O XVII CONGRESSO - LADO HUMANO E D I T O R I A L Não podemos iniciar este editorial sem dedicar algumas linhas, prestando homenagem póstuma, ao Dr. Luis Galaggi, amigo e colega profissional que nos deixou recentemente. Químico Têxtil da década de 1940, foi sempre um grande exemplo e paradigma de profissional competente. Dedicado exclusivamente à química têxtil de alta performance, nunca deixou de prestar atenção ao lado humano, no cumprimento de suas metas, encontrando sempre palavras encorajadoras nos momentos difíceis. Vinha ocupando, há mais de três décadas, a direção técnica da Estamparia e Tinturaria Salete, empresa do grupo Rosset. Para o amigo que se foi, as nossas preces. Exportação e qualidade são os temas do momento para a nossa indústria têxtil. Neste mundo cada vez mais competitivo, a cada dia aparecem novas ferramentas para fazer mais, melhor ou novo, em qualquer ramo. É, portanto, o momento mais do que oportuno para ressaltar a importância do lado humano da qualidade, pois, por mais moderna que seja uma planta fabril, a conformidade dos produtos depende da performance individual de muitas pessoas. Refletindo um pouco, veremos que um produto, desde o início (seja no fio, no monômero ou molécula de um produto químico ou têxtil) até a expedição, passa por muitas intervenções humanas, onde a qualidade final será a soma de acertos e erros no desempenho de cada indivíduo envolvido no processo. Porque esta referência? Simplesmente para dar sentido a tudo que nós, da ABQCT e FLAQT, temos feito por este Congresso que se aproxima. São muitas horas de trabalho, de muitos que aderiram a essa empreitada de responsabi- lidade de nossa Associação. Tem este trabalho em fase de conclusão, desde o início, uma única preocupação: O alto conteúdo científico e tecnológico, para transformar-se em real oportunidade de valorização do lado humano da qualidade. Está ai o grande sentido deste Congresso: criar oportunidades para pessoas que querem e precisam se valorizar, agregando conhecimentos aos já existentes, a custo baixo se comparado a outros eventos similares, graças às empresas e pessoas que, movidas pelos mesmos ideais, já se engajaram ou ainda estão se engajando neste evento. Gratificante está sendo trabalhar com uma equipe coesa e aguerrida, tanto nas reuniões como nas atividades resultantes delas. As Diretorias da ABQCT, da FLAQT e Comissão Organizadora, juntas, procuram dar o melhor de cada uma, e, consagrando a sinergia reinante entre a Federação e a Associação Brasileira, excepcionalmente este editorial leva dupla assinatura. Bom Congresso para todos. Gastão Leônidas de Camargo Antonio Ajudarte Lopes Filho Presidente da FLAQT Presidente da ABQCT
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O XVII CONGRESSO - LADO HUMANO · 2019. 5. 27. · O XVII CONGRESSO - LADO HUMANO EDIT ORIAL Não podemos iniciar este editorial sem dedicar algumas linhas, prestando homenagem póstuma,
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O XVII CONGRESSO - LADO HUMANO
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Não podemos iniciar este editorial sem dedicar algumas linhas, prestando homenagempóstuma, ao Dr. Luis Galaggi, amigo e colega profissional que nos deixou recentemente.
Químico Têxtil da década de 1940, foi sempre um grande exemplo e paradigma deprofissional competente. Dedicado exclusivamente à química têxtil de alta performance, nuncadeixou de prestar atenção ao lado humano, no cumprimento de suas metas, encontrandosempre palavras encorajadoras nos momentos difíceis. Vinha ocupando, há mais de trêsdécadas, a direção técnica da Estamparia e Tinturaria Salete, empresa do grupo Rosset.
Para o amigo que se foi, as nossas preces.Exportação e qualidade são os temas do momento para a nossa indústria têxtil. Neste
mundo cada vez mais competitivo, a cada dia aparecem novas ferramentas para fazer mais,melhor ou novo, em qualquer ramo. É, portanto, o momento mais do que oportuno pararessaltar a importância do lado humano da qualidade, pois, por mais moderna que seja umaplanta fabril, a conformidade dos produtos depende da performance individual de muitaspessoas.
Refletindo um pouco, veremos que um produto, desde o início (seja no fio, no monômero oumolécula de um produto químico ou têxtil) até a expedição, passa por muitas intervençõeshumanas, onde a qualidade final será a soma de acertos e erros no desempenho de cadaindivíduo envolvido no processo.
Porque esta referência? Simplesmente para dar sentido a tudo que nós, da ABQCT eFLAQT, temos feito por este Congresso que se aproxima.
São muitas horas de trabalho, de muitos que aderiram a essa empreitada de responsabi-lidade de nossa Associação.
Tem este trabalho em fase de conclusão, desde o início, uma única preocupação: O altoconteúdo científico e tecnológico, para transformar-se em real oportunidade de valorização dolado humano da qualidade.
