Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377 Curso de Administração - N.12, JAN/JUN 2012 PERFIL EMPREENDEDOR E PLANEJAMENTO EMPRESARIAL: DOIS LADOS DA MESMA MOEDA. Jefferson Guimarães Xavier 1 Everton Rodrigues da Silva 2 RESUMO O tema empreendedorismo está em evidência no Brasil e no mundo, mas o que se nota é que o pouco conhecimento do universo dos negócios e do comportamento adequado para se empreender, acompanhados pelo baixo nível de planejamento prévio, acabam provocando a falência das empresas. Este artigo objetiva alertar os potenciais empreendedores e profissionais envolvidos com o tema para a relação estreita entre o comportamento empreendedor e a elaboração do plano de negócios. Este último significa o primeiro grande teste do aspirante a empresário. Palavras-chave: Empreendedorismo. Comportamento empreendedor. Plano de negócios. ABSTRACT The subject entrepreneurship is in evidence in Brazil and around the world, but what it is noted is that the little knowledge of the business universe and the adjusted behavior for it to undertake itself, followed by the low level of previous planning, companies end up provoking the bankruptcy of them. This article aims to alert the potential entrepreneurs and professionals involved with the subject for a narrow relation between the enterprising behavior and the business-oriented elaboration of the plan. The latter means the first great test of the aspiring the entrepreneur. Keywords: Entrepreneurship. Entrepreneur behavior. Business plan. 1 Administrador, graduado pela Faculdade Metodista Granbery – www.granbery.edu.br. 2 Professor da Faculdade Metodista Granbery – www.granbery.edu.br –, coordenador do projeto de iniciação científica “Elaboração de casos de ensino” ([email protected]).
23
Embed
PERFIL EMPREENDEDOR E PLANEJAMENTO EMPRESARIAL…re.granbery.edu.br/artigos/NDU0.pdf · 3 empreendedorismo, o mesmo passou a denominar aqueles que gerenciavam expressivos projetos
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Administração - N.12, JAN/JUN 2012
PERFIL EMPREENDEDOR E PLANEJAMENTO EMPRESARIAL:
DOIS LADOS DA MESMA MOEDA.
Jefferson Guimarães Xavier 1
Everton Rodrigues da Silva 2
RESUMO
O tema empreendedorismo está em evidência no Brasil e no mundo, mas o que se nota é que o pouco
conhecimento do universo dos negócios e do comportamento adequado para se empreender,
acompanhados pelo baixo nível de planejamento prévio, acabam provocando a falência das empresas.
Este artigo objetiva alertar os potenciais empreendedores e profissionais envolvidos com o tema para a
relação estreita entre o comportamento empreendedor e a elaboração do plano de negócios. Este
último significa o primeiro grande teste do aspirante a empresário.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Comportamento empreendedor. Plano de negócios.
ABSTRACT
The subject entrepreneurship is in evidence in Brazil and around the world, but what it is
noted is that the little knowledge of the business universe and the adjusted behavior for it to
undertake itself, followed by the low level of previous planning, companies end up provoking
the bankruptcy of them. This article aims to alert the potential entrepreneurs and
professionals involved with the subject for a narrow relation between the enterprising
behavior and the business-oriented elaboration of the plan. The latter means the first great
test of the aspiring the entrepreneur.
Keywords: Entrepreneurship. Entrepreneur behavior. Business plan.
1 Administrador, graduado pela Faculdade Metodista Granbery – www.granbery.edu.br.
2 Professor da Faculdade Metodista Granbery – www.granbery.edu.br –, coordenador do projeto de iniciação
Birley e Muzyka (2001) entendem que o plano de negócios é o conjunto de
diversas informações, que exigirão pesquisas cuidadosas e detalhadas. Para seleção de tantos
dados, o autor poderá realizar a busca em bibliotecas, bases de dados públicos, profissionais
que o auxiliarão, tais como advogados, contadores e contatos pessoais. Outro aspecto
relevante seriam as entrevistas com potenciais fornecedores e clientes, que dariam
credibilidade e confiança ao projeto.
Os autores também sugerem que a linguagem e formatação do plano devem ser
simples e explicativas, já que o documento deve servir para se comunicar diretamente com os
diversos públicos (investidores, órgãos financeiros, entre outros interessados no negócio).
