Seminário de Tese apresentado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, área Transporte Aéreo e Aeroportos. Otávio Galucio Cavaleiro PADRÕES DE NÍVEL DE SERVIÇO PARA SALAS DE PRÉ-EMBARQUE DE AEROPORTOS REGIONAIS BRASILEIROS Anderson Ribeiro Correia Orientador Giovanna Miceli Ronzani Borille Coorientadora Campo Montenegro São José dos Campos, SP – Brasil 2015
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Seminário de Tese apresentado no âmbito do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica, área Transporte Aéreo e Aeroportos.
Otávio Galucio Cavaleiro
PADRÕES DE NÍVEL DE SERVIÇO PARA SALAS DE PRÉ-EMBARQUE DE AEROPORTOS REGIONAIS
BRASILEIROS
Anderson Ribeiro Correia Orientador
Giovanna Miceli Ronzani Borille
Coorientadora
Campo Montenegro São José dos Campos, SP – Brasil
2015
Resumo
Com as ações do Governo Federal para o desenvolvimento da aviação regional, torna-se necessário adequar a cadeia de aeroportos envolvidos para garantir os objetivos do Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional. Este trabalho irá propor padrões de nível de serviço para as salas de pré-embarque de aeroportos regionais brasileiros através da entrevista com os passageiros para verificar suas percepções. Dado que a rede de aeroportos envolvidos é grande, pretende-se realizar, incialmente, uma análise de agrupamento para arranjar estes terminais de acordo com a semelhança de suas variáveis (por exemplo: socioeconômicas e geográficas). Com o resultado obtido, espera-se replicar os padrões propostos para cada aeroporto em seus grupos e então alcançar toda cadeia de aeroportos envolvidos no programa do governo federal. Palavras-chave: nível de serviço, aeroporto regional, análise de agrupamento, sala de pré-embarque.
1 Introdução
O cenário da aviação regional no Brasil passa por mudanças expressivas
atualmente em função do Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional do
governo federal, conhecido como PDAR, desenvolvido pela Secretaria de Aviação
Civil, SAC (2012). O objetivo desta iniciativa consiste em reorganizar os serviços
prestados por empresas aéreas e aeroportos cujas operações sejam classificadas, dentro
das diretrizes do programa, como regional.
O PDAR, em uma de suas etapas, selecionou 270 aeroportos regionais do Brasil
para estudar a necessidade de cada um, seja construção ou reforma. Destes 270, 255 já
existem, alguns precisam de intervenções mais significativas, outros precisam apenas de
poucos ajustes que dependem dos estudos de viabilidade técnica de cada um, em
andamento pela Secretaria de Aviação Civil (2012).
A topografia da região, as dimensões necessárias para os aeroportos, além de
aspectos socioeconômicos são alguns dos fatores abordados pelos estudos de
viabilidade técnica. Estas relações mostram que para alcançar a meta do programa é
necessário abordar vários fatores que são característicos de cada região.
O objetivo deste trabalho é propor padrões de nível de serviço para sala de pré-
embarque de aeroportos regionais. Este objetivo, alinhado com o PDAR, pretende
elaborar padrões a fim de garantir a qualidade dos serviços prestados na aviação
regional, retorno esperado para o alto nível de investimento que necessita esta operação.
Para alcançar este objetivo será necessário simplificar a avaliação do nível de
serviço percebido pelos passageiros e tornar viável sua aplicação, devido ao grande
número de aeroportos envolvidos. Esta simplificação será realizada através do método
de análise multivariada por agrupamento. Então, os aeroportos serão categorizados e
agrupados de acordo com as suas semelhanças estabelecidas por variáveis geográficas,
socioeconômicas, entre outras.
O texto se desenvolve com esta introdução, a revisão de literatura sobre
aeroportos regionais, níveis de serviço e componente de sala de embarque, então a
abordagem do método de análise de agrupamento, suas implicações, vantagens e os
resultados esperados. As considerações finais tratam sobre os pontos anteriormente
mencionados, os itens a serem acrescentados e a continuidade do trabalho encerram o
presente relatório.
