Setembro 2010 | Relatório de Inflação | 51 As perspectivas de recuperação nas principais economias maduras não vêm se concretizando no ritmo esperado nos primeiros meses do ano, sendo a economia dos Estados Unidos da América (EUA) uma das maiores fontes de preocupação. Nesse cenário, em que persiste elevada ociosidade dos fatores de produção na economia global e as expectativas em relação à inflação seguem ancoradas, os bancos centrais das economias maduras e de importantes economias emergentes optaram por um ritmo mais moderado ou até mesmo pelo adiamento da normalização da política monetária. Nesse ambiente, os mercados financeiros experimentaram acentuada volatilidade no decorrer do trimestre encerrado em agosto, ressaltando-se o impacto, no ultimo mês do período, do aumento do sentimento de aversão ao risco provocado pela percepção de que o ritmo da retomada econômica mundial pode não ocorrer nos termos de projeções anteriores. Apesar do sentimento cauteloso em relação às economias maduras, ressaltem- se os movimentos de apreciação do dólar e do iene e o aumento da procura por títulos de longo prazo das maiores economias desenvolvidas. As cotações das commodities aumentaram desde o último Relatório de Inflação, destacando-se os impactos das restrições na oferta no segmento agrícola. Vale enfatizar, no entanto, que o mencionado choque de oferta, especialmente em países do Hemisfério Norte, até o momento não constituiu um determinante significativo da trajetória da inflação nas economias maduras e emergentes. 4.1 Atividade econômica As quatro maiores economias desenvolvidas voltaram a apresentar ritmo de crescimento diferenciado no segundo trimestre do ano. Entretanto, em oposição ao observado nos dois trimestres anteriores, as taxas anualizadas 4 Economia internacional
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Relatório de Inflação – Setembro 2010 · 52 | Relatório de Inflação | Setembro 2010 de expansão dos PIBs dos EUA, 1,6%, e do Japão, 1,5%, situaram-se em patamar inferior
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Setembro 2010 | Relatório de Inflação | 51
As perspectivas de recuperação nas principais economias maduras não vêm se concretizando no ritmo esperado nos primeiros meses do ano, sendo a economia dos Estados Unidos da América (EUA) uma das maiores fontes de preocupação. Nesse cenário, em que persiste elevada ociosidade dos fatores de produção na economia global e as expectativas em relação à infl ação seguem ancoradas, os bancos centrais das economias maduras e de importantes economias emergentes optaram por um ritmo mais moderado ou até mesmo pelo adiamento da normalização da política monetária.
Nesse ambiente, os mercados financeiros experimentaram acentuada volatilidade no decorrer do trimestre encerrado em agosto, ressaltando-se o impacto, no ultimo mês do período, do aumento do sentimento de aversão ao risco provocado pela percepção de que o ritmo da retomada econômica mundial pode não ocorrer nos termos de projeções anteriores. Apesar do sentimento cauteloso em relação às economias maduras, ressaltem-se os movimentos de apreciação do dólar e do iene e o aumento da procura por títulos de longo prazo das maiores economias desenvolvidas.
As cotações das commodities aumentaram desde o último Relatório de Infl ação, destacando-se os impactos das restrições na oferta no segmento agrícola. Vale enfatizar, no entanto, que o mencionado choque de oferta, especialmente em países do Hemisfério Norte, até o momento não constituiu um determinante signifi cativo da trajetória da infl ação nas economias maduras e emergentes.
4.1 Atividade econômica
As quatro maiores economias desenvolvidas voltaram a apresentar ritmo de crescimento diferenciado no segundo trimestre do ano. Entretanto, em oposição ao observado nos dois trimestres anteriores, as taxas anualizadas
4Economia internacional
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de expansão dos PIBs dos EUA, 1,6%, e do Japão, 1,5%, situaram-se em patamar inferior às relativas ao Reino Unido, 5,0%, e à Área do Euro, 3,9%, esta favorecida pelo crescimento de 9,1% registrado na Alemanha.