Para esta comunicação acontecer de maneira positiva, é sensato que o plano fale pelo autor,
que haja paixão, e, sobretudo, uma aparência profissional que passe confiança ao leitor.
15
O conteúdo do documento deve auxiliar os seus leitores a enxergar o futuro da
empresa, para tanto, todos os elementos críticos devem ser inclusos, inclusive no que tange ao
funcionamento em si da organização, para que não exista nenhuma dúvida após a leitura
(BIRLEY E MUZYKA, 2001).
Para Degen (1989, p. 177), o plano de negócios é:
a formalização das idéias, da oportunidade, do conceito, dos riscos, das
experiências similares, das medidas para minimizá-los, das respostas aos
pré-requisitos, da estratégia competitiva, bem como do plano de marketing,
de vendas, operacional e financeiro para viabilizar o negócio.
Segundo o autor, o plano de negócios proporciona uma oportunidade preciosa de
avaliação de todos os aspectos de um novo negócio. A própria experiência demonstra que os
seres humanos acabam sendo parciais em determinadas facetas do planejamento de uma
empresa, e essa visão parcial do negócio acaba sendo um agravante para o seu insucesso.
Estas ideias vêm comprovar ainda mais a importância do planejamento documental.
Degen (1989) explicita diversos benefícios proporcionados pela criação de um
plano de negócios:
reunião ordenada de ideias;
avaliação potencial de lucro/prejuízo;
análise detalhada de consequências de diferentes estratégias
competitivas de marketing, vendas, produtivas e financeiras;
análise de gastos, riscos de erros e acertos previstos e registrados;
constituição de um documento básico de atração de sócios e investidores;
contribuição favorável para fomento de apoio para novos empreendimentos; e
pode ser utilizado para recrutamento e orientação de colaboradores.
Sobretudo, é um documento que comprova toda a vontade, e, muitas vezes,
sonhos do empreendedor e autor do plano.
16
2.2.2. Modelos estruturais
Não existe uma estrutura fixa e inelástica para a construção de um plano de
negócios. Dornelas (2005) destaca diversas estruturas sugeridas por tipo de negócio e/ou por
autores de renome. A figura 1 apresenta uma sugestão para empresas de manufatura em geral:
17
.
Figura 1 – Estrutura de plano de negócios sugerida para pequenas empresas de
manufaturas em geral. Fonte: Dornelas (2005, p. 101-103).
Sumário
Análise Estratégica
Produtos e Serviços
Deve conter o título de cada tópico e sub-tópico e o número de
página correspondentes.
Introdução
Demonstra os rumos da organização pretendida, sua visão, missão, situação atual, potencial de crescimento, forças e fraquezas, objetivos e metas pretendidas.
Descreve um pouco mais sobre os produtos e/ou serviços comercializados, com informações de como são produzidos, desenvolvidos, aspectos tecnológicos, processos de pesquisa e desenvolvimento, panorama de clientes, marcas e patentes e etc.
Deverá apresentar aspectos de planejamento produtivo, identificando processos e gargalos. É importante que se tenha uma estimativa de produção, rotatividade de estoques, índice de refugo, entre outras informações relevantes no âmbito produtivo.
Parte extremamente importante do Plano, devendo conter informações necessárias, sucintas e pertinentes.
É vista como a principal seção do Plano, pois definirá a continuidade, ou não, da leitura do restante do documento. Portanto, deverá conter as principais informações do Plano de maneira sintetizada.
Deve conter informações como: histórico da empresa, faturamento, razão social, estrutura organizacional, fiscal e legal, localização, parcerias e terceirizações, entre outras.
Plano Operacional
Descrição da Empresa
Sumário Executivo
Plano de RH
Estratégia de Marketing
Plano Financeiro
Neste tópico é primordial explicitar os planos de recrutamento, seleção, desenvolvimento e treinamento de pessoal.
Por meio de pesquisas de mercado, o autor do Plano deve mostrar que conhece muito bem do mercado consumidor do produto ou serviço que o negócio comercializará. Aspectos como o crescimento do mercado, segmentação, características de localização e do consumidor, como lidar com as sazonalidades, dentre outros.
