia ser compreendida como um modelo de

visualização total da informação, uma vez que neste caso não existe um indivíduo

observando o todo, e sim um conjunto de fontes de dados sobrepostas a fim de

construir um modelo conceitual muito mais próximo da totalidade real que qualquer

uma das leituras individuais.

Page 13: TCC - FAAP 2011

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No exemplo descrito acima, foi apresentado um fragmento do tema escolhido

para ilustrar o processo de construção de cenários futuros com ênfase nas questões

projetuais de design.

Acredita-se que a profissão do designer, multidisciplinar, deverá sofrer nos

próximos anos um processo similar ao ocorrido em outras áreas do conhecimento,

como a antiga alquimia que, já não comportando todo o conhecimento sob um único

teto, foi segmentada em química, biologia, física, etc. Outro caso mais

contemporâneo poderia ser o da medicina, em que boa parte de seus profissionais

deixou de lado a clínica geral e dedica-se hoje a áreas específicas do conhecimento

médico1.

Em um similar processo de especialização, surgiria então o ensaísta ou

projetista de cenários futuros. Este profissional, através da sensibilidade e visão de

mundo conferidas pelo design thinking, poderia trabalhar com empresas e escritórios

de design com o intuito de apresentar aos mesmos possibilidades de inovação e

posicionamento estratégico, tentando então antecipar como e quais seriam as novas

mudanças mercadológicas.

Intui-se com o presente trabalho iniciar um processo exploratório de

construção de uma metodologia para combinar o exercício de construção de

cenários futuros, prática tradicional da literatura, e o desenvolvimento projetual em

design. Pensar como as tendências mercadológicas podem ser projetadas

separadamente e, posteriormente, relacionadas a fim de garantir que os cenários

propostos sejam não apenas bem construídos, mas também possíveis.

Compreender as possíveis realidades futuras concederia ao projetista uma

capacidade de desenvolver produtos e serviços que estariam melhor alinhados às

demandas do mercado futuro, em oposição às tradicionais pesquisas de mercado

atual. As inovações conquistadas através de observação exclusiva dos mercados

atuais não parecem equiparar-se àquelas obtidas com um estudo das possibilidades

1 KELLY, Kevin. Increasing Specialization. Disponível em <http://www.kk.org/thetechnium

/archives/2009/05/increasing_spec.php> Acesso em 02 de abril de 2011.

Page 14: TCC - FAAP 2011

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futuras, uma vez que contêm apenas o tempo atual, tempo este que já se tornou

passado quando o projeto é concluído.

Antes de ingressar nas leituras e análises críticas sobre os desdobramentos

do cenário exemplo, deve-se primeiramente definir os limites do recorte do trabalho

a ser realizado, discutir a metodologia de pesquisa e estruturação dos capítulos

desenvolvidos e, finalmente, conceituar os elementos contidos no espectro

apresentado e quais suas relações, a fim de garantir a compreensão das áreas das

ciências utilizadas para determinar tais desdobramentos.

Page 15: TCC - FAAP 2011

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A HISTÓRIA DO FUTURO

O exercício de projetar cenários futuros preconiza a discussão da relevância

de tal prática. Se o conhecimento e entendimento do passado nos permitem evitar

erros ou ser confrontados pela ignorância dos erros repetidos, o exercício da

construção de cenários futuros nos permite prever quais questões projetuais/sociais

surgirão nos projetos desenvolvidos em contextos estudados com o conforto da não-

relação com o real. A prática literária da projeção futura costuma residir nos gêneros

da ficção científica, mas desde 1941 a História do Futuro2 vem ganhando gradual

importância também nas áreas de gestão e desenvolvimento de projetos.

Quando se realiza um exercício como este, é importante apresentar-se como

um observador imparcial e deixar de lado, na medida do possível, preconceitos com

os objetos estudados. Preocupações com utopias ou distopias acabam por

corromper o processo, pois não se trata de um julgamento do "bem ou mal", e sim

uma leitura objetiva baseada em tendências mercadológicas e sociais. "Utopia e

Oblívio meramente significam que o futurista chegou ao seu limite de capacidade da

compreensão da passagem do tempo e suas implicações" (STERLING, 2005).

Um modo eficaz de demonstrar a importância do estudo prévio dos

desdobramentos de tecnologias adotadas seria utilizarmos o exemplo dos

automóveis e o sistema de transporte centrado em combustíveis fósseis. Se na

década de 30, quando se iniciou o processo de popularização dos automóveis, fosse

realizado um estudo dos possíveis impactos do barateamento, massificação e

monopólio do transporte viário, poderia se ter esbarrado em algumas questões que,

hoje, configuram reais transtornos em virtualmente todas as metrópoles do mundo.

Reforça-se que não se trata de condenar completamente as escolhas

tomadas na época, mas levantar a hipótese de que tivessem os designers,

engenheiros e projetistas estudos sobre impactos projetados, poderiam os

responsáveis tomar caminhos menos danosos ao meio ambiente e à saúde urbana.

2 História do Futuro - O Termo foi cunhado em 1941 por John Wood Campbell, editor e

escritor de ficção científica.

Page 16: TCC - FAAP 2011

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Neste caso, uma crítica negativa não estaria levando em consideração forças

exteriores como lobistas, favorecimentos ou pressões políticas que muitas vezes

subvertem ou limitam as vontades dos projetistas e responsáveis pelo

desenvolvimento de novas tecnologias.

Sumariza-se, portanto, a noção de que o exercício da construção de cenários

futuros, mais que desejável, é necessário, uma vez que a mesma nos permite

verificar possíveis desdobramentos para adoções de processos e tecnologias, e

assim avaliar se tais resultados são desejáveis ou configuram realidades

insustentáveis ou inviáveis.

Page 17: TCC - FAAP 2011

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MÉTODO

O método escolhido para o desenvolvimento do presente trabalho visa

elucidar – capítulo a capítulo – quais os parâmetros escolhidos para desenvolver

uma metodologia de construção de cenários futuros dentro do exercício projetual de

design. A partir de pesquisas bibliográficas correlatas, serão apresentados em uma

ordem lógica os diversos passos tomados em direção à construção de tal

metodologia e, ao mesmo tempo, será elaborado um cenário-exemplo com o intuito

de ilustrar como os parâmetros se relacionam com um projeto de cenário futuro.

Primeiramente, serão apresentados os termos e repertórios iniciais que

auxiliarão a compreensão dos temas posteriormente discutidos. Este capítulo só se

faz necessário para que ocorra fluência quando forem abordadas questões de

superior grau de especificidade e não é, fundamentalmente, parte da estrutura

metodológica aqui apresentada.

Após a apresentação dos termos essenciais à discussão, irá pensar-se na

distância cronológica para a qual se deseja projetar, quais mecanismos permitem a

acurácia proximal da pesquisa com a realidade futura e como foram selecionadas as

áreas da ciência no dado exemplo, para que o mesmo seja seguido e adaptado para

a aplicação em projetos específicos.

A seguir, será iniciada a fundamentação do cenário desenvolvido e a

verificação de como o tema é percebido e trabalhado na atual data, quais as

tecnologias disponíveis no mercado, a apresentação de algumas projeções e o

começo da discussão sobre a percepção versus realidade no tema das evoluções

tecnológicas e informacionais.

Os capítulos posteriores abordarão os temas base da discussão que irão

garantir a matéria-prima sobre a qual o projetista irá trabalhar, ponderar e

desenvolver seu cenário. Nestes blocos, serão trabalhadas as tendências de

mercado que, novamente, são as guias que apontam em cada microcosmo

estudado quais são as prováveis mudanças e inovações esperadas para tal tema.

Page 18: TCC - FAAP 2011

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Após pensar individualmente sobre os temas e verificar quais elementos

aparentam se relacionar, inicia-se a segunda fase do exercício, que é a construção

do cenário propriamente dito. Baseando-se nas leituras e análises realizadas na

etapa anterior, o projetista começa a verificar as inter-relações das questões

discutidas e as diferentes formas com as quais poderiam combinar-se e configurar

variados cenários.

Finalmente, quando se obtém um cenário que aparentemente atende aos

parâmetros esperados e determinados pelas fundamentações – tanto dissociadas

quanto relacionadas –, deve-se pensar nos desdobramentos, ou ainda verificar a

sustentabilidade3 do cenário desenvolvido. É nesta etapa do exercício que surgem

os possíveis tópicos de discussões econômicas, psicológicas, éticas e sociais.

A conclusão do trabalho apresenta ainda uma série de considerações,

revisitando os exemplos dados e relacionando-os com a metodologia que se terá

desejado apresentar.

3 Sustentabilidade não no sentido ecológico, mas de perpetualidade.

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PROCEDIMENTOS - CENÁRIOS FUTUROS

Neste capítulo, serão discutidos os procedimentos tomados para que nos

aproximemos dos melhores resultados possíveis quando realizarmos o exercício de

confecção de cenários futuros.

Pensar quão futuro será tal modelo apresenta-se como uma parte importante

do exercício. A partir do conhecimento de onde se pretende chegar, podem ser

realizadas projeções tecnológicas e demográficas individuais para cada um dos

assuntos de base, tendo sempre em mente a possibilidade de quebras de

paradigmas, que podem representar tanto um atraso à chegada no ponto esperado

como um adiantamento.

A seguir, faz-se necessário que sejam definidos os pontos de apoio do

projeto, de forma que o mesmo seja sólido o suficiente para suportar possíveis

desvios no desenvolvimento da estrutura. Sendo maior o número de pontos de apoio

na base da pirâmide projetual, se em dado momento um destes se invalidar por

razão de falha na percepção do projetista ou uma reestruturação daquele universo, o

cenário final ainda é viável do ponto de vista projetual, pois é construído seguindo as

indicações coerentes dos demais pilares.