Nos EUA, embora a taxa anualizada de crescimento da renda real disponível atingisse 4,4% no trimestre encerrado em junho, o consumo das famílias aumentou 2%, fazendo com que a taxa de poupança das famílias crescesse 0,6 p.p., para 6,1% da renda disponível. Na Área do Euro, mesmo em ambiente de incertezas derivadas da crise de endividamento soberano e de gradual eliminação dos incentivos à aquisição de veículos, o consumo das famílias cresceu à taxa anualizada de 1,9%, a mais elevada desde o terceiro trimestre de 2007. No Japão, a exaustão de incentivos ao consumo de bens duráveis contribuiu para que o consumo registrasse redução anualizada de 0,1% no trimestre.
Os investimentos empresariais apresentaram ritmo de aceleração acentuado nos EUA, expresso em taxa anualizada de crescimento de 17,6% no trimestre encerrado em junho, segundo resultado positivo em sequência nesse tipo de comparação. Na Área do Euro, a formação bruta de capital fi xo apresentou crescimento anualizado de 7,5% no período, primeira expansão desde o primeiro trimestre de 2008, com ênfase na recuperação dos gastos com máquinas e equipamentos e na expansão da atividade da construção. No Japão, a taxa de crescimento anualizada dos investimentos atingiu 6,2% no período, terceiro resultado favorável consecutivo nesse tipo de análise, contrastando com o recuo de 6,4% observado no Reino Unido. Os investimentos residenciais variaram, respectivamente, 27,1% e -5,1%, nos EUA e no Japão, ressaltando-se que o resultado registrado nos EUA traduziu a prorrogação dos incentivos tributários à aquisição da primeira moradia.
A demanda externa exerceu contribuição de -3,4 p.p. para a variação anualizada do PIB dos EUA no segundo trimestre, contrastando com os impactos assinalados no Japão, 1,4 p.p., e na Área do Euro e no Reino Unido, ambos de 0,1 p.p. As exportações de bens e serviços registraram, no período, crescimentos anualizados de 25,8% no Japão, 18,6% na Área do Euro, 9,1% nos EUA e 4,3% no Reino Unido, enquanto as importações de bens e serviços variaram, respectivamente, 17,4%, 18,6%, 32,4% e 3,5%, nas economias mencionadas.
A produção manufatureira na Área do Euro registrou crescimento anualizado de 10,4% no segundo
Tabela 4.1 – Maiores economias desenvolvidasComponentes do PIB e outros indicadores
Taxa % anualilzada
2008 2009 2010
III IV I II III IV I II
PIB
Estados Unidos -4,0 -6,8 -4,9 -0,7 1,6 5,0 3,7 1,6
Área do Euro -1,8 -7,4 -9,8 -0,3 1,6 0,5 0,8 3,9
Reino Unido -3,5 -8,1 -9,0 -2,8 -1,0 1,7 1,3 5,0
Japão -4,8 -10,3 -16,4 9,7 -0,3 3,4 5,0 1,5
Consumo das famílias
Estados Unidos -3,5 -3,3 -0,5 -1,6 2,0 0,9 1,9 2,0
Área do Euro -0,2 -2,6 -2,2 0,3 -0,8 0,9 -0,4 1,9
Reino Unido -2,2 -6,0 -6,1 -1,6 -1,1 2,5 -0,5 3,0
Japão -0,6 -3,5 -5,6 5,4 2,6 2,8 2,2 -0,1
Investimento empresarial
Estados Unidos -8,6 -22,7 -35,2 -7,5 -1,7 -1,4 7,8 17,6
Área do Euro1/ -4,8 -15,1 -19,5 -5,7 -4,3 -4,6 -4,8 7,5
Reino Unido -8,6 -5,0 -34,8 -36,8 -1,5 -13,5 35,1 -6,4
