Setembro 2009 | Relatório de Inflação | 67 4 Economia internacional Os indicativos de que a coordenação de políticas econômicas empreendida em reação à intensificação da crise nos mercados financeiros internacionais passava a favorecer a retomada da atividade econômica, enfatizados no Relatório de Inflação de junho, ganharam contornos mais nítidos nos últimos meses. A atenuação – e, em algumas economias, a reversão – do ambiente recessivo observado desde meados de 2008, refletiu as contribuições inerentes tanto ao maior dinamismo da demanda interna, com ênfase no impacto da flexibilização das políticas monetária e fiscal sobre os gastos de consumo privado; quanto à intensificação do comércio externo. Nesse cenário, as economias da Área do Euro e dos EUA registraram, no trimestre encerrado em junho, contrações inferiores às assinaladas em trimestres recentes, enquanto as relativas à China e Índia experimentaram aceleração nas respectivas taxas anuais de crescimento. O ambiente de recuperação do crescimento da economia mundial, favorecido, ainda, pelo esgotamento do ciclo de ajuste de estoques iniciado nos últimos meses de 2008, proporcionou estímulo adicional aos mercados financeiros e de commodities, com exceção das agrícolas, e a intensificação do movimento de retomada do apetite por ativos de risco. A persistência do cenário inflacionário benigno favoreceu que os bancos centrais das economias maduras mantivessem o caráter acomodatício de suas políticas monetárias, enquanto as autoridades monetárias das economias emergentes tiveram comportamento heterogêneo. 4.1 Atividade econômica A retomada da atividade econômica registrada no G-3 e nos principais países emergentes se traduziu em
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Relatório de Inflação Setembro 2009 - bcb.gov.br · das políticas monetária e fiscal sobre os gastos de consumo ... Relatório de Inflação ... Manufaturas – Indicadores de
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Setembro 2009 | Relatório de Inflação | 67
4Economia internacional
Os indicativos de que a coordenação de políticas econômicas empreendida em reação à intensificação da crise nos mercados financeiros internacionais passava a favorecer a retomada da atividade econômica, enfatizados no Relatório de Inflação de junho, ganharam contornos mais nítidos nos últimos meses.
A atenuação – e, em algumas economias, a reversão – do ambiente recessivo observado desde meados de 2008, refletiu as contribuições inerentes tanto ao maior dinamismo da demanda interna, com ênfase no impacto da flexibilização das políticas monetária e fiscal sobre os gastos de consumo privado; quanto à intensificação do comércio externo. Nesse cenário, as economias da Área do Euro e dos EUA registraram, no trimestre encerrado em junho, contrações inferiores às assinaladas em trimestres recentes, enquanto as relativas à China e Índia experimentaram aceleração nas respectivas taxas anuais de crescimento.
O ambiente de recuperação do crescimento da economia mundial, favorecido, ainda, pelo esgotamento do ciclo de ajuste de estoques iniciado nos últimos meses de 2008, proporcionou estímulo adicional aos mercados financeiros e de commodities, com exceção das agrícolas, e a intensificação do movimento de retomada do apetite por ativos de risco.
A persistência do cenário inflacionário benigno favoreceu que os bancos centrais das economias maduras mantivessem o caráter acomodatício de suas políticas monetárias, enquanto as autoridades monetárias das economias emergentes tiveram comportamento heterogêneo.
4.1 Atividade econômica
A retomada da atividade econômica registrada no G-3 e nos principais países emergentes se traduziu em
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expressiva recuperação dos respectivos produtos. As taxas de contração anualizadas dos PIB do Reino Unido, EUA e Área do Euro atingiram, na ordem, 2,6%, 1% e 0,5% no trimestre encerrado em junho, ante 9,2%, 6,4% e 9,5%, naquele finalizado em março, enquanto no Japão e na Coréia registraram-se, na ordem, aumentos de 2,3% e 11%, ante variações respectivas de -12,4% e 0,5% no trimestre encerrado em março. No mesmo sentido, os PIB da China e da Índia apresentaram taxas de crescimento anualizadas de 7,9% e 6%, respectivamente, no trimestre encerrado em junho, ante 6,1% e 4,1%, no trimestre finalizado em março.
