O Recncavo baiano em xeque: A ocupao neerlandesa de Itaparica
(1647) PabloIglesias Magalhes1 Resumo: O presente artigo busca
demonstrar que a ocupao em 1647 da ilha de Itaparica,
nabaadeTodososSantos,pelaesquadraneerlandesacomandadaporSigsmundVon
Schkoppe foi a mais eficiente investida militar contra a Capitania
da Bahia.A inexistncia
deestudoshistoriogrficoacercadesseepisdiojustificaapesquisaemarquivos
portugueseseneerlandesespararegistrarcommaiorprecisoedetalhesaHistriada
operao militar que conseguiu colocar em xeque o funcionamento do
Recncavo baiano. Palavras-Chave: Itaparica; Recncavo baiano;
guerras neerlandesas; Companhia das ndias Ocidentais.
ORecncavobaianoeabaadeTodososSantosestointegradosemumsistema
geo-histrico que contempla a vida humana no seu relacionamento com
o ambiente natural e com o espaoconcebido geograficamente. Antes da
chegada dasembarcaes europeias
noinciodosculoXVI,osndiostupinambsocupavamtodaaregio,comsuasaldeias
dispostas ao longo do percursoentreaBarra daBahiae a ponta
doGarcez, bem como na
ilhadeItaparica.Taisaldeiaseramligadasporcaminhosterrestres,fluviaisemartimos,
sustentando-se da pesca, da caa e do plantio da mandioca para a
produo de farinha.2
A colonizao europeia no Recncavo, com estabelecimento do sistema
produtor de
acarnaprimeirametadedosculoXVIeafundaodacidadedoSalvador(1549),
ligaram aquela regio ao sistema poltico-econmico Atlntico.3 Assim,
na medida em que
aCapitaniadaBahiafoicriadaparaatendersdemandasmercantilistasdePortugal,o
Recncavoesuabaatambmdesenvolveramoutrosistemapossibilitadopelofrgil
equilbrio de tenses entre indgenas e colonos, bem como pela
resistncia s intervenes
militaresporpartedenaeseuropeias,notadamenteFrana,InglaterraeasProvcias
Unidas. 1 Professor de Histria do Brasil e Histria da Bahia na
Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). 2 Agradeo a minha
querida amiga Lucia Werneck Furquim Xavier pela gentileza de
traduzir, a meu pedido, os manuscritos e impressos neerlandeses
indicados nesse artigo. 3
ARAJO,UbiratanCastrode.AbaadeTodososSantos:umsistemageo-histricoresistente.In:
CAROSO,Carlos;TAVARES,Ftima,PEREIRA,Cladio(Orgs.).BaadeTodososSantos:aspectos
humanos. Salvador. EDUFBA, 2011. p. 49-54.
Aintegraogeo-histricadoRecncavopodeserpercebidaemtrseventosque
provocaramarupturadesseequilbrio,demonstrandocomoentreossculosXVIeXIX
Salvadoreseuporto,ligadosaosistemamercantilmoderno,tornavam-sevulnerveis
quando a capital colonial era isolada das vilas do Recncavo e
impedida de acessar a sada
paraomardabaa.AsforaspolticasquedominavamSalvadornuncaconseguiram
interromper o funcionamento do sistema ou progredir quando dele se
isolava militarmente.
NaprimeiraInvasoneerlandesa(1624-25)ossoldadosdaCompanhiadasndiasficaram
sitiadosporterraeimpossibilitadosdesereabastecer,capitulandoem1625dianteda
armadacatlica,queoscercoupormar.Alis,aarmadachefiadaporD.Fradiquede
Toledoapressouofimdaguerra,masofatoqueosneerlandesesjnoconseguiam
colocarospsforadosmurosdacidade.NaGuerradeIndependncia(1823-1824),as
tropasbrasileirasconseguiramisolaracapitaldoseuRecncavoeosseismilsoldados
portuguesesdeMadeiradeMello,tambmsemtercomosereabastecer,tiveramquese
retirarparaoReino,coroandocomxitoaslutaspelaindependncia.Oisolamentoda
capital foi tambm um erro cometido pelos rebeldes na Sabinada em
(1837-1838), sitiados em Salvador pelos latifundirios das vilas
interioranas, que impediram que Itaparica ficasse
sobpoderdopartidoseparatista.Naquelestrsmomentos,osistemadoRecncavo
funcionoumesmoapartadodesuaurbe,masdeve-seconsiderarquenosepisdios
supracitadosailhadeItaparicaficousobocontroledosgruposvitoriosos.Odomnio
sobreItaparica,maisdoquesobreacapital,eraessencialparaofuncionamentodo
Recncavo.
AilhadeItaparicatemumaposioestratgica,porseramaiordas56ilhas
existentes na Baa de Todos os Santos, com 115,922 km e 36 km de
comprimento, situa-se
a13kmdedistnciadeSalvadorefuncionacomoumanteparoquedivideooceano
Atlnticodomarinternoformadopelabaa.AocupaoeuropeiadeItaparicadeu-sea
partir de um pequeno ncleo de povoamento fundado por jesutas na
contra-costa em 1560, chamada de vila do Senhor da Vera Cruz, atual
vila de Baiacu. Ao longo dos sculos XVII e XVIII, a principal
atividade econmica da ilha foi a pesca baleeira, atribuindo-se o
nome
daPontadasBaleiasparaaextremidadenorte.JohannesdeLaet,umdosdiretoresda
CompanhiadasndiasOcidentais,registrouqueItaparicaeraailhamaior(...)queesta
umtempodianteedentrodaBahia,percebendo-acomoumacabea-de-pontepara
conquistar militarmente o Recncavo.4
AinvasodeItaparicaem1647pelaesquadraneerlandesacomandadapor
SigsmundvonSchkoppe,SimonvanBeaumontepeloalmiranteJoostvanTrappen
(Banckert),foiamaiseficienteoperaomilitarcontraaCapitaniadaBahia.Foianica
que teve sucesso em obstruir o funcionamento do Recncavo baiano e
da Baa de Todos os
Santos.OobjetivodesteestudodemonstrarcomoaocupaodailhadeItaparicapso
Recncavo em xeque. Em 1647, Itaparica fora transformada na nieuw
Duinkerken ou nova Dunquerque,
numarefernciaaofamosocercoqueocorreunaquelacidadeporturiafrancesanoano
anterior.Apesardasingularidadedoepisdio,nohnahistoriografiabaianaqualquer
estudosobreainvasoaItaparica.Nahistoriografiabrasileiraessaoperaosurgecomo
um mero movimento diversionista da mquina militar da Companhia das
ndias Ocidentais
(WIC),interessadaemarrefeceraspressesqueaGuerradeRestauraoPernambucana
(1645-1654)impssobreosneerlandeses,entositiadosnoRecife. 5
Aocupaode
Itaparicafoimaisdoqueumameramanobradiversionistaeadocumentaoconsultada
revela o projeto de conquistar a ilha e utiliza-l como base de
operaes da Companhia das ndias.Itaparica revela-se o Calcanhar de
Aquiles da Capitania da Bahia. Ocupar acapital colonial e arrestar
sua rede de fortificaes, bem como seu aparato blico, antes de ser
uma
vantagemmilitar,eraumerroestratgico,comoosprpriosneerlandesesexperimentaram
em1624.AcapitalnoseabasteciaisoldadadoRecncavobaianooudosportosque
interligavam a Baa. A Estrada das Boiadas, que permitia a entrada
do gado procedente do serto ou de Sergipe de El-Rei, era
interditada a partir do interior. A farinha de mandioca,
basedaalimentaocolonialjuntocomacarne,deixavadefluirdasvilasdeJaguaripe,
Cair,BoipebaeCamamuparaSalvador.Construiu-se,assim,nogovernodeDiogoLuiz
de Oliveira (1627-35), o conchavo da farinha entre as cmaras das
referidas vilas e a de
Salvador,atravsdoqualosprodutoresdessasvilaseramobrigadosafornecerfarinhade
4
LAET,Johannesde.HistorieOfteJaerlijckVerhaelvandeVerrichtinghenderGeoctropeerdeWest-Indische
Compagnie. Leiden: Bonaventuer ende Abraham Elsevier, 1644, p.11. 5
MELLO,EvaldoCabralde.OlindaRestaurada:GuerraeacarnonordestedoBrasil.RiodeJaneiro:
Topbooks, 1998,p. 71.