Está ai o grande sentido deste Congresso: criar oportunidades para pessoas que quereme precisam se valorizar, agregando conhecimentos aos já existentes, a custo baixo secomparado a outros eventos similares, graças às empresas e pessoas que, movidas pelosmesmos ideais, já se engajaram ou ainda estão se engajando neste evento.
Gratificante está sendo trabalhar com uma equipe coesa e aguerrida, tanto nas reuniõescomo nas atividades resultantes delas.
As Diretorias da ABQCT, da FLAQT e Comissão Organizadora, juntas, procuram dar omelhor de cada uma, e, consagrando a sinergia reinante entre a Federação e a AssociaçãoBrasileira, excepcionalmente este editorial leva dupla assinatura.
Bom Congresso para todos.
Gastão Leônidas de Camargo Antonio Ajudarte Lopes FilhoPresidente da FLAQT Presidente da ABQCT
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUÍMICOSE COLORISTAS TÊXTEIS
Membro titular FLAQT
AATCC Corporate Member
site: www.abqct.com.br
DIRETORIA NACIONAL
Presidente : Antônio Ajudarte Lopes FilhoVice-Presidente : José Clarindo de Macedo1º Secretário : Calil Hafez Neto2º Secretário : Haroldo Castanho Pedro1º Tesoureiro : Agostinho de Souza Pacheco2º Tesoureiro : Tiago J. FonsecaDiretor Técnico : Frits V. Herbold
Núcleo Santa Catarina
Coordenador Geral : Carlos Eduardo E. Ferreira AmaralVice-Coordenador : Clovis RiffelSecretário: Wilson França de Oliveira FilhoTesoureiro : Gilmar Jadir BressaniniSuplente : Lourival Schütz Junior
Núcleo Rio de Janeiro
Coordenador Geral : Francisco José FontesVice-Coordenador : Francisco Romano PereiraSecretário : Ricardo Gomes FernandesTesoureiro : Emanuel de Andrade SantanaSuplente : Antonio Wilson Coelho
Núcleo Rio Grande do Sul
Coordenador Geral : Clóvis Franco EliVice-Coordenador : Eugênio José WitriwSecretária : Maria Julieta E. BiermannTesoureiro : José Ariberto JaegerSuplente : João Alfredo Bloedow
CORPO REVISOR
A revista Química Têxtil conta com uma equipe técnicapara revisar os artigos que são publicados. Os autoresdevem enviar seus artigos para publicação com pelomenos 3 meses de antecedência. A equipe é formadapelos seguintes profissionais:
Abrão Jorge Abrahão IPT Antônio Ajudarte Lopes Filho Rosset Ivonete Oliveira Barcellos FURB Luiz Cláudio R. de Almeida SENAI/CETIQT Úrsula Axt Martinelli FURB Vidal Salem VS Consultoria
EXPEDIENTE
Química Têxtil é uma publicação da Associação Brasilei-ra de Químicos e Coloristas Têxteis. Os artigos aquipublicados são de inteira responsabilidade dos autores.Periodicidade : Trimestral (mar./ jun./ set./ dez.)
Produção Editorial : Evolução ComunicaçõesImpressão : Ipsis Gráfica
Administração e Depto. Comercial: ABQCTC.G.C. 48.769.327/0001-59 - Inscr. Est. isentoPraça Flor de Linho, 44 - Alphaville06453-000 Barueri SP - Tel. (11) 4195.4931Fax (11)4191.9774 - e-mail: [email protected]
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CORRESPONDÊNCIA
Por gentileza vossa, recebo a vossa revista em casa desde o nº70 econtinuo a achar que é a melhor publicação técnica da área têxtil emportuguês; em Portugal não temos nada que se compare. Atualmente trabalhonuma empresa em que sou o responsável técnico das seções de tinturaria eacabamentos e como tal tenho imenso interesse na vossa revista
Estou atualmente a iniciar um trabalho (em produção) sobre preparaçãoenzimática ( "bioscouring" e desencolagem ) de telas e malhas em jiggers, emjet e por pad-batch. Por isso, gostaria que me enviassem (se possível) tudo oque tiverem sobre este tipo de processo. Tenho também interesse em outrosprocessos têxteis enzimáticos ( a utilização de amilases, catalases e celulasesjá são relativamente comuns entre nós ).
