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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Gabriel Ferraz Rubinger de Queiroz UM ESTUDO DIRIGIDO SOBRE A RELATIVIDADE DOS CAMPOS ELÉTRICO E MAGNÉTICO Belo Horizonte 2016
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · Este suplemento foi passado a todos os participantes da oficina; e também aos (dois) não participantes que contribuíram

Nov 10, 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

Gabriel Ferraz Rubinger de Queiroz

UM ESTUDO DIRIGIDO SOBRE A RELATIVIDADE DOS CAMPOS ELÉTRICO E

MAGNÉTICO

Belo Horizonte

2016

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Gabriel Ferraz Rubinger de Queiroz

UM ESTUDO DIRIGIDO SOBRE A RELATIVIDADE DOS CAMPOS ELÉTRICO E

MAGNÉTICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ensino de Ciências e Matemática.

Orientador: Prof. Dr. Lev Vertchenko

Área de concentração: Física

Belo Horizonte

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Queiroz, Gabriel Ferraz Rubinger de

Q3e Um estudo dirigido sobre a relatividade dos campos elétrico e magnético /

Gabriel Ferraz Rubinger de Queiroz. Belo Horizonte, 2016.

170 f. : il.

Orientador: Lev Vertchenko

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática.

1. Física - Estudo e ensino. 2. Eletrodinâmica. 3. Relatividade (Física). 4.

Eletromagnetismo. 5. Estudo dirigido. 6. Feynman, Richard P. (Richard Phillips),

1918-1988 - Crítica e interpretação. 7. Vygotsky, Lev Semionovich, 1896-1934. -

Crítica e interpretação. I. Vertchenko, Lev. II. Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática.

III. Título.

CDU: 53:37.02

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Gabriel Ferraz Rubinger de Queiroz

UM ESTUDO DIRIGIDO SOBRE A RELATIVIDADE DOS CAMPOS ELÉTRICO E

MAGNÉTICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ensino de Ciências e Matemática.

Área de concentração: Física

______________________________________________________________

Prof. Dr. Lev Vertchenko - PUC Minas (Orientador)

______________________________________________________________

Profa. Dr

a. Júlia Esteves Parreira - PUC Minas (Banca Examinadora)

______________________________________________________________

Profa. Dr

a. Adriana Gomes Dickman - PUC Minas (Banca Examinadora)

Belo Horizonte, 31 de março de 2016.

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Ao meu irmão Felipe.

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AGRADECIMENTOS

A Deus que, através de pessoas humanas e de Sua Infinita Bondade, amparou-me na

elaboração e finalização deste trabalho.

A todos que, de algum modo, ajudaram-me nesta “maratona”.

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RESUMO

Este trabalho aborda um texto de um renomado físico norte-americano, cujo tema é a conexão

intrínseca entre a Teoria da Relatividade Especial (TRE) e o Eletromagnetismo Clássico, isto é,

alguns elementos introdutórios de Eletrodinâmica Relativística. O físico mostra que os efeitos

relativísticos de dilatação temporal e contração de Lorentz estão naturalmente contidos no

contexto da Teoria Eletromagnética, mesmo se a velocidade entre referenciais inerciais for

muito baixa. Assim, sob a ótica da TRE, campos e forças elétricas e magnéticas tornam-se

grandezas e conceitos completamente relativos; porém, as equações de Maxwell se preservam

(não necessitando de correção relativística) em qualquer destes referenciais. A invariância da

carga elétrica elementar, junto ao princípio de conservação da carga (além dos efeitos citados

acima), leva o cientista a concluir pela compatibilidade entre TRE e Eletromagnetismo. Isto é

destacado a partir de abordagem teórica, clássica, das forças atuantes numa carga de prova, em

distintos referenciais inerciais – o que, para curtos intervalos de tempo, está de acordo com os

postulados de Einstein. Nosso propósito consistiu em elaborar um material pedagógico para

estudo dirigido, baseado no texto do cientista, a fim de ser aplicado em curso superior de Física

ou afim. Os pressupostos teórico-pedagógicos adotados provêm de uma obra de importantes

estudiosos da Pedagogia (relacionada ao ensino superior) e também de ideias e pensamentos

atribuídos à Teoria histórico-social e a um de seus principais pensadores. Estes fundamentos

pedagógicos permitiram, por exemplo, justificar a importância de pré-requisitos para o

estudo/leitura do texto do físico, assim como de uma potencial discussão a respeito de noções

significativas deste. O texto, no idioma português, foi aplicado para a leitura em uma “oficina”

com alunos universitários. Nesta, também se passou um material experimental, contendo

questões sugeridas e uma errata daquele. Infelizmente, não houve tempo suficiente para a

tentativa de resolução destas questões – o que se propôs como atividade extraclasse. Mas os

participantes do encontro fizeram a leitura de texto; e se iniciou o diálogo sobre alguns aspectos

relevantes do tema contido. Antes da leitura, foram preenchidos pré-saberes faltantes

relacionados à TRE. Como não se recebeu nenhum conjunto de respostas esperadas às questões

(devido a problemas encontrados), julgou-se útil a produção de questionário a fim de avaliar o

material e a aplicação; este foi respondido apenas por dois participantes. Outras duas pessoas,

que não estiveram na oficina, também auxiliaram neste trabalho, ao fazer a leitura do texto,

resolver parcialmente as questões e responder o questionário. Foram feitas algumas

modificações no material aplicado. Elaborou-se, ainda, um documento suplementar com

respostas às questões sugeridas e considerações sobre importantes aspectos do texto – ou

correlatos –, documento que pode ser valioso para o autoestudo do leitor, para correção das

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questões e esboço de discussão com estudantes. Este suplemento foi passado a todos os

participantes da oficina; e também aos (dois) não participantes que contribuíram com este

trabalho. Os resultados (dados) coletados no questionário indicam que o aqui proposto tem

potencial em ser eficiente numa futura aplicação, auxiliando o estudo/compreensão do texto em

questão. Além disso, foram levantadas humildes sugestões para o aprimoramento da oficina e

algumas recomendações para a aplicação do material e discussão de texto.

Palavras-chave: Ensino de Física. Ensino superior. Ensino de ciências e Matemática.

Eletrodinâmica Relativística. Relatividade dos campos elétrico e magnético. Feynman. Teoria

da Relatividade Especial. Eletromagnetismo. Material pedagógico. Estudo dirigido. Bordenave

e Pereira. Vygotsky. Teoria Histórico-social.

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ABSTRACT

This work addresses a text of a renowned American physicist, whose theme is the connection

between the Special Theory of Relativity (STR) and the Classical Electromagnetism, that is,

some introductory elements of Relativistic Electrodynamics. The physicist shows that the

relativistic effects of time dilation and Lorentz contraction are naturally inserted in the scope of

Electromagnetic Theory, even if the velocity between inertial frames is very low. Thus, from

the perspective of STR, magnetic and electric fields and forces become completely relative

concepts; however, Maxwell´s equations remain with the same mathematical form (do not

require relativistic correction) in any of these frames. The invariance on the elementary electric

charge and the principle of charge conservation (in addition to the effects mentioned above),

allow the scientist to conclude that STR and Electromagnetism are compatible. This is

highlighted from a classical theoretical approach of the forces acting on a test charge (in

different inertial frames) – which, for short time intervals, is in accordance with Einstein´s

postulates. Our purpose has been to develop a pedagogical material for the study to be guided

by a Professor, material based on the scientist’s text, for use in undergraduate Physics course (or

similar). The pedagogical assumptions are from a work of important scholars of the Pedagogy

(related to higher education) and also from thoughts and ideas of the Sociocultural theory and

one of its leading thinkers. These pedagogical foundations allowed, for example, justify the

importance of prerequisites for study/reading of the text, as well as a potential dialogue about

relevant textual notions. The text, in Portuguese, has been applied for reading during a

“workshop” with university students. The material prepared has also been delivered, containing

errata and proposed questions. Unfortunately, there was not enough time to the attempt to solve

these questions – which has been proposed as homework. However, the text reading has been

made by the meeting participants; and a dialogue on some relevant notions of the text has

started. The prior knowledge, concerning STR, has been exposed before the reading. We have

received no answers to the questions (due to the problems faced); therefore, we have thought it

would be valuable make a questionnaire in order to evaluate the material and the meeting –

which was answered only by two participants. Two other individuals, who were not in the

workshop, have also helped our work: they have read the text, partially resolving the questions

and answering our questionnaire. Some modifications have been done on the applied material.

In addition, it is produced a document with answers to the suggested questions and

considerations about important notions on the text – or correlated –, which may be valuable to

the self-study, to correct questions and help on discussion with students. This supplement has

been delivered to the workshop participants and to the (two) non-participants who contributed

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to this research. The information collected from the evaluation questionnaire indicates that our

proposal has potential to be efficient in a future application, assisting the study/comprehension

of the text. Moreover, humble suggestions for the workshop improvement and some

recommendations regarding the material application (and discussion of the text) have been

raised.

Keywords: Physics Education. Higher Education. Mathematics and science Education.

Relativistic Electrodynamics. Relativity of magnetic and electric fields. Feynman. Special

Theory of Relativity. Electromagnetism. Pedagogical material. Bordenave and Pereira.

Vygotsky. Sociocultural Theory.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO…………………...………………...………………………………...….15

1.1 Motivações.........................................................................................................................15

1.2 Justificativas......................................................................................................................17

1.3 O conteúdo desta dissertação...........................................................................................27

2 REFERENCIAIS TEÓRICO-PEDAGÓGICOS..........................................................29

2.1 Justificativas para a escolha de referenciais teórico-pedagógicos...............................29

2.2 Ideias orientadoras de Bordenave e Pereira..................................................................31

2.3 Vygotsky e a Teoria Histórico-social...............................................................................37

3 METODOLOGIA.............................................................................................................43

3.1 A ideia de uma oficina.....................................................................................................43

3.2 Aplicação da oficina.........................................................................................................48

3.2.1 Exposição teórica...........................................................................................................48

3.2.2 Leitura de texto...............................................................................................................63

3.2.3 Discussão do texto (resolução de dúvidas)....................................................................65

3.3 A proposta de um questionário avaliativo.....................................................................68

3.3.1 Elaboração do questionário...........................................................................................69

3.3.2 Aplicação do questionário...............................................................................................70

3.3.3 Análise de dados..............................................................................................................72

3.4 Principais dificuldades encontradas neste trabalho.....................................................74

3.5 Avaliação de respostas do formulário avaliativo e algumas sugestões para o

aprimoramento da oficina...............................................................................................77

3.6 Algumas modificações no material e suas possíveis potencialidades..........................81

3.6.1 Considerações ao estudante............................................................................................81

3.6.2 Questões propostas..........................................................................................................82

3.6.3 Errata..............................................................................................................................85

3.7 Comentários sobre a elaboração do material: algumas justificativas e descrições....86

3.7.1 A Introdução ao estudante...............................................................................................86

3.7.2 Errata..............................................................................................................................87

3.7.3 Questões propostas..........................................................................................................88

3.7.4 Material suplementar......................................................................................................94

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................97

4.1 Resumo geral....................................................................................................................97

4.2 Considerações sobre a eficácia da oficina.....................................................................99

4.3 Considerações para trabalhos futuros.........................................................................105

REFERÊNCIAS............................................................................................................109

APÊNDICE A – Material elaborado e Suplemento....................................................113

APÊNDICE B – Conjunto de respostas recebidas para o questionário (formulário)

avaliativo elaborado.......................................................................................................163

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1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação discorre a respeito de uma proposta de ensino-aprendizagem, para o

nível superior, que tem como base um texto de Richard Phillips Feynman (1918 - 1988). O

texto aborda elementos introdutórios de Eletrodinâmica Relativística, tema que geralmente

está ausente em várias coleções de Física básica, para o nível abordado. Analogamente, a

literatura disponível – sobre as pesquisas em ensino deste tema –, para o nível superior, é

escassa (ou quase inexistente). Tendo contato com o texto em uma disciplina deste curso (de

Mestrado), o autor julgou-o bem interessante e rico, haja vista a relativa simplicidade e

profundidade da discussão dada pelo físico. Isto atuou, até certo ponto, como circunstância

inicial para este trabalho.

1.1 Motivações

A motivação para o trabalho ocorre devido a alguns fatores. Os principais seriam a

admiração do autor por alguns dos grandes nomes da Física, como Albert Einstein (1879 -

1955) e Richard Feynman; e, também, o contínuo interesse em temas fascinantes da Física

Moderna – como, por exemplo, a Teoria da Relatividade Especial (TRE) – e em sua história.

Um dos objetivos do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática é a

elaboração de um material didático – em nosso caso uma proposta para o ensino de Física –

com o intuito de auxiliar, de alguma forma, estudantes e/ou professores. Assim, a

possibilidade de que a proposta, e também esta dissertação, coopere neste sentido é uma

grande fonte motivacional.

Por estar, frequentemente, a ler e estudar livros ou artigos dos físicos matemáticos

anteriormente citados e, de modo análogo, materiais (tanto técnicos como de divulgação)

relacionados à Física Moderna, o autor decidiu, por bem, abordar algum assunto interligado à

Teoria da Relatividade Especial neste trabalho. Embora o autor, atualmente, não tenha

experiência em lecionar o tema, no nível em que é aqui abordado, seu Trabalho de Conclusão

de Curso (de graduação) versou a respeito desta teoria, com a consequente aplicação de uma

proposta – para o ensino médio – em uma escola estadual de Belo Horizonte, Minas Gerais,

no primeiro semestre de 2011. A monografia deste trabalho intitulou-se Ensino de conceitos

fundamentais da Teoria de Relatividade Restrita através de seminários para o Ensino Médio

(Queiroz, 2011). Assim, a presente dissertação e o material a ela relacionado consistem, até

certo ponto, no desejo do autor em dar continuidade, dar uma maior vazão em seus estudos

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sobre tópicos de Física Moderna; o que equivale a dizer que também tem por finalidade um

maior conhecimento de conteúdo, tanto em seus aspectos formais, conceituais, históricos etc.,

quanto ao que diz respeito às noções pedagógicas estudadas.

Dessa forma, o autor espera que o fluxo de estudos dos últimos anos, esta continuação

(em boa parte feita isoladamente, mas com os valiosos ensinamentos e indicações de leitura

de seu orientador), tenha contribuído, de uma maneira ou de outra, na produção de um fruto –

este trabalho em sua totalidade. Enfim, este fruto pode não estar muito bem desenvolvido,

mas a possibilidade de que seja utilizado, adaptado, aprimorado, por outros (e/ou até sirva

como referência, indicação de leitura), já traz satisfação e indicação de sua validade.

Nossa proposta didático-pedagógica consiste em material elaborado para o ensino

superior, direcionado aos estudantes, professores de Física ou a qualquer leitor que deseje

estudá-lo e dele retirar algum proveito. Mas cremos que a proposta seja mais significativa

para o curso superior de Física, o que se deve principalmente ao fato de que (para que o leitor

possa obter algum proveito no material) são necessários pré-requisitos, isto é, conhecimentos

prévios para uma leitura ativa de um texto de Feynman (destacados mais adiante). Estes

conhecimentos – no que se refere à Teoria da Relatividade Especial – são geralmente mais

abordados em cursos de Física e Astronomia, e devem ser preenchidos tanto pelo estudante

quanto pelo professor que desejar utilizar o material com seus alunos.

O texto, aqui enfocado, está presente na coleção Lições de física de Feynman

(Feynman; Leighton; Sands, 2008), em tradução para a língua portuguesa brasileira. Este

texto, denominado ‘A relatividade dos campos magnéticos e elétricos’, está na edição

definitiva (brasileira) desta coleção, no volume II, capítulo 13: Magnetostática; e corresponde

à seção 13-6.

A preparação da proposta também foi estimulante, pois elaborar uma espécie de

material de ensino contribuiu muito nos estudos, leituras etc., do autor deste documento. Dada

a importância do tema do texto em questão – e sua relevância para o ensino –, o que se tentará

justificar adiante, buscou-se estratégia útil, válida, para seu enfoque pedagógico. A que

cremos mais adequada foi uma espécie de estudo dirigido, proposta por Bordenave e Pereira

(2015). Estes autores destacam o claro propósito de fornecer certos elementos orientadores

(mesmo que a título experimental) para o planejamento e escolha de atividades pedagógicas; e

uma das finalidades de seu livro seria contribuir com formas de responder menos

teoricamente, e mais praticamente, às dificuldades do ensino superior.

Enfim, a proposta tem o intuito de que aluno e professor venham a explorar, a

compreender melhor, conteúdo(s) do texto; isto se buscou, principalmente, por meio das

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valiosas ideias dos autores acima (dentre outras), como a leitura ativa de texto básico e

interessante e a sugestão de questões claras e simples – o que deve constituir um desafio à

capacidade analítica do estudante.

1.2 Justificativas

Acreditamos que o texto, que serve como base neste trabalho, é material bem

significativo para estudantes e professores interessados em instigantes e importantes

conteúdos da Física, assim como nos escritos de Feynman. Com efeito, o texto do físico

aborda noções que mostram a conexão íntima entre o Eletromagnetismo e a Teoria da

Relatividade Especial (TRE). Abordar um texto de Richard Feynman, que foi – e ainda é –

um autor bem renomado, não é um grande diferencial neste trabalho. Afinal, poder-se-ia

adotar texto tão bom quanto o de Feynman (ou melhor), mas proveniente de autor

desconhecido do público da área. Porém, cremos que a reputação do cientista e de sua coleção

– assim como suas valiosas contribuições à Física – pode ser um fator pertinente no despertar

do interesse inicial do leitor.

Em boa parte, a coleção de Feynman não é uma obra de introdução à Física – ou,

digamos, uma obra elementar – para o ensino superior. Mas esta contém diversos trechos e

textos que podem ser bem aproveitados em várias disciplinas e níveis do curso de Física (ou

de uma área afim). O texto aqui adotado é básico em muitos aspectos, pois seu nível

matemático é razoável, sem o uso de cálculos complicados de análise vetorial, sistemas de

coordenadas de difícil visualização etc. Também, o conhecimento da TRE e do

Eletromagnetismo Clássico (necessários à leitura ativa do texto) não precisa ser avançado. Em

relação à primeira, apenas saberes mais básicos como as previsões da contração de Lorentz e

da dilatação temporal, o momentum (linear) relativístico – e o entendimento elementar do

conceito de referencial inercial e do Princípio da Relatividade de Einstein – já são suficientes.

Relativamente ao último, é necessário o conhecimento básico das leis de Ampère da

magnetostática e de Gauss da eletricidade (na forma integral). Obviamente, também é preciso

um conhecimento de certas noções básicas do cálculo integral e diferencial.

Apresentamos, assim, os pré-requisitos para uma boa leitura do texto em questão, que

devem ser preenchidos por alunos e professores. Estes saberes prévios, juntamente a uma

percepção do nível matemático do texto, mostram que este é básico para o ensino superior, ou

seja, pode se aplicar em muitos cursos de Física ou afins (a partir de certos níveis, períodos).

E, ainda que Feynman aborde alguns aspectos um pouco intrigantes, sutis, como a diferença

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teórica existente entre a força elétrica e a magnética – mesmo para velocidades relativas muito

baixas entre os referenciais inerciais –, seu texto pode ser denominado básico para o tema em

questão. Isto porque determinados aspectos que conectam o Eletromagnetismo à TRE

realmente têm estas características intrigantes; pelo menos do ponto de vista do autor desta

dissertação.

Sem dúvida, o texto aborda questões relacionadas quase que apenas à Física,

enfocando uma descrição clássica de interação eletromagnética sob o ponto de vista da TRE,

utilizando conceitos de força e apontando importantes noções do formalismo teórico-

conceitual do Eletromagnetismo e da TRE – como a de que os efeitos relativísticos de

dilatação do tempo e contração do espaço podem ser “tomados emprestados” pela Teoria

Eletromagnética, a fim de que esta se compatibilize com a TRE. Este aspecto mostra que estes

efeitos já estão contidos no Eletromagnetismo e aponta para a não contradição lógica entre as

duas teorias. Enfim, alguns aspectos significativos presentes no texto, tornam-no interessante

para uma fração significativa de leitores que realmente gostam da Física.

Argumentos, com o objetivo de justificar que o texto de Feynman é interessante e

básico, para o ensino superior, são bastante pertinentes em nossa proposta, pois, como

veremos adiante – em capítulo que discorre sobre referenciais teórico-pedagógicos –, estas

características parecem essenciais para certos autores. Enfim, apontamos já alguns

argumentos que fundamentam a abordagem (leitura ativa) do texto em curso superior de

Física ou afim.

A literatura capaz de fundamentar a ênfase pedagógica no texto adotado (e/ou de

textos semelhantes), ou seja, de apontar a relevância, a validade do(s) tema(s) para o nível

superior, é praticamente inexistente. Buscamos livros e artigos a este respeito; porém, os

escritos encontrados tratam completamente (ou quase) de noções teóricas, experimentais,

históricas e filosóficas de conteúdos que abordam tanto a TRE quanto a Teoria

Eletromagnética. Nenhuma proposta ou experiência didática sobre o tema, em nível superior,

foi encontrada por nós. Assim, elaboramos aqui nossas próprias justificativas para a

abordagem do texto e de assuntos interligados.

Com efeito, sabemos que o planeta está repleto de tecnologia e progresso científico; e

com a evolução da Física Moderna, a Teoria da Relatividade Especial está sendo aplicada e

testada diariamente (TAYLOR; WHEELER, 1992). Esta teoria, também, acaba por tomar

parte – direta ou indiretamente – da vida do homem contemporâneo. A Física Moderna – e

com ela a Relatividade – realmente iniciou uma reviravolta na visão científica (EINSTEIN,

2005), surgindo de tal modo para explicar fenômenos que a Física Clássica não conseguiu (o

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que engendrou uma nova visão de mundo). Esta Física atendeu (e atende) necessidades que

aparecem diariamente, tornando-se cada vez mais básicas para o ser humano – uma gama de

conhecimentos que vai além dos limites científicos e tecnológicos, na influência de outras

áreas do saber (PINTO; ZANETIC, 1999, p. 1).

Entretanto, o autor desta dissertação sustenta a opinião de que a Física não explica

uma boa parcela dos fenômenos, mas os descreve; em muitos casos, com alta precisão e

beleza. Talvez devido a esta maravilhosa função ela extrapole os limites da ciência,

influenciando outros ramos do conhecimento, como a Filosofia por exemplo. Isto colabora na

justificativa do ensino-aprendizagem da TRE e de conteúdos que a integram a outras teorias –

como o Eletromagnetismo.

E as verificações experimentais da TRE são inúmeras; p. ex., Hewitt menciona que a

dilatação temporal foi várias vezes confirmada em laboratório, através de aceleradores de

partículas. Este autor também fornece um valioso exemplo sobre a participação da

Relatividade na vida do homem atual, ao citar relógios atômicos que orbitam a Terra e tomam

parte no sistema GPS – uma tecnologia atualmente abundante –, mas que necessitam de

correção relativística temporal (HEWITT, 2002). No caso destes relógios satélites, as

diferenças temporais ocorrem devido ao seu movimento relativo a relógios fixos no

referencial terrestre e, também, devido às variações do campo gravitacional (TAYLOR;

WHEELER, 1992).

Observa-se aqui, portanto, apenas um pequeno fragmento da importância da

Relatividade no cotidiano atual; uma teoria que não é, de forma alguma, destituída de

embasamento empírico – sendo seus efeitos observados rotineiramente. Assim sendo,

podemos dizer que a previsão de dilatação do tempo, de certa maneira, se relaciona com a

vida humana, por meio da tecnologia de GPS. Além disso, parte da tecnologia atual está

intrincadamente relacionada aos antigos e modernos satélites artificiais e aceleradores de

partículas, ou pelo menos provém de pesquisas e programas relacionados à construção e

desenvolvimento destes aparatos.

Estes argumentos nos mostram um pouco da significância de certos conteúdos da TRE

e da conexão desta com disciplinas da Física Clássica, com a evolução tecnológica, e até

mesmo com o dia-a-dia humano. Analogamente, a Teoria Eletromagnética também tem esta

importância, haja vista que o seu desenvolvimento experimental e matemático foi

imprescindível no progresso da tecnologia, da Física, das engenharias; e, como cita Einstein

(1999), a TRE só pôde surgir com o advento do Eletromagnetismo e com o consequente

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aprimoramento da Óptica. Estas são considerações a favor da ênfase, no ensino superior, em

assuntos integradores que, de certo modo, unificam vários aspectos destas teorias.

O autor deste documento crê que, através de uma reflexão atenta e de leituras, é

possível compreender que qualquer ciência séria é uma fração da bagagem cultural humana.

Zanetic (1989) explicita a necessidade de que a Física e, de forma geral, todas as ciências,

sejam compreendidas como parte da cultura. Um ótimo exemplo do relacionamento da TRE

(e também de incoerências surgidas no contexto do Eletromagnetismo) com a cultura

filosófica – à época da juventude de Einstein – se deu na influência da epistemologia de E.

Mach (1838 - 1916) no jovem pensador e, por conseguinte, em sua abordagem inicial da

Teoria da Relatividade Especial. Ramayana Gazzinelli relata que “No início de sua vida

científica, Einstein sofreu forte influência da epistemologia radicalmente positivista de Mach,

mas afastou-se dela na maturidade.” (GAZZINELLI, 2009, p. 20). Segundo as concepções de

Mach, não eram válidas proposições científicas não empiricamente comprovadas, o que –

naquele período – levou-o a rejeitar os modelos para o éter eletromagnético, a ideia de espaço

absoluto etc.; e apesar de que o éter foi pressuposto como real no escopo do

Eletromagnetismo daquela época (GAZZINELLI, 2009), este se mostrou desnecessário,

supérfluo, na formulação da TRE (GAZZINELLI, 2009; EINSTEIN, 2005).

Exemplos da relação entre a TRE, Filosofia e Teoria Eletromagnética também podem

contribuir para justificar a abordagem de temas integradores das teorias. Afinal, a História da

Física e as implicações filosóficas decorrentes de suas teorias são parte integrante da evolução

desta ciência, podendo ser ótimas fontes de inspiração e incentivo para alunos, professores,

pesquisadores etc., no estudo de um conteúdo, na elaboração de uma aula, no estímulo a uma

pesquisa etc. Enfim, até para que o leitor compreenda um texto mais avançado – sobre

aspectos históricos, filosóficos – relacionado à Física, é preciso ter ao menos certo

conhecimento elementar da parte formal e conceitual do tema, teoria(s) em questão. Estas

considerações, a respeito da vigorosa relação entre TRE, Filosofia, Eletromagnetismo etc.,

não são um intuito importante neste trabalho, mas é útil ressaltá-la. Afinal, esta confere

alguma validade ao ensino de aspectos correlacionados às duas teorias físicas, visto que o

conhecimento do formalismo teórico auxilia no entendimento de noções históricas/filosóficas

(e vice-versa) – conforme cremos. Claramente, a validade deste último argumento parece

depender muito de qual tema, teoria, está em questão.

Uma estudante da PUC Minas referiu-se ao relacionamento do Eletromagnetismo com

a TRE, presente no texto de Feynman, como intrigante. Embora esteja fora de nosso escopo,

com o material elaborado, isto parece mostrar (até certo ponto) que conteúdos que integram o

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Eletromagnetismo à TRE são passíveis de suscitar questionamentos de natureza filosófica;

como se sabe da história da evolução das ideias físicas, a própria TRE forneceu abundante

material para os filósofos. Então, o estudo/leitura de assuntos integradores entre as teorias

poderia ser pertinente para auxiliar no desenvolvimento da habilidade de questionamento, de

julgamento da validade e significado das informações. Este argumento também nos parece

valioso a fim de fundamentar o enfoque nos tópicos que reúnem as duas teorias.

Embora o professor tenha liberdade para discutir temas que apontem a intrincada

relação entre o Eletromagnetismo, a TRE e a Filosofia (ou outro conteúdo da cultura

humana), neste trabalho somente se sugere a discussão de ideias mais essenciais de um ponto

de vista físico, contidas no texto, com os estudantes; a intenção seria tentar promover um

melhor entendimento do texto adotado. Enfim, cremos que somente os aspectos relacionados

à essência das ideias físicas sejam necessários para uma melhor compreensão; noções

filosóficas e históricas (como as citadas anteriormente) entram aqui como justificativas para o

tratamento de conteúdos integradores da TRE e Eletromagnetismo, dada a importância destes

em um melhor entendimento daquelas noções (e vice-versa) – conforme acreditamos.

Ao longo desta dissertação (talvez principalmente no capítulo final) levantamos

algumas ideias, aspectos físicos, que cremos serem mais significativos, isto é, de certa

maneira essenciais no texto de Feynman.

A necessidade do ensino-aprendizagem da TRE, nos cursos de Física, é inegável; e

quase dispensa comentários. O advento da teoria legou uma nova busca de leis físicas gerais,

no sentido de serem válidas em qualquer referencial inercial (EINSTEIN, 1999). A principal

novidade da TRE, talvez, não é a derrocada dos conceitos de espaço e tempo absolutos, mas a

reformulação (ou renovação) de um princípio de simetria para o movimento reto e uniforme.

Pois é evidente que esta teoria põe em evidência leis, constantes, intervalos e propriedades

físicas fundamentais que se mantêm as mesmas, independentemente do movimento relativo

entre observadores inerciais; porém, a teoria também põe em destaque grandezas relativas que

dependem do sistema inercial. Como exemplo de grandezas relativas e invariantes, temos as

forças e campos elétricos e magnéticos – grandezas vetoriais dependentes do referencial

inercial – e a carga elementar, uma propriedade física escalar invariante (contida em um

elétron ou próton). Aqui, é valioso o comentário de Gazzinelli. Segundo este, os postulados da

TRE tornam sem significado as ideias de espaço e tempo absolutos; assim, por vezes destaca-

se o aspecto relativístico da teoria. Mas esta propõe justamente o oposto: a procura por leis

físicas invariantes, que não dependam do sistema inercial escolhido (GAZZINELLI, 2009, p.

26).

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Com o surgimento da TRE, a reformulação de noções antes consideradas intuitivas

fez-se necessária; talvez principalmente a de que a luz – e os objetos com massa de repouso

não nula – obedecia(m) às composições clássicas de velocidade. Mas a renovação de ideias e

conceitos como estes só se tornou possível com o surgimento empírico e teórico da Teoria

Eletromagnética. Isto equivale a dizer que a própria TRE só pôde advir desta teoria. Pois

assim enfatiza Einstein:

[...] a Teoria da Relatividade (Especial) surgiu da eletrodinâmica e da óptica. Nestes

domínios, ela não modificou muita coisa nos enunciados da teoria, mas simplificou

significativamente o edifício teórico, isto é, a derivação das leis. [...]. Ela tornou a

teoria de Maxwell-Lorentz tão plausível, que teria sido universalmente aceita pelos

físicos mesmo que a experiência não tivesse falado com tanta eloquência em seu

favor (EINSTEIN, 1999, p. 41).

Este é mais um ponto a favor da abordagem de tópicos que se entrelaçam no contexto

destas teorias, em qualquer curso superior de Física. Além disso, Einstein relaciona o

Princípio da Relatividade justamente ao Eletromagnetismo, ao postular que “[...] as mesmas

leis da eletrodinâmica e da óptica serão válidas para todos os sistemas de coordenadas nos

quais valem as equações da mecânica, [...]” (EINSTEIN, 2005, pp. 143-144). As equações da

mecânica – às quais o cientista se refere – são as atualmente chamadas de relativisticamente

corrigidas, pois o físico se mostra ciente desta questão em seu artigo pioneiro sobre a TRE.

Assim, é fácil perceber que o Eletromagnetismo, que forneceu o conhecimento para as

postulações de Einstein, forma, juntamente à TRE, um conjunto teórico que atuou como um

dos pilares da construção da Física Moderna. Portanto, temos já aqui bons argumentos que

indicam a significância dos conteúdos unificadores entre as teorias; e que também apontam a

importância deste edifício teórico na evolução da Física atual.

Também pelo fato de que, certamente, as equações de Maxwell atuaram como diretriz

na busca por outras leis com igual privilégio – o de preservarem suas formas matemáticas em

quaisquer sistemas inerciais –, pode ser válido enfocar assuntos que inter-relacionam à TRE

ao Eletromagnetismo em cursos superiores de Física. John Stachel, na introdução da obra O

ano miraculoso de Einstein: cinco artigos que mudaram a face da física (Einstein, 2005), ao

discutir as transformações de Lorentz, afirma que a TRE as interpretou como elementos de

um conjunto de simetria espaço-temporal pertencentes a uma nova cinemática. Assim, a TRE

garantiu à Física um poderoso guia na procura de novas teorias dinâmicas de campos e

partículas, também colaborando, paulatinamente, numa percepção mais profunda do papel da

simetria na Física (EINSTEIN, 2005, p. 119).

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Em resumo, dadas as considerações anteriores, como não ressaltar aos graduandos do

século XXI ao menos um pouco da forte conexão entre Eletromagnetismo e TRE, seja a partir

de abordagem teórico-conceitual, histórica e/ou filosófica? Afinal, trata-se de um ramo da

Física que auxiliou como ótimo guia (não apenas o único) na descoberta de outras leis, teorias

– e que reformulou a simetria entre referenciais em movimento relativo retilíneo e uniforme.

Além disso, a partir da TRE, a Teoria da Relatividade Geral pôde ser elaborada; e a

compatibilização da Teoria da Relatividade Especial com a Mecânica Quântica resultou na

Eletrodinâmica Quântica. O autor deste texto não estudou matematicamente a Teoria da

Relatividade Geral e a Eletrodinâmica Quântica, mas sabe que seus fundamentos e princípios

inauguraram novas visões da matéria, da luz, energia, espaço-tempo etc.; e das interações

entre partículas e suas estranhas propriedades.

Percebe-se, então, que a conexão entre a TRE e a Teoria Eletromagnética é realmente

profunda. Também, a Teoria da Relatividade Especial, nos dias atuais, tem grande prestígio

na Física de Partículas, onde se coleta inúmeras confirmações de sua validade (TAYLOR;

WHEELER, 1992).

Relativamente à lei da constância no valor da velocidade da luz (no espaço livre), a

TRE levou a uma interpretação mais moderna deste invariante, isto é, como um fator de

conversão entre espaço e tempo; até hoje, este valor é aceito como limite inatingível de

velocidade para partículas que possuem massa de repouso (TAYLOR; WHEELER, 1992).

Porém, o mais interessante aqui é que esta quantidade para a velocidade luminosa, geralmente

designada por c, surge diretamente das equações de Maxwell, tendo sido calculada por este

cientista (GAZZINELLI, 2009; HEWITT, 2002). Então, percebe-se que o postulado da TRE

(da invariância de c) é na verdade uma lei eletromagnética, mas que precisou de uma

interpretação particularmente difícil.

Nestas últimas páginas percebemos que, com efeito, há um profundo relacionamento

entre Eletromagnetismo e TRE; e a ênfase didática em temas unificadores fica válida e até

vigorosa, dada a importância destes conteúdos (de um modo geral), que aqui foi justificada –

até certo ponto – pelas considerações acima. Enfim, esforçamo-nos na apresentação de

algumas fundamentações que, de certa forma, justificam a significância do arcabouço teórico

composto pelas duas teorias, sua forte conexão e sua validade (geral) no ensino superior – seja

de aspectos integradores formais, conceituais e até histórico-filosóficos.

Com a pretensão de finalizar estas justificativas, apresentamos nossas últimas

argumentações, em boa parte baseadas em um importante documento da Sociedade Brasileira

de Física (SBF). Com razão, a extensão e o aprimoramento do ensino-aprendizado de Física

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Moderna – e, por conseguinte, da proposta de materiais que possam contribuir para tais fins –

também se justifica pela maior inserção do Brasil no cenário da Física internacional, nas

últimas décadas. A Sociedade Brasileira de Física esclarece, neste documento, que o país

possui “[...] acesso garantido aos principais complexos de pesquisa de altas energias do

planeta.” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FÍSICA, 2011, p. 155). De certa maneira, isto é

de se estranhar, devido à má qualidade educacional da nação (de forma geral).

Mas, afinal, a Física de Partículas e Altas Energias tem relação direta com a TRE e o

Eletromagnetismo. Isto também pode estimular a abordagem de tópicos integradores das

teorias nos cursos de Física (ou, talvez, até de ciências afins), pois certos graduados acabam

por fazer opções de pós-graduação em diversas áreas científicas e/ou tecnológicas. O

documento citado – ao discorrer sobre a ‘Potencial Contribuição Brasileira’ (na área de Física

de Partículas e Campos) – também enfatiza a importância da manutenção de políticas

científicas que proporcionem a contínua participação brasileira em grandes centros de

pesquisa, não apenas de doutores, mas “[...] também de alunos que irão formar a próxima

geração de pesquisadores.” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FÍSICA, 2011, p. 164). Esta

possibilidade é fator positivo para uma provável maior inserção de elementos de Física

Moderna (que têm relação com a Física de Partículas) nos cursos de Física, assim como para a

produção e teste de materiais didáticos – na tentativa de auxiliar neste objetivo.

Sabe-se que todas – ou quase todas – as principais áreas da Física se relacionam à

atual Física de Partículas, algumas mais, outras bem menos. Uma das principais teorias da

ciência contemporânea, a Eletrodinâmica Quântica (intrinsecamente ligada à Física de

Partículas), só se desenvolveu com a participação fundamental da TRE e de todo saber

adquirido sobre a ciência eletromagnética, a Mecânica Quântica etc. Para um bom estudo da

Eletrodinâmica Quântica, obviamente, é necessário (ao menos) um conhecimento básico da

Teoria da Relatividade Especial, do Eletromagnetismo Clássico, Mecânica Quântica etc., e os

temas integradores entre quaisquer destas teorias podem ser muito valiosos.

Outro ponto interessante, destacado pela SBF, é a constatação de que as políticas

ligadas à Ciência, Tecnologia e Inovação (em prol de um desenvolvimento sustentável)

passam pela melhoria da formação de professores e do ensino básico nacional (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE FÍSICA, 2011). Noutras palavras, a SBF parece afirmar que o crescimento

científico e tecnológico depende, inevitavelmente, da melhoria educacional em seus aspectos

mais gerais, básicos; ou que a ciência e tecnologia brasileiras estariam em um nível superior

se a política tratasse a educação com mais zelo – principalmente o nível básico.

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Os argumentos dos últimos parágrafos seriam, então, a favor da extensão de tópicos de

Física Moderna no ensino superior; e, obviamente, da proposta de leitura de textos (que

possam ajudar neste intuito) e de preparação e experimentação de materiais com este possível

potencial. Em resumo, os argumentos deste item da introdução apontam a validade de

conteúdos que unificam a TRE e o Eletromagnetismo.

Em um país que aparenta ganhar mais espaço na Física estrangeira, com acesso (até os

dias atuais) aos melhores laboratórios de alta energia do mundo – apesar de sua deficiente

educação geral –, e que, ao menos nos últimos anos, vem sustentando políticas que

possibilitam a frequente participação de brasileiros nestes centros de pesquisa, é muito

importante e válido o desejo de melhoria do ensino de temas de Física Moderna – ou ao

menos de assuntos que contêm alguns elementos e aspectos significativos desta Física (que

contribuíram e contribuem em sua evolução). Analogamente, é valiosa a elaboração de

materiais e o uso de textos na tentativa de colaborar.

Considerações feitas aqui, na intenção de justificar a pertinência de conteúdos

integradores de quaisquer ramos da Física Moderna e Contemporânea – entre estes e/ou destes

com a Física Clássica –, também justificam, até certo ponto, a significância dos assuntos que

unem a TRE e o Eletromagnetismo, haja vista a enorme importância destes no

desenvolvimento da Física nos últimos duzentos anos e seu profundo relacionamento com

diversas (e bastante importantes) áreas físicas.

Outro argumento para este trabalho, que não é propriamente uma justificativa (mas

uma consideração passível de conferi-lo um pouco mais de significância), é o de que existem

erros no texto – nas edições brasileira e norte-americana aqui usadas. Assim, elaborou-se uma

errata da versão brasileira do texto (comparando-a com uma original em inglês). Sendo que,

futuramente, poderá ser lançada uma edição com os erros parcial ou totalmente corrigidos (se

já não o tiver sido feito), a presença dos equívocos não constitui, de fato, uma justificativa.

Mas como fundamentaremos, estes podem efetivamente prejudicar o leitor mais inexperiente

e/ou desatencioso, e a existência da errata poderia auxiliar numa leitura mais cuidadosa do

texto – caso se use as edições aqui abordadas. Com razão, talvez correções de vários textos da

coleção de Feynman ainda precisam ser feitas, pois, havendo tantos erros em outros textos

desta – como os encontrados pelo autor deste documento em nosso texto base –, não é

possível denominar definitiva, de modo algum, esta edição brasileira. Então, este trabalho

vem, até certo ponto, contribuir nesta divulgação ao leitor, alertando a comunidade científica

(ainda que minimamente) para a questão de erros na edição brasileira de Feynman (2008),

‘Reimpressão 2009’ – que pode ser pior do que se pensa.

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As políticas citadas pela SBF podem retirar algum proveito de várias pesquisas em

educação (nacionais e estrangeiras), incluindo as pesquisas em ensino de Física. Assim, este

trabalho em sua totalidade – que é apenas uma destas pesquisas – pode, de algum modo, vir a

contribuir (ainda que minimamente) em algum valioso fator; seja estimulando pesquisas

semelhantes; sendo usado, adaptado, aprimorado por um leitor; servindo como referência ou

indicação de leitura; ou apenas por compor mais uma humilde tentativa de contribuição ao

ensino da Física que, somada a tantas outras que foram (e estão sendo) feitas no país e mundo

afora, forma um leque de saberes que não pode ser desprezado.

Afinal, políticas referentes à ciência, inovação, técnica etc., são essenciais para o

crescimento científico-tecnológico, econômico e social de uma nação em desenvolvimento,

dependendo, em boa parte, da pesquisa educacional.

Finalmente, destaque-se a potencial importância deste trabalho para a formação do

professor. O material pedagógico elaborado – e esta dissertação – pode subsidiar o educador

na leitura/estudo do texto de Feynman e na percepção de importantes aspectos deste – assim

como de noções correlatas. O tema envolvido no texto, por vezes, está ausente (ou é pouco

abordado) em várias coleções de livros de Física Básica. Assim, nosso trabalho pode fornecer

auxílio ao docente no estudo introdutório deste tema, que, de certo modo, abarca a integração

entre a TRE e o Eletromagnetismo Clássico. Também, apresentamos certas ideias e conceitos

(de referenciais teórico-pedagógicos adotados) que podem ser guias úteis para contribuir com

outras pesquisas; além do seu potencial em auxiliar o professor na aplicação do estudo aqui

sugerido.

Dentre os elementos pedagógicos, constam algumas orientações de Bordenave e

Pereira (2015) e certos conceitos de Vygotsky e Teoria histórico-social. Em relação aos

primeiros autores, acreditamos que o mais valioso são as potenciais funções positivas

esperadas no estudo dirigido. No que concerne aos últimos, estão elementos teóricos que

remetem à significância de pré-requisitos – e do diálogo professor-aluno – para a leitura e

compreensão de texto.

