ÍNDICE INTRODUÇÃO......................................................................................... 19 FONTES.................................................................................................. 27 1. OS INÍCIOS DO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE OIA........................ 35 1.1 As principais hipóteses sobre o fundação do mosteiro de Oia........................... 36 1.2 O monaquismo medieval do Noroeste Peninsular e o surgimento do mosteiro de Oia. Uma tentativa de enquadramento................................................................ 43 1.3 O mosteiro de Oia e o Espaço. A peculiaridade da localização geográfica do mosteiro e a sua projecção territorial na Galiza....................................................... 54 2. O NÚCLEO DE PROPRIEDADES DO MOSTEIRO DE OIA NO ENTRE LIMA E MINHO...................................................................................... 64 2.1 O nascimento do mosteiro de Oia e o surgimento do núcleo de propriedades de Entre Lima e Minho............................................................................................. 64 2.2 A projecção territorial das propriedades do mosteiro de Oia no Entre Lima e Minho....................................................................................................................... 70 2.3 Composição do núcleo de propriedades do mosteiro de Oia no Entre Lima e Minho....................................................................................................................... 92 2.3.1 Os espaços de cultivo.......................................................................... 93 2.3.1.1 Os casais............................................................................... 93 2.3.1.1.1 Um documento excepcional: a inquirição às “rendas do pão” do mosteiro de Oia no couto de Valença de 1306....................... 98 2.3.1.2 As vinhas............................................................................... 103 2.3.2 O saltus e os espaços naturais.............................................................. 106 2.3.3 Os espaços de transformação............................................................... 111 2.3.4 Os espaços de habitação...................................................................... 114 2.3.5 As igrejas............................................................................................. 115 2.3.6 A propriedade urbana.......................................................................... 118 2.3.7 As granjas da Silva e de Chamosinhos................................................ 120 2.4 Formas de aquisição das propriedades do Entre Lima e Minho......................... 129 2.4.1 Doações............................................................................................... 129 2.4.2 Compras............................................................................................... 141 2.4.3 Escambos............................................................................................. 143 2.5 Métodos de gestão das propriedades aplicados ao núcleo de Entre Lima e Minho: os contratos de locação................................................................................ 147 3. O NÚCLEO DE PROPRIEDADES DO MOSTEIRO DE OIA NA ESTREMADURA...................................................................................... 163 3.1 O mosteiro de Oia e o dealbar do reino de Portugal. O surgimento do núcleo de propriedades da Estremadura............................................................................... 164 3.2 Projecção geográfica e composição do núcleo de propriedades do mosteiro de Oia na Estremadura.................................................................................................. 182
27
Embed
Senhores e Camponeses num espaço de fronteira. Estudo da projecção portuguesa do domínio monástico de Santa Maria de Oia nos séculos XII a XV.
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
ÍNDICE
INTRODUÇÃO......................................................................................... 19 FONTES.................................................................................................. 27 1. OS INÍCIOS DO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE OIA........................ 35 1.1 As principais hipóteses sobre o fundação do mosteiro de Oia........................... 36 1.2 O monaquismo medieval do Noroeste Peninsular e o surgimento do mosteiro de Oia. Uma tentativa de enquadramento................................................................
43
1.3 O mosteiro de Oia e o Espaço. A peculiaridade da localização geográfica do mosteiro e a sua projecção territorial na Galiza.......................................................
54
2. O NÚCLEO DE PROPRIEDADES DO MOSTEIRO DE OIA NO ENTRE LIMA E MINHO......................................................................................
64
2.1 O nascimento do mosteiro de Oia e o surgimento do núcleo de propriedades de Entre Lima e Minho.............................................................................................
64
2.2 A projecção territorial das propriedades do mosteiro de Oia no Entre Lima e Minho.......................................................................................................................
70
2.3 Composição do núcleo de propriedades do mosteiro de Oia no Entre Lima e Minho.......................................................................................................................
92
2.3.1 Os espaços de cultivo.......................................................................... 93 2.3.1.1 Os casais............................................................................... 93 2.3.1.1.1 Um documento excepcional: a inquirição às “rendas do pão” do mosteiro de Oia no couto de Valença de 1306.......................
98
2.3.1.2 As vinhas............................................................................... 103 2.3.2 O saltus e os espaços naturais.............................................................. 106 2.3.3 Os espaços de transformação............................................................... 111 2.3.4 Os espaços de habitação...................................................................... 114 2.3.5 As igrejas............................................................................................. 115 2.3.6 A propriedade urbana.......................................................................... 118 2.3.7 As granjas da Silva e de Chamosinhos................................................ 120 2.4 Formas de aquisição das propriedades do Entre Lima e Minho......................... 129 2.4.1 Doações............................................................................................... 129 2.4.2 Compras............................................................................................... 141 2.4.3 Escambos............................................................................................. 143 2.5 Métodos de gestão das propriedades aplicados ao núcleo de Entre Lima e Minho: os contratos de locação................................................................................
147
3. O NÚCLEO DE PROPRIEDADES DO MOSTEIRO DE OIA NA ESTREMADURA......................................................................................
163
3.1 O mosteiro de Oia e o dealbar do reino de Portugal. O surgimento do núcleo de propriedades da Estremadura...............................................................................
164
3.2 Projecção geográfica e composição do núcleo de propriedades do mosteiro de Oia na Estremadura..................................................................................................
182
3.2.1 O termo de Torres Vedras................................................................... 186 3.2.1.1 Fanga da Fé........................................................................... 187 3.2.1.2 Enxara................................................................................... 191 3.2.1.3 Marmelal............................................................................... 192 3.2.1.4 Monsanto.............................................................................. 193 3.2.1.5 Azueira.................................................................................. 194 3.2.2 Atouguia e seu termo........................................................................... 195 3.2.3 Lisboa.................................................................................................. 200 3.3 Formas de aquisição e gestão das propriedades do núcleo da Estremadura...... 201 3.4 A perda do núcleo de propriedades da Estremadura.......................................... 211 4. RELAÇÕES ESTABELECIDAS ENTRE O MOSTEIRO DE OIA E OS REIS DE PORTUGAL........................................................................................
217
4.1 De D. Afonso Henriques a D. Afonso III. O estabelecimento e a consolidação de uma boa relação...................................................................................................
218
4.2 D. Dinis. Um poder régio forte e próximo......................................................... 231 4.3 De D. Afonso IV a D. Fernando. Os estigmas da guerra e da crise................... 239 4.4 D. João I. A duplicidade de uma relação: aliados e inimigos............................ 259 4.5 D. Duarte e D. Afonso V. O regresso a uma “nova” normalidade..................... 270 5. O MOSTEIRO DE OIA E A RELAÇÃO COM A NOBREZA DO ENTRE LIMA E MINHO........................................................................................
279
5.1 Os Cerveiras....................................................................................................... 282 5.2 Os Velhos........................................................................................................... 311 5.3 Categorias inferiores da nobreza regional: os escudeiros.................................. 321 6. AS RELAÇÕES DO MOSTEIRO DE OIA COM AS AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS......................................................................................
325
6.1 Tui: diocese transfronteiriça............................................................................... 325 6.2 Um longo pleito: o mosteiro de Oia e o bispado de Lisboa............................... 342 7. SENHORES E CAMPONESES NUM ESPAÇO DE FRONTEIRA. O EXERCÍCIO DO PODER SENHORIAL DO MOSTEIRO DE OIA SOBRE O CAMPESINATO........................................................................................
361 7.1 A propriedade da terra como base do exercício do poder senhorial.................. 362 7.2 Os contratos enfitêuticos como instrumento principal do exercício do poder senhorial...................................................................................................................
367
7.3 Expressões do poder senhorial através da transacção de propriedades.............. 381 7.4 A(s) fronteira(s) e o senhorio do mosteiro de Oia.............................................. 387 CONCLUSÕES......................................................................................... 393 CONCLUSIONS......................................................................................... 401 BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 410 RESUMO................................................................................................. 442 RESUMEN............................................................................................... 450 RESUMÉ.................................................................................................. 458
ÍNDICE DE MAPAS.................................................................................. 466 ÍNDICE DE GRÁFICOS............................................................................ 466 ÍNDICE DE QUADROS............................................................................. 466 ÍNDICE DE GENEALOGIAS...................................................................... 466 ANEXO – DOCUMENTOS DO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE OIA....... 467
RESUMO
O mosteiro de Santa Maria de Oia, situado entre o mar e a montanha, a igual
distância das localidades de Baiona e A Guarda, na costa do Sudoeste da Galiza, surgiu
como comunidade religiosa plenamente organizada em 1145. Nesse mesmo ano, a
instituição galega recebeu em doação propriedades sitas na margem portuguesa do rio
Minho, concretamente, nas localidades de Mozelos (Paredes de Coura) e Verdoejo
(Valença). Pouco depois, na sequência da conquista da vila de Torres Vedras pelo
exército cristão liderado por D. Afonso Henriques, o monarca concedeu ao mosteiro de
Oia a herdade da Fanga da Fé, localizada no termo da vila citada.