QT entrevista sr. Gastão L. Camargo sobre o Congresso ................... 5
Indústria têxtil perde um grande colaborador ..................................... 8
Tendência ecológica - o pacote de baixo impacto ecológico ambiental(Agrício de Castro) ........................................................................................... 9
Tolerância de cor na indústria têxtil(David M. Jordam) ..............................................................................................16
Maiô - 100 anos de praia ........................................................................... 30
Os defeitos do tingimento - uma visão geral(Javier Sánchez e Luis Sánchez Martin) ......................................................... 32
Modificação da estrutura fina do poliéster no tingimento em altatemperatura(J. Gacén, D. Cayuela, J. Maillo e I. Gacén) ..................................................... 44
Descrude do algodão com pectinasas, proteasas e lipasas(Johanna Buchert e outros) ............................................................................ 62
Acabamento têxtil como fator de diferenciação .............................. 72
Leônidas de Camargo, Presidente da FLAQT, para falar
sobre o XVII Congresso Latino Americano de Química
Têxtil, que acontece em São Paulo de 4 a 7 de agosto. A
seguir transcrevemos na integra a entrevista concedida:
QT: Estamos nos aproximando da realização desse
grande evento. O senhor poderia nos falar alguma coisa
sobre as emoções que isso lhe desperta?
Gastão: São muitas e variadas: Ansiedade para que tudo
saia próximo da perfeição, expectativa de rever tantos
amigos, satisfação de estar tentando contribuir para o
aprimoramento técnico dos químicos têxteis Latino-ame-
ricanos e é claro um certo nervosismo, pois o dia D se
aproxima, cada vez, com maior velocidade.
QT: O que o senhor nos diz sobre o conteúdo do Con-
gresso?
Gastão: Esse será sem dúvida o ponto alto, e disso
estamos bastante orgulhosos. A equipe liderada pelo Frits
– Diretor Técnico da ABQCT e do Congresso, e todos
nós, mesmo que em menor escala, não medimos esforços
para trazer o que poderíamos encontrar de melhor do ponto
técnico e cientifico. Para se ter uma idéia, para 36 Confe-
rências previstas tivemos 86 propostas de participação.
A escolha final está sendo difícil, porém, com resultados
que, estou seguro, agradarão a todos os participantes.
QT: Que me diz da participação que se espera?
Gastão: Nesse ponto estamos bastante otimistas. A
ABQCT, organizadora do Congresso, através do Presi-
dente Sr. Antonio Ajudarte Lopes Filho e de toda a Di-
retoria, somando ao trabalho da Comissão Organizadora,
está trabalhando intensamente em todos os sentidos com
afinco. Os mais de dois mil associados da ABQCT es-
tão sendo incentivados para fazer logo suas inscrições.
Os industriais têxteis, tanto no Brasil como nos paí-
ses filiados à FLAQT, têm mostrado boa vontade não
só de inscrever seus técnicos como o de facilitar a vinda
deles para São Paulo, em agosto próximo.
As Associações, tanto patronais como as filiadas à
FLAQT, têm se empenhado na divulgação e incentivo.
Nosso patrono Dr. Paulo Skaf – Presidente da ABIT,
com seu alto tino de organização empresarial, não tem
medido esforços no sentido de propiciar facilidades para
o nosso trabalho. Estará inclusive promovendo em pa-
ralelo um encontro das “ABITS” Latino-Americanas
para tratar de interesses comuns.
No Chile e na Argentina, que visitamos há poucos
dias, encontramos empenho e entusiasmo para que as
Delegações daqueles países irmãos sejam numerosas e
bem representativas. Dentro de poucos dias estaremos
visitando as Associações dos outros países filiados à
FLAQT, com o objetivo de divulgar, explanar e também
ouvir sobre o nosso Congresso.
QT: O senhor me falava sobre algo no sentido pedagó-
gico. O que seria?
CongressoQuímica Têxtiln° 75/jun.04
Química Têxtil entrevista
sr. Gastão Leônidas de Camargo
sobre o Congresso
5
Gastão: Verdade. Veja, para quem é feito o Congresso?
Claro que para todos os técnicos e pessoas ligadas à
Química Têxtil. O apetite maior, porém, creio que será
dos jovens técnicos que, pouco a pouco, irão substituir
a nós, veteranos, nos postos chave das empresas. Estes
jovens naturalmente estarão ainda mais ávidos no afã
de ampliar seus conhecimentos. Assim, em reuniões pa-
ralelas às Conferências, teremos troca de idéias entre
mentores de Universidades e Escolas Técnicas, para o
aprimoramento dos cursos ministrados.
Também com subvenção conseguida, a FLAQT estará
patrocinando anualmente a um técnico de cada país filiado,
cursos de aperfeiçoamento na Universidade de Catalunha
na Espanha. As regras para a escolha do agraciado de cada
país, estarão sendo discutidas e definidas pala Comissão
de Estatutos e Regulamento durante o Congresso.
QT: Não queremos tomar muito o seu tempo; para fi-
nalizar, o senhor me dizia alguma coisa sobre coinci-
dências felizes de datas?
Gastão: Realmente, se não tivéssemos nada a comemo-
rar, e temos muito pela excelência do Congresso, come-
moraríamos coincidências interessantes e felizes:
· Em 1954: Fundação da AAQCT – Associação Ar-
gentina;
· Em 1964: Fundação da FLAQT;
· Em 1974: Fundação da ABQCT – Associação Brasileira.