A redução acentuada registrada na taxa de contração do PIB dos EUA refletiu tanto as retrações assinaladas nas contribuições negativas dos investimentos fixos não-residenciais e das exportações, que passaram de -5,29 p.p. e -3,95 p.p., respectivamente, no trimestre encerrado em março, para -1,15 p.p. e -0,54 p.p., naquele finalizado em junho, quanto a reversão, de -0,52 p.p. para 1,27 p.p., na relativa aos gastos do governo. Vale mencionar, ainda, que embora o consumo das famílias, impactado pela redução dos efeitos dos incentivos tributários, voltasse a registrar taxa de crescimento negativa, apresentou dinamismo superior ao observado nos dois últimos trimestres de 2008, enquanto indicadores setoriais, a exemplo do índice nacional de preços de imóveis residenciais S&P/Case-Shiller, revelam perspectivas mais favoráveis em relação aos investimentos residenciais.
Na Área do Euro, favorecido pelos incentivos fiscais à aquisição de veículos novos, o consumo registrou aumento anualizado de 0,7% no trimestre encerrado em junho, primeiro crescimento nesta base de comparação em cinco trimestres. No Reino Unido, a permanência das alíquotas relativas ao imposto sobre o valor agregado em patamar mais reduzido contribuiu para que a contração anualizada do consumo, embora se mantendo elevada, em 2,9%, registrasse melhora em relação às observadas nos trimestre finalizados em março e em dezembro de 2008. A recuperação acentuada experimentada pelo PIB do Japão refletiu, além da recuperação dos gastos com consumo, o aumento das exportações do país, impulsionado tanto pelo esgotamento do ciclo dos estoques nas principais economias, quanto pela recuperação da economia chinesa. Vale mencionar que a maturação do processo de ajuste de estoques mencionado anteriormente deverá se constituir em fator determinante, nos próximos meses, para o melhor desempenho do mercado de trabalho e para a retomada dos investimentos.
Tabela 4.1 – Maiores economias desenvolvidas
Componentes do PIB e outros indicadores
Taxa % anualilzada
2007 2008 2009
IV I II III IV I II
PIB
Estados Unidos 2,1 -0,7 1,5 -2,7 -5,4 -6,4 -1,0
Área do Euro 1,6 3,2 -1,3 -1,4 -7,0 -9,5 -0,5
Reino Unido 1,9 3,4 -0,4 -3,0 -7,0 -9,2 -2,6
Japão 3,4 3,5 -2,8 -5,1 -12,8 -12,4 2,3
Consumo das famílias
Estados Unidos 1,2 - 0,6 0,1 - 3,5 - 3,1 0,6 - 1,0
Área do Euro 0,9 0,8 -1,7 -0,1 -1,8 -2,0 0,7
Reino Unido 1,4 4,3 -1,5 -1,5 -4,3 -5,0 -2,9
Japão 0,8 5,3 -3,6 0,4 -2,8 -4,7 2,8
Investimento empresarial
Estados Unidos 6,7 1,9 1,4 - 6,1 - 19,5 - 39,2 - 10,9
1/ Inclui investimentos com construções residenciais e investimentos públicos.
2/ Gastos totais com contruções.
3/ Taxa ao final do período.
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O ambiente de recuperação dos gastos com consumo e investimentos observado no trimestre encerrado em julho favoreceu tanto a redução observada no ritmo de contração da produção industrial dos EUA, Área do Euro e Reino Unido, quanto o aumento anualizado de 37,6% assinalado no Japão, no período. Esta retomada ganha maior relevância a partir da constatação de que a produção da indústria nos países mencionados vem registrando expansão na margem, expressa em seqüências de cinco e de duas taxas de crescimento mensal positivas no Japão e no Reino Unido, respectivamente. Adicionalmente, a produção industrial dos EUA registrou, em julho, o primeiro avanço mensal desde outubro de 2008, enquanto a relativa à Área do Euro apresenta relativa estabilidade desde abril. Este cenário deverá ser favorecido, nos próximos meses, pela trajetória de recuperação das expectativas dos empresários, evidenciada pelo desempenho dos índices de gerentes de compras do setor manufatureiro.
A recuperação do crescimento econômico na China, registrada no segundo trimestre do ano, refletiu o impacto da contínua ascensão dos gastos governamentais em infraestrutura e do maior dinamismo do consumo, este evidenciando os efeitos positivos da conjunção do relaxamento das condições de crédito, do efeito renda derivado dos incentivos fiscais à aquisição de bens duráveis, e da estabilização do emprego urbano sobre o consumo das famílias. Ressalte-se que a recuperação do PIB chinês ocorreu a despeito da contribuição negativa proporcionada pelo setor externo, consistente com a retomada acentuada das importações chinesas, que exerceu impacto expressivamente benéfico sobre as economias de Taiwan e Coréia do Sul, importantes fornecedores de produtos intermediários para as indústrias chinesas.