Demonstra como a empresa pretende captar clientes e aumentar a demanda pelos produtos ou serviços. Constam nesta seção os métodos de comercialização, diferenciais, política de preços, canais de distribuição e estratégias de promoção e publicidade.
Necessita apurar todos os números que comprovam o sucesso do negócio. Indicadores como: Previsões de fluxo de caixa, balanços e demonstrativo de resultados, faturamento previsto, além de indicadores financeiros (taxa interna de retorno, prazo de retorno sobre investimento, dentre outros).
Neste tópico devem constar informações julgadas procedentes para o melhor entendimento do Plano de Negócios. Anexos
Análise de Mercado
18
Outros modelos de estrutura de plano de negócios serão listados nos quadros a
seguir, de acordo com o que foi sugerido por Dornelas (2005). Como as seções são similares à
estrutura citada anteriormente, apenas os tópicos serão descritos. O quadro 6 refere-se a um
modelo de plano para empresas de tecnologia e inovação:
1. Capa
2. Sumário
3. Sumário Executivo
4. Conceito do Negócio
4.1 O Negócio
4.2 O Produto
5. Equipe de Gestão
6. Mercado e Competidores
6.1 Análise Setorial
6.2 Mercado-alvo
6.3 Necessidade do Cliente
6.4 Benefícios do Produto
6.5 Competidores
6.6 Vantagem Competitiva
7. Marketing e Vendas
7.1 Produto
7.2 Preço
7.3 Praça
7.4 Promoção
7.5 Estratégia de Vendas
7.6 Projeção de Vendas
7.7 Parcerias Estratégicas
8. Estrutura e Operação
8.1 Organograma Funcional
8.2 Processos de Negócio
8.3 Política de Recursos Humanos
8.4 Fornecedores e Serviços
8.5 Infra-estrutura e Localização
8.6 Tecnologia
9. Análise Estratégica
9.1 Análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças
9.2 Cronograma de Implantação
10. Previsões dos Resultados Econômicos e Financeiros
10.1 Evolução dos Resultados Econômicos e Financeiros (projeções)
10.2 Composição dos Principais Gastos
10.3 Investimentos
10.4 Indicadores de Rentabilidade
10.5 Necessidade de Aporte e Contrapartida
10.6 Cenários Alternativos
11. Anexos
Quadro 6 – Estrutura de plano de negócios sugerida para empresas de tecnologia e inovação. Fonte: Dornelas (2005, p. 103-104).
19
Já no quadro 7, a sugestão é para pequenas empresas prestadoras de serviços:
1. Capa
2. Sumário
3. Sumário Executivo
4. O Negócio
4.1 Descrição do Negócio
4.2 Descrição dos Serviços
4.3 Mercado
4.4 Localização
4.5 Competidores
4.6 Equipe Gerencial
4.7 Estrutura Funcional
5. Dados Financeiros
5.1 Fontes de Recursos Financeiros
5.2 Investimentos Necessários
5.3 Balanço Patrimonial (projeção para três anos)
5.4 Análise do Ponto de Equilíbrio
5.5 Demonstrativo dos Resultados (projeção para três anos)
5.6 Projeção de Fluxo de Caixa (horizonte de três anos)
5.7 Análises de Rentabilidade
6. Anexos
Quadro 7 – Estrutura de plano de negócios sugerida para pequenas empresas
prestadoras de serviço. Fonte: Dornelas (2005, p.104-105).
Outro modelo será exposto no quadro 8, conforme sugerido por Joe Hadzima.
1. Sumário Executivo
2. A oportunidade, a empresa e seus produtos e serviços
3. Pesquisa e análise de mercado
4. Análise econômica do negócio
5. Plano de marketing
6. Plano de desenvolvimento
7. Plano de operações e manufatura
8. Equipe gerencial
9. Cronograma
10. Riscos críticos, problemas e premissas
11. Plano financeiro
12. Apêndices
Quadro 8- Estrutura de plano de negócios sugerida por Joe Hadzima do MIT –
Massachusetts Institute of Technology: Nuts and Bolts of Business Plans. Fonte: Dornelas (2005, p.106).