A cada década, portanto, acontecimentos importan-
tes para Brasil, Argentina e toda América Latina. Ainda
na década de 60, praticamente todas as Associações La-
tino-Americanas se formaram.
Num ponto de vista estritamente pessoal, é com orgu-
lho que pela segunda vez tenho a honra de presidir a
FLAQT. É fato inédito e de difícil possibilidade de ocor-
rer porque, com o número que esperamos ver crescer de
Associados à FLAQT, a repetição de país e conseqüente-
mente de Presidência levará muitos anos para acontecer.
O meu forte desejo e augúrio, no entanto é que isso
se torne novamente realidade, pois representará o se-
guinte: Um jovem técnico com boa formação, coragem,
e amor à profissão, tendo assumido tal função, muitos
anos mais tarde, ainda com a mesma dedicação, poderá
somar, às qualidades iniciais, a experiência e a vivência
adquiridas no caminho profissional.
Química Têxtil: Obrigado.
A ABQCT DÁ AS BOAS VINDASAOS NOVOS SÓCIOS
Antonio Gustavo Nascimento Santos Olinda PE Dirceu Ferreira Brito São Paulo SP Fernanda Pires Bacelli Guarulhos SP Frederico H.H. de Vasconcelos São Paulo SP Germano Maragno Turvo SC João Espindola Tubarão SC José Scharf Júnior Brusque SC Lícia Gomes Viegas Bayeux PB Maria Aparecida Gomes São Paulo SP Nicola Ruachioni Neto São Paulo SP Wilson José Ferreira São Gonçalo RJ
Estamos orgulhosos de tê-los conosco, pois o apoio e a participação dos associados são de suma impor-tância para o fortalecimento da Associação e para o aprimoramento técnico do setor têxtil brasileiro.Nós da ABQCT procuramos sempre fornecer informações atualizadas através da revista Química Têxtil eabrir canais de comunicação entre os profissionais através de cursos, palestras e outros eventos de integração.
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A indústria têxtil brasileira perdeu um grande téc-
nico, que dedicou toda sua vida profissional ao aper-
feiçoamento das técnicas de tinturaria e estamparia.
No dia 7 de março, aos 87 anos, faleceu o químico
Luiz Afonso Galaggi.
Dotado de um carisma, simplicidade e simpatia sin-
gulares, Luiz Galaggi deixou saudades nos amigos,
parentes e funcionários da Tinturaria e Estamparia
Salete Ltda., empresa que adquiriu nos anos 50 e para
a qual dedicou a maior parte de sua vida profissional.
“Além de sua dedicação profissional, o sr. Luiz tinha
um carinho muito grande pelos funcionários”, lem-
bra Valdir Siani Medeiros, diretor técnico da Tintura-
ria Salete e sobrinho de Galaggi. “Ele sempre teve
uma palavra amiga para os funcionários e nunca ne-
gou ajuda a quem o procurava. Mesmo depois que
vendeu a empresa, ele continuou dedicando a mesma
atenção ao pessoal e sempre teve o carinho, admira-
ção e respeito de todos”.
Luiz Galaggi teve uma rápida ascensão profissio-
nal, embora não tenha trabalhado em muitas empre-
sas. Em 1940 ele se formou em Química no Mackenzie
e logo começou a trabalhar em sua área de atuação.
Seu primeiro emprego foi na indústria Crespi, no bair-
ro da Moóca, em São Paulo, onde ficou por alguns
anos. Na seqüência, se transferiu para as Indústrias
Matarazzo e, em 1950, foi trabalhar na Tinturaria e
Estamparia Salete Ltda., empresa que mais tarde se
tornaria sua. Em 1975 ele vendeu a Salete para o Gru-
po Rosset, mas continuou na empresa como colabo-
rador até janeiro deste ano. “Ele só teve esses empre-
gos, mas em to-
dos eles atuou
com intensa de-
dicação”, lembra
Valdir, salientan-
do que Luiz
Galaggi foi uma
pessoa que sem-
pre estudou mui-
to. “Nos fins de
semana, enquan-
to todos se diver-
tiam, ele aprovei-
tava para se intei-
rar mais sobre sua profissão. Ele tinha um apego, um
amor a essa empresa que era impressionante. Dedi-
cava integralmente o tempo dele ao trabalho. Acredi-
to seguramente que ele estava entre os maiores técni-
cos do Brasil”.
Além de sua dedicação à empresa, Luiz Galaggi
também foi um grande incentivador da fundação da
ABQCT - Associação Brasileira de Químicos e
Coloristas Têxteis, onde era o sócio número 76. “Ele
ajudou muito na criação da associação”, lembra Agos-
tinho Pacheco, tesoureiro da entidade.
Além dos amigos que fez ao longo da vida, Luiz
Galaggi deixou a esposa, dona Leonor; duas filhas,
Marli e Marisa, e seis netos. Com certeza, seu exem-
plo de amor, dedicação, perseverança e simplicidade
será sempre lembrado por todos como uma dádiva
que Deus concede apenas a pessoas especiais.