Ressalte-se que a estabilização dos mercados de trabalho locais e a recuperação da produção industrial forneceram suporte adicional para a recuperação econômica destes dois países, enfatizando-se que, na Coréia do Sul, a aceleração registrada pelo PIB no segundo trimestre foi favorecida, em grande parte, pelo maior dinamismo da demanda interna. Nesse sentido, vale mencionar o estímulo ao consumo derivado da redução nas taxas de juros e dos incentivos fiscais para a aquisição de bens duráveis.
4.2 Política monetária e inflação
As reduzidas taxas de utilização da capacidade instalada, o recuo dos preços aos produtores e o impacto
135
145
155
165
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185
195
205
Jun2007
Dez Jun2008
Dez Jun2009
Case-Shiller20
índice
Gráfico 4.1 – EUA – Índice de preços para residências unifamiliares
Gráfico 4.2 – Manufaturas – Indicadores de estoquesEUA , Área do Euro e Japão
Fontes: Bloomberg e Thonsom Financial
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dos preços da energia, em patamar inferior ao observado no período que antecedeu o agravamento da crise internacional, seguem favorecendo a trajetória declinante registrada nas variações acumuladas em doze meses dos índices de preços ao consumidor das principais economias maduras e emergentes. Vale mencionar que a manutenção do preço do barril de petróleo acima de US$70 poderá pressionar o comportamento desses indicadores a partir do último trimestre do ano.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos EUA, evidenciando, em especial, a deflação de 28,1% observada nos preços da energia, apresentou variação anual de -2,1% em julho, menor taxa desde janeiro de 1950. A evolução do indicador nos próximos meses estará condicionada, por um lado, aos impactos da permanência do hiato do produto em patamar elevado, da contração da riqueza das famílias e da trajetória decrescente dos preços percebidos pelos produtores, contrastando com a influência do esgotamento do efeito base de comparação relativamente aos preços do petróleo.
Nesse cenário, o Federal Reserve (Fed) manteve os limites da banda de flutuação da meta para os Fed funds em 0% e 0,25%, e promoveu a readequação dos programas de assistência à liquidez: os recursos oferecidos pelos leilões Term Auction Facility (TAF) e Term Securities Lending Facility (TSLF) foram reduzidos para US$75 bilhões, em cada modalidade; e a vigência dos programas Asset-Backed Commercial Paper Money Market Mutual Fund Liquidity Facility (AMLF), Commercial Paper Funding Facility (CPFF), Primary Dealer Credit Facility (PDCF) e TSLF foi prorrogada até fevereiro de 2010. Adicionalmente, o Fed renovou as linhas de swap de moedas com os bancos centrais da Austrália, Brasil, Canadá, Coréia, Dinamarca, Europa, Inglaterra, Japão, México, Noruega, Nova Zelândia, Cingapura, Suécia e Suíça; alongou, até o final de outubro de 2009, o programa de compra de treasuries; e, em conjunto com o Tesouro, prorrogou a vigência do Term Asset-Backed Securities Loan Facility (TALF) até 31 de março de 2010, no caso dos empréstimos colateralizados por asset-backed securities (ABS) lançados em 2009 e Commercial mortgage-backed security (CMBS) emitidos antes de 2009, e até 30 de junho de 2010, no que se refere aos créditos concedidos contra CMBS emitidos em 2009.
