Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377 Curso de Educação Física - N. 2013 PERFIL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS DE NATAÇÃO DE JUIZ DE FORA – MG. Dalila Pires Batista¹ Ana Carla Leite Gonçalves² Resumo A cada dia o ser humano deseja alcançar maiores e melhores resultados naquilo que se propõe a fazer; e na prática de atividade física isso não é diferente. Dessa forma, busca-se nessa pesquisa trazer esclarecimentos acerca dos profissionais que hoje atuam em escolas de natação e sobre o quanto os mesmos estão preparados/ capacitados para atender às necessidades de cada aluno. Deseja-se entender se seriam a graduação em Educação Física, os cursos extracurriculares e os estágios curriculares suficientes para formar um profissional capacitado a desenvolver com qualidade seu trabalho. Resolveu-se levantar tais questões a partir de uma experiência desagradável vivida no “Estágio Supervisionado”, quando se percebeu o despreparo de alguns profissionais atuando nessa área. O trabalho caracterizou os quatro períodos do desenvolvimento humano, baseando-se em Freire (2001), com o objetivo de esclarecer sobre a necessidade do conhecimento acerca do trabalho que será proposto a cada indivíduo. Partindo desses pontos, o referido trabalho também se baseou em autores que levantassem questões e esclarecimentos acerca do referido tema, natação. Como forma de enriquecimento e complemento ao presente estudo, realizou-se pesquisa de campo, que consistiu na aplicação de questionários a professores de escolas de natação em Juiz de Fora - MG. A partir dos resultados obtidos, fica certo descontentamento ao ver que
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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Educação Física - N. 2013
PERFIL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS
DE NATAÇÃO DE JUIZ DE FORA – MG.
Dalila Pires Batista¹
Ana Carla Leite Gonçalves²
Resumo
A cada dia o ser humano deseja alcançar maiores e melhores resultados
naquilo que se propõe a fazer; e na prática de atividade física isso não é diferente.
Dessa forma, busca-se nessa pesquisa trazer esclarecimentos acerca dos profissionais
que hoje atuam em escolas de natação e sobre o quanto os mesmos estão preparados/
capacitados para atender às necessidades de cada aluno. Deseja-se entender se seriam a
graduação em Educação Física, os cursos extracurriculares e os estágios curriculares
suficientes para formar um profissional capacitado a desenvolver com qualidade seu
trabalho. Resolveu-se levantar tais questões a partir de uma experiência desagradável
vivida no “Estágio Supervisionado”, quando se percebeu o despreparo de alguns
profissionais atuando nessa área. O trabalho caracterizou os quatro períodos do
desenvolvimento humano, baseando-se em Freire (2001), com o objetivo de esclarecer
sobre a necessidade do conhecimento acerca do trabalho que será proposto a cada
indivíduo. Partindo desses pontos, o referido trabalho também se baseou em autores que
levantassem questões e esclarecimentos acerca do referido tema, natação. Como forma
de enriquecimento e complemento ao presente estudo, realizou-se pesquisa de campo,
que consistiu na aplicação de questionários a professores de escolas de natação em Juiz
de Fora - MG. A partir dos resultados obtidos, fica certo descontentamento ao ver que
infelizmente o desenvolvimento de aspectos afetivos e sociais está ficando de lado.
Através do referido trabalho, pode-se considerar que um bom profissional é aquele que
conecta: teoria, prática e desejo interno de se dedicar com seriedade e comprometimento
àquilo que for desenvolver.
Palavras-chave: Profissional. Natação. Indivíduo.
Abstract
Every day humans want to achieve bigger and better results in what it claims to do, and
in physical activity is no different. So, this research seeks to shed light on the
professionals who work in swimming schools today and how much they are prepared /
able to meet the needs of each student. We want to understand if it would be a degree in
physical education, extracurricular courses and internships sufficient to form a skilled
professional to develop their work with quality. Resolved raising such issues from an
unpleasant experience living in "Supervised", where it was perceived unpreparedness of
some professionals working in this area. The study characterized the four periods of
human development, based on Freire (2001) in order to clarify the need for knowledge
about the work that will be offered to each individual. Based on these points, the work
also relied on authors who raise questions and clarifications about the said topic,
swimming. As a way to enrich and complement the present study, we carried out field
research that involved the use of questionnaires to teachers of swimming schools in Juiz
de Fora - MG. From the results, that was appeared some discontented to see that
unfortunately the development of social and emotional aspects are standing aside.