Tradicionalmente, a profissão do designer é multidisciplinar, fazendo com que

o mesmo passe por temas diversos e com uma frequência que o permite, após

alguma experiência, identificar quais os elementos fundamentais e relevantes aos

projetos que desenvolve. Tal habilidade é igualmente útil no processo de construção

de cenários futuros; através de explorações iniciais, um profissional da área seria

capaz de elencar uma lista de assuntos que tocam seu tema central. Obviamente,

quanto mais dissoluto ou abrangente for o foco do projeto ou estudo, maior será o

número de competências do conhecimento humano que poderá ser abordado em

oposição a um estudo de realidade futura para produtos de nicho.

Vale lembrar que a criação de um cenário generalizado, abrangente,

possibilitaria não só um único estudo de caso e, com alguns incrementos e

modificações estruturais, poderiam ser reutilizados para o estudo de subtópicos.

Page 20: TCC - FAAP 2011

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Exemplificando: um cenário de construção mais trabalhosa e abrangente

estudando a prática da medicina no futuro poderia facilmente ser reutilizado e

reestruturado para um estudo mais pontual, como equipamentos de diagnóstico por

imagem.

Figura 1. – Pensar em cenários mais abrangentes facilita futuras incursões em temas

correlatos.

Pensando então nas fontes e sua credibilidade, chegamos à questão de se o

uso de trabalhos ficcionais, de futuristas, é algo condenável ou merecedor de

incentivo. Uma hipótese poderia ser a de que após repetidas incursões no tema do

futurismo, um escritor desenvolveria uma sensibilidade às questões tecnológicas e

sociais e seria capaz de construir suas ficções de forma coerente e alinhada com os

movimentos do mercado. Tal hipótese se confirma quando trazemos nomes como

Vernor Vinge4, Robert A. Heinlein5 ou Bruce Sterling6 entre inúmeros outros à

4Vernor Vinge - Professor de matemática aposentado da Universidade Estadual de San Dieg,

autor de ficção científica e palestrante recorrente nos temas de singularidade, inteligência

artificial e pensamento científico a longo prazo. 5Robert A. Heinlein - Considerado um dos pais da ficção científica, preconizou a invenção de

diversos equipamentos considerados hoje comuns como telefones móveis e jornais digitais.

Foi também responsável pela criação de termos como "Waldo", utilizado na língua inglesa

para descrever equipamentos previstos pelo autor. 6Bruce Sterling - Escritor de ficções científicas, colaborou em diferentes frentes nas

discussões de tendências tecnológicas. Palestrante no evento Google TechTalks (2007),

Page 21: TCC - FAAP 2011

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discussão. Tais autores, durante muito tempo, se dedicaram exclusivamente à

literatura ficcional, na qual realizavam o exercício de propor realidades alternativas

às do tempo presente e, hoje, participam ativamente em tomadas de decisões ou

palestram sobre como preconizar e estruturar universos possíveis em corporações

como Apple e Google. A partir de tantos exemplos de sucesso, teoriza-se que

apoiar-se em e familiarizar-se com obras do gênero enriquecem o pensamento do

designer, uma vez que a ficção científica é nada mais que uma interpretação dos

elementos apresentados pela própria ciência.

Finalmente, toda a pesquisa realizada envolvendo a melhor compreensão da

realidade presente possível, que poderíamos equiparar à etapa de busca pelo status

quo nos projetos tradicionais, com discussões e reflexões sobre tendências de

movimentos futuros, é a base para a construção do cenário e este será influenciado

pelas demais experiências e repertórios do projetista. Sob este enfoque, cabe

pensar que o exercício se beneficiaria com a participação de vários profissionais e

que o cenário final fosse composto pelas visões singulares combinadas dos

futuristas.

falando diretamente aos desenvolvedores da empresa sobre possíveis novos dispositivos

computacionais.

Page 22: TCC - FAAP 2011

No presente capítulo

discussão do trabalho

posteriormente abordados, tais termos serão explicados previamente ao leitor.

O PANÓPTICO E SUA INVERSÃO

O termo panóptico foi utilizado pela primeira vez por Jeremy Bentham em

1785, descrevendo um model

controle, observação e supervisão dos ocupantes se dava de forma tal que exigia

pouquíssimos indivíduos desempenhando o papel de supervisores. Tal prédio

poderia ser utilizado em vários modelos de ins

fabricas e prisões, tendo a última maior foco do autor. Uma torre interna a um bloco

cilíndrico permitiria que, ao colocarem

cilindro com divisórias individuais e o observador

pudesse vigiar todas as ações dos internos sem ser visto.

Figura 2. -7 (E) Desenho esquemático do Panopticon / (D) A Torre central garante visão

privilegiada do observador que ali se posicionar.

Figura2.- Fonte(E): <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg

Acesso em: 04 de março de 2011

Fonte(D): <http://1.bp.blogspot.com/_cGailNL

WWg/s1600/large.panopticon.jpg

REPERTÓRIO INICIAL

No presente capítulo, serão apresentados alguns dos termos necessários

e que, para garantir melhor compreensão dos temas

abordados, tais termos serão explicados previamente ao leitor.

O PANÓPTICO E SUA INVERSÃO

O termo panóptico foi utilizado pela primeira vez por Jeremy Bentham em

descrevendo um modelo arquitetônico – o panopticon – no qual o exercício do

controle, observação e supervisão dos ocupantes se dava de forma tal que exigia

pouquíssimos indivíduos desempenhando o papel de supervisores. Tal prédio

poderia ser utilizado em vários modelos de instituições tais como escolas, hospitais,

fabricas e prisões, tendo a última maior foco do autor. Uma torre interna a um bloco

cilíndrico permitiria que, ao colocarem-se os observados nas paredes internas do

com divisórias individuais e o observador dentro da torre central, este

desse vigiar todas as ações dos internos sem ser visto.

(E) Desenho esquemático do Panopticon / (D) A Torre central garante visão

privilegiada do observador que ali se posicionar.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg

Acesso em: 04 de março de 2011

tp://1.bp.blogspot.com/_cGailNL-FIw/TP04pJ26fJI/AAAAAAAABGY/VVMztx8W

WWg/s1600/large.panopticon.jpg> Acesso em: 04 de março de 2011

22

REPERTÓRIO INICIAL

serão apresentados alguns dos termos necessários à

e que, para garantir melhor compreensão dos temas

abordados, tais termos serão explicados previamente ao leitor.

O termo panóptico foi utilizado pela primeira vez por Jeremy Bentham em

no qual o exercício do

controle, observação e supervisão dos ocupantes se dava de forma tal que exigia

pouquíssimos indivíduos desempenhando o papel de supervisores. Tal prédio

tuições tais como escolas, hospitais,

fabricas e prisões, tendo a última maior foco do autor. Uma torre interna a um bloco

se os observados nas paredes internas do

dentro da torre central, este

(E) Desenho esquemático do Panopticon / (D) A Torre central garante visão

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg>

FIw/TP04pJ26fJI/AAAAAAAABGY/VVMztx8W

Page 23: TCC - FAAP 2011

23

Tal modelo foi então reaproveitado por Michel Foucault em 1975, para que

fossem discutidos os mecanismos do poder capitalista para disciplinar e alterar o

comportamento da população. Foucault argumenta que em modelos como este o

interno perde a característica de sujeito participante em um sistema de produção ou

sociedade e passa a ser simplesmente um objeto fonte de informação ou força

laboral.

[...] torna possível traçar diferenças: entre pacientes, observar os sintomas de

cada indivíduo, sem proximidade de camas, a circulação de miasmas, sem os

efeitos de contágio ou confundir os relatórios clínicos; entre crianças, torna

possível observar performances ( sem que haja imitação ou cópia ), mapear

aptidões, verificar caráter [...](FOUCAULT, 1979)8.

Tal conceito será explorado no presente trabalho para ilustrar como os

mesmos mecanismos descritos por Bentham e Foucault se reestruturaram e

independem hoje de arquiteturas tradicionais. A pervasividade computacional

unidirecional ou, em alguns casos, de feedback incompleto configura um modelo de

panopticismo da era digital, equiparando-se em certos aspectos à realidade

apontada por Orwell em sua obra 1984.

Em segundo plano, apresentar-se-á a questão da possibilidade de reversão

deste fenômeno na era da computação pervasiva, que aqui chamaremos de

inversão panóptica. Neste modelo teríamos não um indivíduo no centro do sistema,

observando cada um dos demais indivíduos-objeto-de-estudo, buscando

informações através da observação, mas uma esfera formada por singulares

indivíduos, com repertórios e experiências diferentes entre si. Cada um desses

indivíduos periféricos poderia colaborar com seu conhecimento, experiências e

parametrização de dados a fim de construir inúmeros modelos digitais que

corresponderiam a riquíssimos bancos de dados prontos para processamento, ou

ainda modelos informacionais que quase esgotariam as informações contidas em

dado tópico.

8 FOUCAULT, Michel. Discipline and Punish: The Birth of the Prison. New York: Vintage,

1979

Page 24: TCC - FAAP 2011

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LEI DE MOORE E A SINGULARIDADE

A lei de Moore foi descrita por Carver Mead, professor do instituto de

tecnologia da Califórnia, na década de 70, baseado em um artigo escrito por Gordon

Moore (por isso a homenagem) em 1965, relacionando o crescimento no número de

transistores das placas de circuito com intervalos iguais de tempo. Moore percebeu

que o número dobrava anualmente e previu que tal índice de desenvolvimento

tecnológico se manteria inalterado por algum tempo. Não somente sua previsão foi

correta, como a presença de tal padrão de crescimento e desenvolvimento foi

constatada genericamente em todas as competências da tecnologia digital.