No Reino Unido, a variação acumulada em doze meses do IPC, em trajetória desinflacionaria, atingiu 1,8% em julho, ante o valor máximo de 5,2% registrado em setembro de 2008, com ênfase na retração de 2,7% observada, no
Tabela 4.2 – Economias emergentes
Componentes do PIB e outros indicadores
% [(T)/(T-4)]
2007 2009
IV I II III IV I II
PIB
Coreia do Sul1/5,2 4,4 1,7 1,0 -18,8 0,5 11,0
China 12,0 10,6 10,1 9,0 6,8 6,1 7,9
Índia 9,4 9,0 8,2 7,8 4,8 4,1 6,0
Taiwan 6,4 6,2 4,6 -1,0 -8,6 -10,1 -7,5
Consumo das famílias
Coreia do Sul1/1,6 4,5 -0,7 -0,1 -17,8 1,8 15,6
China2/12,4 13,6 16,4 17,2 15,9 17,2 17,2
Índia 8,9 5,7 4,5 2,1 2,3 2,7 1,6
Taiwan 1,6 2,1 0,5 -2,1 -1,7 -1,6 0,4
Formação Bruta de Capital Fixo
Coreia do Sul1/13,1 -6,4 0,4 0,2 -23,6 -1,7 18,5
China 22,3 20,3 20,1 20,1 23,8 38,8 50,1
Índia 14,1 9,3 9,2 12,5 5,1 6,4 4,2
Taiwan -0,8 3,7 -8,0 -11,8 -22,6 -33,4 -23,7
Exportações de bens e serviços
Coreia do Sul1/28,9 -0,1 11,3 -1,6 -31,2 -16,0 51,1
China 18,3 17,3 17,3 18,5 4,4 -10,9 -9,1
Índia 6,1 12,6 25,6 24,3 7,1 -0,8 -10,9
Taiwan 12,9 12,7 9,9 -0,6 -19,2 -27,9 -18,4
Importações de bens e serviços
Coreia do Sul1/24,2 -3,0 12,3 4,3 -45,8 -29,5 -29,5
China 22,1 15,7 17,1 10,6 -2,1 -3,9 18,1
Índia 6,7 27,2 27,4 35,3 21,7 -5,7 -21,2
Taiwan 5,8 9,6 0,2 -2,6 -21,4 -33,1 -19,4
Produção manufatureira
Coreia do Sul1/16,1 7,3 0,3 -8,1 -56,9 -11,4 0,0
China 17,5 16,3 15,9 12,9 6,4 5,6 9,0
Índia 8,3 7,0 5,3 4,7 0,8 0,5 -
Taiwan 13,5 12,6 7,1 0,5 -23,4 -33,2 -16,6
Taxa de desemprego3/
Coreia do Sul1/3,1 3,1 3,2 3,2 3,3 3,7 4,0
China4/4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,2 4,3
Índia nd nd nd nd nd nd nd
Taiwan 3,9 3,9 3,9 4,3 5,0 5,7 5,9
Fonte: Thomson Financial
1/ Taxa de crescimento anualizada frente ao trimestre anterior.
2/ Crescimento das vendas no varejo.
3/ Taxa ao final do período.
4/ Desemprego urbano
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período, nos preços da energia. Nesse cenário, reforçado pelos aspectos recessivos registrados na economia do país, o Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra (BoE) embora mantivesse, em 6 de agosto, a taxa de juros básica em 0,5%, decidiu por nova ampliação do programa de compra de bônus corporativos e títulos governamentais, que passou a totalizar £175 bilhões e foi estendido por três meses. A autoridade monetária pretende, com tais medidas, evitar que a inflação atinja patamar inferior a 1% no médio prazo e se situe em torno de 2% no horizonte de dois anos.
A variação em doze meses do índice de preços ao consumidor na Área do Euro atingiu -0,6% em julho, menor taxa da série histórica, iniciada em janeiro de 1997, ressaltando-se o recuo de 14,4% registrado nos preços da energia e a estabilidade observada nos relativos a alimentos, que haviam assinalado, na ordem, variações acumuladas recordes de 17,1% e 6,1% em julho de 2008. Neste cenário deflacionário, em que coexiste elevada ociosidade dos fatores de produção e juros reais crescentes – a taxa de juros básica é mantida em 1% desde maio – o Banco Central Europeu (BCE) voltou a ampliar a oferta de liquidez: em 24 de junho, visando atender a demanda por recursos e ampliar a oferta de crédito para o tomador final, o BCE disponibilizou o valor recorde de €442 bilhões em operação repo de 12 meses, à taxa prefixada de 1%.
No Japão, a variação negativa do IPC acumulada em doze meses, influenciada, em grande parte, pela evolução das cotações do petróleo, registrou aceleração a partir de maio, atingindo -2,25% em julho. Neste ambiente de intensificação dos riscos inflacionários, o Banco do Japão (BoJ) deu continuidade ao processo de afrouxamento quantitativo da política monetária, estendendo, até o final de 2009, as compras diretas de commercial papers e bônus corporativos.