Through such work, we can consider that a good professional is the one who connects:
theory, practice and internal desire to engage with seriousness and commitment to what
is developing.
Keywords: Professional. Swimming. Individual.
Apresentação
Minhas primeiras observações feitas àquele menino me fizeram enxergar o
quanto ele era apavorado com o meio aquático; mal saía do lugar e, quando o fazia, já
estava em pânico em busca de um ponto de apoio.
Aquele fato me incomodou de tal maneira que resolvi pedir autorização ao
professor para que eu pudesse entrar na piscina, de forma a orientar aquele menino com
maior aproximação. Durante várias aulas interferi, apoiando-o para que se
desenvolvesse. Os dias foram passando e pude perceber que fiz alguma diferença na
vida daquela criança, sua evolução foi formidável.
Aproximadamente dois meses depois, durante uma aula, o professor estava
preparando as crianças para um festival de natação que iria ocorrer na escola. Todos os
alunos fizeram suas respectivas largadas do lado de fora da piscina, realizaram uma
volta completa – sem uso de material –, com exceção, é claro, daquele menino, que,
por determinação do professor, teria que fazer uso do material. Ele foi o último a largar,
fez apenas meio percurso com a prancha, protelou muito. Tentei intervir, disse que o
menino precisava tentar fazer como as outras crianças que estavam sem material, mas,
segundo o professor, o garoto não poderia, não conseguiria. O professor insistiu e, com
insatisfação, o menino acatou a ordem e seguiu.
Logo em seguida tive a oportunidade de realizar uma atividade recreativa
com os alunos: todos mergulharam em busca de um determinado objeto, inclusive o
menino. Ele mergulhou sozinho, sem auxílio de material. Curioso, não?
Palmer deixa claro: “[...] não seja nunca hesitante ao encorajar qualquer
indivíduo da classe [...] nunca negligencie aqueles que podem em favor daqueles que
não podem [...] encorajar a tentativa é tão importante quanto encorajar o que está
correto (1990, p. 19).”
Creio que o ser humano carrega dentro de si muitas limitações com as quais
precisa aprender a lidar. Mas, muitas vezes, o mesmo é posto em situações nas quais
precisa enfrentar seus medos, inseguranças e dúvidas a fim de se superar e, dessa forma,
amadurecer; e aquela criança, outrora desesperada, a cada dia tem vencido seus próprios
limites.
De todas as formas que o homem possui para se libertar e se movimentar,
resolveu-se apontar uma: vista como modalidade esportiva por alguns, terapia para
outros e uma “válvula de escape” para tantos outros sobreviventes desse corrido século
em que estamos, verificou-se a necessidade de se aprofundar o conhecimento acerca da
referida prática e do perfil do profissional que atua na disseminação desse conteúdo, a
natação.
Muito se ouve dizer sobre a natação. Mas quem são os profissionais que
estão ministrando essa modalidade e o quanto eles estão preparados/capacitados para
atender às necessidades de cada um que se lhe apresenta?
Enfim, a partir de uma experiência frustrante relacionada à disciplina
“estágio supervisionado”, percebi o despreparo de alguns profissionais atuando nessa
rica área, que é às vezes, pouco explorada pelos mesmos. Foi assim que surgiu a escolha
deste tema.
Busca-se através do presente estudo abordar questões relacionadas ao perfil
do profissional de Educação Física nas escolas de natação de Juiz de Fora, bem como
enfatizar a importância do profissional aprofundar seu conhecimento a cada dia.
Levanta-se então uma questão: seriam a graduação em Educação Física, os
cursos extracurriculares e os estágios suficientes para formar um profissional capacitado
a desenvolver com qualidade e segurança essa modalidade, otimizando cada conquista
do aluno?
O objetivo do presente trabalho não é desvalorizar a formação acadêmica,
mas sim buscar esclarecimentos acerca do perfil do profissional que atua em escolas de
natação de Juiz de Fora, levantando a questão sobre a possível importância de se
aprofundar o conhecimento (especialização) sobre aquilo que se transmite a outrem.