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Falecimento Química Têxtiln° 75/jun.04
Indústria têxtil perde um grande colaborador
Solange Menezes
Sulphur Black
A atual conscientização em nível mundial pelos proble-
mas ligados ao meio ambiente tem nos levados a buscar
alternativas que sejam renováveis e a desenvolver produ-
tos que possuam características de baixo impacto am-
biental, compatível com tratamento biológico de efluentes.
O Preto Cassasulphur BRA Eco (Sulphur Black) é consti-
tuído de corante especialmente pré-reduzido e estabiliza-
do, não contendo sulfeto na sua pré-redução e estabiliza-
ção que, em comparação aos corantes sulphur convencio-
nais, permite um tingimento ecológico mais favorável.
O agente redutor é à base de carboidratos biodegra-
dáveis de efeito inibidor sobre o processo de purifica-
ção ecológica. Os agentes oxidantes são sais halogênios,
estabilizados biodegradáveis, isento de metais pesados
não cancerígenos.
Vantagens do Preto Cassasulphur BRA Eco
Menor contaminação das águas residuais e ausência
de odores durante o tingimento e nas estações de trata-
mento de efluentes.
Maior facilidade na remoção de agentes redutores.
Baixo índice de sujidade e contaminação nos equipa-
mentos.
Melhor estabilidade ao frio e ao calor.
A grande utilização de Preto Cassasulphur BRA Eco e
outros corantes sulphur está associada à relação custo
benefício nos tingimentos de fibra celulósicas e suas
misturas com boas propriedades de solidez. Além de
sua utilização em processo tradicional e sua versatilida-
de, permite aplicação também em máquinas contínuas,
máquinas de índigo, tingimentos desbotáveis tipo canvas
e Grament dyeing.
Estudo do tratamento de efluentes
Tecnologia EcologiaQuímica Têxtiln° 75/jun.04
Tendência ecológicaO pacote de baixo impacto ecológico ambiental
Agrício de CastroCassema Corantes
O efluente equalizado não teve o pH corrigido e seu
aspecto era preto, sem transparência e sem odor. A uni-
dade de flotação foi operada dentro dos seguintes
parâmetros:
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pH do efluente equalizado 7,5.
Pressão de dissolução do ar: 1,5 Kg/cm².
Dosagem de sulfato de alumínio de 400 mg/h (solução
% vazão 2000Lt/h ).
Aspecto após flotação: colorido levemente esverdeado.
Tansparente sem odor.
A unidade biológica foi operada dentro das condi-
ções normais de um tratamento biológico por todas as
atividades. O tratamento foi ativado com lodo de cura
estação de tratamento de águas sanitárias.
Em todas as etapas, tingimento, coleta, estocagem e
tratamento, não houve formação de H2S que provocas-
se maus odores. A redução da cor foi de 98%, isso indi-
ca um efluente perfeitamente clarificado, não alterando
o corpo receptor. O efluente final lançado no corpo re-
ceptor encontra-se dentro dos parâmetros ambientais da
legislação brasileira.
Efeito tendering
Ocorrência
O efeito tendenrig pode ser entendido como o fenô-
meno físico-químico de degradação de fibras celulósicas
tintas, causado por ácido, à cadeia molecular da celulo-
se. Essa degradação pode ser bastante acentuada, in-
clusive chegando ao apodrecimento total.
O efeito tendering em preto
O efeito tendering com preto enxofre é causado por
uma oxidação mal conduzida após a operação de
tingimento. Normalmente, esse efeito é evidenciado
quando o material tinto é armazenado em condições des-
favoráveis de temperatura e umidade. Para melhorar o
entendimento desse fenômeno, são imprescindíveis al-
gumas noções básicas da estrutura desse corante e de
seu processo de oxidação.
Estrutura do preto
Os corantes ao enxofre são aquelas substâncias
corantes cujo produto de redução originam derivados
aromáticos possuidores de grupamento ativos (s-h+). Esse
tipo derivado ou corante na forma leuco são as substân-
cias que apresentam afinidade pela fibra celulósica, sen-
do conhecidos como corantes.
O preto ao enxofre é um dos mais importantes com-
ponentes da linha do mercado corante e dentro de toda
a gama de diversas linhas de corantes para tingimento
de fibras celulósicas. É um dos mais usados mundial-
mente, devido ao seu baixo custo, aliado a uma superior
qualidade, como a ser atestado por seus índices gerais
de solidez de cor.
Processo oxidante do preto
O tratamento oxidativo nada mais é do que o veículo
para a obtenção de forma insolúvel do mercado corante.
A oxidação do preto ao enxofre, de uma forma bem
conduzida, deve levar sua forma mercado à forma
sulfoxida, passando antes por um estado intermediário
sob a forma disulfídica.