Na China, ratificando a trajetória descendente de preços iniciada em fevereiro de 2008, as variações anuais dos índices de preços ao consumidor e ao produtor atingiram -1,8% e -8,2%, respectivamente, em julho, ressaltando-se que a intensificação do processo deflacionário ocorreu em cenário de injeção de liquidez acentuada na economia, decorrente da ampliação das reservas internacionais do país, que superaram US$2 trilhões no trimestre encerrado em junho. O Banco do Povo da China (BPC), evidenciando o viés da política monetária do país em relação à recuperação do nível de atividade econômica, manteve, no decorrer do trimestre encerrado em agosto, inalteradas as taxas de juros básica, em 5,31% a.a., e de recolhimento compulsório, em
-30
-20
-10
0
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Out2006
Jan2007
Abr Jul Out Jan2008
Abr Jul Out Jan2009
Abr Jul
EUA Área do EuroJapão Reino Unido
Fonte: Thomson
Gráfico 4.6 – Inflação de energiaVariação anual%
-3
-1
1
3
5
7
9
Jan2006
Jul Jan2007
Jul Jan2008
Jul Jan2009
Jul
EUA Área do Euro Japão
Reino Unido China
Gráfico 4.4 – Inflação ao consumidorVariação anual%
Fontes: BLS, Eurostat, Bloomberg e ONS
-9-7-5-3-113579
11
Jul2006
Jan2007
Jul Jan2008
Jul Jan2009
Jul
EUA Área do Euro Japão
Reino Unido China
Gráfico 4.5 – Inflação ao produtorVariação anual%
Fontes: BLS, Eurostat, Bloomberg e ONS
Período
jan 1999
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
012345678
Ago2007
Nov Fev 2008
Mai Ago Nov Fev 2009
Mai Ago
Gráfico 4.7 – Taxas de juros oficiaisTaxas anuais%
EUA Área do Euro Reino Unido
Japão China
Fontes: Fed, BCE, BoJ, Banco da Inglaterra e Banco do Povo da China
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14,5%. Objetivando avançar no projeto de conversibilidade do renmimbi, o governo chinês formalizou, em 6 de julho, o lançamento de um projeto piloto para fechamento de transações comerciais internacionais na moeda chinesa.
4.3 Mercados financeiros internacionais
Os indicadores do mercado financeiro, respondendo às políticas expansionistas que asseguraram a liquidez do sistema financeiro e estimularam a demanda por ativos de maior risco, inclusive nos mercados emergentes, apresentaram evolução positiva no trimestre encerrado em agosto.
O processo de restauração da confiança no setor bancário manteve-se no período. Nesse sentido, os prêmios médios dos Credit Default Swap (CDS), que medem o custo de garantia contra defaults, dos cinco maiores bancos europeus e norte-americanos, selecionados pela ótica de capitalização de mercado, persistiram na trajetória benigna observada no último relatório de inflação, recuando, na ordem, de 75 Pontos base (p.b.) e 166 p.b., ao final de maio, para 57 p.b. e 147 p.b., ao final de agosto, respectivamente. Vale mencionar que os spreads relativos a estes papéis, evidenciando a relativa desconfiança a respeito tanto da qualidade dos ativos carregados por estes bancos quanto da trajetória da inadimplência, em particular, nos EUA, seguem em patamar superior ao registrado antes do agravamento da crise financeira.
As condições de liquidez do mercado interbancário norte-americano seguem refletindo o caráter expansionista das medidas de política monetária implementadas pela autoridade monetária do país. A TED spread – diferença entre a Treasury Bill de três meses, taxa de curto prazo considerada livre de risco, e a libor em dólar de igual prazo – recuou 30 p.b. no trimestre terminado em agosto, situando-se em 22 p.b., menor patamar desde fevereiro de 2007.
O iTraxx Crossover, que representa o prêmio exigido para garantir empréstimos para companhias européias consideradas de alto risco, e o iTraxx IG, que representa o prêmio exigido para companhias consideradas grau de investimento, atingiram, na ordem, 601 p.b. e 91 p.b. ao final de agosto – patamar mais reduzido no ano, registrando recuos respectivos de 123 p.b. e 29 p.b. em relação aos prêmios exigidos no final de maio.
0
200
400
600
800
1 000
1 200
25.62008
4.8 11.9 21.10 28.11 7.12009
16.2 26.3 5.5 12.6 22.7 31.8
Companhias com classificação alto risco
Companhias com classificação grau de investimentoFonte: Thomson
Gráfico 4.11 – iTraxx Europa – séries 8,9, 10 e 11p.b.
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4
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23.32007
20.8 15.12008
11.6 6.11 3.42009
31.8
Fonte: Bloomberg
Gráfico 4.10 – TED spreadp.b.
0
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160
240
320
400
6.22008
31.3 21.5 11.7 2.9 23.10 15.12 4.22009
27.3 19.5 9.7 31.8
Bancos Europa Bancos EUA
Fonte: Thomson1/ Calculado pela média aritmética dos prêmios de CDS dos 5 anos maiores
bancos dos EUA e da Europa pelo critério de capitalização de mercado.Por tratar-se de amostra não aleatória, pode não refletir o comportamento
do sistema financeiro como um todo.