Por fim, mencione-se a potencialidade desta pesquisa para o professor de ensino

médio. Claramente, o material aqui preparado é inadequado neste nível de escolaridade.

Porém, o texto utilizado enfoca alguns aspectos passíveis de se abordar, de modo simples e

útil, com aluno do ensino médio. Estes são a invariância da carga elétrica elementar, a lei de

conservação da carga e simples noções sobre a relatividade do campo elétrico e magnético.

Assim, o texto de Feynman, mais este trabalho, pode ajudar o docente a preparar boa

discussão (e/ou algum texto) a respeito destes assuntos. O educador pode até mostrar, de

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alguma forma adequada, adaptada, que o problema inicial do texto leva à conclusão de que

deve haver interação entre cargas elétricas no referencial inercial da partícula carregada, que

apenas pode ser considerada, na perspectiva clássica, como uma força elétrica atuante nesta –

o que requer que o fio (ou uma seção deste) esteja positivamente carregado em S´, apesar de

neutro em S. Enfim, o que se pretende ressaltar é que o professor pode conseguir adequar,

adaptar, estes assuntos para o nível, até mostrando que a TRE se incorpora ao

Eletromagnetismo – permitindo descrição coerente para a interação em ambos os referenciais.

Obviamente, se o educador vislumbrar ser possível a adequação do tema, deve respeitar os

pré-requisitos dos estudantes, em relação à TRE, ao Eletromagnetismo, e no que concerne à

simplificação da matemática, de palavras, conceitos, postulados etc.

De acordo com o usualmente abordado neste estágio de ensino, cremos que o tema

seria mais adequado para o terceiro ano deste; os pré-saberes, devidamente adaptados, devem

ser todos cobertos – caso necessário. Outra colocação contundente é a de que o docente pode

conseguir mostrar a não violação da lei de conservação da carga no texto. Enfatize-se, enfim,

que não estamos a propor o uso do texto de Feynman e do material elaborado no nível médio,

mas apenas a levantar a possibilidade de debate (de conteúdos importantes) e/ou de adaptação

textual. Assim, recomendamos ao professor prender-se somente àquilo que julgar passível de

ser adequado.

As últimas funções positivas deste trabalho, para o docente de ensino médio, seriam a

de auxiliar-lhe no autoestudo do texto enfocado, mas também a de indicar-lhe alguns

elementos pedagógicos valiosos. Embora a obra e as ideias de Bordenave e Pereira (2015),

aqui destacadas, tenham sido direcionadas ao ensino superior, é provável que abarquem

alguns elementos válidos em outros níveis – o que entra como sugestão para a observação e

avaliação do educador.

1.3 O conteúdo desta dissertação

Apresentamos sucintamente, neste item final do capítulo introdutório, as demais partes

deste documento. No segundo capítulo, abordaremos nossos referenciais teórico-pedagógicos,

iniciando com justificativas para a escolha destes, e depois passando por certas ideias

orientadoras de Bordenave e Pereira – nosso principal referencial – e finalizando com

conceitos e ideias de Vygotsky e da Teoria histórico-social. O terceiro capítulo versa a

respeito da metodologia, iniciando com o relato, descrição, de uma espécie de oficina

ministrada para estudantes do ensino superior – realizada com o intuito de se aplicar

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experimentalmente um material elaborado para auxiliar no estudo do texto de Feynman. Mais

adiante, neste capítulo terceiro, se discorre sobre a proposta de um questionário avaliativo, ou

seja, é explanada a tentativa de avaliar (ainda que minimamente) a oficina e o material

aplicado nesta. Ainda neste capítulo, são abordadas várias dificuldades encontradas na

realização deste trabalho – no que concerne à aplicação, avaliação etc. –, são avaliadas

respostas de formulário avaliativo e apresentadas algumas sugestões para o aprimoramento da

oficina; certas modificações introduzidas no material e suas possíveis potencialidades são

também apresentadas, além de comentários a respeito da produção do material (contendo

justificativas e descrições). Finalmente, no quarto e último capítulo constam nossas

considerações finais, compostas pelas seguintes seções: um resumo geral (que versa sobre

alguns pontos que o autor considerou relevantes nesta pesquisa), argumentos sobre a

eficiência da oficina – que nos esforçamos em correlacionar ao referencial teórico e aos

resultados colhidos em formulário –; e, por fim, apontamentos em relação a trabalhos futuros.

Após o capítulo final encontra-se a lista de referências bibliográficas do corpo do texto

desta dissertação; após esta lista estão os apêndices. O primeiro, apêndice A, contém o

material elaborado – e modificado – seguido do texto do material suplementar. Em diante,

vem o apêndice B com as imagens do conjunto de respostas obtidas para o questionário

avaliativo, finalizando este documento.

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2 REFERENCIAIS TEÓRICO-PEDAGÓGICOS

Nossos referenciais teórico-pedagógicos são apresentados, justificados e explicitados

neste capítulo. É preciso apresentar os referenciais a fim de justificá-los; assim, as

justificativas (logo adiante) contêm implicitamente a apresentação dos mesmos.

2.1 Justificativas para a escolha de referenciais teórico-pedagógicos

Em pesquisas bibliográficas, feitas no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no buscador Google®, não encontramos textos, artigos,

livros etc. que apontam o enfoque pedagógico, a nível superior, do texto de Feynman e/ou de

assuntos correlacionados; isto equivale a dizer que não se encontrou elementos, fontes, que

enfatizam, mostram, a aplicação didática de livros (textos) técnicos sobre conteúdos

integradores do Eletromagnetismo e TRE – em cursos superiores de Física ou afins. Estas

fontes devem ser raras.

Com efeito, os livros, artigos etc., a respeito do tema, versam bastante sobre aspectos

teóricos, isto é, referentes ao edifício matemático-conceitual destes assuntos unificadores – ou

sobre o rico conteúdo histórico e/ou filosófico da conexão existente entre estas teorias. Outra

constatação é a de que temas a respeito da inter-relação entre a Teoria Eletromagnética e a

TRE estão praticamente ausentes de grande parte dos livros técnicos de Física básica,

incluindo coleções comuns nos cursos superiores afins às ciências físicas. Em sua maioria,

estes livros dão maior significância às partes cinemática e mecânica da TRE.

Assim, achamos por bem procurar referências que abordam a leitura/estudo – a nível

superior – de forma mais abrangente, geral, deparando-nos com a ótima obra de Juan Díaz

Bordenave e Adair Martins Pereira, Estratégias de ensino-aprendizagem (Bordenave; Pereira,

2015). Também se deve apontar que não foram encontradas referências sobre o estudo e

leitura de textos técnicos de Física (de qualquer tema) a nível superior. Estas fontes

apontariam sua importância e dariam fundamentos para a elaboração experimental de material

didático – começando pela leitura.

Segundo os autores citados anteriormente, o ensino superior atualmente enfrenta

diversos problemas; e as opiniões sobre quais são os melhores princípios pedagógicos e

metodologias didáticas para este ensino seriam divergentes. Em seu livro, os autores visam

dois importantes intuitos: proporcionar modos de responder mais praticamente do que

teoricamente a estes problemas, e comunicar as possíveis respostas de forma mais simples do

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que técnica. Também são propostas, ainda que a título experimental, diversas ideias

orientadoras sobre planejamento de ensino e escolha de atividades didáticas (BORDENAVE;

PEREIRA, 2015). Assim, buscamos certas ideias destes, para tentar elaborar e fundamentar

boa parte de nossa proposta de material didático, com a intenção de proporcionar uma melhor

compreensão do texto de Feynman (tanto da parte do aluno quanto do professor). Os autores,

quando discorrem sobre estudo dirigido, destacam que este “[...] parte da leitura de um texto

escolhido pelo professor, [...]” (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 266). Esta citação

fundamenta, até certo ponto, a utilização de bons textos técnicos no ensino superior; o que

parece não carecer de muita justificativa, dada a significância quase inegável da leitura/estudo

de bons livros, textos, artigos etc. em cursos superiores. Analogamente, as considerações dos

autores de que o texto em questão deve ser básico e interessante, e de que os alunos devem

trabalhar muito na interpretação textual (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 266), também

fundamentam a adoção deste referencial. Isto ocorre porque realmente cremos que o texto de

Feynman preenche tais características, exigindo uma postura mais ativa do estudante.

O livro de Bordenave e Pereira parece bem atual e contextualizado, estando já em sua

33ª edição. Surgiu a partir de diálogos mantidos pelos autores com cerca de quinhentos

professores universitários que participaram do curso de Metodologia de Ensino Superior,

oferecido pelo Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas (Iica), em Escolas e faculdades

brasileiras de Agronomia, Veterinária, Zootécnica e Engenharia Florestal, a partir de 1969.

Embora diversos exemplos práticos da obra estejam mais direcionados às ciências agrárias, os

autores afirmam que “[...] os princípios pedagógicos têm aplicação universal e que a

metodologia didática é aqui tratada de forma bastante geral.”. Assim, o livro é também útil

para outras disciplinas (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 9).

Outros aspectos pedagógicos e teóricos, aqui escolhidos, são atribuídos ao cientista

Lev Vygotsky (1896 - 1934) e à Teoria histórico-social (ou histórico-cultural) que, em parte

significativa, surgiu dos estudos deste pensador. A razão para esta escolha ocorre porque estas

noções formam um vasto conjunto científico, macro, sob o qual se encaixam inúmeras

propostas e trabalhos pedagógicos, materiais didáticos, ideias e inspirações para avalizar a

interação entre indivíduos, entre professor e aluno etc.

Enfim, as ideias de Vygotsky (e Teoria histórico-social) conferem significado à

questão dos pré-requisitos, justificam a mediação, a discussão entre professor e aluno,

relacionando desenvolvimento e aprendizagem. Por estes motivos elas são adotadas, embora

tenham menor participação que as de Bordenave e Pereira. O corpo de saberes referentes à

Vygotsky é uma espécie de “guarda-chuva” sob o qual se acomodam vários modos de

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trabalho em conjunto com alunos ou indivíduos quaisquer; já os primeiros autores estariam

mais próximos de uma espécie de estratégia específica aqui adotada, constituindo nossa fonte

principal.

2.2 Ideias orientadoras de Bordenave e Pereira

No capítulo X do livro destes autores, ‘O desenvolvimento da atitude científica nos

alunos’, encontram-se as principais concepções usadas em nossa estratégia, de elaborar uma

espécie de estudo dirigido para o texto de Feynman.

É útil recordar nossa principal intenção com a elaboração deste material, que consiste

em tentar promover um melhor estudo do texto-base do que um leitor o faria lendo-o apenas

uma vez, sem nenhuma espécie de subsídio.

No início do tópico relativo a este tipo de estudo, os autores enfatizam que se trata de

uma atividade feita pelos alunos, com roteiros indicados previamente pelo professor. A

atividade começa, então, pela leitura de texto escolhido pelo professor; leitura que deve ser

ativa, e não passiva. Assim, num estudo dirigido, utilizando sua própria criatividade em

interpretar e extrapolar o conteúdo textual, “[...] o aluno, seja individualmente, seja em grupo,

terá que trabalhar bastante no texto entregue pelo professor, [...]” (BORDENAVE; PEREIRA,

2015, p. 266).

As utilidades do estudo em questão (se bem elaborado) seriam cinco funções positivas.

Descreveremos estas funções (que têm um papel muito importante em nossa

proposta/experiência) quase que apenas com nossas próprias palavras. Anunciemo-las não na

ordem de Bordenave e Pereira, mas das mais às menos significativas no contexto deste

trabalho – conforme acreditamos.

Primeiramente, as mais pertinentes seriam a de que o estudo dirigido apresenta-se aos

estudantes como um desafio à sua capacidade analítica e criadora – não como leitura a mais –,

e também os motiva, pois, ao se abordar um texto básico e interessante, a curiosidade se

desperta. Em segundo lugar, vem a valiosa noção de que se incentiva o aluno a perceber

lacunas no texto e a julgar a validade de suas afirmações, o que desenvolve a capacidade de

observar e avaliar (consciência crítica) (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 266).

Mas seria bom adotar uma postura pouco menos otimista que a dos autores, e afirmar

que esta espécie de estudo é capaz de motivar os alunos (ou ao menos uma boa parcela

destes), quando se utiliza um texto básico e interessante, tendo potencial em despertar-lhes

curiosidade. Desse modo, o estudo se mostraria – possivelmente para uma boa fração de

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estudantes – como desafio à capacidade analítica e criadora (e não como leitura adicional

qualquer). Relativamente à segunda utilidade citada, poderíamos dizer que a capacidade de

consciência crítica – em observar, avaliar – tem potencial de se aprimorar, se elevar, ao se

estimular os alunos no julgamento da validade de afirmações e na percepção de lacunas

textuais.

Bordenave e Pereira não esclarecem o que seriam as lacunas de um texto. Ao menos

em várias partes do livro em que se fez a leitura/estudo, não se encontrou descrição, definição

(ou exemplificação) deste termo. Mas, em consulta às acepções do Dicionário eletrônico

Houaiss

da língua portuguesa 1.0, encontramos a primeira delas, que se refere a um

significado que pode ser aceito: “espaço vazio, real ou imaginário; falha, falta.”, pois o

primeiro exemplo desta acepção é justamente “um texto com grandes l.” (HOUAISS, 2009).

Daí poder-se-ia interpretar a palavra como trechos ausentes, incorreções, falhas de qualquer

natureza etc., ou até como conteúdo que poderia estar presente para melhor descrição, análise

e exemplificação de alguns trechos.

As demais funções positivas, também importantes como as primeiras aqui

explicitadas, consistem na ideia de que o estudo dirigido desenvolve a capacidade analítica,

pois a compreensão do tema contido no texto básico se alcança pela análise cuidadosa deste;

de que o estudo ensina a integração de ideias, pois se espera que os estudantes organizem suas

ideias na síntese final; e, por fim, de que este “Excita o talento criador ao oferecer

oportunidades de manifestações pessoais de tradução, interpretação e extrapolação.”

(BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 266). Esta última função positiva talvez não seja de

grande significância aqui; no entanto, ela poderá manifestar validade em algum aspecto.

De maneira análoga ao considerado para as duas primeiras funções, é útil ser menos

direto e, de certo modo, menos otimista que Bordenave e Pereira. Daí, ressaltaríamos que um

estudo dirigido não necessariamente desenvolve a capacidade de análise, mas contribui em

seu aprimoramento quando há entendimento do tema do texto – através do esforço, do

cuidado analítico do leitor. Logo, teria o potencial de auxiliar na integração de ideias, pois é

esperada, numa espécie de síntese final, a organização destas pelos alunos.

Alguns argumentos anteriormente apresentados apontam que, realmente, pode se

considerar o texto básico e interessante, características cruciais para nossos autores – pois

atrairia a curiosidade no leitor (BORDENAVE; PEREIRA, 2015). E ainda que a coleção do

cientista não seja introdutória (comparada a outras de Física elementar de nível superior), esta

possui muitos textos, trechos, que podem ser bem aproveitados num curso de Física (ou afim).

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Com razão, o texto do físico é básico em vários aspectos (seu nível matemático é

razoável, o conhecimento de TRE para a leitura pode ser elementar etc.), ainda que sejam

tratadas algumas noções meio intrigantes – como a de que o fio está neutro num referencial e

carregado noutro. Afinal, determinados aspectos que conectam o Eletromagnetismo à TRE já

têm esta característica intrigante. Isto, de certo modo, é bom para nossa proposta, pois se

encaixa no argumento de Bordenave e Pereira (2015, p. 266), de que “[...] o estudo dirigido é

apresentado aos alunos como um desafio à sua capacidade analítica e criadora, [...]”. Ora, se o

estudo assim pode se apresentar ao leitor, também o texto que lhe serve como base pode fazê-

lo.

Para alunos e professores que realmente gostam de Física teórica, o texto é, sem

dúvida, interessante, tendo bom potencial em gerar interesse nos que preenchem os pré-

requisitos para leitura. Pois este versa quase que apenas sobre elementos teóricos, numa

descrição de interação eletromagnética sob a ótica da TRE, usando conceitos clássicos de

força e apontando significativos aspectos teórico-conceituais integradores do

Eletromagnetismo e da TRE – como o de que a Teoria Eletromagnética já tem formulação

relativística (GAZZINELLI, 2009). A possibilidade do texto de Feynman em despertar

interesse concorda plenamente com uma das funções positivas de Bordenave e Pereira (2015),

ao motivar os alunos.

Outra consideração importante, nesta pesquisa, refere-se ao fato de que – para a leitura

ativa – são necessários pré-requisitos, seja da parte do estudante ou do professor. Bordenave e

Pereira, no capítulo II de sua obra (intitulado ‘O que é aprender’), abordam um pouco desta

temática no estudo de casos, partindo da observação real de situações de aprendizagem; e

esclarecem:

Observa-se também nos exemplos acima que toda aprendizagem se baseia em

aprendizagens anteriores. Fonseca não poderia aprender a inseminar uma vaca se

não conhecesse previamente vários aspectos da anatomia animal, bem como a

existência de diversos tipos de instrumentos. Dias não poderia entender o assunto de

estatística matemática se não conhecesse centenas de conceitos e princípios que

intervêm no assunto atual (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 25, destaque do

autor).

Apenas relacionando estes fatos às valiosas ideias experimentais de nossos principais

referenciais pedagógicos, concluímos que o estudante ou professor não compreenderá o texto

(ou, pelo menos, não o entenderá bem) se não tiver o conhecimento prévio introdutório de

certos elementos, já mencionados.

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Os autores abordam esta temática (relativa aos saberes prévios, ou aprendizagens

anteriores), pois ela é um dos pontos-chave para fornecer possíveis respostas do problema da

aprendizagem, ou seja, em que consiste (a aprendizagem) e como se poderia facilitá-la. Eles

partem de mensurações reais do procedimento (segundo sua orientação), procurando discernir

seus elementos, processos, que seriam os pontos-chave que vêm à tona pela observação de

experiências (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, pp. 23-24). Enfim, a abordagem destes é mais

prática, empírica; e no que diz respeito aos pré-requisitos, será aqui complementada com

certos elementos da teorização de L. Vygotsky e Teoria histórico-social.

Passemos, agora, à descrição das orientações de Bordenave e Pereira (2015) no tocante

ao planejamento de estudo dirigido. No item ‘Como planejar o estudo dirigido’ os autores

indicam três etapas: síncrese, análise e síntese. Na primeira, uma visão sincrética, global do

texto, seria solicitada do aluno, por intermédio de simples normas dadas pelo professor;

também, títulos e subtítulos seriam observados, com o fim de se adquirir uma visão estrutural

ou de organização do trabalho a se estudar. Na segunda etapa (análise) seriam propostas

questões claras e simples a serem feitas – seja interpretando ou associando ideias, as intenções

do autor, desenvolvendo a criatividade e exercitando o raciocínio e imaginação. Enfim, a

etapa final (síntese) deveria propor a resolução de problemas práticos, baseando-se no que o

estudante leu e assimilou. Ainda nesta, o professor solicitaria “[...] conclusões do aluno,

sobretudo quando for possível a pesquisa complementar.” (BORDENAVE; PEREIRA, 2015,

p. 267).

Preferimos crer, em relação à etapa de síntese, que problemas práticos basear-se-iam

no que o aluno provavelmente assimilou, pois não parece fácil postular até que ponto (em

média) a assimilação ocorre (a não ser que se faça pesquisa adequada). Mas atividades

práticas não têm muito significado em nosso contexto, pois a ênfase do texto é quase

puramente teórica; uma experiência de pensamento idealizada, aproximada, que não enfoca

aplicações mais técnicas, de engenharia etc. Assim, a última etapa não é abordada neste

trabalho, a não ser em relação ao fato de que a ideia de pesquisa complementar foi, de certo

modo, elaborada; no sentido de que se produziu um material de suplemento para questões

sugeridas no material – contendo algumas considerações sobre aspectos correlacionados à

TRE, ao Eletromagnetismo e ao texto de Feynman. Também, as etapas não foram seguidas

com rigor, pois dependem significativamente do tema, texto, da disponibilidade de condições

ao professor e aluno etc. Por estas razões, referimo-nos à proposta de material não

propriamente como um estudo dirigido (segundo estes autores), mas como uma espécie deste.

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A ideia a respeito da observação de título, subtítulos etc., para perceber a estrutura,

organização, pode ser útil ao texto de Feynman – tomado isoladamente –, haja vista que seu

único título já nomeia um aspecto valioso do tema integrador entre a TRE e o

Eletromagnetismo. Esta ideia também pode ter utilidade na obtenção desta percepção se

aplicada ao material em sua totalidade.

As últimas ideias orientadoras, de Bordenave e Pereira (2015), em referência ao estudo

dirigido, são as do quarto item: ‘Como elaborar um estudo dirigido’. Praticamente não se fez

uso destas ideias, devido a uma falha meio grosseira presente no livro, somente percebida

(pelo autor deste texto) após elaboração e aplicação do material para certos estudantes; e,

inclusive, depois de preparar um tipo de questionário avaliativo – que foi respondido por

alguns. Acreditamos que a falha pode ter prejudicado a preparação e até a aplicação da

proposta. Ela é um pouco complicada de se perceber, pois o item quatro está fora do seu

devido lugar, além de não ter a formatação que o destaque – diferentemente dos outros três.

Com efeito, este item está inserido em um quadro (que contém o primeiro exemplo de estudo

dirigido dado pelos autores), constando como quase todo o texto da ‘IV Parte’ do primeiro

exemplo. Esta parte se caracteriza pelo termo: Painel de correção. Porém, logo abaixo deste

vem o título do quarto item – citado acima –, que versa apenas sobre aspectos passíveis de se

aplicar em qualquer estudo, aparentemente sem menção específica ao referido painel (e ao

exemplo sobre domesticação de animais) (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, pp. 269-270).

Os aspectos do item, que podem atuar como noções muito valiosas para a avaliação do

material (já que não se procurou segui-las), estão divididos em cinco seções: objetivos;

seleção de texto; análise do texto; elaboração das questões; e, por fim, análise do estudo

dirigido pelo próprio docente, antes de aplicar. Nestas seções, as ideias são sucintamente

delineadas pelos autores, e agiriam como questionamentos – que o professor pode responder

enquanto prepara o material para estudo. A primeira (objetivos) apresenta apenas duas

perguntas, a saber: “que informações desejo que meus alunos adquiram?” e “que habilidades

intelectuais eles precisam desenvolver?” (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 269).

A segunda (seleção de texto) já nos aponta mais ideias, relativas ao questionamento do

seguinte: o que há no texto a fim de satisfazer os objetivos selecionados; o que este possui

para gerar interesse nos estudantes; o que o texto tem relacionado à unidade e às necessidades

dos alunos; como deveria ser passado a eles (impresso ou no próprio livro etc.); se a

linguagem textual se adéqua ao público; e, por fim, de o texto ter sido escolhido entre os

melhores sobre o tema (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 269). Cremos que este último

aspecto, sobre escolha do texto, é muito importante. Ao destacar estas ideias com nossas

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próprias palavras, estamos, até certo ponto, tentando expressá-las melhor que Bordenave e

Pereira.

Em relação à terceira seção (análise do texto), estes apontam que o professor deve

proceder na avaliação de determinados elementos, a saber: termos novos; novos

conhecimentos (tanto dos que vêm à tona de forma clara quanto dos que precisam de

explicação); possibilidades para que associações e relações sejam feitas pelos estudantes, e

também para que raciocinem; extensão textual; necessidade de adaptação, reestruturação ou

condensação (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 270).

A questão da análise de termos e conhecimentos novos é bem valiosa. Realmente,

vários conceitos, ideias etc. – relativas à Física – surgem frequentemente com nomes

distintos, o que, até certo ponto, pode ser considerado um novo saber – no sentido de que o

leitor amplia seu horizonte de vocabulário. Isto é significativo no que diz respeito ao

estudante.

Quanto à elaboração de questões (quarta seção) de Bordenave e Pereira (2015, p. 270),

estes enfatizam, primeiramente, que a leitura deve ser orientada quanto à “terminologia, fatos,

conceitos, classificação, análise, crítica.”. Em segundo lugar, destacam que a assimilação de

conhecimento e o desenvolvimento de habilidades deve se orientar por intermédio da

elaboração de perguntas que exijam: respostas elaboradas mentalmente, revisão de

classificação, formulação de esquema e/ou relação entre fatos; explicação de termos;

formulação de conceitos próprios e/ou extrapolação; interpretação gráfica, de símbolos e/ou

legenda; crítica ou avaliação; e, finalmente,

[...] conhecimentos apresentados no texto e, mais ainda, a associação de

conhecimentos adquiridos anteriormente requerendo o uso de habilidades

intelectuais. Podem ser usadas questões abertas, ordens diretas, perguntas de

múltipla escolha, perguntas verdadeiro-falso, ou a técnica de lacunas

(BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 270).

Percebe-se que os autores mantêm uma postura abrangente no último quesito, isto é,

eles abarcam muitos elementos orientadores. Obviamente, pautar-se em todos estes na

preparação de questões é praticamente impossível, pois dependem do texto (de seu tema,

extensão, linguagem etc.), das necessidades dos alunos e da disponibilidade de diversas

condições. Isto implica que, para certo texto básico – como o de Feynman –, algumas

orientações aplicam-se mais, mas outras não têm muito sentido.

Enfim, na última seção, que consiste em análise do estudo (pelo professor) antes de

aplicar, Bordenave e Pereira (2015) propõem que o educador resolva as questões, verificando-

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as em relação à clareza e compreensão. A disposição destas questões e o tempo gasto na

resolução também devem ser analisados; e, por fim, partindo-se dos objetivos, devem ser

preparados meios de avaliação do estudo dirigido. A correção pode se dar de várias maneiras,

ou seja, de modo global, individual, em grupo, cruzada, em painel etc.

2.3 Vygotsky e a Teoria Histórico-social

Foram já citados Vygotsky e a Teoria histórico-social, nas justificativas para a escolha

de nossos referenciais teórico-pedágicos; nestas, ressaltamos que esta teoria (junto aos estudos

do cientista) compõe uma área científica abrangente, no sentido de que se insere em diversas

formas de trabalho, materiais didáticos, com alunos – ou outros indivíduos –, fundamentando

a interação com estes. Ao nos referirmos à mencionada teoria (histórico-social) de Vygotsky,

importa-nos o que foi (e é) aplicado no ramo educacional, usualmente entendido como

provindo de Vygotsky e/ou do desenvolvimento de suas ideias. Enfim, tentaremos expor,

relacionar, ideias que, por vezes, livros e artigos associam ao pensador e à sua teoria.

Segundo Ferrari (2008), Vygotsky atribuía um papel essencial às relações sociais no

processo de desenvolvimento intelectual e cognitivo, isto é, as interações sociais dos

indivíduos entre si e com o meio no qual habitam são cruciais nestes amadurecimentos. O

autor desta dissertação considera este elemento muito importante.

Embora a noção acima possa parecer (para alguns) bastante óbvia, os conteúdos

relacionados à Psicologia educacional, com razão, são bem complexos. Vygotsky, citado por

Toassa (2013, p. 65), estava ciente da complexidade do tema há mais de oitenta anos atrás, ao

afirmar que a “[...] psicologia pedagógica lida com fatos e categorias de caráter e ordem mais

complexos que uma reação ou um reflexo isolado e, em geral, que tudo aquilo pesquisado

pela ciência atual sobre a atividade nervosa superior do ser humano.”. Esta crença

possivelmente se estende, em parte, para a atualidade, apesar de que também se sabe que as

pesquisas sobre a mente e cérebro humanos – e os aspectos cognitivos relacionados –

sofreram enormes avanços desde a época do pensador.

Outra concepção relevante de Vygotsky diz respeito às zonas de desenvolvimento. Na

proposta de estudo aqui desenvolvida, parte-se do pressuposto de que os alunos já se

encontram na zona de desenvolvimento real (ZDR), um conceito parcialmente descrito na

obra A formação social da mente, de Vygotsky (Vigotski, 1998). Talvez este conceito – e o

referente à zona de desenvolvimento proximal (ZDP) – sejam os mais conhecidos e

divulgados (atribuídos à Vygotsky), além de serem amplamente adotados em teorias

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educacionais, psicológicas etc.; fato que facilmente se percebe em disciplinas pedagógicas da

graduação e em livros, artigos sobre o assunto.

Segundo Vygotsky, o aprendizado deve se combinar de algum modo com o nível de

desenvolvimento de uma criança. O nível em que a criança se encontra é denominado nível de

desenvolvimento real. Daí, a zona de desenvolvimento seria uma espécie de distância entre

este nível real – conhecido a partir da solução independente da criança – e um nível de

desenvolvimento potencial, conhecido pela solução de problemas sob a orientação de um

adulto e/ou de colega mais adiantado (VIGOTSKI, 1998). Portanto, a zona de

desenvolvimento proximal (ou potencial) determina-se por problemas que a criança não é

capaz de resolver independentemente, fazendo-o apenas com assistência; assim, encontram-se

nesta zona funções ainda não amadurecidas, mas em processo de maturação. Noutras

palavras, Vigotski (1998) defende que o desenvolvimento mental retrospectivamente se

caracteriza pela zona real, enquanto o desenvolvimento prospectivamente é caracterizado pela

zona proximal.

Estas concepções foram estendidas, aplicadas, por pesquisadores da educação, aos

indivíduos adultos, como se percebe nitidamente em livros e artigos sobre o tema. É bem

interessante a interpretação de Carlos Fino, ao ressaltar que a ZDP é, essencialmente, uma

área de dissonância cognitiva, correspondente ao potencial do aprendiz; este autor afirma:

Representando a ZDP a diferença entre o que o aprendiz pode fazer individualmente

e aquilo que é capaz de fazer com a ajuda de pessoas mais experimentadas, [...], esta

formulação de Vygotsky reforça, simultaneamente, a importância do princípio de

prontidão, que implica a necessidade do aprendiz ter alcançado um determinado

estado de aptidão para apreender determinado material cognitivo (FINO, 2001, p.

281).

A elaboração de Vygotsky pode ser interligada às ideias de Bordenave e Pereira.

Vimos que estes últimos confirmam a necessidade de pré-requisitos (o que denominam

aprendizagens anteriores) para o ensino superior, partindo do estudo de casos, ou seja, da

experimentação real de aprendizagem. Estas pré-aprendizagens estariam relacionadas, então,

ao estágio de aptidão – ou a uma espécie de princípio de prontidão, como destaca Fino (2001)

– alcançado pela criança ou adulto, e que caracteriza a ZDR. O desenvolvimento retrospectivo

da estrutura mental (inter-relacionado ao que a pessoa resolve, soluciona, independentemente

do auxílio de outros) consistiria, desse modo, nas funções, conhecimentos, aprendizagens etc.

já amadurecidas e conectadas à zona real de um indivíduo.

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Aplicando estes argumentos ao texto de Feynman, conclui-se que o conhecimento

prévio introdutório de determinados conteúdos (já citados) é imprescindível para uma boa

leitura ativa do texto, errata etc., e também para a resolução de questões. Caso os pré-

requisitos não estejam bem amadurecidos na estrutura cognitiva real do leitor (compondo sua

ZDR), é bem possível que a leitura ativa seja prejudicada, pois o leitor provavelmente não

produzirá o devido esforço necessário ao estudo – usando-o na interpretação textual. Daí, de

forma análoga, a tentativa de resolução das questões se prejudicará, uma vez que o leitor será

incapaz – ou pouco capaz – de bem interpretar ideias, intenções do autor etc., exercitando o

raciocínio.

Sobre o fato de que as concepções de ZDR e ZDP se aplicam aos adultos, Seth

Chaiklin (2011), por exemplo, ao enfatizar que a ZDP atualmente aparece em muitas obras de

Psicologia geral – bem como na maioria dos manuais de Psicologia do desenvolvimento e

educação –, cita que o conceito tem sido amplamente empregado ou citado em estudos sobre

ensino-aprendizagem nas mais variadas áreas do conhecimento; em distintas populações de

alunos (inclusive crianças com dificuldades de aprendizagem, déficit intelectual); em adultos;

em pesquisas sobre tecnologia de informação; em discussões sobre a formação de professores

e de profissionais de enfermagem etc. Também Deborah W. Kilgore (1999) aplica a zona de

desenvolvimento próximo em adultos, e Myriam N. Torres (1996) a emprega em discussões a

respeito da formação de professores, ou seja, em pessoas adultas; estas duas últimas são

citadas por Chaiklin (2011). Kilgore, p. ex., propõe uma teoria de aprendizagem coletiva que,

como crê a autora, é mais adequada que teorias individualizadas no estudo de pessoas e

grupos engajados em ação coletiva de defesa e promoção de uma visão social em comum.

Enfim, se a ZDP é aplicável nos adultos – e, portanto, nos estudantes de ensino superior –,

também a ZDR o é, pois os dois conceitos estão intrincadamente relacionados, sendo

mutuamente dependentes.

Então, certas noções teóricas de Vygotsky têm larga validade e aplicação em pesquisas

educacionais (bem como na Psicologia); estas concepções, de certa forma, complementam

alguns relatos empíricos de Bordenave e Pereira (2015) (sobre a pré-aprendizagem, aqui

mencionados), dando mais significado aos pré-requisitos e apontando a relevância do

desenvolvimento cognitivo real – a fim de que o indivíduo avance no desenvolver de

habilidades, saberes etc. Assim, a questão dos pré-saberes é de grande importância no estudo

dirigido aqui proposto, de uma maneira geral.

Segundo Ivan Ivic (2010, pp. 12-13), a teoria de Vygotsky compõe um paradigma

importante da psicologia do desenvolvimento, ao insistir nos aportes da cultura, nas interações

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sociais e na dimensão histórica do desenvolvimento mental; este paradigma – assim como a

teoria de Jean Piaget (1896 - 1980) – é uma notável teoria do desenvolvimento mental. Ainda

de acordo com Ivic, Vygotsky também elaborou terminologia passível de exprimir um corpo

teórico original por ele criado. E a especificidade de sua teoria deveria ser definida, ao menos,

por certos termos essenciais: interação social, signo e instrumento, sociabilidade humana,

funções mentais superiores, cultura e história etc.; em resumo, poder-se-ia denominar este

conjunto de teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento das funções mentais superiores

(IVIC, 2010, pp. 14-15).

Sirgado (1991) afirma que a psicologia histórico-social de Vygotsky concebe o

psiquismo como construção social, e encontra na mediação semiótica um importante conceito,

correspondente à ideia da intervenção de fatores, elementos terceiros que possibilitem

interação entre dois outros termos de uma relação. Dessa forma, como ressaltam Tunes, Tacca

e Júnior (2005), é comum identificar o professor como um mediador, atribuindo-se esta ideia

à Teoria histórico-social. Estes autores (ao discorrerem sobre o professor e sua atuação no

ensino) destacam que existe o imperativo de penetrar e interferir no psiquismo do aluno –

notadamente em seu pensamento – quando o professor se empenha em estimular a

aprendizagem; esta necessidade antecederia a tudo, orientando a escolha dos modos de

ensinar.

Estas concepções, citadas nos últimos parágrafos, compõem um leque de conceitos,

ideias e inspirações passíveis de fundamentar, avalizar, a interação entre professor e aluno –

que é uma interação social. Ora, na teoria de Vygotsky, o ser humano é caracterizado pela

sociabilidade primária, o que equivale a dizer (mais categoricamente) que as pessoas são

geneticamente sociais – como afirma Henri Wallon, citado por Ivic (2010, p. 15). Hoje, esta

tese é quase confirmada por recentes observações do desenvolvimento social na primeira

infância, sendo, em parte, orientada geneticamente (IVIC, 2010).

Cremos que alguma espécie de discussão do professor com estudantes, até certo ponto,

poderia auxiliar na compreensão textual. Nesta proposição, parte-se do pressuposto de que o

professor se engaje na aprendizagem de seus alunos, tendo o intuito (ainda que inconsciente)

de penetrar-lhes os psiquismos – isto é, os pensamentos –, e também de que o docente,

conjuntamente aos estudantes, constitui um significativo grupo social interativo. As citações,

concepções, ideias, anteriormente colocadas, fundamentam estes nossos argumentos.

Ivic (2010, p. 16) afirma que, na teoria vygotskyana, o ser humano necessariamente

possui seu prolongamento nos outros; mas considerado em si, não estaria completo. Esta ideia

é bastante valiosa, segundo a opinião do autor deste texto, e parece valer em diversos aspectos

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da vida humana (talvez em quase todos), o que, grosso modo, reforça a tese histórico-social

do desenvolvimento mental. Também segundo este autor, “Encontramos, ainda em Vygotsky,

mas sob uma maneira diferente, o fenômeno do interpsiquismo: do ponto de vista psicológico,

o indivíduo tem seus prolongamentos, de uma parte, nos outros, e de outra, nas suas obras e

na sua cultura [...]” (IVIC, 2010, p. 20).

Assim, pode-se dizer que um conjunto interativo social, formado por professor e

estudantes, compõe-se numa relação de termos (pessoas) com seus prolongamentos

psicológicos, seja do professor no aluno e vice-versa; e de cada um destes com o produto

cultural, ou seja, o(s) conteúdo(s), matéria em questão. Continuando sua apresentação da

extensão psicológica do indivíduo humano, Ivic (2010, p. 20) enfatiza que, deste modo, o

desenvolvimento não se restringe apenas às alterações interiores na pessoa, mas que também

se mostra como desenvolvimento passível de assumir duas formas diferentes: criação de

instrumentos exteriores para produzir mudanças psicológicas internas; elaboração de

auxiliares externos enquanto tais. Em relação ao primeiro (instrumentos exteriores), Ivic cita

que há uma diversidade destes – orientados ao próprio homem – que podem ser usados no

controle, coordenação etc. de suas próprias capacidades. Dois destes instrumentos, na opinião

do autor desta dissertação, seriam os mais importantes da História ou estariam entre eles, isto

é,“[...] a língua escrita e falada [...]” (IVIC, 2010, p. 20).

E, em nosso contexto, é precisamente a língua falada o principal instrumento exterior

na proposta de discussão entre professor e estudantes – sobre ideias/aspectos mais essenciais

presentes em um texto (explícitas ou implícitas). Então, retomando a percepção de Tunes,

Tacca e Júnior (2005), o professor seria associado, de certo modo e até certo ponto, a uma

espécie de mediador que – tendo feito um bom esboço de discussão e refletido sobre ideias

significativas – possui o imperativo de adentrar, influir, a estrutura do pensamento de seus

alunos. Nesta intenção, a discussão oral iniciada e estimulada pelo educador teria

possibilidade de produzir modificações internas na psique, por meio da língua falada como

instrumento, elemento terceiro, externo, dirigida aos próprios participantes da discussão – os

termos da relação.

Enfim, isto pode ser útil para melhor compreensão de texto pelo aluno, dado o papel

essencial que, de acordo com Ferrari (2008), Vygotsky garantia às relações sociais – no

desenvolvimento intelectual e cognitivo. Noutras palavras, a interação social professor-aluno

com um produto da cultura (um texto, suas noções importantes etc.) é passível de estimular a

aprendizagem (que se correlaciona ao amadurecimento cognitivo, intelectual), ao gerar

mudanças psicológicas nas estruturas mentais.

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3 METODOLOGIA

No presente capítulo, discorremos sobre uma proposta de oficina com o objetivo de

aplicar o material elaborado para estudo dirigido. É também apresentada nossa proposta de

avaliação do material. Obviamente, as argumentações, considerações deste capítulo, podem

ser concatenadas aos referenciais teórico-pedagógicos, às justificativas (dentre outros

aspectos) anteriormente constantes – ou ainda a certas ideias, fundamentações, julgadas úteis.

3.1 A ideia de uma oficina

A oficina, devidamente combinada com o Coordenador do curso de Física da PUC

Minas – Professor Flávio de Jesus Resende –, ocorreu em uma quinta-feira, 14 de maio de

2015, tendo início às 15 horas e 20 minutos (no campus Coração Eucarístico). A sala utilizada

abarcava perfeitamente atividades feitas com um máximo em torno de 15 a 20 alunos.

O título da oficina foi ‘Conexão entre a Relatividade Especial e o Eletromagnetismo –

A relatividade dos campos magnéticos e elétricos de Richard P. Feynman.’. Preparou-se um

pequeno banner (cartaz) formal – em papel A4 – para o encontro, com o fim de ser exposto e

auxiliar em sua divulgação; este é mostrado na Figura 1, na página seguinte.

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Figura 1 – Cartaz preparado para a divulgação da oficina

Departamento de Física e Química

Curso de Física

OFICINA: Conexão entre a Relatividade Especial e o Eletromagnetismo - A relatividade dos campos magnéticos e elétricos de Richard P. Feynman

A oficina abordará texto de R. P. Feynman que trata da relação entre a Teoria da Relatividade Especial e o Eletromagnetismo. Feynman demonstra que os efeitos

relativísticos de contração do espaço e dilatação do tempo estão presentes no contexto da Teoria Eletromagnética, mesmo se a velocidade entre referenciais inerciais for muito baixa. Sob o ponto de vista da Relatividade Especial, os campos e as forças elétricas e magnéticas tornam-se grandezas e conceitos completamente relativos, mas as equações de Maxwell se

preservam (não necessitam de correção relativística); a lei de invariância/conservação da carga elétrica e os Postulados de Einstein são satisfeitos.

Gabriel Ferraz Rubinger de Queiroz

Graduado em Física pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas (2011). Tem experiência nas áreas de Ensino de Física. Atualmente é mestrando do Programa de Pós Graduação em

Ensino de Ciências e Matemática da PUC Minas

Serão sorteados quatro livros:

Sobre as leis da física, de R. Feynman; O ano miraculoso de Einstein: cinco artigos que mudaram a face da física e A Teoria da Relatividade Especial e Geral, de A. Einstein; Teoria da relatividade especial, de Ramayana Gazzinelli.

Pré-requisito: Fundamentos do Eletromagnetismo

Quinta-feira 14 de maio de 2015 às 15h20min Laboratório A - sala 120 do prédio 34

Inscrições: [email protected] (até 10 de maio)

Fonte: Arquivo pessoal

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No banner – formatado pelo Prof. Flávio de Jesus Resende –, procuramos já apontar o

tema textual (de modo bem geral), se assim se pode dizer, isto é, a conexão entre a Teoria da

Relatividade Especial e o Eletromagnetismo. Com efeito, é possível que o título do texto não

seja muito propício para descrevê-lo, haja vista que Feynman vai além da questão da

relatividade dos campos, produzindo uma discussão relativamente curta e profunda sobre a

relação existente entre ambas as teorias. Assim, acreditamos valiosa uma breve citação de

alguns aspectos textuais importantes neste cartaz, o que pode ter gerado no participante ao

menos uma ideia (ainda que vaga) de assunto contido explícita ou implicitamente no texto.

É interessante fazer um paralelo do banner com uma proposição da fase de síncrese de

Bordenave e Pereira (2015), isto é, a de que estudantes devam observar títulos, subtítulos,

adquirindo uma visão estrutural, organizacional, do trabalho a estudar – na primeira etapa de

um estudo dirigido. Neste trabalho, a leitura do aluno da descrição textual no cartaz entraria

como uma espécie de proposta até certo ponto complementar à de Bordenave e Pereira.