É de suma importância notar que sempre durante a
oxidação de forma mercado do preto há a formação de
tiosulfato de sódio. Esse tiosulfato, que é inerte em
meio alcalino, em meio ácido, por um processo suces-
sivo de oxidação, dá origem ao ácido sulfúrico. Sem-
pre que houver má oxidação em pH fortemente ácido,
o tiosulfato poderá fornecer de imediato ácido sulfúri-
co ao meio que, não neutralizado, levará a fibra
celulósica a um processo de degradação.
Causas do efeito tendering
Conforme já citado anteriormente, o efeito tendering
não é causado pelo corante e sim por uma oxidação mal
conduzida em pH ácido, gerando tiosulfato de sódio que
se degrada, produzindo enxofres livres e ácido sulfúrico.
A oxidação do preto sendo conduzida unicamente até a
forma sulfoxida em meio alcalino não tem condições de
provocar o apodrecimento das fibras celulósica, mesmo
sob a ação de luz, umidade e calor.
Os desvios na oxidação correta são fundamentalmen-
te: a oxidação parcial e a superoxidação.
Tecnologia Ecologia Química Têxtil - n° 75/jun.04
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oxidação parcial - o agente oxidante insuficiente não
dará forma sulfoxida e sim a forma disulfídica que po-
derá se decompor em ácido sulfúrico.
superoxidação - durante o processo oxidativo, o
oxidante em excesso leva o derivado sulfóxido às for-
mas mais ricas em oxigênio. A formação desse deriva-
do em condição de superoxidação está condicionada pelo
valor do pH do meio oxidativo.
Como evitar o efeito tendering
Ficou evidenciado, como fator de mai-
or importância, o valor de pH, que quan-
do situado do lado ácido, no mínimo acar-
retará o aparecimento do efeito tendering,
em virtude da decomposição do tiosulfato
de sódio presente no processo.
É importante notar que a presença na
fibra de formas polisulfídicas, tiosulfídicas
ou mesmo de tiosulfato de sódio não são
eliminadas pela lavagem e em condições
de temperatura ambiente mais altas ace-
lerará a decomposição da mesma. É o caso típico do
tendering que se manifesta durante a estocagem, princi-
palmente no verão e em locais úmidos.
Acabamento
Os amaciantes catiônicos são os mais desfavoráveis
para uso por motivo básico, ambos indesejáveis sob o
ponto de vista tendering. Para uma melhor performance
um pH ácido é utilizado.
Tecnologia Ecologia Química Têxtil - n° 75/jun.04
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Tingimento sobre tecido de malha de algodão
Tingimento de fio de algodão processo ECO
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Efeito Canvas (desbotável)
É um aplicativo simples, rápido e oferece custo/be-
nefício maior que a utilização de pigmentos. Os corantes
sulfurosos Linha ECO oferecem um melhor toque e
melhor solidez ao tecido, com controle de desbote.
Máquina de Índigo
Os corantes sulfurosos da linha ECO são corantes
de oxidação e de comportamento físico-químico similar
ao Índigo.
Tecnologia Ecologia Química Têxtil - n° 75/jun.04
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A maior parte da fabricação têxtil é de tecidos colo-
ridos, dos quais se exige que a cor das sucessivas pro-
duções coincida com a cor original. Sem dúvida, não é
tão fácil que isso ocorra porque a fabricação de têxteis
coloridos depende de muitas variáveis, portanto, é im-
prescindível fixar tolerâncias de cor. Essas tolerâncias
podem ser fixadas em termos visuais ou instrumentais.
Como se pode fixar tolerância? Quais seriam as
tolerância de cor razoáveis?
As respostas a estas perguntas são temas de consi-
derável interesse, tanto para os fabricantes de materi-
ais têxteis coloridos como para seus clientes.
Este artigo descreve a maioria dos fatores que de-
vem ser considerados ao fixarem-se as tolerâncias.
No mundo real
Processos e variabilidade
Sempre que se trabalha com sistemas de medição
e com processos, estes terão algum grau de variação.
Por exemplo, desejamos determinar a dimensão de
um salão, teremos que usar uma trena e medi-lo e se
outra pessoa repetir o processo, é possível que en-
contre uma medida ligeiramente diferente. Quais se-
riam as medidas corretas? As duas medições estari-
am corretas ou incorretas? Na realidade, podemos
conhecer a verdadeira medida, mas a precisão neces-
sária e a variação permitida devem ser conhecidas
antes de realizarmos as medições.
Tomemos um exemplo da indústria têxtil, supondo
que estamos em uma tinturaria de peças que usa proces-
sos Batch. Estamos tingindo tecidos de malha, 100%
algodão, com corantes reativos. A tinturaria mantém
tecnologia atualizada nos equipamentos de tingimento e
acabamento, mas mesmo realizando um efetivo contro-
le computadorizado para minimizar a variação dos pro-
cessos, essa variabilidade não pode ser eliminada total-
mente porque, mesmo que uma determinada cor seja
processada da mesma forma, serão usadas diferentes
partidas de fibras têxteis e/ou diferentes partidas de
corantes e/ou auxiliares, diferentes máquinas e/ou dife-
rentes operários, água diferente etc..