Capacidades de armazenamento, processamento, número de pixels em um ecrã por

dólar gasto, etc. Vale lembrar que hoje há uma tradição das empresas em seguir as

projeções de Moore pelo fato de que a própria população parece apresentar este

padrão com relação à velocidade de aceitação e demanda de melhorias,

configurando um ritmo confortável para introdução de novos produtos ao mercado.

O estudo da singularidade apoia-se diretamente na lei de Moore. O termo

singularidade refere-se basicamente a um evento hipotético que ocorrerá, segundo

Ray Kurzweil – um dos maiores nomes na pesquisa e discussão sobre a

singularidade–, por volta de 2045, quando as capacidades de processamento

computacionais tornariam-se tão poderosas e superiores às humanas que

configuram, pelo menos hoje, um horizonte para quão longe seríamos capazes de

projetar e pensar o futuro. Ray cita ainda como um marco histórico o ano 2029,

quando teremos completado todo o processo de engenharia reversa do cérebro

humano9.

Leva-se também em conta que no percurso das evoluções tecnológicas

encontramos alguns pontos nos quais ocorrem as quebras de paradigma, isto é,

certas práticas e tecnologias são completamente substituídas ao invés do tradicional

processo de aprimoramento e aglutinação. Kurzweil defende que a prática citada

acima, das empresas manterem-se presas à curva de Moore, sofrerá eventualmente 9 KURZWEIL, Ray. The Singularity is Near: When Humans Transcend Biology. New York:

Penguin, 2006

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25

um processo de quebra de paradigma e as inovações tecnológicas começarão a ser

apresentadas ao mercado cada vez mais cedo. Tal pensamento inclusive levou o

autor a revisar seu livro a fim de atualizar suas previsões para os acontecimentos-

chave até a chegada da Singularidade.

Para ilustrar como ocorrem tais processos de ruptura, tomemos o clássico

exemplo da indústria de áudio: as fitas K7 foram desenvolvidas e utilizadas por

vários anos, nesse período trabalhava-se para melhorar a qualidade do áudio

gravado nas mesmas e tais incrementos foram percebidos e absorvidos pelo

mercado. Ocorre, no entanto, uma ruptura no início dos anos 90 com a

popularização dos CDs, que apresentavam melhor qualidade de áudio e outras

vantagens. Neste caso, observa-se como o pensamento de continuidade não se

aplica obrigatoriamente ao estudo da tecnologia, pois podem ocorrer avanços e

descobertas que subvertem o cenário presente.

Page 26: TCC - FAAP 2011

26

COMPLEXIDADE

Complexo é, genericamente, o termo utilizado para descrever o modo como

as partes de um dado sistema organizam, relacionam-se e como tais relações

tornam-se demasiado intrínsecas para que possam ser compreendidas em sua

totalidade. O grau de complexidade de um sistema tende a crescer

proporcionalmente ao número de elementos inclusos no mesmo.

Warren Weaver, considerado por alguns como o autor do texto fundador da

teoria da complexidade (JOHNSON, 2001) 10, divide os sistemas em três grupos:

Sistemas Simples: Problemas com poucas variáveis e relações pouco

desenvolvidas. Possivelmente, os melhores exemplos sejam as máquinas como

pêndulos, alavancas, rampas e modelos onde os blocos fundamentais

desempenham funções sequenciais, pré-determinadas.

Sistemas de Complexidade Desorganizada: Casos com números de

variáveis extremamente elevados e relações pouco duradouras ou de origem

entrópica. Um exemplo muito utilizado é o dos gases. O número de partículas torna

impossível determinar o comportamento de cada molécula individual, mas ainda

assim é viável predizer o comportamento do sistema como todo, uma vez que as

relações formadas entre as moléculas são curtas e randômicas, possibilitando

estudos estatísticos de previsibilidade.

Sistemas de Complexidade Organizada: Modelos nos quais os

elementos constituintes do sistema seguem padrões definidos de comportamento e

as relações entre tais elementos configuram microestruturas que, por sua vez, se

organizam em camadas superiores, de maior complexidade que as inferiores. O

modelo mais clássico de observação de tal comportamento é o da composição dos

sistemas biológicos. Nos animais, por exemplo, temos organelas se organizando em

células, estas em tecidos e, subsequentemente, órgãos, sistemas especializados e

finalmente o ser.

10

JOHNSON, Steven. Emergência - A vida interligada de formigas, cérebros, cidades e

softwares. Rio de Janeiro: Zahar, 2001

Page 27: TCC - FAAP 2011

27

MODELOS CONCEITUAIS

Um indivíduo pode não ser capaz de lidar com toda a complexidade presente

em dado contexto. Naturalmente, seu processo cognitivo gera um modelo conceitual

no qual parte da complexidade é resignificada e memorizada de forma simplificada.

Devido ao acúmulo de camadas de organização complexas, não é incomum que

ocorra o desejo de, ao se estudar tais fenômenos, desconstruir tais camadas. Surge

aí o risco de empobrecer a compreensão do todo. (NORMAN, 2010) 11

É preciso esclarecer, então, que a simplificação de um sistema nem sempre

corresponde a uma melhor compreensão dos blocos elementares dos mesmos. Isto

ocorre especialmente nos exemplos com níveis superiores de complexidade, pois a

riqueza destes conjuntos não está necessariamente em suas entidades, mas sim

nas relações que as mesmas constroem (MORIN, 2005) 12. Tomemos o clássico

exemplo das formas alotrópicas13 do carbono: as relações que os átomos de

carbono formam podem dar-se de diversos modos diferentes.

Figura 3. - Um único elemento pode combinar-se de diversas formas, por isso a necessidade

de estudarmos o sistema como um todo, sem deixar de analisar suas relações. Temos o carbono nas formas grafite, diamante, fulereno, nanotubos e

nanoespuma. Para cada uma dessas formas, os átomos, os blocos elementares do

sistema, são os mesmos e o que varia é a forma como cada um desses átomos se

relaciona com os demais. Se fôssemos desprezar as relações entre os átomos e

Figura 3. - Fonte: < http://accuracyandaesthetics.com/wp-content/uploads/2007/06/eight_

allotropes_of_carbon.jpg> Acesso em: 12 de Maio de 2011 11

NORMAN, Donald. Living with Complexity. Massachusetts: The MIT Press, 2010 12

MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005 13Alotropia - Propriedade de certos elementos químicos de apresentar diferentes estruturas

moleculares estáveis, configurando macromoléculas completamente diferentes entre si.

Page 28: TCC - FAAP 2011

28

focar apenas nos componentes, teríamos uma leitura no mínimo incompleta dos

modelos finais.

Quando lidamos com sistemas complexos organizados, por mais que certas

relações possam apresentar-se difíceis de serem percebidas, é importante que se

mantenha a integridade do sistema a fim de que possam ser estudados não

somente seus componentes, mas também os desdobramentos das inter-relações

dos mesmos. O maior valor dos estudos complexos provém não necessariamente do

sistema primário, mas sim das novas camadas deste sistema, construídas pelas

relações de seus elementos. Tais camadas apresentam, por sua vez, novas

entidades que se relacionam e resultam em níveis superiores.

No seguinte capítulo, será discutido o processo de emergência; como o

estudo da complexidade pode revelar padrões de compreensão dos próprios

mecanismos da máquina complexa que é o universo.

Page 29: TCC - FAAP 2011

29

PADRÕES EMERGENCIAIS

Steven Johnson explica que certos processos e fenômenos muitas vezes

considerados randômicos no universo são apenas fenômenos cujas variáveis não

compreendemos ou simplesmente não somos capazes de perceber por não

possuirmos as ferramentas adequadas de observação ou metrificação.

O que faz uma prímula noturna se abrir num dado momento? Por que a água

salgada não mata a sede? Qual é a descrição de envelhecimento em termos

bioquímicos? Como a constituição genética original de um organismo vivo se

expressa nas características desenvolvidas do adulto?

Sem dúvida, todos são problemas complexos, mas não devido à

complexidade desorganizada, para a qual métodos estatísticos têm a solução. São

problemas que envolvem a manipulação simultânea de um determinado número

de fatores que se inter-relacionam, formando um todo orgânico. (WEAVER, 1948,

p.536)

Para compreender o "todo orgânico" descrito por Weaver, diversos

pesquisadores escolhem sistemas com números reduzidos de variáveis para que, a

partir da compreensão dos mesmos, possam ser traçadas relações com os de maior

complexidade. Este é o caso no estudo das sociedades, ou, no tema do atual

trabalho, a sociedade imersa em tecnologias metrificadoras; pesquisadores

costumam adotar formigas ou cupins, pois se tratam de insetos sociais e, por seu

tamanho reduzido, podem ser observados em laboratório. Este foi o caso com a

bióloga Deborah M. Gordon, nas décadas de 80 e 90. Gordon estabeleceu uma

série de relações a partir da observação de colônias de formigas sobre o surgimento

de padrões emergenciais e formação de sistemas de organização a partir dos níveis

mais baixos (bottom-up), baseados em feedback local.

Com a pesquisa de Gordon, utilizada juntamente com as de diversos outros

pesquisadores, Mitch Resnick, especialista no desenvolvimento de ferramentas de

aprendizado, criou um software14 de simulações nos quais os dados fornecidos

pelas pesquisas dos diversos biólogos e cientistas sociais foram transformados em

expressões matemáticas, portanto, metrificados. A partir de tais modelos digitais é

14

StarLogo - Lançado em Julho de 2008. Disponível em

<http://education.mit.edu/starlogo/> Acesso em 28 de fevereiro de 2011.