2 Revisão da literatura
Para o planejamento da infraestrutura aeroportuária, vários fatores devem ser
aplicados com a finalidade de entregar um produto, neste caso o aeroporto, eficiente,
seguro e que seja rentável para todos os envolvidos. Portanto, a necessidade de estudar
os aspectos que influenciam estes fatores deve passar pela análise das características de
cada terminal de passageiros, as quais estão relacionadas com as dimensões do terminal
aeroportuário, suas funções, a natureza da operações, entre outras.
2.1. Aeroporto regional
Um desafio identificado na elaboração deste trabalho foi identificar conceitos
adequados para aeroportos regionais. Este não é o objetivo deste estudo, porém é
necessário entender que há distinção na literatura e para mercados diferentes. Oliveira e
Salgado (2008) explicam a necessidade de delimitar o mercado, dada a importância de
identificar as particularidades e comportamentos de cada nicho do setor aéreo,
direcionando a discussão dos mecanismos de fomento e políticas públicas.
No Brasil, empresas denominadas como “tronco” e “locais” podem participar dos
mesmos mercados, seja doméstico ou regional, segundo legislação da Agência Nacional
de Aviação Civil, ANAC, pois é liberada a mobilidade das operadoras certificadas,
conforme citado por Oliveira e Salgado (2008).
Bettini (2007), conceituou voos regionais como aqueles operados de forma
regular, com aeronaves com capacidade menor que 100 passageiros, entre cidades com
densidade reduzida de tráfego. Oliveira e Salgado (2008) explicam a arbitrariedade
deste conceito, pois densidade baixa não é um conceito concreto na literatura, exigindo
um ponto de corte para ser aplicado, entre outros fatores.
A discussão sobre aviação regional na literatura internacional também é bastante
difusa. A Federal Aviation Association, FAA (1988) caracteriza aeroportos com base na
movimentação e denomina aeroporto regional aquele cuja movimentação não ultrapassa
0,05% do total de um país. Oliveira e Salgado (2008) apresentam que o antigo regulador
do transporte aéreo no Brasil, o Departamento de Aviação Civil, utilizava como
determinante para caracterizar um aeroporto regional a população da cidade que o
aeroporto atende menor que um milhão de habitantes.
Portanto, sem o consenso do que é aeroporto regional, este trabalho será limitado
a estudar os aeroportos que fazem parte do PDAR, ou seja, os que a Secretaria de
Aviação Civil classifica como regionais.
Então, elaborar um padrão para os fatores inerentes das operações aeroportuárias
de natureza regional é importante para que os terminais estejam alinhados com as suas
propostas, abrangendo as diversas dimensões de aeroportos regionais, e atender ao nível
de serviço proposto é fundamental para o sucesso das operações, seja qual for o
personagem: companhia aérea, controle de tráfego, operador aeroportuário ou
passageiro.
2.2 Salas de pré-embarque
Ashford (1988) caracteriza sala de pré-embarque como sendo a área de espera
onde os passageiros possuem espaço para aguardar seus respectivos voos. Correia et al
(2008) também a classificam como o espaço em que os passageiros esperam para
embarcar em um voo. Este é geralmente dimensionado para acomodar o número de
passageiros 15 minutos antes do momento da partida. Esta área deve conter número
suficiente de assentos, espaço para o processamento dos passageiros e de formação de
filas.
Wirasinghe e Shehata (1988) incluem em sua abordagem sobre o nível de serviço
para salas de pré-embarque o tempo de processamento dos passageiros no portão de
embarque, pois quanto mais próximo da partida ocorrer o embarque, menos espaço será
requisitado para acomodar os passageiros, porque estes permanecerão pouco tempo
nesta área. E esta análise, por consequência, leva em consideração o tamanho das
aeronaves que recebem passageiros desta sala de pré-embarque e a natureza da operação
devido ao maior tempo necessário para verificar documentação e segurança em
operações internacionais.