Gráfico 4.9 – Prêmios CDS 5 anos – Principais bancos1/
p.b.
Período
out/04
Nov 2004
Dez
Jan 2005
Fev 2005
Mar
Abr
Mai
jun 2005
Jul
Ago 2005
Set
-4
-2
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6
8
Jul2006
Out Jan 2007
Abr Jul Out Jan 2008
Abr Jul Out Jan 2009
Abr Jul
Gráfico 4.8 – Taxas de juros reaisTaxas anuais deflacionadas pelo IPC%
EUA Área do Euro Reino UnidoJapão China
Fontes: Fed, BCE, BoJ, BoE, BPC, BLS, Eurostat, ONS e Bloomberg.
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As bolsas de valores, traduzindo o fortalecimento das condições macroeconômicas e a divulgação de resultados corporativos superiores aos projetados, seguiram acumulando ganhos no decorrer do trimestre encerrado em agosto. Os índices Financial Times Securities Exchange Index (FTSE 100) do Reino Unido; Standard and Poor’s (S&P 500), dos EUA; Deutscher Aktienindex (DAX) da Alemanha; e Nikkei, do Japão, registraram aumentos respectivos de 11,1%, 11%, 10,6% e 10,2%, entre os finais de maio e agosto, acumulando, na ordem, variações de 10,7%, 13%, 13,6% e 18,4% no ano.
As bolsas de valores das economias emergentes, repetindo a tendência observada nas economias maduras, registram recuperação acentuada no trimestre. Os índices Istanbul Stock Exchange National 100 Index (XU100), da Turquia; Kospi, da Coréia do Sul; Sensex, da Índia; e Ibovespa, do Brasil, registraram aumentos respectivos de 33%, 14%, 7,1% e 6,2% em relação a maio, acumulando, na mesma ordem, ganhos de 73,3%, 41,6%, 62,4% e 49,7%, no ano. Ressalte-se o desempenho do índice Xangai Composto da China, que após registrar ganhos respectivos de 12,4% e 15,3% em junho e julho, recuou 21,8% em agosto, reversão associada tanto ao processo de realização de lucros quanto às perspectivas de desaceleração do crédito bancário e às incertezas a respeito da continuidade dos efeitos positivos do pacote de estímulo fiscal sobre a atividade econômica. O indicador acumulou ganhos de 46,5% nos oito primeiros meses do ano.
O índice Chicago Board Options Exchange (VIX), que mede a volatilidade implícita de curto prazo do índice S&P 500 manteve-se na trajetória declinante iniciada em março, alcançando 26 pontos ao final de agosto ante 28,9 pontos observados no final de maio. A despeito da melhoria recente, vale mencionar que o indicador situa-se em patamar sensivelmente superior ao registrado em meados de 2007, quando oscilava entre 10 e 15 pontos.
Refletindo o cenário de questionamentos sobre a sustentabilidade fiscal das economias maduras, redução da aversão ao risco e de perspectivas de normalização das políticas monetárias, os rendimentos médios mensais dos títulos de dez anos do Japão, EUA, Alemanha e Reino Unido seguiram em trajetória crescente no decorrer do primeiro semestre do ano e registraram relativa acomodação em agosto, quando se situaram, na ordem, em 3,69%, 3,57%, 3,33% e 1,38%.
A evolução recente do Emerging Market Bond Index Plus (Embi+) ratificou a tendência de redução do risco
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23.72007
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13.4 22.6 31.8
S&P500 Reino UnidoJapão Alemanha
Gráfico 4.12 – Bolsas de valores: EUA, Europa e Japão 31.12.2003 = 100
Fonte: Bloomberg
100
170
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310
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23.72007
1.10 10.12 18.22008
28.4 7.7 15.9 24.11 2.22009
13.4 22.6 31.8
Brasil Coreia do Sul Índia Turquia
Gráfico 4.13 – Bolsas de valores: Mercados emergentes31.12.2003 = 100
Fonte: Bloomberg
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20.8 15.12008
11.6 6.11 3.42009
31.8
Fonte: Thomson
Gráfico 4.14 – VIX
1999
2000
1
2
3
4
5
6
Ago2006
Nov Fev2007
Mai Ago Nov Fev2008
Mai Ago Nov Fev2009
Mai Ago
EUA AlemanhaJapão Reino Unido
Fonte: Bloomberg1/ Média mensal dos rendimentos nominais dos títulos de dez anos,
até 31 de agosto de 2009.