Page 30: TCC - FAAP 2011

30

possível, então, realizar projeções para cenários futuros, após o preenchimento dos

parâmetros de base e aceleração da variável correspondente ao tempo. No exemplo

abaixo, temos a versão digital dos estudos de Deborah M. Gordon.

Figura 4. -15Modelo digital dos experimentos conduzidos com sistemas complexos

organizados. Reordenando os conjuntos de regras que cada um dos elementos do sistema

segue, se obtém resultados diferentes

Este é também o caso da rede WWW, onde o conteúdo produzido é de certa

forma regimentado e previsto pelo código sobre o qual a rede é escrita e, por isso,

não podemos chamá-la de sistema complexo desorganizado. Os usuários têm a

liberdade de desenvolver conteúdo e estes dados relacionam-se com os demais

através de links, gerando trens de conteúdo que podem ser trilhados e estudados. A

popularidade e relevância de um tema podem, então, ser verificadas pelo

monitoramento do tráfego global por determinada trilha de websites.

Verificam-se, então, padrões emergenciais de organização e da informação e

apresentação de demandas globais sem a presença de um líder para organizar tais

dados. Observa-se no exemplo a seguir um mapeamento global das postagens

digitais no website Twitter e, a partir das mesmas, gera-se um mapa dos temas de

maior discussão na rede em tempo real.

15

Figura 4. - Fonte: Captura de tela do software StarLogo

Page 31: TCC - FAAP 2011

31

Figura 5. -16

Mapa atualizado em tempo real contendo tópicos de maior relevância,

organizados por localização geográfica possibilita estudos de demanda local e global.

Outro clássico exemplo de padrões emergenciais é o mercado financeiro.

Relações de oferta e demanda são frequentemente afetadas por elementos

aparentemente dissociados, como tratados políticos, mudanças climáticas,

epidemias, etc. O termo "a mão invisível da economia", cunhado por Adam Smith no

século XVIII, era, na realidade, resultado dos padrões emergenciais que não podiam

ser monitorados na época.

A seguir, serão discutidas as tecnologias que hoje iniciam o processo de

imersão de nossa sociedade na computação pervasiva e como tais recursos

poderiam transformar o modo como nos relacionamos com informação.

Figura 5. - TRENDSMAP, Real time local twitter trends. Disponível em

<http://trendsmap.com/> Acesso em 03 de março de 2011.

Page 32: TCC - FAAP 2011

32

STATUS QUO e SPIMES

Quando pensamos em computação pervasiva, frequentemente nos referimos

às tecnologias que a cada dia se fazem mais presentes em nossas vidas. Neste

capítulo, serão apresentados algumas destas tecnologias e serviços possibilitados

pelas mesmas. A partir deste estudo de status quo e das teorias apresentadas

anteriormente, será construído um cenário futuro sobre o qual serão feitas

ponderações visando apresentar quais seriam os possíveis desdobramentos sociais

caso ocorra a intensificação ou massificação de tais tecnologias.

Foram escolhidas cinco áreas para as quais serão apresentadas tecnologias

e serviços atuais: Transporte, Medicina, Economia, Comunicação e Acesso

Centralizado. Tais áreas foram escolhidas por apresentarem exemplos de

tendências tecnológicas que devem ultrapassar os limites de especificidade e

empregabilidade de seus campos de aplicação originais, convergindo, então, em um

novo tipo de aparato.

TRANSPORTE

O setor de transporte se favorece com o barateamento das tecnologias de

posicionamento geográfico – os GPS's – e passam a instalar o aparato nas frotas de

ônibus, trens, metrôs e balsas. A possibilidade de rastrear cada um dos veículos e a

velocidade na transmissão de dados para a web possibilitam o desenvolvimento de

serviços como o implementado na cidade de Portland, Oregon, nos Estados Unidos,

pela companhia TriMet17.

Na cidade, cidadãos podem acessar terminais ou instalar em seus

smartphones aplicativos com os quais podem verificar o tempo de chegada de seus

meios de transporte e, inclusive, realizar simulações de quais meios utilizar quando

realizam comutas entre dois sistemas. A implementação do sistema não só

melhorou a qualidade dos serviços de trânsito, o que levou uma parcela maior da

17

TRIMET, Public Transportation for Portland. Disponível em < http://trimet.org/> Acesso

em 15 de março de 2011.

Page 33: TCC - FAAP 2011

33

população a adotar meios de transporte públicos, mas também mapeou quais rotas

eram mais acessadas e disponibilizou mais vagões ou ônibus para tais destinos.

MEDICINA

A presença de sensores e equipamentos de coleta de dados na área da

medicina sempre foi substancial. Nos últimos anos, surgiram os implantes

subcutâneos, que isentam o paciente de ter que realizar quaisquer medições

recorrentes, como no caso do implante para medição de glicemia de pacientes. Na

tecnologia desenvolvida pela universidade de Tokyo e parceiros, o equipamento

indica se os níveis de glicemia aumentaram ou diminuíram sem a necessidade de

furar o dedo para a realização do teste diário18.

Figura 6. - A presença de glicose no sangue do indivíduo ativa a luminescência do implante e

permite que o mesmo saiba de maneira indolor que deve tomar sua dose de insulina. Outro exemplo da intensificação das tecnologias pervasivas de produção e

processamento de dados é o microchip19 em fase de desenvolvimento pela

Universidade de Engenharia de Calgary, que é capaz de realizar os mesmo testes

laboratoriais que demandam ampolas de sangue com apenas uma pequena gota,

Figura Error! Main Document Only.. - Frame do vídeo disponível em:

<http://www.diginfo.tv/2010/08/06/10-0141-r-en.php> Acesso em: 6 de maio de 2011 18

DIGINFO TV, Implantable blood sugar sensor. Disponível em

<http://www.diginfo.tv/2010/08/06/10-0141-r-en.php> Acesso em 21 de março de 2011. 19

UNIVERSITY OF CALGARY, Microfluids. Disponível em

<http://www.ucalgary.ca/news/february2011 /microfluids> Acesso em 21 de março de

2011.

Page 34: TCC - FAAP 2011

34

como nos testes comuns de glicemia. Além do conforto do paciente, a tecnologia

não precisa ser operada por mão de obra especializada e pode ser utilizada em

casa.

ECONOMIA

A computação pervasiva atualmente favorece os mercados financeiros com

as melhorias na velocidade do processamento e tráfego de dados. Obter uma

informação alguns segundos antes dos demais potenciais compradores pode

corresponder a enormes taxas de lucro para uma corretora e seus clientes. Alguns

computadores chamados de Bots, instalados dentro do prédio da Bolsa de Valores

para que a latência20 da conexão seja a menor possível, são capazes de verificar

flutuações nos valores de ações em outros mercados e, baseando-se em

parâmetros pré-estabelecidos, comprar e vender ações sem sequer consultar

constantemente a agência.

COMUNICAÇÃO

Trata-se comunicação, neste momento, como a capacidade de dois

equipamentos ou gadgets trocarem informações digitais, como ocorre no caso das

tecnologias RFID.

Os RFID's, ou Identificação por Rádio-Frequência, são comumente utilizados

hoje para facilitar a localização e registro do caminho percorrido por um produto ao

longo da cadeia de produção do mesmo. As chamadas etiquetas RFID podem ser

acionadas por frequências e responder com informações pré-estabelecidas,

podendo variar entre preços, cadastros pessoais, localizações, enfim, virtualmente

qualquer informação textual e numérica. O custo das etiquetas vem caindo

substancialmente nos últimos anos, chegando hoje a valores entre U$0,07 e

U$0,2021.

20Latência - Tempo decorrido entre dado comando emitido por um dispositivo eletrônico e a

resposta do servidor. 21

RFID JOURNAL, FAQ. Disponível em <http://www.rfidjournal.com/faq/20/85> Acesso em

02 de abril de 2011.

Page 35: TCC - FAAP 2011

35

Figura 7. - Etiqueta RFID (E) e uma possibilidade de uso, identificação de dados de forma

gestual (D).

O uso desta tecnologia de comunicação e identificação ganhou ainda mais

importância com a possibilidade de associar implantes ou equipamentos do dia a dia

como celulares e laptops com leitores de RFID's. Desta forma, o input de dados que

seria feito manualmente, por exemplo, em supermercados ou participação de uma

rede social online, passa a ser realizado de forma gestual ou simplesmente

presencial.

ACESSO CENTRALIZADO

Mais do que uma tecnologia, o acesso centralizado é uma tendência que vem

crescendo principalmente com a popularização das redes sociais. Com o crescente

número de páginas da web requerendo cadastros e senhas a fim de apresentar

conteúdo direcionado ao internauta, fortaleceram-se as políticas de interpolação de

registros e conteúdo entre páginas onde aquelas com maior poder de atração de

usuários. Este processo é verificado com o crescimento de serviços oferecidos na

web que podem ser acessados com cadastro da rede social Facebook. De maneira

similar, para gerar imagens de perfil para virtualmente qualquer website, pode-se

utilizar um hospedeiro chamado Gravatar22; ainda, diversos grupos afiliam-se ao

domínio da Google e disponibilizam seus serviços diretamente na loja virtual do

grupo, centralizando toda a cadeia de acessos.