Para Ashford (1988), a avaliação dos passageiros quanto ao nível de serviço em
salas de pré-embarque está relacionada com o tempo que estes ficam dentro dela.
Portanto, um passageiro que chegar com uma hora de antecedência terá uma percepção
diferente daquele que chegou imediatamente antes do embarque, para o mesmo
componente e mesmos indicadores.
No caso de aeroportos onde os portões de embarque são compartilhados pela
mesma sala de pré-embarque, Wirasinghe e Shehata (1988) destacam que a quantidade
de portões, o intervalo entre processamento dos embarques e a geometria do espaço
interferem diretamente no acúmulo de passageiros.
Barros e Wirasinghe (1998) notaram que o incremento de aeronaves cada vez
maiores influenciam vários componentes aeroportuários e um dos principais é a sala de
pré-embarque, onde os autores afirmam que esta, quando o voo está atrasado, deve
acomodar a totalidade dos passageiros do voo e que para esses casos deve haver uma
área mínima para garantir determinado nível de serviço.
A diversidade de aeronaves utilizadas em voos de natureza regional, segundo a
ANAC (2015) é grande, utilizando desde pequenas aeronaves autorizadas a operar com
capacidade de 9 passageiros (Grand Caravan, C208) a aeronaves médias como os
Airbus A321, autorizados a operar com capacidade de 220 passageiros. Esta variedade
de aeronaves operantes caracteriza a necessidade do correto dimensionamento das salas
de pré-embarque, conforme Barros e Wirasinghe (1998).
A abordagem da diversificação da frota regular que opera atualmente nos
aeroportos regionais também é feita por Oliveira e Salgado (2008), colocando em
discussão a participação de empresas como TAM e GOL, cujas aeronaves não possuem
capacidade inferior a 100 passageiros e mesmo assim estão presentes em vários
aeroportos e rotas classificados como de natureza regional pela ANAC (2015).
2.3 Nível de serviço
A noção de nível de serviço foi desenvolvida pelas autoridades de tráfego
americanas e se refere ao número de automóveis em uma faixa de trânsito, como citado
por De Neufville e Odoni (2003). Adaptando este conceito para o terminal de
passageiros, os autores relacionam nível de serviço com a quantidade de espaço
disponível para determinada atividade. Ainda mencionam que maior será o nível de
serviço quando os passageiros tiverem mais espaço disponível.
De Neufville e Odoni (2003) também destacam que este conceito de nível de
serviço envolve noções de fluxos e atrasos. Para melhorar o nível de serviço é preciso
avaliar custos de construção e de operação, considerando-o então como um parâmetro
para tomada de decisões dos operadores aeroportuários. Estas avaliações, das
necessidades para melhorar o nível de serviço, varia conforme o interesse do
investimento, que deverá levar em conta aspectos como: (i) perfil dos passageiros que
utilizam o aeroporto, (ii) recursos disponíveis, (iii) contexto econômico da região e (iv)
companhias aéreas que operam no aeroporto.
Em sua obra, De Neufville e Odoni (2003) dão amplo destaque para a importância
do tempo de permanência dos passageiros no aeroporto e que este fator deve ser levado
em consideração para estabelecimento de padrões de nível de serviço.
Correia e Wirasinghe (2004) destacam a necessidade de estudar formas adequadas
para avaliar o nível de serviço no lado terrestre dos aeroportos. Também relacionam os
atrasos nas operações com consequências econômicas. Entre suas conclusões, para a
época da pesquisa foi identificada a falta de estudos de nível de serviço em países em
desenvolvimento, afirmando que esta é uma necessidade global. Ainda sugerem que
novos estudos devem ser conduzidos para propor padrões de nível de serviço
individuais de acordo com a percepção dos passageiros, pois através da observação de
passageiros e entrevistas seria possível correlacionar características dos componentes
com a variação dos níveis de serviço.
