Pe. José Fausone * 11 /11/1871 † 01/03/ 1903 Caríssimos irmãos, Tribulationes cordis mei multiplicate sunt . . . de necessitatibus erue me . . . Deixem que eu clame com o rei e profeta Davi: «As tribulações do meu coração se multiplicaram; tu me livraste de minhas angústias». No mês passado os senhores receberam o anúncio fúnebre de três caríssimos irmãos, clérigos, professos perpétuos, e dois destes anúncios foram assinados e enviados pelo inesquecível e virtuoso Pe. José Fausone Diretor do Colégio São Joaquim e Mestre dos noviços
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Pe. José Fausone * 11 /11/1871 † 01/03/ 1903
Caríssimos irmãos,
Tribulationes cordis mei multiplicate sunt . . . de
necessitatibus erue me . . .
Deixem que eu clame com o rei e profeta Davi: «As tribulações do meu coração se
multiplicaram; tu me livraste de minhas angústias».
No mês passado os senhores receberam o anúncio fúnebre de três caríssimos
irmãos, clérigos, professos perpétuos, e dois destes anúncios foram assinados e
enviados pelo inesquecível e virtuoso
Pe. José Fausone
Diretor do Colégio São Joaquim
e
Mestre dos noviços
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e agora, devo dizer que esta flor tão bela e preciosa, do jardim místico de Maria
Auxiliadora, isto é, desta Inspetoria, no dia 1º do corrente mês foi raptada pelo pelo
seu glorioso Patrono e transportado para o jardim celeste.
Depois de poucos dias de cruel enfermidade, com a maior serenidade de
espírito e conformidade à vontade de Deus, feita a sua confissão geral, quis vestir-se,
e depois com o roquete e estola receber o santo Viático.
Assistido, nos últimos momentos pelo meu caro secretário, padre Atílio Cosci,
recebeu a Unção dos Enfermos, com breve agonia, sem perder os sentidos, e repetindo
não querer outra coisa senão que Deus aceitasse seus sofrimentos em desconto dos
pecados cometidos e com repetidas jaculátórias a Jesus, Maria e José, expirou depois
de ter pronunciado por três vezes Jesus... Jesus... Jesus...
O caro extinto nasceu no dia 11 de novembro de 1871 em São Benigno Canavese
(Piemonte - Itália), Diocese de Ivrea. Seus pais foram Miguel Fausone e Lúcia Fauzino.
Entrou no Oratório de São Francisco de Sales, em Turim, no dia 22 de outubro
de 1882. Fez o Noviciado em Foglizzo no ano 1888, vestindo o habito religioso o dia 2
de outubro do mesmo ano recebendo-o das mãos do padre Miguel Rua. Aos 11 de
outubro de 1889 fez sua Profissão religiosa perpétua, e foi logo depois a Roma para 3
anos de filosofia na Universidade Gregoriana, onde se distinguiu tanto na piedade
como no estudo obtendo os melhores resultados.
No ano de 1892 acompanhou o Revmo. P. Lourenço Giordani ao Brasil na qualidade
de professor dos noviços, e como Conselheiro escolar no Colégio S. Joaquim de Lorena.
As ordens sacras, ele as recebeu todas em São Paulo e em Guaratinguetá. No dia 18
de agosto de 1892, das mãos de Sua Ex.cia Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho
recebeu a sagrada Tonsura, as primeiras e as segundas Ordens Menores: o Ostiariado,
o Leitorado, o Exorcitado e o Acolitado. No dia 21 de dezembro de 1894, em
Guaratinguetá, das mãos de Dom Luiz Lasagna, dispensado dos interstícios, o
Subdiaconado. No dia seguinte, 22 de dezembro foi ordenado Diácono pelo mesmo
Dom Luiz Lasagna na igreja de N. Senhora do Carmo. No dia 29 de dezembro de 1896,
em São Paulo, foi ordenado presbítero por Sua Ex.cia Dom Joaquim Arcoverde de
Albuquerque Cavalcante, bispo de São Paulo.
No dia 17 de março de 1897, aqui, cantou a sua primeira missa. Em 1898 foi eleito
diretor do Noviciado, portanto, Mestre dos Noviços.