mandiocaapreosfixosaSalvador,sendoseufuncionamentofiscalizadopeloprprio
governo-geral. 6
Naprtica,acidademorriadefomesemoRecncavo,noqualItaparica, tambm
importante produtora de farinha de mandioca, tem uma localizao
central, situada entre a capital e as demais vilas.
Desdeaprimeirainvasoneerlandesaem1624,Itaparicajeraalvodas
embarcaesneerlandesasenaqueleanooEngenhodoFlamengofoiatacadoquandoos
invasores se foram ao engenho de Gaspar de Azevedo, que est na
praia uma lgua atrs da ponta (de Itaparica).7 No entanto, naquela
ocasio, no tiverem xito em ocupar a ilha, apenas tentando
reabastecer os famintos sitiados dentros dos muros de
Salvador.ApsainvasoaPernambucoem1630eaocupaodascapitaniasdonorte,a
ameaasobreolitoraldaBahiaagravou-se.Naquelaconjuntura,adocumentaorevela
queasautoridadescoloniaisreconheciamItaparicacomoumlocalestgicoparaaguerra
defensivaquetevelugarnoRecncavo.Emmarode1635obispoD.PedrodaSilvade
Sampaio escreveu uma carta ao Rei Felipe IVde Espanha pedindo que
fosse enviada uma armadaparaadefesadaSalvador.8
Emseguida,alertou,maisumavez,El-Reyqueos neerlandeses planejavam
reconquistar a
Bahia:Dizem,colhidodosOlandezesqandetomaraPontadaTaparica,efazeralyfortalezaa
cuja sombra encorrem muitos nauios, e que daly ande Reconhecer, os
donos dos Engenhos com seus trebutos, e seno que lhes ande abrazar
fica lhe daquy fail tomar tudo at o Rio deJan.ro, eAngola,enfestar
a nauegao das Indias dePortugal, e Castella,seno atalho tantos
males breuem.te demandado de VMg.de, com poderoso socorro, e
Armada.9
UmabasemilitarneerlandesaemItaparicanoameaavasomenteaBahia,mas
toda navegao no Atlntico sul. A informao enviada por D. Pedro da
Silvade Sampaio
atingiucomforaosdirigentesdoReino,inclusiveporqueumdosgovernadoresde
Portugal,oquintoCondedaCastanheira,D.AntoniodeAtade,estavaligadoilhade
Itaparica.OprimeiroGovernadorGeral,TomdeSouza,doaraailhaemsesmariaao
6
PUNTONI,Pedro.OConchavodaFarinha:especializaodosistemaeconmicoeogoverno-geralna
BahiadosculoXVII.In:OEstadodoBrasil:poderepolticanaBahiacolonial,1548-1700.SoPaulo:
Alameda, 2014.7 SALVADOR, Fr. Vicente do.Histria do Brasil. So
Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 527. 5. ed. 8
ArquivoHistricoUltramarino(AHU),Bahia.Luis.Fons.Cx.6.Doc.680[Lisboa,1635].Minutado
Conselho da Fazenda sobre duas cartas de D. Pedro da Silva
eSampaio. No localizamos a carta, cpia ou original, mas a minuta
afirma que a mesma data de 21 de julho de 1634.9
AHU,Bahia.Luis.Fons.Cx.6.Doc.681[Bahia,26.03.1635].CartadoBispodoBrasilparaFelipeIV
(Cpia Mutilada). primeiro Conde da Castanheira, em 1552. 10 A
minuta elaborada pelo Conselho da Fazenda demonstra a reao
imediata, observando que satisfazendo os pontos mais substanciais
das
ditascartasPareceoqueportodososrespeitosconvinhamuitohaverempartirlogoas
armadasparaobraziljndoemdireituraaBahia.Aminutaaindaespecificouqueera
Necessarioacudirselogoaforteficaonapontadetaparicaantesqueoinimigosefaa
senhordestesitioesefortifique(...)quesenopossacobrar(...)procurandocomtoda
brevidade que o forte que se ouver de fazer neste sitio seja de
maneira que possa impedir o
dezenhodoinimigo.AinformaoenviadapelobisposurtiuefeitoeoConselhoda
Fazenda deliberou, em pouco tempo, que o envio de navios para a
Bahia pudesse servir de grande remedio para sua defenso 11
ApresenanaBahiadeumaesquadraem1636edaarmadadoCondedaTorre entre
1638 e 1639 afastou temporariamente as embarcaes hostis.Em 1640,
entretanto, a
expediodeJanCorneliszoonLichthardtincendiouvinteeseteengenhosnaBahia,
inclundoosdeSantaCruzedoFlamengo,jatrsreferido,nailhadeItaparica,como
objetivodedestruirosistemaprodutordeacarnoRecncavo.Naquelemesmoano,era
notrio que Itaparica estava desguarnecida e por informao do Marqus
de Montalvo, D.
JorgeMascarenhas,sabemosqueoaparatoblicodasfortificaesperifricasforam
desviadosparaOsdozefortesqueseespalhavampelasquasetrslguasdopermetro
urbanoecareciamdereparos,quedeviamserprovidoscomaartilhariarecolhidados
fortesentodesmanteladosdapontadeItaparica,barradoParaguau,Paranamerim.12
ApesardeItaparicaestarsemcondiesdesedefender,ogovernocolonialreconheciada
sua importncia estratgica: A barra tem trez leguas de largo, por
onde o inimigo pode entrar e estar sem impedimento. Pde-se-lhe
difficultar fazendo-se uma fortaleza nas Paranas, fronteira &
de Santo Antonio, com que cruzam
ambasabarracomsuaartilharia,impossibilitamafacilidadedaentradaedefendemailhade
Itaparica, onde o inimigo pode estar ancorado, senhorear-se della,
e sustentar o sitio cidade.13 10
IGLESIASMAGALHES,P.A.AJornadadosVassalosporD.JernimodeAtadeem1625.In:2
EncontrodeNovosPesquisadoresemHistria,2010,Salvador.AnaisEletrnicosdo2
EncontrodeNovos Pesquisadores em Histria, 2010. p. 112-127. 11 AHU,
Bahia.Luis. Fons. Cx. 6. Doc. 681 [Bahia, 26.03.1635]. Cartado
Bispo do Brasil paraFelipeIV (Cpia Mutilada). AGS. Secretarias
Provinciales. Livro 1478 fl. 98-98v. [Madrid, 03.08.1635] Sobre lo
que escrive lo bispo do Brasil acerca de cinqenta mil caxas de
assucar que alli se hallan y el riesgo que corren.12 MASCARENHAS,
D. Jorge. Sobre a convenincia de se fortificar a cidade da Bahia
capital do Brazil. In:
RevistadoInstitutoArqueolgico,HistricoeGeogrficodePernambuco(RIAP),Tomo56,1parte,pp.