Deseja-se obter informações acerca deste tema através de revisão de
literatura, buscando em diversos autores, como Catteau & Garoff (1990), Machado
(1995; 1978), Palmer (1990) e Papalia (2001), base para a referida investigação; além
de realizar pesquisa de campo com os professores de escolas de natação em Juiz de Fora
- MG, com o intuito de coletar mais dados que contribuam para o enriquecimento dessa
pesquisa e trazer à tona a importância de um desenvolvimento de qualidade no campo
proposto.
Com isso, este estudo pretende reforçar a ideia de que natação faz muito bem,
desde que seja bem desenvolvida e acompanhada por competentes profissionais.
O DESENVOLVIMENTO HUMANO E O MEIO AQUÁTICO
Segundo Freire, existem quatro períodos do desenvolvimento humano. E o
primeiro período, que vai do “nascimento até o surgimento da linguagem, é chamado
por Piaget, do ponto de vista da inteligência, de sensório-motor”. Sendo que nesse
mesmo período existem “três estágios: „o dos reflexos, o da organização das percepções
e hábitos e o da inteligência propriamente dita‟” (2001, p. 33).
O segundo período, que se mantém até aproximadamente os seis ou sete
anos de idade, é marcado pelo
[...] surgimento da linguagem, inicia-se um novo período, que
incorpora o anterior e acrescenta às atividades da criança os símbolos,
a representação mental. É a chamada primeira infância, ou período
pré-operatório, intuitivo ou simbólico. A questão daí para frente não
será somente o fazer, mas também o compreender. É quando surge,
segundo Le Boulch, a função de interiorização, que permite à criança
conscientizar-se de aspectos de seu corpo e exprimi-los verbalmente
através da função simbólica (p. 34).
Certo dia tive a oportunidade de ministrar uma aula para crianças de 3 e 4
anos. Entusiasmada com a oportunidade, tratei logo de realizar uma aula mais lúdica,
em vista da ausência de um ambiente favorável1 àquelas crianças.
A primeira atividade se baseou em deslocamento na piscina com o uso de
material (macarrão), intitulado naquele momento de “cavalo”.
As crianças tinham que se deslocar usando braços e pernas (como no nado
crawl); logo em seguida foram guiadas até a parte mais funda da piscina, onde teriam
que desenvolver o mergulho. Nesse momento, envolvidas pela “historinha” de que iriam
ao fundo do mar fazer uma visita aos animais daquele local, uma das crianças
surpreendeu-me ao voltar: “tia, meu dedo está doendo”. Assustada, perguntei-lhe o que
havia lhe acontecido, e com um sorriso encantado ela disse: “é que encostei meu dedo
no dente do tubarão”.
1 Entende-se por “ambiente favorável” um ambiente que apresente, segundo o autor Borsari
(1980, p. 32) “ [...] atividades lúdicas, como jogos, canções e brincadeiras” .
Muitos professores, preocupados com o que os pais vão pensar ao ver que
seus filhos estão “brincando” ao invés de aprender a nadar “crawl, costas, peito e
borboleta”, acabam comprometendo as etapas pedagógicas.
Palmer (1990, p. 21) deixa claro que “As atividades devem ser praticadas na
sequência correta; tentar executar atividades para as quais os nadadores não estão
preparados pode resultar em todos os alunos rodando em círculos e indo a lugar algum”.
Quem disse que uma criança de três anos precisa aprender o “crawl”
propriamente dito? Com conhecimento, sabedoria e um ambiente de ludicidade, a
criança tem grandes oportunidades de se desenvolver, sem a maçante ideia de ter que
executar movimentos sincronizados para parecer “bonito” aos olhos dos pais.
Kerbej (2002, p. 12) levanta um ponto de muita importância e afirma que
“Seria um erro comparar a natação do adulto [...] com a „natação‟ dos bebês, pois esta se
destina a crianças pequenas [...] seria um erro a procura sistemática de movimentos para
uma aprendizagem dos nados existentes [...]”.