Sendo mais tarde transferido o Noviciado, para maior economia, para junto do
Colégio São Joaquim, na casa anexa, entre o Colégio e o Santuário São Benedito, ficava
também diretor do Colégio uma vez que o padre Tomás Barale foi mandado para ser
diretor na nova casa do Rio Grande do Sul.
Caríssimos irmãos, ao falecerem seis virtuosos membros da nossa Inspetoria, de
3 de fevereiro a 3 de março, isto é, três antes do caro padre Fausone e dois logo em
seguida, nos dias 2 e 3 de março, devemos exclamar com Jó: “como são breves os dias
do homem, tu contaste o número de seus meses, e fixaste o fim, além do qual não
poderá ultrapassar.”
Inclinemos a cabeça e adoremos os imperscrutáveis decretos de Deus, beijemos
com amor aquela mão que nos fere porque nos quer curar; exclamemos com Davi:
«Não desvie o seu olhar de mim; nem retire de mim seu Santo Espírito. Seja meu auxílio, não me abandone e não me despreze, ó Deus, meu Salvador!
Senhor, não me repreenda o teu furor e não me corrija a tua ira. Tem piedade de mim porque estou sem forças, cura-me, ó Senhor, porque
esmagaste meus ossos e a minha alma está tão abatida; mas, Senhor, até quando? Volte-se para mim, Senhor, e liberta a minha alma; por misericórdia, dá-me a
salvação». Ao abrir, depois da morte do padre Fausone, o livro “Reflexões da alma sobre os
Evangelhos” que eu lhe havia emprestado, encontrei uma marca na página 426 e outra
na página 480.
O que se lê?
“O Senhor quer que a luz das boas obras sejam sempre resplendentes; luceat lux
vestra coram hominibus; sint lucernae ardentes in manibus vestris, mas observa Santo
Ambrósio, que a lanterna, então, mais ilumina quando está para extinguir-se; com isso
quer demonstrar que a alma, como, lanterna,deve resplender sempre, durante todo o
tempo de sua vida, agindo sempre bem, mas, deve perseverar até o fim; melhor ainda,
também para morrer deve resplender mais e mais.
Luceat ergo semper lucerna nostra sed maxime circa finem vitae.
Resplenda, então, sempre a nossa lanterna, mas especialmente em vista do fim
da vida.
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Diz também o Espírito Santo a este propósito: “Justorum semita quasi lux
splendescens, procedit et crescit usque ad perfectum diem”; declara São Gregório,
Papa: “idest quousque ad Celestia Regna perducantur.”
Isso quer dizer que não é quem comece a correr, mas quem chega bem ao final
que receberá o prêmio das fadigas humanas. Qui perseveraverit usque in finem hic
salvus erit.
Assim, a lâmpada da tua alma, ó caro padre José, sempre resplendente durante
toda a tua vida, mais do que nunca Jesus quis que resplendesse ao aproximar-se do fim
dos teus dias mortais.
E, eis que chego à pg. 480 onde se lê: “Amor quod amat non potest non videre”.
O amor não pode ver senão o que ama.”
Assim foi a tua alma, amante de Jesus, sempre caminhando durante toda a sua vida
entre os esplendores da caridade, porque o teu coração, sempre fixo no céu e sempre
cego para as coisas terrenas, não se preocupou nunca com as coisas do mundo.
A lanterna resplandeceu mais do que nunca nas tuas mãos e no teu corção, a
lanterna da caridade, a rainha das virtudes da qual brotam todas as outras virtudes.
Oh! Quanto é bela, caríssimos irmãos, a virtude da caridade!
Quem poderá explicar a força e o poder? Não há nada que vença a caridade,
nem o carinho, nem os elogios, nem as honras, como também a maior humilhação e
os mais terríveis padecimentos; Non querit quae sua sunt, sed quae sunt Iesu Christi.
Não houve dor nem tormento que o bom Jesus não tivesse sofrido pela caridade
para conosco, a mais ignominiosa morte de cruz não foi capaz de extinguir a sua
caridade.
A caridade fez os santos;
A caridade fez e fará sempre os mais valentes herois.
A caridade fez um Dom Bosco, o nosso saudoso e caríssimo Fundador e Pai.