Japão -13,3 -24,3 -30,9 -19,2 -6,7 6,8 3,2 6,2
Investimento residencial
Estados Unidos -22,6 -32,6 -36,2 -19,7 10,6 -0,8 -12,3 27,1
Área do Euro2/ -5,7 -7,6 -4,4 -4,6 -5,3 -5,6 -9,1 2,1
Reino Unido -23,5 -20,2 -30,2 -18,3 9,3 -21,1 -9,3 nd
Japão 18,9 11,9 -25,9 -33,2 -25,8 -11,0 1,2 -5,1
Exportações de bens e serviços
Estados Unidos -5,0 -21,9 -27,8 -1,0 12,2 24,4 11,4 9,1
Área do Euro -4,3 -26,0 -29,7 -4,5 12,0 7,3 8,8 18,6
Reino Unido -1,5 -15,5 -27,6 -6,3 2,8 16,9 -6,6 4,3
Japão -2,1 -45,9 -68,1 48,6 38,4 24,8 31,0 25,8
Importações de bens e serviços
Estados Unidos -0,1 -22,9 -35,3 -10,6 21,9 4,9 11,2 32,4
Área do Euro 0,3 -17,5 -28,4 -10,7 11,5 4,8 16,1 18,6
Reino Unido -5,0 -19,9 -27,2 -9,7 5,1 18,9 6,7 3,5
Japão 13,8 3,1 -53,8 -18,3 27,6 6,1 12,6 17,4
Gastos governamentais
Estados Unidos 5,3 1,5 -3,0 6,2 1,6 -1,4 -1,6 4,3
Área do Euro3/ 2,1 3,3 3,4 2,7 2,6 -0,6 0,8 1,9
Reino Unido 1,7 6,8 0,4 -3,6 7,8 2,4 8,6 nd
Japão -0,5 3,9 4,4 6,3 -0,5 1,4 1,2 -0,9
Produção manufatureira
Estados Unidos -10,4 -18 -20,9 -8,5 10,9 7,2 7,0 8,4
Área do Euro -8,2 -24 -32,5 -6,4 10,9 5,4 10,3 10,4
Reino Unido -7,6 -16 -19,5 -2,0 -3,6 1,4 6,4 4,8
Japão -12,3 -38,0 -59,3 28,9 22,8 25,9 30,9 6,2
Taxa de desemprego4/
Estados Unidos 6,2 7,4 8,6 9,5 9,8 10,0 9,7 9,5
Área do Euro 7,7 8,2 9,1 9,5 9,8 9,8 10,0 10,0
Reino Unido 5,9 6,4 7,1 7,8 7,9 7,8 8,0 7,8
Japão 4,0 4,4 4,8 5,3 5,3 5,2 5,0 5,3
Fontes: BEA, Cabinet Office e Eurostat
1/ Inclui investimentos com construções residenciais e investimentos públicos.2/ Gastos totais com contruções.3/ Exclusivamente gastos com consumo.4/ Taxa ao final do período.
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trimestre do ano; seguindo-se as expansões assinaladas nos EUA, 8,4%; no Japão, 6,2%; e no Reino Unido, 4,8%. Os setores industriais dessas economias haviam apresentado crescimentos anualizados de 10,3%, 7%, 30,9% e 6,4%, respectivamente, no trimestre encerrado em março.
Nesse cenário, o PMI relativo à atividade manufatureira7 das principais economias desenvolvidas, após ter alcançado, em abril, os níveis mais elevados desde 2006, experimentaram relativo arrefecimento, atingindo, em agosto, 56,3 pontos nos EUA; 55,1 na Área do Euro; 54,3 no Reino Unido; e 50,1 no Japão.
Na economia norte-americana, foram criados 194 mil postos de trabalho fora do governo federal8 no trimestre encerrado em agosto, ante 417 mil naquele fi nalizado em maio, com a taxa de desemprego atingindo 9,6%, ante 9,7% em maio. Na Área do Euro, a recuperação da atividade econômica se traduziu na geração de 143 mil postos de trabalho no trimestre encerrado em junho, primeiro resultado positivo desde o segundo trimestre de 2008, ante eliminação de 79 mil empregos no trimestre fi nalizado em março. A taxa de desemprego desta economia manteve-se estável em 10%, no período. No Japão e no Reino Unido, as respectivas taxas de desemprego situaram-se em 5,2% e 7,8%, em julho, registrando, na ordem, variações de 0,2 p.p. e -0,2 p.p. em relação a março.