Figura 7. - Fonte(E): <http://1.bp.blogspot.com/-haRPxkgpltU/TZccA5HAFsI/AAAAAAAAARw/

zGzQweyBlU8/s1600/rfid_card_reader.jpg> Acesso em: 06 de maio de 2011

Fonte (D): <http://www.stronglink.cn/images/rfidnews.jpg> Acesso em: 22

Gravatar - Disponível em <http://en.gravatar.com/>

Page 36: TCC - FAAP 2011

36

Observando as cinco frentes apresentadas, traça-se uma tendência de

produtos que estarão no mercado nos próximos anos, baseando-se tanto em tais

tendências quanto nas curvas de desenvolvimento tecnológico de Moore. Tais

produtos deverão apresentar, derivando-se dos exemplos apresentados:

Mobilidade: tecnologias de captação, compartilhamento e visualização de

dados deverão apresentar-se de forma a acompanharem o usuário durante todo o

seu deslocamento geográfico. A popularização e barateamento dos pacotes de

dados nos dispositivos móveis deverão criar mesh networks23·. Tais fenômenos,

somados à alta conectividade entre os diferentes dispositivos pessoais, garantiriam

a liberdade de deslocamento sem o comprometimento da captura e

compartilhamento dos dados coletados.

Multiplicidade Morfológica: assim como no caso da área médica, tais

tecnologias irão apresentar-se nas mais variadas formas, em alguns casos visando

desaparecer por completo da percepção do usuário e, em outros, convidando o

usuário a participar na construção de conhecimento e interagir socialmente.

Velocidade: a fim de garantir a melhor experiência possível e acesso rápido

dos recursos informacionais, as tecnologias futuras serão capazes de realizar trocas

de informações em tempo real, em oposição ao tempo desprendido com

transferências por bluetooth ou infravermelho.

Baixo Custo: os atuais baixos custos de certas tecnologias deverão reduzir-se

ainda mais nas futuras, garantindo assim uma democratização tecnológica na qual

todas as facetas da vida humana poderão ser beneficiadas pela presença de

dispositivos de captação de dados.

Centralização de Serviços: apesar de apresentarem-se em diversos tipos e

formas de sensores diferentes, percebe-se uma tendência de que as leituras e

dados coletados entre as diferentes tecnologias sejam, posteriormente à sua

23 Mesh Networks - Redes geradas a partir do uso de dispositivos móveis como roteadores a

fim de ampliar a área de alcance de hotspots, garantindo maior cobertura e acesso. No

exemplo citado, os diversos dispositivos que acompanhariam um indivíduo poderiam

interconectar-se e utilizar a rede disponibilizada por um dispositivo móvel de acesso à rede.

Page 37: TCC - FAAP 2011

37

captura, recentralizados em grupos de interesse para que nestas informações

combinadas sejam encontrados padrões únicos a cada indivíduo.

SPIMES

Com a intenção de não criar uma nova terminologia para discriminar tais

equipamentos e tecnologias futuras se utilizará o termo SPIMES, cunhado por Bruce

Sterling. Nas palavras do próprio autor:

"SPIMES são objetos manufaturados cujo suporte informacional é tão

esmagadoramente extensivo e rico que eles são tratados como instanciações de um

sistema imaterial. Eminentemente lavráveis de dados, SPIMES são os protagonistas

de um processo histórico." (STERLING, 2005).

O autor utiliza o termo em sua publicação como todo e qualquer produto que

tenha em sua produção uma monitoração do processo de desenvolvimento, desde o

início de sua confecção até seu descarte (ou retorno ao início do ciclo) e

disponibilize as informações coletadas da vida do produto ao usuário. Sterling

acredita que um produto que carregue em si toda sua história seja capaz de sanar

parte da ansiedade informacional na qual a sociedade está mergulhada e,

finalmente, instituir no consumidor um senso de responsabilidade em conhecer

primeiramente todo o caminho percorrido pelo produto, se tal processo é legítimo e

também convidá-los a participar ativamente na construção de mais informações

sobre o tema que permeia o produto.

A segunda leitura, que se alinha mais precisamente com o tema desenvolvido

no presente trabalho, é a de que dadas as características de tais tecnologias, seria

possível vivermos futuramente em uma sociedade onde a presença de SPIMES seria

banalizada e todas as facetas da realidade humana poderiam ser metrificadas e

comparadas em tempo real com as medições de toda a população igualmente

equipada e monitorada. Não apenas os atributos biológicos, mas também socio-

comportamentais, ambientais e econômicos poderiam ser permanentemente

medidos uma vez escolhidos os parâmetros de comparação e implementação de

SPIMES em tal monitoramento.

Page 38: TCC - FAAP 2011

38

Pensando no exemplo citado anteriormente, do mercado financeiro e a

famosa "mão invisível" de Adam Smith:

"A mão do mercado era chamada de "invisível", pois Adam Smith tinha

poucos modos de medi-la. Faltavam a Adam Smith as métricas. Métricas tornam as

coisas visíveis. Em uma tecnosociedade de SPIMES quase tudo tem métricas. Seres

humanos e seus objetos estão inundados de métricas... tornando seus mecanismos

mais óbvios, dando-me um envolvimento e aproximando-os de meu alcance."

Nos próximos capítulos, serão discutidas as questões sociais que poderão

apresentar-se caso as tecnologias aqui preconizadas forem de fato introduzidas no

mercado e na sociedade. Como tais tecnologias poderiam mudar o modo como nos

relacionamos com outras pessoas, corporações, o Estado, tecnologia e informação.

Page 39: TCC - FAAP 2011

REESTRUTURAÇÕES PROFISSIONAIS

As relações profissionais parecem ser as primeiras a implementarem os

serviços da intensificada computação pervasiva aqui trabalhada. Isto por que os

ganhos econômicos que provém de um con

geralmente suficientes para viabilizar tais implementações.

capaz de coletar dados em diferentes frentes e processá

profissões dos aspectos sistêmicos, analíticos com os quais os trabalhadores de tais

setores tem de lidar.

Tomemos o caso dos operadores de ações no mercado financeiro: Tais

profissionais estão sempre verificando altas e quedas nos valores dos pro

os quais trabalham e val

em padrões de flutuação dos valores das ações.

Figura 8.24

- Construção de uma

Estes profissionais precisam, além de conhecer

técnicos, relacionar-se com seus clientes, investidores

quais serão os movimentos de flutuação da economia. Sistemas computacionais

capazes de acessar banc

24

Figura 8. - Fonte: <http://i29.tinypic.com/t9885e.jpg>

REESTRUTURAÇÕES PROFISSIONAIS

As relações profissionais parecem ser as primeiras a implementarem os

serviços da intensificada computação pervasiva aqui trabalhada. Isto por que os

ganhos econômicos que provém de um controle rígido das informações são

geralmente suficientes para viabilizar tais implementações. A computação pervasiva,

capaz de coletar dados em diferentes frentes e processá-los, poderia eximir

profissões dos aspectos sistêmicos, analíticos com os quais os trabalhadores de tais

o caso dos operadores de ações no mercado financeiro: Tais

profissionais estão sempre verificando altas e quedas nos valores dos pro

os quais trabalham e valem-se de um repertório de signos estabelecidos com base

em padrões de flutuação dos valores das ações.

Construção de uma linguagem específica equivalente a informações conhecidas

Estes profissionais precisam, além de conhecer todos os procedimentos

com seus clientes, investidores e, além disso

quais serão os movimentos de flutuação da economia. Sistemas computacionais

capazes de acessar bancos de dados compilados ao longo dos anos são capazes

Fonte: <http://i29.tinypic.com/t9885e.jpg> Acesso em: 06 de maio de 2011

39

REESTRUTURAÇÕES PROFISSIONAIS

As relações profissionais parecem ser as primeiras a implementarem os

serviços da intensificada computação pervasiva aqui trabalhada. Isto por que os

trole rígido das informações são

computação pervasiva,

poderia eximir certas

profissões dos aspectos sistêmicos, analíticos com os quais os trabalhadores de tais

o caso dos operadores de ações no mercado financeiro: Tais

profissionais estão sempre verificando altas e quedas nos valores dos produtos com

estabelecidos com base

específica equivalente a informações conhecidas

todos os procedimentos

além disso, tentar predizer

quais serão os movimentos de flutuação da economia. Sistemas computacionais

os de dados compilados ao longo dos anos são capazes

06 de maio de 2011

Page 40: TCC - FAAP 2011

40

de apontar em questão de segundos quais são os saltos mais prováveis nos valores

de ações, baseados em eventos passados.

Por exemplo, em um gráfico da evolução anual do preço da saca de soja

deseja-se saber quais as projeções prováveis para os próximos dias.

Figura 9.25

- Sistemas computacionais identificam os padrões e analisam em segundos se os

mesmos se repetem através do tempo, apresentando ao usuário análises gráficas de tais

padrões e possível projeção. Um sistema com acesso a bancos de dados tais como histórico do mercado

financeiro dos últimos 40 anos para este produto, relatórios de safra (produção),

demanda de mercado e quaisquer outras variáveis pertinentes poderia realizar uma

previsão de valores futuros consideravelmente mais acurados do que um

profissional que não é naturalmente equipado para lidar com tantas variáveis ao

mesmo tempo. Não se elimina neste processo, no entanto, a experiência, malícia, o

chamado feeling do operador experiente. O sistema aqui citado poderia auxiliar o

profissional e, em dado momento, até mesmo obter certo grau de autonomia,

administrando operações de baixo risco ou demasiado analíticas.

25

Figura 9. - Fonte: < http://images.tradingmarkets.com/2009/Howto/0227Logan7.jpg>

Acesso em: 06 de maio de 2011

Page 41: TCC - FAAP 2011

41

Com a possibilidade de outsourcing26 das capacidades de processamento de

dados para os computadores e o aumento nas fontes dos dados computados,

poderá ocorrer um processo de abertura das profissões às questões vocacionais,

isto é, a escolha do trabalho estaria muito mais alinhada às áreas de interesse do

profissional, uma vez que este teria empenho maior nas atividades desenvolvidas.