Machado (1978, p. 2) traz à tona uma questão um tanto quanto preocupante,
que infelizmente existe até os dias de hoje “em muitos clubes brasileiros considerados
bons”. O fato é que não se sabe “se por falta de conhecimento ou por um arraigado
tradicionalismo [...] presenciamos, o funcionamento de escolinhas de natação com
métodos antiquados e sem nenhuma seqüência pedagógica” e, segundo o mesmo autor,
isso “demonstra um completo desconhecimento do que sejam a pedagogia e sua
aplicação”.
Como sugere Palmer (1990, p. 19), “[...] como um professor de natação,
torne-se conhecedor da natação e de todos os assuntos relacionados a ela, e pareça
sempre uma autoridade no assunto.” Sendo o professor a autoridade no ambiente
aquático, nada mais correto do que esclarecer aos pais que as atividades que são
propostas às crianças não são simplesmente perda de tempo, têm muita relevância no
que diz respeito ao bom desenvolvimento das mesmas.
Retomando os períodos de desenvolvimento citados por Freire (2001), o
terceiro carrega a bagagem dos anos anteriores, nos quais o pequeno passou
[...] aprendendo a se movimentar, a pensar, a sentir e a se relacionar, a
criança se vê em condições de estabelecer com o mundo uma relação
de igualdade. Ou seja, passará de um estado em que se coloca como
centro de todas as coisas para um estado onde não é mais centro, e sim
um organismo relacionado com os outros. Piaget denominou esse
período operatório-concreto, marcado pelo início da cooperação e
do raciocínio lógico [...]. Em termos de idade, diríamos que ele vai
dos 6, 7 anos, mais ou menos, até os 10, 12 anos aproximadamente (p.
34).
O quarto e o último períodos se iniciam na puberdade e são caracterizados
por Freire (2001, p. 35) como o período de “[...] desenvolvimento da inteligência [...]
denominado por Piaget operatório-formal ou hipotético-dedutivo, o sujeito rompe
as barreiras da realidade concreta, da prática atual” e a partir daí tem seu interesse
voltado para “problemas hipotéticos”.
O objetivo ao se caracterizar tais fases de desenvolvimento humano é o de
esclarecer sobre a necessidade de se ter conhecimento acerca do trabalho que será
proposto a cada indivíduo, uma vez que, se essas fases não forem respeitadas, a chance
de o aprendiz obter sucesso naquilo que for realizar será mínima, visto que em muitas
situações as crianças, e até mesmo os adultos, não têm consciência de certas ações por
“imaturidade” e muitas não têm sua autoconfiança trabalhada. Tal é a importância de se
trabalhar esse último aspecto que Weinberg & Gould (2001, p. 310) afirmam que “os
psicólogos do esporte definem autoconfiança como a crença de que você pode realizar
com sucesso um comportamento desejado”. Sem autoconfiança, portanto, é impossível
se alcançar qualquer objetivo, inclusive aprender a nadar.
Partindo do pressuposto de se orientar cada atividade/aula através das fases
de desenvolvimento humano, adequando da melhor forma possível os meios e métodos
de ensino, surge uma questão, tão pouco discutida, porém de extrema importância:
talvez por ignorância de muitos pais, que desconhecem a importância que os jogos e
brincadeiras exercem na vida do ser humano, e pela falta de argumentação ou até
mesmo de conhecimento por parte dos professores, aquilo que deveria ser uma
manifestação saudável e agradável acaba se transformando num martírio para o ser que
se encontra nesse ambiente novo. Lembrando que
Aprender a nadar deve ser uma atividade agradável para
qualquer idade. O progresso deve ser gradativo, do mais fácil
para o mais complexo e do conhecido para o desconhecido; os
exercícios deverão ser apresentados de maneira a despertar o
interesse e a atenção do aluno (KERBEJ, 2002, p. 17).
Santos (1996, p. 17) cita autores de nome que defendem essa forma de
trabalho: “Vários autores como Vygotski, Piaget, Wallon, Pickard e outros grandes
pesquisadores têm mostrado, através de seus estudos, a importância e o papel do „jogo‟
no processo de aprendizagem da criança”.