As décadas de 40 e 50 do século XII constituíram, portanto, momentos de suma
importância para a história e evolução do mosteiro de Oia. Neste período congregaram-
se, como dissemos, dois fenómenos fundamentais: a sua criação e o início da expansão
territorial na região do Baixo Miño galego e, simultaneamente, o dealbar de um
património transfronteiriço disseminado pelas regiões portuguesas do Entre Lima e
Minho e da Estremadura Central.
Apesar de o mosteiro de Oia na época medieval não constituir um tema novo no
âmbito da historiografia galega e mesmo portuguesa, como, aliás, indicámos na
introdução desta tese, não existe, até à data, um estudo que condense todos os elementos
relativos ao património português do mosteiro de Oia e ao conjunto de contactos
estabelecidos com distintas autoridades e grupos sociais de Portugal. Neste sentido, e
aproveitando as preciosas informações que nos proporciona o conjunto de pergaminhos
medievais de Oia, pretendemos dar a conhecer, precisamente, a história da presença do
cenóbio galego em Portugal, desde os seus inícios, em meados do século XII, até aos
últimos anos da centúria de Quatrocentos.
Realmente, o acervo documental medieval do mosteiro de Oia relativo ao
património português da instituição galega destaca, não tanto pela sua quantidade, como
pela riqueza dos dados que contem. Com efeito, os 230 pergaminhos que compõem esta
selecção documental foram suficientes para estipular o guião da investigação que agora
apresentamos. Através de uma abordagem metodológica assente na leitura, exploração e
questionamento exaustivo dos documentos, assim como na diversidade qualitativa dos
dados que oferecem e das tipologias dos próprios documentos, delineou-se a estrutura
desta investigação e a sua divisão em sete capítulos. A dificuldade, e mesmo
impossibilidade, de criar séries de dados quantitativas, vê-se sobremaneira compensada,
pela proficuidade de informações que, não raras vez, um mesmo documento pode
proporcionar.
Esta investigação divide-se, pois, em sete capítulos. No primeiro, procurou-se,
por um lado, condensar as principais contribuições historiográficas relativas ao
património e evolução da presença do mosteiro de Oia em território galego, tema que
atraiu a atenção da maior parte dos trabalhos e investigações dedicadas a este cenóbio.
Desta forma, pretendeu-se dar a conhecer um tema que, embora não incluído
directamente nos objectivos desta investigação, afigura-se determinante para a sua total
apreensão e compreensão: a projecção patrimonial e senhorial do mosteiro de Oia na
sua zona de implementação original, isto é, o território do Baixo Miño, na Galiza. Ao
mesmo tempo, analisa-se também nesta secção o documento referente à primeira
doação de bens em território português. Porque, como dissemos, a plena organização do
mosteiro de Oia e a obtenção de bens no Entre Lima e Minho português foram
fenómenos coetâneos, torna-se necessário compreender se existiu alguma relação entre
eles. E, na realidade, assim foi. A influência cisterciense que pendeu sobre o cenóbio de
Oia desde os seus inícios, valeu-lhe o apoio das altas esferas da política leonesa e
também portuguesa. As primeiras e ricas doações de que o mosteiro foi alvo por parte
dos monarcas de Leão, com especial destaque para D. Afonso VII e seu filho D.
Fernando II, estavam relacionadas com o desejo de promover o crescimento de
instituições monásticas que, imbuídas das práticas e ideais das novas correntes
religiosas europeias, contribuíssem de forma activa para a reforma e “modernização” do
panorama religioso do reino em questão. Por outro lado, a doação de bens em Mozelos e
Verdoejo, concedida por Paio Guterres da Silva – monge de Oia e membro da nobreza
leal ao primeiro rei de Portugal – responderia a um desejo que, para além de razões
pessoais, estaria certamente subordinado ao projecto de domínio do território do Baixo
Miño que o seu monarca e senhor cedo demonstrou querer levar avante.
O maior grupo documental desta selecção está composto por textos relativos à
gestão do património português do mosteiro de Oia, incluindo contratos enfitêuticos e
diplomas concernentes aos métodos de aquisição de bens (escambos, doações, compras,
acordos, préstamos). Neste caso, como noutros, a discrepância entre o número de
documentos referentes ao núcleo do Entre Lima e Minho e ao da Estremadura é
acentuada. Assim sendo, e porque, como mencionámos, a organização desta
investigação encontra-se sumamente subordinada à documentação e ao seu conteúdo,
compreende-se a maior extensão do capítulo dedicado ao primeiro núcleo referido, por
contraposição ao do segundo.
O segundo capítulo desta tese tem por objectivo analisar a composição,
projecção territorial e evolução de um património sediado numa região onde o mosteiro
se assentou como proprietário e senhor desde os seus inícios, em 1145, até ao século
XIX. Trata-se do núcleo de propriedades da região do Entre Lima e Minho, o qual
albergou um património composto por propriedades maioritariamente de cariz rústico –
embora contando também, em muito menor medida, com bens nos núcleos urbanos de
Caminha, Vila Nova de Cerveira e Valença –, disseminadas pelos territórios dos actuais
municípios de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Paredes de Coura e Melgaço.
Herdades, vinhas, casais, zonas de bosque e inclusivamente águas fluviais, destinadas à
rega e à pesca, compunham este núcleo de propriedades. A estes bens acrescentavam-se
uma série de infraestruturas destinadas à habitação, à transformação dos produtos
agrícolas e ainda direitos eclesiásticos. Estamos, portanto, perante um conjunto
patrimonial típico de uma instituição cujo sustento e economia se baseavam na
exploração dos recursos agrícolas e naturais. Porém, o mais destacável seria, com
certeza, a existência de duas granjas – a da Silva e a de Chamosinhos –, cujas funções
no seio da gestão deste núcleo de bens correspondiam às de qualquer cenóbio
cisterciense. Efectivamente, ambas as granjas serviam de centros recolectores das
rendas obtidas pela cessão do domínio útil de boa parte do património de Oia, possuíam
as infraestruturas necessárias a esta e outras tarefas – como a residência de monges,
conversos e trabalhadores – e convertiam-se, portanto, em centros administrativos de
todo o conjunto patrimonial do Entre Lima e Minho. De acordo com a documentação,
esta função parece atribuir-se de forma preponderante à granja da Silva, descrita por D.
Afonso IV num documento de 1340 como cabeça et çeleyro de todo o património de
Oia nesta região.
A existência de granjas, como centros administrativos mas também de
exploração directa, é comum ao núcleo de propriedades da Estremadura, cuja formação
e composição são tratadas no terceiro capítulo deste trabalho. Quatro eram as granjas a
partir das quais o mosteiro de Oia geria um conjunto patrimonial longínquo e, como tal,
mais difícil de administrar. As granjas da Fanga da Fé, da Enxara e do Jardim
localizavam-se no território que albergava a maior parte dos bens da instituição galega,
o termo da vila de Torres Vedras. A granja da Atouguia, situada mais a norte, geria as
propriedades do termo da localidade da Atouguia e na própria vila, compostas por
herdades e salinas. A estes bens acrescenta-se a referência a um pardieiro situado numa
das freguesias mais centrais da cidade de Lisboa, S. Bartolomeu. O elevado número de
granjas num conjunto patrimonial a priori mais reduzido, mas também mais disperso,
que o do Entre Lima e Minho, pelo menos a julgar pela discrepância do número de
referências documentais em relação a ambos, leva-nos a concluir que, na Estremadura, o
mosteiro de Oia apostou muito mais pela exploração directa dos recursos. O reduzido
número de contratos enfitêuticos, assim como as suas características, ao tratarem-se
todos de aforamentos e não emprazamentos como no núcleo mais setentrional, assim o
demonstra também.