Na China, a taxa de crescimento anual do PIB atingiu 10,3% no trimestre encerrado em junho, ante 11,9% naquele fi nalizado em março. Embora o crescimento anual das vendas reais do varejo tenha acelerado para 17,5%, a expressiva desaceleração das vendas de veículos – de 72,5%, no primeiro trimestre, para 29% – sugere arrefecimento da demanda por bens de consumo. A expansão anualizada da Formação Bruta de Capital Fixo atingiu 20,1%, recuando pelo quarto trimestre consecutivo, enquanto o crescimento trimestral anualizado da produção industrial totalizou 15,9%. As exportações reduziram o ritmo de crescimento para 28,8% e as importações, infl uenciadas, também, pela exaustão das políticas de acumulação dos estoques de commodities, recuaram 1,4%, na mesma base de comparação. Considerando o enfraquecimento da demanda doméstica e as perspectivas de desaceleração do crescimento do comércio internacional, as autoridades chinesas divulgaram, em
7/ Os PMIs referentes à Área do Euro, Reino Unido e Japão são fornecidos pela Markit e o relativo aos EUA, pelo Institute for Supply Management (ISM).8/ Dado o efeito de contratações temporárias de trabalhadores para o censo no país, a partir de fevereiro, e posterior dispensa, a variação do número de pessoas
empregadas, excluindo-se o governo federal, representa melhor medida do comportamento do mercado de trabalho entre os dois primeiros trimestres de 2010.
1/ Inclui vendas a empresas.2/ Taxa de desemprego urbano ao final do período.
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julho, medidas suplementares de estímulo a investimentos em infraestrutura envolvendo cerca de US$100 bilhões, e à demanda doméstica por veículos9.
4.2 Política monetária e inflação
A trajetória favorável da infl ação nas principais economias maduras, onde em alguns casos, emergem até mesmo preocupações com defl ação, em cenário de taxas de desemprego ainda elevadas, permitiu aos respectivos bancos centrais manter os incentivos monetários criados durante a crise fi nanceira. Na Ásia e América Latina, o comportamento dos preços das commodities – mesmo com o fortalecimento da demanda interna e redução do hiato do produto – até o momento não vem exercendo pressões relevantes sobre os preços ao consumidor, permitindo às respectivas autoridades monetárias a adoção de um ritmo mais moderado, ou mesmo o adiamento, na normalização da política monetária.
Nos EUA, a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) atingiu 1,2% em julho, ressaltando-se que a variação anual do núcleo do IPC, que exclui energia e alimentos, mantém-se em 0,9% há quatro meses, menor patamar desde 1966. A trajetória da infl ação, em cenário de recuperação da atividade econômica mais frágil do que a prevista há alguns meses e de elevada ociosidade dos fatores de produção, contribuiu para que o Federal Reserve (Fed) mantivesse, em agosto, os limites da banda de fl utuação da meta para os Fed funds em 0% e 0,25%. Adicionalmente, para prover estímulos adicionais à economia doméstica, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) anunciou, em 10 de agosto, a manutenção do volume de ativos em seu balanço, reinvestindo em treasuries de longo prazo os recursos gerados com o vencimento de títulos lastreados em hipotecas das agências Fannie Mae e Freddie Mac.
No Reino Unido, a variação anual do IPC segue acima do teto da meta desde janeiro, apesar do amplo hiato do produto, mas se encontra em declínio desde maio, atingindo 3,1% em julho, ante 3,7% em abril. O Banco da Inglaterra (BoE) manteve inalterado o programa de compra de ativos, em £200 bilhões, e a taxa de juro básica, em 0,5% a.a. Vale mencionar que embora as expectativas infl acionárias de médio prazo tenham passado a incorporar o impacto da elevação de 2,5 p.p., para 20%, do imposto sobre o valor agregado, anunciada para janeiro de 2011, as
9/ Entre as medidas de estímulo à indústria automotiva, destaque-se o subsídio de 3 mil yuans para compra de veículos de menor cilindrada, com maior efi ciência energética.