Martel e Seneviratne (1990), citados por Correia e Wirasinghe (2004), após
aplicarem entrevistas com passageiros nos terminais aeroportuários, constataram que a
disponibilidade de espaço foi o fator que mais influenciou a qualidade do serviço, assim
como foi observado que em áreas de espera o fator mais importante foi a
disponibilidade de lugares. Os autores também concluíram que outros aspectos devem
ser levados em consideração, não apenas espaço e tempo, para avaliar a qualidade dos
serviços na perspectiva dos passageiros.
Correia et al (2008) destacam que medir o nível de serviço percebido nos
componentes de embarque como um todo, conforme o perfil do passageiro que está
utilizando determinado aeroporto, irá identificar o nível de importância que este
passageiro dá para cada componente individualmente, ajudando a direcionar os
investimentos. Correia et al (2008) apresentam a necessidade de identificar o
movimento que o usuário irá realizar no terminal, se embarque, desembarque ou
conexão, pois cada um destes grupos vai ter um conjunto de necessidades específicas e
usarão diferentes ferramentas para processar os passageiros. E só então avaliar o nível
de serviço do terminal, levando em consideração as características individuais de cada
grupo.
Em seu trabalho sobre índice global para avaliação de nível de serviço, Correia et
al (2008) usaram a entrevista com os usuários para identificar os principais atributos que
influenciam a percepção de nível de serviço pelos passageiros. Para aplicar o
questionário, foram levantadas as particularidades de cada participante da pesquisa de
acordo com o tipo de voo, o propósito da viagem, a natureza da operação, o gênero do
passageiro, companhia aérea, entre outros. Concluíram que os operadores
aeroportuários podem usar os resultados desta pesquisa para avaliar a importância que
os passageiros dão para os componentes, garantindo o correto emprego dos limitados
recursos financeiros disponíveis.
Horonjeff et al (2010) destaca que já fora bastante discutido a necessidade de
estabelecer critérios para adotar padrões de nível de serviço e meios para avaliá-lo em
terminais aeroportuários. Mas também é necessário observar que cada passageiro,
funcionário ou operador tem uma perspectiva diferente para nível de serviço. Para os
autores, é bastante difícil adotar critérios de nível de serviço em larga escala, pois cada
aeroporto tem suas peculiaridades, variando inclusive dentro do próprio país. Porém, a
maioria dos estudos aponta para um ponto em comum: o nível de serviço pode estar
associado ao grau de congestionamento dos componentes do sistema aeroportuário.
Para Horonjeff et al (2010) o desafio de incorporar as noções de nível de serviço
com o projeto adotado para o aeroporto é o principal ponto a ser resolvido. Os limites
aceitáveis, os indicadores a serem usados e o tratamento matemático destes fatores irão
diferenciar os métodos de avaliação do nível de serviço e também a aplicação deste para
cada caso específico.
Alguns métodos de análise de nível de serviço para salas de pré-embarque estão
apresentados na Tabela 1.
Tabela 1: Comparação entre os métodos de análise de nível de serviço para salas
de pré-embarque (Fonte: Correia e Wirasinghe, 2008)
Referência Variável Conclusão
Müller (1987) Espaço
A variável mostrou-se estatisticamente insignificante,
indicando a necessidade de incluir outras variáveis para a
análise
Omer (1990) Espaço disponível e
tempo de espera
A baixa significância do modelo, menor que 50%, mostra
que este necessita ser aprimorado com o refino das variáveis
ou o acréscimo de outras
Seneviratne e
Martel (1991)
Disponibilidade de
assentos
Foi indicado pelos passageiros como o indicador de
desempenho mais importante para as áreas de espera
Correia e Wirasinghe (2008) acrescentam que esta comparação de aplicações dos
modelos indica fortemente que qualquer avaliação para nível de serviço em salas de pré-
embarque deve considerar o número de assentos disponíveis como função dos
passageiros que ocupam este setor.