A documentação proporciona-nos dados suficientes para compreender que,
como seria de esperar, existiram diferenças assinaláveis no que à gestão dos dois
núcleos diz respeito. Com efeito, no núcleo do Entre Lima e Minho, muito próximo em
relação ao próprio mosteiro e geograficamente inserido num território que assumia um
continuum natural, e mesmo social e cultural, em relação ao Baixo Miño galego, Oia
preocupou-se com aplicar um modelo de gestão que permitisse, acima de tudo, um
controlo directo e mais apertado sobre a produção. Como tal, os emprazamentos
superavam consideravelmente os contratos de cariz perpétuo e hereditário, o que
permitia aplicar rendas mais vantajosas para o mosteiro e, sobretudo, actualizá-las de
forma mais constante. Por outro lado, como indicámos, as afinidades geográficas e
culturais em relação ao seu território de implementação original, o Sudoeste da Galiza,
faziam com que pudesse gerir ambos os patrimónios raianos de forma similar, assim
como manter uma presença constante dos seus agentes nos dois. Por contraposição, o
núcleo da Estremadura encontrava-se num território distante, onde a presença dos
monges de Oia se via dificultada pelos mais de 400 quilómetros que o separavam da
Galiza e do Noroeste de Portugal e pelos problemas inerentes ao reconhecimento de Oia
como instituição senhorial por parte de autoridades e população locais. Neste sentido,
compreende-se a necessidade imperativa de estabelecer contratos de muito longa
duração com os camponeses da região, por forma a garantir, acima de tudo, uma
rentabilidade das propriedades cedidas em exploração indirecta que permitisse a própria
manutenção do núcleo. Por isso também, é mais fácil perceber a aposta pela exploração
directa e a imposição de obrigações de cariz senhorial aos enfiteutas, muito mais
rigorosas que no caso do núcleo do Entre Lima e Minho, como maneira a assegurar, de
alguma forma, que estas propriedades se manteriam sempre sob o domínio senhorial e
propriedade do cenóbio.
Quando, após a conquista da vila de Torres Vedras aos muçulmanos, em 1148,
D. Afonso Henriques decidiu incluir o mosteiro de Oia no grupo restrito de instituições
encarregues de fomentar a ocupação cristã do território e garantir a fixação da
população numa zona que urgia tornar produtiva e atraente para os colonos cristãos, fê-
lo, com certeza, impelido por duas razões principais. Por um lado, procurou beneficiar
uma instituição monástica que, como indicámos, se situava num território desejado pelo
monarca português. Por outro lado, teria sido sensível às afinidades que, eventualmente,
poderiam estabelecer-se entre o mosteiro de Oia e os colonos que, acompanhando o
ritmo da Reconquista, se iam instalando nos mesmos territórios recém conquistados em
que o Oia passava a marcar presença. Para além disto, através da doação da herdade da
Fanga da Fé, D. Afonso Henriques teria tido também em conta, tal como fizera o seu
primo D. Afonso VII na Galiza, a influência cisterciense do mosteiro de Oia que
augurava uma gestão pragmática e rentável do espaço agrícola.
Apesar da administração feita pelo mosteiro desta propriedade e das outras que a
ela se uniriam – mantendo-se a Fanga da Fé como centro de todo o núcleo –, e da sábia
aplicação de estratégias de gestão adequadas a um património peculiar e longínquo, a
longo termo, a presença de Oia na Estremadura acabaria por ver-se interrompida, ainda
antes do fim do medievo, pelo peso da distância geográfica e por factores externos à
instituição que adiante resumiremos. O que por agora interessa salientar, é que a doação
de D. Afonso Henriques marcou um precedente e forjou o que seria a tendência geral,
poucas vezes interrompida, da relação entre o mosteiro de Oia e os reis de Portugal.
Esta ligação é a protagonista do quarto capítulo da nossa tese.
Sabemos que a doação de D. Afonso Henriques foi incrementada por D. Sancho
I e confirmada por D. Sancho II. A boa relação entre a Coroa portuguesa e o cenóbio
oiense mantinha-se, portanto. Já no reinado de D. Afonso III, o monarca concedeu ao
mosteiro galego um privilégio de protecção que seria confirmado pelo seu sucessor, D.
Dinis, e posteriormente por diferentes reis, tais como D. Fernando e D. João I. Durante
a guerra que enfrentou D. Afonso IV de Portugal ao seu genro, D. Afonso XI de Castela
(1336-1339), o mosteiro de Oia viu como as autoridades portuguesas embargavam a
granja da Silva, centro do património do Entre Lima e Minho. Tratava-se de uma acção
comum neste tipo de conflitos transfronteiriços, como comuns foram também as ordens
de devolução dos bens expropriados emitidas pelo monarca português em 1340 e 1342.
Os problemas relativos às relações diplomáticas entre Portugal e Castela,
nomeadamente aqueles que acabavam em confrontos bélicos mais ou menos
duradouros, parecem ter sido os únicos capazes de inverter uma relação marcada pela
cordialidade e a generosidade dos monarcas portugueses em relação ao mosteiro galego.
Contudo, cabe destacar o deterioramento deste relação nos reinados de D. João I e de
seu filho D. Duarte. Com efeito, o Mestre de Avis, numa tentativa de cativar o apoio da
instituição galega no decorrer da guerra com Castela (1383-1411) e no contexto do
Grande Cisma, concedeu ao mosteiro importantíssimos privilégios de salvo-conduto,
que permitiam à comunidade religiosa cruzar a fronteira do Minho e aceder aos seus
núcleos de propriedades mesmo em situação de guerra. Esta generosidade teria como
contrapartida a exigência imposta ao abade de Oia de permanecer fiel a Portugal e aos
seus interesses durante o conflito. O mais do que provável desrespeito desta ordem por
parte do abade teria estado na origem do embargo massivo das propriedades e direitos
detidos por Oia na Estremadura, uma vez terminada a guerra. Se, anteriormente, o
mosteiro de Oia tinha sido capaz de recuperar a plena possessão dos bens do Entre Lima
e Minho, embargados em 1384, o mesmo não teria ocorrido, nesta ocasião, com os da
Estremadura. Realmente, desde a expropriação até 1434, não existe qualquer referência
aos mesmos no seio da documentação do mosteiro. Esta última data assinala o momento
em que, através de um contrato francamente desfavorável a Oia, o mosteiro decidiu
ceder todos os seus bens sitos na Estremadura a D. Duarte, pelo valor de 500 coroas de
ouro.
Tal como procuramos explicitar ao longo da nossa investigação, as relações
entabuladas por Oia com a Coroa de Portugal e os seus representantes não constituíram
a única rede de contactos em que se movia o mosteiro. No capítulo cinco, tentámos
condensar a informação contida nas fontes relativa às ligações que o mosteiro
estabeleceu com algumas linhagens e indivíduos representantes da aristocracia leiga do
Entre Lima e Minho. A documentação destaca, de forma premente, duas das famílias da
nobreza cavaleiresca cujo poder e património se expandiam pelas mesmas regiões que
os de Oia, os Cerveiras e os Velhos. Neste caso, o mosteiro de Oia relacionava-se com
poderes que poderíamos considerar similares e competidores directos. Os interesses
demonstrados por ambas as partes, no âmbito de um conjunto de contactos marcados
por uma tensão constante, eram em tudo convergentes, no sentido em que previam o
aumento, concentração ou defesa dos respectivos direitos patrimoniais e senhoriais. Por
outro lado, a ausência de referências a este tipo de relações no núcleo mais meridional é
de todo natural, ou não se tratasse o Entre Lima e Minho de um bastião da nobreza, ao
contrário do que sucedia com a Estremadura, onde os poderes a que Oia se teve que
enfrentar eram outros, que não deixaram lugar ao estabelecimento de alianças
estratégicas como no caso das famílias nobres ou dos escudeiros do Norte.
Boa parte das relações entabuladas por Oia com diferentes representantes e
graus da hierarquia eclesiástica surgem em relação ao núcleo da Estremadura, como se
procurou explanar ao longo do capítulo seis. Na realidade, a longa querela mantida com
o bispado de Lisboa – iniciada em 1194 e que se intensificaria a partir de inícios do
século XIV – foi responsável pela maioria dos contactos mantidos por Oia com as
autoridades superiores da Igreja, das metrópoles de Santiago de Compostela e Braga até
à própria Santa Sé. No centro desta disputa estavam os direitos eclesiásticos e dízimos
relativos a praticamente todas as propriedades possuídas por Oia no núcleo da
Estremadura. Inseridos num território que se enquadrava no da diocese de Lisboa,
restaurada aquando da conquista da cidade, em 1147, e, como tal, submetida a um longo
processo de organização eclesiástica e territorial, os bens e direitos de Oia cedo
despertaram a cobiça de uma instituição que se ia tornando cada vez mais poderosa e
dirigida, em ocasiões, por indivíduos muito próximos da corte régia. Acreditamos que o
esforço económico e humano resultante das sucessivas disputas judiciais mantidas com
o bispado lisboeta contribuiu, sobremaneira, para o cenário de abdicação do núcleo da
Estremadura que acabaria por impor-se, definitivamente, em finais do século XV.