-3
-1
1
3
5
7
9
Jan2007
Jul Jan2008
Jul Jan2009
Jul Jan2010
Jul
EUA Área do Euro JapãoReino Unido China
Gráfico 4.3 – Inflação ao consumidorVariação anual%
Fontes: BLS, Eurostat, Bloomberg e ONS
-30
-20
-10
0
10
20
30
Out2007
Jan2008
Abr Jul Out Jan2009
Abr Jul Out Jan 2010
Abr Jul
EUA Área do EuroJapão Reino Unido
Fonte: Thomson
Gráfico 4.5 – Inflação de energiaVariação anual%
012345678
Ago2008
Nov Fev 2009
Mai Ago Nov Fev 2010
Mai Ago
Gráfico 4.4 – Taxas de juros oficiaisTaxas anuais%
EUA Área do Euro Reino Unido
Japão China
Fontes: Fed, BCE, BoJ, Banco da Inglaterra e Banco do Povo da China
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expectativas de mercado são de que a variação do IPC volte a respeitar os limites da meta no horizonte de dois anos.
Na Área do Euro, a variação anual do IPC, infl uenciada pela alta de 6,1% do preço da energia, atingiu 1,6% em agosto, ante 1,7% em julho, mantendo-se na zona de conforto de 1% a 2%. A variação anual do núcleo do IPC mantém-se em torno de 1% desde meados de 2009. O Banco Central Europeu (BCE) manteve, em setembro, a taxa básica de juro em 1% a.a. Adicionalmente, em resposta à persistência do estresse fi nanceiro nos mercados europeus, o BCE, diferentemente do anunciado no primeiro trimestre, comunicou, em 10 de junho, que novas operações de refi nanciamento de três meses serão realizadas com taxa fi xa e sem restrição de volume.
No Japão, o cenário de tímida recuperação da demanda interna, valorização do iene e redução na taxa de crescimento das exportações não favorece a redução do hiato do produto e segue exercendo pressões de baixa sobre o nível de preços. Nesse ambiente, em que a variação do IPC acumulada em doze meses atingiu -0,9% em julho, o Banco do Japão (BoJ) manteve a taxa básica em 0,1% a.a. e anunciou, em meados de junho, novo programa de assistência fi nanceira, envolvendo ¥3 trilhões, com o objetivo de ampliar a liquidez do sistema fi nanceiro e facilitar a oferta de crédito ao segmento corporativo. Esses empréstimos serão ofertados à taxa de 0,1% a.a., com vencimento de 1 ano, podendo ser rolados por até três períodos. Adicionalmente, em reunião extraordinária ao fi nal de agosto, o BoJ ampliou, de ¥20 trilhões para ¥30 trilhões, a linha de crédito emergencial para o mercado fi nanceiro. Diferentemente dos recursos já concedidos por prazo trimestral, os atuais empréstimos serão feitos com vencimento de seis meses.
Na China, embora o índice de infl ação anual ao consumidor, em trajetória de aceleração desde meados de 2009, tenha atingido 3,3% em julho, as expectativas infl acionárias seguem infl uenciadas pelas desacelerações observadas nas economias local e global. Ressalte-se, ainda, que a evolução recente do IPC chinês esteve condicionada pelos aumentos nos preços de alimentos, que refl etiram os efeitos das restrições de oferta decorrentes de chuvas e inundações em áreas de plantio. O Banco do Povo da China (BPC) manteve inalteradas as taxas de juros básicos, em 5,31% a.a., e de recolhimento compulsório, em 17% para grandes instituições e 15% para aquelas de menor porte. Vale ressaltar que, mesmo mantendo o caráter acomodatício de sua política monetária, o BPC, visando evitar a elevação dos preços de imóveis e a formação de nova bolha imobiliária nas grandes cidades, restringiu o acesso ao crédito imobiliário.
-4048
12162024
Jan2007
Jul Jan2008
Jul Jan2009
Jul Jan2010
Jul
EUA Área do Euro JapãoReino Unido China
Gráfico 4.6 – Inflação de alimentos1/
Variação anual%
Fonte: Thomson 1/ Para Área do Euro e Reino Unido, dado inclui bebidas alcoolicas e tabaco.
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4.3 Mercados financeiros internacionais
A evolução dos mercados financeiros esteve condicionada, no decorrer do trimestre encerrado em agosto, pelas expectativas em relação à sustentabilidade da retomada econômica nos EUA e, em menor escala, pelo desempenho da economia da China. Os principais indicadores do mercado fi nanceiro internacional mostraram volatilidade substancial bem como evidências de elevada aversão ao risco, provocadas pela percepção de que a retomada da economia global ocorria em menor intensidade do que a prevista anteriormente.