2.4 Indicadores
Para selecionar os indicadores, vários trabalhos que tratam de sala de pré-
embarque foram utilizados como parâmetro. A Tabela 2 identifica quais os indicadores
utilizados e seus respectivos autores.
Tabela 2: Indicadores mais comuns
Autor Espaço
disponível
Número
de
assentos
Limpeza Tempo de
processamento Conforto
Ashford (1988) x x
Seneviratne e Martel
(1991) x x x
Barros e Wirasinghe
(1998) x x
Edwards (1998) x
Bandeira et al (2008) x x x
Correia e Wirasinghe
(2008) x x
Correia et al (2008) x
Analisando os trabalhos apresentados na Tabela 2, é possível identificar que
alguns indicadores são complementares, como por exemplo espaço disponível e
conforto, assim como a disponibilidade de assentos. O tempo de processamento também
é considerado importante, pois Ashford (1988) destaca que o tempo que o passageiro
passa dentro da sala de embarque é determinante para a percepção do nível de serviço,
portanto é necessário determinar um tempo em que os passageiros sejam processados
para o embarque e as filas sejam relativamente curtas.
Portanto, o presente trabalho tem como foco os indicadores de disponibilidade de
espaço e assentos e tempo de processamento.
3 Metodologia
Como apresentado na introdução deste trabalho, o programa do governo federal
de desenvolvimento da aviação regional possui uma quantidade considerável de
aeroportos brasileiros envolvidos. Alguns já estão em operação, outros ainda serão
construídos e outros passarão por pequenos ajustes estruturais para se adequarem à
proposta do projeto. Com o grande número de objetos envolvidos, a distância entre eles
e as suas particularidades regionais, dificulta o estudo de um a um para elaborar seus
padrões de nível de serviço.
Como o objetivo deste trabalho é propor estes padrões de nível de serviço, não é
suficiente aplicar a metodologia de entrevista de passageiros para cada terminal de
passageiros, em função do pouco tempo disponível. Além disso, em muitos aeroportos
haveria a chance de sequer existir passageiros a serem entrevistados. Portanto é
necessário aplicar um método estruturado que possa usar uma quantidade menor de
amostras para viabilizar o estudo. O método selecionado para o presente trabalho é a
análise de agrupamento, uma ferramenta da análise multivariada que agrupa objetos de
acordo com a semelhança por suas variáveis.
Esta seção está divida em quatro partes. A primeira etapa consiste na apresentação
dos aeroportos que fazem parte do PDAR, pois estes são os objetos a serem agrupados.
A segunda etapa apresenta o método de análise de agrupamento, suas vantagens e a
escolha das variáveis para este estudo. A terceira parte trata da ferramenta que será
utilizada para coletar dados e, finalmente, a quarta parte apresentará o meio de
transformar os dados coletados em padrões de nível de serviço. A Figura 1 esquematiza
o processo de pesquisa. A Figura 1 apresenta as quatro principais etapas que compõe a
metodologia proposta.
Figura 1: Metodologia a ser utilizada
3.1 Objetos
Os objetos utilizados neste trabalho têm como base o que está definido pelo
PDAR, isto é, tratam-se de 270 aeroportos regionais, espalhados nas cinco regiões do
Brasil, conforme a Figura 2.
Figura 2: Distribuição geográfica dos aeroportos regionais brasileiros do PDAR
(Fonte: Google Earth – Agosto/2015)
3.2 Análise de Agrupamento
A análise de agrupamento é utilizada para arranjar os objetos em grupos conforme
suas semelhanças, conceito utilizado por Lu et al (2011). De acordo com Wedel e
Kamakura (2000), citado por Machado et al (2013), este arranjo pode ser realizado por
três métodos: (i) sem sobreposição, (ii) com sobreposição e (iii) conjunto fuzzy,
conforme a Figura 3.
Figura 3: Ilustração dos tipos de arranjos (Machado et al, 2013)
O método sem sobreposição considera que cada objeto pode fazer parte de apenas
um grupo. O método com sobreposição aceita que um mesmo objeto pode pertencer a
mais de um grupo. E o método fuzzy considera que um objeto tende a pertencer mais a
um grupo. Assim como no trabalho de Machado et al (2013), o método aqui empregado
será o da não sobreposição, pois o objetivo é formar grupos com aeroportos distintos
que pertençam apenas a um único grupo.
Machado et al (2013) afirma que são dois os métodos de geração de grupos não
sobrepostos: hierárquico e não hierárquico. A diferença entre ambos está na relação dos
objetos entre si. O primeiro identifica relações hierárquicas entre os objetos usando
medidas de similaridades entre estes. O segundo, deriva os grupos da amostra
diretamente a partir de uma matriz de dados, geralmente através de uma função objetivo
otimizada. A escolha do método se dá pela conclusão de Webb (2002), que classifica o
método hierárquico como o mais utilizado para resumir dados. O trabalho de Machado
et al (2013) utilizou desta ferramenta para agrupar setores da indústria de manutenção
aeronáutica, enquanto que Cardoso Junior et al (2011) a utilizou para agrupar terminais
portuários brasileiros, mostrando a variedade de aplicação da análise de agrupamento.
O número ideal de arranjos é abordado por Cardoso Junior et al (2011) e este
conclui que não é possível generalizar, pois esta formação depende da estrutura
desconhecida de dados e do algoritmo aplicado. Então, Cardoso Junior et al (2011)
apresenta métodos para validação do número de agrupamentos necessários para cada
caso. Esta validação será realizada para melhor estruturar os arranjos deste estudo e será
tratada posteriormente.
Método de agrupamento hierárquico
A aplicação deste método se mostrou mais adequada para este trabalho em função
da necessidade de simplificar os dados obtidos dos objetos para agrupá-los, conforme
Webb (2002). O resultado obtido pela sua aplicação se dá na formação de um gráfico
chamado dendrograma, cuja estrutura lembra de uma árvore e suas ramificações
representando a estrutura hierárquica entre os objetos, conforme a Figura 4.
Figura 4: Ilustração de um dendrograma
O dendrograma da Figura 4 pode ser lido da seguinte forma: são oito objetos
(denominados de A a H) a serem agrupados e estes estão dispostos na base do gráfico.
O objeto A tem variáveis que indicam semelhanças com o objeto B. O objeto C possui
semelhanças com o arranjo formado pelos objetos A e B (Arranjo 1), formando outro
arranjo de grupo (Arranjo 2). Os objetos D e E formam outro grupo por suas
semelhanças e assim sucessivamente.
A linha vertical pontilhada à direita indica a quantidade de grupos que foram
formados a partir do ponto onde ela corta. A linha pontilhada mais a esquerda revela
uma análise menos conservadora, desconsiderando significativamente as semelhanças
entre os objetos e por isso forma apenas dois grupos (um grupo formado pelos objetos
A, B, C, D e E e outro grupo formado pelos objetos F, G e H). Enquanto a linha
pontilhada mais a direita indica uma análise mais minuciosa, que leva em conta mais
semelhanças entre os objetos.
Portanto, quanto mais semelhanças forem levadas em consideração e a
importância entre suas relações (a distância entre a origem do gráfico e o ponto de união
do grupo), mais grupos serão formados. Então o número total de grupos depende de
como os objetos se comportam entre si e de que maneira a análise é realizada.
Apresentado por Machado et al (2013), o processo de agrupamento ocorre da
seguinte forma: algoritmos de agrupamento hierárquico trabalham na base da não
semelhança relativa entre os objetos que serão agrupados. Pode ser estruturado com
base na semelhança, na diferença ou na distância entre os objetos. A medida que os
objetos se mostrarem mais ou menos semelhantes, mais ou menos distantes, serão
arranjados em grupos a partir das variáveis aplicadas.