102- ss. Recife: 1893.Atual Paranama, localizada em Loreto, na
contra-costa da Ilha dos frades e tendo viso para Madre de Deus,
entrada para Santo Amaro. 13 Idem.
Itaparica,entocomduasfreguesias,adeVeraCruzedeSantoAmaro,erauma
praaaberta.Alis,acriaodasegundatevelugarduranteoepiscopadodeD.Pedroda
SilvadeSampaio,em1643,possivelmentecomoobjetivodepovoararegioinsulanae
impedir o desembarque de inimigos, em caso de uma invaso demenor
monta. Segundo o cronista frei Agostinho de Santa Maria, O primeyro
Vigayro que teve esta paroquia foy o
PadreValeriodeFreytas,clerigodebsprocedimentos,quedeixoualgumasobras
manuscritas,infelizmentedesparecidas.OrdenadojuntocomojesutaAntonioVieiraem
1634, sua carta de apresentao para a vigrio de Santo Amaro de
Itaparica, na Chancelaria daOrdemdeCristo,datade4deagostode1643.14
AfreguesiadeVeraCruzera
administradapelopadreRomoPalmeiro,nomeadoporcartadeapresentaode30de
agostode1646.15
Porvoltade1645,Itaparicacontavacomcercade2milhabitantes,
enquantoSalvadorseaproximavade20mil,quepoderiamresistirapequenasincurses,
mas no a uma invaso em grande escala. 16
A8defevereirode1647aesquadradeSigsmundvonSchkoppe,Simonvan
BeaumontedoalmiranteJoostvanTrappen,composta26velaseconduzindo,2400
homens,entresoldados,marinheiroseindgenas,invadiuaBaadeTodososSantos.17
O
comandanteemchefedaoperaoeraBeaumont,amarinhaficandosobresponsabilidade
de Banckert e a infantaria a cargo de Schkoppe, que concebeu o
plano de invaso e foi um 14
ArquivoNacionaldaTorredoTombo(ANTT),ChancelariadaOrdemdeCristo,Livro25,fl.239.
ValeriodefreitasCartadeapresentasodaigradestoamarodoreConcauobpdodaBahia;SANTA
MARIA,Agostinho.SanturioMarianoeHistriadasImagensMilagrosasdeNossaSenhora.Lisboa:na
Officina de Antonio Pedrozo Galrao, 1722, Vol. 9, pp. 121-122. 15
ANTT, Chancelaria da Ordem de Cristo, Livro 35, fl . 260. 16
Aquicabeumaobservao.Essenmerode2000habitantesemItaparicafoiinferidoapartirdeuma
afirmao na obra de Pierre Moreau, autor de Histoire des derniers
troubles du Brsil entre les Hollandais et les Portugais, Paris,
1651, onde, na pgina 145, diz que "Os soldados no pouparam a uma s
vida, mataram
atmulheresecrianas,saquearamtudoquantoquiseram,esoincendiarlhesfoiproibido;demodoque
duasmilpessoas,quecontavaestailha,pereceram,umaspeloferro,outrasafogadasnosbarcos,emquea
tropelselanavam,afimdepassaremcidadedaBahia,quandochegaramosholandeses".FoiVarnhagen
quemverteuessetrechodofrancsparaoportugusdefinindo-ode"narraoinsuspeita".VARNHAGEN,
Francisco.HistriadasLutascomosHollandezesnoBrazildesde1624a1654.Lisboa:Typographiade
CastroeIrmo,1872,p.321.PodehaveralgumexageronasafirmaesdeMoreau,poisoextermniode
2000pessoasnaocupaodeItaparicarepesentariaummassacredegrandesproporesparaapoca.Ademais,nohoutrafontedocumentalqueassevereisso.Contudo,pareceindicaronmerodeseus
moradores poca. 17
CartaGeraldoPresidenteedoConselhodoBrasilparaaCmaradaZeelandia,de26defevereirode
1647.ArquivoNacionaldosPasesBaixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[VelhaCompanhiadas
ndiasOcidentais],nmerodechamada1.05.01.01,inventrio63,documento15,fol.8r.LuciaWerneck
Xavier me indicou esse documento, desconhecido at ento.
dosmaiscompetentesoficiaisaserviodaCompanhiadasndiasOcidentaisnoBrasil.
Schkoppesabiaqueasforasnavaisdisponveiseramlimitadasparaempreenderuma
invaso direta a Salvador. Seu plano, ento, consistiu em estacionar
a esquadra na ponta das Baleias, na ilha de Itaparica, fechando o
eixo da principal rota martima no Atlntico sul, a
entradadaBaadeTodososSantos.Schkoppecumpriuoqueprometeranogovernode
DiogoLusdeOliveira,quesehaviafazersenhordaBahia,semlhecustarumcopode
sangue,impedindoosmantimentoscomosseusnavios.18
AtomadadeItaparicapor
SchkoppepsemriscoabaadeTodososSantosetambmameaouacomunicaoeo
comrcio entre a Bahia e Portugal.Em de 26 de fevereiro de 1647, o
Conselho Poltico da Nova Holanda escreveu aos
DiretoresdaCompanhiadasndiasOcidentaisneerlandesa(WIC)queapsmuitas
deliberaes, resolvemos atacar o inimigo no seu corao para assim
prejudic-lo muito ()
decidimosentoatac-lopertodaBahiacomaintenodeocuparefortificarailhade
Itaparica e outras ilhotas da regio ().19 Posteriormente em carta
de 27 de maro de 1647,
escrevemparaoscomandantesdaexpedio,SimonvanBeaumonteSigsmundvon
Schokppe, que gostaramos muito de ver, e nessa conjuntura dos
tempos, nada mais til
paraessaconquistaeTerra()doqueamanutenodareferidailha[Itaparica]porns
agora ocupada ()20 Essa mesma carta segue discutindo o quo
importante para a WIC a
ocupaodeItaparicaera,pois,entreoutrascoisas,quandochegassemmaisreforosdas
Provncias Unidas, poderiam facilmente atacar a Bahia. A perspectiva
de ocupar a ilha por longo tempo levou Cornelis Theunissen, mestre
de equipagem em Itaparica, por carta de 4 de julho de 1647, a
solicitar ao Conselho Poltico que sua esposa fosse enviada para
aquela ilha.21Segundo o cronista Johannes Nieuhof (1618-1672),
Schkoppe ainda determinou que 18 VIEIRA, Antonio.Cartas (ed. Joo
Lucio de Azevedo). Coimbra: Imprensa da Universidade, 1928, Vol. 3,
p.577. 19
CartaGeraldoPresidenteedoConselhodoBrasilparaaCmaradaZeelandia,de26defevereirode
1647.ArquivoNacionaldosPasesBaixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[VelhaCompanhiadas
ndias Ocidentais], nmero de chamada 1.05.01.01, inventrio 63,
documento 15, fol. 7v e 8r. 20 Carta do Presidenteeconselho aos
comandantes Beaumont,SchoppeeBankert,nailhade Itaparica, de
27demarode1647.ArquivoNacionaldosPasesBaixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[Velha
Companhia das ndias Ocidentais], nmero de chamada 1.05.01.01,
inventrio 63, documento 35, fol. 2r. 21 Notas Dirias do Alto e
Secreto Conselho do Brasil de 04 de julho de 1647, Arquivo Nacional
dos Pases
Baixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[VelhaCompanhiadasndiasOcidentais],nmerode
chamada 1.05.01.01, inventrio 71.