Obviamente, a informação em um cartaz de divulgação deve ser objetiva, organizada,

possivelmente sucinta, até para que os potenciais participantes tenham vontade de lê-lo.

Claramente, a preparação de um banner é diferente do sugerido pelos autores acima; porém,

tal instrumento pode fornecer, grosso modo, uma sucinta visão global do tema e/ou espécies

de “subtítulos” de certos aspectos, conteúdos relevantes do texto – ou correlacionados.

O banner foi enviado via e-mail, pelo Prof. Flávio de Jesus Resende, para diversos

estudantes do curso de Física da PUC Minas. No que concerne aos pré-requisitos – tendo em

conta dificuldades encontradas –, foi realmente necessário solicitar apenas a matéria referente

aos fundamentos de Eletromagnetismo, disciplina em que os estudantes têm, pelo menos, um

contato introdutório com as leis fundamentais desta teoria – em sua forma integral. O cartaz

também foi exposto no prédio 34 (onde circulam inúmeros estudantes de ciências exatas,

informática etc.), com o objetivo de reforçar o convite e também estendê-lo a possíveis

participantes destes cursos, interessados no tema.

A abordagem de diversas dificuldades (com as quais nos deparamos nesta aplicação

experimental) será feita posteriormente nesta dissertação; também serão produzidas

considerações, sugestões etc., com a intenção de que o professor procure contorná-las.

Nosso propósito original era o de convidar somente alunos que preenchessem todos os

pré-requisitos aqui descritos. Inclusive, as questões propostas foram elaboradas a partir desta

pressuposição. Quanto ao conhecimento de determinados elementos (básicos) de cálculo

integral e diferencial, cremos que estava já implícito nos fundamentos da Teoria

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Eletromagnética, ou seja, os estudantes que cursaram esta matéria já tiveram contato, ao

menos, com certas noções e aplicações destes cálculos. Além disso, a resolução de questões

matemáticas, em nosso material, não exige saberes avançados do cálculo, mas consiste em

exercícios mais básicos que possuem simetria geométrica cilíndrica – de campos estáticos

relacionados a um condutor cilíndrico (fio) reto e infinito. Estes exercícios são geralmente

feitos por muitos alunos das ciências físicas, engenharias e cursos afins.

A ideia de sorteio de livros veio do autor deste documento. Como justificaremos

adiante, houve o problema referente ao público, isto é, verdadeiramente se deparou com a

possibilidade da falta de quorum. Além dos quatro livros listados no cartaz, sorteou-se ainda

um quinto, que não precisa ser citado; o sorteio não teve influência em nossa proposta de

estudo, de oficina e no que já foi aqui considerado etc. Também, nenhum participante

mencionou-o ou cobrou-o. Este se fez apenas após a oficina, e somente o autor deste texto

dele se recordou. Porém, é válido crer que pode ter estimulado a participação de um ou outro

aluno.

Participaram sete estudantes da PUC Minas, seis homens e uma mulher

(aparentemente todos com idades entre 20 e 32 anos, pelo que se constatou nos perfis de

alguns, na rede social Facebook®

). Dentre estes, cinco do curso de Física, um rapaz da

Engenharia Eletrônica e de Telecomunicação e outro rapaz que não solicitou inscrição ao

Prof. Flávio de Jesus Resende. Após o encontro, o autor desta dissertação contatou os seis

participantes identificados, pela rede social acima, solicitando-lhes informação sobre o

sétimo; no entanto, não o identificamos. Tendo lhes questionado (logo antes do início da

oficina) quais os seus cursos de graduação, permanece apenas a lembrança de que este último

era aluno de algum curso de engenharia. Os nomes dos alunos, seus respectivos cursos e e-

mails acadêmicos foram enviados ao e-mail pessoal do autor deste texto pelo Prof. Flávio

Resende – até a noite anterior à oficina.

Consideramos útil preparar um texto introdutório, uma espécie de apresentação de

nossa proposta de estudo do texto de Feynman, da errata, das questões etc. Este texto foi

denominado ‘Considerações ao estudante’. Nosso propósito inicial era enviá-lo por e-mail

(com certa antecedência) aos alunos, solicitando-lhes, por gentileza, sua leitura atenciosa

antes do encontro; porém, devido a problemas com os prazos de inscrição e disponibilidades

de tempo, foi praticamente inviável enviar-lhes o documento antes da oficina. Isto poderia ter

sido realizado, mas somente na véspera do encontro.

As ‘Considerações ao estudante’ foram passadas aos alunos junto à errata do texto e às

questões elaboradas (mais as devidas referências bibliográficas destas partes e algumas folhas

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em branco para respostas/resolução). Isto consistiu no material impresso entregue ao aluno.

Obviamente, também se disponibilizou o texto de Feynman (em português).

Sabia-se de antemão que não haveria tempo para a leitura das ‘Considerações ao

estudante’ durante a oficina. Assim, os participantes foram advertidos a este respeito, e lhes

solicitamos a leitura desta parte em casa. Foram realizadas modificações nas ‘Considerações

ao estudante’, após a aplicação experimental. Com efeito, este documento estava meio longo,

com certos trechos possivelmente desnecessários. Cremos que isto poderia repelir alguns

leitores. A tentativa de mudança inspirou-se em Bordenave e Pereira (2015), autores que

exemplificam estudos dirigidos mais concisos – além de outras atividades com esta

característica. Porém, o encurtamento do texto introdutório ao estudante não foi bem

sucedido; provavelmente isto ocorreu devido ao esforço do autor deste em ressaltar todos os

aspectos, no texto, julgados pertinentes para o estudo. Também, deve ser tomada em conta a

prolixidade deste autor (por vezes excessiva).

Citamos, anteriormente, a real possibilidade de falta de quorum. Uma alternativa para

o problema, vislumbrada em reunião previamente combinada na PUC Minas (com o

Coordenador do curso de Física, o autor deste texto e seu orientador), foi solicitar apenas o

pré-saber de disciplina relativa aos fundamentos de Eletromagnetismo – em que, conforme

mencionado, estariam já implícitas noções básicas de cálculo. Daí, vimo-nos obrigados a

tentar (de algum modo eficaz) cobrir os pré-saberes referentes à Teoria da Relatividade

Especial. Pedir aos alunos o estudo independente do tema seria inviável na prática, haja vista

o caráter voluntário da oficina, o relativamente curto intervalo de tempo (do dia desta reunião

até o encontro) e o não conhecimento de texto, material etc. – bem sucinto e de qualidade –,

capaz de explanar os saberes prévios da TRE (de modo elementar ao universitário)

necessários à boa leitura do texto. Mesmo que se encontrasse tal material, ou preparássemos

algum adequado, ter-se-ia falhado em tal processo, pois muitos alunos atrasaram as inscrições.

De fato, suspeitamos que os atrasos ocorreriam, e estipulamos a data limite de

inscrição, 10 de maio – como está no cartaz (banner) anterior –, mais como uma estratégia

para estimular e adiantar inscrições do que propriamente um prazo limite. Enfim, se resolveu

que o conteúdo referente à TRE devia ser exposto (no início da oficina e antes da leitura

textual) pelo autor deste documento. Isto se fez através de uma aula razoavelmente curta –

utilizando exposição visual em quadro e oral.

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3.2 Aplicação da oficina

Passemos, agora, a seções que se referem à aplicação feita durante o encontro,

principalmente no que diz respeito à abordagem teórica de conteúdos da Teoria da

Relatividade Especial (pré-requisitos faltantes), à leitura do texto de Feynman e à breve

discussão (diálogo) – em sala de aula – sobre algumas importantes noções textuais.

3.2.1 Exposição teórica

Com o objetivo de ganhar tempo, o autor deste texto deixou já preparada, no quadro, a

maior parte da exposição visual relativa à TRE, além de separar previamente, para cada

possível participante, doze conjuntos do material impresso com o texto de Feynman (que lhes

foi disponibilizado) e mais algumas folhas em branco para respostas. A aula foi preparada,

pensada, e algumas notas de aula produzidas, contendo quase tudo o que se expôs no quadro.

É importante ressaltar que se perguntou aos participantes se já haviam visto disciplina que

aborda a TRE ou, ao menos, se sabiam a maior parte dos elementos básicos (contração

espacial, dilatação temporal, Princípio da Relatividade de Einstein etc.) a nível elementar.

Como apenas dois alunos levantaram as mãos, partiu-se para a exposição do conteúdo – o que

se deu no começo do encontro.

Os estudantes se atrasaram um pouco, e a oficina teve início cerca de 10 a 15 minutos

após o previsto; o autor deste texto decidiu aguardar ao menos a presença de quatro

participantes para começar – a fim de se ter um público razoável, mas também porque dois

alunos mais adiantados informaram que outros já estavam por vir. Os demais (dois ou três)

atrasaram-se apenas mais alguns minutos.

Destaque-se que, em relação aos pré-saberes da TRE, se cometeu um erro: foi

esquecido o momento linear relativístico, isto é, não se atentou para o fato de que este

também deveria ter sido abordado na oficina. Inclusive, nas ‘Considerações ao estudante’,

impressas e entregues, esqueceu-se de citá-lo como pré-conhecimento pertinente para a leitura

ativa; entretanto, isto foi feito em novo documento dirigido ao aluno – quando foram feitas

alterações no material, mais discutidas adiante. A exposição de assuntos da TRE ocorreu

basicamente de acordo com o descrito adiante, iniciando-se pelo efeito de dilatação do tempo.

Fez-se um desenho do relógio de luz, uma experiência de pensamento bastante

enfocada em livros técnicos de Física sobre a teoria. O desenho consistia simplesmente em

dois referenciais inerciais, S e S´ (a mesma simbologia usada por Feynman), no qual se

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considera S´ como em movimento uniforme e reto relativamente à S, e S é tomado como “em

repouso”. Para isso, introduziu-se um vetor velocidade u em S´, desenhando-se os eixos y´ e y

(paralelos) relativamente afastados um do outro, e x´ e x quase coincidentes (x´ muito pouco

acima), apenas com a finalidade de visualização. Marcou-se as origens O e O´ dos sistemas

coordenados; desenhou-se os espelhos superior e inferior, estacionários em S´ e paralelos aos

eixos x´ e x; marcou-se um ponto – no espelho inferior, à meia distância de seus extremos –

donde seria emitido e detectado (recebido) um raio luminoso (ou um fóton), após sua reflexão

no espelho superior.

Assim, o autor deste texto afirmou que começaria abordando este fenômeno (dilatação

temporal), fazendo uso de experiência pautada nesta espécie de relógio pensado. Descreveu-se

o par de referenciais, seus eixos coordenados etc., e o movimento como relativo, isto é, partia-

se do ponto de vista de que estávamos no referencial S em “repouso”, e que S´ se movia em

relação à nós com velocidade u constante (o movimento ocorrendo apenas ao longo de x e x´).

Mas, para um observador fixo em S´, é o sistema inercial S que se movimenta em sentido

contrário, com velocidade –u. Afirmou-se bem que S´ apenas se movia ao longo do sentido

positivo do eixo x com velocidade constante, mas que também se podia considerar a

perspectiva contrária (devido à relatividade do movimento). Também se deixou claro que os

eixos x e x´ deveriam ser tomados como coincidentes.

O autor deste documento cometeu uma pequena falha em relação à descrição do

conceito de referencial inercial (um de nossos pré-saberes), pois somente após citar o termo

por vezes atentou-se para a necessidade de sua descrição. Este foi bem descrito, mas apenas

de forma mais elementar, isto é, como referenciais em movimento reto uniforme (MRU) um

relativo ao outro, nos quais é possível desprezar quaisquer forças gravitacionais. Também foi

bem destacado que determinadas áreas da superfície terrestre podem ser aproximadamente

tomadas como bons referenciais inerciais – devido ao campo gravitacional relativamente fraco

e às suas variações muito sutis em certas regiões superficiais da Terra. Foi rapidamente

enfatizado que na existência de interação (e/ou variação) gravitacional significativa – e/ou

quando os referenciais são acelerados – deve se considerar a Teoria da Relatividade Geral,

que incorpora a gravidade e/ou referenciais acelerados. Além disso, afirmou-se que o termo

inercial provinha do fato de que, neste tipo de referencial, a lei de inércia de Galileu deve ser

válida.

Muito do que foi falado aos alunos, assim como os rascunhos de aula, baseou-se em

autores como Gazzinelli (2009), Hewitt (2002), Taylor e Wheeler (1992) e Einstein (1999).

Preocupamo-nos em destacar certos assuntos da TRE apenas de modo introdutório, estando

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cientes de que o conteúdo físico apresentado contém aproximação, abstração, sutilezas etc.,

podendo ser expresso de modos ainda melhores, mais detalhados etc.

Na continuação da exposição, destacou-se que o relógio luminoso possui mecanismo

simples, facilitando a comparação dos intervalos de tempo Δt (em S) e Δt´ (em S´)

(GAZZINELLI, 2009). Esta consideração de Gazzinelli é pertinente, pois o relógio indica de

forma elegante e prática a previsão de dilatação temporal, aplicando a lei da constância no

valor da velocidade da luz no espaço livre e a ideia de evento (neste caso, a emissão e a

recepção da luz num mesmo ponto do espelho inferior, por meio de um foto emissor-detector

imaginário). Adiante, são mostrados nas Figuras 2 e 3 os primeiros rascunhos de aula:

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Figura 2 – Frente da primeira folha do rascunho

Fonte: Elaborado pelo autor

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Figura 3 – Verso da primeira folha do rascunho

Fonte: Elaborado pelo autor

Continuando a descrição da simplicidade deste relógio, o autor ressaltou que este é

assim chamado, pois, mede intervalos de tempo periódicos, iguais ao tempo gasto pela luz em

sua viagem de ida e volta, ou melhor, o tempo necessário para que, após o instante da

emissão, a luz se reflita no espelho superior e retorne ao emissor-detector. Isto foi bem

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enfatizado a fim de se chegar à ideia de eventos, isto é, destacar que na TRE geralmente se

trabalha com este conceito (evento) que, a priori, é definido por uma posição e um instante de

tempo – medidos em certo referencial inercial (EINSTEIN, 1999). Assim, os eventos tomados

seriam a emissão e a posterior detecção da luz no emissor-detector; o que também se ressaltou

bem.

Dos rascunhos anteriores, apenas os desenhos, títulos (‘Dilatação do tempo’, ‘O

relógio de luz, experiência de pensamento’) e a frase que explicita o ponto de vista abordado –

de S´ em movimento relativamente à S em repouso, com velocidade constante para a direita –

foram passados na lousa.

Iniciou-se, então, a descrição do fenômeno, ao dizer que o intervalo de tempo medido

por um observador em S´, entre os dois eventos, iria diferir do medido por observador em S,

entre os mesmos dois eventos. Fez-se, aqui, uso do termo de Feynman, afirmando-se que, na

comparação de intervalos temporais entre dois referenciais inerciais, os intervalos devem ser

correspondentes – ou seja, mensurados entre os mesmos dois eventos. Esta declaração foi

previamente pensada, é claro; o autor deste texto julga ser este o melhor termo (em português)

para se referir aos intervalos de tempo na TRE, que somente encontrou no texto de Feynman

(2008, p. 13–11).

Começou-se a dedução da equação, que relaciona Δt e Δt´, pelo termo cΔt´ ; explicou-

se que este é a distância total (velocidade multiplicada pelo intervalo de tempo em S´ )

percorrida pela luz em seu caminho de ida e volta, medida em S´. Daí partiu-se para a

explanação da Figura 3 dos rascunhos (acima), a perspectiva do observador em S, ressaltando

ao aluno que, neste referencial inercial, S´ move-se uniformemente para a direita junto ao

relógio que ali está estacionário. Assim, a trajetória correspondente do raio consiste em duas

linhas retas em diagonal, uma para a ida do raio e outra para seu retorno ao foto emissor-

detector. Assim, do ponto de vista de S, a luz tem a componente de valor constante u de

velocidade ao longo do eixo x; logo, deve se mover diagonalmente em S.

Neste momento, enfatizou-se a lei da invariância no valor de velocidade da luz no

espaço livre. Afirmou-se que este valor c é sempre o mesmo, em quaisquer referenciais

inerciais; noutras palavras, se apontou que o módulo desta velocidade não depende do

movimento relativo uniforme entre a fonte (emissor) e o observador, sendo igual para todas as

frequências eletromagnéticas. É interessante notar que todos pareciam concordar com esta lei.

A constância de c – que, por vezes, é considerada um dos postulados de Einstein – pode ser

tomada como saber já presente na estrutura cognitiva de alunos, quando estes preenchem os

pré-requisitos da TRE. Pois, cremos que indivíduos que têm conhecimento da dilatação

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temporal, momentum linear relativístico etc., também conhecem tal lei – que é muito mais

simples. Mas, em nossa exposição, foi cauteloso incluir este saber, uma vez que boa parte dos

estudantes não preenchia os assuntos referentes à TRE. Enfim, a citada lei foi bem descrita; é

preciso pouco tempo para tal.

A esta altura, mais ou menos, um aluno fez perguntas confusas sobre o movimento

relativo do relógio, os pontos de vista dos observadores etc. Explicitou-se, então, que o

relógio está fixo em S´, e se deve pensar como este é observado neste referencial inercial

(próprio ou de repouso), mas também como seria visto em S – um referencial onde o relógio

está em movimento (relativo). A confusão do aluno serviu para esclarecer um pouco estas

ideias. Até este momento haviam decorrido entre 10 e 15 minutos de oficina. Pelo o que se

conseguiu captar, o estudante não havia percebido a relatividade do movimento, os distintos

pontos de vista etc. Aparentemente, o aluno captou certas noções após a descrição acima.

O autor deste documento confessa que, nestes minutos iniciais, estava meio ansioso e

também preocupado com o tempo disponível. Por isto, talvez tenha se apressado um pouco na

exposição, não se mostrando, de certo modo, aberto aos questionamentos. Recorde-se que a

maioria da exposição visual foi previamente passada na lousa, incluindo partes dos rascunhos

mostrados e a maior parte da dedução da equação referente à dilatação temporal. Isto facilitou

muito, pois a descrição, até certo momento, consistiu apenas em apontar elementos no quadro.

Apesar de que a exposição inicial possa ter sido um pouco apressada, o autor se preocupou em

transmitir certas informações objetivas – que foram pré-pensadas, planejadas, escritas.

Retornando ao relato da aula, informou-se que apenas interessava o módulo de

distâncias, velocidades, intervalos temporais, em cada referencial inercial. Portanto, não era

preciso considerar o vetor u para a luz, em S, bastando-se aplicar a lei da constância de c no

espaço livre. Assim, a distância total percorrida pelo raio, em S (os dois trajetos em diagonal),

é cΔt. Sendo o movimento uniforme e reto, estas diagonais são iguais e valem cΔt /2 cada

uma; já a distância total percorrida pelo emissor-detector, na perspectiva de S, é uΔt. Sendo a

metade desta uΔt/2, aplicamos o teorema de Pitágoras nos triângulos equivalentes da Figura 3,

sabendo que o cateto transverso ao movimento (a distância entre os espelhos) iguala cΔt´ /2

(metade da distância viajada pela luz, em S´, em seu trajeto total neste referencial).

Certas conclusões, do parágrafo anterior, foram ressaltadas um pouco rapidamente aos

alunos; afinal, estas envolvem mais raciocínio geométrico do que conhecimento físico.

Portanto, seguindo-se a matemática, obtemos a equação Δt = γ Δt´, mostrada na Figura 4:

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Figura 4 – Frente da segunda folha do rascunho

Fonte: Elaborado pelo autor

Boa fração destes cálculos já constava na lousa, bastando explicá-los. O restante se

deduziu facilmente. A matemática envolvida é muito simples, de tal modo que,

aparentemente, não houve problema em sua compreensão. Após deduzir a equação, partiu-se

para sua descrição; explicitou-se o fator de Lorentz γ, descrevendo-o como variável

dependente apenas do valor de velocidade relativa u entre dois referenciais inerciais, sempre

maior ou igual a um. Enfatizou-se que, quando u = 0, γ = 1, isto é, os intervalos temporais

entre dois eventos são iguais, pois não há movimento uniforme relativo; há apenas um

referencial inercial nesta situação. Destacou-se bem que, nas velocidades relativas cotidianas

(inclusive de aviões a jato), na prática, não existe diferença significativa entre os intervalos de

tempo, pois os valores de velocidade são muito pequenos se comparados a c. Logo, u2 /c

2 é

ainda menor, e γ tende a um.

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Cremos que foi útil explicitar

2

2

1

1

c

u

, e fazer alguns comentários sobre este, pois está

assim escrito em boa parte das equações do texto de Feynman. Também se apontou que a

equação mostra que Δt é maior do que Δt´ quando γ é maior que um, mas que as diferenças

temporais somente são apreciáveis se a velocidade u é significativa em relação a c.

Relembrou-se, rapidamente, que os intervalos de tempo comparados devem ser

correspondentes, ou seja, medidos entre os mesmos dois eventos.

Neste ponto, vem uma consideração interessante. Afirmou-se que, no texto a ser feita a

leitura, a velocidade relativa entre os referenciais inerciais é muito baixa; por conseguinte, do

ponto de vista prático, os intervalos temporais podem ser considerados iguais nos dois

referenciais. Mas teoricamente, a diferença temporal (dilatação do tempo) é uma previsão

relativística que pode ser tomada no Eletromagnetismo, a fim de se mostrar que esta teoria se

concilia (é compatível) com a TRE, não havendo contradição lógica entre ambas.

Finalizando a dilatação temporal, introduziu-se o conceito de intervalo de tempo

próprio (ou local ou de repouso). Ressaltou-se que este intervalo, entre dois eventos

determinados, é o tempo decorrido em um referencial inercial no qual os eventos ocorrem

numa mesma posição. Este corresponde ao menor tempo possível entre os eventos em

questão; assim, é uma quantidade matemática invariante. Estas considerações foram feitas

recordando-se o exemplo de relógio de luz – no qual é fácil perceber que o tempo próprio

ocorre em S´ –, ainda que o desenho referente à perspectiva de S´ já houvesse sido apagado.

Também, pelo desenho do panorama observado em S, destacou-se que, neste referencial, os

eventos (emissão e detecção) ocorrem em posições diferentes – embora no mesmo emissor-

detector pensado. Dessa maneira, tem-se, em S, um intervalo de tempo denominado relativo,

sempre maior que o tempo próprio. O autor se recorda de enfatizar que o maior tempo relativo

(Δt) pode ser percebido pelo maior trajeto total viajado pela luz, em S, o que é feito com o

mesmo valor de velocidade c (GAZZINELLI, 2009; TAYLOR; WHEELER, 1992; HEWITT,

2002). Estas últimas colocações, previamente pensadas, estudadas (nas vésperas do encontro),

baseiam-se principalmente nestes autores.

Adiante, nas próximas páginas, estão dois desenhos (Figuras 5 e 6) que exemplificam

a previsão de dilatação temporal. Um refere-se ao referencial inercial S´ de repouso (ou

referencial próprio) do relógio de luz – no qual o relógio se encontra estacionário; o outro já

mostra a perspectiva em um referencial S no qual o relógio (fixo em S´ ) se move para a

direita, um referencial inercial em que se mede um intervalo de tempo maior do que o próprio

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(entre os dois eventos considerados). Pode-se imaginar S como certa região “plana” da

superfície terrestre (um laboratório científico) que se comporta muito aproximadamente

como sistema inercial; S´ pode ser pensado como o próprio relógio luminoso que movimenta-

se em relação ao laboratório (S) “em repouso”. Estes desenhos não foram utilizados na oficina

(foram preparados após esta), mas são valiosos como instrumento didático ao leitor/docente e

para ilustrar melhor a experiência de pensamento enfocada no encontro:

Figura 5 – O ponto de vista de um observador inercial em S´

Fonte: Elaborado pelo autor

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Figura 6 – O ponto de vista de uma observadora inercial em S (figura girada em 90

graus no sentido anti-horário)

Fonte: Elaborado pelo autor

Ao fazer um paralelo com o texto de Feynman, o autor deste documento mencionou,

rapidamente, que distintos intervalos temporais, em dois referenciais inerciais, aparecem no

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texto. Porém, o conceito de evento não é estritamente necessário, pois, no enfoque da

interação eletromagnética abordada é preciso atentar-se, grosso modo, para a duração da força

em cada referencial inercial, que se compõe de intervalos muito curtos.

Daí partiu-se para a apresentação da previsão de contração espacial. Enfatizou-se que

o espaço se sujeita a um efeito tão estranho quanto o relacionado ao tempo, mas que é, de

certa maneira, mais fácil de descrever. Para um objeto em repouso, medir-se-á o comprimento

de repouso deste – o maior comprimento possível para o objeto, medido no referencial

inercial em que o objeto se encontra estacionário. Mas, havendo movimento uniforme relativo

a um observador, este medirá o objeto contraído na direção de movimento. Descreveu-se o

caso de uma régua, uma simples situação de pensamento, com a finalidade de exemplificação.

Obviamente, estas considerações sobre a contração de Lorentz são muito simples; todavia,

destacou-se que, na verdade, não são os objetos que se contraem quando em MRU relativo,

mas o próprio espaço. Noutras palavras, não é a matéria em si que sofre a contração. A

realidade é que os objetos estão espacialmente estendidos (EINSTEIN, 1999). Assim

podemos vislumbrar melhor esta previsão relativística. Se um observador inercial se move, o

espaço se contrai na direção de seu movimento – em consequência, os objetos estariam

contraídos. A concepção de que não é a matéria que se contrai, mas o próprio espaço no qual

esta se estende, foi bem destacada aos estudantes.

Também se explicitou a equação L = L´ /γ, ressaltando que, ao contrário do intervalo

de tempo próprio, o comprimento próprio (de repouso) L´ se divide pelo fator de Lorentz, o

que resulta em comprimentos relativos L menores que L´ (quando γ > 1). No caso do tempo

próprio ocorre o oposto, pois os tempos relativos Δt – entre dois eventos – resultam maiores

que Δt´ (se γ > 1). Foi afirmado brevemente que, para a contração relativística, não é preciso

considerar-se conceitos de evento (no nível em que se abordava) para uma descrição

introdutória do assunto. Ao menos assim crê o autor desta dissertação.

Em diante, partiu-se para a exemplificação. Citou-se que as melhores confirmações

experimentais da TRE se encontram na Física Contemporânea relacionada às partículas. O

único exemplo dado foi o do múon (partícula μ), ressaltando-se o valor de sua vida média de

repouso Δt´, ou seja, o intervalo de tempo (médio) para a existência da partícula, num

referencial inercial no qual o múon está em repouso. O valor médio de Δt´, segundo

Gazzinelli (2009, p. 30), é cerca de 2 x 10–6

segundos. Citou-se, então, que esta partícula é

instável (GAZZINELLI, 2009), isto é, se forma e desintegra, solicitando ao participante que

imaginasse o múon fixo no referencial de um laboratório terrestre; se o cientista detecta sua

formação e desintegração numa mesma posição, é medido um intervalo de tempo próprio

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(pois a partícula está estacionária), uma vida de repouso da partícula. Porém, se é planejado

experimento para detectar a formação e a consequente desintegração do múon, em um

referencial inercial no qual este se move (p. ex., utilizando acelerador linear de partículas),

observar-se-á um intervalo de tempo relativo maior (vida relativa) para μ. Este tempo depende

de γ, isto é, da velocidade entre o múon e o laboratório (os referenciais inerciais), assumindo-

se que esta velocidade é sempre constante. Mencionou-se que isto devia ser tomado apenas

como experiência pensada, pois o autor deste texto não sabia se o procedimento (como

relatado) realmente poderia ser feito com múons.

Foi escrita a vida média de repouso desta partícula, destacando-se que, na velocidade

de aproximadamente 0,998c – em relação à Terra –, μ apresenta vida média relativa Δt de

cerca de 30 x 10–6

s (GAZZINELLI, 2009, p. 31). Não se fez cálculo a este respeito, no intuito

de salvar tempo; afinal, tratava-se somente de um simples exemplo numérico de evidência

observacional da previsão. Além disso, recordou-se rapidamente que certas regiões da

superfície terrestre podem ser tomadas como um bom referencial inercial. Um aluno

questionou se a experiência do relógio de luz já havia sido realizada. O autor deste texto disse

acreditar que não, pois nunca leu nada sobre corpos macroscópicos acelerados até velocidades

significativas em relação à c.

Para exemplificar a comprovação da contração do espaço, mencionou-se um fato

também referente ao múon. Isto foi interessante, pois um rapaz conhecia o fenômeno,

chegando a expressá-lo em parte. Enfim, apenas enfatizou-se bem que, no referencial da

Terra, cientistas observam múons serem formados em certas altitudes atmosféricas; porém, a

vida média de repouso (≈ 2 microssegundos), classicamente, não é suficiente para que a

partícula alcance a superfície do planeta, tendo velocidade aproximada de 0,998c em relação a

este. Segundo a dilatação temporal, a vida média relativa (tomada no referencial terrestre) é

suficiente para que μ alcance a superfície. Mas agora interessa o efeito de contração espacial;

de acordo com este, o espaço atmosférico – no referencial próprio (de repouso) do múon –

está contraído. Neste referencial inercial, sua vida média de repouso é capaz de fazê-lo

alcançar a superfície (GAZZINELLI, 2009).

Decidiu-se não esboçar, na lousa, dados numéricos sobre a contração de comprimento

para esta partícula, como planejado em rascunhos (abaixo), pois o tempo disponível estava

meio abreviado. Enfim, a maioria das considerações feitas na oficina foi realmente pensada,

estudada previamente. Também se ressaltou que as experiências citadas, com relógios de luz e

réguas, deviam ser tomadas apenas como experimentos de pensamento; e foi dado, na

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intenção de que o participante estudasse em casa, o melhor valor atualmente aceito para c. De

acordo com Taylor e Wheeler (1992), c = 299.792.458 m/s.

Adiante, nas Figuras 7 e 8, encontram-se os últimos rascunhos de aula:

Figura 7 – Verso da segunda folha do rascunho

Fonte: Elaborado pelo autor

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Figura 8 – Última página do rascunho

Fonte: Elaborado pelo autor

Foi cortada a maior parte da metade inferior da Figura 7, onde havia equívocos que se

rabiscou e desprezou. A última página contém a porção bem inferior rabiscada,

posteriormente ao encontro; trata-se de dados sobre a contração de Lorentz no referencial de

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repouso do múon, não explicitados no quadro e nem oralmente, devido ao tempo faltante.

Além disso, tentou-se resumir certos fragmentos das últimas duas páginas, a fim de ganhar

tempo (ainda que minimamente), não usando grifos nem certos parênteses, trocando palavras

ou omitindo-as, não usando destaques em valores, resultados etc. É útil ressaltar isto, pois a

questão referente ao tempo foi um dos maiores empecilhos na aplicação experimental do

material.

A última consideração feita, antes da leitura do texto, diz respeito ao Princípio da

Relatividade de Einstein; destacou-se que este e a lei da constância de c no espaço livre

compõem os postulados da TRE (ou postulados de Einstein). Afirmou-se que o princípio pode

ser assim enunciado: a forma matemática das equações fundamentais da Física é independente

do referencial inercial, ou seja, é a mesma em qualquer destes sistemas. Ainda se ressaltou,

grosso modo, que “a cara” destas equações não depende do sistema inercial; estas se

preservam, mantêm seu formato. Destacou-se bem que, por exemplo, as equações

fundamentais do Eletromagnetismo (equações de Maxwell) obedecem ao Princípio de

Relatividade einsteiniano. Entretanto, a Mecânica newtoniana não o obedece, e necessitou de

correção relativística. Apesar disto, para baixas velocidades, esta descreve muitos fenômenos

de maneira excelente.

3.2.2 Leitura de texto

Em diante, solicitou-se aos participantes a leitura atenciosa do texto de Feynman.

Enfatizou-se bem a existência de erros no texto em português entregue, para o qual se

disponibilizava a errata. A ideia original, do autor deste documento, seria solicitar a leitura do

texto sem a errata, pedindo ao aluno que tentasse descobrir estes equívocos e que, de algum

modo, destacasse seus trechos suspeitos; em seguida seria passada a errata, para conferência e

correção textual. Isto se inspirou na orientação de Bordenave e Pereira (2015, p. 266), já aqui

citada, em estimular os alunos a julgar a validade de informações e a captar lacunas em um

texto – o que, segundo estes autores, ajuda a desenvolver a habilidade de observar e avaliar

(consciência crítica). Também, esta primeira opção possivelmente não interromperia o fluxo

de leitura; daí, conforme cremos, seria mais adequada.

Mas estando breve o tempo, julgou-se melhor solicitar ao participante que assim o

fizesse ou que lesse o texto concomitantemente à errata. Pediu-se que desprezassem as

‘Considerações ao estudante’, pois sabíamos de antemão que não haveria tempo para tal

leitura. A leitura do texto se iniciou aproximadamente uma hora após o começo do encontro,

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já com todo o material impresso necessário. É válido destacar que um e outro estudante

captaram alguns erros no texto em português – uns dois ou três equívocos –, pois os relataram

ao autor desta dissertação que, conferindo a errata, confirmou-os. Podemos crer que estes

realmente perceberam os erros sem consulta prévia à errata.

A leitura transcorreu tranquilamente, silenciosamente; alguns alunos pareciam, de vez

em quando, trocar ideias sobre o texto. Julgou-se útil um período em torno de 25 - 30 minutos

para uma leitura atenciosa – até para que se pudesse reler algum trecho não compreendido

etc., mas também porque, num estudo dirigido, o aluno deve trabalhar bastante no texto,

segundo a recomendação de Bordenave e Pereira (2015). Enfim, não se pretendeu, em

momento nenhum, apressar a leitura; isto estaria na contramão da nossa proposta e em

desacordo com o principal referencial teórico-pedagógico.

Uns vinte minutos após o início da leitura, o autor deste documento (que observava

equações do texto) reparou que, em seus rascunhos, a simbologia matemática referente ao

comprimento estava distinta da de Feynman (2008). Enquanto nós e o cientista utilizamos L

para o comprimento relativo do fio, em S´, foi utilizado L´ na lousa para seu comprimento de

repouso, em S, ao passo que Feynman (2008) utiliza Lo para este. No texto, tanto na edição em

português quanto na original em inglês (aqui utilizadas), alguns símbolos são usados

confusamente; p. ex.: na figura 13–11 (b), L´ indica o comprimento relativo do condutor (em

S´), enquanto no corpo do texto este se indica por L (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS,

2008, p. 13-9; FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 1964, p. 13-8). Além desta, existem certas

confusões no texto brasileiro, que constam na errata.

Assim, percebendo que poderia haver mais confusão, ressaltou-se aos alunos que Lo

representa o mesmo que L´, escrito no quadro, explicitando que a equação L = L´/γ equivale à

L = Lo /γ; daí, desta última temos L =

2

2

1

1

c

v

Lo

, que por sua vez, equivale à equação

13.22 usada por Feynman (2008, p. 13-9): L = 2

2

1c

vL

o . Estas quatro últimas equações

foram explicitadas no quadro.

A esta altura, já se percebia que não haveria tempo para que os alunos procedessem na

tentativa de resolução das questões. Como ressaltado, não se podia apressar-lhes a leitura

neste intuito, pois se solicitou que a fizessem com cuidado, atenção. Também, como orientam

Bordenave e Pereira (2015, p. 266), “a compreensão do tema contido no texto básico é

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alcançada pela análise cuidadosa do mesmo.”. Assim, apressar (ou até interromper) a leitura

entraria em contradição total com esta proposta.

3.2.3 Discussão do texto (resolução de dúvidas)

Partiu-se, então, após a leitura, para uma breve discussão sobre aspectos pertinentes

do texto, conforme cremos. Um destes já havia sido destacado durante a exposição anterior à

leitura, ou seja, o que diz respeito ao Princípio da Relatividade de Einstein. Ressaltou-se que

este é por vezes denominado (em outras obras) um dos postulados da TRE (ou de Einstein),

não importando muito se chamado de primeiro ou segundo postulado – o que é apenas uma

convenção. Julgou-se valioso apontar isto, porque o aluno poderia conhecê-lo somente por

denominação similar (e não por ‘Princípio da Relatividade’, como está no texto). Enfim,

recordou-se rapidamente este princípio. Daí, uma das colocações mais relevantes é a de que,

no texto, o princípio pode ser assim “vislumbrado”: ao obter expressão para a força

magnética, em S, Feynman parte de uma equação já obtida pela lei de Ampère da

magnetostática. Analogamente, ao obter equações para força e campo elétricos, em S´, o físico

também toma uma expressão obtida previamente (para o campo eletrostático), que vem da lei

de Gauss da eletricidade. Ora, estas leis de Gauss e Ampère não necessitaram de correção

relativística. Os estudantes pareciam interessados nestes apontamentos.

A discussão seguiu-se com a questão: foi perguntado aos participantes se conseguiam

captar que, se no referencial inercial S é observada interação atrativa de natureza

eletromagnética (entre o portador de carga e o fio condutor), também em S´ deve ser

observada uma interação atrativa de mesma natureza. Consequências logicamente absurdas

foram destacadas – caso a partícula elétrica não se aproximasse do fio em S´ –, como p. ex., se

esta permanecesse em movimento relativo uniforme ao fio neste referencial, ou ainda se fosse

repelida em S´, ao passo que no referencial S é sempre atraída. Também se mencionou

rapidamente que a força, nos dois referenciais, deve ser de natureza eletromagnética, pois a

interação gravitacional entre a partícula e o condutor é muitíssimo pequena, e pode ser

desprezada; as interações nucleares, por sua vez, atuam apenas em distâncias muito curtas,

comparáveis ao diâmetro de núcleos.

Todos pareciam concordar com estas colocações e percebê-las razoavelmente.

Afirmou-se que a abordagem do texto é válida apenas em intervalos de tempo muito curtos,

pois, uma vez que a força atua na partícula de prova, esta acelera e o movimento relativo não

mais é uniforme; assim, os referenciais deixam de ser inerciais. Mas, em intervalos temporais

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muito curtos, cada qual medido em seu referencial, os sistemas são muito aproximadamente

inerciais (e a TRE pode ser aplicada).

Também, destacou-se que a força magnética depende da velocidade; portanto, no

referencial inercial próprio da partícula não pode haver força magnética, pois a carga desta

está em repouso ali. Em certo momento, rabiscou-se no quadro a equação para a força

magnética, F = qv x B, afirmando-se que, em S´, o vetor v da partícula é nulo. Assim, a força

(em S´) deve ser uma força elétrica e o fio deve estar carregado neste referencial, enquanto

está neutro em S. Logo, a força em S é devida ao campo magnético, ao passo que em S´ se

deve ao campo elétrico. Também há campo magnético em S´, mas este não age na carga de

prova, pois, a velocidade desta neste referencial é nula. Então, concluímos que campos e

forças elétricas e magnéticas são totalmente dependentes do referencial inercial.

Uma estudante não captava o fato de um fio eletricamente neutro em um referencial

inercial, mas carregado noutro. Ela colocava certas questões, de certo modo, similares à

seguinte: ‘Só porque o observador se move relativamente ao fio, em S´, deve observá-lo

eletricamente carregado? A participante ainda aparentava estar confusa com noções a respeito

do conceito de velocidade, como a de que a velocidade inicial da partícula era igual à de

arraste dos elétrons de condução. Isto foi valioso para se recordar que Feynman enfoca o caso

especial no qual estas velocidades se igualam. Assim, solicitou-se à moça que imaginasse a

partícula elétrica adentrando o campo magnético de S, tal como está no texto; se a partícula

tem velocidade em relação ao campo, o único presente em S (e a velocidade não é paralela a

este), há apenas força magnética na partícula. Daí pediu-se à participante imaginar ter

velocidade igual à da partícula, estando junto a esta. Dessa forma, a velocidade da carga, neste

sistema S´, é zero – por conseguinte, não há interação magnética. Todavia, a partícula também

deve aproximar-se do fio em S´, pois seria ilógico vê-la ser atraída no referencial S do fio em

repouso, mas exibindo comportamento de partícula livre no referencial da carga em repouso.

O autor desta dissertação crê que a descrição para a carga líquida não nula em S´, que

envolve a relatividade da simultaneidade para os elétrons livres do fio, poderia confundir

mais a aluna. Dessa maneira, limitou-se a dizer que a partir do efeito de contração espacial em

S´ (e utilizando a matemática), o físico mostra que deve existir campo elétrico neste

referencial inercial. O experimento de pensamento, capaz de descrever esta carga líquida

diferente de zero (e, portanto, o campo elétrico do referencial S´), consiste na seguinte

constatação: um observador inercial está estacionário, em S´, juntamente aos elétrons livres do

fio. Porém, neste referencial, o fio se move para a esquerda – observe a figura 13–10 (b) do

texto; assim, a base direita do fio condutor se aproxima do observador em repouso na posição

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da carga q em S´, de tal modo que “se vê” um elétron sair por esta base (direita) antes que

outro entre pela base esquerda, que se afasta do observador. Em consequência, surge um

vácuo eletrônico (a ausência de uma unidade de carga elementar negativa) que consegue

descrever a carga líquida positiva em S´. Obviamente, esta ideia é uma abstração, pois, na

prática, há um grande número de elétrons livres. Então, pode-se também pensar que em um

intervalo de tempo muito curto, decorrido em S´, uma quantidade média de elétrons sai pela

direita antes que aproximadamente a mesma quantidade penetre pela esquerda.

Um aluno tentava descrever algumas noções para a garota. Enfim, acredita-se que ela

as percebeu parcialmente, mas não as aceitava. Com efeito, certos aspectos envolvidos no

texto são intrigantes; o autor deste documento, por exemplo, julgou que a conservação da

carga era violada no texto. Mas com o auxílio de seu orientador (e leitura adicional), percebeu

que isto não procede. O que ocorre é que a carga elétrica líquida – em qualquer sistema

eletricamente isolado – se conserva. O sistema do texto, como um todo, não pode ser formado

apenas pelo fio condutor, mas deve conter uma fonte de voltagem (e possivelmente outros

elementos de circuito). Assim, se o fio – ou uma porção deste – é percebido como

positivamente carregado por um observador inercial em S´, o restante do sistema fica

carregado com igual módulo de carga negativa neste referencial. Ora, se uma quantidade de

elétrons sai do fio antes que outra penetre, existe um excedente de elétrons na outra parte (no

restante) do sistema – a partir da perspectiva de S´. Se a carga líquida (total) em S é nula no

sistema eletricamente isolado, também será nula em S´, uma vez que as cargas líquidas não

nulas (neste referencial inercial) se compensam: a carga positiva na estrutura do fio balanceia

exatamente a negativa – contida no resto do sistema.

As considerações do parágrafo acima nos remetem a um questionamento interessante:

o que provém a carga líquida positiva (no fio) e negativa (no restante do sistema), do ponto de

vista de S´ ? Estas cargas líquidas apenas se manifestam devido à presença da bateria – ou de

uma voltagem qualquer –, que fornece a energia necessária para a corrente. Sem a bateria não

haveria corrente em nenhum dos referenciais. Em S, o fio continuaria neutro; em S´ –

referencial da carga de prova – o fio estaria contraído, mas esta contração se manifestaria

igualmente para os núcleos atômicos e elétrons, e as densidades líquidas de carga positiva e

negativa se balanceariam. Noutras palavras, caso não houvesse bateria, o simples movimento

do fio – em S´ – não o tornaria carregado. As partículas de cargas opostas se encontrariam

estacionárias umas em relação às outras, em ambos os referenciais. Não só a corrente seria

nula nestes referenciais inerciais, mas também não haveria nenhum campo interagindo com a

partícula de prova; esta se comportaria como partícula livre.

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A percepção de aspectos significativos, contidos no texto, parece melhor à medida que

se reelabora as ideias sobre o tema e conteúdos correlacionados. Enfim, talvez tenha sido um

erro não tentar explanar as considerações anteriores sobre a relatividade da simultaneidade

para elétrons livres em S´, sobre o fato de que o sistema não pode ser composto apenas pelo

fio mostrado por Feynman, e de que a carga líquida (total) deve se conservar no sistema em

sua totalidade. De qualquer modo, não haveria tempo para uma boa descrição dessas noções;

o autor deste texto, também, ainda não havia bem elaborado suas ideias a respeito.

No fim do encontro, enfatizou-se que o texto envolve abstração, idealização etc., mas

é útil para mostrar, teoricamente, que efeitos da TRE – como contração espacial e dilatação

temporal – podem ser tomados no Eletromagnetismo, ou seja, esta teoria já possui formulação

relativística, sendo compatível com a Teoria da Relatividade Especial. Isto implica que não

há contradição lógica interna entre ambas. O fim do diálogo, principalmente com a aluna,

pode ter sido valioso para afirmar alguma noção textual não captada por alguns participantes;

afinal, estes estavam em silêncio e pareciam atentos ao debate, que terminou por volta de 17

horas e 10 minutos. Por esta hora, boa parte dos alunos aparentava desejar ir embora; com

razão, alguns deviam ter compromissos. Assim, solicitou-se que procedessem nas questões

propostas em casa (consultando o texto), entregando-as depois ao Professor Flávio Resende.

Insistiu-se nisto, dizendo-lhes que as resoluções eram importantes para um trabalho de

Mestrado. Aparentemente, eles concordaram. Além disso, lhes foi disponibilizado o texto em

língua inglesa, e prometida a entrega de material suplementar (com resoluções e respostas

comentadas e considerações sobre o texto e aspectos correlatos), para autocorreção e/ou para

refazer as questões, após tentativa(s) com consulta ao texto. Combinou-se que este poderia ser

enviado via internet. Por fim, fez-se o sorteio dos cinco livros como prometido. Ninguém o

cobrou ou mencionou-o, mas todos permaneceram para este.

3.3 A proposta de um questionário avaliativo

Os itens (seções terciárias) adiante versam sobre o formulário (questionário) de

avaliação, preparado e disponibilizado na própria internet. Primeiramente, são feitas

considerações a respeito da preparação do mesmo; em seguida, é discutida sua aplicação e

feita uma simples análise de alguns dados.

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3.3.1 Elaboração do questionário

Foi elaborado um questionário utilizando o aplicativo JotForm®

. Nosso propósito

inicial era preparar um documento para avaliar o material e a oficina, partindo-se da crença de

que todas as atividades seriam feitas, ou seja, de que haveria tempo hábil a fim de que os

alunos tentassem resolver as questões. Assim, fez-se um rascunho, um razoável esboço deste

primeiro – anteriormente à oficina –, que foi abandonado.

Foram feitas tentativas no intuito de que os estudantes resolvessem as questões em

casa, retornando-nos suas respostas. Mas não se obteve sucesso. Dessa forma, percebeu-se a

necessidade de elaboração de um novo questionário (adaptado à realidade vivenciada).

Produziu-se um documento mais breve, curto, para se responder na própria internet.

O aplicativo citado, JotForm®, é facilmente encontrado pelo buscador Google

®. É uma

ferramenta grátis de qualidade razoável, mas útil, pois o link referente ao questionário pôde

ser enviado via e-mail e facilmente postado nos perfis de Facebook®

dos participantes. Além

disso, as respostas são automaticamente enviadas ao e-mail do autor do formulário. O

questionário em branco está disponível em: https://form.jotformz.com/51476541085659.

A intenção do questionário foi a de coletar informações capazes de auxiliar-nos na

avaliação da proposta como um todo, isto é, do material experimental preparado e do

encontro. Cientes do problema referente à disponibilidade de tempo, julgamos bem valioso

elaborar algo a respeito, como se percebe na terceira pergunta. Nesta, enfatiza-se o tempo

insuficiente para a continuação de discussão e tentativa de resolução das questões sugeridas,

solicitando-se sugestões para que isto pudesse realizar-se com maior proveito. É importante

reparar que – na pequena introdução ao questionário – deixou-se claro que sugestões e críticas

poderiam ser feitas no corpo das respostas. Tentamos, assim, obter informações passíveis de

auxiliar na proposta de sugestões para contornar problemas, fazer-nos perceber equívocos,

falhas, possíveis alternativas (e até propor melhorias, modificações, no material em questão).

Sendo o texto interessante e básico, como propõem Bordenave e Pereira (2015) (e

como se tentou justificar), abordando relevantes aspectos da relação intrínseca entre TRE e

Eletromagnetismo, achou-se conveniente elaborar uma questão (primeira questão) para o

relato de aspectos, conceitos etc., que mais despertaram interesse, atenção e/ou se mostraram

como novidades para o leitor. Esta questão pode ser válida a fim de se obter alguma ideia do

que foi compreendido pelo leitor e/ou até de seu nível de conhecimento sobre o tema.

O intuito da segunda pergunta consistiu em tentar captar do leitor a percepção ou não

da conexão entre as duas teorias em questão, de modo mais direto. O relacionamento,

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compatibilidade, entre ambas é o tema do texto de Feynman, até certo ponto; no mínimo, é

um dos aspectos mais globais e significativos deste, sendo uma de suas principais intenções.

Isto se evidencia quando o físico propõe: “Mas vamos ver o que nosso conhecimento da

relatividade pode nos dizer sobre as forças magnéticas se supusermos que o princípio da

relatividade pode ser aplicado – e ele pode – ao eletromagnetismo.” (FEYNMAN;

LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–7). Também no fim do texto, Feynman (2008, p. 13–11)

conclui e enfatiza que – considerados em conjunto – eletricidade e magnetismo se conciliam

com a TRE. Portanto, a segunda pergunta é valiosa neste trabalho.

Já se comentou a terceira pergunta. A quarta e última (que se compõe de dois itens)

versa a respeito da utilidade, importância, de grande parte do material elaborado. Questiona-se

o leitor sobre a relevância da tentativa de resolução das questões (e da análise da errata) em

contribuir para a compreensão textual etc. – e até para a própria resolução, ao se tratar da

errata.

3.3.2 Aplicação do questionário

Já se apresentou o questionário (avaliativo) e foram comentados certos aspectos

referentes a este. Neste item, destacaremos alguns problemas enfrentados em sua aplicação e

faremos considerações sobre respostas, apenas a título retrospectivo, ou seja, tentar-se-á

concatenar algumas respostas que possam ser pertinentes para o já escrito nesta dissertação.

Determinadas dificuldades, encontradas neste trabalho, já foram levantadas. O

problema da disponibilidade de tempo também ocorreu no período de aplicação do

questionário, após o encontro, e não apenas durante este (que consistiu na aplicação relatada)

e antes deste – a fase preparatória do material e da oficina. Também, houve o quorum

relativamente baixo de sete alunos, enviando-se o questionário aos seis identificados. A

expectativa de recebimento de respostas deste foi muitíssimo pequena, para não dizer quase

nula.

Outra dificuldade contundente diz respeito ao fato de que os estudantes estavam

próximos ao período de provas finais, entrega de trabalhos etc.; em várias disciplinas, isto já

se inicia na segunda quinzena de maio e começo de junho. A atividade acadêmica, para

diversos alunos e professores, torna-se mais acelerada nesta época. Somando-se a

voluntariedade de nossa proposta, a chance em se obter retornos diminui ainda mais.

Claramente, a proximidade de atividades, provas, finais, relaciona-se à disponibilidade de

tempo dos participantes. Além disso, destaque-se que alguns alunos, nos últimos períodos de

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graduação, já lecionam. Isto foi confirmado pelo orientador do autor deste texto, e checado

em certos perfis de rede social. Ainda, a moça participante do encontro mencionou a escola

em que lecionava, durante conversa informal após a oficina.

O questionário avaliativo foi-lhes enviado no dia 29 de maio de 2015, via e-mail e

perfil de Facebook®. Um mês após a oficina, havíamos recebido apenas a resposta (de

formulário avaliativo) de A, aluno do curso de Física, que a enviou logo no dia seguinte, 30

de maio. Repare-se que este, um rapaz, aparentava ser o mais interessado no encontro. Quase

dois meses após a oficina, o autor desta dissertação esteve muito preocupado, pois se solicitou

aos alunos a tentativa de resolução das questões em casa – disponibilizando-lhes o texto (em

português e em inglês), sua errata, questões propostas etc. Também, foi enfatizado no fim do

encontro que não necessariamente todas as questões deveriam ter respostas/resolução; a

proposta era tentar resolvê-las consultando o texto e errata. Além disso, informou-se que as

respostas, resoluções, de questões poderiam ser enviadas por meios eletrônicos – caso

desejassem –, e que se procuraria contatar todos. Mas, passados uns cinquenta dias do

encontro, ninguém as havia entregado (como informalmente combinado). Tampouco foram

enviadas ao e-mail ou perfil pessoal de Facebook® do autor deste texto.

Percebeu-se então que, muito possivelmente, não receberíamos mais retornos de

formulário avaliativo, muito menos de questões do material sugerido. Afinal, os alunos já

estavam de férias. Logo, o autor deste texto insistiu um pouco, pela rede social, para que ao

menos o documento de avaliação fosse respondido. Afirmou-se que as questões (do estudo

dirigido) não necessariamente precisavam ser enviadas, entregues, mas que apenas fossem

feitas junto à leitura texto, respondendo o formulário avaliativo em seguida. Assim se fez,

pois, havia pouca esperança de retorno de resoluções do material. E o tempo para

continuação/produção desta dissertação já estava breve.

Mas esta pequena insistência foi razoável, pois se recebeu o questionário avaliativo de

B, aluno da Engenharia Eletrônica e de Telecomunicação. Este, inclusive, antes de enviar o

formulário, enviou e-mail ao autor deste texto com algumas dúvidas sobre o texto de

Feynman. Seus questionamentos foram respondidos rapidamente, mas com cuidado.

Com tão poucas respostas de questionário avaliativo, considerou-se valioso enviá-lo

para algumas pessoas selecionadas que não participaram da oficina. Obviamente, escolhemos

possíveis participantes que preenchiam todos os pré-requisitos, mas que também não fossem

“especialistas” no tema do texto. Estes possuíam o livro em português ou ao menos tinham

acesso a ele (como consultado); assim, foram-lhes enviadas eletronicamente as

‘Considerações ao estudante’, a errata, questões propostas etc. – o mesmo material impresso

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entregue aos alunos na oficina. Também lhes indicamos um site, do California Institute of

Technology (Caltech), em que está disponível – para domínio público – a coleção de

Feynman original, no idioma inglês, apenas para leitura; neste, não há nenhum dos erros

encontrados (no texto) nas edições brasileira e norte-americana avaliadas. Esta informação

lhes foi passada, junto a outras sobre os equívocos contidos no texto. Foi informado, ainda,

todo o necessário para localizar o texto na obra, como título, volume, páginas etc.,

encaminhando-se o link para o questionário avaliativo.

Como estes não tomaram parte no encontro, pediu-se lhes que, no campo

Curso/período, informassem sua formação acadêmica e que desprezassem o trecho ‘[...] e na

introdução dada pelo professor’ da primeira pergunta. Em relação à terceira pergunta,

ressaltamos a falta de tempo para terminar a discussão e resolver as questões em uma oficina,

solicitando-lhes somente alguma opinião, ideias, a fim de produzir um encontro com bom

proveito. Finalmente, lhes informamos que poderiam enviar apenas as respostas do

formulário; as resoluções/respostas de questões – propostas no material – ficariam a critério

de quem as quisesse enviar.

Esta atitude foi boa, conforme cremos, porque recebemos formulários de mais dois

indivíduos, C e D. Destes, um homem jovem com pouco mais de trinta anos, recém-formado

em Física na PUC Minas, e uma ex-colega de Mestrado do autor deste documento, de

cinquenta e poucos anos. O aplicativo JotForm® agrupou as quatro respostas, que depois

foram inseridas como imagens no apêndice B.

3.3.3 Análise de dados

Poucos questionários avaliativos foram obtidos, apesar do esforço e insistência; assim,

não faremos análise de discurso baseada em autores que dela tratam. Afinal, quatro

formulários compõem uma amostra bem fraca a fim de se obter conclusões pertinentes mais

gerais. Dessa maneira, as respostas adquirem caráter mais pessoal, não representando ideias,

conclusões, que poderiam ser, até certo ponto, atribuídas a uma coletividade; o que se reforça

pelo fato de termos formulários de dois participantes da oficina e de dois não participantes.

Além disso, recorde-se que não se recebeu nenhum conjunto de respostas às questões do

material.

Em relação às considerações retrospectivas sobre as respostas do formulário, destaque-

se, de início, o mencionado por A na primeira pergunta. Este considera interessante “[...] a

forma como a teoria eletromagnética já continha, em seu cerne, a teoria da relatividade

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espacial (sic).”. O jovem aponta justamente um dos aspectos mais significativos do texto, já

aqui citado – ainda que com outras palavras, mas que remetem à mesma conclusão. Como se

apontou, a conexão, conciliação, entre estas teorias é, de certa forma, o tema do texto; ou ao

menos uma das principais intenções de Feynman.

Em segundo lugar, aponte-se o citado por B, que escreve em resposta à terceira

pergunta do formulário: “Como a agenda de todos em uma universidade é corrida, [...]”.

Claramente, este trecho não abarca o conteúdo da resposta e o contexto da questão, mas é útil

para destacar um dos problemas encontrados mais contundentes: a disponibilidade de tempo

nas universidades (em nosso caso, da parte dos estudantes). A menção de B vale

particularmente para o período posterior ao encontro – próximo a provas e trabalhos finais.

Some-se a isto a voluntariedade da proposta. Contudo, é claro que sua citação não é geral; ele

apenas esclarece que, para muitos, o ritmo acadêmico é apressado em vários períodos.

Em terceiro lugar, apontemos duas menções de C, que não participou da oficina. A

primeira é sua resposta completa para a segunda pergunta: “Sim. A questão da relatividade

das forças e campos elétricos e magnéticos (que dependem de um referencial inercial) e a lei

da conservação da carga elétrica.”. Nesta, são destacados mais dois aspectos valiosos do texto.

Com efeito, o primeiro destes toma parte no título do texto e é bem importante, pois, sob a

ótica da TRE, conceitos de força e grandezas de campo (elétrico(a) e magnético(a)) são

completamente dependentes do referencial inercial, apesar de que as equações fundamentais

do Eletromagnetismo se preservam em qualquer um destes – sem correção relativística e em

concordância com o Princípio da Relatividade einsteiniano. Este aspecto, por exemplo, foi

resumido no banner. O segundo destes diz respeito à invariância/conservação duma

propriedade inerente da natureza, fonte da luz e que independe da velocidade relativa e da

energia da partícula elétrica, o que é muito bem exemplificado por Feynman. Em suma, C

destaca duas significativas noções textuais, que também são intenções do físico.

A outra importante menção desta pessoa, segundo cremos, é a de que “Ler repetidas

vezes o texto facilita sua compreensão, ajuda na resolução das questões [...]”. Esta consta no

item (b) da quarta pergunta. De certa forma, isto remete à proposição de Bordenave e Pereira,

ao defenderem que a compreensão de tema em um texto básico se alcança pela cuidadosa

análise do mesmo, o que auxiliaria a desenvolver a capacidade analítica (BORDENAVE;

PEREIRA, 2015). O autor desta dissertação concorda plenamente com esta citação de C, pois,

em sua experiência pessoal com o texto, nos dois últimos anos, percebeu claramente que suas

ideias sobre este se aprimoraram a partir de releituras. Obviamente, a reelaboração, reanálise,

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destas ideias, também se deve ao estudo de outros textos e assuntos correlatos; porém, não se

pode negar a grande utilidade da releitura/análise do texto nesta cooperação.

O questionário avaliativo também é parte integrante desta pesquisa, embora não sejam

possíveis conclusões mais abrangentes, dado o pequeno número de respostas, como

ressaltado. Até certo ponto, já se tentou relatar algumas impressões obtidas sobre a reação e as

respostas (de participantes e não participantes) com as atividades propostas, tanto na oficina

como após.

Colocamos certos arquivos em anexo, ao invés de explicitá-los neste texto, pois são

um tanto longos. Disponibilizar o link para o formulário avaliativo, em branco, confere certa

fidelidade ao que se fez. Assim, o leitor tem acesso a conteúdo que ainda está na internet, caso

o aplicativo responsável esteja ainda online. Havendo disponibilidade ao livro-texto de

Feynman, o estudante ou professor que queira ler/estudar e contribuir com esta proposta,

poderia até enviar o formulário – o que poderia ser útil, p. ex., numa hipotética

complementação, melhoria, deste trabalho.

Finalizando este item, façamos duas considerações: primeiramente, poderia ter sido

útil incluir um campo para a idade do indivíduo no formulário, o que pode ser pertinente em

pesquisa educacional. Em segundo lugar, a solicitação de período aproximado (para o curso)

ocorre, pois, recorrentemente alunos de Física e engenharias se atrasam em algumas matérias,

terminando por cursar disciplinas de vários períodos no mesmo semestre letivo. Ao menos,

esta é a impressão do autor deste documento, quando aluno de graduação.

3.4 Principais dificuldades encontradas neste trabalho

Foram apresentadas, nesta dissertação, certas dificuldades em todo o processo deste

trabalho. Façamos, então, uma análise pouco mais detalhada destas, a fim de se captar como

foram desfavoráveis, o que se poderia fazer para evitá-las etc.

Em relação à disponibilidade de tempo dos participantes, já se enfatizou praticamente

tudo: a agenda universitária acelerada, o iminente período de provas finais, os compromissos

de trabalho etc. Estas desvantagens são claras. Imagine-se, em comparação, se o estudo

dirigido é aplicado em um grupo sem iminentes atividades acadêmicas e compromissos de

trabalho, com folga em suas agendas etc. A possibilidade de se obter respostas/resoluções das

questões elaboradas – assim como de formulários – seria maior.

No que concerne à nossa tentativa de aplicação, provavelmente nada (ou quase nada)

poderia ter sido feito para evitar os problemas do parágrafo anterior. Pois desde fins de 2014,

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o autor desta dissertação trabalhava e estudava a fim de produzir algum material relacionado

ao texto de Feynman – com a ajuda de seu orientador. Mas sendo humano e falível, a primeira

proposta ficou difícil para os possíveis alunos, além de um tanto longa; esta não foi

aplicada/testada e logo percebemos sua inadequação. O processo precisou quase que ser

reiniciado; além disso, o autor deste trabalho já havia se deparado com os erros do texto em

língua portuguesa, tendo sido necessária a preparação de errata. A elaboração desta foi meio

cansativa, devido ao cuidado, atenção especial, para não confundir a simbologia que utiliza a

“linha” (S´, ρ´ etc.) com a que não o faz (S, ρ etc.). E ainda julgamos útil fazer uma

comparação dos erros no texto em português com algum original em língua inglesa; a versão

em inglês optada foi uma mais antiga, de 1964, por ser talvez ainda mais usada e difundida.

Assim, o material relacionado ao estudo dirigido, possivelmente adequado para

aplicação/teste, apenas ficou pronto no final de abril, início de maio de 2015. Mas as

expectativas iniciais eram de que assim estivesse em fins de janeiro, início de fevereiro

daquele ano; desse modo, nada pôde ser feito para contornar os problemas citados.

Outro fator agravante foi a produção das ‘Considerações ao estudante’. Não que a

proposta deste documento seja ruim, mas porque precisa de tempo considerável para se

elaborar. Enfim, a fim de que um professor evite as dificuldades mencionadas no início deste

item, a sugestão é de que se aplique o estudo logo no início do semestre ou ano letivo. E a fim

de se evitar a indisposição de participantes em responder o formulário avaliativo na internet,

pode ser válido aplicá-lo impresso na oficina (durante um primeiro encontro ou posterior).

A voluntariedade da nossa aplicação experimental foi outro empecilho, que dispensa

comentários sobre seu caráter desfavorável. Em uma hipotética e futura oficina, a sugestão,

então, é que a atividade seja pontuada. Claramente, aqui importam alguns fatores relevantes,

como a disciplina em que se deve encaixá-la. Cremos que o mais adequado seria alguma que

aborda conteúdos da TRE ou ao menos os fundamentos do Eletromagnetismo na forma

integral. Obviamente, se deve atentar para todos os pré-requisitos, preenchendo-os antes da

aplicação.

O relativamente pequeno quorum, em nosso encontro, também foi desfavorável, pois

um número maior de estudantes aumentaria a expectativa de formulários entregues (e de

respostas/resoluções das questões sugeridas). Por outro lado, um maior quorum também

exigiria um tempo mais longo de discussão e resolução de dúvidas – após a leitura – a respeito

do texto e seu tema. Desse ponto de vista, isto seria desfavorável em nossa aplicação – dada a

escassez de tempo enfrentada. Em um hipotético encontro, sugeriríamos que o professor

tentasse adequar o tempo disponível para diálogo de acordo com a quantidade média de

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participantes esperada – caso seja possível estimá-la. É um pouco difícil especular um bom

número de alunos para aplicação e avaliação da proposta. Caso se consiga a resolução das

questões em sala, acreditamos que algo em torno de 12 a 15 alunos estaria razoavelmente

bom. Assim sendo, seria também pertinente uma solução para que todos (ou quase todos)

respondessem o formulário avaliativo.

Opções para contornar o problema de baixo quorum, em nosso caso, foram realmente

escassas. Primeiramente, ressalte-se o pequeno número de estudantes atualmente presentes em

cursos de Física. Referências a este respeito são dispensáveis, pois o fato é facilmente notável

na pequena quantidade de formandos nestes cursos ou quando se compara esta a certos cursos,

com número bem maior de estudantes. Até a presente data, o número de alunos em cursos de

Física é relativamente pequeno em grande parte das universidades/faculdades brasileiras

(comparado aos formandos e graduandos de determinados cursos). Em segundo lugar, para

atrair mais estudantes de cursos afins, possivelmente seria necessário um tempo maior de

divulgação e uma propaganda mais vigorosa da oficina. Ora, no relativamente curto período

(da reunião com o coordenador até o encontro) fez-se praticamente tudo para evitar o baixo

comparecimento – inclusive o sorteio de livros. O Professor Flávio Resende (Coordenador)

enviou e-mails com o banner a praticamente todos os alunos da Física que preenchiam os

requisitos prévios; este também foi exposto no Instituto de Ciências Exatas e Informática

(ICEI), a fim de atrair outros estudantes. Somando-se o caráter voluntário da proposta, cremos

que seria ingênuo esperar um número maior de participantes, digamos, de 12 a 15 alunos. De

certo modo, houve sorte com sete estudantes – o que poderia ter sido menor.

A fim de se evitar o baixo quorum, em futura aplicação, poder-se-ia pontuar a

atividade. Porém, este problema também pode ocorrer pelo pequeno número de alunos em

cursos de Física; assim, se determinada disciplina tem poucos matriculados, uma solução

poderia consistir na junção de disciplinas distintas, desde que se atente para os pré-saberes.

Como exemplo, alunos de disciplina que abarca assuntos da TRE se juntariam aos do

Eletromagnetismo.

Mas o problema mais sério, enfrentado por nós, foi o tempo faltante para a tentativa de

resolução das questões do material de estudo, o que prejudicou sua aplicação experimental –

não sendo possível a análise das respostas deste (e as possíveis conclusões, ainda que parciais,

sobre estas). A seriedade do problema se evidencia pela pergunta (no formulário) a fim de

avaliá-lo, isto é, de que ideias, propostas etc., fossem colocadas na intenção de evitá-lo.

Tentou-se contatar os participantes a fim de combinar um segundo encontro. Com

efeito, ao sugeri-los informalmente o novo encontro, no fim da oficina, muitos se

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manifestaram favoravelmente. Uma destas tentativas fez-se via Facebook®, enviando

mensagens privadas com o objetivo de marcar dia e horário – conveniente para todos ou quase

todos. Mas apenas uma aluna enviou resposta, informando sua disposição para um novo

encontro, na intenção de discutir a intrigante questão relacionada ao Eletromagnetismo.

Também, dois estudantes se manifestaram, ao orientador deste trabalho, favoráveis à

continuação. Porém, ninguém enviou confirmação, disponibilidade de horário etc., nem via e-

mail ou rede social, apesar de uma pequena insistência. Isto ocorreu, provavelmente, devido à

escassa disponibilidade de tempo dos alunos (seus compromissos acadêmicos, de trabalho, e a

agenda já apertada para muitos – naquele momento). Vimo-nos, então, obrigados apenas a

solicitar-lhes que tentassem responder/resolver as questões, acompanhados do texto, e que

respondessem ao formulário. Cremos que não havia nada mais a se fazer na tentativa de

continuar a oficina. Além disso, o prazo para a produção desta dissertação se abreviava; se

houvesse o novo encontro (ou outra aplicação experimental) no segundo semestre de 2015,

não haveria tempo para escrevê-la. Isto consistiu em uma dificuldade inevitável.

3.5 Avaliação de respostas do formulário avaliativo e algumas sugestões para o

aprimoramento da oficina

Façamos uma avaliação das respostas à terceira pergunta do formulário, que podem

indicar possíveis soluções para o problema do tempo durante a oficina (e talvez para outros

problemas) e/ou sugestões para sua melhoria. A resposta de A, participante, é um pouco

confusa; este aparenta sugerir, no início, um segundo dia de encontro, desde que os alunos

resolvam as questões previamente. Acreditamos que seria uma ótima opção para contornar o

problema em nossa aplicação, se pudéssemos fazê-lo na segunda metade de 2015. Também

cremos que a continuação da oficina teria sido ótima para progredir no debate de aspectos

importantes do texto, apenas iniciado na aplicação experimental. Além disso, sabemos que os

estudantes não fariam todas as questões em casa, mas tentariam fazer o que conseguissem.

Pois não são poucas as questões propostas; algumas exigiriam, possivelmente, uma não

pequena capacidade crítica, de análise, abstração, raciocínio – além do fato de que, muitas

vezes, é completamente natural precisar recordar-se de algum conceito, denominação, lei etc.

(ainda que se tenha feito um bom curso teórico).

Então, podemos sugerir que uma boa alternativa de continuação (para nosso caso ou

outro parecido) seria solicitar a releitura cuidadosa do texto em casa, seguida da tentativa de

resolução das questões – consultando-se o texto sempre quando preciso. Daí, o professor

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continuaria a discussão neste segundo encontro, solicitando aos participantes que tentassem

progredir na resolução, fornecendo-lhes subsídios objetivos. Uma espécie de correção – ou

pré-correção – poderia ser feita. Assim, o professor atuaria apontando e concatenando alguns

elementos, ideias etc., para que os próprios alunos elaborassem respostas, corrigissem e/ou

resolvessem questões. Se a continuação só puder ser feita em semestre/período letivo

posterior, seria proveitoso o professor insistir na releitura atenciosa e dar boa ênfase no

prosseguimento da discussão, inclusive na recordação de alguns conhecimentos prévios.

As sugestões acima nos remetem à orientação de Bordenave e Pereira (2015, p. 266),

de que o aluno deve esforçar-se bastante no estudo de texto, no uso de sua própria criatividade

interpretativa e de extrapolação de conteúdo. Pois solicitar-se releitura, progressão, avanços

na resolução etc., mais a ideia de que o educador apenas indique e recorde conceitos, leis (sem

resolver as questões, mas auxiliando objetivamente na obtenção de resultados), põe em

destaque o trabalho do aluno. Cabe aqui também a valiosa orientação de que o professor deve

“resolver ele mesmo as questões elaboradas [...]” (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 270),

o que seria uma parte da análise do estudo pelo docente, antes de aplicá-lo, como defendem

estes autores. Possivelmente, apenas assim uma eficiente “pré-correção” será feita. O autor

deste documento resolveu/respondeu por duas vezes, antes da oficina, todas as questões do

material, pois os participantes poderiam requerer o seguimento da oficina em algum dos dias

seguintes, a fim de auxiliá-los na resolução e formulação de respostas.

A “segunda parte” da resposta de A para a terceira pergunta, isto é, “[...] caso não seja

possível a realização de um segundo dia de oficina, ao invés de tratar a parte das

transformações de Lorentz, abordar diretamente a discussão que se sugere sobre a relação do

electromagnetismo e a TRE”, sugere que a discussão de texto se faça diretamente, sem o

enfoque do conteúdo referente à TRE. Ora, isto não foi possível em nossa experiência, pois

certos alunos não possuíam este conhecimento – como confirmado ao questioná-los logo no

início do encontro. E o participante se confunde, pois equações de transformação de Lorentz

(para coordenadas espaciais e instantes temporais de um evento qualquer) não foram

abordadas na oficina, talvez nem citadas; este aparenta se referir às relações entre intervalos

temporais e espaciais, nos dois referenciais inerciais. Todavia, se os alunos contemplassem

todos os pré-requisitos, a ideia inicial seria ir diretamente para o debate, após leitura do texto

e sua errata.

A resposta de B para a terceira pergunta também é interessante. Este propõe

disponibilizar previamente o material para a oficina, possivelmente referindo-se ao texto de

Feynman. Isto pode ser útil, p. ex., se o professor o disponibiliza solicitando sua cuidadosa

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leitura em casa; e antecipa que uma discussão e estudo importantes serão feitos em sala.

Desse modo, o educador pode até estimular uma leitura mais atenta. Também, pode-se já

advertir os alunos sobre os erros, pedindo-lhes que tentem percebê-los e que destaquem

trechos suspeitos. Assim, posteriormente seria entregue a errata para conferência e análise, o

que pode se fazer junto à releitura ativa do texto – atentando-se mais nos trechos incorretos,

tentando melhor captar seus significados e as intenções do autor. Outra opção é

disponibilizar-se o texto (livro) juntamente à errata; neste caso, o professor poderia sugerir a

opção de leitura/estudo acima ou que se fizesse a leitura textual concomitantemente à da

errata. Em qualquer caso, é ótimo solicitar a leitura atenciosa, cuidadosa, a ser feita quantas

vezes necessárias – obviamente, dentro do tempo disponível. Chamar a atenção para estas

considerações pode ser valioso principalmente para os mais interessados.

Os últimos argumentos são consistentes com o proposto por Bordenave e Pereira: que

a compreensão do tema de texto básico se alcança pela cuidadosa análise do mesmo; que no

estudo dirigido o estudante deve trabalhar muito neste texto (BORDENAVE; PEREIRA,

2015, p. 266). Ora, leitura e releituras cuidadosas, atenciosas, naturalmente abarcam um

cuidado analítico, assim como a ideia de se perceber (e conferir) erros em certa versão do

texto. Isto também implica uma maior participação e esforço dos alunos. Em todo o processo,

as questões referentes à pontuação, ao tempo, número de estudantes etc., devem ser bem

analisadas pelo educador.

Seguindo-se o acima exposto, seria feito um diálogo, ressaltando-se algumas noções

importantes do texto – o que B aparenta chamar de debate. O “tira dúvidas” destacado por

este estaria já contido nesta discussão, debate. Enfim, as questões seriam passadas em diante,

ficando quase que a título experimental, pois o retorno que delas se obteve – através de

formulários avaliativos – é escasso. Estas colocações, assim como outras apresentadas, são

humildes sugestões para o melhoramento da aplicação. A resposta de B para a terceira

pergunta (segundo crê o autor deste documento) ressalta bem o esforço que se faz necessário

da parte do estudante.

De certa forma, tentamos interligar certas respostas dos formulários a algumas ideias

(se possível construindo relações com nossos referenciais teóricos), na intenção de sugerir

melhorias tanto para experiência similar à nossa quanto para outras. Vejamos a resposta de D

(que não participou na oficina) à terceira pergunta. Esta guarda certa semelhança com a de B,

ao sugerir que “[...] para maior proveito da matéria, o texto deveria ser dado numa semana e a

discussão deveria ser feita noutra.”. A semelhança está em se sugerir a disponibilização prévia

do material ao aluno. Enfim, ambos parecem recomendar a leitura de texto previamente à

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oficina. Dessa perspectiva, a resposta de D não é inovadora em relação às outras já

apresentadas; sua ideia de que a discussão ocorra em semana posterior concorda com B,

quando este propõe que “[...] a palestra poderia ser direcionada a um debate ou tira dúvidas.”,

após a disponibilização do texto.

Contudo, disponibilizar o texto de Feynman antecipadamente exige que todos os pré-

requisitos sejam respeitados. Afinal, este aborda conhecimentos anteriores muito importantes

em seu entendimento. Solicitar sua leitura sem respeitar estes conhecimentos nos remete à

Bordenave e Pereira (2015), que orientam que o texto em questão deve ser básico e

interessante. Ora, se o leitor não contempla os requisitos prévios, o texto não pode ser

considerado básico – muito menos interessante. A leitura com requisitos prévios faltantes é

capaz de desmotivar o leitor, pois as características textuais exigidas (básico e interessante)

não mais se manifestam. Daí, a curiosidade do aluno possivelmente não se desperta, o que

contradiz a primeira função positiva, para um estudo dirigido, enunciada por Bordenave e

Pereira (2015, p. 266): a de ser capaz de motivar os estudantes, pois o uso de texto básico

interessante lhes desperta a curiosidade. Também, a leitura com pré-requisitos faltantes estaria

na contramão do que é chamada de leitura ativa por estes autores.

A resposta de C (não participante do encontro), também à terceira pergunta, sugere a

realização duma mesa-redonda. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira define este termo como

a “Reunião de pessoas entendidas ou abalizadas que discutem ou deliberam, em pé de

igualdade, sobre determinado assunto.” (FERREIRA, 1999, p. 1322). De forma parecida,

Houaiss (2009) define a palavra como “discussão ou conferência em que todos aqueles que

dela participam estão em pé de igualdade”. Mas cremos que esta ideia não tem validade em

nossa proposta; em rápidas pesquisas (em sites e artigos na internet), constata-se que a

denominada mesa-redonda aproxima-se mais de uma espécie de reunião de especialistas em

certo tema. Assim, não seria adequado estender a ideia a um grupo formado por um professor

e sua turma. Relativamente à sugestão de “Outras oficinas ligadas ao tema.”, mencionada

ainda por C na terceira pergunta, acreditamos que se enquadra em recomendações já citadas

por outros que responderam o formulário. Aliás, esta sugestão levantou a questão do que vem

a ser uma oficina, ou seja, se existe definição, descrição, para o termo.

Neste trabalho, o termo oficina é utilizado simplesmente como uma espécie de

sinônimo de reunião com alunos, para aplicar experimentalmente um material dirigido ao

estudo. Bordenave e Pereira (2015) definem como laboratório ou oficina (workshop) uma

reunião de pelo menos doze indivíduos sob a orientação de especialistas, de natureza bem

prática, aplicada, cujos objetivos são, com efeito, muito específicos – e definidos a partir do

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que as pessoas aprenderão a melhor executar na oficina. A lista de pessoal necessário na

preparação de um bom laboratório (oficina) evidencia a complexidade da técnica; de fato, é

preciso ao menos cinco espécies de pessoas – inclusive especialistas consultores. Os

participantes devem se dividir em equipes, cada uma com local, materiais adequados e um

instrutor-assessor acompanhante. A proposta inclui também palestras de especialistas

consultores, discussão em pequenos grupos e em plenário, exercícios práticos etc.

(BORDENAVE; PEREIRA, 2015, pp. 200-201). Mas esta técnica é demasiadamente

complexa para nossa proposta e desnecessária para o material de estudo aqui sugerido, uma

vez que envolve pessoas e atividades totalmente dispensáveis, além de uma natureza

eminentemente prática e com finalidades bem específicas – algo inadequado para o estudo do

texto em questão. Portanto, o termo oficina entra aqui apenas como mera denominação

“técnica”, referindo-se ao encontro com os alunos universitários, para o qual se tentou propor

sugestões de melhorias.

3.6 Algumas modificações no material e suas possíveis potencialidades

Consideremos, adiante, algumas alterações produzidas no material de aplicação

experimental, isto é, nas ‘Considerações ao estudante’, nas questões propostas e errata.

Levantemos, também, algumas potenciais funções positivas do material.

3.6.1 Considerações ao estudante

Certas modificações, feitas no primeiro material, dizem respeito às ‘Considerações ao

estudante’, um documento que consistia numa espécie de introdução para o aluno – uma

apresentação de nossa proposta de estudo do texto de Feynman.

Acreditamos que alguns leitores poderiam sentir-se repelidos pelo documento, pois o

texto introdutório era de tamanho significativo; daí se tentou encurtá-lo. A depender do tempo

disponível, é até possível ler a nova introdução no início de uma oficina. Pode-se especular

que a não leitura de um texto introdutório, em nossa aplicação, foi desfavorável, pois estaria

em desacordo com a orientação de Bordenave e Pereira (2015), de que na primeira fase de

estudo deve se solicitar do aluno uma visão global do texto (através de normas dadas pelo

professor). Assim, títulos e subtítulos seriam observados, captando-se a estrutura do trabalho a

ser feito. Como o texto de Feynman tem apenas um título, esta última ideia não deveria valer

para este. Mas uma introdução ao leitor pode fornecer-lhe uma “visão” mais geral, global, do

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texto em estudo e da proposta; ainda, pode ser capaz de gerar alguma perspectiva sobre esta.

Enfim, destaque-se que as alterações feitas nas ‘Considerações ao estudante’ dizem respeito,

principalmente, à tentativa de encurtar este documento.

3.6.2 Questões propostas

Não se fez nenhuma alteração na primeira questão do material de aplicação

experimental. Ressaltemos primeiramente uma modificação realizada na segunda e na quinta

questões. Com efeito, tentamos descrever as mudanças na ordem numérica das questões, mas

certa alteração produzida nestas duas é de igual natureza. Logo, é mais prático relatá-las

juntamente.

Com razão, Feynman não utiliza nenhum sistema de coordenadas vetoriais, ainda que

vetores sejam representados em figuras, em negrito no corpo do texto, e as equações vetoriais

de força magnética (para o referencial inercial de repouso do fio) e relativística de movimento

sejam escritas, nos textos em português e em inglês americano aqui estudados. A segunda

questão solicitava a obtenção de expressões para o valor do campo magnético B e para o vetor

força magnética F atuante na partícula elétrica, no referencial inercial S do fio. A quinta

solicitava expressões para o valor do campo E´ e para o vetor F´ atuantes nesta partícula, no

referencial desta.

Mas o autor desta dissertação percebeu que obter resultados vetoriais destas forças

quase não possui utilidade, apenas complicando as questões. Pois é fácil captar, por regras

mnemônicas da mão direita, que a força magnética em S somente pode estar em direção

contida no plano da página da figura 13–10 do texto, perpendicular ao eixo longitudinal do fio

e apontando para este. O mesmo ocorre com a força elétrica na partícula negativa, em S´, a

partir do raciocínio de que o fio está positivamente carregado com densidade de carga

uniforme neste referencial. Podemos concatenar estas alterações à orientação de Bordenave e

Pereira (2015, p. 267), de que o professor formule “[...] questões claras e simples para serem

respondidas seja com base no texto, seja interpretando a ideia ou intenção do autor,

associando ideias, exercitando o raciocínio [...]”. Ora, solicitar resultados vetoriais não auxilia

em nada para a compreensão do tema que, até certo ponto, consiste na compatibilidade e

relacionamento entre Eletromagnetismo e TRE – além de alguns aspectos relevantes e

integradores destas teorias. Assim, a complicação vetorial discorda de Bordenave e Pereira

(2015), no que diz respeito à simplicidade de questões.

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Poder-se-ia elaborar desnecessariamente algum sistema vetorial, o que não estimula a

interpretação de ideia ou intenção de Feynman. Isto poderia prejudicar um pouco a aplicação

do estudo, no caso em que os alunos tentem resolver as questões, gastando tempo

desnecessário naquelas duas. Portanto, podemos enxergar possíveis potencialidades nestas

modificações. Porém, quem muito valoriza estes entes matemáticos pode discordar deste

argumento, crendo, por exemplo, que auxiliam o aluno a lidar com sistemas vetoriais. Mas

este tipo de auxílio não toma parte em nossos objetivos.

Como Bordenave e Pereira (2015) destacam a clareza de questões, introduzimos nos

enunciados da segunda e quinta o fato de que o fio deve ser considerado infinito para os

cálculos, pois Feynman aparenta não explicitar isto no texto – pois pode tê-lo feito em seções

anteriores. Os desenhos adaptados, também, podem sugerir que o raio e diâmetro do fio reto

seriam significativos em relação ao seu “comprimento”; poder-se-ia pensar que as

considerações de simetria não seriam aplicáveis. Logo, resolveu-se esclarecer, na segunda

questão (o que também é válido para a quinta), que se mostra apenas uma seção do condutor –

e que este deve ter características tais para ser considerado infinito.

Julgou-se útil uma pequena alteração no enunciado da terceira questão, incluindo-se

que a velocidade média de arraste (dos elétrons de condução) também é denominada

velocidade de migração em outras obras; p. ex., em Serway e Jewett (2008, p. 770). Também

se incluiu o termo “de repouso”, ao citar o referencial S do fio de cobre, a fim de ressaltar que

a velocidade de arraste destas partículas é válida neste referencial inercial.

Alterou-se a pergunta ao final da redação da quarta questão, ainda no interesse da

clareza, enfatizando-se o questionamento sobre a existência de carga líquida não nula. No

primeiro material questionava-se apenas sobre carga líquida; logo, o aluno poderia responder

“sim”, tendo em mente uma carga líquida nula ou não nula – e a resposta não ficaria

explícita.

De fato, há carga interna líquida (positiva) no fio, do ponto de vista de S´. Mas no

texto, isto pode aparentar ser paradoxal com a lei de conservação da carga elétrica. Com

efeito, Feynman apresenta ρ´ diferente de zero após ótimas considerações sobre a lei da

invariância/conservação da carga, numa experiência de pensamento, idealizada e aproximada

(o que se nota no fato de que os intervalos de tempo devem ser bem curtos, em seus

respectivos referenciais). Também, antes da expressão para ρ´, lê-se no texto em português:

“[...] um fio neutro, com uma corrente passando, deve parecer carregado quando colocado

em movimento.” (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–8, destaque nosso).

Analogamente, no original em idioma inglês, não aparenta estar claro que o fio, de fato, se

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encontra carregado em S´ (ao menos para o autor desta dissertação), o que pode trazer a

impressão de que este somente parece como carregado em S´ – mas, na verdade, não está.

Digamos, enfim, que o trecho pode suscitar dúvidas a este respeito.