Finalmente, o sétimo e último capítulo desta tese tem como objectivo reflectir
sobre um conjunto de relações que, muito provavelmente, foram as mais importantes no
seio do património transfronteiriço de Oia, mas que com certeza, só puderam tornar-se
efectivas graças aos esforços, tensões e alianças criadas no âmbito da rede de
relacionamentos com os diferentes tipos e grupos de autoridades. Referimo-nos aos
contactos estabelecidos com a população camponesa, com aqueles que, constrangidos
pelas vontades e estratégias de gestão patrimonial do mosteiro, cultivaram as suas terras
e tornavam rentáveis os seus bens. Neste capítulo, procura-se colocar novas questões
aos documentos que já serviram de base aos capítulos dois e três, com o propósito de
averiguar quais as condições de vida e de trabalho daqueles sobre os quais pendia o
poder senhorial de uma instituição galega, e, simultaneamente, dar a conhecer as
características deste mesmo poder.
Sobre a fronteira, elemento vital e transcendente de um património e senhorio
que cruzou o rio Minho para se instalar em território português, incide-se também neste
último capítulo, que encerra o ciclo dos temas tratados ao longo de todo o estudo.
Várias foram as fronteiras, as delimitações, com que o mosteiro se encarou ao longo do
período compreendido entre meados do século XII e finais do XV. A fronteira política
que dividia os dois reinos em que o mosteiro era proprietário; as fronteiras de poder,
representadas no Norte pela nobreza cavaleiresca e no Sul por instituições como o
bispado de Lisboa; o rio Minho, enfim, tantas vezes atravessado pelas gentes que da
Galiza visitavam o Noroeste português sentindo-se em casa e a Estremadura em busca
de um futuro melhor. Essa fronteira que se pautou pela abertura e por um fluxo contínuo
de bens e pessoas, que apenas se veria interrompido em momentos de guerra ou conflito
entre os reinos de Portugal e Castela.
RESUMEN
El monasterio de Santa María de Oia, ubicado entre el mar y la montaña, a igual
distancia de las localidades de Baiona y A Guarda, en la costa del Suroeste de Galicia,
surgió como comunidad religiosa plenamente organizada en 1145. En ese mismo año,
recibió en donación propiedades situadas en la orilla portuguesa del río Miño,
concretamente, en las localidades de Mozelos (Paredes de Coura) y Verdoejo (Valença).
Poco después, como consecuencia de la conquista de Torres Vedras lograda por el
ejército liderado por el rey D. Afonso Henriques, el monarca concedió al monasterio de
Oia la heredad de Fanga da Fé, ubicada en el término de Torres Vedras.
Los años 40 y 50 del siglo XII representaron, por tanto, momentos de gran
importancia en la historia y evolución del monasterio de Oia. En este periodo
coincidieron, como se dijo, dos fenómenos fundamentales: su creación y el inicio de la
expansión territorial en la región del Baixo Miño y, simultáneamente, el origen de un
patrimonio transfronterizo repartido por las regiones portuguesas del Entre Lima e
Minho y la Estremadura Central.
A pesar de que el estudio del monasterio de Oia en la época medieval no
constituye un tema novedoso en el marco de las historiografías gallega y portuguesa,
como hemos referido en la introducción de esta tesis, no existe, hasta la fecha, un
estudio que congregue todos los elementos inherentes al patrimonio portugués de Oia y
al conjunto de contactos establecidos con diferentes autoridades y grupos sociales en
Portugal. En este sentido, valiéndonos de la riqueza de las informaciones aportadas por
los pergaminos medievales de Oia, pretendemos dar a conocer la historia de la presencia
del cenobio gallego en Portugal, desde sus inicios, a mediados del siglo XII, hasta los
últimos años de la centuria de Cuatrocientos.
Efectivamente, el acervo documental medieval del monasterio de Oia
relacionado con el patrimonio portugués se destaca, no tanto por su cuantidad, como por
la riqueza cualitativa de los datos que aporta. En efecto, los 230 pergaminos que
componen esta selección documental se han revelado suficientes para establecer el
guión de la investigación que ahora presentamos. A través de una aproximación
metodológica basada en la lectura e indagación exhaustivas de los documentos, se ha
delineado la estructura de esta investigación y su consecuente división en siete
capítulos. La dificultad, e incluso imposibilidad, de crear series de datos cuantitativas es
compensada por el conjunto de informaciones que, frecuentemente, un mismo
documento puede proporcionar.
Esta investigación está dividida, pues, en siete capítulos. En el primero se busca,
por una parte, sintetizar las principales contribuciones historiográficas concernientes al
monasterio de Oia en territorio gallego, tema que atrajo la atención de la mayoría de los
trabajos e investigaciones dedicados a este cenobio. Así mismo, se pretende dar a
conocer un tema que, aunque sin estar directamente relacionado con los objetivos
principales de esta investigación, se revela determinante para su total comprensión: la
proyección patrimonial y señorial del monasterio de Oia en su zona de implementación
original, o sea, el territorio del Baixo Miño. Al mismo tiempo, se analiza también en
esta sección el documento referido a la primera donación de bienes en territorio
portugués. Porque, como hemos dicho, la plena organización del monasterio de Oia y la
obtención de bienes en el Entre Lima y Miño portugués fueron fenómenos coetáneos, se
vuelve necesario esclarecer si existió alguna relación entre ellos. En realidad, así fue. La
influencia cisterciense que marcó al cenobio de Oia desde sus inicios, le valió el apoyo
de las altas esferas de la política leonesa y también portuguesa. Las primeras y valiosas
donaciones concedidas a Oia por los monarcas de León, especialmente por D. Alfonso
VII y por D. Fernando II, estuvieron íntimamente relacionadas con el deseo de
promocionar el crecimiento de instituciones monásticas que, inspiradas por las prácticas
e ideales de las nuevas corrientes religiosas europeas, contribuyesen de forma activa a la
reforma y “modernización” del panorama religioso del reino. Por otra parte, la donación
de los bienes de Mozelos y Verdoejo, concedida por Paio Guterres da Silva -monje de
Oia y miembro de la nobleza leal al primer rey de Portugal-, respondía a una voluntad
que, además de razones personales, estaba seguramente influenciada por el proyecto de
dominio del territorio del Baixo Miño que su monarca y señor pronto demostró querer
llevar adelante.
El principal conjunto documental de esta selección está compuesto por textos
relacionados con la gestión del patrimonio portugués del monasterio de Oia, incluyendo
contratos enfitéuticos y diplomas concernientes a los métodos de adquisición de bienes
(trueques, donaciones, compras, acuerdos, préstamos). En este caso, como en otros, la
diferencia entre el número de documentos concernientes al núcleo del Entre Lima e
Minho y al de la Estremadura es notable. Así mismo, y porque, como hemos
mencionado, la organización de esta investigación depende principalmente de la
documentación y de su contenido, se comprende la mayor extensión del capítulo
dedicado al primer núcleo referido por comparación con el segundo.
El segundo capítulo de esta tesis tiene como objetivo analizar la composición,
proyección territorial y evolución de un patrimonio ubicado en una región donde el
monasterio se postuló como propietario y señor desde sus inicios, en 1145, hasta el siglo
XIX. Se trata del núcleo de propiedades de la región del Entre Lima e Minho, el cual
acogió un patrimonio compuesto en su mayoría por propiedades de carácter rústico -al
que se incorporaron también bienes en los núcleos urbanos de Caminha, Vila Nova de
Cerveira y Valença-, repartidas por los territorios de los actuales municipios de
Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Paredes de Coura y Melgaço. Heredades,
viñas, casales, zonas de bosque e incluso aguas fluviales, destinadas al riego y a la
pesca, constituían este núcleo de propiedades. A estos bienes habría que acrecentar una
serie de infraestructuras destinadas a la vivienda, a la transformación de los productos
agrícolas y aún determinados derechos eclesiásticos. Estamos, pues, ante un conjunto
patrimonial típico de una institución cuyo sostenimiento y economía se basaban en la
explotación de los recursos agrícolas y naturales. Sin embargo, lo más destacable era,
seguramente, la existencia de dos granjas -la de la Silva y la de Chamosinhos-, cuyas
funciones correspondían, en el seno de la gestión de este núcleo de bienes, a las de
cualquier otro cenobio cisterciense. En efecto, ambas granjas servían de centros
recaudadores de las rentas obtenidas a través de la cesión del dominio útil de buena
parte del patrimonio de Oia, poseían las infraestructuras necesarias a ésta y otras tareas -
como la residencia de los monjes, conversos y trabajadores -y se convertían, como tal,
en centros administrativos de todo el conjunto patrimonial del Entre Lima e Minho. De
acuerdo con la documentación, esta función es atribuida, de forma preponderante, a la
granja de la Silva, descrita por D. Afonso IV en un documento de 1340 como cabeça et
çeleyro de todo el patrimonio de Oia en esta región.