Para finalizar as sugestões propostas por Dornelas (2005), tem-se no quadro 9 um
modelo orientado por Andrew Zacharakis.
1. Sumário Executivo
2. O setor, a empresa e o produto
20
3. Análise de mercado
4. Estratégias de marketing
5. Operações
6. Desenvolvimento
7. Equipe
8. Riscos críticos
9. Cronograma e prazos
10. Análise econômica e financeira
11. O que se está propondo
Quadro 9 – Estrutura de plano de negócios sugerida por Andrew Zacharakis, do Babson
College. Fonte: Dornelas (2005, p.106-107).
Além dos modelos expostos, tem-se um modelo proposto pelo SEBRAE, em seu
manual sobre como elaborar um plano de negócios, do autor Rosa (2007). O mesmo possui as
seguintes seções:
1. Sumário executivo
2. Análise de mercado
3. Plano de marketing
4. Plano operacional
5. Plano financeiro
6. Construção de cenários
7. Avaliação estratégica
8. Avaliação do plano de negócios
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema empreendedorismo está em evidência no Brasil e no mundo, mas o que se
nota é que os índices de mortandade empresarial no nosso país ainda são elevados. O que este
artigo propôs é exatamente chamar a atenção para dois componentes vitais do
empreendedorismo: o comportamento empreendedor e o planejamento prévio, realizado por
meio de um plano de negócios.
Viu-se que empreendedor significa aquele que se propõe a assumir riscos e iniciar
algo novo, e que o empreendedorismo é o envolvimento de indivíduos e processos que
transformam ideias em oportunidades.
A diferenciação de tipos de empreendedores também foi citada, constatando-se
que existem indivíduos empreendedores artesãos e oportunistas, assim como se destacou a
diferença entre se empreender por necessidade, quando as dificuldades do dia a dia fazem
21
com que o ser humano empreenda algo que possa lhe dar algum retorno imediato, ou por
oportunidade de mercado.
Seja qual for o tipo ou maneira de se empreender, as dificuldades hão de ser
encontradas, pois diversos serão os desafios, sejam eles de caráter financeiros, legislativos, de
comportamento ou, até mesmo em suas vidas particulares, na qual haverá sacrifícios naturais
da rotina de um gestor do seu próprio negócio.
O empreendedorismo no Brasil foi alavancado na década de 90, impulsionado por
diversos órgãos de apoio, como SEBRAE, Softex, dentre outros. Programas como o Jovem
Empreendedor e o EMPRETEC, ambos lecionados pelo SEBRAE, dão conhecimento a quem
necessita. Com isso, somado ao alto índice do comportamento empreendedor da população
brasileira, o país vem elevando seus índices.
No ano de 2010, já são mais de 21 milhões de brasileiros envolvidos com
atividades empreendedoras, o que significa dizer que apenas a China possui, em números
absolutos, mais empreendedores que o Brasil. Além disso, o número de indivíduos que
iniciam seu negócio por oportunidade vem sendo mais que o dobro dos que empreendem por
necessidade.
O que se constatou com este trabalho é que existe uma correlação entre as
características apontadas como necessárias para se empreender e o planejamento prévio.
Muito se fala da importância de elaborar um plano de negócio. De fato é preciso reconhecer
que sim, mas para construí-lo não basta ter conhecimento técnico. É necessário ter
características como persistência, relacionamento (uso da rede de contatos pessoal para
obtenção de informação) e poder de persuasão.
Assim, algumas características apontadas pela literatura (DORNELAS, 2005;
SEBRAE, 2009) são úteis não somente para a gestão dos negócios, mas também em seu
nascimento, quando o planejamento das atividades é feito. Sem estes atributos não há como
captar informações qualificadas sobre os concorrentes, mensurar o potencial de mercado,
definir ações concretas de marketing, dimensionar a produção, a necessidade de colaboradores
e de investimento financeiros.
Portanto, parece razoável afirmar que o plano de negócios é o primeiro grande
teste a que os empreendedores são submetidos, e a sua qualidade está diretamente relacionada
ao comprometimento dos indivíduos e à capacidade dos mesmos em gerir o empreendimento.
22
REFERÊNCIAS
ANPROTEC. Pesquisa nacional Anprotec 2006. Disponível em: