OCORRÊNCIA DE METAZOÁRIOS PARASITOS DE INFRAPOPULAÇÕES DAS ESPÉCIES DE PEIXES Conodon nobilis (PISCES, HAEMULIDAE) (LINNAEUS, 1758) E Brycon insignis (PISCES, CHARACIDAE) (STEINDACHNER, 1876) GUILHERME QUINTANILHA FERNANDES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ JUNHO - 2003
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OCORRÊNCIA DE METAZOÁRIOS PARASITOS DE …uenf.br/Uenf/Downloads/PGANIMAL_3897_1164634718.pdf · importantes como animais de estimação (aquarismo) e na pesca esportiva. Os parasitos
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OCORRÊNCIA DE METAZOÁRIOS PARASITOS DE INFRAPOPULAÇÕES DAS ESPÉCIES DE PEIXES Conodon nobilis
GUILHERME QUINTANILHA FERNANDES Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal.
Orientadora: Profa. Maria Angélica Vieira da Costa Pereira
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ JUNHO - 2003
OCORRÊNCIA DE METAZOÁRIOS PARASITOS DE INFRAPOPULAÇÕES DAS ESPÉCIES DE PEIXES Conodon nobilis
GUILHERME QUINTANILHA FERNANDES Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal.
Aprovada em 10 de junho de 2003 Comissão Examinadora:
Prof. Dalton Garcia de Mattos Júnior (Doutor, Parasitologia Animal) - UFF
Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira (Doutor, Parasitologia Animal) - UENF
Profa. Sílvia Regina Ferreira Gonçalves Pereira (Doutora, Microbiologia) - UENF
Profa. Maria Angélica Vieira da Costa Pereira (Doutora, Parasitologia Animal) - UENF (Orientadora)
ii
Dedico este trabalho aos meus pais, Sandra e Joaquim, que através de muito esforço me deram a melhor herança possível, o estudo. Aos meus irmãos, Gustavo e Raphael, que ficaram acordados junto comigo, mesmo sem querer, por várias noites. À minha esposa, amiga e companheira, Daniela, que me ajudou e acompanhou durante toda esta
jornada de trabalho.
iii
AGRADECIMENTOS
À Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e ao
Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), pelo oferecimento do
Curso.
À Fundação Estadual do Norte Fluminense (FENORTE), pela concessão da
bolsa de estudos.
Aos meus pais e meus irmãos, pessoas maravilhosas que sempre se
colocaram a disposição para me ajudar. A minha esposa Daniela, que sempre me
ajudou.
A Professora MARIA ANGÉLICA VIEIRA DA COSTA PEREIRA, minha
orientadora, que aceitou este desafio junto comigo.
Ao Professor DALTON GARCIA DE MATTOS JÚNIOR, da Universidade
Federal Fluminense (UFF), pelas sugestões na elaboração deste trabalho.
Aos Professores SONIA NOGUEIRA, SÍLVIA REGINA FERREIRA
GONÇALVES PEREIRA, EULÓGIO CARLOS QUEIROZ DE CARVALHO, CARLOS
EURICO PIRES FERREIRA TRAVASSOS, FRANSCISCO CARLOS RODRIGUES
DE OLIVEIRA, DALCIO RICARDO ANDRADE, MANUEL VASQUEZ VIDAL
JUNIOR, FREDERICO STRAGIOTTI SILVA, MARCOS RESENDE MATTA, entre
outros professores tão importantes na minha formação moral e acadêmica.
Agradeço aos meus amigos do Curso de Graduação em Medicina
Veterinária, aos colegas do Curso de Pós-graduação em Produção Animal e aos
amigos do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal e do Laboratório de Sanidade
Animal.
iv
Ao amigo GUILHERME SOUZA, coordenador do Projeto Piabanha,
mestrando nesta instituição, pela prestimosa ajuda.
Agradeço a Deus por ter me dado forças para superar obstáculos,
perseverança para continuar nos momentos mais difíceis e sabedoria para tirar
proveito destes momentos.
v
BIOGRAFIA
GUILHERME QUINTANILHA FERNANDES, nasceu em 29 de janeiro de
1974, na cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro.
Terminou o Ensino Fundamental e o Ensino Médio no Colégio Salesiano.
Fez o Curso Técnico de Mecânica na antiga Escola Técnica Federal de
Campos, hoje Centro Educacional Federal Escola Técnica (CEFET).
Iniciou o Curso de Graduação em Medicina Veterinária na Universidade
Estadual do Norte Fluminense (UENF) no ano de 1996, concluindo o Curso em
janeiro de 2001.
Ingressou no Curso de Mestrado em Produção Animal, área de Sanidade
Animal da UENF, em março de 2001, defendendo a tese em 10 de junho de 2003.
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CONTEÚDO
RESUMO .............................................................................................................. viii
ABSTRACT .......................................................................................................... x
FERNANDES, Guilherme Quintanilha, M. S., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; junho de 2003; Ocorrência de metazoários parasitos de infrapopulações das espécies de peixes Conodon nobilis (Pisces, Haemulidae) (Linnaeus, 1758) e Brycon insignis (Pisces, Characidae) (Steindachner, 1876); Professora Orientadora: Maria Angélica Vieira da Costa Pereira; Professor Conselheiro: Dalton Garcia de Mattos Júnior.
Os peixes são utilizados na alimentação humana há vários séculos,
principalmente como fonte de proteínas e lipídeos de alto valor nutritivo, são
importantes como animais de estimação (aquarismo) e na pesca esportiva. Os
parasitos metazoários podem acometer os peixes causando prejuízos à indústria
pesqueira, à saúde do homem e ao meio ambiente, também podem ser utilizados
como indicadores de poluição aquática e de rotas migratórias de algumas espécies
de peixes. No presente trabalho as espécies Roncador (Conodon nobilis Linnaeus,
1758) e Piabanha (Brycon insignis Steindachner, 1876) foram escolhidas como tema
desse estudo. O Roncador é uma espécie comum em toda costa brasileira, e pode
chegar ao tamanho de 33,6 cm e 558 g de peso. Alimenta-se de pequenos peixes e
crustáceos, tendo importância na pesca comercial, na pesca esportiva e no
aquarismo. Já a Piabanha é uma espécie típica do rio Paraíba do Sul, que é pouco
estudada e está ameaçada de extinção. Sua carne é saborosa, apreciada na pesca
esportiva, podendo chegar a 10 kg de peso. Para este estudo foram examinados 60
exemplares de Piabanha e 60 exemplares de Roncador. Em Piabanha foram
encontrados sete nematódeos e devido à prevalência ser menor do que 5,0%, não
haverá discussão sobre esta espécie. Foram encontrados também crustáceos
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copépodes do gênero Lernaea, com prevalência de 31,7%. Já em Roncador foram
encontrados os nematódeos Anisakis sp. e Raphidascaris sp., com prevalência de
16,7% e 5,0%, respectivamente. Também foi encontrada uma espécie de
trematódeo do gênero Stherrurus, com prevalência de 53,3%. Devido aos problemas
causados pela Lernaea sp. em peixes, a presença desses crustáceos parasitos
nesses exemplares coletados de cativeiro pode causar prejuízos na criação. Outro
possível problema é que esses alevinos são soltos no rio Paraíba do Sul, e este
parasito que é comum em cativeiro, pode vir a infectar peixes de ambiente natural.
FERNANDES, Guilherme Quintanilha, M. S., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; june of 2003; Occurrence of metazoan parasites of infrapopulations of species of fishes Conodon nobilis (Pisces, Haemulidae) (Linnaeus, 1758) and Brycon insignis (Pisces, Characidae) (Steindachner, 1876); Orientation: Maria Angélica Vieira da Costa Pereira; Counselor: Dalton Garcia de Mattos Júnior.
Fish are used in human nourishment for several centuries, with protein and
lipid source of high nutritional value. Fishes are importants with pets (aquarism) and
now in esportive fishery. Metazoan parasites can attack fishes do arm to fishery
industry, to human health and to environment. This parasites can be used with index
of environment polution and migratories rotes of same species of fishes. In this work
were utilised the species “Roncador” (Conodon nobilis Linnaeus, 1758) and
“Piabanha” (Brycon insignis Steindachner, 1876). Roncador is a specie comon in all
brazilian coast, and can be 33.6 cm of maximum length and 558 g of maximum
weigth. This specie feed little fishes and crustaceans, have importance in comercial
fishery, esportive fishery and aquarism. Piabanha is an endemic specie of Paraíba do
Sul rover, who is poor studied and threatened of extinction. This specie have savory
meat, are appreciated in sportive fishery, and can weighing 10 kg. For this study
were examined 60 samples of Piabanha and 60 samples of Roncador. It was found
seven species of nematodes and because the prevalence than 5.0%, won’t had
discussion about this species. Was founded crustacean copepod of the gender
Lernaea, with prevalence of 31.7%. It was found the nematodes Anisakis sp. and
Raphidascaris sp., with prevalence of 16.7% and 5.0% respectively. Also, we found
one trematode specie of the gender Stherrurus, with prevalence of 53.3%. Due the
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troubles caused by Lernaea sp. in fishes, the presence of this crustacean parasite in
this collected samples will be cause upset in this cultivate. Another possible trouble is
that this alevines are free in the river Paraíba do Sul, and this parasite who is
common in slavery will be infect fishes in the environment.
1 Curso de Pós-Graduação em Produção Animal, Laboratório de Sanidade Animal (LSA), Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), Universidade Federal do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Avenida Alberto Lamego, 2000, Horto, 28.015-620, Campos dos Goytacazes, RJ. 2 LSA-CCTA/UENF. E-mail: [email protected] 3 Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública (DESP), Instituto de Veterinária (IV), Universidade Federal Fluminense (UFF).
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INTRODUÇÃO
A espécie Conodon nobilis Linnaeus, 1758, vulgarmente conhecida como Roncador,
distribui-se do Texas ao sul do Brasil (AQUÁRIO GUARUJÁ, 2002; FISHBASE, 2002),
sendo bastante comum no país, principalmente na região Nordeste (BARRETO et al., 2000).
O Roncador atinge o comprimento máximo de 336 mm e 588 g de peso. Habita as águas das
baias, ao longo das praias, canais e estuários, desde dois metros até cerca de 50 metros de
profundidade, sob areia ou cascalho. São encontrados em grandes cardumes e se alimentam
tanto de dia como de noite de invertebrados bênticos e pequenos peixes. São bastante
apreciáveis na pesca esportiva, porém sua carne não tem muito valor comercial, apesar de ser
muito apreciado como tira-gosto (AQUÁRIO GUARUJÁ, 2002).
MATERIAL E MÉTODOS
Os exemplares de C. nobilis foram provenientes de ambiente natural e coletados
através de pesca com molinetes, na foz do Rio Paraíba do Sul, localizado no pontal da praia
de Atafona, São João da Barra, RJ. Foram catalogados 60 exemplares no período de agosto a
dezembro de 2002.
Segundo MARCOGLIESE (2002), um número de 25 a 30 peixes permite a detecção
de parasitos se a prevalência destes for de 10% ou mais. No presente trabalho foram utilizados
60 exemplares.
Os exemplares foram pescados e eutanasiados logo após sua coleta, com uma incisão
dorsal na região posterior à cabeça, próximo à linha de término das brânquias, acondicionados
em um isopor contendo gelo e transportados para o Laboratório de Sanidade Animal (LSA),
setor de Parasitologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos
Goytacazes, RJ.
Foram tomadas as medidas de comprimento total (desde o início da cabeça até ao final
da nadadeira caudal) em centímetros, e o peso, que foi tomado dos exemplares de Roncador,
foi mensurado em gramas. Após, a espécie foi devidamente identificada.