As considerações do parágrafo acima provêm de dúvidas que surgiram no autor deste

documento, ao produzir as questões. A sutileza do experimento, a ótima exemplificação do

físico sobre a conservação da carga líquida, mais o trecho citado, pode levar-nos à conjectura

de que ρ´ > 0 é apenas um resultado teórico para mostrar a relatividade dos campos elétrico e

magnético e a compatibilidade da TRE com o Eletromagnetismo.

Tudo isto justifica a alteração na pergunta da quarta questão, não só para torná-la

clara, mas também para tentar incrementar seu potencial em levantar dúvidas semelhantes no

leitor, levando-o a debater com o professor ou até mesmo a conclusões corretas. Mais adiante,

argumenta-se a fim de mostrar que não existe incoerência entre o enfoque do texto e a lei de

conservação da carga. De qualquer modo, o assunto deveria ser posto em discussão pelo

professor.

Fez-se uma pequena alteração no enunciado do item (b) da quinta questão,

destacando-se que as equações eletromagnéticas, mostradas em questões, não necessitaram de

correção relativística para serem aplicadas no texto. Esta nova redação tem potencial em

recordar o fato de que equações atribuídas à Maxwell preservam iguais formas matemáticas

nos dois referenciais inerciais (ou em qualquer outro).

Na sexta questão, incluiu-se a palavra ‘inercial’ na terceira linha do enunciado, no

interesse da clareza. Também nesta intenção, julgamos pertinente incluir o termo

‘correspondentes’ (para os intervalos temporais) na redação da sétima, pois a igualdade na

variação de momentum relativístico transverso (em ambos os referenciais inerciais) ocorre

apenas nestes intervalos – tomados entre os mesmos dois eventos. Assim, é possível que a

modificação auxilie a perceber este aspecto, até porque Feynman utiliza o referido termo,

além de poder contribuir na recordação de que Δt = γ Δt´ vale somente para estes intervalos

de tempo.

No item (a) da oitava questão, julgou-se relevante alterar o trecho “[...] podem se

relacionar matematicamente? Para o pequeno valor [...]” por “[...] se relacionam

matematicamente, de acordo com a previsão teórica? Na prática, para o pequeno módulo

[...]”. Até certo ponto, esta mudança foi feita por causa do próprio texto de Feynman, que

indica diferença entre o previsto teoricamente e o que se pode considerar, na prática, nas

velocidades relativas muito baixas imaginadas pelo cientista.

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Com efeito, Feynman (2008, p. 13–10) afirma que ao se comparar o módulo de F´ com

o de F, observa-se que as forças são quase idênticas nos dois sistemas inerciais; na realidade,

temos F´ = γF. Isto destaca a previsão teórica, que é válida, pois em uma experiência real em

velocidades tão medíocres (como da ordem de 10 –4

m.s –1

) as previsões relativísticas devem

ser esperadas – mesmo que indiretamente e levando-se em conta efeitos que possam

influenciar os resultados. Todavia, para vários efeitos práticos, as forças se igualam nas muito

baixas velocidades do texto; a diferença entre F e F´ é tão ínfima que pode ser desprezada

deste ponto de vista. De fato, v2/c

2 é da ordem de 10

–25 para a velocidade que se calcula na

terceira questão; em uma simples calculadora científica, γ iguala um. Enfim, a modificação

pode indicar os dois enfoques em questão (teórico e prático), tornando o item (a) mais de

acordo com a ideia de Bordenave e Pereira (2015): em se preparar questão clara a ser

resolvida a partir do texto, da interpretação e associação das ideias, da intenção do autor etc.

Ainda na oitava questão, foram substituídos os termos ‘valores’ e ‘valor’ por

‘módulos’ e ‘módulo’, o que não é muito importante para o entendimento dos enunciados,

mas pode ser válido a fim de que estes fiquem mais coerentes com as mudanças na segunda e

quinta questões (sobre a natureza vetorial das forças). Também, alterou-se bastante a redação

do item (c), mantendo o cerne da pergunta. O novo enunciado consiste em:

O obtido em (a) e (b) mostra a previsão relativística, que é válida, entre as forças do

texto; ambas, cada qual atuando em um referencial inercial, se compatibilizam com

o Eletromagnetismo Clássico e a Teoria da Relatividade Especial. Qual efeito

relativístico pode ser considerado na explicação da diferença prevista entre estas

forças? Tente descrever, interpretar, a correlação deste efeito com as forças.

Esta alteração ocorre, pois, cremos que os antigos trechos “mesmo diferentes” e “[...]

da diferença entre estas forças?” não concordavam com o modificado no item (a), podendo

estar dissonantes com os argumentos a respeito da diferença teórica e igualdade prática das

forças em baixas velocidades. A nova redação aponta ao leitor que a diferença é uma previsão

válida que, de alguma maneira, mesmo indireta, se confirmaria.

3.6.3 Errata

Outras possíveis potencialidades do material aqui elaborado dizem respeito à errata. A

significância desta, para o estudo em questão – caso este se faça com alguma das edições aqui

utilizadas –, está no auxílio que é capaz de prestar ao leitor na compreensão textual, para a

resolução de questões, interpretação de intenções e ideias de Feynman etc. Em suma, a errata

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tem potencial em contribuir para que se trabalhe bastante no texto, concordando, portanto,

com a recomendação de Bordenave e Pereira (2015).

As alterações neste documento consistem no seguinte: primeiramente, se incluiu um

oitavo erro presente numa figura do texto – nas duas versões adotadas –, encontrado após a

aplicação da oficina. Em segundo lugar, julgamos relevante fazer uma alteração no texto

inicial da errata (logo após a ‘Introdução ao estudante’), ressaltando que os três volumes

originais – em inglês – da coleção de Feynman, que contém o texto do estudo, foram lançados

pelo California Institute of Technology (Caltech) e pelo ‘The Feynman Lectures Website’ em

um endereço eletrônico, mostrado em nota de rodapé da ‘Introdução ao estudante’. Cremos

que mencionar o conteúdo eletrônico é pertinente para o mundo globalizado, em que a

internet tem importância indiscutível. Afinal, este pode ser muito bem aproveitado em leitura

do texto enfocado ou de vários outros importantes capítulos e textos da obra. Posteriormente,

serão feitas mais considerações sobre a errata.

3.7 Comentários sobre a elaboração do material: algumas justificativas e descrições

A seguir, façamos comentários a respeito da produção das seções do material,

principalmente no intuito de justificá-las e descrevê-las.

3.7.1 A Introdução ao estudante

Assim como as ‘Considerações ao estudante’, nas quais fizemos algumas

modificações, a ‘Introdução ao estudante’ – que substituiu aquela – é igualmente uma

apresentação de nosso material de estudo do texto de Feynman, uma espécie de introdução ao

leitor. A inspiração para tentar encurtar o primeiro documento, que originou o segundo, veio

de Bordenave e Pereira (2015) – que exemplificam estudos dirigidos e diversas atividades

didáticas mais concisas.

Produziu-se o novo documento informando a localização do texto na obra, breves

dados biográficos do físico, uma sucinta e informativa descrição a respeito do texto, a

existência de erros (e a capacidade destes em prejudicar o leitor) e as atividades que cremos

serem as mais importantes: leitura ativa e questões sugeridas. Uma introdução ao leitor pode

lhe fornecer alguma perspectiva mais geral do texto, global, numa informativa e concisa

descrição de importantes elementos textuais. Esta nova descrição textual, na ‘Introdução ao

estudante’, é quase cópia de parte do nosso banner. Também, o texto introdutório pode ser

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capaz de gerar alguma visão sobre a proposta – ao informar a respeito das questões sugeridas,

errata etc.

Finalmente, ressalte-se que a nova introdução ficou somente um pouco mais curta que

a primeira; o que possivelmente ocorre devido à prolixidade do autor desta dissertação que, ao

mesmo tempo em que tentou minimizar este fator, procurou garantir um material que informa

elementos pertinentes para o estudo.

3.7.2 Errata

Com efeito, o texto de Feynman (nas edições estudadas) possui erros que podem

confundir e prejudicar o leitor. Pois não são erros tipográficos que mal atrapalham a leitura,

como a ausência (e/ou grafia incorreta) de palavras pouco importantes. Feynman aborda dois

referenciais inerciais, e estes equívocos – em boa parte – trocam um pelo outro, invertendo

seus atributos. Por exemplo, S é trocado por S´ (e vice-versa) e a simbologia referente à

densidade de carga é confundida.

Isto justifica a produção da errata e sua relevância para o estudo, caso este se dê com

alguma das versões aqui utilizadas. Na verdade, não se fez errata para estas duas edições, mas

apenas para a brasileira; porém, os erros do texto, encontrados nesta, foram comparados com

um original em inglês de 1964 – uma antiga versão que ainda pode ser mais encontrada e

utilizada do que outras mais recentes. A comparação consistiu em verificar se os equívocos

constavam ou não no original; nem todos estão presentes neste. Corrigimos os erros

procurando detalhá-los, isto é, explicando porque estão incorretos, fornecendo as devidas

correções e apontando se estão ou não no original citado. Não se fez errata do texto em língua

inglesa, pois o tempo disponível para elaborar o material, aplicá-lo e redigir esta dissertação

esteve sempre abreviado. Contudo, breves recomendações para adaptar a errata, caso se utilize

o original citado, são passadas posteriormente.

Tanto em aplicação na qual o professor fizer uso deste original, quanto da edição

brasileira, o material eletrônico lançado pelo Caltech pode ser muito útil. Imagine-se o caso

em que os alunos não resolvem/respondem boa parte das questões em um hipotético encontro,

por falta de tempo e/ou por outros fatores; se os livros devem ser recolhidos, o educador pode

propor a continuação do estudo em casa. E se uma grande fração dos participantes não tem

acesso ao livro, mas lê em inglês, a ideia torna-se valiosa. Para os que não leem este idioma e

não possuem acesso ao livro em português, uma continuação em sala junto ao texto brasileiro

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deve ser propiciada. Isto também justifica a alteração na errata – incluindo-se a menção ao

conteúdo eletrônico – e a ‘Introdução ao estudante’, na qual se cita o endereço deste.

3.7.3 Questões propostas

Em relação à primeira, formulou-se algo com a intenção de tentar despertar mais o

leitor para o que, conforme cremos, é o problema inicial do texto, a saber: “[...] no sistema S´

não pode haver nenhuma força magnética na partícula, porque sua velocidade é zero. Será

que, com isto, ela permanecerá parada? Veríamos coisas diferentes acontecendo nos dois

referenciais?” (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–7). Transformando as

indagações de Feynman em afirmações, obtemos possíveis respostas para esta questão inicial,

ou seja, a partícula ficaria estacionária em seu referencial inercial, comportando-se como

partícula livre, e o Princípio da Relatividade de Einstein seria violado. Esta questão concorda

muito bem com uma preciosa orientação de Bordenave e Pereira (2015): a de se formular

questões claras e simples para serem respondidas interpretando ideia, intenção, do autor,

associando ideias, exercitando o raciocínio e a imaginação etc. Assim, esta possui o potencial

em estimular o aluno na análise do problema em questão, na integração de certas ideias (ou de

distintas maneiras de expressá-las), no pensamento crítico etc.

Dessa forma, a primeira questão pode alavancar a percepção do problema inicial,

ajudar no julgamento da validade das indagações do cientista (e, portanto, do referido

problema) e contribuir no preparo da estrutura cognitiva – a fim de que outras ideias sejam

mais bem relembradas, reelaboradas. Estas considerações baseiam-se em certas funções

positivas, do estudo dirigido, descritas por Bordenave e Pereira (2015). Vale citar o retorno

positivo sobre a primeira questão, dada por D no questionário avaliativo: “Resolvi apenas a

primeira e concordo que foi importante na compreensão do texto.”.

A segunda questão é simples, do ponto de vista da aplicação da lei de Ampère da

magnetostática para obtenção dos módulos de campo e força magnéticos no referencial

inercial S do fio. Envolvendo certo cálculo, a situação abarca ótima simetria – num exercício

básico resolvido em vários cursos de engenharia e afins –, na qual há um campo estático (mas

não uniforme) circundando um fio cilíndrico bem longo conduzindo corrente constante. Os

produtos escalar e vetorial, nesta questão, são muito simples para obter módulos – e a

orientação de F obtém-se facilmente com alguma regra mnemônica da mão direita. Além

disso, a abordagem de Feynman vale somente em intervalos de tempo muito curtos; assim,

para a força e campo magnéticos atuantes na partícula elétrica, em S, é preciso preocupar-se

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apenas com seus módulos e orientações instantâneas (iniciais). Analogamente, estes

argumentos valem para a quinta questão, em que se solicita módulos de força e campo

elétricos atuantes na partícula, em S´. As diferenças mais significativas são a orientação do

campo E´ e o fato de que a fonte deste campo interagente não é a corrente constante existente

em S´, mas a densidade de carga líquida uniforme e diferente de zero. Também, o sentido de

F´ é mais facilmente vislumbrado, mas igual ao de F.

Os apontamentos do parágrafo acima nos levam a crer que estas duas questões de

resolução matemática são simples, podendo contribuir, por exemplo, para exercitar o

raciocínio – como propõem Bordenave e Pereira (2015). A quinta questão pode ser

razoavelmente útil na associação, retomada, de ideias e conceitos, um fator importante

destacado por estes autores. Pois no cálculo de módulos de E´ e F´ (com termos iguais aos de

Feynman) se deve retomar o conceito de densidade de carga, substituindo-se a carga interna,

em S´, por ρ´AL´; além disso, a densidade líquida não nula ρ´ (de S´), a princípio, já teria sido

obtida na quarta questão – daí se pode obter expressão com termos iguais ao do texto.

Até aqui, as considerações sobre a quinta questão referem-se apenas ao item (a). O

objetivo é produzir nossas colocações na ordem das questões; entretanto, como as

modificações feitas na segunda questão também dizem respeito ao item (a) da quinta,

achamos útil considerá-las conjuntamente.

No item (b) da quarta pergunta do formulário, a resposta de B vem como retorno

positivo a respeito das questões (e possivelmente das já aqui abordadas):

As questões propostas foram interessantes, sim. Pude perceber que foram colocadas

questões em que se tinha de obter equaçoes do eletromagnetismo, questões de

destinadas a se fazer uma breve explicação sobre a relatividade e o fator de Lorentz

e questões de física mais simples. Elas ajudam a fixar as idéias desenvolvidas no

texto e a comprova - las. Porém, um material com as respostas seriam também

interessantes ao final da proposta (sic).

As colocações do estudante, que participou da oficina, nos remetem a proposições de

Bordenave e Pereira (2015), como a de que as questões sejam respondidas com base no texto,

interpretando ideias do autor etc. Cremos que a segunda e o item (a) da quinta são mais

facilmente resolvidos se o leitor analisa figuras, leis e equações, e algumas explanações do

texto. Ou seja, não basta o saber prévio das leis eletromagnéticas envolvidas e de certos

elementos de cálculo. O leitor comum possivelmente precisará do texto não apenas nestas

questões, mas também em outras.

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Passemos à terceira questão. Esta tem o intuito de levar o leitor a perceber que, em

geral, os módulos de velocidade clássica de elétrons condutores são bem baixos em finos fios

ordinários do cotidiano (de cobre (Cu), por exemplo) –, se comparados às velocidades da

maioria dos objetos macroscópicos do dia-a-dia. Cremos que todos os dados e condições

necessárias para o cálculo se encontram na terceira, podendo-se considerar a questão clara e

simples.

Caso não obtenha expressão que estime esta velocidade, o leitor provavelmente

consultará o texto, onde se explicita que a corrente, em S, pode ser dada por ρ_vA. Pela

análise de texto e figuras, vê-se que v = v_ e se obtém uma equação para v_. O cálculo

envolve algum raciocínio, pois a densidade de átomos (igual à de elétrons livres) deve ser

convertida de cm3

para m3 e multiplicada pela carga por elétron – o módulo invariante da

carga elementar. Ou seja, acreditamos ser útil calcular ρ_ primeiramente; também, é preciso

cautela com as unidades, por exemplo, em relação ao diâmetro do fio. Por conseguinte, pode-

se crer que a questão atende proposições de Bordenave e Pereira (2015), estando clara,

simples e passível de contribuir no exercício do raciocínio e na consulta ao texto.

A quarta questão tem a possibilidade de estimular a capacidade de análise. Pois, se a

carga líquida em um objeto eletricamente isolado se conserva, compreende-se que a densidade

desta pode variar quando há contração relativística do espaço – e que há uma relação geral

entre as densidades de repouso e relativa de carga elétrica. A capacidade analítica e de

raciocínio entraria na obtenção de equações entre densidades de carga para os elétrons livres e

para os átomos positivamente carregados (fixos na estrutura do condutor), pois cada relação

envolve os dois referenciais em questão.

O mais contundente, nas respostas de B, é sua crença de que as questões, em geral,

auxiliam a fixar ideias do texto e a comprová-las, isto é, ajudam a retomar ideias, intenções,

do físico, auxiliando na verificação teórica – o que cremos ser bem válido para a quarta

questão. Pois esta é capaz de mostrar matematicamente o aspecto da relatividade de campos

elétricos e magnéticos, a contração de Lorentz (aplicada no cômputo da densidade líquida de

carga em S´) e o fato de que o fio realmente surge carregado neste referencial inercial. Estas

respostas de questionário avaliativo são aqui analisadas mais como opiniões pessoais, não

conclusões gerais; o retorno dos questionários é insuficiente para tais conclusões. Mesmo

assim, a resposta do aluno tem sua relevância.

Discutimos, anteriormente, a modificação feita na pergunta da quarta questão – o

questionamento sobre a carga líquida não nula no corpo do fio, em S´ – e as possíveis

potencialidades desta. Um ótimo argumento que mostra que ρ´ > 0, em S´, não viola a

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conservação da carga, é o fato de que o fio reto não é o sistema físico do texto, que também

deve incluir uma fonte de voltagem (e possivelmente outros elementos de circuito). E, no

sistema como um todo, eletricamente isolado, a carga líquida é invariante; sendo nula em S, o

será em S´. Isto não invalida a abordagem de Feynman, pois, se o fio (ou uma seção deste)

está positivamente carregado em S´, o restante do sistema (neste referencial) possui carga

líquida negativa e de igual módulo. Apresentamos neste terceiro capítulo, no item 3.2.3, uma

ideia que descreve este fenômeno.

As considerações anteriores indicam, até certo ponto, a significância da pergunta na

quarta questão, pergunta que pode se concatenar a uma função citada por Bordenave e Pereira

(2015): estimular o desenvolvimento da capacidade de observar e avaliar (consciência crítica),

ao se tentar despertar a captação de lacunas no texto e o julgamento da validade de suas

afirmações. Em suma, a pergunta é passível de estimular esta função, ao menos minimamente

e a depender do leitor. As lacunas contidas no texto diriam respeito, então, à dúvida que pode

surgir em relação à carga no fio em S´ e à lei de conservação, que não pode ser e não é

violada na experiência do texto. Pode ser valioso que o educador (após a leitura ativa e antes

de entregar as questões) suscite a reflexão sobre estas lacunas, sem explicitar a resposta da

pergunta da quarta questão – a fim de estimular o estudante a pensar. Pode-se interligar esta

reflexão à orientação de Bordenave e Pereira (2015, p. 267): elaborar questões a serem feitas a

partir da associação de ideias, exercício do raciocínio etc. Enfim, o professor atuaria no

auxílio à integração de alguns elementos.

Na redação do item (b) da quinta questão introduz-se o fato de que Feynman aplica

cada lei eletromagnética, envolvida no texto, em determinado referencial, sem corrigi-las

relativisticamente – o que pode ser válido para indicar, relembrar, que as equações de

Maxwell já têm formulação relativística, mantendo suas formas inalteradas em qualquer

referencial inercial. Também são ressaltadas as constantes μo e εo, presentes nas formas das

equações apresentadas por nós, enfatizando-se que estas constantes se correlacionam a outra

importante quantidade física. Destacar a permissividade elétrica e a permeabilidade

magnética, para o espaço livre, é uma tentativa de recordar o leitor da simples correlação

matemática entre estas e a constante c, uma correlação idêntica em qualquer sistema inercial.

A redação de introdução também confere certa clareza às perguntas seguintes, que

discorrem principalmente sobre a velocidade da luz no espaço livre, a quantidade implícita na

introdução do item. Esta invariante está explícita em grande parte das equações do texto, tanto

para grandezas de S quanto de S´, o que pode ser útil para mostrar teoricamente sua

invariância. Visualizamos c, também, em boa parte das equações que relacionam quantidades

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eletromagnéticas e que contêm o fator γ – oriundo da aplicação da contração de Lorentz. Isto

destaca um pouco a união entre Eletromagnetismo e TRE, por meio de matemática simples.

Esta união indica que o postulado de Einstein, da invariância de c, é uma lei naturalmente

presente no Eletromagnetismo. Enfim, cremos que se satisfaz a ideia de Bordenave e Pereira

(2015) ao se solicitar, em perguntas do item (b) da quinta, a análise cuidadosa do formalismo

matemático (com um questionamento claro a se responder com base no texto). Além disso, é

preciso alguma habilidade em associar ideias e de raciocínio, para uma boa resposta

discursiva relacionada à lei da constância da velocidade luminosa no espaço livre, à

correlação intrínseca entre esta e os invariantes μo e εo, e/ou sobre alguma noção correlata.

A sexta questão poderá demandar um maior esforço, no que concerne ao

encadeamento do raciocínio matemático para o cálculo, à associação de algumas ideias, à

percepção da intenção de Feynman em mostrar que “[...] temos o mesmo resultado físico

quando analisamos o movimento de uma partícula movendo-se ao longo de um fio num

sistema de coordenadas em repouso com respeito ao fio, ou num referencial em repouso com

respeito à partícula.” (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–11). Um maior

esforço do leitor não contradiz Bordenave e Pereira (2015); pelo contrário, uma vez que estes

consideram o estudo dirigido como atividade que exige muito esforço na extrapolação e

interpretação do conteúdo textual – usando criatividade própria (BORDENAVE; PEREIRA,

2015, p. 266). E esta ideia não se opõe à formulação de questões simples, pois a simplicidade

proposta por estes autores não significa facilidade, mas que as questões podem ser bem

aproveitadas por quem preenche os pré-saberes de um modo mais elementar, e se interessa,

esforça, na leitura e consulta ao texto (e a possíveis auxiliares, como a discussão com o

professor e/ou a errata).

A relação solicitada na sétima questão é muito simples, e consiste na equação 13.33 do

texto: Δt =

2

2

1

´

c

v

t

. Porém, interpretar o resultado, tentar descrevê-lo dando-lhe algum

significado, não é tão simples no caso do texto em questão – pois se lida com uma interação

de natureza eletromagnética em intervalos temporais muito curtos, em seus respectivos

referenciais inerciais. Não é utilizada a ideia de evento que, a priori, se define por um instante

de tempo e uma posição em cada referencial inercial (EINSTEIN, 1999). Feynman pode ter

concluído que esta ideia complicaria seu simples tratamento matemático. Também, não há um

fenômeno para o qual existe um tempo próprio médio, como para partículas que são formadas

e se desintegram (por exemplo, o múon, mencionado na oficina). Dessa forma, interpretar

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Δt = γ Δt´, descrevendo a dilatação temporal em uma experiência pensada, é um pouco

complicado. Então, acreditamos que a sétima se encaixa na proposta de Bordenave e Pereira –

que também justifica a questão –, de que o aluno deve trabalhar bastante no texto, “[...]

usando sua própria criatividade na interpretação e na extrapolação do conteúdo [...]”

(BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 266).

Isto abarcaria interpretar e associar ideias e intenções do físico, raciocinar e imaginar

que um evento, para a partícula elétrica, pode ser vislumbrado como uma coordenada

transversa – que é invariante. Assim, após as atuações das forças durante curtíssimos

intervalos temporais correspondentes, cada força em seu referencial, a variação de momentum

transverso da partícula será igual para uma mesma coordenada y = y´ (o evento final). Para o

evento inicial, poder-se-ia considerar y o = y o´ = 0. E, sendo Δt > Δt´, F deve assumir um

módulo menor que o de F´, para que um impulso de igual módulo se comunique à partícula,

em S e em S´ – e sua variação de momentum transverso seja a mesma.

Na oitava questão, é possível crer que (ao menos para boa parte dos leitores) será

preciso consulta e releitura atenciosa em fragmentos do texto, para conferir o explicitado em

enunciados, analisar equações, integrar ideias etc. A questão, assim como outras, também

exige algum esforço do aluno na interpretação e, até certo ponto, extrapolação de conteúdo. O

efeito de dilatação temporal, na experiência estudada, é bem sutil. Porém, este efeito explica a

diferença prevista para as forças, pois, para que se tenha o mesmo momentum transverso, as

forças devem equacionar-se de forma oposta à prevista para o tempo, mantendo igual valor

para o fator de Lorentz – uma vez que o módulo da velocidade entre S e S´ é constante. Então,

F

F´= γ =

´t

t

, o que seria uma possível resposta matemática para o item (c) da última questão.

Enfim, as considerações para descrição, interpretação, da inter-relação entre a

dilatação temporal e a diferença entre as forças podem ser semelhantes às anteriormente

apresentadas para a sétima questão. A distinção (do último item) da oitava para a penúltima

questão é que nesta se solicita a relação entre intervalos de tempo e alguma descrição para a

mesma; já naquele item, se pergunta qual efeito concilia a diferença entre F´ e F. Enfim, os

dois itens são parecidos, e cremos que para interpretá-los, respondê-los, faz-se necessária a

associação de ideias e intenções do autor, trabalhando com os conceitos de força, momentum

linear relativístico, tempos correspondentes etc.

Podemos acreditar que as questões propostas auxiliariam as funções positivas de

Bordenave e Pereira (2015). Ora, o esforço demandado em várias questões – seja na

interpretação, releitura, uso de abstração e extrapolação do tema – passa quase

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necessariamente pela cuidadosa análise textual, o que pode estimular a capacidade analítica.

Seguindo as ideias destes autores, pode-se afirmar que o trabalho do aluno ainda requer que as

informações do texto sejam bem julgadas e que se tente perceber lacunas ali presentes. Estas

são, ao menos, tentativas de interpretar as proposições destes, uma vez que estas estão postas

de maneira bem concisa e aparentemente muito abrangente. Além disso, pode-se crer que

estão intimamente interligadas umas às outras.

Com efeito, tentamos manter a mesma simbologia matemática de Feynman em nossas

questões. As formas utilizadas para equações de Maxwell, no material sugerido, são comuns

em livros de Física Básica do ensino superior, embora possam diferir razoavelmente das

adotadas por Feynman (em partes anteriores ao texto). Cremos que foram escritas de modo

simples e conhecido dos leitores.

3.7.4 Material suplementar

Preparamos um texto suplementar com resoluções e respostas comentadas das

questões, considerações sobre aspectos que julgamos pertinentes no texto (e algumas noções

correlatas). Este material fica totalmente a título experimental, pois não se aplicou nem se

obteve retorno algum dele, sua leitura não foi feita no encontro, não foi usado em

discussão/correção e nem avaliado em questionário. Ressalte-se que foi completamente

preparado antes da oficina, já com a finalidade de ser entregue aos participantes após esta.

Também foi enviado aos dois não participantes da oficina que responderam o formulário,

aparentemente procederam na leitura do texto e ao menos tentaram iniciar a resolução das

questões sugeridas, contribuindo com esta pesquisa.

Esperou-se um tempo razoável, após a oficina, para enviar o material citado, pela

simples razão de que aguardávamos retornos de respostas/resoluções das questões, ou seja,

era preciso garantir algum tempo para o estudo/leitura. Além disso, esperávamos receber

formulários avaliativos. Enviamos o documento suplementar em 11 de agosto de 2015,

através da rede de mensagens do Facebook® – convertido para um arquivo PDF.

Destaque-se que a intenção do autor desta dissertação, ao elaborar este material, foi a

de auxiliar o leitor na autocorreção e estudo das questões. Este foi feito com cuidado,

imaginando-se, por exemplo, o caso em que o professor não dispõe de tempo para corrigir ou

ajudar os alunos a fazê-lo. E os docentes necessitam de um subsídio para uma espécie de pré-

correção das questões com os alunos, caso possam e desejem fazê-la. Enfim, não se preparou

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um texto para especialistas, mas um documento passível de auxiliar qualquer professor de

Física (ao nível superior) que preencha os pré-requisitos do texto de Feynman.

Ainda é possível que o material suplementar ajude o leitor a reelaborar suas ideias (ao

menos minimamente). Esta crença ocorre porque o autor deste documento esforçou-se

bastante na tentativa de concatenar, relacionar, o abordado nas questões com o conteúdo

textual e com relevantes noções. Noutras palavras, se tentou correlacionar alguns elementos

que apontam a integração da TRE e Eletromagnetismo. O professor pode ainda encontrar

auxílio na preparação de discussão; ou ao menos o suplemento pode lhe indicar ou recordar

certas noções que são valiosas em um debate.

Não se fez nenhuma modificação e/ou revisão no documento (nem nas resoluções da

segunda e quinta questões, a respeito do caráter vetorial das forças), pois o tempo para

finalizar este trabalho se esgotava. Ou melhor, a única revisão (e alterações) produzida no

material suplementar é a usualmente feita pelo autor após tudo o que redige. Ao dizermos que

não se realizou alteração/revisão no suplemento, temos em mente as mudanças por vezes

feitas quando já se aplicou, avaliou etc., um texto – e/ou quando o autor reelabora, aprimora,

suas ideias e conhecimento. Assim, a revisão/melhoria do documento fica como proposta

futura.

Por fim, destaque-se uma resposta ao item (b) da quarta pergunta (do formulário), que

contribui na justificativa e aponta a significância deste documento em subsidiar o leitor, pelo

menos na perspectiva pessoal do aluno B: “Porém, um material com as respostas seriam

também interessantes (sic) ao final da proposta.”.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste último capítulo, são apresentados alguns pontos – em um resumo bem geral –

que o autor deste documento julgou relevantes (ou que, ao menos, deveriam ser levantados,

recordados, retomados, a fim de concluir). Considerações sobre a eficácia da oficina constam

no segundo item (seção) do presente capítulo. Finalizando, são apontadas possíveis propostas

de trabalhos futuros no terceiro item.

4.1 Resumo geral

Abordamos, neste trabalho, um rico texto do renomado físico norte-americano Richard

Feynman. Este, de certo modo, envolve alguns elementos bem introdutórios sobre

Eletrodinâmica Relativística, colocando em ênfase a relatividade de conceitos de força e

grandezas de campo elétrico e magnético, ao mostrar que as previsões relativísticas de

contração de Lorentz e dilatação temporal podem ser aplicadas ao Eletromagnetismo Clássico

– a fim de conciliá-lo com a Teoria da Relatividade Especial. Noutras palavras, o físico

mostra que o Eletromagnetismo já possui formulação relativística; estas previsões podem ser

naturalmente aplicadas em seu contexto.

Em considerações anteriores, levanta-se a possibilidade de que o leitor seja conduzido

a um paradoxo aparente (no que se refere à conservação da carga líquida), pois o fio – ou uma

seção deste – está neutro em um referencial, mas carregado noutro. Porém, nossos argumentos

mostraram que isto não invalida a abordagem do texto, pois o sistema físico não pode

consistir apenas no fio. Baseando-se em colocações anteriores, poderia ser útil, então, uma

discussão para suscitar a reflexão do aluno a este respeito, estimulando-o a pensar; esta se

daria após a leitura e antes da resolução de questões – sem explicitar respostas ao participante.

Se o professor vier a corrigir as questões, seria valioso enfatizar certos argumentos a respeito,

mostrando claramente que não há incoerência com a lei de conservação da carga elétrica.

Exemplos dados por Feynman, observados no cotidiano, fazem-nos concluir que a

carga elementar não pode depender da velocidade e nem da energia associada às partículas

atômicas. Assim, a carga líquida em um objeto eletricamente isolado se conserva em qualquer

referencial inercial. Este é um aspecto significativo e bem exemplificado no texto; outro, que

está implícito, é o fato de que a forma matemática das leis eletromagnéticas aplicadas (cada

qual num referencial) não precisou de correção relativística. Também, é relevante que a

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constante c (valor de velocidade da luz no espaço livre) apareça em expressões de grandezas

tanto de S quanto de S´. Estes dois últimos aspectos nos remetem aos postulados de Einstein.

Os três parágrafos acima indicam noções importantes do texto, que poderiam ser

levantadas pelo professor. A sugestão é que, em uma discussão inicial após a leitura e

retificação do texto, o educador suscite o pensamento do aluno sobre estas noções (ou outras

correlatas), sem explicitar-lhe respostas. Em seguida, numa possível correção, poder-se-ia

aprofundar o debate, por exemplo, ressaltando bem os postulados da TRE, recordando que Δt

e Δt´ devem ser bem curtos (para que os referenciais possam ser considerados inerciais),

debatendo o fato de que, em velocidades relativas muito pequenas – como a obtida na terceira

questão –, o Eletromagnetismo Clássico já incorpora a TRE; e esta coerência interna entre as

teorias fornece a descrição clássica para a interação que deve ocorrer em S´.

Apresentamos justificativas que validam abordar o texto e/ou tema semelhante ao

deste, em curso superior de Física ou afim. Por exemplo, as noções apontadas acima indicam

que o texto de Feynman é interessante. Este é introdutório para o tema, com nível matemático

simples, abordando apenas campos estáticos (embora não uniformes); e os pré-conhecimentos

necessários ao seu estudo (e à tentativa de resolução das questões) não precisam ser

avançados. Assim, a orientação de Bordenave e Pereira é satisfeita, pois o texto é também

básico.

Em relação aos referenciais teórico-pedagógicos, cremos que Vygotsky e a Teoria

histórico-social fundamentam bem a discussão professor-aluno. Suas abrangentes ideias

sustentam e se aplicam a um não pequeno número de trabalhos na educação. O diálogo

professor-aluno é aqui apenas sugerido, levantado, mas carrega ao menos algum potencial em

estimular o pensamento do estudante, auxiliá-lo a perceber lacunas textuais e julgar a validade

de afirmações. Até certo ponto, este argumento se interliga à Bordenave e Pereira (2015, p.

266), no sentido de que o diálogo aumente a capacidade do texto – durante e após a resolução

de questões –, e também do material em geral, em despertar a habilidade de consciência

crítica.

Destacou-se detalhadamente o encontro (oficina) planejado para aplicar o material de

experimentação. Foi preciso cobrir pré-requisitos, uma vez que estes são saberes necessários

ao estudo de determinado tema. Acreditamos que se conseguiu abarcar, de modo razoável,

grande parte dos conteúdos planejados. Os participantes fizeram leitura individual e o debate

se iniciou após esta; também, entregou-se a errata para correção. Infelizmente, não houve

tempo para que tentassem resolver as questões. Porém, como ressaltado, esta tarefa lhes foi

solicitada para casa.

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A ideia de um formulário eletrônico, com intuito de avaliar o material e o encontro, foi

valiosa. Esta se mostra ainda mais pertinente pelo fato de que não recebemos nenhum

conjunto de respostas/resoluções das questões sugeridas. Como o retorno do formulário foi

escasso (apenas duas respostas de participantes), considerou-se útil contatar outras pessoas

para que cooperassem com a pesquisa. Mais dois indivíduos, que não foram à oficina (mas

preenchiam os pré-saberes), responderam o formulário; a estes se enviou todo o material para

o estudo, além de importantes informações. Suas participações também se resumiram em

responder o formulário. Apesar do pequeno feedback, o autor desta dissertação crê que, das

quatro respostas, duas ou três vieram de pessoas que realmente mostraram interesse no texto

de Feynman.

As dificuldades encontradas, como a falta de tempo durante o encontro, a

voluntariedade da atividade etc., com efeito, dificultaram a análise de dados, no sentido de

que não foi possível retirar conclusões mais gerais, mas apenas colher opiniões pessoais –

ainda que significativas. Mesmo assim, conseguimos propor humildes sugestões para melhor

aplicar o material; também, foi possível concatenar, de forma satisfatória, alguns “elementos”

às ideias orientadoras de Bordenave e Pereira.

Com razão, procurou-se justificar e descrever todas as partes integrantes do material.

Estão são mutuamente dependentes, ou seja, a leitura/estudo isolada de cada uma não tem

muito significado no contexto de nossa proposta. Enfim, pode-se crer que, se bem aplicadas

conjuntamente, as partes são capazes de contribuir para melhor compreensão do texto de

Feynman – e até de noções correlacionadas –, em relação à que se teria em única leitura

isolada do texto. Passemos à análise final sobre a eficácia da aplicação do material em uma

futura e hipotética oficina.

4.2 Considerações sobre a eficácia da oficina

Serão elaboradas, neste item, considerações e argumentos sobre a eficiência da oficina

proposta. Tentar-se-á comparar estas colocações com nosso principal referencial teórico e

com os resultados, dados, coletados no formulário.

Pode-se dizer que o material, se bem aplicado, é passível de propiciar uma análise

mais cuidadosa do texto em questão – do que a que seria feita em única leitura isolada.

Bordenave e Pereira (2015) sustentam que a cuidadosa análise leva à compreensão do tema do

texto básico; isto, por sua vez, desenvolve a habilidade analítica. Foram apresentados alguns

argumentos que mostram, por exemplo, que muitas questões sugeridas necessitam de

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associação de ideias, raciocínio, percepção de lacunas, observação de expressões matemáticas

etc. – o que se daria junto à releitura/consulta ao texto. Outras considerações indicaram que

parte significativa das questões deve ser feita com base no texto e na interpretação de ideias,

intenções, do autor. Ora, estas colocações apontam que as questões propostas podem, então,

contribuir para melhorar a análise textual; por conseguinte, auxiliariam na compreensão.

Mas, e no que diz respeito à aplicação do material, isto é, à proposta de oficina,

encontro com universitários? Como se tentaria aprimorar a aplicação, fazer com que esta seja

mais eficaz? Primeiramente, não existe eficiência total em educação; o planejamento do

ensino de Física, as atividades didáticas etc., podem ser, portanto, sempre mais bem

planejadas e também modificadas a fim de se adaptarem às variações temporais, culturais,

geográficas, tecnológicas, de pensamento e cognição etc.

Em segundo lugar, apontou-se um fator que não pode ser desprezado pelo educador:

os pré-requisitos para aplicação de determinada atividade, texto. Estes foram bem

fundamentados aqui, tanto em relação ao referencial de Vygotsky quanto ao de Bordenave e

Pereira. O primeiro introduz a ideia de uma espécie de estágio de desenvolvimento cognitivo

real, enquanto o segundo nos demonstra – por meio de pesquisas empíricas – a importância

das aprendizagens anteriores. De qualquer modo, é possível perceber que estas pré-

aprendizagens se correlacionam ao estágio de desenvolvimento cognitivo do indivíduo.

Poderíamos afirmar, de certo modo, que os pré-saberes compõem o leque de conhecimentos

bem estruturados na mente de uma pessoa.

Assim, como ressaltado anteriormente (em sugestões de aprimoramento para a

oficina), é muito valioso que o professor não poupe esforços a fim de preencher todos os pré-

conhecimentos para a leitura ativa do texto. Afinal, é fácil captar que o conhecimento

elementar destes é imprescindível para a análise cuidadosa. Caso não sejam respeitados, não

se pode denominar o texto básico e interessante. Além disso, a compreensão do assunto não

seria alcançada. A recomendação, então, é que o professor utilize o máximo tempo possível

para bem cobrir os pré-requisitos, sem retirar tempo das outras atividades. Se for preciso

abarcar muito conteúdo, poder-se-ia fazê-lo em mais de uma aula (exposição) teórica – a fim

de não cansar demasiadamente os estudantes. Também se pode indagá-los sobre seus pré-

saberes e, caso o educador julgue ser útil, pode relembrar-lhes conteúdos já estudados – dos

quais não se recordam bem.

Outro fator importante, para bem aplicar o material, diz respeito à leitura. Antes da

leitura textual, cremos ser valiosa a da ‘Introdução ao estudante’; foram introduzidos alguns

argumentos que apontam sua pertinência. É importante disponibilizar tempo suficiente para

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leitura cuidadosa de todos os itens, principalmente o texto de Feynman. Afinal, segundo

Bordenave e Pereira (2015), o estudante deve aplicar muito trabalho no texto entregue.

Recorde-se que se levantou a ideia de pedir a leitura de texto sem a errata, solicitando ao

estudante a tentativa de descoberta dos erros e a posterior conferência com a errata, corrigindo

o próprio texto – o que pode estimular o julgamento da veracidade de informações e a

captação de lacunas. Enfim, este procedimento estaria em concordância com Bordenave e

Pereira (2015), podendo auxiliar a capacidade de consciência crítica sem interromper o fluxo

de leitura. Seria também significativo solicitar a releitura de trechos corrigidos, a fim de

melhor compreendê-los.

Assim, enfatizamos ao professor/leitor que não abrevie o tempo de leitura e, se

possível, solicite a releitura cautelosa do texto para casa – por exemplo, na situação em que

uma discussão, seguida da entrega das questões, apenas se dará num encontro seguinte.

Cremos que as considerações deste item são bastante relevantes para se tentar aplicar de modo

satisfatório. Afinal, é adotado um texto cuja experiência de pensamento, idealizada e

aproximada, envolve um intrigante problema inicial – texto em estilo linguístico diferente de

boa parte das obras técnicas. O leitor/estudante comum precisará não apenas de pré-saber

elementar, mas também de tempo para a análise cuidadosa, reflexão, integração de ideias,

percepção de validade e de erros, de intenções e ideias do autor etc. Podemos crer que estas

colocações apontam para a ideia de leitura ativa, indicada por Bordenave e Pereira (2015, p.

266), ao menos para o texto em questão (e até porque baseamo-nos nestes para produzi-las).

Enfim, também a discussão – após a leitura – sobre aspectos significativos, indicados

no início deste capítulo (e também apontados em outros pontos da dissertação), pode ser

capaz de potencializar a análise cautelosa de texto e, portanto, a sua compreensão. A sugestão

é que o professor suscite a reflexão do aluno sobre estes aspectos, auxiliando seu pensamento

(sem explicitar-lhe respostas). Isto pode contribuir ainda mais para que o discente trabalhe

muito no texto, durante o estudo das questões e/ou em releitura futura – usando sua

criatividade própria na interpretação e extrapolação do conteúdo, como sugerem Bordenave e

Pereira (2015). Afinal, o debate a respeito de noções relevantes contidas em qualquer texto

(básico interessante) pode ajudar a despertar a curiosidade, o que, segundo estes autores,

motiva o leitor (BORDENAVE; PEREIRA, 2015, p. 266).

O diálogo sugerido, sobre os aspectos citados, seria apenas em nível elementar.

Noutras palavras, cremos que somente o relacionado à essência das ideias físicas já seria útil

para auxiliar o estudo. Esta proposição se concatena à ideia de que o educador se engaje em

contribuir com o aluno ao discutir, penetrando-lhe o psiquismo; e também de que o docente,

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mais os estudantes, forma um grupo social interativo. Estas últimas colocações relacionam-se

à Vygotsky e Teoria histórico-social. Assim, sugeriríamos ao professor que reflita sobre as

importantes noções textuais mencionadas (e sobre estas considerações finais) e, se necessário,

elabore um rascunho para discussão. Finalmente, podemos especular que o debate estimulado

pelo docente ajude a produzir alterações internas na psique, através da língua falada – o

instrumento externo, elemento exterior – e dirigida aos próprios interlocutores.