Vemos que se torna impossível repetir o processo
da mesma forma e portanto não pode ser surpresa que
existam variações em nossa produção. A chave, então,
será minimizar as variações em todas as etapas do pro-
cesso de produção, conservando a eficiência nos custos.
Essa tarefa é muito importante e deve ser de interesse
para ambos: produtor e comprador. Quando avaliamos as
características de cor de um produto final, por exemplo
peças acabadas de tecidos coloridos, consideramos as
variações acumuladas dos processos de tingimento e aca-
bamento, além da variação do próprio processo de medi-
ção. Se essa variação é maior do que os limites de tole-
rância estabelecidos, estaremos fabricando lotes de "se-
gunda qualidade ou produto não conforme", que terá um
custo adicional por reprocesso. Portanto, para poder rea-
lizar melhoras contábeis nos processos, devemos estar
Tecnologia Qualidade Química Têxtiln° 75/jun.04
Tolerância de cor na indústria têxtil
David M. Jordam - DyStar L.P. Charlote, N.C.Artigo publicado em "Book of Papers" da AATCC
Tradução: Agostinho S. Pacheco - ABQCT
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seguros de que podemos fazer medições precisas das
variáveis dos processos em questão.
Estatísticas: uma ferramenta útil
A estatística é uma ferramenta que pode ser empre-
gada na produção para melhorar a precisão e a reprodu-
tibilidade.
Mencionamos anteriormente que devemos ser ca-
pazes de efetuar medições precisas que assegurem a
conformidade do produto com as especificações estabe-
lecidas. Um método possível seria fazer um número
infinito de medições sobre todos os lotes produzidos e
em seguida estabelecer um valor médio para se obter o
valor que seria considerado "verdadeiro". Esse méto-
do funcionaria, mas o seu custo seria excessivo. Ne-
cessitamos encontrar outra forma de obter dados váli-
dos sem incrementar os custos de mão-de-obra a ní-
veis excessivos. Aplicando técnicas básicas de esta-
Pode não parecer, mas do traje que cobria o corpodo pescoço até o joelho para ir à praia, até o macacãoque vai do tornozelo à cabeça usado para nadar, muitacoisa mudou. Se nos anos 20 a quantidade de pano so-bre o corpo era proporcional ao recato exigido para darum mergulho no mar, hoje a roupa que esconde o corpo(mas é tão colada que revela as formas) é usada poratletas de alta performance para quebrar recordes. Maiôé sinônimo de tecnologia e pode fazer a diferença entreganhar ou não uma medalha.
A exposição "Maiô - 100 anos de história", realiza-da pela Speedo em dezembro/2003, em São Paulo, mos-trou a evolução do traje de banho, tanto para lazer quantopara esporte, desde as roupas de natação usadas nosanos 20 até os atuais maiôs de competição "fast skin".
Acompanhe resumidamente essa evolução:Anos 20 e 30: a roupa de natação padrão, tanto de
homens quanto de mulheres, era uma peça única, emalgodão, que vestia as pessoas do pescoço aos joelhos.No início da década de 30 a Speedo lançou o "RacerBack", peça alta e estreita que permitia liberdade de mo-vimentos para os ombros e músculos das costas. As rou-pas de natação eram de seda pura e as de treinamentoainda usavam algodão.
Anos 40: os maiôs começaram a ter seus tamanhosreduzidos. Em 3 de junho de 1946, Louis Reard apre-sentou ao mundo o biquini. A seda, por sua resistência,leveza, elasticidade e toque, era usada nas roupas denatação para os competidores de ponta.
Anos 50: nas Olimpíadas de Melbourne, em 1956,os maiôs de seda com algodão estiveram em evidência,mas a década ficou marcada pela introdução do nylon.A adequação dessa matéria-prima para as roupas de na-tação era ainda realçada pela repelência à água, garan-tindo uma secagem rápida.
Anos 60: reconhecendo as boas propriedades detingimento e estamparia do nylon, a Speedo introduziuà moda as listras em roupas de banho de competição.Nessa época, as misses continuavam de maiô, mas asgarotas de praia já ousavam mostrar os umbigos. NoBrasil, a garota de Ipanema foi um ícone dessa época.
Anos 70: os jogos Olímpicos de Munique, em 1972,foram o trampolim para que a Lycra (da DuPont) se tor-nasse um tecido muito utilizado em roupas de natação.A Speedo foi a primeira empresa a utilizar o fio nasroupas para o esporte.