Os dados referentes a cada exemplar foram anotados em um formulário, que continha
o nome da espécie (vulgar e científico), data da pesca, o número referente ao exemplar, o peso
total e comprimento padrão, o sexo e, nos exemplares contendo algum parasito, foi notificado
em que órgão este foi encontrado e feita uma identificação prévia (família, gênero ou espécie
do parasito).
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A procura por parasitos nos exemplares começou pelo tegumento, fazendo-se uma
inspeção macroscópica. Foram visualizados os olhos, as nadadeiras (caudal, peitoral, dorsal,
ventral, etc), a boca, os opérculos e toda a extensão corpórea do peixe. Os parasitos
encontrados foram retirados e examinados em um estereomicroscópio com aumento de 20
vezes. Após, foram removidos os opérculos e retiradas as brânquias. As brânquias foram
colocadas em um vidro devidamente identificado (número do exemplar e espécie em questão)
contendo formol a 10%. Foi feita uma lavagem da cavidade branquial e o material resultante
da lavagem foi filtrado em uma peneira de análise granulométrica, com abertura de malha de
106 µm. Esse material filtrado foi adicionado ao vidro contendo as brânquias. O material foi
filtrado 48/72 horas após e o material resultante foi colocado em placa de Petri e examinado
ao estereomicroscópio.
As narinas foram abertas com o auxílio de uma tesoura de ponta fina e as cavidades
foram lavadas com formalina 1:4000 ou soro fisiológico a 0,6%, e o material resultante foi
examinado da mesma forma descrita acima.
Depois, foi feita a abertura da cavidade visceral e a exposição dos respectivos órgãos
(fígado, intestino, estômago, vesícula biliar, baço, bexiga natatória e brânquias). Isso foi feito
através de uma incisão ao longo da linha média ventral, começando na região do ânus e
prolongando-se até a região anterior, próximo à cabeça. Foram rebatidas as paredes laterais da
cavidade visceral e expostos os órgãos internos, que foram primeiramente examinados in situ,
onde se buscou verificar a presença de parasitos localizados ou aderidos à superfície ou na
própria cavidade visceral.
Estes órgãos foram retirados e individualizados em placas de Petri com soro
fisiológico a 0,6%. Em cada um deles foi feito primeiro um exame macroscópio. A seguir,
foram dissecados e lavados e o material resultante da lavagem foi filtrado em uma peneira
para análise granulométrica, com abertura de malha de 106 µm. No que se refere ao tubo
digestivo (estômago e intestino) foi feita ainda uma análise do seu conteúdo. Para isto, foi
feito um corte longitudinal e o material foi filtrado seguindo a metodologia acima. O material
resultante da filtragem de cada órgão foi colocado em placas de Petri individualizadas e
examinado ao estereomicroscópio.
Os nematódeos encontrados foram fixados em ácido formol acético (AFA),
clarificados com ácido acético em lâmina e cobertos com lamínula para identificação primária
ao microscópio eletrônico. Posteriormente, para montagem das lâminas, passaram por uma
bateria de álcoois (de 70 a 100%), ficando 20 minutos em cada fase. Em seguida, foram
colocados em uma lâmina, cobertos com lactofenol e recobertos com lamínula. Para
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montagem definitiva das lâminas, foi retirado o lactofenol e o parasito foi coberto por
bálsamo do Canadá.
Os trematódeos foram fixados em AFA e transferidos para placas de Petri contendo
água, onde permaneceram por 10 minutos para lavagem. Após, foram colocados em outra
placa de Petri contendo Carmin até adquirir coloração, controlando-se a reação em
estereomicroscópio. A seguir, foram colocados em álcool 70% por 10 minutos para se retirar
o excesso de corante. Para diferenciação, foram colocados em álcool clorídrico 0,5 a 1%.