A caridade fez o inesquecível bispo e missionário Dom Lasagna, um mártir.
A caridade fez e fará os verdadeiros Filhos de Dom Bosco. E não foi esta caridade
que impulsionou o nosso bom irmão, o padre Fausone, dizer (quando viu a necessidade
de correr em socorro dos caros irmãos de Niterói «Ecce ego mitte me?». Não foi a
caridade que o segurou lá quando chamado para retornar para Lorena, fez vir no seu
lugar dois superiores daquela casa, porque muito enfraquecidos e esmagados pelo
cansaço e dificuldades!
Não se revelam os esplendores desta caridade santa em toda expressão de seu
nobre coração, nas duas circulares feitas por ele sobre a morte dos inesquecíveis
irmãos clérigos, José Fagundes e Estêvão Georgis?
Não foi a caridade que o levou fora do Colégio ao leito de um moribundo, que,
sobre as suas vestes deixava cair o sinal mais certo e evidente da fatal enfermidade
que em poucos dias o haveria de tirar do nosso meio?
Não foi a caridade que o levou a retornar, e para não impressionar os Irmãos e os
jovens daquela casa (todos com boa saúde) escondendo suas agudas dores internas da
cruel doença que o fazia dizer: «Parto porque o senhor Inspetor me chamou?».
Não foi a caridade que o conduziu à cidade vizinha, ao Colégio São José, para não
afligir tanto a alma do seu inspetor e todo o pessoal da casa do São Joaquim, e
especialmente para não agravar o mal dos irmãos que de Niterói foram mandados para
Lorena para recuperação da saúde?
Sentindo-se gravemente doente não quis descer na estação de Lorena, não foi
caridade, verdadeira abnegação e desprendimento heroico do lugar e das pessoas que
lhe professavam tanta veneração e amor?
Não foi caridade ter docilmente reclamado com seu inspetor, por ter ido visitá-lo
em Guaratinguetá, aludindo que já tinhas outros afazeres e que devia atender outros
irmãos doentes?
Sim, caro padre José, terminaste os dias de sua vida e de sua missão neste vale de
lágrimas; foste fiel à tua vocação religiosa e sacerdotal; a tua lâmpada, agora, mais do
que nunca resplende, e o teu coração abundantemente provisionado com o óleo das
boas obras, era justo que o Esposo Celeste chamasse a tua bela alma para receber a
coroa da eterna glória, que há tanto tempo ele estava te preparando.
Reza por nós, por esta pobre Inspetoria, e nós continuaremos sufragando a tua
alma e a de todos os demais caríssimos irmãos chamados por Deus para a eternidade
em tão breve espaço de tempo.
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Exclame o nosso coração com Davi:”Tribulatio et angustia invenerunt me,
mandata tua meditatio mea est”.
Enquanto recomendo calorosamente às vossas orações a alma dos nossos
inesquecíveis irmão, peço que não se esqueçam de quem, com amor e estima se diz
Vosso afeiçoadíssimo
P. Carlos Peretto Inspetor Salesiano
Lorena, 07 de março de 1903.
DADOS PARA O NECROLÓGIO PADRE JOSÉ FAUSONE * São Benigno Canavese (Itália),11 de novembro de 1871 † Guaratinguetá (SP), 01 de março de 1903 com 32 anos de idade 15 anos de vida religiosa salesiana e 07 anos de sacerdócio
COLEGIO SÃO JOAQUIM
Lorena (Brasil)
AOS BENFEITORES
SNRS. COOPERADORES E COOPERADORAS SALESIANOS
AOS
IRMÃOS E AMIGOS E MENINOS CARISSIMOS
OFFERECE
ESTE MODESTO ELOGIO FUNEBRE
FEITO NA OCCASIÃO DO 30º DIA
DA MORTE DO PRANTEADO E SAUDOSO
P. JOSÉ FAUSONE
Pe. CARLOS PERETTO
Lorena (Est de S. Paulo), 31-3-1903. Brasil
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C.P.J.M.J.
S. Paulo: «Deus Charitas est et qui manet in Charitate in Deo
manet et Deus in eo.”