O último dos argumentos, no intuito de dar mais eficiência à oficina, seria o de se

fazer (caso preciso) uma boa correção de questões com os alunos, tentando sempre interligar

elementos contidos nestas com relevantes noções do texto – além de outras relacionadas.

Nossa sugestão é que, nesta tentativa, o professor atue para auxiliar o discente a integrar

ideias, o que concorda com a orientação de Bordenave e Pereira (2015) – de se organizar

ideias numa espécie de síntese final. Para isto, o material de suplemento (além de alguns

trechos desta dissertação) pode ser útil. Mas a proposta de correção fica mais a título

experimental, haja vista que, em nossa oficina, esta nem foi iniciada; e não se fez

leitura/debate utilizando o texto suplementar. Por isto mesmo, entra aqui como humilde

recomendação. Recordamos ao educador que resolva as questões antes de aplicar, como

propõem Bordenave e Pereira (2015, p. 270) para a análise do estudo dirigido pelo próprio

docente.

E no que concerne à nossa aplicação (oficina), o que se poderia dizer sobre eficácia,

eficiência? De fato, quase todos os pré-requisitos foram preenchidos, e cremos que isto foi

feito de maneira razoável. Apenas o conceito de momentum linear relativístico foi esquecido.

Em relação à leitura e retificação textual, disponibilizou-se tempo suficiente. Entretanto, ao

percebermos que o tempo do encontro estava breve, solicitamos a leitura concomitantemente

à errata ou conforme a indicação anterior (de se procurar erros e destacar partes suspeitas,

posteriormente confrontando-as com a errata e retificando o texto). Assim, passou-se o texto

junto à errata. No que diz respeito à discussão, esta apenas se iniciou, como já afirmado.

Logo, o diálogo pensado e planejado em esboço, pelo autor desta dissertação, poderia ter

abarcado mais aspectos pertinentes e, por conseguinte, subsidiado mais o aluno na análise

textual cuidadosa durante hipotética resolução de questões. Sustentamos esta conjectura, pois,

as interessantes noções textuais podem despertar curiosidade; se uma primeira leitura não foi

eficaz neste objetivo, um melhor debate poderia tê-lo feito com mais vigor – o que motivaria

mais o aluno, segundo Bordenave e Pereira (2015).

Alguns argumentos apontam certa ineficácia em nossa oficina. No entanto, isto não

invalida este trabalho nem o faz menos relevante do que se houvesse obtido “sucesso”.

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Cremos que os resultados de pesquisas e aplicações em educação são, por vezes, complicados

de serem vislumbrados. Obviamente, estes dependem do tipo de pesquisa, material abordado,

dos pesquisadores, público-alvo, metodologia, das experiências anteriores e de outros diversos

fatores. Destaque-se que, aqui, não se lidou com o intelecto humano passivo – para o qual, por

exemplo, se depende apenas de resposta(s) simples, como em pesquisas de intenção de voto

(que requerem pouquíssimo esforço intelectual e tempo do indivíduo). Lidamos, sim, com o

intelectualmente ativo, que precisa mostrar algum esforço, curiosidade, interesse etc.,

disponibilizando seu tempo.

As colocações anteriores, no que se refere ao fato de que foi abordado o intelecto

ativo, são coerentes com Bordenave e Pereira (2015), uma vez que estes orientam que o

estudante se esforce bastante em leitura ativa do texto proposto. Apesar de percebermos certa

ineficácia em nossa aplicação, a proposta ainda poderá ser aplicada e avaliada, aprimorada,

adaptada etc. Além disso, poderá ser valiosa para o autoestudo de docentes, alunos, curiosos

e/ou até para adaptação, recorte – a fim de ser enfocada no ensino médio. Some-se a isto a

crença de que o material possui potencial de ser bem sucedido e avaliado em curso superior

de Física. Em primeiro lugar, esta crença vem de algumas respostas do formulário avaliativo.

Por exemplo, no item (b) da quarta pergunta, A ressalta que as questões sugeridas “[...]

trabalham com aquilo que foi abordado no texto do Feynman.”. Também, este escreve que

“São exercícios que ajudam a enxergar melhor como a TRE se relaciona com o

electromagnetismo.”.

Estas respostas indicam a potencialidade das questões em auxiliar o leitor na

compreensão de tema e de significativas noções textuais. A resposta de B, na primeira

pergunta avaliativa, mostra que foi entendido um importante aspecto do texto: “[...] a não -

contradição existente na ação dos campos magnético e elétrico quando se muda o referencial

adotado, [...]” (sic). Em outras palavras, B percebeu que a relatividade dos campos citados é

compatível com os resultados esperados. Ainda, na segunda pergunta, este participante

enfatiza que conseguiu captar a conexão intrínseca existente entre TRE e Eletromagnetismo,

garantindo um retorno positivo a respeito da exposição teórica a fim de cobrir pré-saberes:

Sim, foi possível. O que mais me ajudou nesta percepção foi a exposição inicial do

Gabriel, esclarecendo sobre o fator de Lorentz (embora a exposição tenha sido em

pouco tempo para a atividade elaborada), a explicação da relação entre os temas no

texto de Feynman (a exposição matemática e por meio de figuras foi importante) e

[...].

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A estas colocações de B, adicionem-se suas considerações para a quarta pergunta. O

discente destaca, no item (a), que problemas de entendimento textual se tornam fáceis sem o

auxílio da errata e, no último questionamento, aponta que as questões são interessantes e que

contribuem na confirmação e fixação de ideias, intenções, de Feynman. Logo, o estudante

fornece algumas possíveis funções positivas do material aqui preparado.

Quanto ao respondido por C, não participante da oficina, levantemos suas citações na

primeira pergunta, na qual afirma ser a demonstração de que há um íntimo relacionamento

entre Eletromagnetismo e TRE (em que a primeira teoria abarca as previsões relativísticas de

dilatação temporal e contração espacial) uma noção que lhe despertou interesse, “[...]

apontando para uma compatibilidade entre as teorias, mas que preservam as equações de

Maxwell, sem que haja nenhuma modificação no formalismo matemático do

Eletromagnetismo.”. Já se mencionou, mas é válido recordar, que C destaca (na segunda

pergunta) a noção da relatividade das forças e campos elétricos e magnéticos e o princípio de

conservação da carga. Portanto, esta pessoa indica que o tema do texto, além de elementos

significativos deste, é passível de despertar interesse. Também, C ressalta dois destes

elementos que contribuíram em sua percepção da conexão entre as teorias; isto indica, até

certo ponto, a capacidade do texto em mostrar (de modo simples, através destes aspectos) esta

inter-relação. Mencione-se que C foi colega de Mestrado do autor desta dissertação; assim, é

provável que já possuísse algum conhecimento do texto, pois este foi passado em disciplina

deste curso. Isto não exclui, de nenhum modo, que uma boa releitura tenha lhe motivado uma

melhor (re)análise textual e, por conseguinte, aprimorado sua compreensão – até porque C

relata, no item (b) da quarta pergunta, que embora não tenha feito todas as questões, ainda

pretendia fazê-lo, pois através delas teve “[...] a oportunidade de ler o texto várias vezes, o

que é muito útil. Ler repetidas vezes o texto facilita sua compreensão, ajuda na resolução das

questões e nos mostra claramente a relação existente entre o Eletromagnetismo e a TRE.”.

Dessa forma, C levanta uma possível função positiva das questões, isto é, a de que –

ao menos em parte – devam ser resolvidas com base no texto e na interpretação de ideias do

autor. Isto concorda com Bordenave e Pereira (2015). São valiosas, ainda, suas colocações

sobre a importância da errata (ver resposta ao item (a) da quarta pergunta do formulário).

No que diz respeito a D, cite-se sua menção, na primeira pergunta avaliativa, sobre o

fato de que a carga elétrica é propriedade intrínseca da matéria (o que lhe interessou no texto

e/ou se mostrou como novidade), e também o seguinte fragmento, na segunda pergunta: “É

em virtude das relações entre referenciais é que percebemos um campo elétrico, magnético ou

eletromagnético e é a Teoria da Relatividade que veio formalizar todo fenômeno que possa

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decorrer, [...]”. Esta citação é indicativa de que D, aparentemente, compreendeu bem a

relatividade destes campos, que fica isenta de contradições ao se considerar a TRE e suas

previsões, postulados. Ainda, é válida sua consideração, ao responder o item (b) da quarta, de

que a primeira questão do material (a única por ele respondida) foi útil para a compreensão.

Enfim, as respostas deste último, mas principalmente as anteriormente apresentadas,

fornecem elementos bastantes para mostrar que o material preparado e proposto tem potencial

para ser bem aproveitado e avaliado, ou seja, há uma boa possibilidade de que uma futura

oficina venha a ser eficaz. Recorde-se também que, devido à escassez de feedback, as

respostas de formulários adquirem uma natureza mais individual do que coletiva. Ainda

assim, estas levantam alguns atributos bem positivos em relação ao texto, às questões

sugeridas e/ou à errata para a edição brasileira abordada. Determinadas respostas, assim como

considerações aqui produzidas, foram até concatenadas às proposições de Bordenave e Pereira

(2015), estando coerentes com estas. Logo, poder-se-ia afirmar que nossa aplicação

experimental obteve, sim, alguma eficácia – embora esta possa ser bem potencializada.

4.3 Considerações para trabalhos futuros

Como enfatizado acima, não se fez revisão do texto do material suplementar, apesar de

que este foi redigido com cuidado e sempre verificando as equações. Esta revisão fica como

possível proposta futura, principalmente se viermos a receber retornos positivos de aplicação

do material. Uma boa revisão seria valiosa para adequar o suplemento às modificações feitas

nas questões. Entretanto, cremos que as mudanças nestas não alteraram substancialmente o

esperado como resposta e/ou resolução, de tal forma que o texto suplementar pode ser bem

aproveitado e avaliado.

Além disso, ressaltou-se que não foi elaborada errata para o texto da antiga edição

norte-americana adotada. Isto também entra como ideia futura, pois a errata somente do texto

em língua inglesa auxiliaria bem na leitura deste. Como prometido, seguem-se orientações

para adaptar a errata preparada, a fim de que possa ser aplicada com o original de 1964.

Primeiramente, recomendamos ao professor deletar os equívocos, relatados na errata, que não

constam no texto norte-americano – renumerando-os. Como apenas se comparou os erros da

edição em português brasileiro com a original, é possível que existam outros erros nesta.

Assim, em detalhada leitura desta, caso o educador encontre mais equívocos, deve incluí-los

no documento, descrevendo-os, isto é, mostrando porque estão incorretos e fornecendo útil

retificação – assim como fizemos em grande parte do arquivo. As citações de trechos

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incorretos, do livro em português, devem ser trocadas pelas respectivas do texto em inglês. A

extensão e clareza da errata produzida permitem que facilmente se encontrem os trechos

correspondentes em inglês. Ainda, sugerimos retirar as menções a parágrafos (que podem

estar diferentes no original), ao próprio texto norte-americano, e que sejam adaptadas as

referências às páginas. Argumentos sobre as possíveis origens de erros no texto brasileiro

devem ser excluídas. A introdução do documento (logo após a ‘Introdução ao estudante’) que

contém a errata e as questões sugeridas não precisa de nenhuma adaptação. Porém, o curto

texto – após o título que inicia a errata propriamente dita – necessita ser adaptado ou, ao

menos, deletado, uma vez que se refere aos erros do livro brasileiro. Então, sugerimos ao

docente que elabore uma breve introdução, no lugar deste curto texto, apenas destacando que

são apontados e devidamente corrigidos, descritos, os erros deste original. O professor deve

localizar o texto na adaptação, citando capítulo, seção etc.

Outra espécie significativa de trabalho futuro seria a aplicação do material, pelo

próprio autor da dissertação, em curso superior de Física ou afim – o que poderia gerar, em

consequência, a redação de um artigo a respeito. Obviamente, tentar-se-ia evitar ao máximo

as dificuldades encontradas no encontro aqui descrito. Cremos que o maior esforço se daria no

sentido de evitar – ou ao menos minimizar – empecilhos como escassez de tempo,

voluntariedade, ausência de pré-requisitos etc. Também, outra interessante proposta seria

outro professor aplicar nosso material e, consequentemente, redigir alguma espécie de artigo a

respeito. Aliás, a produção do artigo poderia até ser feita juntamente com o autor desta

dissertação. Por exemplo, caso este seja contatado por um educador, interessado no material e

em sua futura aplicação, poderia contribuir na redação. Imaginemos o docente que está a

lecionar a TRE e julga que o material será valioso para estudo dirigido em seu curso – a fim

de introduzir o tema do texto de Feynman. Pode ser preciso preencher alguns pré-requisitos

(ou até recordá-los) antes de abordar a proposta. Ainda, uma discussão com os discentes,

semelhante à sugerida, pode ser preparada; e também uma possível correção. Por fim, o artigo

seria escrito, e a nova experiência poderia até ser comparada a aqui relatada. Cremos que esta

última proposta é mais adequada se o professor fizer a leitura desta dissertação.

Mas, na situação em que o docente aplicador não fez a leitura desta, pode ser preciso a

ajuda do autor para o diálogo com estudantes e/ou para correção de questões. Neste caso,

também acreditamos ser importante o subsídio do autor para elaboração do artigo, a fim de

contribuir com elementos a respeito dos referenciais teórico-pedagógicos e/ou de suas

conexões com a proposta, o texto enfocado, aplicação experimental, dados coletados etc. Em

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suma, o que se pretende ressaltar é que uma possível aplicação futura e/ou redação de artigo

pode ser feita em conjunto ou isoladamente – pelo autor desta e/ou por outrem.

Também, a ideia de que o autor desta escreva algum artigo versando sobre o tema do

texto de Feynman (e/ou a respeito de elementos interligados) que, de certa maneira, abrange a

relação TRE-Eletromagnetismo, é uma proposta muito válida. Afinal, os assuntos que

conectam estas teorias são bem interessantes e relevantes, não só do ponto de vista teórico,

mas também conceitual, histórico, filosófico, e do que foi legado para o progresso da Física e

do conhecimento humano em geral.

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APÊNDICE A – Material elaborado e Suplemento

INTRODUÇÃO AO ESTUDANTE

Este material para estudo resulta de um trabalho de Mestrado em Ensino de Ciências e

Matemática na PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), na área de

Física.

É abordado um texto do renomado físico norte-americano Richard Phillips Feynman

(1918 - 1988), intitulado A relatividade dos campos magnéticos e elétricos. Este texto é parte

de um capítulo da edição definitiva de sua famosa coleção Lições de física de Feynman – em

tradução para a língua portuguesa brasileira (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008); e

consta no volume II, capítulo 13: Magnetostática (a obra completa possui três volumes). Cada

capítulo dos livros se divide em seções; o texto abordado corresponde à seção 13–6. A

paginação da obra não é usual, sendo feita pelo número do capítulo seguido do número da

página do capítulo em questão; assim sendo, nosso texto vai das páginas 13–7 a 13–11. O

texto nesta edição brasileira, que vem da ‘Reimpressão 2009’, contém vários erros – que o

autor deste trabalho encontrou. Desse modo, elaborou-se uma errata deste. Caso exista edição

e/ou reimpressão posterior, alguns (ou todos) erros podem já estar corrigidos. Também

julgamos necessário comparar os erros descobertos nesta versão brasileira com algum original

mais antigo, no idioma inglês; isso ocorre porque estes originais são ainda bem encontrados

na comunidade acadêmica. A edição original adotada data de 1964; nesta, o texto também

está no vol. II, cap. 13: Magnetostatics, correspondendo à seção 13–6: The relativity of

magnetic and electric fields (págs. 13–6 a 13–11) (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 1964).

As referências completas de todos os livros utilizados neste material se encontram no fim

deste.

Esta proposta de estudo destina-se principalmente aos estudantes e professores de

curso superior de Física ou afins, que já possuam um conhecimento introdutório de temas da

Teoria da Relatividade Especial (TRE) e do Eletromagnetismo, a saber: o Princípio da

Relatividade de Einstein, o conceito de referencial inercial, a contração do espaço, a dilatação

do tempo, o momentum linear relativístico, as leis de Ampère da magnetostática e de Gauss da

eletricidade, e alguns fundamentos de cálculo.

O texto a ser feita leitura realmente está numa das mais importantes e renomadas

coleções de livros-texto de Física, bastante reconhecida no meio acadêmico-científico (um

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clássico da Física dos últimos cinquenta anos). A obra é ainda estudada mundialmente por

físicos iniciantes e experientes, tendo sido vertida para no mínimo doze línguas;

possivelmente nenhuma outra coleção de Física exerceu impacto tão grande e duradouro.

Feynman foi um dos maiores físicos da América e um dos pioneiros da Teoria da

Eletrodinâmica Quântica, dividindo o Prêmio Nobel de Física – em 1965 – com Sin-Itiro

Tomonaga e Julian Schwinger. Elaborou importantes diagramas, usados nas teorias de

partículas. Em 1972, recebeu a Medalha Oersted de Ensino, da qual tinha orgulho e afeto; foi

considerado um grande professor e um visionário da nanociência. (FEYNMAN; LEIGHTON;

SANDS, 2008; FEYNMAN, 2012).

O texto de R. Feynman trata da conexão intrínseca entre a Teoria da Relatividade

Especial (TRE) e o Eletromagnetismo. O físico mostra que os efeitos relativísticos de

contração do espaço e dilatação do tempo já estão presentes na Teoria Eletromagnética,

mesmo se a velocidade entre dois referenciais inerciais for muito baixa. Do ponto de vista da

TRE, os campos e as forças elétricas e magnéticas tornam-se grandezas e conceitos totalmente

relativos, mas as equações de Maxwell se preservam (não necessitam de correção

relativística) – o que equivale a dizer que estas, que tomam parte no formalismo teórico

fundamental do Eletromagnetismo, mantêm a mesma forma matemática, a mesma “cara”, em

qualquer referencial inercial. Também, o texto mostra a lei da invariância/conservação da

carga elétrica e a validade dos Postulados de Einstein.

As atividades mais importantes (segundo cremos) deste material são a proposta de

uma leitura ativa do texto pelo estudante, seguida da tentativa de resolução de questões

sugeridas – acompanhada do texto. Acreditamos que estas questões estão claras e simples – o

que não é sinônimo de facilidade –, devendo ser respondidas com base no texto, numa

cuidadosa tentativa de interpretação de ideias e intenções de Feynman. De certa forma, isto

equivale a dizer que se crê ser muito importante o esforço atencioso, na tentativa de integrar,

reelaborar certas ideias – à medida que se procede na resolução. Além disso, cremos ser

preciso que o aluno trabalhe muito na proposta, exercitando o raciocínio, a observação

cuidadosa, a análise/avaliação da redação de Feynman e de suas equações. Estas últimas

considerações baseiam-se, em boa parte, nas orientações da obra de Bordenave e Pereira.

Grosso modo, podemos dizer que esta proposta assume algumas características de um estudo

dirigido, conforme proposto por estes autores, que indicam que (nesta espécie de estudo) o

aluno “[...] terá que trabalhar bastante no texto entregue pelo professor, usando sua própria

criatividade na interpretação e na extrapolação do conteúdo do texto.” (BORDENAVE;

PEREIRA, 2015, p. 266).

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Julgamos útil esclarecer ao aluno que os erros no texto da ed. brasileira (aqui adotada)

realmente podem causar confusão, atrapalhando a leitura, a compreensão textual e a resolução

de questões propostas. Isto se deve principalmente ao fato de que Feynman aborda dois

referenciais inerciais no texto; em vários erros, a simbologia usada para estes e seus atributos

é confundida, ou seja, trocada, usando-se a de um no lugar do outro – o que confunde um

referencial com outro e, com razão, possivelmente confunde e prejudica o leitor. Assim, pode

ser valioso que o aluno, durante a leitura e antes de resolver as questões, destaque trechos que

suspeitar como incorretos, conferindo/analisando posteriormente a errata – e corrigindo os

equívocos em seu livro (no caso em que sejam utilizadas as versões brasileira e/ou original

citadas).1 Isto pode ser bem importante para a posterior resolução de questões; também pode

ser pertinente no estímulo à percepção de “lacunas” textuais e no julgamento da validade de

informações, o que segundo Bordenave e Pereira (2015), é passível de auxiliar a capacidade

de observar e avaliar (consciência crítica). Em nota de rodapé abaixo 2, disponibiliza-se um

link que dá acesso à obra completa de Feynman (aqui citada) apenas para leitura, em inglês,

na qual nosso texto não possui nenhum dos erros mostrados na errata.

Por fim, ressalte-se ao aluno que se elaborou o documento ‘Material Suplementar’,

com respostas e resoluções comentadas das questões, considerações sobre aspectos que

julgamos importantes no texto (e certos elementos correlatos). Uma possível potencialidade

deste material de suplemento, segundo cremos, é auxiliar o aluno numa espécie de

autocorreção/estudo das questões sugeridas; acreditamos que o material deve ser utilizado

apenas após a tentativa cuidadosa de se trabalhar em todas as questões – juntamente ao texto

de Feynman. Se seu professor não dispõe de tempo para uma espécie de pré-correção das

questões, o documento pode ser útil a fim de que se refaça e/ou corrija as questões (ou ao

menos como leitura complementar, acompanhada do texto de Feynman). Provavelmente, estas

questões devam ser combinadas com o professor. O material suplementar é a última parte

deste estudo, constando antes das referências bibliográficas deste.

1 O aluno também pode ler o texto concomitantemente à errata; possivelmente, esta questão deverá ser

discutida/combinada com o professor e depende da versão do texto adotada e da disponibilidade de tempo.

Somente foram comparados os erros encontrados nesta ed. brasileira com o original americano mencionado,

verificando se estes constavam ou não neste – e fornecendo correções e explicações para os trechos incorretos;

assim, o original em questão pode conter erros adicionais.

2 O ‘California Institute of Technology’ (Caltech) disponibiliza no site http://www.feynmanlectures.caltech.edu/

os três vol. da obra, somente para leitura, não sendo permitido qualquer tipo de cópia parcial ou completa. O

último acesso foi feito em 17 de junho de 2015. A data de postagem, atualização etc. da obra não estava

claramente indicada até a data do último acesso; de acordo com informação de copyright, no rodapé do site,

esta parece ser de 2013.

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ERRATA DE UMA EDIÇÃO DO TEXTO BRASILEIRO; QUESTÕES PROPOSTAS AO

LEITOR.

Ao analisar esta errata com cautela, seria útil corrigir os erros em seu texto, tornando-o

confiável para as atividades propostas. Assim, não há o risco de se esquecer das incorreções

em leituras/consultas futuras. A correção, somada à leitura deste documento, pode auxiliar na

análise e compreensão textual. Os três volumes originais em idioma inglês, da obra The

Feynman Lectures on Physics (Feynman; Leighton; Sands), foram lançados pelo California

Institute of Technology (Caltech) e pelo The Feynman Lectures Website em um site na

internet. O conteúdo é de alta qualidade e disponível apenas para leitura; seu endereço consta

na segunda nota de rodapé da Introdução anterior. O texto está no capítulo 13, seção 13–6.

Neste caso, as seções formam links.

Errata do texto A relatividade dos campos magnéticos e elétricos, em tradução para o

português brasileiro; comparação dos erros encontrados na versão brasileira com um

original norte-americano.

Apontamos e corrigimos erros do texto brasileiro de Feynman (2008), comparando-os

com um original de 1964, isto é, verificando se os equívocos ocorrem ou não neste

(FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 1964). Não se comparou o texto brasileiro ao original

do qual a obra foi traduzida, pois não se teve acesso a ele, mas também porque um original

mais antigo ainda pode ser mais utilizado. Edições/reimpressões brasileiras mais recentes do

que a estudada (caso existam) podem estar total ou parcialmente retificadas, no que se refere

ao texto abordado.

Erro 1: Está logo no início do quarto parágrafo: “No referencial S´, claramente existe uma

força magnética na partícula.” (p. 13–7). Correção: Ao invés de S´, leia-se S (sem o símbolo ´

); pois é em S em que claramente existe força magnética na partícula.

Este erro não consta no original em inglês consultado, podendo ser erro tipográfico

surgido na versão brasileira ou noutra edição original posterior.

Erro 2: No 15º parágrafo: “Esta carga deve ser igual a ρoLoA, porque as cargas são as

mesmas [...]” (p. 13–9). Correção: ρoLoA é igual à ρoLoAo. Feynman se refere à carga Q num

referencial S´ (= ρLAo) e enfatiza que esta deve igualar-se à carga num referencial S (=

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ρoLoAo), a fim de obter uma relação geral entre as densidades de carga relativa e de repouso

para certo agrupamento de partículas elétricas – que posteriormente é aplicada no

experimento do texto. Isto não é bem um erro, mas uma pequena confusão em símbolos

usados no corpo do texto e na Figura 13–11 (p. 13–9); nesta, se representa a área transversal

do fio por A e seu comprimento relativo por L´, enquanto que no corpo do texto se acham

representações distintas destas grandezas. Mas o importante é compreender que A = Ao e L´=

L < Lo.

No original americano também há esta confusão.

Erro 3: Está no próprio enunciado da Figura 13–11, que se encontra incompleto: “Se uma

distribuição de partículas carregadas em repouso tem uma densidade de cargas ρo as mesmas

cargas terão densidade [...] quando vistas de um referencial com velocidade v.” (p. 13–9).

Correção: As reticências indicam o local em que faltam termos matemáticos no texto, pois

estes estão no original de 1964, e consistem na expressão:

ρ =

2

2

1c

v

o

; isto é provavelmente um erro tipográfico.

Erro 4: No 17º parágrafo, bem no final da pág. 13–9, na seguinte afirmação sobre

densidades de carga negativa: “Na Eq. (13.23) ρo = ρ´_ , porque as cargas têm a densidade ρ´_

quando o fio está em repouso [...]” (p. 13–9). Correção: Recorde-se que a densidade de carga

negativa, em cada referencial inercial do experimento pensado por Feynman, refere-se apenas

à carga somada de todos os elétrons de condução. Está correto que os elétrons livres têm

densidade de carga negativa de repouso ρo = ρ´_ , pois se encontram em repouso no

referencial inercial S´; entretanto, está errado que as cargas destes elétrons têm densidade ρ´_

quando o fio está em repouso, pois, no referencial S deste, a densidade destas é representada

por ρ_. Bastava afirmar-se “Na Eq. (13.23) ρo = ρ´_ para cargas negativas (elétrons de

condução). Temos então que” para um bom entendimento do trecho, pois o que vem antes

deste trecho é suficiente para a interpretação.

Este erro se encontra no original; pode ser um equívoco de tipografia que se propagou ou

um erro de Feynman.

Erro 5: Na pág. 13–10: “Temos, pelo menos, uma força na mesma direção nos dois pontos

de vista; a força elétrica em S possui a mesma direção [...]” (p. 13–10). Correção: Ao invés

de “força elétrica em S ”, leia-se “força elétrica em S´ ”, pois esta força só se manifesta em S´.

O original está correto; talvez, o erro surgiu no texto brasileiro por falha de tipografia.

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Erros 6 e 7: Estão na última página do texto, penúltimo parágrafo: “[...] no sistema S

existem linhas de campo elétrico, que não encontraremos passando por nós com velocidade v

no sistema S. No sistema S´ não existe nenhuma linha de campo elétrico!” (p. 13–10).

Correção: No sistema S não existem linhas de campo elétrico, mas somente de campo

magnético; e em S´ existem linhas dos dois campos. Assim, o trecho fica correto com as

modificações: “[...] no sistema S´ existem linhas de campo elétrico, que não encontraremos

passando por nós com velocidade v no sistema S. No sistema S não existe nenhuma linha de

campo elétrico!”.

Estes dois erros deste fragmento não constam no original, e podem ter surgido na ed. em

português aqui utilizada ou num original posterior ao analisado.

Erro 8: Consta na última figura do texto, Figura 13–12 (p. 13–11). Trata-se de algo bem

simples: o sentido dos campos magnéticos B e B´ – em (a) e (b) da figura, respectivamente –

está invertido. Ao invés do sentido anti-horário mostrado (no plano do papel), o sentido

correto é o horário, assim como está na versão online mencionada.

Este equívoco também consta no original de 1964, podendo ser erro do autor ou de

tipografia que se propagou – ou até da edição brasileira.

Caso o leitor possua conhecimentos razoáveis do idioma inglês, talvez outros erros

possam ser identificados em edições norte-americanas – quando já se tem certo conhecimento

do texto, tema e abordagem de Feynman.

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Questões propostas ao leitor

Apresentamos as seguintes questões, a serem realizadas após a leitura do texto:

1. Esta primeira questão envolve a percepção do problema a ser resolvido: qual seria a

consequência se, na mudança do referencial inercial do fio para o da partícula,

continuássemos a considerar o fio como eletricamente neutro?

2. Obtenha as expressões para o módulo do campo magnético B ao redor do fio e para o

módulo da força magnética F, que atuam na partícula de prova, no referencial inercial

do fio (S). Para isto, use a lei de Ampère da magnetostática, indicada abaixo. Por

simplicidade, adote – assim como Feynman – a velocidade vo da partícula de prova

(no referencial do fio) como igual à velocidade média de arraste v_ dos elétrons de

condução neste referencial.

Obs.: Nas Figuras 1 e 2 destas questões (e também na Figura 13–10 do texto de Feynman) se representa apenas

uma seção do fio reto cilíndrico e infinito – longo o suficiente para que seu diâmetro seja desprezível em relação

ao comprimento.

linha

B ∙ dl = μo i (1)

(A lei de Ampère, na forma de integral, como usualmente apresentada em várias obras de

Eletromagnetismo).

Figura 1 – O referencial do fio

Fonte: Adaptado de Feynman, 1964, p. 13–7

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3. Esta questão tem por finalidade fazer uma avaliação do módulo da velocidade média

de arraste (também denominada velocidade de migração) em condutores ordinários,

como finos fios de cobre (Cu) residenciais. Os valores típicos de velocidade para os

elétrons livres da corrente são, geralmente, bem pequenos quando comparados aos

objetos “clássicos” do cotidiano.

Calcule o módulo da velocidade de arraste dos elétrons de condução no referencial S

de repouso de um fio de cobre, cujo diâmetro vale 1,00 milímetro e que conduz

corrente i = 1,00 ampère. Considere a densidade de átomos do cobre equivalente a

8,48 x 1022

átomos/cm3

(em condições normais de temperatura e pressão), e o módulo

de carga elétrica elementar e = 1,60 x 10–19

coulomb; suponha ainda que cada átomo

contribui com um elétron livre na condução.

4. Mostre como o fio, eletricamente neutro em seu referencial de repouso, torna-se não

neutro (carregado) no referencial da partícula de prova. Evidencie a alteração

relativística dos comprimentos nos volumes usados para cálculo de densidades de

carga. Pergunta: Estando o fio eletricamente carregado, do ponto de vista do

referencial S´ (da partícula de prova), haverá carga elétrica líquida não nula no fio?

5.

a) Obtenha as expressões dos módulos do campo elétrico E´ e da força elétrica F´ que

interagem com a partícula de prova no referencial desta (S´ ). Utilize a equação

para a lei de Gauss da eletricidade, abaixo indicada. Na Figura 2 é representada

uma seção do fio reto, considerado infinito.

erfíciesup

E´ ∙ dS´ =

o

ernaQ

int (2)

(A lei de Gauss da eletricidade, na forma de integral, como usualmente apresentada em várias obras de

Eletromagnetismo).

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121

Figura 2 – O referencial da partícula de prova

Fonte: Adaptado de Feynman, 1964, p. 13–7

b) As equações 1 e 2 apresentadas (na 2ª questão e no item (a) desta) são uma das

formas matemáticas de duas leis gerais do Eletromagnetismo, que podem ser

nomeadas lei de Ampère da magnetostática e lei de Gauss da eletricidade,

respectivamente; cada uma destas leis foi aplicada em certo referencial inercial – S

ou S´ – por Feynman. Isto foi feito sem a necessidade de corrigir, modificar,

relativisticamente as equações para estas leis. Elas contêm quantidades físicas, μo e

εo, que podem se definir matematicamente por expressões que contêm outra

quantidade física de enorme importância no advento da Teoria da Relatividade

Especial; na verdade, μo, εo e esta outra quantidade estão intrincadamente

correlacionadas matematicamente.

Perguntas: Analisando cuidadosamente as equações de Feynman, aponte qual é a

outra quantidade física (explícita na maioria das equações de seu texto). Esta

quantidade aparece “igualmente” nas expressões para grandezas de ambos os

referenciais inerciais, isto é, tem igual valor absoluto, tanto em S quanto em S´ ? O

que se pode dizer, inferir sobre ela? O que podemos concluir sobre εo e μo, a

permissividade elétrica e a permeabilidade magnética, respectivamente, para o

espaço livre?

6. O valor do momento relativístico – em um determinado eixo de um referencial inercial

– pode ser dado por p =

2

2

1c

v

um

; onde v representa o valor de velocidade da partícula

no referencial inercial em que se quer determinar o momento, e u o valor da

componente desta velocidade ao longo do eixo escolhido neste referencial. No texto de

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Feynman, é enfatizado que a variação no valor dos momentos transversos (ou

transversais) da partícula, Δpy e Δpy´ – nos referenciais S e S´, respectivamente –, é a

mesma. Isso equivale a dizer que o momento transverso da partícula é igual

(independente do referencial) em pontos de mesma coordenada transversa y = y´;

prove isto, ou seja, mostre que as expressões para py e py´ são equivalentes (py = py´ ).

7. Qual a relação entre intervalos de tempo correspondentes no referencial inercial do fio

(S) e no da partícula (S´ )? Interprete o resultado, ou seja, tente descrevê-lo de alguma

forma, conferindo significado para esta relação.

8.

a) Como os resultados para os módulos da força elétrica F´ – da 5ª questão – e da

magnética F (obtido para o referencial do fio estacionário (S) na 2ª questão) se

relacionam matematicamente, de acordo com a previsão teórica? Na prática, para o

pequeno módulo de velocidade, calculado na 3ª questão – em concordância com as

pequenas velocidades consideradas por Feynman –, o que se pode dizer sobre estas

duas forças?

b) Use a equação relativisticamente correta do movimento e o resultado da 7ª questão

para obter a mesma relação (entre os módulos de F e F´) encontrada no item (a)

desta questão.

c) O obtido em (a) e (b) mostra a previsão relativística, que é válida, entre as forças

do texto; ambas, cada qual atuando em um referencial inercial, se compatibilizam

com o Eletromagnetismo Clássico e a Teoria da Relatividade Especial. Qual efeito

relativístico pode ser considerado na explicação da diferença prevista entre estas

forças? Tente descrever, interpretar, a correlação deste efeito com as forças.

O autor disponibiliza seu e-mail para contato, [email protected], a respeito de dúvida, crítica,

sugestão, informação de erros etc., sobre este trabalho.

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MATERIAL SUPLEMENTAR

RESOLUÇÃO COMENTADA DAS QUESTÕES; CONSIDERAÇÕES AOS

ESTUDANTES E PROFESSORES (PARA A CONDUÇÃO DE DISCUSSÕES E

REFLEXÃO).

Introdução

Não se pretende, aqui, com as resoluções, comentários, considerações etc.

apresentadas a seguir, retirar a autonomia do professor em relação aos estudantes; mas, pelo

contrário, desejamos apresentar um material na tentativa de auxiliar o leitor na percepção da

riqueza do texto de Feynman e – obviamente – na correção de nossas questões propostas. O

texto do físico norte-americano mostra que a Teoria da Relatividade Especial pode ser tomada

emprestada a fim de que o Eletromagnetismo se torne coerente na descrição de interação

eletromagnética exemplificada pelo autor. Ele também ressalta a relatividade das grandezas

de campo e conceitos de força elétrica e magnética; o que dá nome ao seu texto. Apesar desta

relatividade, Feynman enfatiza que uma descrição eletromagnética completa é invariante, ou

seja, um fenômeno elétrico e/ou magnético encontra descrição – em concordância com as

mesmas leis fundamentais do Eletromagnetismo (equações de Maxwell) – em qualquer

referencial inercial. Assim, as equações do Eletromagnetismo são válidas em todos os

referenciais inerciais, mantendo sempre a mesma forma matemática em qualquer um deles.

Desse modo, o Princípio da Relatividade de Einstein e a lei da invariância no valor absoluto

da velocidade da luz (no espaço livre) são satisfeitos. Podemos perceber, então, que existe

uma íntima conexão entre a teoria clássica do Eletromagnetismo e a Teoria da Relatividade

Especial.

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1ª QUESTÃO:

A primeira questão diz respeito a uma contradição que surge se continuamos a

considerar o fio como eletricamente neutro no referencial inercial da partícula (S´ ); o que, na

verdade, trata-se de um paradoxo aparente. A consequência em considerar-se o fio

descarregado (neutro) no referencial da partícula conduz a uma espécie de absurdo físico;

pois se, no referencial do fio em repouso (S), um observador ali estacionário vê a partícula

aproximar-se do fio, também no referencial S´ esta deve aproximar-se deste. Em outras

palavras, um observador estacionário no referencial inercial da partícula vê uma interação

atrativa – entre o fio e a partícula –, assim como outro observador estacionário, desta vez no

referencial inercial do fio, também testemunha uma interação atrativa entre os dois objetos.

Afinal, seria um absurdo lógico um observador, em repouso com respeito ao fio, observar a

partícula adentrar o campo magnético B e paulatinamente aproximar-se do fio, enquanto

outro observador (movendo-se inicialmente junto à partícula) a observasse sempre

estacionária em relação a ele – sem nenhuma força atuante nesta, sem alteração de velocidade

da partícula e sem aproximação do fio. Esta seria a estranha consequência se continuamos a

considerar o fio como eletricamente neutro no referencial S´ da partícula de prova; no

referencial S (do fio), obviamente, temos a atuação de uma força magnética atrativa – devida

ao campo magnético gerado pela corrente –, mas em S´ não teríamos nenhuma força atuando

na partícula, e esta se comportaria, portanto, como uma partícula livre – pois a velocidade da

partícula em S´ é nula. Se, pois, não há força magnética em S´ (v = 0) – e a interação

gravitacional é extremamente pequena em ambos os referenciais inerciais, a ponto de

podermos desprezá-la –, que tipo de força deve atuar sobre a partícula neste referencial S´?

Forças de origem nuclear não podem ser, pois se supõe apenas um ente físico elementar (um

elétron, p. ex.), como partícula de prova, nas proximidades de um fio conduzindo corrente.

Finalmente, na experiência pensada por Feynman (2008), também devemos supor a

inexistência de quaisquer forças resistivas e de interação com partículas, átomos, fótons,

moléculas etc. Em suma, a experiência de Feynman (2008) preocupa-se somente com a

interação existente entre uma partícula negativa elementar e um fio condutor de matéria

ordinária (cobre, por exemplo) conduzindo corrente estática. A interação (força) atuante na

partícula, em S´, só pode ser descrita, portanto, por um formalismo teórico que inclua a teoria

eletromagnética.

Grosso modo, podemos fazer uma analogia com a interação gravitacional: se um

observador – fixo com respeito à superfície da Terra (em um referencial S) – vê um projétil

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ser abandonado de um avião em movimento reto e uniforme, colidindo com o solo, também

um observador estacionário no interior da aeronave (referencial S´ ) – com velocidade inicial

igual à desta – testemunhará a atração gravitacional. Este exemplo é uma mera analogia; em

ambos os casos, desconsideramos as interações – da partícula elétrica e do projétil – com

moléculas, átomos, fótons etc. e qualquer espécie de força resistiva (de atrito). No texto de

Feynman (2008), preocupamo-nos apenas com interações descritas pela teoria

eletromagnética clássica; e, nesta analogia, somente com a interação gravitacional clássica.

Logo, do mesmo modo que seria absurdo observar o projétil – no referencial S´ da aeronave –

permanecendo em repouso relativamente a esta (sem sofrer a ação da gravidade terrestre),

também seria totalmente incoerente observar a partícula elétrica – no referencial S´ do texto

de Feynman – como partícula livre. Em suma, a partícula em S´ não pode permanecer sem a

ação de uma força descrita por teoria que inclua o Eletromagnetismo. Como esta força não

pode ser magnética em S´, pois forças magnéticas são dependentes da velocidade – e a

velocidade da partícula em S´ é nula –, não podemos continuar a considerar o fio como

eletricamente descarregado neste referencial. Então, embora o fio esteja descarregado (neutro)

no referencial inercial S, ele está eletricamente carregado no referencial inercial S´.

Feynman demonstra que existe descrição teórico-conceitual (que intimamente

relaciona o Eletromagnetismo e a Teoria da Relatividade Especial) para a interação na

partícula no referencial inercial S´. Para chegar a esta conclusão, Feynman (2008) se vale de

previsões da Teoria da Relatividade Especial; através de uma destas previsões, ele demonstra

o fato de que o fio condutor, realmente, se encontra carregado no referencial inercial S´ (da

partícula). Também é interessante reparar em um importante aspecto, citado na Introdução

deste material suplementar: em ambos os referenciais inerciais do texto, S e S´, as formas

matemáticas para as equações de Maxwell são as mesmas; ou seja, estas equações

fundamentais do Eletromagnetismo não se alteram, preservando seu formalismo, sua “cara”,

em ambos os referenciais inerciais de Feynman. E mais ainda: as formas matemáticas das

equações de Maxwell se preservam (sendo escritas identicamente) não só nos dois

referenciais do texto abordado, mas em qualquer referencial inercial. Porém, é necessário

atentar para o fato de que existem grandezas nestas equações – como os campos elétrico e

magnético – que podem variar de um referencial inercial para outro, mas também quantidades

físicas constantes (invariantes). Dessa maneira, alguma forma matemática (das equações de

Maxwell) para cálculo de campo elétrico estático pode ser usada (escrita) no referencial de

repouso do fio (S); mas já sabemos, de antemão, que E em S deve ter resultado nulo, pois o

fio está eletricamente neutro neste referencial. E a mesma forma matemática para cálculo de

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campo elétrico estático também é válida no referencial inercial de repouso da partícula (S´ ),

com a ressalva de que o campo elétrico neste referencial não pode mais ser nulo; pois, como

concluímos, o fio deve estar carregado em S´.

Enfim, não se pretende aqui – para a 1ª questão – dar uma resposta única para a

incompatibilidade gerada como consequência de considerar-se o fio eletricamente

descarregado em S´; mas, o intuito é tornar evidente ao leitor como a percepção deste

problema a ser resolvido é rica, podendo servir até como discussão introdutória. Assim, o

professor pode auxiliar na promoção de uma reflexão inicial em seus alunos, utilizando esta

questão no enfoque da riqueza do “problema de Feynman”. Uma boa e breve discussão do

problema envolvido no texto, por si só, já pode ser capaz de introduzir (de forma bem

introdutória) importantes noções como a relatividade dos campos elétrico e magnético e a

preservação das equações de Maxwell, referente ao fato de que, em todos os referenciais

inerciais, a teoria eletromagnética clássica é aplicável – estando em compatibilidade com a

Teoria da Relatividade Especial.