Os prêmios dos Credit Default Swaps (CDS) de bancos da Europa e dos EUA seguiram pressionados no trimestre encerrado em agosto. Na Europa, os receios sobre a exposição de grandes bancos em mercados de países com alto risco de default soberano recuaram após a divulgação dos resultados dos testes de estresse aplicados aos principais bancos da região. Adicionalmente, o bom desempenho dos balanços das instituições financeiras divulgados no período, em especial de grandes bancos dos EUA, favoreceram o aumento da confi ança no setor. No entanto, o recrudescimento das dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento econômico nas maiores economias e a persistência de desconfi anças sobre a sustentabilidade fi scal de algumas economias europeias proporcionaram novo ciclo de alta nos CDS do segmento bancário ao longo de agosto. No trimestre, os prêmios médios exigidos para os cinco maiores bancos europeus e norte-americanos, por critério de capitalização de mercado, após terem recuado, na ordem, para 103 p.b. e 115 p.b., em 8 de agosto, atingiram 140 p.b. e 160 p.b., respectivamente, ao fi nal do mês.
Os principais mercados acionários alternaram movimentos de alta, infl uenciados pelos bons resultados corporativos, e de retração, em resposta à frustração quanto à intensidade da recuperação das economias norte-americana e de preocupações com o desempenho da chinesa. Nesse cenário, os índices Standard and Poor's 500 (S&P 500), dos EUA;Financial Times Securities Exchange Index (FTSE 100), do Reino Unido; e Deutscher Aktienindex (DAX), da Alemanha, após acumularem ganhos respectivos de 3,5%, 4,3% e 6,5% entre o fi nal de maio e 9 de agosto, registraram, na ordem, variações de -3,7%, 0,7% e -0,7%, no trimestre. O índice Nikkei, do Japão, infl uenciado, adicionalmente, pelo refl exo da valorização do iene sobre as ações das empresas exportadoras, apresentou tendência de baixa ao longo de todo o trimestre, acumulando perda de 9,7% no período.
60
90
120
150
180
22.72008
30.9 9.12 17.22009
28.4 7.7 15.9 24.11 2.22010
13.4 22.6 31.8
EUA (S&P500) Reino Unido
Japão Alemanha
Gráfico 4.8 – Bolsas de valores: EUA, Europa e Japão 31.12.2003 = 100
Fonte: Bloomberg
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10
20
30
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26.102007
24.32008
19.8 14.12009
11.6 6.11 5.42010
31.8
Fonte: Thomson
Gráfico 4.9 – VIX
0
80
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240
320
400
6.22009
31.3 21.5 13.7 2.9 23.10 15.12 4.22010
29.3 19.5 9.7 31.8
Bancos Europa Bancos EUAFonte: Thomson1/ Calculado pela média aritmética dos prêmios de CDS dos cinco maiores
bancos dos EUA e da Europa pelo critério de capitalização de mercado.Por tratar-se de amostra não aleatória, pode não refletir o comportamentodo sistema financeiro como um todo.
Gráfico 4.7 – Prêmios CDS 5 anos – Principais bancos1/
p.b.
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O Chicago Board Options Exchange Volatility Index(VIX) – que mede a volatilidade implícita de curto prazo do índice S&P 500 e constitui importante indicativo da aversão ao risco – atingiu 26,1 p.b no fi nal de agosto, ante 32,1 p.b. no fi nal de maio. Ressalte-se que a média do indicador totalizou 26,8 p.b. no trimestre terminado em agosto, ante 22,2 p.b. naquele fi nalizado em maio.
Evidenciando as perspectivas mais otimistas quanto à evolução de suas economias, os mercados acionários emergentes registraram ganhos ao longo do trimestre encerrado em agosto. No período, os índices Korea Composite Stock Price Index (Kospi), da Coreia do Sul; Bombay Stock Exchange Sensitive Index (Sensex), da Índia; Ibovespa, do Brasil; e Shanghai Composite, da China acumularam altas respectivas de 6,2%, 6,1%, 3,3% e 1,8%.