ocoronelHindersonabandonasseafozdorioSoFranciscoefosseseajuntaraeleem
Itaparica.22 O governador Antonio Telles da Silva escreveu ao rei
afirmando que Senhores do
mar,empoucosdiaspem(osneerlandeses)oseupoderondequerem.23
Apresenada
esquadradeSigsmundvonSchkoppeinterrompeutodaacirculaocomercialdaregio
atravsdobloqueiodaentradadabaa,queresultounacapturademaisdevintenavios
mercantesqueseaproximavamdeSalvador.Asituaotornou-semaiscrticaporquea
maiorpartedasembarcaesapreendidaseradegrandecaladoe,porisso,transportavam
grande quantidade de provimentos. At mesmo o navio que transportava
Francisco Barreto
deMenezes,designadopelamonarquiaparacomandaraGuerradeRestaurao
Pernambuco, foi interceptado a 30 lguas da Bahia e seu ilustre
passageiro remetido preso para o Recife.
Escapavamapenasasembarcaespequenasquepoderiamcostearolitorale
passaremdespercebidasasentinelasneerlandesasnaPontadasBaleias.Atfarinha
produzidanasvilasdoRecncavocomeouafaltarnacidade. 24
Paradiminuiracarestia
entreosmoradoresdacapital,osjesutasdoColgiodoRiodeJaneiroenviaramparaa
Bahiaumnaviocarregadodemantimentos,quezarpoudaGuanabaraa11demaioe
aportouemSalvadorapsvinteesetediasdeviagem,conduzidoporumpadreda
Companhiacomexperincianomarquedriblouocercoinimigoeentregouacargaao
GovernadorAntonioTelesdaSilva.25 HtambmabundantedocumentaonasAtasda
Cmara de So Paulo em que o Governador solicitou o envio de farinha
dali para a Bahia. A presso sobre a capital e seu circuito
comercial impeliuos oficiais portugueses a
duasmalsucedidastentativasderetomarailha.Aprimeiratentativadebateros
neerlandesesocorreua24defevereiro,comumatropaluso-braslicacompostaporoito
companhiascom500soldados,reforadoscomaparticipaodemoradores,
desembarcarams17horas,prximodastrincheirasinimigas.Asdefesasneerlandesas
22 NIEUHOF,Johannes. Memorvel viagem martima e terrestre ao Brasil
(1682). So Paulo: Martins, 1942,p. 288. 23
Cartasedel-reiD.JoaoIVaoCondedaVidigueira(MarquesdeNiza)embaixadoremFranca/publ.e
pref. por P.M. Laranjo Coelho. Lisboa : Academia Portuguesa da
Historia. 1940.Vol. II, pp. 90-91 24
BOXER,Charles.TheDutchinBrazil1624-1654.Oxford:ClaredonPress,1957,pp.280-290.AHU,
Bahia. Catlogo Eduardo Castro, Cx.1. [1648] Rellao dos navios que
se perdero hindo e vindo do Estado do Brasil, desde o anno de 1647
athe o fim do anno de 1648.25 VASCONCELLOS,Simode.Vida
doPadreJoamDAlmeidadaCompanhiadeIESV,na Provnciado Brazil. Lisboa:
Officina Craesbeckiana, 1658, pp. 243-245.
funcionarammuitobemeestestiveramapenas10mortose18feridos.Osluso-braslicos
tiveram que recuar, deixando 125 mortos. 26
A10deagosto,diadeSoLoureno,esperandocontarcomaajudadosanto, Antonio
Teles da Silva ordenou o segundo assalto contra as foras de
Schkoppe. Para este
fim,encarregouoMestredeCampoFranciscoRebello,apelidadodeRebelinho,almde
JoodeArajo,omajorAscensodaSilva,JooPaesdeMeloeDiederickHooghstraten
(Teodoro Estrada). Juntos, levaram trs regimentos formados por
vinte e nove companhias,
numtotalde1700soldados,200marinheiros,10ndiose60negros,somando2060
homens.27 O momento era propcio em vista de trs navios de guerra
neerlandeses haverem deixado a Bahia. Chegaram por volta de 3 horas
da manh e passaram despercebidos pelas
trincheirasexternas,emdireoaoquarteldeSchkoppe,atirandograndequantidadede
granadasdemodentrodaspaliadas.Osneerlandesesreagiramcomcercade400
soldados e batalha durou at s 5 da manh. O segundo ataque a
Itaparica foi, contudo, um
desastreaindamaiorqueoprimeiroeastropasluso-braslicasforamrepelidasdailha,
contandocercadequatrocentosmortos.ORebelinhoacaboumortoeteveocorpo
resgatadoporfreiDomingos(oRuivo),quecommaistrsfranciscanosassistia
espiritualmenteaquelecontingente.28
OcronistaDiogoLopesSantiagoconfrmaquenas duas batalhas por
Itaparica "nos mataram na Bahia 500 ou 600 homens".29 26 Ware
Vertooninge van het Eylandt Taparica Alzoo het zelve aldaer naer
het leven is geteykent: midtsgaders
zynegelegenthey,indeBahiadeTodoslosSantos,endedistantievandeStadtStSalvador.Amsterdam:
Solomom Savrij, 1648. 27 Idem. 28 JABOATAM, Antonio de Santa Maria.
Novo Orbe Serfico Braslico. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense de
Maximiliano Gomes Ribeiro, 1858, Tomo I, Livro II, pp. 93 e 94. 29
SANTIAGO,DiogoLopes.HistriadaguerradePernambucoefeitosmemorveisdomestredecampo
JooFernandesVieira,heridignodeeternamemria,primeiroaclamadordaguerra..Recif:Fundarte,
1984, p. 449. Imagem : Detalhe mostrando a localizao das seis
trincheiras em Itaparica. Ware Vertooninge van het Eylandt
Taparica. Solomom Savry, 1648. Biblioteca da Universidade de
Leiden. Igncio Accioli de Cerqueira e Silva afirmou, em 1837, que
concorreo a persuaso geral que o ataque precipitado a Itaparica
decorreu do Bispo D. Pedro da Silva de Sampaio pressionar o
governador Antonio Teles da Silva para que reagisse aos
neerlandeses. 30 Braz
doAmaral,seguindoAccioli,afirmaqueatribuiuavozpblicaaresponsabilidadedo
desastreaobispoD.PedrodaSilvadeSampaio,quehaviaaconselhadooataqueao
Governador e o havia feito teimar contra a opinio dos oficiais mais
competentes, inclusive doprprioRabelinho.31
Noh,contudo,documentoqueconfirmeoudesaboneas
afirmaesanteriores,maspossvelqueobispofossefavorvelaoataqueaItaparica,
considerando-seseuposicionamentoeatitudesanteosataquesneerlandesesque
ameaaram a Bahia anteriormente. Como bem observou Varnhagen, a
segunda batalha por 30
SILVA,IgnacioAcciolideCerqueirae.MemoriasHistricas,ePolticasdeProvinciadaBahia.Bahia:
Typ. do Correio Mercantil de M. L. Velloso e C., 1837, Vol. 4, p.