2ª QUESTÃO:

No cálculo do valor de campo magnético – no referencial do fio (S) –, basta

utilizarmos a lei de Ampère da magnetostática. Sendo este campo estático em S (não variando

no decorrer do tempo t deste referencial inercial), pois a corrente em S é estacionária,

devemos obter uma expressão para seu valor que varie apenas com a distância radial r ao eixo

longitudinal do fio; pois se considera um fio reto, muito longo (que tende ao infinito) e de

formato cilíndrico. A lei de Ampère da magnetostática, na forma integral, é geralmente dada

pela equação 1 do enunciado desta questão. O valor absoluto da velocidade da luz no espaço

livre, c, é uma constante obtida por Maxwell em suas equações, designada por c = oo

1;

então, μo = 2

1

co, e a equação para a lei mencionada – escrita com os termos usados por

Feynman (2008) em seu texto – fica:

linha

B ∙ dl = 2c

i

o (3)

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Este problema exibe simetria cilíndrica, e a integral de linha fechada para o campo

magnético B é feita ao longo de uma circunferência concêntrica ao eixo longitudinal do fio

(cujo plano que a contém corta transversalmente o fio); como B e dl são paralelos e tangentes

em qualquer ponto da circunferência – e o valor de B é constante em todos os pontos desta, a

uma distância radial r qualquer –, a integral no lado esquerdo da equação 3 iguala-se a:

B linha

dl = B 2πr; onde a integral do elemento dl é o próprio comprimento 2πr da

circunferência. Assim, igualamos este último resultado ao lado direito de 3, e obtemos:

B =22 cr

i

o =

22 cr

vA

o

(4)

Onde a corrente elétrica i – no referencial de repouso do fio (S) – foi substituída pela

expressão dada por Feynman (2008, p. 13–8), i = ρ_vA. O leitor facilmente pode provar que

ρ_vA é dimensionalmente coerente com a unidade de corrente, o ampère [A]. Portanto, ao

obtermos a expressão do valor de B para qualquer distância r ao eixo do condutor, temos uma

equação válida para o valor deste campo, em S, na posição da partícula de prova. O vetor B é

tangente em todos os pontos duma superfície cilíndrica imaginária que simetricamente

envolva o fio – e perpendicular ao eixo longitudinal deste. A direção/sentido de B é dada pela

regra da mão direita para o campo magnético; na posição da partícula de prova q, o vetor B

“entra” no plano do papel. Pode-se tentar visualizar a simetria na figura mostrada no

enunciado.

Para obter o vetor força magnética, F, que atua na partícula de prova, em S, deve-se

tomar a equação:

F = qvo B (5)

A equação 5 provém da expressão mais geral para a força eletromagnética Feletromag. =

qE + (qv B); geralmente atribuída à Lorentz. Em nosso caso de fio neutro em S, a força

atuante na partícula é puramente magnética neste referencial.

Não é necessário, aqui, introduzir um sistema de coordenadas cilíndricas circulares,

com uma base de vetores unitários, para o cálculo de F (magnética); precisamos apenas

respeitar a definição de produto vetorial e a regra de mão direita para determinação da

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direção/sentido do produto vetorial vo B, no referencial do fio. Efetuando-se este produto,

na posição da carga de prova, obtém-se uma força magnética F radial ao eixo longitudinal do

fio; assim, introduzimos um unitário r (radial), que aponta no sentido do aumento do módulo

de r (afastando-se do eixo do condutor):

F = qvo22 cr

vA

o

(r) = 2

2

2 cr

Avq

o

(r) (6)

Onde se considerou o valor de velocidade vo igual ao valor de v_ = v (velocidade de arraste

dos elétrons condutores em S), isto é, o caso especial tomado por Feynman (2008, p. 13–8),

em que vo = v. Repare que, sendo a carga q uma propriedade material escalar e, neste caso,

negativa, o sentido de F é contrário ao de um eixo radial que se afasta do fio reto; então, a

orientação desta força é radial apontando para o fio. A regra da mão direita (para

determinação de força magnética) é bem explicada por Serway e Jewett (2008) 3. Relembre-se

que o vetor resultante, em um produto vetorial, é sempre perpendicular aos vetores envolvidos

na operação.

No texto de Feynman, B e vo são perpendiculares, o que, pela definição de magnitude

do produto vetorial, faz com que F tenha seu módulo máximo, igual a 2

2

2 cr

Avq

o

. O resultado

obtido em 6 é semelhante ao de Feynman (2008, p. 13–8), expresso na equação 13.21, com

exceção do vetor unitário r. É interessante reparar que, aqui, já aparece uma razão matemática

bastante recorrente na Teoria da Relatividade Especial, v2/c

2. Até este ponto do texto,

Feynman ainda não recorreu a nenhum efeito ou previsão relativísticos; entretanto, ele já

discorreu sobre o fato de que o magnetismo não é uma “coisa” independente, como se pode

imaginar. (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–7). Noutras palavras, podemos

dizer que este resultado magnético obtido para o referencial do fio em repouso não é absoluto

para o fenômeno em questão; ou seja, este referencial inercial (S) não é privilegiado para a

descrição de campo magnético. E, de modo análogo, para a descrição da força atuante na

partícula elétrica. Na verdade, todos os referenciais inerciais estão em pé de igualdade; isto se

interliga ao fato de que a grandeza de campo magnético é relativa:

3 O autor deste material pôde constatar que, com razão, existem algumas (senão várias) variações do que se

denomina regra da mão direita, inclusive em livros e notas de aula (na internet) para cursos superiores; p. ex.,

para a determinação de produto vetorial, esta regra é – às vezes – chamada de regra do parafuso direito. As

variações parecem ocorrer tanto no nome dado à regra quanto em técnicas mnemônicas envolvendo o polegar

e os outros dedos da mão direita.

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[...] este vetor dependerá de qual sistema de referência escolhemos para especificar a

velocidade das cargas. Mas não falamos nada sobre qual o referencial apropriado

para se especificar o campo magnético. Verifica-se que qualquer referencial inercial

pode ser usado. (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–7).

Sendo o Princípio da Relatividade einsteiniano válido no Eletromagnetismo, devemos

encontrar outras descrições compatíveis com as leis fundamentais desta teoria no referencial

inercial da partícula de prova (S´ ), e em qualquer outro referencial inercial. Assim, os

conceitos de forças e grandezas de campo magnético e elétrico são relativos; mesmo assim,

não há um referencial privilegiado (absoluto) para o Eletromagnetismo e para a propagação da

luz; uma descrição de natureza eletromagnética, em sua totalidade, é invariante. (FEYNMAN;

LEIGHTON; SANDS, 2008; EINSTEIN, 1999).

3ª QUESTÃO:

No cálculo do módulo da velocidade de arraste dos elétrons de condução, em S, vamos

partir da equação dada por Feynman (2008, p. 13–8) para a corrente elétrica, que pode ser

expressa por i = ρ_vA; onde ρ_ é a densidade de carga negativa de condução no referencial do

fio de cobre em repouso, v = v_ é o valor médio da velocidade (do arraste) da distribuição de

elétrons condutores neste referencial, e A é a área transversa do fio – que é invariante, pois as

dimensões transversas ao movimento não sofrem alteração relativística. Isolando v_ , e

escrevendo a área em função do diâmetro d do fio, temos:

v_ = 2

_2

d

i

(7)

A única quantidade física não conhecida para o cálculo de v_ é ρ_ (para o cobre), sua

densidade de carga negativa de condução no referencial do fio. A quantidade de átomos de

cobre por unidade de volume (nas CNTP) é cerca de 8,48 x 1022

átomos/cm3 (SERWAY;

JEWETT, 2008, p. 770); e, como cada átomo contribui com um elétron livre de corrente, tem-

se (8,48 x 1022

elétrons de condução/cm3)

3

3610

m

cm = 8,48 x 1028

elétrons de condução/m3.

Agora, basta multiplicarmos este resultado pela carga elementar – de módulo e = 1,60 x 10–19

C –, o que nos fornece o módulo da densidade negativa de condução: 1,3568 x 1010

C/m3

de

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densidade absoluta de carga para ρ_. O leitor também pode obter este resultado utilizando a

densidade de massa do cobre, sua massa molar e a constante de Avogadro, que podem ser

dados, respectivamente, pelos valores: 8,96 g/cm3 (a 20

oC = 293 K); 63,54 g/mol e 6,02 x 10

23

mol –1

(RESNICK; HALLIDAY; KRANE, 2007). Finalmente, substituindo os valores

fornecidos no enunciado desta questão para a corrente i, o diâmetro d (= 1,00 mm = 10–3

m), e

o calculado para ρ_ , obtém-se:

v_ = 2

310

2

10103568,1

00,1

xx

2

3

/

mm

C

sC

= 9,38 x 10–5

m/s (8)

(com três algarismos significativos)

O resultado obtido em 8 é da ordem de grandeza de 10– 4

m.s –1

, isto é, um valor de

velocidade média de arraste em torno de apenas um décimo de milímetro por segundo. O

módulo desta velocidade é medíocre quando comparado aos valores cotidianos comuns,

como, p. ex., o de um carro que translada a 110,0 Km/h (≈ 30,6 m/s); o que nos dá uma razão

(da ordem de grandeza) de 10–6

para a velocidade de arraste dividida pela velocidade do carro.

O texto de Feynman demonstra que as previsões da Teoria da Relatividade Especial podem

ser levadas em consideração, no contexto do Eletromagnetismo, até quando os valores de

velocidades entre os referenciais inerciais são da ordem de grandeza – ou próximas – da

calculada acima. Com efeito, Feynman não especifica a composição química, o valor de

corrente e o diâmetro do condutor etc. na proposta de seu texto, mas considera o problema

“para as pequenas velocidades.” (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–10). A

razão entre o módulo da velocidade de arraste calculado e o da luz, c

v_ , é muitíssimo

pequena, da ordem de grandeza 10–13

. Vemos, portanto, que existe a possibilidade teórica de

enfocar a íntima conexão entre o Eletromagnetismo e a Teoria da Relatividade Especial – com

um tratamento matemático razoável – mesmo em velocidades relativas (entre referenciais

inerciais) usualmente menores do que as observadas na vida cotidiana e consideradas em

muitos estudos teóricos de Mecânica Clássica.

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4ª QUESTÃO:

Em um longo fio reto e cilíndrico, de comprimento próprio Lo em seu referencial de

repouso (S), tem-se densidade de carga – para certa distribuição de cargas no corpo do fio –

dada por ρo =

oo AL

Q ; onde LoAo é o volume próprio (medido no referencial de repouso) do fio

e Ao é sua área de seção reta. Em um referencial inercial com velocidade paralela ao eixo

longitudinal do fio reto, o comprimento Lo se contrai por um fator inverso ao de Lorentz, isto

é, por 1/γ (um dividido por gama); o que nos dá um comprimento relativo L:

L =

1Lo =

2

2

11c

v

Lo

= Lo2

2

1c

v (9)

Este é o resultado 13.22 do texto de Feynman (2008, p. 13–9). Assim, no referencial

inercial em movimento relativo ao fio (S´), este apresenta um comprimento L menor que Lo;

logo, o volume do fio também será menor no referencial da partícula. Lembre-se que o fator

de Lorentz, γ, é sempre um positivo maior do que um (1) quando v é diferente de zero, e seu

inverso fica entre zero e a unidade. O efeito da contração de Lorentz (ou contração do espaço)

é uma previsão da Teoria da Relatividade Especial usada por Feynman (2008) a fim de

concluir que o fio, no referencial inercial S´ de repouso da partícula, possui densidade

volumétrica de carga líquida não nula. É interessante reparar que esta consideração

relativística faz surgir o fator γ nas expressões para os valores de força e campo elétricos – em

S´. Aqui entra uma lei de invariância – e também de conservação – de grande importância no

arcabouço teórico-conceitual do Eletromagnetismo, da Teoria da Relatividade Especial e da

Física em geral; trata-se da questão da invariância (e conservação) da carga elétrica. Podemos

afirmar que a carga líquida associada a qualquer conjunto de partículas (que não recebe nem

perde nenhum portador de carga), digamos alguns prótons e elétrons, é sempre a mesma,

independentemente do movimento relativo entre o conjunto de partículas e um observador;

noutras palavras, a carga líquida contida numa partícula – ou em certa coleção delas – é

sempre uma propriedade escalar invariante que não depende da velocidade, ou seja, uma

quantidade física que se preserva em qualquer referencial inercial. Por exemplo, imagine uma

partícula com carga q que se move em relação à superfície da Terra com valor de velocidade

0,5c (metade do valor da velocidade da luz no espaço livre), o que é simétrico à superfície

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terrestre mover-se a 0,5 c relativamente a esta partícula “em repouso” no referencial da órbita

da Terra. Um observador estacionário na superfície do planeta mediria sempre o mesmo valor

de carga q da partícula. Porém, as densidades de carga podem variar, pois os volumes do

espaço se alteram quando há movimento relativo entre referenciais inerciais; e, segundo

Feynman (2008), importa somente esta noção (no cálculo de densidades de carga), a de que o

volume de espaço varia devido à contração do comprimento (ou contração de Lorentz). A lei

de invariância da carga elétrica, junto ao efeito de contração do comprimento, permite-nos

deduzir uma expressão geral para densidades de carga de certa distribuição de partículas na

Teoria da Relatividade Especial.

A densidade de carga líquida no fio, no referencial inercial S´ (da partícula de prova), é

chamada por Feynman de ρ´. Vamos obtê-la; assumindo que a carga líquida Q contida em

certo conjunto de partículas (eletricamente isolado) deve ser invariante tanto em um

referencial S quanto num referencial inercial S´, ou em qualquer outro sistema inercial,

podemos obter um resultado geral a ser aplicado ao fio. Primeiramente, a área de corte reta do

fio, Ao, é uma dimensão transversa ao movimento que não se altera. Usando o resultado 9 –

que relaciona os comprimentos relativo L e de repouso (próprio) Lo –, evidenciamos a

alteração relativística do comprimento nos volumes usados no cálculo de densidades (de

carga)

ρo=

oo AL

Q e ρ =

2

2

1c

vLA

Q

oo

(10)

Aqui, ρo e ρ são densidades de carga gerais para qualquer distribuição de partículas

carregadas; sendo ρo a densidade de carga em repouso, ρ a densidade de carga relativa e Q a

carga líquida contida na distribuição (quantidade invariante). Assim, fica evidente a previsão

da contração de Lorentz; e, isolando Q nas equações 10, obtemos a igualdade:

oooooAL

c

vLA

2

2

1

ou

2

2

1c

v

o

(11)

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133

A última igualdade é um resultado mais geral para densidades de carga na Teoria da

Relatividade Especial, no nível de nosso interesse. Ela é dada por Feynman (2008, p. 13–9)

em sua equação 13.23. Vamos aplicá-la ao exemplo do autor. As cargas positivas (prótons

nucleares) estão todas estacionárias no referencial do fio (S); se há um elétron condutor por

átomo (em S), então temos N(Z – 1) elétrons estacionários neste referencial, cujas cargas são

balanceadas por uma idêntica quantidade de prótons. Z é o número atômico do elemento

constituinte do condutor e N é o número total de átomos deste elemento no fio. Assim, não é

necessário contabilizar densidades de carga de N(Z – 1) elétrons mais N(Z – 1) prótons no

referencial S, pois estas partículas estão estacionárias no referencial de repouso do fio (S); e a

densidade e a carga líquida (delas somadas) são nulas neste e em qualquer outro referencial.

Preocupemo-nos, então, somente com a carga elétrica referente a um próton em cada núcleo

do fio mais a carga do conjunto dos elétrons de condução; a densidade de carga líquida destas

partículas é nula – no referencial inercial do fio! –, pois o número de elétrons de condução

iguala-se ao de N prótons, e a carga total destes elétrons divide-se pelo mesmo volume que a

carga total dos prótons – o volume do fio em repouso (em S). Para cargas positivas, a

densidade de carga de repouso ρo – em S – nada mais é do que uma densidade positiva de

repouso ρ+ (referente à soma das cargas de cada próton líquido por núcleo); porém, no

referencial da partícula (S´) (no qual o fio está em movimento), estas mesmas cargas positivas

movem-se com velocidade –v (menos v), tendo-se para elas, em S´, uma densidade positiva

relativa ρ´+; o que, segundo o resultado geral 11, nos dá:

ρ´+ =

2

2

1c

v

(12)

Para a distribuição de elétrons de condução, concluímos que estas partículas têm sua

densidade de carga negativa de repouso, ρ´_, no referencial S´ – pois estão estacionárias neste

referencial inercial; contudo, estes elétrons se movem em S, tendo sua densidade de carga

relativa ρ_ no referencial do fio em repouso. Daí,

ρ_ =

2

2

_

1

´

c

v

(13)

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134

obtemos o resultado acima, que corresponde à equação 13.25 de Feynman (2008). Somando-

se as densidades de carga ρ´+ e ρ´_, obtidas para S´, temos a densidade de carga líquida ρ´ no

referencial da partícula de prova:

ρ´ = – ρ+2

2

1c

v +

2

2

1c

v

=

2

2

2

2

1

1

c

v

c

v

=

2

2

2

2

1c

v

c

v

(14)

Onde se substituiu ρ_ por –ρ+ (menos ρ+) em 13, pois estas duas densidades se referem ao

referencial S; e, estando o fio neutro neste referencial inercial, a igualdade ρ+ + ρ_= 0 deve ser

satisfeita. O resultado para ρ´ confirma que o fio condutor tem densidade líquida de carga

diferente de zero em S´; existe, assim, um campo elétrico E´ neste referencial que interagirá

com a partícula que ali está inicialmente estacionária. A relatividade dos campos magnéticos e

elétricos já pode ser vislumbrada nos resultados matemáticos apresentados, uma vez que no

referencial do fio em repouso (S) a soma das densidades de carga positiva e negativa é nula, o

que resulta em um campo elétrico E = 0. Entretanto, a soma de densidades de carga

observadas no referencial inercial da partícula de prova (S´) não é nula (ρ´ ≠ 0), o que faz

surgir um campo elétrico E´ diferente de zero; assim, este tipo de campo existe em S´, mas

não em S. Recorde-se também que, no referencial S do fio, há somente campo magnético; e

este tipo de campo também está no referencial S´ da partícula, mas com valor diferente de B

(em S) – embora B´ e B tenham mesma direção e sentido, como veremos adiante. Mas ficam

os questionamentos: há carga elétrica líquida (no fio) do ponto de vista do referencial inercial

S´ ? Sendo a carga uma quantidade que se conserva, teria o fio carga interna líquida zero em

S´ (referencial da partícula), assim como no referencial S – mesmo havendo densidade de

carga não nula (ρ´ ≠ 0) em S´ ?

Isto suscita uma questão sutil e delicada. Ela não é explicitada por Feynman. Sabendo

que a conservação (invariância) da carga elétrica não pode ser violada, poderíamos suspeitar

que a carga (não a densidade) líquida no corpo do fio – em S´ – seja também nula. Mas não, a

carga líquida no fio, no referencial S´, é diferente de zero; o que não viola a lei de

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135

conservação da carga. Aqui entra em cena a noção da relatividade da simultaneidade, que se

refere ao fato de que dois eventos simultâneos em um referencial inercial não são simultâneos

em outro, exceto em um caso específico. Suponha que, no referencial S do fio de Feynman

(como representado na Figura 13–10 (a) (2008, p. 13–7)), que está neutro, um elétron sai pela

base direita do fio ao mesmo tempo em que outro elétron entra pela base esquerda. Com

efeito, sendo a corrente i estática, ρ_ uniforme e a área de corte reta do fio invariante, a

velocidade de arraste dos elétrons de corrente mantém-se a mesma – de acordo com i = ρ_vA.

Assim, em qualquer instante de tempo t do referencial S, igual número de elétrons sai e entra

no fio – o que o mantém neutro. Obviamente, o exemplo de Feynman é idealizado; assim, não

consideramos nenhum efeito, flutuação no valor de grandezas (como ρ_, p. ex.) e perturbações

externas que possam gerar campo elétrico e carga líquida em S. Um observador em

movimento perpendicular ao eixo longitudinal do fio, na Figura 13–10 (a) (2008, p. 13–7), ao

longo da reta que mantém iguais distâncias das bases do fio, também constata a entrada de

um elétron por uma base do fio simultaneamente à saída de outro pela outra base; este é o

caso específico mencionado acima, em concordância com Taylor e Wheeler (1992). Porém,

segundo a Teoria da Relatividade Especial, em outros referenciais inerciais estes dois eventos

(entrada de um elétron por um lado e saída de outro elétron por outro lado) não são

simultâneos; assim, no referencial S´ (da partícula), um elétron sai pela base direita antes que

outro entre pela esquerda, pois o observador se move para a direita; e a distância de percurso

da luz desta base até o observador (em S´) é menor, o que o faz detectar a saída de um elétron

pela direita antes da entrada de outro pela esquerda. Isto origina uma carga líquida positiva no

fio de Feynman, do ponto de vista de S´, o que está de acordo com a densidade ρ´ positiva e

com o campo elétrico E´ que devem existir no referencial S´ da partícula de prova.

Obviamente, a descrição anterior é apenas uma experiência de pensamento. É válido tentar

imaginá-la a partir da Figura 13–10 (b) do texto (2008, p. 13–7); também, na prática, lidamos

com uma quantidade enorme de elétrons livres (o que pode se perceber na resolução da 3ª

questão). Imaginar que um elétron sai do fio antes que outro entre é apenas uma simplificação

útil. Não há nenhum problema mais profundo com o fato de que o fio deixa de estar neutro na

passagem do referencial inercial S para o S´, pois a lei de conservação da carga não é violada.

A conservação da carga elétrica deve ser local, e se relaciona ao fato de que um portador de

carga (em um sistema físico “em repouso”) pode se mover de um local para outro e/ou

permanecer estacionário dentro da fronteira do sistema; mas nunca desaparecer e –

simultaneamente – aparecer em outro lugar do sistema em questão. Se isto ocorresse, um

observador em MRU relativo ao sistema poderia observar a não simultaneidade destes

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136

eventos (o desaparecimento e surgimento de um elétron, p. ex.); portanto, este observador

concluiria que, em certo intervalo do seu tempo, o elétron sumiu ou houve um elétron extra.

Assim, a lei de conservação da carga só valeria corretamente no referencial do sistema

considerado em repouso, isto é, deveria haver um referencial privilegiado, absoluto; o que

viola o Princípio da Relatividade. Na experiência de Feynman (2008), obviamente, há um

sistema que contém o fio, uma bateria (ou outra fonte qualquer) e, como é possível imaginar,

outros elementos de circuito. Mas o que mais importa é que a carga líquida interna ao sistema

deve se conservar, estando este isolado (eletricamente); mesmo que a carga líquida no corpo

do fio seja nula em S e positiva em S´. Também, esta lei de conservação no experimento de

Feynman (2008) é compatível com a verificação de que deve ser local; afinal, temos

portadores de carga em movimento e em repouso (em S e S´) na estrutura do fio de Feynman

(2008), da fonte – e talvez em outros dispositivos –, mas não partículas carregadas que

desaparecem e reaparecem em outro local, o que segundo Feynman “[...] é impossível, de

acordo com o princípio da relatividade de Einstein. Logo, é impossível haver conservação não

local da carga. O caráter local da conservação da carga é coerente com a teoria da

relatividade.” (FEYNMAN, 2012, p. 71).

Esta questão é valiosa, pois neste ponto já se vislumbra a relatividade de campos

magnético e elétrico até quando a velocidade relativa entre referenciais inerciais é bem

pequena (da ordem obtida na 3ª questão, ≈ 10– 4

m.s –1

). É significativo que o leitor perceba,

no aspecto da relatividade destes campos, a importância da Teoria da Relatividade Especial a

fim de tornar compatíveis (nos dois referenciais inerciais de Feynman) descrições teóricas

provindas da mesma teoria: o Eletromagnetismo Clássico.

Enfim, a partir da consideração de contração espacial, o físico deduz uma expressão de

densidade líquida de carga não nula em S´, e conclui pela existência do campo E´ neste

referencial; também, utilizando a noção de relatividade da simultaneidade, mostramos (de

modo razoavelmente convincente) que há carga líquida positiva no fio em S´. O fator γ

2

2

11c

v na equação obtida para ρ´ não vem de correções relativísticas no formalismo

matemático do Eletromagnetismo, mas sim da Teoria da Relatividade Especial (previsão de

contração do espaço) – que já inclui o Eletromagnetismo no seu arcabouço teórico e

conceitual, sem precisar modificá-lo. Além disso, vimos que a carga elétrica de um sistema

isolado eletricamente se conserva em todos referenciais inerciais; esta é uma lei fundamental

do Eletromagnetismo – e da Física Moderna –, tanto é que Feynman (2012) a denomina um

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137

grande princípio de conservação. Afinal, a carga é uma propriedade intrínseca à estrutura de

boa parte da matéria conhecida; Feynman (2008), no texto aqui estudado, explicita duas

observações cotidianas que implicam na invariância (e conservação) dessa propriedade. Uma

aponta que um objeto inicialmente descarregado (em certa temperatura) tornar-se-ia

carregado quando aquecido; a outra nos indica que uma substância qualquer se carregaria na

ocorrência de simples reações químicas. Mas estes efeitos nunca foram observados. As

explicações de Feynman (2008) a este respeito são muito boas, e é válido relê-las com

cuidado e atenção. Repare que a observação referente ao aquecimento de um objeto também é

válida se este for resfriado, de acordo com a explicação de Feynman; em resumo, um objeto

inicialmente neutro – em certa temperatura – tornar-se-ia eletricamente carregado quando sua

temperatura variasse. É claro que, nas observações mencionadas por Feynman (2008), os

objetos – sistemas – devem estar eletricamente isolados. A lei de conservação e invariância da

carga elétrica é um dos aspectos mais pertinentes do texto de Feynman (2008), que tentamos

enfatizar nos comentários desta 4ª questão, juntamente à relatividade dos campos magnético e

elétrico e ao fato de que o efeito da contração de Lorentz pode ser “emprestado” pela Teoria

da Relatividade Especial – a fim de se começar a vislumbrar a relatividade destes campos e a

compatibilização desta teoria com o Eletromagnetismo.

5ª QUESTÃO:

Item (a):

Primeiramente, vamos obter a expressão para o valor do campo elétrico E´, como

indicado por Feynman (2008) em sua equação 13.28. Lembre-se que o campo elétrico

somente se manifesta em S´; e aqui usaremos a equação da densidade líquida de carga ρ´ no

referencial inercial da partícula (S´). Esta equação se encontra no resultado 14.

É bom que se imagine sempre o fio em movimento ao nos referirmos ao referencial S´

da partícula de prova – referencial inercial no qual esta partícula está em repouso, mas não o

fio. Isto é evidenciado na Figura 13–10 (b) (2008, p. 13–7) do texto; assim, em S´, o fio se

move para a esquerda e realmente está positivamente carregado (o que pode se visualizar na

Figura 13–12 (b) (2008, p. 13–11) de Feynman). Poderia ser útil, neste momento, que o leitor

revisse (com atenção) as figuras de Feynman citadas acima – e relesse seus respectivos

enunciados com cuidado –, pois estas se referem ao referencial S´ da partícula elétrica. A

Figura 13–12 (b) (2008, p. 13–11) ilustra razoavelmente bem a relatividade dos campos

magnético e elétrico nos sistemas inerciais S e S´.

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Antes do cálculo do valor de E´ (no referencial S´), façamos algumas argumentações

sobre as equações indicadas – em enunciados de nossas questões – para duas importantes leis

do Eletromagnetismo. A lei de Gauss da eletricidade escrita para S´ (dada no enunciado desta

5ª questão), erfíciesup

E´ ∙ dS´ =

o

ernaQ

int , eq. 2, é uma das formas de simbolizar-se

matematicamente a lei de Gauss da eletricidade. A equação foi escrita para o referencial da

partícula em repouso (S´), ou seja, usamos um símbolo [´] para representar grandezas e

elementos físicos e matemáticos com caráter relativo; e abstemo-nos do símbolo a fim de

apresentar propriedades e quantidades físicas invariantes (constantes). Isto é bem importante –

no nível aqui abordado –, pois, apesar da existência do que se denomina invariante e do se

denomina relativo, a forma matemática da lei de Gauss da eletricidade é a mesma tanto em S´

quanto em S. Grosso modo, podemos dizer que a equação desta lei tem igual “cara” em

qualquer referencial inercial, isto é, não é necessário acrescentar nem retirar nada da equação;

mas apenas avaliar os termos relativos (que podem variar na passagem de um referencial para

outro) e os invariantes. Aliás, não apenas esta lei mantém sua forma em todos os referenciais

inerciais, mas todas as leis fundamentais da teoria eletromagnética (geralmente chamadas de

equações de Maxwell). E mais ainda: todas as leis fundamentais da Física são as mesmas em

qualquer referencial inercial. Este é um dos enunciados do que hoje pode se denominar

‘Princípio da Relatividade de Einstein’ (que deve ser de conhecimento do leitor); que significa

que as equações para as leis fundamentais da Física se preservam, isto é, mantêm seu

formalismo, sua aparência, em todos os referenciais inerciais. Assim, a expressão aqui

descrita para a lei de Gauss da eletricidade também é válida no referencial S do fio em

repouso; todavia, esta lei não precisa ser aplicada neste referencial, pois, de antemão, sabemos

que E é nulo em S. A carga líquida interna ao fio é zero no referencial do fio em repouso (ρ+=

– ρ_); e isto garante não ser preciso aplicar a lei de Gauss para a eletricidade no referencial S.

É interessante apontarmos que, o formato da lei de Gauss da eletricidade (escrito acima),

explicita a carga interna de um sistema – em nosso caso, do fio; recorde-se que a carga

elétrica interna (líquida) ao fio, no referencial S´, não é nula. Discutiu-se isto nas

considerações da 4ª questão utilizando a noção da relatividade da simultaneidade, onde se

concluiu que a Qinterna no fio – em S´ – não pode ser zero; com efeito, esta carga líquida no fio

é positiva no referencial inercial da partícula (S´), mesmo que a Qinterna líquida no fio seja nula

em S. Isto não viola a lei de conservação da carga elétrica; e caso o leitor não se lembre de

nossos argumentos a este respeito, na resolução da questão anterior, é útil a releitura de certos

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139

trechos desta. Enfim, como a carga líquida (no fio!) difere na mudança do referencial S para o

S´, podemos usar a simbologia Q´interna no cálculo de campo elétrico em S´; todavia,

preferimos não usar este símbolo na equação dada no enunciado desta questão, para enfatizar

que a carga líquida em uma partícula – ou em um sistema como um todo, eletricamente

isolado – é invariante, independente do movimento. Enfim, aplicando a lei de Gauss da

eletricidade em S´, temos:

erfíciesup

E´ ∙ dS´ =

o

ernaQ

int

´ =

cilíndricocontorno

E´ ∙ dS´ +

esquerdabase

E´ ∙ dS´ +

direitabase

E´ ∙ dS´ (15)

Este cálculo também exibe simetria cilíndrica, e a integral na superfície (área)

cilíndrica fechada, que envolve o fio reto – cujo comprimento pressupõe-se ser bem maior que

o diâmetro –, divide-se em três integrais de superfícies abertas (que formam a superfície total

do cilindro); estas superfícies (áreas) podem ser vistas na Figura 2 deste material, adaptada do

próprio texto de Feynman (1964), isto é, adaptada de figura igual à Fig. 13–10 (b) de

Feynman (2008, p. 13–7). A integral no contorno cilíndrico (o envoltório do cilindro) mais as

integrais de suas bases esquerda e direita nos dá a integral fechada erfíciesup

E´ ∙ dS´ completa na

área cilíndrica do referencial S´. Repare que, nas bases (que nada mais são do que círculos

perpendiculares ao eixo do fio), por argumentos vetoriais, vemos que o campo elétrico E´ é

sempre tangente às superfícies circulares. Lembre-se que o fio considerado é infinitamente

longo, mas é preciso tomar certo comprimento finito L (relativo) no referencial S´; assim, o fio

continua infinitamente além das bases. Então, o campo E´ é sempre perpendicular ao

elemento infinitesimal de área dS´; elemento sempre normal à superfície. Logo, o produto

escalar (interno) E´ ∙ dS´, nas bases circulares, se anula; e as integrais na base esquerda e

direita também se anulam:

esquerdabase

E´ ∙ dS´ = 0 e

direitabase

E´ ∙ dS´ = 0 (16)

Considera-se que a densidade de carga ρ´, no referencial de repouso da partícula (S´), é

uniforme; dessa forma, os argumentos vetoriais mencionados podem ser válidos.

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140

Também por argumentos vetoriais – e considerando-se ρ´ uniforme –, pode-se visualizar que

E´ é sempre normal à superfície do contorno cilíndrico e, portanto, paralelo ao elemento dS´.

Assim, o produto escalar E´ ∙ dS´, na integral do contorno, fica igual ao módulo de E´

multiplicado pelo módulo de dS´; e o resultado 15 se torna:

erfíciesup

E´ ∙ dS´ =

o

ernaQ

int

´ =

cilíndricocontorno

E´ dS´ (17)

Sendo que E´ tem sempre o mesmo valor para certa distância r perpendicular ao eixo

do fio (E´ é estático); e como

cilíndricocontorno

dS´ = S´ (a área do contorno do cilindro), obtemos:

o

ernaQ

int

´ = E´ S´ = E´ 2πrL (18)

Onde S´ = 2πrL; portanto, o valor do campo elétrico E´, no referencial inercial da partícula de

prova, fica:

E´ =

o

erna

rL

Q

2

int =

o

o

rL

LA

2

´ =

or

A

2

´ (19)

Obtivemos o último termo (mais à direita) fazendo ρ´ = ´

´

V

Q; assim, a carga interna Q´

se iguala à ρ´Ao L. O volume relativo V´ do fio, em S´, é dado por V´ = Ao L. Atente-se para o

fato de que a área de seção transversal do fio condutor é representada por Ao = A, pois

Feynman (2008) usa para esta estes dois termos – o que é desnecessário, pois as dimensões

transversais ao movimento relativo entre referenciais inerciais não sofrem alteração

relativística. Calculamos a expressão para ρ´ – que é positiva – em S´ (referencial da

partícula),

2

2

2

2

1c

v

c

v

= ρ´; este cálculo está na 4ª questão e no texto de Feynman (2008). Logo,

o termo mais à direita em 19 se torna:

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141

E´ =

2

2

2

2

12c

vr

c

vA

o

(20)

Esta é a expressão para o valor de campo elétrico E´ – no referencial inercial S´ –

como escrita por Feynman (2008) em sua equação 13.28. Este resultado também mostra a

questão da relatividade do campo elétrico; com razão, como o leitor deve saber, há campo

elétrico em S´, mas não em S. A expressão 20 demonstra que o valor de E´, em S´, não pode

ser nulo; já sabíamos disto de antemão, pois o fio está positivamente carregado no referencial

de repouso da partícula. Obviamente, a relatividade dos campos magnético e elétrico também

se aplica às forças engendradas por estes na partícula elétrica.

Somos já capazes de explorar melhor o aspecto da relatividade do campo magnético

na experiência de Feynman (2008). Este campo está nos dois referenciais inerciais do texto;

em S, ele é devido à corrente estática i neste referencial, uma corrente de elétrons livres; em

S´, o campo magnético se deve à corrente (também estática) i´ que se manifesta neste

referencial: o fio, em movimento no referencial S´, leva consigo uma distribuição de

partículas positivas (prótons), fixas em sua estrutura. A distribuição tem valor de velocidade

v´+ = – v (para a esquerda); reveja a Figura 13–10 (b) do texto de Feynman (2008, p. 13–7) e

repare que esta velocidade é simplesmente o negativo do vetor vo (velocidade da partícula de

prova em S). As cargas positivas são representadas, em S´, pela densidade de carga ρ´+ ; uma

densidade relativa de carga positiva, pois estas se movimentam no referencial S´ da partícula

de prova. Recorde-se que a soma destas cargas (contidas em prótons nucleares) é a carga total

de N prótons, onde N é o número de átomos de certa porção do fio infinito tomada para

estudo. Os demais prótons nucleares também se movem no referencial S´ (junto ao fio), mas

suas cargas (e densidades de carga) não precisam ser contabilizadas, pois se contrabalanceiam

pelas cargas dos demais elétrons atômicos. Em resumo, Feynman preocupa-se apenas com o

total de elétrons livres (que se supôs ser um por átomo na 3ª questão) que concorrem com

igual número de prótons nucleares – também um por átomo (por núcleo); os demais elétrons e

prótons estão em repouso uns em relação aos outros. E na ausência de movimento relativo

entre eles, suas cargas (e densidades de carga) se balanceiam em qualquer referencial inercial.

A equação 12 – ou 13.24 de Feynman (2008) – nos dá a relação entre as densidades de carga

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142

positiva em S e S´: ρ´+ =

2

2

1c

v

= γ ρ+; onde a densidade ρ+ é uma densidade de repouso,

pois as cargas positivas estão estacionárias em S, e ρ´+ é uma densidade de carga relativa –

pois estas mesmas cargas se movem junto ao fio em S´. Sendo γ =

2

2

1

1

c

v

maior do que um,

em nosso caso (v ≠ 0), ρ´+ fica maior que ρ+. O procedimento para cálculo do valor do campo

magnético B´, em S´, é igual ao utilizado no cálculo deste campo em S; isto indica que

podemos usar a mesma forma de equação de Maxwell (lei de Ampère da magnetostática),

usada no referencial do fio (S), para calcular o valor de B´ no referencial inercial da partícula

(S´). Pois as equações de Maxwell se preservam, mantendo sua forma, seu formato, em

qualquer referencial inercial; e devemos apenas analisar quantidades que variam (ou podem

variar) na passagem de um referencial para o outro. Assim, admitindo que o campo magnético

varia – de S para S´ –, pois o valor de corrente varia, podemos escrever a lei de Ampère da

magnetostática para S´, linha

B´ ∙ dl´ = μo i´, de tal modo a destacar o símbolo [´ ] nas

quantidades que sofrem variação. Como i´ é dada ρ´+ (–v)A (assim como i = ρ_vA), e

substituindo-se μo por 2

1

co

(que são todas quantidades constantes), obtemos que o valor de

B´ – após um rápido cálculo – é

B´ = 22

´

cr

vA

o

. Aqui, o infinitesimal dl´ = dl, pois estes são elementos matemáticos

transversais; portanto, invariantes ao MRU relativo no texto de Feynman (2008). Também a

circunferência na qual se faz a integral linha

dl´ possui comprimento invariante, 2πr, pois é

uma circunferência transversa ao movimento (assim como r), que não se altera; e a simetria

para o cálculo é igual à da obtenção do valor de B, com B´ e dl´ paralelos. Optamos por

usar2

1

co

ao invés de μo, a fim de que nossos resultados fiquem semelhantes aos de Feynman.

Podemos comparar o resultado de B´ com o do valor de B, obtido para S; para isto, basta

utilizar a relação entre as densidades de carga positiva (indicada acima e no texto) e a

igualdade ρ+ = – ρ_. Fica, então, como sugestão ao leitor obter B´ = γ B, que é a relação entre

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os valores dos campos magnéticos, para determinada distância radial r ao eixo (longitudinal)

do fio, nos dois referenciais do texto.

Todos os campos de Feynman (2008), B, E´ e B´, são estáticos; e somente o campo

magnético B´ não atua na partícula de prova, pois a velocidade desta – em seu referencial

próprio – é nula. Não há força magnética em S´. Recorde-se que B (magnético) existe apenas

na perspectiva de um observador em S, enquanto E´ (elétrico) e B´ apenas na perspectiva de

um observador em S´; ou seja, estes campos são totalmente relativos. Embora observemos a

mesma espécie de acontecimento físico nos dois referenciais de Feynman, a atração da

partícula pelo fio, as grandezas de campo usadas na descrição da interação (de natureza

eletromagnética) são completamente dependentes do referencial inercial escolhido. “Forças

elétricas e magnéticas são parte de um mesmo fenômeno físico – a interação eletromagnética

das partículas. A separação desta interação em parte elétrica e magnética depende muito do

sistema de referência [...]”, destaca Feynman (2008, p. 13–11). Isto equivale a dizer que, em

qualquer referencial inercial, observaríamos uma atração entre a carga de prova e cargas no

fio, mas o(s) tipo(s) de campo(s) e força(s) engendrada(s) na partícula elétrica por este

dependem completamente do referencial usado no estudo da experiência de Feynman (2008).

Como ressalta o cientista, em outro referencial que não S ou S´, encontrar-se-ia uma mistura

diferente dos campos elétrico e magnético. Lembre-se que os resultados encontrados para

campos e forças (neste material e no texto) valem para o caso especial em que vo (da partícula

em S) é igual à velocidade de arraste dos elétrons de condução, em S. Também, ao dizermos

que os campos de Feynman são estáticos, eles o são em relação ao tempo de seu respectivo

referencial inercial; cada campo, B, E´, B´, existe apenas em um referencial.

Em relação ao fato de que as equações de Maxwell se preservam em todos os

referenciais inerciais, alguns comentários adicionais são pertinentes. Por exemplo, se em S´

(um sistema com velocidade uniforme vo relativamente à S) tivéssemos um campo magnético

variável em função do tempo t´ – distante do fio de Feynman (2008) –, produzido por corrente

variável em outro fio, a lei de Gauss da magnetostática possuiria a mesma forma neste

referencial S´ ? Sim, esta lei continuaria correta e com igual formalismo matemático; só não

seria mais aplicável nesta situação. Para o cálculo do campo magnético em certo ponto do

espaço e instante, em S´, precisaríamos da lei de Ampère generalizada. Mas o formalismo

matemático associado a estas leis se mantém em qualquer referencial, pois são equações de

Maxwell. Do mesmo modo, a lei de Gauss da eletricidade também é correta e se conserva no

referencial S do fio de Feynman. Esta só não precisa ser aplicada neste referencial inercial,

pois a carga e densidade líquidas são nulas em S. Enfim, todas as equações de Maxwell se

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preservam em qualquer referencial inercial, sem a necessidade de nenhuma correção

relativística; é necessária, sim, a análise de características do(s) campo(s) em determinado

referencial, isto é, de grandezas e quantidades físicas que lhes originam e de suas possíveis

alterações – que podem se modificar na mudança de referencial inercial ou no próprio

referencial em questão. Assim, podemos estudar quais equações de Maxwell são mais

apropriadas em cada caso.