Na primeira etapa, conforme explanado por Machado et al (2013), com N objetos,
estes serão agrupados em um único arranjo. Então, estes objetos serão comparados entre
si, através das suas variáveis, usando, por exemplo, a distância Euclidiana ou qualquer
uma das medidas de dissimilaridade. Então serão formados dois grupos com objetos
semelhantes entre si. O processo é repetido até que se tenha o número de arranjos
necessários.A Tabela 3 apresenta algumas medidas de dissimilaridade utilizadas pelos
autores.
Tabela 3: Medidas de dissimilaridade mais comuns (Fonte: Machado et al, 2013) Medida de dissimilaridade Fórmula
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Plano de ação
Dados da pesquisa
• Título: Padrões de nível de serviço para salas de pré-embarque de
aeroportos regionais brasileiros
• Aluno: Otávio Galucio Cavaleiro
• Orientador: Anderson Ribeiro Correia (Coorientadora: Giovanna M. R.
Borille)
• Relatora: Rogéria de Arantes Gomes Eller
• Data do seminário: 25 de setembro de 2015
• Seminários anteriores: 11 de agosto de 2014 e 08 de maio de 2015.
Atividades acadêmicas
• Disciplinas cursadas:
o 1º Período (2º sem/14): IT 203 – Aeroportos, IT 205 – Produção e
Custos no Transporte Aéreo e IT 210 – Análise Operacional e
Gerencial de Sistemas Logísticos.
o 2º Período (1º sem/15): IT 204 – Análise Operacional e Gerencial
de Aeroportos e IT 200 – Infraestrutura Aeronáutica.
• Disciplinas a serem cursadas:
o 4º Período (1º sem/16): IT 201 – Análise de Transportes
Cumprimento de prazos
• Data prevista para conclusão das atividades de pesquisa e início da escrita
da versão final da tese e do artigo: Fevereiro de 2016
• Data prevista de submissão do artigo a um periódico: Abril de 2016
• Data prevista da submissão da tese: Maio de 2016
Periódico almejado
• Nome do periódico: Journal of Air Transport Management
• URL do periódico: http://www.journals.elsevier.com/journal-of-air-
transport- management/
• Qualis do periódico: A2 (Agosto de 2015)
• Justificativa da escolha do periódico: Por estar divulgando novos
desenvolvimentos e tendências para o setor da aviação, interessado em
mercados emergentes e em amadurecimento e, por fim, pela relação destas
com as necessidades dos consumidores.
ANEXO I – Resultado Agrupamento
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5
Cruzeiro do Sul Marechal Thaumaturgo Arapiraca Lábrea Porto Seguro
Tarauacá Porto Walter Barreiras Maraã Uberlândia Barcelos Maragogi Feira de Santana Maués Santarém
Boca do Acre Amaturá Ilhéus Parintins Foz do Iguaçu Borba Codajás Lençóis Tefé Londrina
Carauari Jutaí Maraú Uarini Maringá
Coari Santo Antônio de Jesus Vitória da Conquista São Borja Navegantes
Eirunepé Canindé Aracati Joaçaba Ribeirão Preto Fonte Boa Itapipoca Juazeiro do Norte Franca Humaitá Jijoca de Jericoacoara Sobral Guaratinguetá
Itacoatiara Alto Paraíso de Goiás São Mateus Araguaína Manicoré Itumbiara Anápolis Gurupi
Nova Olinda do Norte Caxias Caldas Novas
Pauini Governador Nunes Freire Pirenópolis
Santa Isabel do Rio Negro São João dos Patos Rio Verde
São Gabriel da Cachoeira Ouro Preto Imperatriz
São Paulo de Olivença Paracatu Araxá
Tabatinga Nova Andradina Diamantina
Amapá Cametá Governador Valadares
Oiapoque Castanhal Juiz de Fora Bom Jesus da
Lapa Afogados da Ingazeira Montes Claros
Cipó Nova Friburgo Poços de Caldas Guanambi Volta Redonda Pouso Alegre Ibotirama Bonfim São João del Rei