18. 31
AMARAL,Brazdo.GovernadoreseBispos.In:AnaisdoArquivoPblicodoEstadodaBahia,Vol.27,Salvador:
1941.Vol. p. 214-217. Itaparica resultou na perda mais desigual que
houve entre os luso-braslicos nos trinta anos de guerra com os
neerlandeses. 32
Semresistncia,aesquadrainvasoraincendiouoRecncavobaiano.Opadre
FranciscoGonalvesdaCompanhiadeJesus,autordaRelaodaProvnciadoBrasilde
1647,narrandoaocupaodeItaparica,revelouqueem1647osneerlandesesqueimaram
vinte e um engenhos em todo o Recncavo, incluindo um dos jesutas.33
A principal fonte geradora de riquezas na Bahia ficou
comprometida.NohregistrosimpressosemportugussobreaguerraporItaparicaem1647.
Possivelmenteosilnciodaimprensaportuguesadapocafoiresultadodasduasderrotas
fragorosas na tentativa de retomar a ilha. Nenhum relato da guerra
foi publicado, at porque
seriaexporaindamaisnaEuropaospontosfracosdoRecncavobaiano.Nalngua
portuguesa,osilnciodoscontemporneossobreoepisdiofoitorepresentativoqueo
baianoSebastiodaRochaPitta,autordaHistriadaAmricaPortuguesa,impressaem
1730, errou at o mesmo o ano da invaso a Itaparica, afirmando que
ocorrera em 1646.34
Poroutrolado,osneerlandesesproduziramtrsrelatosimpressos,umdelescom
ilustraocartogrficaqueenalteceseuvalordocumental.Omaisimportante,contendoo
mapa de Itaparica, mas com um erro ao indicar como ilha a foz do
rio Paragua (Terra de Garassou),foi publicado em Amsterd por
Solomom Savry em 1648 sob o ttulo deWare
VertooningevanhetEylandtTaparicaAlzoohetzelvealdaernaerhetlevenisgeteykent:
midtsgaders zyne gelegenthey, in de Bahia de Todos los Santos, ende
distantievan de Stadt
StSalvador(VerdadeiraRepresentaodaIlhadeTaparica,desenhadadonatural,bem
assim sua situao, na Bahia de Todos os Santos, e distncia da cidade
de So Salvador), do
qualexistenicoexemplarnaBibliotecaUniversitriadeLeiden.Omapa,apesardo
equvocosupracitado,indicacomalgumaprecisoospontosondeosneerlandeses
levantaramseistrincheiras,indicandoocomandantedecadauma. 35
Osoutrosdois 32 VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. Histria geral do
Brazil. Madrid: 1857, Vol. 2, p. 18. 33
LEITE,Serafim.HistriadaCompanhiadeJesusnoBrasil.Vol.V.RiodeJaneiro:ImprensaNacional,
1945, p. 65. Gonalves nasceu em 1597 na Ilha de So Miguel, nos
Aores, entrou na Companhia no Rio de janeiro em 1613 e fez a
profisso solene em 1636, na Bahia, onde lutou contra Nassau em
1638.34
PITTA,SebastiodaRocha.HistoriadaAmericaPortugueza,desdeoannodemilequinhentosdoseu
descobrimento, at o de mil e setecentos e vinte e quatro. Lisboa
Occidental : na Officina de Joseph Antonio da Sylva, impressor da
Academia Real, 1730., p. 316. 35 Ware Vertooninge van het Eylandt
Taparica Alzoo het zelve aldaer naer het leven is geteykent:
midtsgaders
zynegelegenthey,indeBahiadeTodoslosSantos,endedistantievandeStadtStSalvador.Amsterdam:
Solomom Savrij, 1648
impressossofolhasvolantes,sendoaindade1647oOprechtVerhaelvandeTreffelijke
Victoria, vercreghen op het eylandt Taparica, teghen de Portegysen
(Relao da vitria dos
holandesesnaIlhadeItaparica,contraosPortugueses)eExtraordinarieadvijsenuyt
diverscheQuartieren,1647.CopyevaneenMissiveuythetEylandtTapparikaindeBay
TodoslosSanctos:geschrevenuytdenBriefvanNiclaesClaesz,Capiteyn,impressoem
Gedruckt,tambmem1647,cujonicoexemplarencontra-senaKoninklijkeBibliotheek,
emAmsterd.JohannesNieuhofePierreMoreau,doiscronistasqueserviramaWIC,
tambm citam os acontecimentos em Itaparica. Alm disso, houve
copiosa correspondncia
manuscrita,vistoqueosneerlandesesconseguiramestabelecerumalinhadecomunicao
contnuaentreItaparicaeRecife,sendoquegrandepartedessespapisestonoArquivo
Nacional dos Pases Baixos, fundo Oude West Indische Compagnie. 36
Nas Atas Dirias h referncias a pelo menos dois dirios de Schkoppe e
Beaumont, mas que no chegaram at os dias de hoje.
Houvecomooreligiosanatentativaderecuperarailha.Apsasegundapeleja,
afirma Pierre Moreau, os neerlandeses encontraram nos cadveres dos
soldados
catlicosgrandesfolhasdepapelnasquaisestavampintadosmosquetes,fuzis,lanas,alabardas,chuos,
espadas,setaseflechasqueosbrasileiroscarregamsemprecomoarmas(...)encontrando-seentre
outros,diversascruzespequenasegrandesentremeadascomaletraH;eembaixodessasfolhasde
papel estavam escritas frases em latim contra as armas holandesas,
que chamavam armas herticas, e
cujasfiguramnoeramalirepresentadas,paranoofenderossoldadosqueascarregavamcomf
sobre eles.37
Osescapulriosusadospelossoldadostransformaram-seemmotivodepiadaparaos
neerlandesesqueconsideraramaquelaprticacomoinvenodatolasuperstio.As
autoridadesemItaparicaaindaordenaramquepartedosobjetosfossedevolvidaaos
soldados poltres, enquanto outra parte foi enviada para o Recife e
para a Holanda, sendo entregue aos Estados Gerais, como objetos
curiosos.38 36 Arquivo Nacional dos Pases Baixos, fundo Oude West
Indische Compagnie [Velha Companhia das ndias Ocidentais], nmero de
chamada 1.05.01.01, inventrio 63, documento 33 Carta de
Bartholomeus Cornelis, no navio Loanda, na baia Ponta das Baleias,
para o Presidente e Conselho, de 18 de abril de 1647.
-fundoOudeWestIndischeCompagnie,nmerodechamada1.05.01.01,inventrio63,documento34
Cartadodr.JoostvanTrappen,aliasBanckers,nonavioMiddelburghnabaiaPuntadasBaleias,parao
Presidente e Conselho, de 18 de abril de 1647.
-FundoOudeWestIndischeCompagnie,Nmerodechamada1.05.01.01,inventrio63,documento35
Carta do Presidente e Conselho para os comandantes Beaumont,
Schoppe e Bankert na Ilha de Itaparica, de 27 de maro de 1647. 37
MOREAU, Pierre. Histria das ltimas Lutas Entre Holandeses e
Portugueses (1651). Belo Horizonte/So Paulo: Itatiaia/Edusp, 1979,
p. 72.38 Idem.Significativo nmero de religiosos atuaram nas duas
tentativas de retomar Itaparica.O beneditino frei Manuel da
Silveira, que esteve no Brasil entre fevereiro de 1647 e julho
de1651,serviuaprincipiodeCapellomorde
ServintianamesmaIlha[deItaparica],e de Capello de Comp.as que foro
de socorro a Pern.co (...) E assy na Bahia como em Pern.co se achou
em m.tas occasies de peleja em que (...) animou aos soldados,E os
confessou E
fezconfessaramt.osExortandoosaquepelejass,EfazendoElletob.39 Outro
sacerdote que participou do ataque aItaparica foi o padre Manoel
Rodrigues, que j havia auxiliado o bispo D. Marcos Teixeira no
Arraial do Rio Vermelho em 1624 e foi capturado nailha em 1647.