Machado (1978 p. 2) diz que “a criança aprende muito melhor brincando do
que de qualquer outra forma”, com isso,
[...] os objetivos e a atitude dos nossos alunos frente e esse esporte; os
métodos e estratégias dos professores; o conhecimento científico e
prático dos técnicos; precisam ser analisados criteriosamente. Não
podemos “queimar etapas”, ensinado os estilos sem planejamento e
respeito às fases de desenvolvimento de cada aluno; administrar aulas
pensando somente no pódio, como ponto de chegada. Nadar é uma
atividade que deve proporcionar, em primeiro lugar, o prazer; ajudar o
desenvolvimento integral do aluno e produzir experiências boas e não
frustrantes (VELASCO, 1997, p. 39).
Pensando naqueles que ainda acham que as necessidades que cada fase
demonstra – como, por exemplo, o aprender brincando – não seja algo que deva
pertencer às instituições de ensino, buscou-se trazer esclarecimentos acerca dos
benefícios que um ambiente lúdico, descontraído e harmonioso gera para a vida do ser
humano. Firma-se o fato de que
[...] brincando, as crianças estimulam os sentidos, aprendem a usar os
músculos, coordenam a visão com o movimento, adquirem domínio
sobre seus corpos e novas habilidades. Por meio do faz-de-conta,
experimentam papéis [...] adquirem compreensão dos pontos de vista
das outras pessoas [...] experimentam a alegria da criatividade [...]
(BODROVA e LEONG, 1998; F. DAVDISON, 1998; FURTH e
KANE, 1992; JOHNSON, 1998; NOOUROT, 1998; SINGER e
SINGER, 1990 apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2001, p. 328).
Santos (1996, p.17) afirma que “todo trabalho pedagógico relacionado à
aprendizagem infantil vai depender de nossa concepção de criança, principalmente da
nossa postura político-filosófica a respeito do processo de desenvolvimento humano”.
Muitos professores atuam no ensino da natação de forma não condizente
com as reais necessidades dos alunos, e Santos (1996, p. 17) levanta apontamentos de
que infelizmente a “metodologia desenvolvida no contexto atual, com raras exceções,
está fundamentada na „pedagogia tradicional‟, que tem como herança o „ensino
militarista‟ [...]” E afirma que esses “métodos [...] constituíam basicamente na
fragmentação dos movimentos dos nados [...] e na repetição mecânica dos exercícios”.
Segundo Catteau & Garoff (1990, p. 22) “A presença de nadadores nos
exércitos sempre aumentou consideravelmente o poder ofensivo”. E fazendo menção a
essa forte influência que os militares exerceram no ensino da natação, os autores ainda
afirmam que "não é de estranhar que a decisão de ensinar sistematicamente natação aos
soldados tenha repercutido na orientação da pedagogia da natação”.
Acredita-se que não existe atitude mais mecânica do que exigir que crianças
de 3, 4 anos permaneçam durante 30 minutos dentro de uma piscina executando
movimentos dos quatro nados. É comprovado que através do brincar pode-se alcançar
diversos objetivos, inclusive nadar!
Santos (1996, p.18) explicita o fato de “que é possível ensinar a natação
para crianças respeitando seu processo de desenvolvimento. É possível sim, criar um
clima de prazer e realização”. Ele ainda afirma que “resgatar o caráter lúdico, a
criatividade, a fantasia, a criticidade, a espontaneidade do movimento humano é o
objetivo principal”. Também é o objetivo do presente trabalho trazer à tona tais
aspectos, como o lúdico, que vale ressaltar, segundo Ferreira (1999, p. 1238), é algo que
se refere “a jogos, brinquedos e divertimento”.
Um fato que muitas das vezes passa despercebido aos olhos de alguns é a
influência que o passado exerce no futuro. Pensando nos materiais que o professor tem
disponíveis para adicionar às suas aulas, vemos que tal utilização já se fazia há muitos e
muitos anos:
Aprofundando-se na origem pedagógica da natação, podemos
perceber que o homem utilizou inicialmente diversos acessórios
(auxiliares) para aprender nadar. Segundo historiadores romanos
eram utilizados: cintos de junco [...], tubos cheios de ar, cintos de
cortiça para auxiliar os não nadadores (SANTOS, 1996, p. 22).
Segundo Santos (1996, p. 29), também eram usados “bexigas de porco
infladas, almofadas, golas, cintos, argolas, etc.”, como nos mostra a Figura 1:
Figura 1: Acessórios para aprendizagem de natação.