Quando houve descoramento excessivo, o parasito voltou ao álcool 70%. Em seguida os
trematódeos foram desidratados em uma bateria de álcoois, ficando 10 minutos em cada fase
da bateria (70, 80, 90 e 95%). Os trematódeos com boa coloração foram colocados em
creosoto. Os parasitos que eventualmente ficaram excessivamente corados foram para o
álcool clorídrico até a clarificação ideal. Depois do creosoto, os parasitos foram lavados em
álcool 70% por alguns segundos e secos em papel filtro. Em seguida, os parasitos foram
diafanizados em creosoto de Faia durante, pelo menos, 24 horas, e depois foram retirados do
creosoto e secos em papel filtro, colocados em lâmina, cobertos com Bálsamo do Canadá e
recobertos com lamínula.
RESULTADOS
Foram encontrados 41 nematódeos, sendo que 31 eram Anisakis sp., sete
Raphidascaris sp., dois Cucullanus sp. e um Spirunidae. Essa quantidade de nematódeos foi
encontrada em 10 peixes.
Encontrou-se 63 trematódeos, todos do gênero Stherrurus, em 30 peixes examinados.
A localização de 40 dos 41 nematódeos foi o intestino. O único encontrado em outro
local foi o Spirunidae, que foi achado nas brânquias. Em relação aos trematódeos, 33 foram
encontrados nas brânquias, 22 no estômago, cinco no intestino e três na cavidade visceral.
Foi achado também um crustáceo copépode nas brânquias, do gênero Lernantrhops. A
prevalência do Anisakis sp. foi de 16,7%, enquanto a do Raphidascaris sp. foi de 5%. Já a do
trematódeo Stherrurus sp. foi de 53,3%. Os outros parasitos não tinham prevalência
significante.
A Tabela 1 mostra a distribuição dos parasitos nos órgãos de C. nobilis. As Tabelas 2 e
3 mostram a distribuição destes parasitos em relação ao tamanho e ao sexo dos
espécimes.
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DISCUSSÃO
Nematódeos anisakídeos são parasitos que acometem o homem, causando a zoonose
conhecida como Anisakíase. Esta doença é causada pela ingestão das larvas destes parasitos.
Os seus sintomas podem ser gastrointestinais, alérgicos ou por contato - doenças ocupacionais
(AUDICANA et al., 2002).
Anisakídeos já foram achados em inúmeras espécies de peixes. VALTONEN et al.
(1993) encontraram larvas de Raphidascaris sp. em Rutilus rutilus, ASPHOLM (1995),
Anisakis simplex em Gadus morhua, ISMEN e BINGEL (1999) Hysterophilacium sp. em
Merlangius merlangus, e KØIE (1999) A. simplex e Raphidascaris acus em Clatichthys
flesus.
No Brasil, REGO e SANTOS (1983) encontraram anisakídeos em Scomber japonicus,
BARROS e AMATO (1993) larvas de anisakídeos em Trichiurus lepturus, BARROS (1994)
larvas de Contracaecum sp. em Pagrus pagrus, SÃO CLEMENTE et al. (1995) larvas de
Contracaecum sp. em Balistes vetula, BARROS e CAVALCANTI (2000) larvas de
Contracaecum sp. e Anisakis sp. em Pagrus pagrus e Coryphaena hippurus, e SILVA e SÃO
CLEMENTE (2001) larvas de Contracaecum sp. em filés de Lutjanus synagris.
Quanto ao trematódeo encontrado, o Stherrurus sp., não foi achado nenhum trabalho
citando em que espécie de peixe ele já foi encontrado, ou qual tipo de lesão provoca no
hospedeiro.
Sobre a espécie de peixe C. nobilis, não foi encontrado nenhum trabalho anterior para
que se pudesse comparar com os resultados encontrados.
CONCLUSÃO
A presença de anisakídeos em C. nobilis é um achado preocupante, pois o A. simplex é
o agente causal da Anisakíase, zoonose endêmica no Japão, que é transmitida pela ingestão de
peixe cru contendo as toxinas deste parasito, podendo levar o homem à morte em 24 a 48
horas por choque anafilático. No Brasil, esta zoonose é pouco conhecida e estudada, não
havendo dados na literatura nacional referente ao parasitismo desta espécie de peixe. Desta
forma, este estudo inicia uma linha de pesquisa que visa descobrir: a biologia da reação
parasito-hospedeiro, formas de controle deste parasito em criatórios, o tempo de ação desta
toxina e formas de neutralização para liberação do peixe infectado para consumo humano. O
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campo de pesquisa nesta área é vasto, necessitando de um conjunto multidisciplinar de
profissionais: médicos veterinários, médicos, farmacêuticos e biólogos.