La existencia de granjas, como centros administrativos pero también de
explotación directa, es común al núcleo de propiedades de la Estremadura, cuya
formación y composición son tratadas en el tercer capítulo de este trabajo. Cuatro eran
las granjas a partir de la cuáles el monasterio de Oia gestionaba un conjunto patrimonial
lejano y, como tal, más difícil de administrar. Las granjas de Fanga da Fé, de Enxara y
de Jardim estaban ubicadas en el territorio que acogía a la mayor parte de los bienes de
la institución gallega, el término de Torres Vedras. La granja de Atouguia, situada más
al norte, gestionaba las propiedades ubicadas en el término de la localidad de Atouguia
y en la propia villa, compuestas por heredades y salinas. A estos bienes se añade la
referencia a unas ruinas ubicadas en una de las feligresías más centrales de la ciudad de
Lisboa, São Bartolomeu. El elevado número de granjas en un conjunto patrimonial a
priori más reducido, pero también más disperso, que el de Entre Lima e Minho, por lo
menos a juzgar por la discrepancia del número de referencias documentales en relación
a ambos, nos lleva a concluir que, en la Estremadura, el monasterio de Oia hizo una
apuesta clara por la explotación directa de los recursos. El reducido número de contratos
enfitéuticos y sus características específicas -al tratarse todos de contratos vitalicios y
hereditarios y no de foros en vidas como ocurría en el núcleo más septentrional- así lo
demuestran también.
La documentación nos proporciona datos suficientes para comprender que, como
sería de esperar, existieron diferencias más que notables en lo que respecta a la gestión
de los dos núcleos. En efecto, el núcleo del Entre Lima e Minho, muy cercano al propio
monasterio y geográficamente inserido en un territorio que representaba un continuum
natural, social y cultural en relación al Baixo Miño gallego, Oia aplicó un modelo de
gestión que permitía, por encima de todo, un control directo y más ceñido sobre la
producción. Por esto, los contratos en vidas superaban largamente aquellos perpetuos y
hereditarios, algo que posibilitaba al monasterio el cobro de rentas más ventajosas y,
sobre todo, actualizarlas más a menudo. Por otra parte, como hemos indicado, las
afinidades geográficas y culturales con su territorio de implementación original, el
Sudoeste de Galicia, hacían con que pudiera gestionar ambos patrimonios rayanos de
forma similar, así como mantener una presencia constante de sus agentes en los dos. El
núcleo de la Estremadura, sin embargo, estaba ubicado en un territorio lejano, en donde
la presencia de los monjes de Oia se veía obstaculizada por los más de 400 kilómetros
que lo separaban de Galicia y del Noroeste de Portugal, así como por los problemas
inherentes al reconocimiento de Oia como institución señorial por parte de autoridades
y poblaciones locales. En este sentido, es más fácil comprender la necesidad imperiosa
de establecer contratos de muy larga duración con los campesinos de la región, para
garantizar, sobre todo, una rentabilidad de las propiedades cedidas en régimen de
explotación indirecta que permitiese mantener el núcleo. Por eso también, es más fácil
percibir la apuesta por la explotación directa y la imposición de obligaciones señoriales
a los enfiteutas, mucho más rigurosas que en el caso del núcleo del Entre Lima e Minho,
como forma de intentar afianzar el dominio señorial y la propiedad del cenobio sobre
este conjunto de propiedades.
Cuando después de la conquista de Torres Vedras a los musulmanes, en 1148, D.
Afonso Henriques decidió incluir al monasterio de Oia en el grupo restricto de
instituciones encargadas de fomentar la ocupación cristiana del territorio y garantizar la
fijación de la población en una zona que urgía convertir en productiva y atractiva para
los nuevos colonos, lo hizo, seguramente, impulsado por dos razones principales. Por
una parte, buscó beneficiar a una institución monástica que, como hemos dicho, se
encontraba localizada en un territorio deseado por el rey portugués. Por otra, habría sido
sensible a las afinidades que, eventualmente, podrían establecerse entre el monasterio de
Oia y los colonos que, acompañando el ritmo de la Reconquista, se instalaban en los
mismos territorios recién conquistados en que Oia también se afincaba. Además, a
través de la donación de la heredad de Fanga da Fé, D. Afonso Henriques habría tenido
en cuenta, como hiciera su primo D. Alfonso VII en Galicia, la influencia cisterciense
del monasterio de Oia, la cual hacia presagiar una gestión pragmática y eficaz del
espacio agrícola.
A pesar de la buena administración de esta heredad y de las otras que a ella se
unieron -manteniéndose la Fanga da Fé siempre como centro de todo el núcleo-, y de la
sabia aplicación de estrategias de gestión adecuadas a un patrimonio peculiar y lejano, a
largo término, la presencia de Oia en la Estremadura acabaría por ser interrumpida, aún
antes del fin del medievo, por el peso de la distancia geográfica y por factores externos
a la institución, los cuáles resumiremos más adelante. Lo que por ahora merece ser
destacado, es que la donación de D. Afonso Henriques abrió un precedente y forjó lo
que se convertiría en la tendencia general, pocas veces interrumpida, de las relaciones
entre el monasterio de Oia y los reyes de Portugal. Esta conexión es la protagonista del
cuarto capítulo de la tesis.
Sabemos que la donación de D. Afonso Henriques fue ampliada por D. Sancho I
y confirmada por D. Sancho II. La buena relación entre la Corona portuguesa y el
cenobio oiense tendría continuidad. Ya en el reinado de D. Afonso III, el monarca
concedió al monasterio gallego un privilegio de protección, guardia y encomienda que
sería confirmado por su sucesor, D. Dinis, y posteriormente por diferentes reyes, entre
ellos D. Fernando y D. João I. Durante la guerra que enfrentó D. Afonso IV de Portugal
a su yerno, D. Alfonso XI de Castilla, entre 1336 y 1339, el monasterio de Oia sufrió el
embargo de la granja de la Silva, centro del patrimonio del Entre Lima e Minho,
perpetrado por las autoridades portuguesas. Se trataba de una acción común en este tipo
de conflictos transfronterizos, como comunes fueron también las órdenes de devolución
de los bienes expropiados emitidas por el monarca portugués en 1340 y 1342. Los
problemas subyacentes a las relaciones diplomáticas entre Portugal y Castilla,
esencialmente aquellos que culminaban en confrontaciones bélicas más o menos
duraderas, parecen haber sido los únicos capaces de invertir una relación basada en la
cordialidad y la generosidad de los monarcas portugueses hacia el monasterio gallego.
No obstante, hay que destacar el deterioro de esta relación en los reinados de D. João I y
de su hijo D. Duarte. En efecto, el Mestre de Avis, en un intento por captar el apoyo de
la institución gallega en el transcurso de la guerra con Castilla (1383-1411) y en el
contexto del Cisma del Occidente, concedió al monasterio importantísimos privilegios
de salvo-conducto, que permitieron a la comunidad religiosa cruzar la frontera del Miño
y acceder a sus núcleos de propiedades incluso en situación de guerra. Esta generosidad
tendría como contrapartida la exigencia impuesta al abad de Oia de permanecer fiel a
Portugal y a sus intereses durante el conflicto. El más que probable incumplimiento de
esta orden por parte del abad habría sido el origen de la expropiación masiva de las
propiedades y derechos de Oia en la Estremadura, en 1426, una vez ya terminada la
guerra. Si, anteriormente, el monasterio de Oia había sido capaz de recuperar la plena
posesión de los bienes del Entre Lima e Minho, expropiados en 1384, lo mismo no
sucedió en esta ocasión con los de la Estremadura. En realidad, desde la expropiación
de 1426 hasta 1434, no existe cualquier referencia a las propiedades de éste núcleo en el
seno de la documentación del monasterio. Esta última fecha representa el momento en
que, a través de un contrato francamente desfavorable a Oia, el monasterio decidió
ceder todos sus bienes ubicados en la Estremadura a D. Duarte, por el valor de 500
coronas de oro.