Gráfico 4.15 – Retorno sobre títulos governamentais1/
% a.a.
74 | Relatório de Inflação | Setembro 2009
soberano associado a mercados emergentes mencionada no último relatório de inflação. No atual cenário de redução da aversão ao risco, aumento da liquidez nos mercados maduros e melhora dos prognósticos em relação à retomada da economia mundial, o indicador atingiu 381 p.b. ao final de agosto, ante 459 p.b. em 29 de maio, com ênfase nos recuos assinalados nos índices relacionados à África do Sul, 104 p.b.; Turquia 50 p.b.; e Brasil, 23 p.b.
Os indicativos de que a fase mais aguda da crise está superada favoreceram a continuidade da reversão do movimento de fuga para a qualidade observada no último Relatório de Inflação. Este processo, expresso na redução da demanda por dólares, contribuiu para que a moeda dos EUA seguisse em trajetória de depreciação em relação à maior parcela das moedas das principais economias maduras e emergentes, acumulando, entre os finais de maio e de agosto, perdas respectivas de 0,6%, 1,2% e 2,3% em relação à libra esterlina, ao euro e ao iene. O dólar registrou, adicionalmente, depreciação trimestral de 4,6% em relação ao real e de 2,1% comparativamente à lira turca, e apreciações respectivas de 3,7% e 2,7% em relação à rúpia indiana e ao rublo russo.
4.4 Commodities
Os preços internacionais das commodities refletiram, nos últimos meses, as oscilações das expectativas quanto ao desempenho da economia mundial. Após acumular alta de 14,8% nos cinco primeiros meses do ano, o índice Commodity Research Bureau (CRB), em meio às incertezas quanto ao ritmo de recuperação da atividade econômica nas principais economias desenvolvidas, recuou em junho, e, refletindo os indicadores econômicos mais favoráveis divulgados em julho e em agosto, tanto para as economias desenvolvidas quanto para as emergentes, registrou novo impulso. Nesse cenário, o CRB aumentou 5,4% entre agosto e maio, registrando aumento médio de 11,6% se considerados os trimestres encerrados nestes meses e de 21,1% no ano. Vale mencionar que, evidenciando o patamar inferior dos preços das commodities em relação ao predominante antes do agravamento da crise, o CRB registra recuo de 19,4% quando considerados os trimestres encerrados em agosto de 2009 e de 2008.
Considerado o índice S&P GSCI, da Standard & Poor’s, em conjunto com o Goldman Sachs, os preços das commodities elevaram-se 2,4% entre os finais de maio e agosto. Este comportamento refletiu as variações respectivas de -10,1%, 3,5% e 32,7% observadas nos segmentos de
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11.22008
14.4 16.6 18.8 20.10 22.12 23.22009
27.4 29.6 31.8
África do Sul Brasil Rússia
Turquia MéxicoFonte: Bloomberg
Gráfico 4.16 – Emerging Markets Bond Index Plus(Embi+) – Paísesp.b.
31.8 20051.92.95.96.97.9
8.9 20059.9
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12.122007
11.32008
9.6 5.9 4.12 4.32009
2.6 31.8
Libra/dólar Euro/dólar Iene/dólar
Gráfico 4.17 – Cotações do dólar1.6.2005 = 100
Fonte: Bloomberg
Moedas de países emergentes por US$
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12.122007
11.32008
9.6 5.9 4.12 4.32009
2.6 31.8
Rublo/dólar Real/dólar Lira/dólar
Rúpia/dólar Forint/dólar
Gráfico 4.18 – Moedas de países emergentes1.6.2005 = 100
Fonte: Bloomberg
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3.1 2008
11.3 16.5 23.7 29.9 4.12 10.2 2009
17.4 24.6 31.8
Gráfico 4.19 – Índice CRBJan/2003 = 100
Fonte: Commodity Research Bureau
Setembro 2009 | Relatório de Inflação | 75
agrícolas, energéticas e metálicas, ressaltando-se que a retração experimentada pelas cotações das commodities agrícolas reflete, em grande parte, a menor elasticidade-renda do consumo dos produtos agrícolas e, principalmente, as perspectivas favoráveis em relação à safra norte-americana de grãos, que começa a ser colhida em setembro. Considerando os contratos futuros para primeira entrega negociados na Chicago Board of Trade (CBT), registraram-se, de maio a agosto, reduções nos preços do trigo, 26,1%; milho, 25,2%; e soja, 7,1%, enquanto os contratos equivalentes, negociados na Intercontinental Exchange de Nova York (ICE), relativos a café e a açúcar registraram variações respectivas de -12% e 56,5%, estes evidenciando as perspectivas de nova quebra de safra na Índia, segundo maior produtor mundial da commodity2.