Rodrigues no delatou a localizao dos soldados luso-braslicos, nem a
disposiodastropasouoscaminhosporondeosneerlandesespoderiamacometerestes
contingentes. Em decorrncia de se negar a colaborar com Schkoppe, o
Padre Rodrigues foi torturado e lhe dero quatro tratos, que
soportou com grande animo, e sofrimento, por no
descobrirosegredodaguerra,doultimodosquaes,ficouquazemorto.40
DeItaparica, Rodrigues foi enviado preso para o Recife e, depois,
remetido para a Holanda, onde chegou doente e com risco de perder a
vida. Por intermdio do embaixador portugus em Amsterd,
FranciscodeSouzaCoutinhoedojesutaAntonioVieira,queestavanasuasegunda
missodiplomticanaHolanda,osacerdoteseguiulivreparaLisboaedepoisretornoua
Bahia. 41 Alm da morte de cerca de 600 luso-braslicos nas duas
tentativas de retomar a ilha, a invaso deItaparicaem 1647 tambm
respresentou uma expressiva mudana na Arte da
GuerraBraslica.PelaprimeiravezasaesmilitaresdosportuguesesnoBrasilno
puderamcontarcomumasignificativaforadeguerreirosindgenas,comoocorreuna
invaso de 1624 e nas lutas para expulsar os franceses do Maranho em
1612.42
OstupinambsprovenientesdealdeiasjesuticasdoRecncavoqueparticiparam
dasbatalhasemItaparica,segundoofolhetoimpressoporSolomomSavry,no
ultrapassavamonmerodecemindivduos,contingente75%inferioraonmerode
39
AHU,Bahia.NoCatalogado.Cx.1,Doc.82.[Lisboa,Posteriora1651];ArquivoPblicodoEstadoda
Bahia, Seo Colonial/Provincial, Livro n o 330 (Patentes), fl. 120v.
[Bahia, 14.06.1650] Patente de Capelo Maior do tero do Mestre de
Campo Andr Vidal na Pessoa do Padre Fr. Manoel da Sylveira.40
AHU,Bahia.Luis.Fons.Cx11.Docs.1311.[Lisboa,24.07.1648]PetiodoPadreManoelRoiz
[Anexo].41 Idem. 42 PARASO, Maria Hilda Baqueiro ; IGLESIAS
MAGALHES, P. A. . Muros do Recncavo: transferncia
daCapitaldaAmricaPortuguesaparaosaldeamentosjesuticos(1624-1625)-DssieHistriaIndgena.
Clio. Srie Histria do Nordeste (UFPE), v. 25-2, p. 9-38, 2007.
guerreirosndigenasqueparticiparamdasbatalhasnainvasoaSalvadorem1624.A
Companhia de Jesus assistiu, ao longo da dcada de 1640, ocontnuo
despovoamento das
aldeiassobsuaadministraonolitoralnortedaBahia.Emfinsdaqueladcada,osdois
principaisdoaldeamentodoEspritoSanto,quejhaviasidoqueimadoporNassauem
163843,chefiaramumarebeliocontraaadministraodosjesutas,sendoqueoslderes
indgenasforampunidoseremetidosparaoRiodeJaneiro.Em1655,Simode
VasconcellosconfirmouquenaBahiaosndioseram,ento,menosemnmerodoque
nas dcadas anteriores. 44 TABELA : Nmero de ndios recrutados em
aldeamentos jesuticos no Recncavo: Ano 1587 162416381647 Total6000
400 (No computados os 60 ndios de Afonso da Cachoeira) 200 (No
computados os 513 do Tero do Camaro e cerca de 80 de Afonso da
Cachoeira) 100
Fontes:SOUSA,GabrielSoaresde.TratadoDescritivodoBrasilem1587.GUERREIRO,
Bartolomeu.J ornada dos Vassalos da Coroa de Portugal
Lisboa,1625,p.32.Ojesutaapontaa
participaode250ndios,aindaemjunho,arregimentadosapenasnasaldeiasdoEspritoSantoe
SoJoo.OnmerodesoldadosdoCamaroem1638foiextradodaquantidadederaes
entregues ao seu tero. VILHASANTI, Pedro Cadena.Relao Diria do
Cerco da Bahia.Lisboa: 1941, p. 133. Para o numro de ndios que
participaram do assaltoa Itaparica: WARE Vertooninge van het
Eylandt Taparica Alzoo het zelve aldaer naer het leven is
geteykent: midtsgaders zyne gelegenthey, in de Bahia de Todos los
Santos, ende distantievan de Stadt St Salvador. Amsterdam: Solomom
Savrij, 1648. Por outro lado, em 1647 os neerlandeses contavamcom o
triplo de ndios, trazidos
donorte,paradefendersuasbasesemItaparica.JohnPrice(JohannesApricius),jovem
predicanteinglsquemissionavanaParaba,acompanhouSchkoppenaPontadeBaleias,
conduzindo 297 potiguares da Paraba.45
ComofracassoduastentativasdereconquistarailhadeItaparicaesempoder
contarcomoapoiodeguerreirostupinambs,oshabitantesdaBahiaspoderiamcontar
43
GALINDO,Marcos;TEENSMA,Benjamin;IGLESIASMAGALHES,Pablo.EpisdiosBaianos:
Documentos para a Histria do Perodo Holands na Bahia.Recife:
NECTAR, 2010, p. 253. 44 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Manuscritos. 7, 1, 31. Doc. 27. Ofcio do conde de Castelo Melhor
aogovernadordoRiodeJaneiro,remetendodoisndiosprincipaisdaAldeiadoEspritoSanto,por
desobedincia aos religiosos da Companhia de Jesus, para que
ficassem a ordem do padre provincial. [Bahia, 28.03.1650].
VASCONCELLOS. Vida do Padre Joam DAlmeida, 1658, fl. 3. 45
IGLESIASMAGALHES,P.A.Apalavraeoimprio:aartedalinguabrasilicaeaconquistado
Maranho. Revista de Historia (USP), v. 165, p. 367-401, 2011, p.