Tal processo é parcialmente fundamentado pelo modelo de negócios desenvolvido

pela InnoCentive27. Esta empresa oferece remuneração pela solução de problemas

apresentados por diversos segmentos de mercado, funcionando como uma ponte

entre as corporações e os profissionais ou amadores interessados espalhados pelo

mundo. Pessoas das mais variadas formações acadêmicas participam dos desafios

por interessarem-se pelo tema dos mesmos (HOWE, 2008) 28. Apesar da

remuneração oferecida, algumas pessoas adotam uma postura de hobby e muitas

vezes gastam mais com seus experimentos do que ganhariam se apresentassem a

solução remunerada; extrapolando, então, a idéia do amador apaixonado, esperaria-

se um melhor desempenho por parte dos profissionais apaixonados. Além disso,

este outsourcing permitiria também um deslocamento criativo por parte do

profissional, isto é, o isentaria de lidar com as questões fundamentalmente analíticas

de seu trabalho.

Tabulação de dados, associações de variáveis, acesso a bancos

informacionais, tais tarefas poderiam ser realizadas por sistemas computacionais,

dando ao especialista a liberdade de operar em níveis mais humanizados. Por

exemplo, um médico poderia passar a interpretar as relações que lhe fossem

apresentadas com maior segurança e adequar os possíveis cenários apontados

pelas análises sistêmicas às realidades de seus pacientes. Analogamente, o

operador da bolsa, munido de respostas rápidas aos inquéritos sobre ações e

históricos das mesmas, poderia traçar planos de investimento que se adequassem

aos interesses específicos e riscos que seus investidores se permitem correr.

26

Outsourcing - Tradicionalmente implica na contratação de mão-de-obra externa à

empresa. No contexto do trabalho significa delegar aos sistemas computacionais tarefas de

elevado coeficiente analítico como processamento de dados, planilhas, etc. 27

InnoCentive - Disponível em <http://www.innocentive.com/about-innocentive> 28

HOWE, Jeff. Crowdsourcing: Why the power of the crowd is driving the future of

business. New York: Crown Business, 2008

Page 42: TCC - FAAP 2011

42

O profissional passaria então de um monitor das variações mercadológicas

(analítico) a um facilitador do ingresso de leigos no mercado financeiro (emotivo),

trabalhando a volição de seus clientes a fim de tornar tal ingresso o mais natural e

humano possível.

Por outro lado, a facilidade em verificar escolhas, perfis cognitivos e leituras

biológicas poderia facilitar o aparecimento de processos de determinismo genético,

comportamental ou vocacional. Na amplamente conhecida distopia apresentada no

filme GATTACA29, observa-se a história de um indivíduo que luta contra um sistema

estruturado por políticas de eugenia e determinismos genéticos, alimentado por seu

desejo em tornar-se um astronauta. Caso a computação pervasiva torne possível o

mapeamento de ações e aptidões individuais e consiga gerar projeções de tais

habilidades, é importante considerar a emergência de políticas deterministas,

limitando o acesso de certos indivíduos a atividades, simplesmente por não

possuírem perfis comportamentais ou genéticos desejáveis.

Além disso, deve-se considerar também que durante todo o processo de

disseminação e inclusão das populações periféricas às tecnologias citadas, os early

adopters, aqueles que teriam acesso antecipado a tais recursos, ganham uma

vantagem operacional jamais antes vista. Atingir a pervasividade computacional

apenas nas camadas ricas da população significaria alargar o vale que se coloca

entre os ricos capacitados e equipados e a população das periferias tecnológicas.

A partir de tais ponderamentos, podemos iniciar um questionamento do

quanto a intensificação e adoção das tecnologias sensoriais poderia afetar as

interações humanas fundamentais e não apenas as profissionais. A seguir, serão

abordadas as relações entre o monitoramento e seus efeitos psicológicos no

homem.

29

NICCOL, Andrew. GATTACA. Culver City: Columbia Pictures, 1997

Page 43: TCC - FAAP 2011

43

PANÓPTICO E MONITORAMENTO

Após estipular a distância cronológica até onde se deseja projetar, verificar as

viabilidades econômicas e cognitivas (determinar os saltos conceituais e inovações

por ruptura que não comprometam a compreensão de usabilidade por parte do

usuário) e determinar as diversas bases teóricas sobre as quais estarão apoiadas

projeções, começa-se a ponderar quais os possíveis desdobramentos sociais,

econômicos, psicológicos, comportamentais, etc.

Vimos anteriormente que certas tecnologias computacionais pervasivas já se

apresentam hoje no mercado e, baseado nas propostas e análises de Kurzweil ou

na lei de Moore, podemos extrapolar que sua multiplicação e massificação devem

acelerar-se no futuro próximo. A seguir, apresenta-se desejável uma verificação de

como esta tecnologia poderia desencadear não apenas processos de organização

dos elementos da complexidade humana e emergenciais, mas também criar

mecanismos de monitoramento e controle das massas.

Considerando o cenário que viemos construindo nos últimos capítulos: a

quantidade de dispositivos presentes no cotidiano humano gerando dados e

lançando-os na rede configuraria uma espécie de mapa de atividades mais

completo, porém não tão diferente em essência daqueles que poderiam ser

produzidos com a organização dos dados disponíveis em redes sociais do presente

tempo, tais como Foursquare30, Getglue31 e o gigante Facebook. Disponibilizar

informações tais como posicionamento geográfico, hábitos de consumo,

atualizações de perfis médicos, históricos de atividades e relações profissionais,

entre outros, garantiria que o indivíduo "hospedeiro" de tais tecnologias pudesse ser

constantemente monitorado.

30

Foursquare - Rede/jogo social de exploração urbana. Os usuários disponibilizam sua

posição geográfica a fim de ganhar pontuações por assiduidade, novas localidades e, ao

mesmo tempo, partilhar com amigos seus destinos, facilitando encontros. Disponível em <

https://foursquare.com/> 31

Getglue - Rede social de compartilhamento de tópicos de interesse. Podem ser escolhidos

filmes, músicas, livros e páginas específicas como Wikipédia e Amazon. Disponível em

<http://getglue.com/>

Page 44: TCC - FAAP 2011

Figura 10.32

- Foursquare:

geográfica de cada amigo do usuário

e consumo de grupos de consumidores.

Consideram-se, então

informação gerada seria sigilosa e processada por organizações ou o próprio

estado. Dispensa-se a necessidade de me

tais poderes de observação e controle da informação. Um cenário similar a este é

apresentado no famoso trabalho de George Orwell,

presente, ainda que em alguns momentos apenas como um

onipresente.

Na segunda, o monitoramento poderia ser perpetuado pela própria população,

isto é, a informação não mais seria centralizada por empresas ou governos e

poderia ser acessada por qualquer pessoa que tivesse a intenção de relac

com o indivíduo observado.

Tanto o cenário orweliano quanto o

explorados por David Brin em seu livro A Sociedade Transparente (1998)

qual seria o melhor modelo de monitoramento para configurar uma socieda

qual os interesses do grupo são atendidos sem

Figura 10. - Fonte: <http://www.bing.com/community/cfs

/CommunityServer-Blogs-Components

metablogapi/6232.foursquare2_5F00_39E19EB2.jpg>

mapa da cidade contendo informações específicas da posição

geográfica de cada amigo do usuário. Possibilidade de monitorar padrões de movimentação

e consumo de grupos de consumidores. então, duas possibilidades: na primeira delas

informação gerada seria sigilosa e processada por organizações ou o próprio

se a necessidade de mencionar os riscos de imbuir

tais poderes de observação e controle da informação. Um cenário similar a este é

apresentado no famoso trabalho de George Orwell, “1984”, onde o estado se fazia

ainda que em alguns momentos apenas como uma aura de presença

Na segunda, o monitoramento poderia ser perpetuado pela própria população,

isto é, a informação não mais seria centralizada por empresas ou governos e

poderia ser acessada por qualquer pessoa que tivesse a intenção de relac

com o indivíduo observado.

Tanto o cenário orweliano quanto o segundo foram extensivamente

explorados por David Brin em seu livro A Sociedade Transparente (1998)

qual seria o melhor modelo de monitoramento para configurar uma socieda

qual os interesses do grupo são atendidos sem subjugar a privacidade individual.

Fonte: <http://www.bing.com/community/cfs-filesystemfile.ashx/__key

Components-WeblogFiles/search

metablogapi/6232.foursquare2_5F00_39E19EB2.jpg> Acesso em: 11 de maio de 2011

44

apa da cidade contendo informações específicas da posição

monitorar padrões de movimentação

a primeira delas, toda a

informação gerada seria sigilosa e processada por organizações ou o próprio

ncionar os riscos de imbuir a oligarquias

tais poderes de observação e controle da informação. Um cenário similar a este é

, onde o estado se fazia

a aura de presença

Na segunda, o monitoramento poderia ser perpetuado pela própria população,

isto é, a informação não mais seria centralizada por empresas ou governos e

poderia ser acessada por qualquer pessoa que tivesse a intenção de relacionar-se

foram extensivamente

explorados por David Brin em seu livro A Sociedade Transparente (1998), discutindo

qual seria o melhor modelo de monitoramento para configurar uma sociedade no

a privacidade individual.

filesystemfile.ashx/__key

Acesso em: 11 de maio de 2011

Page 45: TCC - FAAP 2011

45

Brin apresenta ainda que para alcançar-se uma realidade na qual a informação é um

bem comum a todos, os detentores dos recursos de monitoramento devem também

ser monitorados pela sociedade. Discutir-se-á mais as questões éticas envolvidas

em tal tema nos próximos capítulos, voltando, então, à questão do monitoramento

constante ou ainda a aura gerada pelos dispositivos que constituiriam a computação

pervasiva.