Irmãos e Amigos carissimos Benemeritos Snrs, Cooperadores e Cooperadoras
O convite que recebestes, as sacras ceremonias deste dia e este apparato lugubre vos dizem
bem claramente o que venho vos annunciar !...
No dia 1.° do corrente mez o Apostolo da caridade, o Pai espiritual de muitas almas, o
Director do Collegio S. Joaquim, o Mestre dos Noviços, nosso Irmão, nosso amigo, victima de
seu zelo sacerdotal, depois de poucos dias de cruel enfermidade, com a maior serenidade de
espirito e cheio de conformidade com a vontade de Deus, feita a sua confissão geral, vestindo
seu habito sacerdotal, com roquete e estola recebia com o maior fervor o Santo Viatico e
pouco depois a Extrema Uncção.
Breve foi a sua agonia, sem nunca perder os sentidos dizendo amiude: Nada pedir a Deus
senão que se cumprisse a divina Vontade — e que Deus se dignasse acceitar os seus
soffrimentos em desconto de seus pescados, e com repetidas jaculatorias a Jesus, Maria e
José, tendo pronunciado por tres vezes: Jesus! Jesus! Jesus!... essa flor tão viçosa, tão amada
e respeitada vinha transplantada pelo seu glorioso Patrono S. José do jardim mystico de N. S.
Auxiliadora desta Inspectoria para o Jardim Eterno.
Não eramos dignos de possuir tão bella flor!
Cada dia de nossa vida é uma nova prova que este mundo é um valle de pranto ! Disse
Job: “Homo natus de muliere, brevi vivens tempore, repletur multis miseriis”.
Cada dia tem a sua amargura! Cada instante seu gemido e sua lagrima. Emquanto
vivermos cá na terra sempre nos acompanharão as tribulações; isto se deu com aquelles que
nos precederam, dá-se comnosco e dar-se-á com os que vierem depois de nós.
Consolemo-nos, porém, porque as tribulações são sinal de predestinação. Dizia S.
Gregorio: “Viver neste mundo na afflicção é proprio dos eleitos”. O nosso grande Padroeiro S.
Francisco de Sales nos consola dizendo: “Quando N. S. esteve na Cruz foi chamado Rei e as
almas que estão na Cruz são declaradas Rainhas.” O Ven. Cura d'Ars dizia: “As adversidades
nos levam ao pé da Cruz e a Cruz nos leva ao Céo”.
Si profunda é nossa dôr, profunda seja também nossa conformidade!
Adoremos os insondaveis decretos de Deus!...
Colhem-se os fructos quando maduros, e Deus colhe os homens quando estão mais
sazonados.
O fruto, quando está maduro, se não é colhido, cae e apodrece; assim tambem os
homens já maduros para a vida eterna, si não fossem colhidos pela mão misericordiosissima
e sapientissima de Deus poderiam cahir e apodrecer.
Diz S. Francisco de Sales: “Nós somos como o coral que no oceano, logar de sua origem, é
um arbusto verdoengo, debil, ondeante, flexivel, porém, extrahido do mar, quasi que de sua
mãe, torna-se como uma pedra, ficando duro e inflexivel ao mesmo tempo que troca seu verde
pallido, em um vermelha assaz vivo: porque nós tambem até quando estamos no meio do mar
deste mundo, logar de nosso nascimento, sempre estamos sujeitos a extremas vicissitudes e
flexiveis a todas as bandas, á direita do amor celestial mediante a inspiração, e á esquerda do
amor terreno conforme a tentação. Mas si formos tirados uma vez desta misera mortalidade,
trocar-se-á o esverdinhado das nossas timidas esperanças no vermelho vivo da fruição segura,
não estaremos mais sujeitos a mudanças, mas firmes no Eterno Amor”.
Vêr a Deus e não Amal-O é impossivel. Mas neste baixo mundo, onde sem O vermos, só
o entrevemos na sombra da fé como num espelho, o nosso conhecimento não é tão grande,
que não deixe também entrada a surpreza de outros objectos e bens apparentes, os quaes
nas escuridões que se misturam com a certeza e a verdade da fé, insensivelmente, quaes
pequenas raposinhas se introduzem e derrubam a nossa vinha florescente. Em summa
quando temos a caridade, o nosso livre arbitrio fica ornado com a veste nupcial, e assim como,