A perspectiva de continuidade de políticas monetárias acomodatícias nas maiores economias desenvolvidas e a procura por ativos de menor risco continuaram impulsionando os preços dos títulos de longo prazo das economias maduras. Os rendimentos anuais dos títulos de dez anos seguiram recuando, com os papéis alemães atingindo, em 31 de agosto, mínima histórica de 2,12%, e os dos EUA, 2,47%, menor rendimento desde junho de 2008.
Os prêmios de risco soberano de países europeus com maiores difi culdades fi scais, medidos através dos seus CDS de cinco anos, seguiram em alta durante o trimestre encerrado em agosto. Entre os fi nais de maio e de agosto, os CDS soberanos da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha aumentaram, na ordem, 263 p.b., 120 p.b., 40 p.b. e 25 p.b., enquanto o CDS soberano do Brasil recuou 4 p.b. Apesar do aumento da aversão ao risco ter impactado negativamente a demanda por ativos de países emergentes em agosto, no trimestre encerrado nesse mês, o indicador de risco soberano Emerging Markets Bonds Index Plus (Embi+) recuou 18 p.b., para 299 p.b. Ressalte-se que o índice associado ao Brasil recuou, no mesmo período, 2 p.b.
O dólar dos EUA acumulou, no trimestre encerrado em agosto, depreciações em relação ao euro, 2,9%; à libra esterlina, 5,3%; e ao iene, 7,7%, ressaltando-se que, especificamente em agosto, em resposta ao ambiente de aumento da aversão ao risco, a moeda dos EUA experimentou apreciações em relação ao euro, 2,2%, e à libra esterlina, 2,9%, mas sofreu depreciação de 2,6% ante o iene. Vale registrar que, em 24 de agosto, o iene atingiu a menor cotação por dólar (ou seja, maior nível) dos últimos quinze anos.
100
170
240
310
380
13.52008
22.7 30.9 9.12 17.22009
28.4 7.7 15.9 24.11 2.22010
13.4 22.6 31.8
Brasil Coreia do Sul Índia China
Gráfico 4.10 – Bolsas de valores: mercados emergentes31.12.2003 = 100
Fonte: Bloomberg
2
3
4
5
16.92008
26.11 5.22009
17.4 29.6 8.9 18.11 28.12010
9.4 21.6 31.8
EUA Alemanha Reino Unido
Fonte: Bloomberg
Gráfico 4.11 – Retorno sobre títulos governamentais -10 anos% a.a.
0
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10.22009
14.4 16.6 18.8 20.10 22.12 23.22010
27.4 29.6 31.8
Brasil Espanha GréciaPortugal Irlanda
Fonte: Thomson
Gráfico 4.12 – CDS Soberanos 5 anosp.b.
0
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10.22009
14.4 16.6 18.8 20.10 22.12 23.22010
27.4 29.6 31.8
África do Sul Brasil RússiaTurquia México
Fonte: Bloomberg
Gráfico 4.13 – Emerging Markets Bond Index Plus(Embi+) – Paísesp.b.
58 | Relatório de Inflação | Setembro 2010
Em relação às moedas de mercados emergentes, o dólar dos EUA acumulou, no período, depreciações em relação ao real, 3,6%; à lira turca, 3,1%; e ao rublo russo, 0,3%; e apreciação de 1,6% ante a rúpia indiana. Especifi camente em agosto, o dólar registrou apreciações respectivas de 0,1%, 1,2%, 2% e 1,4%, em relação às moedas mencionadas.
4.4 Commodities
Os preços internacionais das commodities, após recuarem acentuadamente em maio, apresentaram elevada volatilidade no trimestre encerrado em agosto, traduzindo as incertezas inerentes à crise fi scal na Europa, ao ritmo de recuperação da economia dos EUA e ao desempenho da economia da China. As commodities agrícolas registraram valorização acentuada no trimestre, movimento que, em parte, refl ete o impacto de adversidades climáticas em diversas regiões do mundo. O índice Commodity Research Bureau (CRB) registrou valorização de 7,1% no trimestre encerrado em agosto. Consideradas médias trimestrais, o indicador registrou variações respectivas de -0,8% e 16,7%, em relação aos trimestres fi nalizados em maio de 2010 e em agosto de 2009.