397. com uma fora naval externa capaz de expulsar a esquadra
neerlandesa. Assim, as notcias
datomadadeItaparicaforamenviadasaLisboaporviadojesutaFelipeFranco,que
zarpoupossivelmenteporItapu,alertandoaogovernoportugusqueSchkoppeestava
fortificado na ilha e ameaava Salvador.46 O Governo-Geral e a
monarquia portuguesa, em
conjunto,deliberaramasresoluesfinanceirasnecessriasparaorganizarumaarmada
capazdesocorreraBahiaeexpulsarosneerlandesesdeItaparica.Paraamonarquia
portuguesa, como observou Evaldo Cabral de Mello, Pernambuco
poderia ser sacrificado, mas o caso da Bahia era diferente, pois
punha em risco todo o Brasil. 47
EmLisboa,ojesutaAntonioVieira,educadonoColgiodeSalvador,jhavia
prevenidoaomonarcaquecomatomadadeDunquerquepelosexrcitosdoCardeal
Mazzarinoemoutubrode1646,seusaliadosneerlandesespoderiamvoltaraconcentrar
suasforasnavaisnolitoraldoBrasil,sendoaBahiaumpotencialalvo.Vieiraento
retomaraaideiadeutilizarosrecursosfinanceirosdoscomerciantescristosnovospara
impulsionaraentopoucoeficientemarinhaportuguesaedefenderoBrasildeataques
neerlandeses, plano que j havia sido apresentado pelo jesuta numa
proposta elaborada em
3dejulhode1643.OjesutaAndrdeBarrosafirmouque,antesdefazerestaproposta,
VieiraconsultouSebastioCesardeMenezes,DeputadodoConselhoGeraldoSanto
Ofcio, acerca do seu contedo, que compreendeu a fora das razes e
lhe respondeu que
fizesseaproposta,oquefezcomletradiferenteesemnomeeentregouaoprprio
SebastioCesar,quelevouaomonarca.VieiraafirmouqueoBrasileraosustentodo
comrcio e da alfndega portuguesa, mas que a perda de Angola e a
ruptura comercial com
aBaciadoPrataameaavaacontinuidadedaproduonoBrasil,tornandodeficitriaa
economiadoReino.PortugaleoBrasilnopoderiamficarsortedasarmasdaFrana
contra Castela e das fingidas promessas e embaixadas arranjadas
pelos neerlandeses para
assegurarsuasrecentesconquistas.Parafazervalerseuplanodeangariarasfortunasde
cristonovosejudaizantes,concluuqueseodinheirodoshomensdenaoest
sustentandoasarmasdoshereges,paraquesemeiemeestendamasseitasdeLuteroe
46 VIEIRA, Cartas, Vol. 3,p. 578. 47 MELLO, Evaldo Cabral de. O
Brasil Holands. So Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2010,
cap. 18.
Calvinopelomundo,nomaiorserviodeDeusedaIgrejaquesirvaestemesmo
dinheiro s armas de rei mais catlico? 48
OplanodeVieiraparacaptarrecursoseorganizarumaarmadareveladonuma
carta destinada ao Conde de Ericeira que em Amsterdo se oferecia
por meio de Jernimo
Nunesumholandsmuitopoderosoadarquinzefragatasdetrintapeas,fornecidasde
todonecessrio,epostasemLisboaatmaroavintemilcruzadoscadauma(...)etudo
vinhaaimportnciadetrezentosmilcruzados. 49
Vieiraaindasugeriuaoreiparaformar
duasesquadras,umaparaficarestacionadaemPortugaleaoutraparaenviarBahia.O
dinheiro para essa empresa seria despendido de um tributo de um
tosto ou seis vintns por arroba de acar sobre um carregamento de
quarenta mil caixas do produto. Estas caixas de acar foram
adquiridas a baixo custo e haviam chegado do Brasil poucos dias
antes, sendo
vendidasnoReinoporaltssimospreos.OmonarcamandouqueVieirapusessesuas
ideiasemumpapelparaemseguidaapresent-loaseusministros,quelogoretrucaram
que aquele negcio estava muito cru. Em pouco tempo as notcias da
tomada de Itaparica chegaram a Lisboa via o Padre Felipe Franco e o
rei novamente foi consultar o jesuta, que ironicamente lhe
respondeu: O remdio senhor muito fcil. No disseram os ministros a
V.M.queaquelenegcioeramuitocru?Poisosqueentooacharamcruquecosam-no
agora. 50 D.JooIVconvocouoConselhodeEstadopararepresentarnovamentea
importnciadesocorreraBahia,masarespostaacercadaformaodeumaarmada
continuounegativa.Omonarcavoltounamanhseguinteaprocurarojesutaquelhe
respondera: Senhor, que a um Rei de Portugal ho-de dizer seus
ministros que no h meio para haver trezentos mil cruzados com que
acudir o Brasil, que tudo quanto temos! Ora,
eucomestaroupetaremendadaesperoemDeusquehojehei-dedaraV.M.todaesta
quantia.51
Emseguida,oreligiosocolocouemprticaaestratgiaparaangariaros
recursosnecessriosparamontarumaesquadracapazderechaaropoderionaval
neerlands posto diante da Bahia e redigiu (...) um escrito a Duarte
da Silva, a quem tinha 48
VIEIRAAntonio.PropostafeitaaEl-ReiD.JooIVemqueselherepresentavaomiservelestadodo
reino e a necessidade que tinha de admitir os judeus mercadores que
andavam por diversas partes da Europa. In: Obras Inditas. Lisboa:
J.M.C. Seabra, 1854,Vol. 2, pp. 34 e 44.49 VIEIRA, Cartas, Vol. 3,
pp. 578-581. 50 Idem. 51 VIEIRA, Cartas, Vol. 3 p. 576 a 579.
conhecido mercador na Bahia, representei-lhe a perda do reino e do
comrcio, o aperto e a
necessidadedaFazendaReal,equanto[suamajestade]estimariaqueseusvassaloso
socorressem nessa ocasio com trezentos mil cruzados, que eram
necessrios , dos quais se embolsariam com um tributo de tosto ou
seis vintns em cada arroba de acar do mesmo Brasil.52
Assim,paracolocarapropostaemprtica,AntonioVieiratevequeconvencero
abastado cristo-novo Duarte da Silva de que a conservao doBrasil
era interessanteaos
seusnegciosnoReino.Ocomerciante,noentanto,julgousermuitoonerosoparaele
sozinhoarranjaraquantiasolicitadaparaaarmadadesocorroaItaparica,mas
comprometeu-seemobterumparceiroparaaempresa.Namesmatarde,ocristo-novo
DuartedaSilvaapresentouAntonioRodriguesMarquesaVieira,acertandooemprstimo
assegurado pelo tributo imputado sobre o acar produzido no Brasil.
53
Aps esse emprstimo, o governo considerou no deixar o
financiamento da armada
apenassobosencargosdoscomerciantescristos-novoslisboetas.D.JooIVtransferiu
partedoscustosparaoshomensdenegciodascidadesdeVianaeAveiro,pedindo-lhes
que contribussem e ajudassem por sua parte, com o que puderem a
respeito do cabedal de
cadaum(...)paraempresatantodoservioehonradeDeus.Omonarcaordenouque
governadordoPorto,FernoTelesdeMeneses,fosseaonortedoReinocomprarseisou
maisnaviosdequatrocentasoumaistoneladas.AarmadaseriacomandadaporAntonio
Teles de Menezes, Conde de Vila Pouca de Aguiar, sendo providos e
equipados em sigilo para que as novas deste apresto no cheguem na
Holanda.54
AaparelhagemdaarmadadeVilaPouca,embriodoqueviriaaseraCompanhia
de Comrcio do Brasil (1649), no resultou da iniciativa de um nico
gnio, como indica a
cartadeAntonioVieiraaoCondedeEriceirae,tambm,nofoiunilateralmente
52 Idem. 53 Idem. Biblioteca Nacional de Lisboa, Coleco
Pombalina.n.o 647. Miscellanea, legislao e papis vrios
(1552-1754).fl.73-82.[Lisboa,1647]AssentodosAssentistasparacobraremoemprstimofeitoaS.M.
para mandar a armada ao Brasil.54 Carta de D. Joo IV ao governador
do Porto em 14 de junho de 1647. In: Cartas de El-Rei D. Joo IV
para
diversasautoridadesdoreino/publ.epref.P.M.LaranjoCoelho.Lisboa:AcademiaPortuguesada
Histria, 1940, pp.184-185. Sobre os esforos no Reino para aprestar
a armada de Vila Pouca de Aguiar ver GUEDES, Max Justo.Histria
Naval Brasileira. II Vol, Tomo IA. Rio de Janeiro: Servio de
Documentao Geral da Marinha, 1993,p. 183-198.
organizadaapenascomodinheirodecomerciantesportugueses.55
Ahistoriografiadas
guerrasneerlandesasdesconheceuofatodequeem21demarode1647,desteladodo
Atlntico,oGovernadorAntonioTelesdaSilvaofereceu200milcruzadosaoRei
portugus para financiaro socorro naval necessrio defesa daBahia.