Tal como hemos intentado esclarecer a lo largo de nuestra investigación, las
relaciones establecidas por Oia con la Corona de Portugal y sus representantes no
constituyeron la única red de contactos en que el monasterio estaba insertado. En el
capítulo cinco, hemos buscado condensar la información contenida en las fuentes
relacionada con la conexiones que el monasterio creó con algunos linajes e individuos
representantes de la aristocracia laica del Entre Lima e Minho. La documentación
destaca, de manera contundente, dos de las familias de la nobleza caballeresca cuyo
poder y patrimonio se expandían por las mismas regiones que los de Oia, los Cerveiras
y los Velhos. En este caso, el monasterio de Oia se relacionaba con poderes que
podríamos considerar como similares y competidores directos. Los intereses
demostrados por ambas partes, en el contexto de un conjunto de contactos marcados por
una tensión constante, eran en todo convergentes, en el sentido de que pretendían el
aumento, concentración o defensa de sus respectivos derechos patrimoniales y
señoriales. Por otra parte, la ausencia de referencias a este tipo de relaciones en el
núcleo más meridional es del todo natural. El Entre Lima e Minho era un bastión de la
nobleza, al contrario de lo que sucedía con la Estremadura, donde los poderes a que Oia
se tuvo que enfrentar eran otros, los cuales no dejaron espacio al establecimiento de
alianzas estratégicas como en el caso de las familias nobles o de los escuderos del
Norte.
Buena parte de las relaciones establecidas por Oia con diferentes representantes
y grados de la jerarquía eclesiástica aparecen en relación con el núcleo de la
Estremadura, como se ha procurado explicar a lo largo del capítulo seis. En efecto, el
largo pleito mantenido con el obispado de Lisboa -iniciado en 1194 y que se intensificó
a partir de los inicios del siglo XIV- fue el responsable por la mayoría de los contactos
instituidos por Oia con las jerarquías superiores de la Iglesia, desde las metrópolis de
Santiago de Compostela y Braga hasta la Santa Sede. En el centro de esta disputa
estaban los derechos eclesiásticos y los diezmos concernientes a prácticamente todas la
propiedades poseídas por Oia en el núcleo de la Estremadura. Los bienes y derechos de
Oia, situados en un territorio enmarcado en la diócesis de Lisboa -restaurada con la
conquista de la cuidad, en 1147, y, como tal, sometida a un largo proceso de
organización eclesiástica y territorial-, pronto despertaron la codicia de una institución
que se iba volviendo cada vez más poderosa, además de haber sido dirigida, en
ocasiones, por individuos muy cercanos a la corte regia. Creemos que el esfuerzo
económico y humano resultante de la sucesivas disputas judiciales mantenidas contra el
obispado lisboeta contribuyó, en gran medida, para la abdicación del núcleo de la
Estremadura por parte de Oia, la cual acabaría por imponerse definitivamente a finales
del siglo XV.
Finalmente, el séptimo y último capítulo de esta tesis tiene como propósito
reflexionar sobre un conjunto de relaciones que, muy probablemente, habrán sido las
más importantes en el contexto del patrimonio transfronterizo de Oia, pero que,
seguramente, solo pudieron tornarse efectivas gracias a los esfuerzos, tensiones y
alianzas creadas en el ámbito de la red de relaciones establecidas con los diferentes
tipos y grupos de autoridades. Nos referimos a los contactos instaurados con la
población campesina, con aquellos que, constreñidos por las voluntades y estrategias de
gestión patrimonial del monasterio, cultivaron sus tierras y convirtieron en rentables sus
bienes. En este capitulo, se busca colocar nuevas preguntas a los documentos que ya
sirvieron de base a los capítulos dos y tres, con el propósito de averiguar cuales eran las
condiciones de vida y de trabajo de aquellos sobre los cuales pendía el poder señorial de
una institución gallega y, a la vez, dar a conocer las características de este mismo poder.
La frontera, elemento vital y transcendente de un patrimonio y señorío que cruzó
el río Miño para instalarse en territorio portugués, también es tratada en este último
capítulo, el cual cierra el ciclo de los temas abordados a lo largo de todo el estudio.
Varias han sido las fronteras, las delimitaciones, a las que el monasterio hizo frente a lo
largo del período comprendido entre mediados del siglo XII y finales del XV. La
frontera política que dividía los dos reinos en los que el monasterio era propietario; las
fronteras de poder, representadas en el Norte por la nobleza caballeresca y en el Sur por
instituciones como el obispado de Lisboa; el río Miño, en fin, tantas veces cruzado por
las gentes que desde Galicia visitaban el Noroeste portugués sintiéndose como en casa y
la Estremadura buscando un futuro mejor. Esa frontera caracterizada por la apertura y
por un flujo continuo de bienes y de personas, que apenas sería interrumpido en
momentos de guerra o conflicto entre los reinos de Portugal y Castilla.
RÉSUMÉ
Le monastère de Sainte Marie d’Oia, situé entre la mer et la montagne, à
distance égale entre les localités de Baiona et A Guarda, dans la côte du Sud-ouest de la
Galice, a surgi comme une communauté religieuse pleinement organisée en 1145. Dans
cette même année, l’institution galicienne a reçu en donations des propriétés sises dans
la marge portugaise du fleuve Minho, plus concrètement, dans les localités de Mozelos
(Paredes de Coura) et Verdoejo (Valença). Peu après, dans la séquence de la conquête
de la ville de Torres Vedras par l’armée chrétienne conduite par D. Afonso Henriques,
le monarque a cédé au monastère d’Oia l’herdade de Fanga da Fé, localisée dans le
territoire de la ville citée ci-dessus.
Les décennies 40 et 50 du XIIème siècle ont constitué donc, des moments de
grande importance pour l’histoire et l’évolution du monastère d’Oia. À cette période,
ont afflué, comme nous l’avons dit précédemment, deux phénomènes fondamentaux: sa
création et le début de l’expansion territoriale dans la région du Baixo Miño galicien, et
simultanément, l’émergence d’un patrimoine transfrontalier, dispersé par les régions
portugaises du Entre Lima e Minho et de l’Estremadura Centrale.
Malgré le fait que le monastère d’Oia à l’époque médiévale n’ait pas constitué
un nouveau thème dans le cadre de l’historiographie galicienne et même portugaise,
comme nous l’avions par ailleurs indiqué dans l’introduction de cette thèse, il n’existe
toujours pas, jusqu’á présent, une étude qui condense tous les éléments relatifs au
patrimoine portugais du monastère d’Oia et l’ensemble des contacts établis avec des
autorités distinctes et groupes sociaux du Portugal. En ce sens, et en profitant des
précieuses informations que nous donne l’ensemble des parchemins médiévaux d’Oia,
nous prétendons faire connaître, précisément, l’histoire de la présence de la
communauté religieuse galicienne au Portugal, depuis ses débuts, au milieu du XIIème
Siècle, jusqu’aux dernières années Quatrecents.
Effectivement, l’acquis documental médiéval du monastère d’Oia en rapport
avec son patrimoine portugais, met en avant, non seulement pour sa qualité, comme
pour sa richesse des données qu’il contient. En effet, les 230 parchemins qui composent
cette sélection de documents ont été suffisants pour stipuler la structure de cette
recherche que nous présentons maintenant. À travers une approche méthodologique
basée dans la lecture, l’exploration et le questionnement exhaustif des documents, ainsi
comme la diversité qualitative des données qui offrent et les typologies des documents,
s’est dessinée la structure de cette recherche et sa division en sept chapitres. La
difficulté (et même l’impossibilité) de créer des séries de données quantitatives, est
considérablement compensée par la richesse des informations qui, très fréquemment, un
même document peut nous donner.