Pensemos nos desdobramentos psicológicos que tais mecanismos seriam

capazes de desencadear na população: independente do modelo adotado ou

possíveis variações dos mesmos, poderíamos considerar que um indivíduo - fonte

perpétua de informações passíveis de serem acessadas por uma entidade sem face

(organizações ou população) - estaria inserido em um Panopticon moderno, uma vez

que as leituras realizadas ainda seriam singulares, livres de interferência focal, e

permaneceria como objeto de estudo que poderia ser catalogado, comparado ou

metrificado assim como no modelo original de Bentham.

Ao mesmo tempo, não podemos ignorar que a consciência da presença de

um observador perene instaura no indivíduo observado uma consciência de

autocontrole. A evolução do modelo panóptico apareceria, então, na remoção da

estrutura arquitetônica estática do Panopticon original, garantindo assim uma melhor

observação não somente das características isoladas dos visualizados, mas também

de suas relações com o meio. O autocontrole citado configura o temido

behaviorismo descrito por Foucault em sua publicação Disciplina e Punição, na qual

descreve:

[...] porque nessas condições sua força é tal que ele nunca intervém, é

exercida espontaneamente e sem ruído (...) Porque, sem qualquer

instrumento físico além da arquitetura, age diretamente sobre os indivíduos,

concede o "poder da mente sobre a mente [...] (FOUCAULT, 1979, p.206).

Tendo consciência de que está sendo observado, o indivíduo acaba por

tomar decisões direcionadas a fim de aparentar possuir uma postura ética ou ainda

para evitar possíveis punições, caso seja verificado um erro ou desvio de caráter.

Page 46: TCC - FAAP 2011

46

DISPONIBILIZAÇÃO vs CONTROLE DA INFORMAÇÃO

Como abordado no capítulo anterior, além de considerar como as relações

sociais e comportamentais podem ser alteradas, faz-se importante considerarmos

como podem também se modificar as relações econômicas e políticas quando

afetadas por desdobramentos tecnológicos ou projetuais.

Retomemos nosso cenário-exemplo; anteriormente, discutiu-se as

possibilidades de controle exclusivo por parte de organizações ou, de forma inversa,

o livre acesso por parte da população dos dados gerados e processados pela rede

computacional pervasiva e suas implicações comportamentais. Pensemos agora nas

questões éticas e mercadológicas que tal escolha poderia influenciar.

Voltemos ao primeiro modelo: empresas e governos controlando o fluxo de

informações. Neste caso, verificamos uma possibilidade de perpetuação de modelos

similares aos que existem hoje nas mídias; o controle da informação confere a tais

organizações a capacidade de orientar a população e suas escolhas, determinando

como a mesma atinge as massas. O filtro tendencioso que se forma em alguns

destes veículos de notícias e informação é frequentemente responsável pela

alteração de hábitos de consumo e até mesmo resultados de eleições e plebiscitos.

Um modelo intermediário às mídias tradicionais e ao aqui discutido é o

adotado pela Amazon, Google e afins. Nestes exemplos, temos todos os dados de

navegação, compras, acessos e até mesmo e-mails, considerados sigilosos,

contribuindo para a construção de um perfil digital do indivíduo. No caso do primeiro

citado, tais dados ficam restritos a preferências em literatura, música, tecnologia; já

no segundo, observamos uma tendência ao completo mapeamento do usuário. Os

responsáveis pelo serviço já demonstraram em diversas ocasiões sua crença na

potencialidade emergencial da rede que criaram e continuam a aprimorar. Podemos

dizer que o Google foi a primeira empresa de grande porte a se estabelecer no

mercado assumindo tal postura.

Não podemos esquecer, no entanto, que o Google é, no final das contas, uma

empresa e sua meta é a maior receita possível, ainda que seu lema seja "don't be

evil". Considerando a quantidade de usuários que possui e a forma como opera,

Page 47: TCC - FAAP 2011

47

pode-se esperar que a empresa já possua quantidades massivas de informação

relativas a hábitos de consumo, interesses (pela quantificação dos temas em seu

site de buscas), mapeamentos demográficos (sociais, geográficos, culturais, etc.) e

até mesmo tempo e rotas de trânsito.

Em primeira instância, o conhecimento não compartilhado de tais dados não

se apresenta merecedor de preocupação, mas não se deve esquecer que se

tratando de corporações que buscam lucro acima de tudo, estes passam a utilizar-se

de mecanismos de oferta e associação de interesses para garantir a assiduidade

dos consumidores. Novamente, tal comodidade não parece impactar negativamente

o consumidor. Isso só começa a acontecer, de maneira quase imperceptível, quando

observamos tal fenômeno pela lente da variabilidade.

Quando ofertados produtos que se aproximam àqueles já comprados e aos

quais respondemos positivamente, temos maiores chances de aderir à compra.

Pensemos, então, na seguinte questão: se for oferecido apenas aquilo que tem

grandes chances de nos agradar, ocorre um decréscimo na variabilidade nos

padrões de consumo individuais. Com a praticidade das compras por domicílio,

somada às ofertas dirigidas, deixamos de nos deparar com o inesperado, podendo,

então, prejudicar a variabilidade das experiências e relacionamentos de um

indivíduo, resultando em pessoas superespecializadas e alienadas vivendo nos

chamados filter bubbles33.

No segundo caso descrito, com o livre acesso das informações por parte de

qualquer indivíduo, verificamos uma maior transparência no modus operandi, mas os

riscos poderiam ser igualmente latentes. Acesso descontrolado às informações de

cada pessoa poderia configurar uma quebra da privacidade individual, disponibilizar

informações sensíveis a grupos mal intencionados e até mesmo afetar o modo como

um indivíduo trabalha e vive.

33

PARISER, Eli. Beware online "filter bubbles". Disponível em

<http://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles.html> Acesso em 15

de maio de 2011.

Page 48: TCC - FAAP 2011

48

Pensando novamente na argumentação do livro A Sociedade Transparente,

podemos pensar nas questões de subvisão34 em oposição a monitoramento como a

possibilidade de não mais possuir tecnologias que compartilhem os dados coletados,

mas apenas metrifiquem o ser humano em sua realidade, apresentando ao usuário

de tais tecnologias as leituras parametrizadas de suas ações, criando assim

mecanismos de autoconhecimento. Ao retirar-se da rede global, no entanto,

renuncia-se também a possibilidade de ganho com a comparação e observação das

relações estabelecidas com o meio.

Se tal modelo de leituras introspectivas fosse vigente, um corredor que

somente verifica seus resultados de tempo, desempenho etc., perderia a

oportunidade de comparar-se com os demais atletas de sua categoria ou; um

paciente que não tem seus quadros clínicos comparados com todos os demais da

rede se exclui do processo de emergência de novos tratamentos ou melhor

exploração de suas maleficências.

Independente da escolha por monitoramento aberto ou subvisão, poderia

intensificar-se um processo já discutido no capítulo anterior: o behaviorismo, neste

caso, reativo, isto é, o indivíduo seria constantemente confrontado por suas escolhas

e sua realidade e poderia então tentar adequar-se. Em oposição aos mecanismos

citados anteriormente, aqui a pessoa não necessariamente toma suas decisões por

medo de estar sendo observada (isto poderia ocorrer apenas no primeiro modelo),

mas pela pressão gerada ao ser confrontado com seus desvios de comportamento,

maus hábitos ou baixas performances profissionais. Obviamente, admitir a completa

dominação de tal behaviorismo seria leviano, uma vez que somos hoje confrontados

com nossos maus hábitos e nem por isso os mudamos.

Qual modelo seria então ótimo, visando tanto a inserção na rede quanto a

proteção da privacidade de seus usuários? Aparentemente a conjugação de

sistemas de organização em árvore e rizoma (VASSÃO, 2010) seria uma boa saída;

um indivíduo poderia inserir-se na rede como uma fonte anônima de dados,

34Subvisão - O autor utiliza o termo sousveillance (subvisão) como oposição ao termo

sourveillance (monitoramento) para discutir o processo de automonitoramento por parte do

indivíduo versus a opressora prática do monitoramento imposto por estruturas superiores

de poder político.

Page 49: TCC - FAAP 2011

49

interligando-se de maneira rizomática aos outros, ao mesmo tempo em que se

formam estruturas de hierarquia axial onde certos grupos de informações podem ser

aproveitados, novamente de forma anônima, para traçar guias e mapas

demográficos aos governos e empresas que possam desfrutar de tais leituras.

Uma segunda forma de colaboração não anônima seria responsável por

geração de informação e contribuiria para a estruturação de uma rede construída a

partir da multiplicidade de leituras e experiências compartilhadas de seus usuários.

O capítulo seguinte irá tratar do modo como as pessoas poderiam relacionar-se com

a informação e produzir conteúdos complementares no futuro.

Page 50: TCC - FAAP 2011

50

ACESSO E COLABORAÇÃO

Após pensar nos possíveis modelos de acesso à informação gerada pelos

dispositivos de computação pervasiva, é importante pensar como esta informação

poderia ser trabalhada. O potencial uso do banco de dados gerado é enorme e

exploraremos algumas destas potencialidades a seguir.