Se hoje esses materiais servem como auxiliares nas aulas de natação, no
passado serviam para a realização de movimentos mecanizados, os quais davam todo o
suporte àqueles que desejassem aprender a nadar, uma vez que,
a falta de conhecimentos a respeito das leis e princípios da física
levam os instrutores desta época acreditarem que o homem não era
capaz de flutuar naturalmente, pois a maioria dos objetos utilizados
em seus métodos de ensino tinha a finalidade principal de facilitar a
flutuação do corpo na água (SANTOS, 1996, p. 25).
Com o decorrer dos anos, e com as pesquisas que foram sendo realizadas a
respeito dessa modalidade, muito se descobriu sobre as funções do corpo humano, sobre
a “bóia” natural que possuímos (os pulmões), e a partir daí “entendemos que a
capacidade de flutuação do corpo no meio líquido é um fator importantíssimo para se
aprender a nadar” e ainda que “a flutuabilidade é uma capacidade que o homem pode
desenvolver a partir de conhecimentos dos fenômenos físicos”, como o Empuxo de
Arquimedes2 (SANTOS, 1996, p. 26).
Pensando nessa condição natural que o homem possui de flutuar na água,
surge a questão sobre o porquê da realização de movimentos de braços e pernas; mas
Santos (1996, p. 26) cita que “os movimentos de pernas e braços são utilizados para
propulsão (deslocamentos associados a leis atuantes, que são hidrostática, pressões e
densidade)”.
Enfim, a partir do momento em que houver o interesse de se adquirir
conhecimento/embasamento acerca da importância de se respeitar cada período do
desenvolvimento humano, entendendo o porquê de muitas coisas que estão presentes
em nosso dia a dia, muito se tem a acrescentar àqueles que se habilitam a uma nova
aprendizagem.
Ao dar início a uma aula, na qual os alunos são novos àquele ambiente, o
professor precisa buscar esclarecimento acerca das pessoas às quais estará ministrando
suas aulas, entendendo que cada aluno é único e que cada qual precisa ser respeitado.
O professor precisa entender o porquê de cada aluno estar ali, seus reais
desejos e necessidades, e isso só se torna possível quando se deseja de fato realizar um
trabalho consciente e provido de conhecimentos. Velasco (1997, p. 57) afirma que o
professor que deseja realizar seu trabalho de forma correta “necessita de informações
sobre o nível de desenvolvimento, os aspectos de personalidade, os objetivos e
principalmente de dados físico-sócio-emocionais de cada aluno que se lhe apresenta”.
Mas, com estes dados gerais, o professor não deve basear suas ações
tomando todos os alunos por características daquela determinada faixa etária, pois as
pessoas se desenvolvem de acordo com parâmetros individuais, o que nos torna
exemplares únicos da criação humana, o que, segundo Tubino (1980, p. 100), é
chamado de “princípio da individualidade biológica”, que afirma que “não existam
pessoas iguais entre si”. Velasco (1997, p. 15) conclui dizendo que “nenhuma
aprendizagem ocorrerá, se não pudermos respeitar as características individuais de cada
aluno que se nos apresentar”.
É importante ainda salientar que existem vários motivos pelos quais uma
criança pode ser matriculada em uma escola de natação, e Machado (1995, p. 336)
2 O princípio de Arquimedes ou lei do empuxo contribuiu de uma forma significativa para o avanço no
processo de ensino-aprendizagem da natação e diz que “todo o corpo mergulhado em um líquido recebe
um empuxo de baixo para cima, igual ao peso por ele deslocado” (SANTOS, 1996, p.26).
aponta que muitas crianças são matriculadas com o intuito de “aprenderem a nadar [...]
Há crianças calmas, quietas, agitadas, barulhentas, medrosas, afoitas, interessadas,
apáticas, tristes, alegres, gordas, magras, grandes demais, muito pequenas [...] e nós
somos os artífices de tão grande discrepância”.
Lembrando sempre que o ser humano é impulsionado pelos desejos e
vontades e, segundo Machado (1995, p.335) “aprender é motivar e é preciso motivação
para aprender”. E ainda segundo o mesmo autor, “todo material que usemos ainda será
pouco para tentar motivar, não apenas a criança, mas também os pais”. Dessa forma