Cette recherche se divise donc en sept chapitres. Dans le premier, nous avons
cherché d’un côté, à condenser les principales contributions historiographiques relatives
au patrimoine et à l’évolution de la présence du monastère d’Oia en territoire galicien,
un thème qui a attiré l’attention de la majeure partie des travaux et recherches dédiés à
cette communauté religieuse. De cette manière, nous avons prétendu faire connaître un
thème, qui, bien que n’étant pas inclus directement dans les objectifs de cette recherche,
semble déterminant pour sa totale appréhension et compréhension : la projection
patrimoniale et seigneuriale du monastère d’Oia dans sa zone d’implantation originale,
celui du territoire du Baixo Miño, en Galice. En même temps, nous pouvons analyser
dans cette section le document référant à la première donation de biens sur le territoire
portugais. En effet, comme nous l’avons dit précédemment, la pleine organisation du
monastère d’Oia et l’obtention des biens dans la région du Entre Lima e Minho
portugais ont été des phénomènes de la même époque. Il a donc été nécessaire de
comprendre s’il a existé une relation entre eux. Et, en réalité cela a été ainsi. L’influence
cistercienne qui dépendait de la communauté religieuse d’Oia depuis ses débuts, lui a
valu le soutien des hautes sphères de la politique de Léon mais aussi portugaise. Les
premières et riches donations que le monastère a eu de la part des monarques de León,
avec une spéciale mise en avant par D. Afonso VII et son fils D. Fernando II, étaient en
rapport avec le souhait de promouvoir la croissance des institutions monastiques, qui
imprégnées des pratiques et idéaux des nouveaux courants religieux européens,
contruibuaient de forme active pour la réforme et la « modernisation » du panorama
religieux du royaume en question. Par ailleurs, la donation de biens à Mozelos et
Verdoejo, accordée par Paio Guterres da Silva – moine d’Oia et membre de la noblesse
loyale du premier roi du Portugal- répondait à un désir, qui, au-delà des raisons
personnelles, serait certainement subordonné au projet de la domination du territoire du
Baixo Miño que son monarque et seigneur ont su démontrer très tôt vouloir poursuivre.
Le plus grand groupe documentaire de cette sélection est composée de textes
relatifs à la gestion du patrimoine portugais du monastère d’Oia, incluant des contrats
emphyteotiques et diplômes concernant les méthodes d’acquisition de biens (échanges,
dons, achats, accords, prêts). Dans ce cas, comme dans les autres, la contradiction entre
le nombre de documents référents au regroupement du Entre Lima e Minho et
Estremadura est accentuée. Ainsi, et parce que, comme nous l’avons mentionné,
l’organisation de cette recherche se trouve extrêmement subordonnée à la
documentation et à son contenu, comprenant la plus grande extansion du chapitre dédié
au premier regroupement mentionné, en contraste par rapport au second chapitre.
Le second chapitre de cette thèse a pour objectif d’analyser la composition, la
projection territoriale et l’évolution d’un patrimoine sis dans une région où le monastère
s’est imposé comme le propriétaire et le seigneur depuis ses débuts, en 1145, jusqu’au
XIXème siècle. Il s’agit d’un regroupement de propriétés de la région Entre Lima e
Minho, dans lequel a hébergé un patrimoine composé de propriétés majoritairement de
nature rurale -même en comptant aussi, en moindre mesure, avec des biens dans les
regroupements urbains de Caminha, Vila Nova de Cerveira et Valença- disséminées par
des territoires des communes actuelles de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença,
Paredes de Coura et Melgaço. Des terres agricoles, des vignes, des maisons, des bois et
inclusivement des eaux fluviales, destinées à l’arrosage et à la pêche, composaient ce
regroupement de propriétés. A ces biens, s’ajoutait une série d’infrastructures destinées
à l’habitation, à la transformation des produits agricoles et aussi des droits
ecclesiatiques. Nous sommes pourtant, face à un ensemble patriomonial typique d’une
institution dont les moyens et l’économie se baseaient dans l’exploration des ressources
agricoles et naturelles. Cependant, le plus important serait, certainement, l’existence de
deux granges- celle de Silva et celle de Chamosinhos- dont les fonctions au sein de la
gestion de ce regroupement de biens correspondraient à celle de n’importe quelle
communauté de moines cistercienne. Effectivement, les deux granges servaient de
centre de prélèvement des rentes obtenues par la cession du domaine utile d’une bonne
partie du patrimoine d’Oia, possédaient les infrastructures necéssaires à celle-ci et à
d’autres tâches -comme la résidence des moines, convers et travailleurs- et il se
convertissaient, donc, dans des centres administratifs de tout l’ensemble patrimonial du
Entre Lima e Minho. En accord avec la documentation, cette fonction paraît s’attribuer
de forme prépondérante à la grange de Silva, décrite par D. Afonso IV dans un
document de 1340 comme cabeça et çeleyro de tout le patrimoine d’Oia dans cette
région.
L’existence de granges, en tant que centres administratifs mais aussi
d’exploration directe, est commune au regroupement de propriétés de la région
d’Estremadura, dont la formation et la composition sont traitées dans le troisième
chapitre. Quatre était le nombre de granges à partir desquelles le monastère d’Oia gérait
un ensemble patrimonial lointain et par conséquent plus difficile d’administrer. Les
granges de Fanga da Fé, de Enxara et du Jardim, se localisaient dans le territoire qui
abritait la grande partie des biens de l’institution galicienne, le territoire de la ville de
Torres Vedras. La grange de Atouguia, située plus au nord, gérait les propriétés situées
dans le terme de la localité de Atouguia et dans la ville même, composées par des terres
agricoles et salines. A ces biens s’ajoutait la référence d’un bâtiment en ruines situé
dans un des emplacements les plus centré de la ville Lisbonne, S. Bartolomeu. C’est le
nombre élevé de granges dans un ensemble patrimonial a priori plus réduit, mais aussi
plus dispersé, que celui du Entre Lima e Minho, du moins à juger par la discrépence du
nombre de références documentales en relations aux deux, ce qui nous amène à
conclure que, dans la région d’Estremadura, le monastère d’Oia a parié beaucoup plus
sur l’exploration directe des ressources. Le nombre réduit de contrats emphytéotiques,
ainsi que ses caractéristiques, traitant tous d’autorisations et non des paiements comme
dans le regroupement le plus au nord, confirme cette realité.
La documentation nous fournit des données suffisantes pour comprendre que,
comme c’était prévu, il existerait des différences notables dans les deux regroupements
nous concernant. En effet, dans le regroupement du Entre Lima e Minho, très proche en
terme du monastère et géographiquement inséré dans un territoire qui assumait un suivi
continu naturel, et même social et culturel, en rapport avec le Baixo Miño galicien, Oia
se préoccupe avec l’application du modèle de gestion qui permettrait, par-dessus tout,
un contrôle direct et plus étroit sur la production. En tant que tel, les contrats pour vies
dépassaient considérablement les contrats à caractère perpétuel et héréditaire, ce qui
permettait d’appliquer des loyers plus avantageuses pour le monastère, et surtout les
actualiser de manière constante. D’un autre côté, comme nous l’avons indiqué, les
affinités géographiques et culturelles en rapport avec son territoire d’implantation
originale, le sud-est de la Galice, faisaient ce qu’ils pouvaient pour gérer les deux
patrimoines frontaliers de manière semblable, ainsi que maintenir une présence
constante de ses agents dans les deux. En contraste, le regroupement d’Estremadura se
trouvait dans un territoire distant, où la présence des moines d’Oia se trouvait en
difficulté par les 400 kilomètres qui les séparaient de la Galice et du nord-ouest du
Portugal et par les problèmes inhérents à la reconnaissance d’Oia en tant qu’institution
seigneuriale de la part des autorités et population locales. Dans ce sens, on comprend la
nécessité impérative d’établir des contrats de longue durée avec les paysans de la
région, de manière à garantir, par-dessus tout, une rentabilité des propriétés cédées en
exploration indirecte qui permette le entretien du regroupement patrimonial. C’est pour
cela aussi qu’il est plus facile de comprendre le pari de l’exploration directe et
l’imposition des obligations à caractère seigneurial aux emphytéote, beaucoup plus
rigoureux que dans le cas du regroupement du Entre Lima e Minho, de manière à
assurer, d’une certaine façon, que ces propriétés se maintiendraient toujours sous le
domaine seigneurial et propriété de la communauté cistercienne d’Oia.
Quand, après la conquête de la ville de Torres Vedras, en 1148, D. Afonso
Henriques a décidé d’inclure le monastère d’Oia dans le groupe restreint des institutions
qui s’occupent de promouvoir l’occupation chrétienne du territoire et de garantir la
fixation de la population dans une zone qui exhorte de rendre productive et attrayante
pour les colons chrétiens, il l’a fait, certainement, pour deux raisons principales. D’un
côté, il a cherché à bénéficier une institution monastique qui, comme nous l’indiquions,
se situait dans un territoire désiré par le monarque portugais. D’un autre côté, il aurait
été sensible aux affinités qui, éventuellement, pourraient s’établir entre le monastère
d’Oia et les colons, qui accompagnaient le rythme de la Reconquête, iraient s’installer
dans le même territoire conquis récemment où Oia voulait se metre en avant. En plus de
cela, à travers la donation de la propriété de Fanga da Fé, D.Afonso Henriques aurait
également pris en compte, comme l’a fait son cousin D.Afonso VII en Galice,
l’influence cisterciense du monastère d’Oia qui augurait une gestion pragmatique et
rentable de l’espace agricole.