Esse dinheiro seria
alcanadojuntoaosmoradoresdoRecncavobaianoeentregueaFazendaRealem
Portugal. O pagamento dessa quantia seria dividido em quatro
parcelas, pagas em aucares nas primeiras quatro safras que Deos nos
der, o que compreendia o quadrinio entre 1648 e1651.56
Apartirde1648,acidadeseriamobilizadaparasaldaradvidafeitaFazenda
Real. A Cmara deu incio aos lanamentos pblicos, pelos quais a
capital foi dividida em quatro reas que se completavam com as vilas
do Recncavo mais Sergipe del Rey, onde os
lanadoresmunicipaisforam,deportaemporta,arrecadandoodinheirodeacordocoma
profisso e recurso financeiro de cada contribuinte. A organizao da
esquadra para libertar
ItaparicacustoucaroaoshabitantesdaBahiaedeSergipe.Maisoneroso,todavia,seria
permitir uma esquadra inimiga continuar dentro da baa de Todos os
Santos.
NofoisPortugalquecorreuparacolocarseusnaviosnasguasdaBahia.Os
Estados Gerais e a WIC tambm, aprestando uma armada sob comando do
almirante Witte Corneliszoon de Witt que poderia desferir um ataque
definitivo sobre o Recncavo baiano.
AarmadadeWittedeWittpartiuemdireoaoBrasil,masencontrounocabodeFinis
TerrumatempestadequedestroouanauAmsterdam.Atormentaobrigouasoutras
embarcaes a aportarem em La Rochele, inclusive a nau de guerra
Rotterdam. Esta ltima
foiobrigadaaretrocedertantopelomautempocomopelarebeliodossoldadosque
transportava.57
CharlesBoxerafirmouqueoinvernoexcepcionalmenterigorosode1647-1648
garantiu a salvao de Portugal, de Angola e do Brasil Catlico. O
prprio Antonio 55 BOXER, Charles Ralph.PadreAntonio Vieira, S.J and
the Institution of theBrazil Company in 1649.In:
TheHispanicAmericanHistoricalReview.Vol.29,No4(Novembrode1949),p.474-494;SMITH,David
Grant. Old Christian Merchants and the Foundation of the Brazil
Company, 1649. In: The Hispanic American Historical Review. Vol.
54, No 2 (Maio de 1974), p.
256.56ArquivoMunicipaldeSalvador(FundaoGregriodeMattos).ProvisesdoGovernoeSenado,Vol.1
(Livrono125.1).Fls.296V-298V.RegistodoaccentoquesetomousobreofferctaquesefezaSua
Magestade pedindo armada para desallojar o inimigo desta Praa feito
pelos eleitos abaixo nomeados. [Bahia, 21.03.1647].57 VIEIRA,
Cartas, Vol. 1, p.
165.VieiraescreveuaumministrodaCortedeLisboaasseverandoquetudosearmacontra
esta gente, e em tudo peleja Deus ns.58 A armada de Vila Pouca de
Aguiar entrou na Baa de Todos os Santos no Natal de 1647. As
dezoito embarcaes da esquadra de Schkoppe retornara a 13 do mesmo
ms para
oRecifeparaaplacardissensesinternas,oqueevitouoconfrontoentreasduasforas
navais. Jos de Mirales afirma que Schkoppe recebeu um aviso do Alto
Conselho do Recife sobre a expedio da armada portuguesa para a
Bahia e recuou para evitar o confronto. A
marinhaneerlandesanoBrasildecertojnopossuamaiscondiesdesustentarduas
frentesdeguerra,comoreconheciaumpanfletoannimopublicadonaHolanda.59
Estava livre o trnsito na baa de Todos os Santos e no principal
porto do Atlntico sul. A notcia de que Sckhoppe abandonou Itaparica
chegou em Haia no ms de fevereiro seguinte.60
Aps a retirada dos invasores, o governador Telles da Silva
visitou as trincheiras em Itaparica, que descreve como de paos de
limitada grossura com um pequeno foo que no dava hum homem pella
sentura e que em nossas terras com mais confiana podemos estar
dequenotornemaTaparicacomofortequeselhefazconstardequatrobaluartes.
Noutra carta de janeiro de 1648 revela que trabalharo [no forte]
cento e tantos holandeses e perto de cincoenta negros, concluindo
que Schkoppe promete mandar infestar esta barra com naos da
companhia e mais piratas que andam nestes mares. 61 Isso no tardou.
Em maro de 1648 a esquadra portuguesa de Vila Pouca se bateria nas
guas daBaa de Todos os Santoscom umafrota doalmirante Witte
Corneliszoon de
Witt.SobseucomandoestavamosnaviosGysseling,HuysvanNassau,Utrechte
Overyssel.OsgaleesUtrechteHuysvanNassauflanquearamanauNossaSenhorado
Rosrio,sobcomandodefreiPedroCarneirodeAlcaovas,daOrdemMilitardeMalta,
quedecidiubotarfogonopaioldeplvorasacrificandosuatripulao,masdestruindo
completamenteoUtrechtefazendoencalharoHuysvanNassaurestandoapenasvintee
seissobreviventes,naufragadosnaalturadapraiadeCaixaPregos,emItaparica.
62 Foio 58 Idem.BOXER, Charles Ralph.Salvador de S e a Luta pelo
Brasile Angola, 1602-1686. Rio de Janeiro: Companhia Editora
Nacional, 1973, p. 263.59 Oprecht Verhael van de Treffelijke
Victoria, vercreghen op het eylandt Taparica, teghen de Portegysen.
s/l: 1647.60 VIEIRA, Cartas,p. 165.61 Cartas de D. Joo IV ao
Marquez de Niza, 1940, Vol. II, p. 240. 62
InstitutoHistricoeGeogrficoBrasileiro.ColeoDocumentosHolandeses,TomoIV,Fls.134-135v..
Carta de Witte de With em 1 de Abril de 1648; SANTA TERESA, Joo
Jos, O.C. Istoria delle guerre del
penltimoatode25anosdeguerrascontraosneerlandesesemguasdaBaa,vistoque
ainda em 1648 van de Branden atacaria mais um vez o Recncavo
baiano.
AocupaodeItaparicaporSchkoppereveloumuitosobreofuncionamentodo
RecncavobaianoedabaadeTodososSantos.Historicamentefoionicoepisdioem
queaCapitaniadaBahiadependeudasforasmetropolitanasparacontinuarexistindo.
Aquelaoperaomilitardemonstrouqueinterromperocircuitomartimodaregio
comprometiaasobrevivnciadosseushabitantesedasinstituiesaliimplantadas.
Salvadorerao"corao"doBrasil,comobemobservouacartadoAltoConselhoacima
traduzida.EraoRecncavoalimentavaessecorao.Interromperseufuncionamento
representaria o fim do corpo poltico do Estado do Brasil.
regnodelBrasile:accadutetralacoronadiPortogallo,elaRepublicadiOlanda.NellaStamperiadegl
Eredi del Corbelleti. 1698, Vol. 2, p. 130.