De acordo com o índice S&P Goldman Sachs Commodity Index (GSCI), da Standard & Poor ’s em conjunto com o Goldman Sachs, os preços das commoditiesregistraram valorização de 2,2% no trimestre encerrado em agosto, registrando-se variações respectivas de 27,1%, 4,4% e -2,6% nos segmentos de commodities agrícolas, metálicas e energéticas.
A evolução do índice relativo às commoditiesagrícolas refl etiu, em especial, a valorização de 42,5% registrada no contrato futuro para primeira entrega de trigo, negociado na Chicago Board of Trade (CBT), movimento associado à forte estiagem que afetou áreas de cultivo na Rússia, Ucrânia e Cazaquistão. Também na bolsa de Chicago, os contratos para primeira entrega de soja e milho assinalaram, no mesmo período, valorizações respectivas de 7,5% e 18,2%, refletindo problemas climáticos em alguns países produtores e, principalmente, o aumento das importações desses produtos pela China. Os contratos futuros para primeira entrega de açúcar e café, negociados na Intercontinental Exchange de Nova York (ICE), registraram altas respectivas de 39,2% e 31,7%, em cenário de reduzidos estoques mundiais e restrições de oferta.
70
80
90
100
110
120
130
140
11.122008
11.32009
9.6 7.9 4.12 4.32010
2.6 31.8
Libra/dólar Euro/dólar Iene/dólar
Gráfico 4.14 – Cotações do dólar1.6.2005 = 100
Fonte: Bloomberg
60
70
80
90
100
110
120
130
140
10.92008
9.12 9.32009
4.9 3.9 2.12 2.32010
31.5
Rublo/dólar Real/dólarRúpia/dólar Lira/dólar
Gráfico 4.15 – Moedas de países emergentes1.6.2005 = 100
Fonte: Bloomberg
110
120
130
140
150
160
170
180
190
2.12009
11.3 18.5 23.7 29.9 4.12 10.22010
19.4 24.6 31.8
Gráfico 4.16 – Índice CRBJan/2003 = 100
Fonte: Commodity Research Bureau
100
150
200
250
300
350
2.12009
11.3 18.5 23.7 29.9 4.12 10.22010
19.4 24.6 31.8
Agrícolas Metais EnergéticasFonte: S&P GSCI
Gráfico 4.17 – Índice de preço de commoditiesJan/2003 = 100
Setembro 2010 | Relatório de Inflação | 59
Em relação às commodities metálicas, registraram-se, de acordo com a London Metal Exchange (LME), elevações trimestrais nos preços do estanho, 17,9%; chumbo, 12%; cobre, 7,5%; zinco, 6,8%; e alumínio, 1,5%. O preço do minério de ferro de teor 63,5% subiu 2% no mercado à vista chinês, no trimestre, segundo o Metal Bulletin, mesmo após recuar 16,8% até o dia 16 de julho.
As cotações médias dos barris de petróleo dos tipos Brent e WTI aumentaram, respectivamente, de US$76,25 e US$73,74, em maio, para US$76,69 e US$76,60 em agosto. Incorporando perspectivas menos otimistas quanto à evolução da economia mundial para o restante de 2010 e para 2011, o DOE reduziu as previsões de preços médios do barril do tipo WTI relativas aos últimos trimestres de 2010 e de 2011 para US$81,33 e US$85,00, respectivamente, ante US$84,00 e US$87,00, no relatório de maio.
4.5 Conclusão
As economias emergentes seguem registrando ritmo de crescimento mais intenso do que as maduras, com ênfase na sustentação proporcionada pelo fortalecimento de suas demandas domésticas. Persistem, contudo, preocupações em relação ao desempenho da economia chinesa. Além disso, a retomada da economia norte-americana vem ocorrendo em ritmo menos intenso do que o desenhado anteriormente, contribuindo para os aumentos da volatilidade nos mercados fi nanceiros e do sentimento de aversão ao risco.
Nesse ambiente em que os fatores de produção registram ociosidade acentuada em escala global, as perspectivas em relação à evolução da infl ação permanecem benignas nas economias maduras, e em alguns casos emergem preocupações com a deflação. Dessa forma, pressões inerentes às elevações nos preços das commoditiesnão constituem, até o momento, restrição à manutenção da postura acomodatícia dos bancos centrais em importantes economias maduras e emergentes.