REGO, A. A.; SANTOS, C. P. Helmintofauna de cavalas, Scomber japonicus Houtt., do Rio
de Janeiro. Memória do Instituto Oswaldo Cruz, v. 78, p. 443-448, 1983.
SÃO CLEMENTE, S. C. de; LIMA, F. C. de; UCHOA, C. M. A. Parasitos de Balistes vetula
(L.) e sua importância na inspeção do pescado. Revista Brasileira de Ciência Veterinária,
v. 2, n. 2, p. 39-41, 1995.
SILVA, C. M. da; SÃO CLEMENTE, S. C. de. Nematóides da família Anisakidae e cestóides
da ordem Trypanoryncha em filé de Dourado (Coryphaena hippurus) e Aricó (Lutjanus
synagris) e sua importância na inspeção de pescado. Revista Higiene Alimentar, v. 15,
n. 80/81, p. 75-79, 2001.
VALTONEN, E. T.; HAAPARANTA, A.; HOFFMANN, R. W. Occurrence and histological
response of Raphidascaris acus (Nematoda: Ascaridoida) in Roach from four lakes differing
in water quality. International Journal for Parasitology, v. 24, n. 2, p. 197-206, 1993.
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Tabela 1. Distribuição dos parasitos nos órgãos dos exemplares de Conodon nobilis.
Órgãos
Parasitos Brânquias Estômago Intestino
Cavidade
visceral
Total
Anisakis sp. 0 0 31 0 31
Raphidascaris sp. 0 0 7 0 7
Cucullanus sp. 0 0 2 0 2
Spirunidae 1 0 0 0 1
Stherrurus sp. 33 22 5 3 63
Lernantrhops sp. 1 0 0 0 1
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Tabela 2. Distribuição dos parasitos nos exemplares de Conodon nobilis em relação ao
comprimento destes peixes, com intervalo de classe de 2,0 cm de comprimento (n = número
de exemplares na classe).
Comprimento dos peixes
Parasitos
14,0-16,0 cm
n = 15
16,1-18,0 cm
n = 26
18,1-20,0 cm
n = 6
20,1-22,0 cm
n = 4
22,1-24,0 cm
n = 9
Total
Anisakis sp. 5 15 3 0 8 31
Raphidascaris sp. 2 4 1 0 0 7
Cucullanus sp. 0 0 2 0 0 2
Spirunidae 0 0 0 0 1 1
Stherrurus sp. 18 24 4 9 8 63
Lernantrhops sp. 0 0 0 0 1 1
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Tabela 3. Distribuição dos parasitos em relação ao sexo dos exemplares de Conodon nobilis.
Sexo Parasitos
Fêmeas Machos Indefinido* Total
Anisakis sp. 20 6 5 31
Raphidascaris sp. 5 2 0 7
Cucullanus sp. 0 0 2 2
Spirunidae 0 0 1 1
Stherrurus sp. 22 24 17 63
Lernantrhops sp. 0 1 0 1
* Indefinido foram os espécimes que ainda não estavam maduros sexualmente, ou seja, os órgãos sexuais ainda não estavam completamente desenvolvidos para serem diferenciados.