Como visto anteriormente, a presença dos SPIMES em nossas vidas seria

determinante no processo de metrificação de diversas características e relações

humanas. Tomemos como exemplo o quadro clínico de uma paciente com

osteoporose:

A paciente A sofre de osteoporose tipo 1, mais comumente encontrada em mulheres que

passaram pela menopausa ou tiveram seus ovários removidos. Tal paciente, não apresentando tais

características, é testada para alterações hormonais e, novamente, não apresenta quaisquer indícios

de anormalidade. Caso esta paciente tivesse todas as suas leituras e metrificações disponíveis na

rede, tanto as médicas quanto as demais, poderia-se encontrar rapidamente através de buscas pela

rede e utilizando-se de certos parâmetros outros casos similares. Através da proximidade de perfis e

dos dados coletados ao longo do tempo, poderia-se então determinar com maior segurança quais as

causas de tal quadro clínico e possivelmente quais tratamentos apresentaram melhores resultados

para mulheres detentoras de perfis similares aos da paciente A.

A produção de informação e o cruzamento de dados não são determinantes

para que se construa conhecimento sobre a mesma. Hoje, já se encontram na rede

digital imensuráveis quantidades de informação, mas certas limitações dificultam o

acesso e a visualização de tais dados. Computadores são extremamente eficazes

em lidar com planilhas de números e operações matemáticas, mas não são capazes

de dar significado e importância para tais conjuntos de dados, já o homem é muito

melhor equipado para compreender compilações de tais informações e fazer juízo

das mesmas, mas não tem como buscar toda a rede por fragmentos pertencentes a

cada tema e conectá-los. Se o conhecimento é gerado somente após a

compreensão e reflexão dos dados apreendidos pela cognição humana, no futuro a

rede deverá reinventar-se a fim de garantir tempos de cognição mais baixos,

facilitando o processo de aprendizado e fluência por parte de seus usuários. Um

exemplo a ser seguido é o de Hans Rosling, que desenvolveu juntamente com a

organização que fundou em 2005, Gapminder Foundation, o software de

Page 51: TCC - FAAP 2011

visualização e manipulação de dados chamado Trendalyzer.

para processar dados fornecidos

e universidades para mostrar as mudanças ocorridas em 498 diferentes parâmetros

sociais através do tempo em to

Figura 11.35

Quadro gerado a partir de dados coletados pela ONU

Figura 12. - Os mesmos dados apresentados de forma manipulável e gráfica.

Figura 11. - Fonte: <http://www.un.org/esa/population/publications/worldag

19502050/> Acesso em: 13 de maio de 2011.

Figura 12. - Fonte: Captura de tela do software GapMinder

pulação de dados chamado Trendalyzer. Utilizado principalmente

fornecidos pela ONU, o software é hoje utilizado em palestras

e universidades para mostrar as mudanças ocorridas em 498 diferentes parâmetros

sociais através do tempo em todos os países onde tais informações foram coletadas.

Quadro gerado a partir de dados coletados pela ONU

Os mesmos dados apresentados de forma manipulável e gráfica.

Fonte: <http://www.un.org/esa/population/publications/worldag

19502050/> Acesso em: 13 de maio de 2011.

Fonte: Captura de tela do software GapMinder

51

Utilizado principalmente

pela ONU, o software é hoje utilizado em palestras

e universidades para mostrar as mudanças ocorridas em 498 diferentes parâmetros

dos os países onde tais informações foram coletadas.

Quadro gerado a partir de dados coletados pela ONU

Os mesmos dados apresentados de forma manipulável e gráfica.

Fonte: <http://www.un.org/esa/population/publications/worldageing

Page 52: TCC - FAAP 2011

52

Extrapolando o comendável exemplo de Rosling e imaginando a potencialidade em

captura de dados que as tecnologias pervasivas possuem, poderiam ser gerados

gráficos em tempo real das condições e leituras globais de dado parâmetro,

produzindo, assim, fontes de dados sempre atualizadas que poderiam, assim como

no caso do Gapminder, ser filtradas para maiores níveis de compreensão do

assunto.

A reestruturação dos mecanismos de visualização da informação gerada e

construída de maneira organizada na rede junto com as intenções (já expressadas

pela comunidade virtual) de configuração de uma web semântica36, a computação

pervasiva e os modelos de acesso e participação discutidos nos capítulos anteriores

poderiam gerar uma poderosa ferramenta de aprendizado na qual cada indivíduo é

fonte anônima para dados estatísticos e construção de gráficos e listagens

demográficas e pode ainda participar como colaborador ativo ou observador.

Exploremos com maior profundidade tal mecanismo: um indivíduo poderia

participar do processo de produção e visualização de informação em três momentos:

primeiro como fonte anônima de dados frios, estatísticos, que fundamentam uma

base informacional.

A seguir, sobre estes dados organizados e bem apresentados pode-se

construir novos conhecimentos, enriquecidos pelas experiências individuais e

repertórios específicos de cada indivíduo. Diferentemente do primeiro nível de

produção informacional, neste momento a informação disponibilizada pelo usuário

tem caráter autoral e pode ser rastreada até sua fonte.

Finalmente, todos os participantes da construção de tais clusters de dados

poderiam visualizar não só toda a informação, navegando ao redor das múltiplas

facetas da mesma, mas também identificar como tais facetas se inter-relacionam

sem a necessidade de desconstruí-la ou remover sua complexidade, mas

endereçando seu foco de forma cirúrgica ou abrangente. A este processo damos

aqui o nome de Inversão Panóptica, fazendo referência à questão do monitoramento

descrito por Foucault. 36

Web semântica - Desdobramento da rede atual na qual ocorre a construção de mecanismos que ajudarão as

maquinas a tornarem-se capazes de semantizar termos e interpretar tais semânticas a fim de facilitar o diálogo

entre humanos e computadores.

Page 53: TCC - FAAP 2011

53

Se no modelo original do filósofo temos um indivíduo centralizado, capaz de

observar todos os demais constituintes do modelo, neste caso temos, em um

primeiro momento, uma leitura informacional centralizada, formada pela contribuição

e leituras paramétricas de cada um dos indivíduos que participam ativa ou

passivamente do processo de construção de tal modelo digital.

Figura 13. - Construção da Informação em dois momentos. - Momento 1: Leitura fria de

dados compartilhada de maneira anônima, colaborando apenas na construção de bancos de

dados estatísticos. / Momento 2: Participação voluntária de indivíduos que desejam partilhar

conhecimento de forma autoral.

Neste processo, temos também a possibilidade de um observador interessado

em expandir seu conhecimento sobre dado assunto, destacar-se das camadas

externas e, em um processo de inversão da arquitetura tradicional, colocar-se como

o ponto central do modelo e planificar a informação ao seu redor, de maneira que tal

indivíduo passe a ter uma visão total daquele tema.

Page 54: TCC - FAAP 2011

54

Figura 14. – No terceiro momento o indivíduo se posiciona ao centro de toda a informação

construída, podendo visualizá-la de forma planificada.

A importância do aparecimento de tal processo se justifica com o final

desdobramento descrito neste ensaio: o processo de retroalimentação da

informação, não mais de maneira desordenada, mas completamente regimentada,

dentro de uma rede escusa da caótica versão atual. Tal retroalimentação permitiria

que, a partir da observação de dados atributos (leituras e metrificações), qualificação

dos mesmos (comparação e tabulação) e uso experimental e sistêmico dos mesmos

(semantização e construção de julgamento), se imbuiria à população o poder para

tomar decisões informadas e responsáveis.

Page 55: TCC - FAAP 2011

55

CONCLUSÃO

Da mesma forma que a discussão da sustentabilidade ganhou forças e foi

absorvida para o exercício do Design, espera-se que ocorra uma sensibilização da

comunidade profissional, para que possam ser desenvolvidos serviços e produtos

com superiores índices de comprometimento com os efeitos que tais propostas

desencadeiam, levando em conta a presença da complexidade presente nas

relações humanas.

Pensando no exemplo trabalhado, foram apresentadas maneiras de como

tendências poderiam ser identificadas, projetadas e como a combinação das

mesmas indicaria caminhos para a inovação projetual.

A seguir, foram avaliadas algumas das possíveis mudanças sociais,

econômicas e comportamentais que poderiam se configurar nos macro cenários

pensados. Além disso, foram consideradas questões éticas e até mesmo possíveis

quebras de paradigma gerados pela implementação do serviço ou tecnologia

escolhidos no início do estudo.

Independentemente da concretização dos cenários apresentados, o exercício

de tentar pensar tão a frente do tempo atual nos prepara para os conflitos e

discussões que surgirão eventualmente, uma vez que tal ensaio é construído sobre

ampla base de temas e ciências.

Reforça-se, então, a validade do exercício aqui proposto, principalmente nos

setores de inovação empresarial. Ajudar os departamentos de desenvolvimento de

projetos a identificar as tendências corretas e realizar construções bem estruturadas

poderia garantir que dada empresa se posicionasse de forma diferente no mercado,

preparando-se para possíveis novas demandas por produtos e serviços. Tal

posicionamento seria instrumental para garantir a vantagem da empresa sobre seus

concorrentes.

Compreende-se que o final do trabalho não configura uma proposta

amarrada, hermética, completamente estruturada de metodologia em construção de

Page 56: TCC - FAAP 2011

56

cenários futuros, mas sim um levantamento da importância de tal prática para as

questões projetuais de design. O resultado foi, na realidade, o início do

desenvolvimento de uma metodologia que auxilie o processo de criação de cenários

futuros e a mesma deverá ser aprimorada e estruturada em futuros estudos acerca

do tema.

Finalmente, acredita-se que os procedimentos aqui tratados poderiam

beneficiar extensivamente o modo como se desenvolvem projetos de design e como

se dá o posicionamento estratégico empresarial e, portanto, merecem maior atenção

tanto por parte dos designers que serão responsáveis por construir os cenários

quanto pelas empresas que deverão, após a compreensão e validade do exercício,

buscar profissionais capazes de apresentar cenários possíveis e bem estruturados.

Page 57: TCC - FAAP 2011

57

BIBLIOGRAFIA

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