A valorização acentuada observada nas cotações das commodities metálicas reflete tanto a recuperação da atividade econômica na China quanto os indicativos de sua estabilização nos EUA e na União Européia, economias que respondem, em conjunto, por aproximadamente 65% da demanda mundial neste segmento. De acordo com a London Metal Exchange (LME), registraram-se, entre os finais de maio e de agosto, elevações generalizadas nos preços das principais commodities metálicas, com ênfase nas relativas a chumbo, 34,6%; níquel, 37,5%; alumínio, 32,7%; e cobre, 34,2%.
A demanda por minério de ferro segue em trajetória de recuperação, condicionada pelo aumento da produção de aço na China, que se encontra em patamar superior ao observado no período anterior à crise, contrastando com a elevada ociosidade registrada na indústria siderúrgica das principais economias desenvolvidas.
4.4.1 Petróleo
As cotações dos barris de petróleo WTI e Brent, refletindo a retomada do nível de atividade econômica e a depreciação do dólar em relação às principais moedas, seguiram pressionadas no trimestre, elevando-se, na ordem, de US$66,31 e US$64,98, em 29 de maio, para US$69,96 e US$68,76, em 31 de agosto. A trajetória crescente das cotações desta commodity deverá persistir nos próximos meses, segundo o Departamento de Energia dos EUA (DOE), que em seu relatório de agosto estima que o preço médio do barril do WTI atinja o patamar de US$70, no último trimestre
2/ Em média, nas últimas cinco safras, a produção na Índia representou 14,6% da produção mundial, ficando atrás apenas da produção brasileira, que respondeu por 19,7% do total produzido.
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11.3 16.5 23.7 29.9 4.12 10.2 2009
17.4 24.6 31.8
Agrícolas Metais Energéticas
Gráfico 4.20 – Índice de preço de commoditiesJan/2003 = 100
Fonte: S&P GSCI
153045607590
105120135150165
28.32008
11.6 25.8 6.11 20.12009
3.4 17.6 31.8
Brent WTIFonte: Bloomberg
Gráfico 4.21 – Petróleo – Mercado à vistaUS$ por barril
153045607590
105120135150165
3.282008
6.11 8.25 11.6 1.202009
4.3 6.17 8.31
Brent WTISource: Bloomberg
Figure 4.21 – Oil – Spot marketUS$ per barrel
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do ano. O DOE projeta, adicionalmente, que o ambiente de retomada da atividade econômica mundial deverá acarretar em aumento anual de 1,1% no consumo de petróleo em 2010, ante perspectiva de expansão de 0,7% na respectiva oferta, mantendo-se, portanto, o viés de alta em relação às cotações da commodity no próximo ano.
4.5 Conclusão
Embora a evolução recente da economia mundial tenha suscitado o fortalecimento das expectativas de recuperação da atividade global, em especial no segundo semestre de 2009, a sustentação deste movimento por períodos mais longos permanece condicionado, em certa medida, da retomada do crescimento da renda real e do consumo das famílias, em especial nos EUA e na Área do Euro.
A trajetória da inflação segue favorecida pelo reduzido nível de utilização dos fatores de produção. Vale mencionar que a continuidade da recuperação registrada pelas cotações das commodities – com desdobramentos potenciais sobre a inflação – estará vinculada, nos próximos meses, a dois fatores distintos. Nesse sentido, enquanto a depreciação do dólar se constitui em vetor de alta para estes preços, o eventual arrefecimento do vigoroso crescimento registrado pelas importações chinesas de commodities no primeiro semestre de 2009 poderá, tendo em vista a relevância da demanda deste país neste mercado, provocar pressões de baixa.
A recuperação da economia mundial ocorre em ritmo mais intenso do que as perspectivas no momento do acirramento da crise internacional sugeriam. A continuidade deste movimento, mesmo no cenário de redução dos riscos de recuos da atividade econômica, segue dependente tanto da redução das incertezas quanto à qualidade dos ativos das instituições financeiras, quanto da retomada da demanda agregada nas principais economias, dependentes, ainda, dos impactos proporcionados pelas políticas de estímulos fiscal e monetário. Nesse sentido, ganha relevância a importância da superação do patamar relativamente elevado registrado pelas taxas de desemprego, em especial nos EUA.