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OCORRÊNCIA DE METAZÓARIOS EM PIABANHA (Brycon insignis
STEINDACHNER, 1876) ORIGINÁRIAS DE CATIVEIRO NA REGIÃO NORTE
FLUMINENSE, RJ
OCORRÊNCIA DE METAZÓARIOS EM PIABANHA (Brycon insignis
STEINDACHNER, 1876) ORIGINÁRIAS DE CATIVEIRO NA REGIÃO NORTE
FLUMINENSE, RJ
Guilherme Quintanilha Fernandes*, Maria Angélica Vieira da Costa Pereira** & Guilherme
Souza*
RESUMO
A Piabanha é um peixe da família Caracidae e do gênero Brycon, o mesmo da
matrinxã, da piraputanga e de outras 60 espécies. Foi feito o primeiro registro de metazoários
nesta espécie que é nativa do rio Paraíba do Sul e está ameaçada de extinção. Foram
analisados 60 exemplares de Brycon insignis (Steindachner, 1876) e encontrados sete
nematódeos, que devido à prevalência ser menor do que 5,0%, não haverá discussão sobre estas
espécies. Foram encontrados também crustáceos copépodes do gênero Lernaea, com
prevalência de 31,7%. Devido aos problemas causados pela Lernaea sp. em peixes, a presença
desses crustáceos parasitos nos exemplares coletados de cativeiro causam prejuízos nesta
criação. Outro problema é que esses alevinos são soltos no rio Paraíba do Sul, e este parasito,
que é comum em cativeiro, pode vir a infectar peixes de ambiente natural.
* Curso de Pós-Graduação em Produção Animal, Laboratório de Sanidade Animal (LSA), Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), Universidade Federal do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Avenida Alberto Lamego, 2000, Horto, 28.015-620, Campos dos Goytacazes, RJ. ** LSA-CCTA/UENF. E-mail: [email protected]
SANTOS, E. (ed.). Peixes de água doce (vida e costumes dos peixes do Brasil). 4. ed. Rio de
Janeiro: Editora Itatiaia Ltda, 1987.
SIBINELLI, V. Um mutirão pró-piabanha. Disponível em: <http://www.terradagente.
com.br>. Acesso em: 15 abr. 2003.
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Tabela 1. Distribuição dos parasitos nos órgãos dos exemplares de Brycon
insignis.
Órgãos Parasitos
Brânquias Estômago Intestino Corpo Total
Lernaea sp. 3 0 0 32 35
Procamallanus sp. 0 2 5 0 7
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Tabela 2. Distribuição dos parasitos nos exemplares de Brycon insignis em relação ao
comprimento destes peixes, com intervalo de classe de 10,0 cm de comprimento (n = número
de exemplares na classe).
Comprimento dos peixes
Parasitos
15,0-25,0 cm
n = 53
25,1-35,0 cm
n = 3
35,1-45,0 cm
n = 4
Total
Lernaea sp. 23 5 7 35
Procamallanus sp. 3 4 0 7
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Tabela 3. Distribuição dos parasitos em relação ao sexo dos exemplares de Brycon insignis.
Sexo Parasitos
Fêmeas Machos Indefinido* Total
Lernaea sp. 10 0 25 35
Procamallanus sp. 4 0 3 7
* Indefinido foram os espécimes que ainda não estavam maduros sexualmente, ou seja, os órgãos sexuais ainda não estavam completamente desenvolvidos para serem diferenciados.
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5. CONCLUSÕES GERAIS
A Ictioparasitologia é um estudo novo no Brasil, um país com vasta costa
litorânea e uma densa bacia fluvial, conseqüentemente um potencial de pesca
imensurável. Patologias de peixes ainda é um campo pouco explorado por
profissionais médicos veterinários, passando quase que desapercebido em
currículos de graduação e pós-graduação. O presente trabalho contribui para o
conhecimento do estudo ictioparasitológico de peixes de água doce do Rio Paraíba
do Sul e água salgada da bacia de Campos dos Goytacazes, regiões ainda pouco
exploradas e com um vasto campo de pesquisas.
Os trabalhos aqui apresentados são praticamente inéditos na literatura
nacional, quiçá na internacional. São pontos de partida para futuros estudos
ictioparasitológicos de grande importância para a economia, tendo em vista que o
pescado é um alimento de alto valor nutritivo e a pesca uma atividade significativa do
setor primário de produção com tendências a exportação, trazendo divisas para o