Para finalizar o item (a) desta questão, vamos obter o vetor força elétrica que age na

partícula de prova – em seu próprio referencial S´; é fácil perceber que este vetor é radial ao

eixo longitudinal do fio, pois o campo elétrico estático (em S´) também é radial a este eixo. As

linhas de campo são retas perpendiculares à superfície do condutor, afastando-se deste,

porque o fio está carregado positivamente no referencial da partícula. Logo, basta inserir um

unitário radial r positivo – na expressão do campo E´ – para obtermos o vetor E´; e como o

campo elétrico, em S´, pode ser dado por E´ = F´/q , temos que

F´ = q E´ = q

2

2

2

2

12c

vr

c

vA

o

(r) (21)

Onde a carga q, no texto de Feynman (2008), é um invariante escalar negativo. Assim,

percebemos que a força elétrica F´ tem sentido contrário ao de E´, mas está na mesma reta de

ação (radial). O resultado 21 é coerente, pois as forças magnética F e elétrica F´ têm

orientações iguais, cada qual em seu respectivo referencial inercial; o que não poderia ser

diferente, pois a experiência de Feynman envolve uma interação de natureza eletromagnética

atrativa. A atração eletromagnética deve se observar não apenas nos dois referenciais do

texto, mas em qualquer outro; seria um absurdo lógico a partícula elétrica aproximar-se do fio

no referencial de repouso deste (S), mas permanecer estacionária – ou ser repelida, afastando-

se do fio – em seu referencial próprio e/ou em outro qualquer. Em suma, segundo o Princípio

da Relatividade einsteiniano, não somente as equações fundamentais do Eletromagnetismo

(de Maxwell) são idênticas – preservando os seus formatos matemáticos em quaisquer

referenciais inerciais –, mas todas as leis fundamentais da Física. Estas leis descrevem

acontecimentos físicos (em nosso caso, a interação eletromagnética em S e S´) logicamente

coerentes com as observações experimentais em distintos referenciais inerciais. Enfim, apesar

de que temos conceitos de força diferentes nos referenciais de Feynman (2008), a força

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magnética (em S) e a elétrica (em S´) nos dão resultados físicos compatíveis – como mostrado

por Feynman e em considerações posteriores deste material. A relatividade das forças

elétricas e magnéticas provém da relatividade dos campos a elas associados; também, na

abordagem de Feynman (2008), vimos que foi possível concluir pela relatividade destas

forças partindo de leis e previsões como a invariância da carga elementar, a contração do

espaço, a variação relativística de densidades de carga etc. E mesmo na existência de tantas

grandezas, quantidades e conceitos relativos, certos resultados físicos devem mostrar-se

iguais, como p. ex., o valor da carga na partícula de prova. As forças F e F´ de Feynman

apenas podem ser relacionadas em sua equação 13.30 porque o valor q é o mesmo

(invariante). Caso a carga contida na partícula dependesse de sua velocidade (e, por

conseguinte, dependesse do referencial inercial), não se poderia equacionar F´ e F como faz

Feynman (2008); assim, os resultados físicos não seriam coerentes em S e S´, estando em

contradição com o Princípio da Relatividade. A medição de carga deve resultar em valores

idênticos, para quaisquer referenciais; esta é uma boa maneira de se enfatizar a lei de

invariância (e conservação) da carga elétrica. Observando o leitor as expressões 13.21 e 13.29

de Feynman – do valor de força magnética e elétrica, respectivamente –, facilmente notará

que estas apenas se relacionam matematicamente se a carga elétrica líquida q da partícula for

um invariante escalar. Isto é verdade para qualquer sistema na natureza, que esteja

eletricamente isolado. Assim, mesmo que haja recebimento/perda de energia pelo sistema

e/ou ocorrência de reações químicas em seu interior, a carga líquida sempre é invariante (se

conserva). A lei de invariância/conservação da carga elétrica é muito importante na ciência;

afinal, como afirma Feynman (2012), a carga é a propriedade fonte do campo

eletromagnético.

Item (b):

A outra quantidade física à qual o enunciado deste item se refere – explícita na maior

parte das equações de Feynman (2008) – é o valor absoluto da velocidade da luz no espaço

livre (vácuo), geralmente designado por c; uma constante para qualquer frequência de onda

eletromagnética – visível e invisível ao olho humano. Podemos dizer que c é mais um

invariante que aparece no sistema teórico interligado ao Eletromagnetismo e à Teoria da

Relatividade Especial, além da propriedade de carga elétrica, das equações de Maxwell,

dentre outros; seu valor mais preciso, atualmente aceito, é 299.792.458 m.s –1

, em unidades do

Sistema Internacional (EINSTEIN, 1999; TAYLOR; WHEELER, 1992). Podemos perceber a

invariância (ou constância) de c, no texto de Feynman, pelas seguintes considerações. A

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velocidade da luz, no referencial S do fio em repouso, aparece já na equação 13.21 para o

valor de força magnética F. Mas, o valor da velocidade luminosa, no espaço livre, que surge

elevado ao quadrado (c2) nesta equação de Feynman (2008), vem diretamente da lei de

Ampère da magnetostática. O leitor pode comprovar isto ao substituir μo por 2

1

co

na eq. 1

deste material e fazer o cálculo de campo e força magnética que atua na partícula de prova –

em S. Recorde-se que o valor de c é dado por

oo

1. Mas c também surge nas equações

13.28 e 13.29 de Feynman, sempre ao quadrado; desta vez, a quantidade c2 nestas equações

provém da expressão para a densidade líquida (positiva) de carga ρ´, evidenciada na equação

13.27 do texto. Em última instância, c2

aparece nas equações para o valor de campo e força

elétrica, em S´, pois vem da adoção de Feynman (2008) do efeito relativístico da contração do

espaço – expresso em sua equação 13.22. Assim, para que os valores de força elétrica F´ e

magnética F possam ser relacionados em 13.30 – e também para que possamos provar (mais

adiante) que o momento transverso da partícula é invariante em ambos os referenciais

inerciais de Feynman (2008) –, devemos assumir que c tem igual valor absoluto em equações

para grandezas dos dois referenciais do texto. Noutras palavras, c deve possuir o mesmo valor

absoluto na equação 13.29 (para F´ no referencial S´) e na equação 13.21 (para F no

referencial S), para que se possa relacionar estas forças e concluir pela coerência dos

resultados físicos em ambos os referenciais inerciais. Caso c fosse uma quantidade relativa, o

adequado seria usar símbolos e/ou subscritos distintos para esta velocidade nas equações de S

e S´ – assim como faz Feynman para diversas grandezas relativas e variáveis. Porém, c surge

como constante nas equações para grandezas de qualquer referencial inercial, sendo, por

conseguinte, independente do movimento relativo entre estes. E isto é confirmado pela

experiência. Deve ser de conhecimento do leitor, por exemplo, a famosa experiência óptica de

Michelson-Morley (ou outros avanços empíricos que também comprovam a constância de c).

Afinal, se a invariância no valor de velocidade luminosa (no espaço livre) não tivesse provas

da observação, Feynman (2008) não poderia concluir pela compatibilidade entre o

Eletromagnetismo e a Teoria da Relatividade Especial. E, se c não fosse constante, a

permissividade elétrica εo e a permeabilidade magnética μo, para o espaço livre, também não o

seriam; pois εo = 2

1

co

e μo=

2

1

co

. Dessa forma, poderíamos esperar que o formalismo

matemático das equações de Maxwell não se preservasse, sendo dependente de um referencial

absoluto, privilegiado; neste caso, o Princípio e a Teoria da Relatividade Especial de Einstein

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não seriam válidos – juntamente às previsões de dilatação temporal e contração espacial.

Entretanto, c, μo e εo são quantidades físicas invariantes, intrincadamente relacionadas entre si

e às equações de Maxwell.

Pode parecer aparentemente absurdo que a velocidade de propagação da radiação

eletromagnética tem sempre o mesmo módulo no espaço livre, independente do movimento

relativo entre a fonte de luz e o observador. A constante c traz à tona, de certa forma, a

intrincada relação entre as grandezas de espaço e tempo; segundo Taylor e Wheeler (1992), c

pode ser interpretada – ao utilizarmos unidades iguais para as medidas de tempo e espaço –

como um fator de conversão entre estas grandezas. Esta constante também evidencia de certo

modo a conexão íntima entre os formalismos teóricos do Eletromagnetismo e da Teoria da

Relatividade Especial, como se percebe no texto de Feynman (2008), p. ex., ao observarmos

suas equações para densidades de carga – válidas mesmo quando a velocidade relativa entre

dois referenciais inerciais é muito pequena.

6ª QUESTÃO:

Esta, talvez, é a questão mais difícil deste material, no que se refere ao procedimento

de cálculo; entretanto, ela envolve noções interessantes. Em primeiro lugar, deve-se deixar

claro ao leitor que a abordagem em Feynman (2008) insere-se somente no contexto da teoria

clássica do Eletromagnetismo e da Teoria da Relatividade Especial. Podemos desconsiderar

qualquer interação gravitacional; também, desconsideram-se quaisquer efeitos ou previsões

relacionados às teorias quânticas, assim como quaisquer forças de resistência/atrito mecânico.

Enfim, só nos interessam referenciais inerciais, ou melhor, referenciais inerciais bem

aproximados; assim, as variações de velocidade da partícula elétrica de prova q – devido às

forças que nela atuam, cada qual em um referencial – devem ser tomadas como bastante

pequenas, de tal maneira que o referencial S´ de repouso desta partícula (a própria partícula!)

mantenha-se quase que somente em movimento reto e uniforme em relação ao referencial S

(de repouso do fio). Noutras palavras, o movimento entre a partícula e o fio seria, na prática,

muito próximo de um movimento relativo uniforme; e as variações de velocidade da partícula

seriam muitíssimo sutis. Com este propósito, vamos tomar intervalos de tempo – nos

referenciais S e S´ – bem pequenos; ao invés da notação de Feynman (Δt e Δt´ ), utilizemos

elementos infinitesimais de tempo dt e dt´ para os referenciais inerciais S e S´.

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A partir da equação do enunciado da 6ª questão, p =

2

2

1c

v

um

, vamos escrever a

expressão para o valor do momento relativístico transverso da partícula em S. A partícula

possui velocidade longitudinal vo neste referencial (que, de fato, é sua velocidade inicial no

referencial S). Devido à força magnética radial – que atua apenas em S (apontando para o fio)

–, temos uma sutil variação na velocidade, de acordo com as considerações acima. Assim, a

partícula tem, após um intervalo de tempo muito curto dt decorrido em S, um pequenino vetor

velocidade uy radial e para baixo. A velocidade resultante da partícula (em S) é a soma

vetorial de vo com uy; mas somente nos interessa v2 (sempre positivo), que é o quadrado do

valor de velocidade v no referencial em questão – primeiramente em S –, dado pela soma dos

quadrados dos valores de vo e uy: vo2

+ uy2 = v

2. Logo, segundo a equação anterior, o valor de

momento transverso (ou transversal) da partícula, em S, é escrito como

py =

2

2

1c

v

muy

=

2

22

1c

uv

mu

yo

y (22)

Onde m é a massa de repouso da partícula negativamente carregada.

Através de considerações semelhantes, escrevemos a expressão para o valor de py´.

Repare que agora, no referencial inercial S´ (da partícula), esta possui apenas uma bem

pequena velocidade radial uy´ – após decorrido um tempo infinitesimal dt´ no referencial S´.

Esta velocidade lhe é conferida, agora, pela força elétrica, que age apenas em S´. Enfim, a

expressão do momento transversal, em S´, fica:

py´ =

2

2

1

´

c

v

muy

=

2

2´1

´

c

u

mu

y

y

(23)

Onde v2

foi simplesmente substituído por uy´ 2, pois o valor de velocidade da partícula, em S´,

é apenas uy´.

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Escrevendo os valores de uy e uy´ como derivadas temporais, obtemos uy = dt

dy e uy´=

´

´

dt

dy; também, sabemos que na existência de movimento relativo entre dois ou mais

referenciais inerciais manifesta-se o efeito da dilatação do tempo. Esta previsão relativística

nos aponta que relógios em repouso (estacionários) em diferentes referenciais inerciais não

terão o mesmo ritmo (pressupõe-se que todos estes relógios são igualmente construídos).

Noutras palavras, na Teoria da Relatividade Especial – quando os efeitos gravitacionais

podem ser desprezados –, o ritmo do tempo em dois referenciais em movimento retilíneo

uniforme (MRU) entre eles se mostrará diferente.

Aqui, entra um aspecto importante que devemos enfatizar. Assim como Feynman

(2008) toma emprestado o efeito da contração de Lorentz – que pôde ser usado na

contabilidade das densidades de carga elétrica –, ele também se vale do efeito de dilatação

temporal a fim de conciliar a igualdade dos momentos transversos. Vemos aqui que duas

noções relativísticas são explicitamente utilizadas, propiciando descrições eletromagnéticas

clássicas que estão em concordância com as equações de Maxwell e com a Teoria da

Relatividade Especial. A partir da invariância/conservação da carga, da contração de Lorentz

(ou contração do espaço) etc., o texto de Feynman nos permite concluir pela relatividade dos

conceitos de campo elétrico e magnético, pois o fio está carregado em S´ (mas não em S) – e,

como já vimos, as intensidades do campo magnético devem diferir de um referencial inercial

de Feynman (2008) para o outro. De modo análogo, concluímos também pela relatividade das

forças elétrica e magnética, pois em S a força é de natureza magnética e em S´ de natureza

elétrica. E, com a previsão da dilatação temporal, veremos que os resultados físicos previstos,

em concordância com a Relatividade Especial, são compatíveis com nossas descrições

eletromagnéticas. Com efeito, intervalos de tempo Δt e Δt´ correspondentes (entre os mesmos

dois eventos) – medidos em seus respectivos referenciais S e S´ – são relacionados, por

Feynman, pela equação Δt =

2

2

1

´

c

v

t

em 13.33. Como o leitor deve saber,

2

2

1

1

c

v

é

geralmente denominado fator de Lorentz, representado pela letra grega γ (gama). Como

optamos por escrever os bem curtos intervalos de tempo como incrementos infinitesimais (dt

e dt´ ), esta equação resulta em dt = γ dt´. Devemos destacar que o que chamamos de

‘eventos’ não são exclusivos de determinado referencial inercial; ou seja, eventos possuem

existência independente no espaço-tempo (TAYLOR; WHEELER, 1992). Na Teoria da

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Relatividade Especial, geralmente se trabalha com o conceito de evento, acontecimentos aos

quais são definidos (pelo menos teoricamente), em certo referencial inercial, um instante de

tempo e uma posição espacial (EINSTEIN, 1999). Na experiência de pensamento de

Feynman (2008) não são especificados eventos quaisquer; o que não é necessário. Não

precisamos nos preocupar com a introdução de sistemas de coordenadas para definir posições;

porém, sabemos que as coordenadas transversas y e y´ são invariantes (y = y´), não sofrendo

alteração relativística. Assim, também dy = dy´, de tal forma que se pode representar o valor

de velocidade uy´ – como uma derivada – por ´

´

dt

dy=

´dt

dy; e, de dt = γ dt´, ainda obtemos

dtdt ´ . Então:

uy´ = dt

dy=

dt

dy = γ u y (24)

Em 24, temos o resultado uy´ = γ uy ; substituindo este no termo mais à direita da eq.

23 do momento transverso py´, em S´, temos:

py´ =

2

22

1c

u

mu

y

y

(25)

Onde o termo 1 – 2

22

c

uy

, no interior da raiz quadrada, é manipulado de tal modo que

1 – 2

22

c

uy

=

2

22

2

2

c

uy

=

2

2

2

21

c

uy

. Assim, retornando o último resultado para

dentro da raiz quadrada em 25, obtém-se:

py´ =

2

2

2

1

c

u

mu

y

y

=

2

2

2

2

1c

u

c

v

mu

yo

y

. Neste resultado, o termo mais à direita é

equivalente à expressão do momento transverso py, escrita em 22. Portanto:

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py = py´ (26)

Chegamos à igualdade almejada. Se o valor da componente transversa (ou transversal)

do momento da partícula de prova é invariante, também os valores de variações deste

momento – entre iguais coordenadas y final = y´ final e y inicial = y´ inicial – serão igualmente

invariantes em ambos os referenciais inerciais de Feynman (2008), isto é, Δpy = Δpy´. Neste

contexto, é de grande validade a citação de Feynman, que conclui que:

[...] temos o mesmo resultado físico quando analisamos o movimento de uma

partícula movendo-se ao longo de um fio num sistema de coordenadas em repouso

com respeito ao fio, ou num referencial em repouso com respeito à partícula. No

primeiro caso, a força era puramente “magnética”, já no segundo, puramente

“elétrica”. (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13-11, destaques do autor).

Ou seja, a abordagem de Feynman demonstra que, sob a ótica da Teoria da

Relatividade Especial, podemos mostrar que a teoria clássica do Eletromagnetismo é

compatível com o arcabouço formal e conceitual da Teoria da Relatividade Especial; isto

implica que não existem contradições lógicas internas entre estas teorias, ao menos no nível

em que se está a considerar.

Na passagem do referencial S (em repouso com respeito ao fio) para o referencial

inercial S´ (em repouso com respeito à partícula), ocorre a mudança na descrição do conceito

de força atuante na partícula – primeiramente magnética e depois elétrica. Todavia, as duas

descrições nos dão resultados físicos totalmente coerentes e compatíveis com as teorias

citadas, isto é, com as leis de Ampère da magnetostática e de Gauss da eletricidade, com a lei

da invariância no valor c, com a invariância/conservação da carga, com o Princípio da

Relatividade etc. Apesar de que foram utilizadas duas equações de Maxwell distintas – para

campos estáticos do texto e deste material –, uma para magnetostática e outra para a

eletricidade, sem conexão aparente entre o campo magnético de S e o campo elétrico de S´, na

própria natureza há um íntimo relacionamento entre estes campos, interligado ao Princípio da

Relatividade. Este aspecto é ressaltado por Feynman (2008, p. 13–7), e pode-se percebê-lo no

fato de que as descrições dadas pelos conceitos de força (magnética em S e elétrica em S´ )

fornecem iguais resultados físicos.

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7ª QUESTÃO:

A relação entre intervalos de tempo Δt medidos no referencial S (do fio em repouso) e

intervalos de tempo Δt´ medidos no referencial inercial S´ (da partícula em repouso) é dada

pela equação 13.33 de Feynman (2008, p. 13–11), Δt =

2

2

1

´

c

v

t

= γ Δt´. É preciso que o leitor

compreenda que estes intervalos temporais – Δt em S e Δt´ em S´ – devem ser

correspondentes, como afirma Feynman: “Precisamos, obviamente, comparar Δpy com Δp´y

para intervalos de tempo correspondentes Δt e Δt´.” (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS,

2008, p. 13–11). Esta correspondência refere-se ao fato de que os intervalos de tempo, em

cada referencial, devem ser mensurados entre os mesmos eventos; como destacado na 6ª

questão, eventos têm existência independente. O leitor pode imaginar, por exemplo, o evento

inicial da experiência de Feynman como a formação (e/ou emissão) da partícula negativa –

um elétron, p. ex. – em um processo nuclear ou atômico capaz de fazê-lo, ou que a partícula

provém de uma fonte qualquer. Obviamente, pressupõe-se que, no evento inicial, a partícula é

emitida com velocidade inicial vo (paralela ao fio) igual à velocidade média de arraste dos

elétrons de condução no referencial S. Os instantes para este evento poderiam ser

especificados por t inicial = t´inicial = 0. Como optamos por escrever a equação 13.33 na forma

diferencial (dt = γ dt´ ), pois estamos a tomar intervalos de tempo como elementos

infinitesimais, o evento final poderia ser a observação/detecção da partícula, em coordenada

transversal final y = y´, quando seu momento transverso variou dpy = dpy´. Lembre-se que

esta variação de momentum ocorre após atuação das forças magnética e elétrica, nos

respectivos tempos infinitesimais dt e dt´ – em seus respectivos referenciais inerciais.

Feynman (2008, p. 13–11) destaca que “intervalos de tempo que se referem a

partículas que se movem parecem ser maiores que aqueles no referencial de repouso da

partícula.”. Mas há aí uma incorreção, ou mais provavelmente um descuido do físico nesta

citação, pois os intervalos temporais aos quais se refere não parecem ser maiores, mas

realmente o são. Podemos descrever melhor este fenômeno mencionando a Física de

Partículas; por exemplo, observa-se que a vida média de uma partícula instável qualquer (que

sofre algum tipo de decaimento/desintegração) é maior quando esta se encontra em MRU

relativo ao referencial inercial de um laboratório. Expressando isto melhor: o intervalo de

tempo Δt, medido para a vida média da partícula – por relógios estacionários no referencial

inercial de um “laboratório” –, é maior quando a partícula está em MRU relativamente a este

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laboratório do que quando ela está em repouso no referencial do laboratório. O que se chama

de laboratório pode ser um moderno acelerador de partículas ou até a própria Terra, pois,

partículas instáveis que são formadas/emitidas na porção superior da atmosfera (com valores

de velocidade próximos de c) são detectadas na superfície terrestre; múons, como exemplo,

vêm da parte atmosférica mais alta, como radiação secundária de raios cósmicos (TAYLOR;

WHEELER, 1992; GAZZINELLI, 2009).

Esta questão é útil para auxiliar o leitor a compreender melhor a citação do texto, pois

intervalos temporais mensurados para a vida média de partículas instáveis – em velocidades

significativas em relação à luminosa – são realmente maiores quando tomados por relógios

estacionários no referencial do laboratório do que quando tomados/calculados para o

referencial da partícula. Outra finalidade desta questão foi descrever a dilatação temporal,

dando alguma interpretação para os distintos intervalos correspondentes Δt e Δt´, e também

citar poucos exemplos de confirmações experimentais. Em suma, podemos afirmar que há um

intervalo de tempo próprio, medido no próprio referencial inercial de repouso da partícula;

este intervalo é sempre menor que o intervalo temporal correspondente medido em qualquer

outro referencial inercial. Para a vida média de uma partícula instável, concluímos, então, que

há uma vida média de repouso, medida no referencial inercial da própria partícula; assim, esta

vida média de repouso, que é um intervalo de tempo próprio, sempre se mostra menor que a

vida média da partícula instável em qualquer outro referencial inercial. Em termos de eventos,

podemos ressaltar: o intervalo de tempo próprio – entre dois eventos – é o intervalo Δt´

medido num referencial inercial (por relógios fixos neste) no qual estes eventos ocorrem na

mesma posição; em qualquer outro referencial inercial o intervalo de tempo Δt, entre os

mesmos eventos, é maior que o intervalo próprio por um fator γ =

2

2

1

1

c

v

(GAZZINELLI,

2009; TAYLOR; WHEELER, 1992). Este é o significado da equação Δt = γ Δt´ contida em

Feynman (2008). Logo, no texto do físico, Δt´ pode ser considerado um intervalo de tempo

próprio, pois refere-se ao referencial de repouso da partícula negativa. E embora Feynman

(2008, p. 13–11, destaque nosso) reconheça que “[...] nossa partícula está inicialmente em

repouso em S´ [...]”, ele assume que, para pequenos tempos, podemos esperar Δt = γ Δt´; e

tudo mostrar-se-á correto (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008). Por isto utilizamos

infinitesimais de tempo, para dar uma boa ênfase ao fato de que os tempos tomados – em cada

referencial – devem ser bastante curtos, a fim de que as acelerações produzidas na partícula

de prova (pelas forças, em seus respectivos referenciais) sejam também bem pequenas, sutis.

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Assim, a variação no valor de momento transversal pode também ser abordada, em nossos

cálculos, como elementos dpy = dpy´. Desse modo, tomamos os referenciais em movimento

relativo como inerciais, com boa aproximação.

8ª QUESTÃO:

Item (a):

A relação matemática entre os valores de força magnética F e elétrica F´ – em seus

respectivos referenciais inerciais S e S´ – pode ser obtida de modo simples. Não nos

preocuparemos com a questão de que alguma ou outra equação de Feynman (2008) possa

resultar em valores negativos, na substituição dos termos nas expressões. Feynman deixa

claro que se está a considerar o módulo destas forças. Também, aplicando uma regra de mão

direita em S, e sabendo que o fio está positivamente carregado em S´, concluímos facilmente

que F e F´ têm igual direção e sentido (radial e “para baixo”, apontando para o fio). Assim,

nos dois referenciais a partícula elétrica é atraída pelo fio, o que não poderia ser diferente,

pois violaria o Princípio da Relatividade. Na 5ª questão, a equação 21 (eq. 13.29 de Feynman

(2008)) contém o valor de força elétrica: F´ = q E´ = q

2

2

2

2

12c

vr

c

vA

o

. Temos, portanto, uma

força puramente elétrica que atua na partícula de carga q, no referencial de repouso desta

(S´ ); sendo ρ+ uniforme e A e v = v_ constantes, o valor de força elétrica que atua em um

elétron de prova, por exemplo, dependerá apenas da distância r ao eixo longitudinal do fio.

Isto pode ser vislumbrado na equação escrita acima. Dada a expressão para F (magnética) –

presente no termo mais à direita da equação 6 deste material, e na equação 13.21 de Feynman

–, e substituindo-se ρ_ por – ρ+ na expressão para F = 2

2

2 cr

Avq

o

= 2

2

2 cr

Avq

o

, vamos obter:

F´ = q2

2

2

2

12c

v

c

vr

A

o

= 2

2

2 cr

Avq

o

2

2

1

1

c

v

= F

2

2

1

1

c

v

(27)

Onde, segundo o considerado acima, desprezamos o sinal negativo vindo de – ρ+, pois nos

interessam apenas os valores absolutos (módulos) das forças.

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Repare que, assim como F´, o valor de força magnética (no referencial S) também

depende apenas da distância radial r ao eixo do fio; e, de acordo com o resultado 27, podemos

escrever a relação entre estas forças como F´ = γ F, em concordância com a expressão obtida

por Feynman (2008), na equação 13.30.

A relação F´ = γ F ressalta a relatividade dos conceitos de força elétrica e de força

magnética; no exemplo pensado por Feynman (2008) – um caso especial em que a velocidade

de um portador de carga é igual à velocidade de arraste de elétrons condutores da corrente (no

referencial de repouso do fio condutor) –, vemos que os conceitos de força mudam não apenas

de espécie, mas também em seus valores previstos para uma mesma coordenada transversa y

= y´, na qual temos um mesmo resultado físico. Em outras palavras, as forças elétrica e

magnética (no contexto da teoria eletromagnética clássica) são, de fato, conceitos relativos,

dependentes do referencial inercial utilizado para descrever uma interação eletromagnética; e

a experiência do texto mostra bem este aspecto, pois, como enfatiza Feynman (2008), no

referencial S de repouso do fio a força é puramente “magnética”, ao passo que no referencial

S´ de repouso da partícula a força é puramente “elétrica”. E as forças de Feynman devem

diferir em valor de acordo com a relação acima, mesmo em velocidades medíocres entre os

referenciais inerciais – como a obtida na 3ª questão. Analogamente, vemos que a questão da

relatividade destas forças se relaciona intrincadamente à relatividade dos campos da

experiência de Feynman (2008), pois um campo magnético e um campo elétrico estáticos (em

S e S´, respectivamente) são “os responsáveis” por engendrar as forças na partícula de prova.

Então, podemos enfatizar que, em S, há um campo totalmente magnético, enquanto que, em

S´, temos os dois tipos de campo – muito embora somente o campo elétrico interaja com a

partícula carregada. Estas considerações são suficientes para nos convencermos que os

conceitos de força e as grandezas de campo (do Eletromagnetismo clássico) são, com efeito,

relativos, dependentes do movimento uniforme reto entre sistemas de referência. Recorde-se o

leitor que aqui estamos a tratar uma experiência idealizada de Feynman (2008), na qual os

intervalos de tempo e os valores das variações de momentos transversos da partícula foram

tomados como infinitesimais, em seus respectivos referenciais. Apesar de que os valores de

força são diferentes, de acordo com F´ = γ F, podemos dizer que, no caso de velocidades

relativas tão baixas como a da 3ª questão (da ordem de 10– 4

m.s –1

), as forças elétrica e

magnética são praticamente iguais. Pois v2/c

2, na prática, é uma razão que pode se considerar

nula, dada por21

214

).458.792.299(

).10(

sm

sm=

16

8

1098755179,8

10

x

; e que resulta na ordem de grandeza

de 10– 25

. Desse modo, o fator γ é praticamente igual a um, e as forças se igualam. Daí

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também a citação de Feynman: “[...] para as pequenas velocidades que estamos considerando,

as duas forças são iguais. Podemos dizer que, para pequenas velocidades, entendemos o

magnetismo e a eletricidade apenas como “duas maneiras de olhar para a mesma coisa”.”

(FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–10).

Isto nos aponta a profunda conexão entre o magnetismo e a eletricidade, ou seja, o fato

de que um campo magnético estático não é absoluto, independente do referencial, assim como

um campo elétrico estático; como aponta Feynman (2008), na própria natureza existe uma

relação íntima entre estes campos. Com efeito, os dois tipos de campo dependem do

referencial inercial, não sendo independentes, mas podendo ser tomados em conjunto,

segundo Feynman (2008), como um único campo eletromagnético.

Enfim, dizer que as forças F´ e F são iguais em ambos os referenciais de Feynman, é

dizer que, do ponto de vista prático, podemos desprezar os efeitos relativísticos em sua

experiência; assim, dois observadores inerciais distintos – um em S e outro em S´ – medirão

praticamente o mesmo valor de força. Entretanto, embora o observador em S´ saiba que, na

prática, sua minúscula velocidade (≈ 10– 4

m.s –1

) pode ser desprezada, e o valor de força (em

S´) pode ser calculado usando-se a expressão do valor de força magnética, ele também sabe

que, na verdade, a força em S´ é elétrica (que, no baixo valor de velocidade relativa, se iguala

à magnética de S). Isto equivale a dizer que estamos cientes do fato de que, do ponto de vista

experimental, as duas forças concordam nestas pequenas velocidades – portanto, estas forças

fornecem como que duas formas de perceber a mesma interação eletromagnética atrativa

partícula-fio.

Item (b):

A equação relativisticamente correta do movimento é escrita por Feynman (2008) (no

final da pág. 13–10), sendo dada por F = dp/dt; onde F não representa mais apenas a força

magnética atuante no portador de carga em S, mas a força resultante numa partícula qualquer

em determinado referencial inercial; e dp/dt é a derivada do vetor momentum relativístico da

partícula em relação ao tempo do referencial em questão. Este vetor momentum, em três

dimensões, pode ser definido por p =

2

2

1c

v

m

v = vm (GAZZINELLI, 2009). Não

precisamos desta equação nesta questão, mas é válido ressaltá-la para que o leitor perceba que

as equações da Mecânica newtoniana precisaram ser reformuladas/corrigidas

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relativisticamente, o que não foi necessário para o Eletromagnetismo clássico. Adiante,

argumentaremos um pouco mais sobre este importante aspecto.

Obtivemos a relação entre os valores das forças elétrica e magnética de Feynman

(2008), F´ = γ F, a partir de expressões obtidas para estas. Mas, pela equação dt = γ dt´, e

usando o momento relativístico da partícula de prova de Feynman, podemos obter a mesma

relação entre forças. Repare que, ao considerarmos intervalos de tempo e variações nos

valores de momento transversal da partícula (em S e S´) como infinitesimais, podemos

também tomar as forças F´ e F como tendo praticamente iguais orientações. É bom

destacarmos isto, pois a força magnética em certo ponto do espaço e instante de um

referencial inercial (que age numa partícula carregada de sinal conhecido) é dependente da

direção e sentido da velocidade da partícula em relação ao campo magnético naquele ponto e

naquele instante de tempo. Logo, é fácil visualizar que em intervalos temporais não curtos

(decorridos no referencial S) a direção (e também o valor) da força magnética F varia; porém,

para nossos curtos infinitesimais dt e dt´, consideremos F e F´ com a mesma orientação.

Assim, também desconsideramos o caráter vetorial da força e do momento, pois ambas as

forças atuam somente ao longo da direção transversal ao fio, variando o momentum da

partícula apenas desta componente. Já sabemos que os momentos transversos são iguais (py =

py´) para uma mesma coordenada y = y´; então dpy = dpy´, e aplicando a equação do

movimento relativisticamente correta no valor da força elétrica F´, temos que

F´ =

dt

dp

dt

dp

dt

dpyyy

´

´F (28)

Onde fizemos dt´ = dt /γ e encontramos o valor de força magnética, que pode se representar

por dt

dpy

= F.

Na verdade, Feynman (2008) usou a equação F = dp/dt a fim de obter a igualdade dos

momentos transversos (em S e S´) e concluir que os resultados físicos se compatibilizam.

Provamos a igualdade destes momentos através de um cálculo, talvez mais convincente,

utilizando uma expressão para o valor de uma componente de momento relativístico.

Esta questão mostra-se útil para explorarmos um pouco a noção de que o

Eletromagnetismo é compatível com a Teoria da Relatividade Especial, embora a Mecânica

newtoniana não o seja – e as forças de Feynman (2008) se transformem na passagem de um

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referencial para outro. Podemos vislumbrar isto constatando que as equações fundamentais da

teoria eletromagnética clássica – usadas por Feynman no cálculo das expressões para os

valores de campos e forças (B e F; E´ e F´), em seus respectivos referenciais – são a lei de

Ampère da magnetostática e de Gauss da eletricidade. Estas leis, assim como as outras

equações de Maxwell, não precisaram de reformulação/correção com o advento da Teoria da

Relatividade Especial, diferentemente das leis da Mecânica newtoniana. Perceba, no texto de

Feynman (2008), que as expressões obtidas para B e F, E´ e F´, provêm diretamente das leis

eletromagnéticas fundamentais citadas anteriormente. É verdade que nas equações para a

força e campo elétricos do texto, F´ e E´, aparece o fator de Lorentz γ

2

2

1

1

c

v

; mas este

não vem das equações do Eletromagnetismo mencionadas, mas sim da consideração do efeito

de contração de Lorentz do fio (no referencial S´), que é “tomado emprestado” da Teoria da

Relatividade Especial a fim de propiciar uma descrição eletromagnética (em S´) coerente com

o arcabouço teórico do Eletromagnetismo e com o Princípio da Relatividade. Assim, é obtida

uma expressão para a densidade de carga ρ´ – no referencial de repouso da partícula – que é

diferente de zero e que possui o fator γ. Este fator, por conseguinte, surge na expressão do

valor de força elétrica (repare a equação 13.29 de Feynman (2008)), e assim como foi feito no

item (a) desta questão, os valores das forças são relacionados por F´ = γ F. Isto implica dizer

que, em última instância, γ surge nesta relação porque vem da contração de Lorentz, e não

porque este fator (ou outro termo/fator matemático qualquer) deva ser incluído em equações

de Maxwell. Contudo, vimos que a mesma relação (entre forças) é obtida usando-se dp/dt (em

y = y´) e também a previsão de dilatação temporal (aqui expressa por dt = γ dt´ ), o que nos

leva ao último item desta questão. Em suma, o Eletromagnetismo se preserva, isto é, suas

equações fundamentais (de Maxwell) são válidas em qualquer referencial inercial, sem

necessidade de modificação quando há MRU relativo entre dois ou mais referenciais,

inclusive em velocidades significativas em relação à c. Apesar disso, fica aqui evidente que as

forças clássicas não são invariantes; no caso do Eletromagnetismo clássico, a força pode

variar também em seu tipo (elétrica e/ou magnética).

Item (c):

O efeito relativístico, que pode ser utilizado na descrição da diferença entre as forças

elétrica F´ e magnética F – que atuam na partícula elétrica nos referenciais inerciais S´ e S,

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respectivamente –, é a dilatação do tempo. Já se enfatizou que o intervalo de tempo próprio

(medido em um referencial inercial no qual dois eventos ocorrem na mesma posição) é o

menor intervalo temporal entre estes eventos – considerando-se somente intervalos

mensurados em referenciais inerciais. A relação entre intervalos de tempo foi escrita por nós

como dt = γ dt´; onde se constata que dt´ representa o tempo próprio mensurado no referencial

de repouso da partícula (S´). Portanto, dt representa o geralmente denominado intervalo de

tempo relativo, pois não é medido no referencial próprio (ou de repouso) da partícula ou dos

eventos – isto é, em referencial inercial no qual os eventos “estão em repouso” (ocorrem na

mesma posição). Como imaginado na 7ª questão, o evento inicial de Feynman (2008) poderia

ser a emissão de um elétron em processo nuclear ou atômico (ou por fonte qualquer) com

velocidade inicial vo (paralela ao fio), no referencial S, igual à velocidade de arraste dos

elétrons de corrente. Definiríamos os instantes deste evento, em S e S´, por t inicial = t´inicial = 0;

e o evento final seria a detecção do elétron (em iguais coordenadas transversas y = y´) em

ambos os referenciais, quando seu momento transversal variou dpy em S e dpy´ em S´. Como

já provamos aqui, “[...] o momento transverso da partícula deve ser o mesmo em ambos os

referenciais S e S´.” (FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 2008, p. 13–10). Assim, também as

variações deste momento são iguais (dpy = dpy´) após as forças F e F´ atuarem no elétron em

seus respectivos referenciais inerciais, durante distintos intervalos de tempo dt e dt´ – a partir

do evento inicial (instante zero). Ou seja:

F dt = dpy

F´ dt´ = dpy´ (29)

Onde se desconsiderou o caráter vetorial das forças, pois ambas agem apenas

transversalmente nos intervalos de tempo bem curtos. Repare que as equações 29 nada mais

são do que outra forma de se expressar a lei (relativística) de movimento do elétron, em S e

S´, assim como descrita em 28. Pela igualdade dos momentos transversais, vemos que F dt =

F´ dt´; o que é escrito por Feynman (2008) de forma um pouco diferente no último resultado

de seu texto. Podemos descrever a diferença entre F e F´ – através da dilatação temporal – ao

analisarmos bem a igualdade F dt = F´ dt´; ambos os valores de força, tanto magnética F

quanto elétrica F´, variam em função do tempo de seu respectivo referencial inercial. Isto se

dá pelo fato de que os campos estáticos de Feynman não são uniformes; dessa maneira, os

valores F e F´ também não o são, variando em função da distância r (que é a mesma para S e

S´, pois é transversal) ao centro do fio. Em outras palavras, os valores de força F e F´ são

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inversamente proporcionais à r, aumentando à medida em que o elétron se aproxima do fio;

de tal modo que F (magnética) varia no decorrer do tempo t de S, e F´ (elétrica) varia no

decorrer de t´ de S´. Recorde-se que, para que o intervalo temporal próprio dt´ (medido em S´)

seja menor que o intervalo relativo correspondente dt (medido em S) – de acordo com dt´ =

dt/ γ –, o ritmo do tempo t deve ser mais rápido do que o de t´. Isso implica que, a partir do

evento inicial (quando o elétron é emitido com velocidade vo no referencial S), o valor de

força magnética em S aumenta menos do que o valor de força elétrica em S´, para intervalos

temporais correspondentes. Porém, o menor aumento da força magnética em S é compensado

pelo maior tempo dt de atuação desta em S, ao passo que o maior aumento da força elétrica

em S´ se compensa pelo menor tempo dt´ de atuação desta neste referencial. E, segundo

Feynman (2008), isto acontece após curtos e correspondentes intervalos de tempo dt e dt´ (em

nossa notação), de tal forma que a partícula negativa tenha iguais momentos transversos nos

dois referenciais. Então, para o evento final (detecção do elétron) – que ocorre em igual

coordenada y = y´ –, o valor de F´ tem maior módulo que F, de acordo com F´ = γ F.

Entretanto, a força elétrica age durante o tempo próprio dt´, o menor tempo entre os eventos,

enquanto a força magnética age por um maior intervalo de tempo relativo dt.

Enfim, para v2/c

2 na ordem de 10

–25, a razão aproximada para a bem pequena

velocidade relativa entre os referenciais inerciais (v ≈ 10 –4

m.s – 1

), como calculada na 3ª

questão – valor típico de velocidade de arraste (ou de migração) para elétrons de condução –,

o fator γ é igual a um (ou melhor, tende a um). Isto dificulta o uso de um exemplo numérico

nesta ordem de grandeza (ou próxima). Mas reforça a afirmação de Feynman (2008) sobre o

fato de que, na prática, a força magnética (em S) e a força elétrica (em S´) – na experiência

por ele pensada – são iguais. Em suma, o texto de Feynman (2008) permite-nos vislumbrar a

íntima conexão entre a Teoria da Relatividade Especial, o magnetismo e a eletricidade, pois,

sob a ótica da Teoria da Relatividade Especial e suas previsões, o físico demonstra o vigoroso

vínculo entre as denominadas força elétrica e força magnética.

Os distintos intervalos de tempo, medidos cada qual em seu sistema inercial,

compensam a diferença entre as forças do experimento de Feynman, preservando resultados

físicos compatíveis com o Eletromagnetismo. Para alcançar estes resultados, Feynman utiliza

a Relatividade Especial, uma teoria coerente com o Eletromagnetismo clássico. Nas palavras

de Gazzinelli: “[...] a eletrodinâmica de Maxwell é uma teoria relativisticamente correta, [...].

Ela não exige modificações, [...] já tem, de fato, uma formulação relativística.”

(GAZZINELLI, 2009, p. 101).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DO MATERIAL E SUPLEMENTO

BORDENAVE, Juan D.; PEREIRA, Adair M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 33. ed.

Petrópolis: Vozes, 2015.

CALIFORNIA INSTITUTE OF TECHNOLOGY. The Feynman Lectures on Physics.

Disponível em: <http://www.feynmanlectures.caltech.edu/>. Acesso em: 17 jun. 2015.

EINSTEIN, Albert. A Teoria da Relatividade Especial e Geral. Rio de Janeiro:

Contraponto, 1999. 136 p.

EINSTEIN, Albert. O ano miraculoso de Einstein: cinco artigos que mudaram a face da

física. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2005. 224 p.

FEYNMAN, Richard P.; LEIGHTON, Robert B.; SANDS, Matthew. Lições de física de

Feynman. ed. definitiva. Porto Alegre: Bookman, 2008. v. 2. Reimpressão 2009.

FEYNMAN, Richard P.; LEIGHTON, Robert B.; SANDS, Matthew. The Feynman

Lectures on Physics. Reading, Massachusetts: Addison-Wesley, 1964. v. 2. Second printing.

__________, Richard P. Sobre as leis da física. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio,

2012. Título original: The Character of Physical Law.

GAZZINELLI, Ramayana. Teoria da relatividade especial. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2009.

RESNICK, Robert; HALLIDAY, David; KRANE, Kenneth S. Física. 5. ed. Rio de Janeiro:

LTC, 2007. v. 2.

SERWAY, Raymond A.; JEWETT, John W., Jr. Princípios de física: eletromagnetismo. São

Paulo: Cengage Learning, 2008. v. 3. 2. reimpr. da 1. ed. de 2004.

TAYLOR, Edwin F.; WHEELER, John Archibald. Spacetime physics introduction to

special relativity. 2nd ed. New York: W. H. Freeman and Company, 1992. Eleventh printing.

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APÊNDICE B – Conjunto de respostas recebidas para o questionário (formulário)

avaliativo elaborado

Imagem 1 – Frente do questionário de A

Fonte: Arquivo pessoal

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Imagem 2 – Verso do questionário de A

Fonte: Arquivo pessoal

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Imagem 3 – Frente do questionário de B

Fonte: Arquivo pessoal

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Imagem 4 – Verso do questionário de B

Fonte: Arquivo pessoal

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Imagem 5 – Frente do questionário de C

Fonte: Arquivo pessoal

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Imagem 6 – Verso do questionário de C

Fonte: Arquivo pessoal

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Imagem 7 – Frente do questionário de D

Fonte: Arquivo pessoal

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Imagem 8 – Verso do questionário de D

Fonte: Arquivo pessoal

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