Malgré l’administration faite par le monastère de cette propriété et des autres qui
se joindraient à elle -se maintenant à Fanga da Fé comme centre de tout le
regroupement- et de sage application de stratégies de gestions adéquates à un
patrimoine péculier et lointain, à long terme, la présence d’Oia dans l’Estremadura
finirait par se voir interrompue avant la fin de la période médiévale, par le poids de la
distance géographique et par des facteurs externes à l’institution que l’on résumera
ultérieurement. Ce qui importe de souligner maintenant, c’est la donation de D.Afonso
Henriques qui a marqué un précédent et a forgé ce qui serait la tendance générale, peu
de fois interrompue, en rapport avec la relation entre le monastère d’Oia et les rois du
Portugal. Cette connection est le protagoniste du quatrième chapitre de cette thèse.
Nous savons que la donation de D.Afonso Henriques a été incrémentée par
D.Sancho I et confirmée par D.Sancho II. La bonne relation entre la Couronne
portugaise et la communauté de moines d’Oia se maintenait donc. Déjà sous le règne de
D.Afonso III, le monarque a cédé au monastère galicien un privilège de protection qui
aurait été confirmé par son sucesseur, D.Dinis, et postérieurement par différents rois,
tels que D.Fernando et D.João I. Pendant la guerre qui a opposé D.Afonso IV du
Portugal à son gendre, D. Afonso XI de Castille (1336-1339), le monastère d’Oia a vu
comment les autorités portugaises ont confisqué la grange de Silva, centre du
patrimoine du Entre Lima Minho. Il s’agissait d’une action très répandue dans ce type
de conflits transfrontaliers, aussi commun que les ordres de dévolution de biens
expropriés, como ceux émis par le monarque portugais en 1340 et 1342. Les problèmes
relatifs aux relations diplomatiques entre le Portugal et Castille, notamment ceux qui
terminaient en affrontements guerriers de durée variable, ont paru être les seuls capables
d’inverser une relation marquée par la cordialité et la générosité des monarques
portugais comparé au monastère galicien. Quoi qu’il en soit, il convient de noter la
détérioration de cette relation durant les règnes de D. João I et de son fils D. Duarte. En
effet, le Mestre de Avis, dans une tentative de captiver le soutien de l’institution
galicienne dans le déroulement de la guerre avec Castela (1383-1411) et dans le
contexte du Grand Schisme, a cédé au monastère de très importants privilèges de
protection, ce qui permettait à la communauté religieuse de croiser la frontière du
Minho et d’accéder à ses regroupements de propriétés même en situation de guerre.
Cette générosité aurait en contrepartie imposée l’exigence à l’abbé d’Oia de rester fidèle
au Portugal et à ses intérêts durant le conflit. Le plus que probable c’est le non-respect
de cet ordre de la part de l’abbé qui aurait été à l’origine de l’expropriation massif des
propriétés et droits détenus par Oia dans l’Estremadura, une fois la guerre terminée. Si
le monastère d’Oia a été capable de récupérer la pleine possession des biens du Entre
Lima e Minho confisqués en 1384, la même chose ne se serait pas produite comme avec
ceux de l’Estremadura. En réalité, depuis l’expropriation jusqu’en 1434, il n’existe
aucune référence des mêmes au sein de la documentation du monastère. Cette derniére
date marque le moment où, à travers un contrat franchement défavorable à Oia, le
monastère a décidé de céder tous ses biens sis dans la région de l’Estremadura à D.
Duarte, pour un montant de 500 couronnes en or.
Comme nous avons cherché à l’expliquer au long de cette recherche, les
relations établies par Oia avec la Couronne du Portugal et de ses représentants n’ont pas
constitué l’unique réseau de contacts où s’installait le monastère. Dans le chapitre cinq,
nous essayons de condenser l’information contenue dans les sources relatives aux liens
que le monastère a établi avec quelques lignées et individus représentants de
l’aristocratie laïque de Entre Lima e Minho. La documentation souligne, de manière
urgente, deux des familles de la noblesse chevaleresque dont le pouvoir et le patrimoine
s’étendaient dans les mêmes régions que celle de l’Oia, Cerveiras et Velhos. Dans ce
cas, le monastère d’Oia était lié avec des pouvoirs que l’on pourrait considérer
similaires et concurrents directs. Les intérêts démontrés par les deux parties, dans le
cadre d’un ensemble de contacts marqués par une tension constante, étaient en tout
convergents, dans le sens où il était prévu une augmentation, une concentration ou la
défense des respectifs droits patrimoniaux et seigneuriaux. D’un autre côté, l’absence de
références de ce type de relations dans le regroupement le plus au sud est tout à fait
normal, puisque Entre Lima e Minho faisait partie d’un bastion de la noblesse,
contrairement à ce qui se passait avec l’Estremadura, où les pouvoirs qu’ Oia a dû
affronter étaient autres, qui n’ont pas laissé place à l’établissement d’alliances
stratégiques comme dans le cas des familles nobles ou des écuyers du nord.
Une bonne partie des relations établies par Oia avec ses différents représentants
et degrés d’ hiérarchie ecclésiastique surgissent en relation au regroupement de
l’Estremadura, que nous avons essayé d’expliquer au long du chapitre six. En réalité, la
longue querelle maintenue avec l’évêché de Lisbonne -initiée en 1194 et qui
s’intensifierait à partir des débuts du siècle XIV- a été responsable pour une bonne
partie des contacts maintenus par Oia avec les autorités supérieures de l’Église, depuis
les métropoles de Saint-Jacques de Compostelle et Braga jusqu’au Saint-Siège. Au
centre de cette dispute, étaient les droits ecclésiastiques et les dîmes relatifs à
pratiquement toutes les propriétés possédées par Oia dans le regroupement de
l’Estremadura. Insérés dans un territoire qui s’encadrait dans le diocèse de Lisbonne,
restaurée durant la conquête de la ville en 1147, et de cette façon, soumise à un long
procès d’organisation ecclésiastique et territoriale, les biens et les droits d’Oia ont très
tôt suscité l’avidité d’une institution qui deviendrait de plus en plus puissante et dirigée,
à certaines occasions, par des individus très proches de la cour royale. Nous croyons
que l’effort économique et humain résultant de disputes judiciaires successives
maintenues avec l’évêché lisboète a contribué, considérablement à un scénario
d’abdication du regroupement de l’Estremadura qui finirait par s’imposer,
définitivement, vers la fin du siècle XV.
Enfin, le septième et dernier chapitre de cette thèse a pour objectif de réfléchir
sur un ensemble de relations, qui, très probablement, ont été les plus importantes au sein
du patrimoine transfrontalier d’Oia, mais qui certainement, ont pu devenir réelles grâce
aux efforts, tensions et alliances créés dans le cadre du réseau de relations avec
différents types et groupe d’autorités. Nous nous référons aux contacts établis avec la
population paysanne, avec lesquels, contraints des volontés et stratégies de la gestion du
patrimoine du monastère, ont cultivé leurs terres et leurs biens qui sont devenus
rentables. Dans ce chapitre, nous cherchons à poser de nouvelles questions aux
documents qui ont déjà servi de base aux chapitres deux et trois, ayant pour but de
vérifier quelles étaient les conditions de vie et de travail de ceux qui dépendaient du
pouvoir seigneurial d’une institution galicienne, et simultanément, de faire connaître les
caractéristiques de ce même pouvoir.
A propos de la frontière, élément vital et transcendant d’un patrimoine et
domaine qui ont croisé le fleuve Minho pour s’installer en territoire portugais, se
concentre également dans ce dernier chapitre, qui clôture le cycle des thèmes abordés
tout au long de cette étude. Plusieurs ont été les frontières, les délimitations, imposées
au monastère dans la période comprise entre la moitié du XIIème siècle et la fin du
XVème. La frontière politique qui divisait les deux règnes où le monastère était le
propriétaire ; les frontières de pouvoir, représentées dans le nord par la noblesse
chevaleresque et dans le sud par des institutions comme l’évêché de Lisbonne ; le fleuve
Minho, tant traversé par des personnes qui visitaient la Galice et le nord-ouest portugais
se sentant à la maison et l’Estremadura à la recherche d’un avenir meilleur. Cette
frontière qui a été guidée par l’ouverture et par un flux continu de biens et de personnes,
qui à peine se verrait interrompu dans des moments de guerre ou conflit entre les règnes