Anos 80: essa década exigia corpos perfeitos, mode-lados em academias de ginástica e exibidos nas praiasno verão. A Lycra era usada tanto nas vestimentas deacademia como nos biquínis e maiôs. Os surfistas usa-vam calções longos e coloridos, enquanto as mulhereschegavam ao auge da nudez. O biquíni asa delta erareduzido ao fio dental.
Anos 90: em 1992, a Speedo lançou o maiô deperformance S2000, com microfilamento de poliéster efibra elastômera, que evitava a formação de bolhas de ar- pois tinha uma porcentagem maior de elastano - e tinhaum processo de secagem mais eficiente do que a Lycra,além do coeficiente hidrodinâmico ser 15% maior. Em1996, nas Olimpíadas de Atlanta, a grife apresentou oAquablade. Usando maiôs feitos com esse produto, atle-tas conquistaram 77% de todas as medalhas na natação.
Novo Milênio: nas Olimpíadas de Sidney (Austrá-lia), em 2000, foi apresentada a mais revolucionáriatecnologia para maiôs de competição, o Fast Skin, fei-to de microfilamentos de poliéster (75%) e fios deelastano (25%), um tecido que imita a pele do tubarãoe se molda ao desenho dos músculos. Resultado: 126das 153 medalhas em disputa ficaram com atletas queusavam o Fast Skin.
Eventos Química Têxtiln° 75/jun.04
Maiô, 100 anos de praia
30
Apesar do muito que se tenha avançado em matéria
de controle dos defeitos no tingimento de materiais têx-
teis, são ainda muitas as causas que podem conduzir a
cometê-los. Neste artigo, abordamos de forma sis-
tematizada o estudo dos defeitos mais correntes, assim
como suas procedências e, em muitos casos, a forma
de evita-los. Colocamos especial insistência no erro
humano que, não nos esqueçamos, está presente em
uma alta porcentagem dos problemas que conduzem a
defeitos de tinturaria.
1. Introdução
As modernas tinturarias trabalham cada vez mais com
maior confiabilidade, tanto no que se refere a reprodução
de cores como a sua igualização. Para isso, tem contribuí-
do decisivamente a maior implantação das cozinhas de cores
e o aperfeiçoamento dos aparelhos de tingimento, com pro-
gramadores informatizados e dosificadores automáticos.
O tintureiro dispõe da ajuda inestimável do colorí-
metro para a obtenção de novas receitas, a correção das
mesmas e a comparação objetiva de amostras, além de
outros serviços como a determinação de graus de bran-
co, metamerias etc. Os produtos auxiliares são cada vez
melhores e os corantes dão resultados mais uniformes.
Mesmo assim, a informação técnica sobre eles é também
muito completa e fácil de ser consultada e entendida.
Colocando as coisas assim, pode parecer que o
tintureiro não vai encontrar dificuldades técnicas na re-
alização de suas tarefas e que a possibilidade de obter
um tingimento falho será uma simples exceção. Sem
dúvida, nada mais distante da realidade, posto que, como
veremos mais adiante, os problemas que podemos en-
contrar são múltiplos e suas soluções nem sempre são
simples, o que em muitas ocasiões, nos obrigará a re-
correr ao reprocesso da mercadoria.
Neste primeiro artigo, pretendemos abordar o tema
dos defeitos no tingimento de uma forma geral, para que
em trabalho posterior se possa estudar com mais deta-
lhe os problemas e defeitos mais correntes do ponto de
vista dos corantes empregados e da fibra a ser tinta.
2. As causas dos defeitos: sua classificação
Como as etapas do processo de enobrecimento têxtil
são a preparação, o tingimento e o acabamento, os de-
feitos poderão ser produzidos em qualquer dessas eta-
pas. Também, em alguns casos, o tecido tinto manifes-
tará defeitos que procedem de operações anteriores,
como a fiação ou a tecelagem.
A classificação dos defeitos pode ser abordada de
diferentes perspectivas e a descrição de cada um deles
poderia ser muito extensa. Por isso, e com o objetivo de
sintetizar, foi realizada uma divisão em grupos de defei-
tos (quadro 1) que, sem ser exaustiva, pretende enume-
rar e explicar as causas dos mais correntes.
2.1. Defeitos devidos ao material têxtil
Quando se utilizam fibras de algodão que contêm al-
godão morto ou imaturo serão produzidos pontos claros
Tecnologia Tingimento Química Têxtiln° 75/jun.04
Os defeitos do tingimentouma visão geral
Javier Sánchez e Luis Sánchez Martín
32
no tingimento, pois nem todos os corantes compensam
as diferenças que existem entre as fibras. Algo parecido
ocorre com as lãs que contêm fibras mortas que não
absorvem o corante.
Do mesmo modo, quando se misturam algodões
de diferentes origens ou grau de maturidade, vamos
obter tingimentos picados, o que também poderia su-
ceder misturando partidas de lã de diferentes proce-
dências, ou de ovelhas de diferentes raças, ou lãs de
diferentes qualidades.
Quanto a mistura de fibras químicas do mesmo tipo,
porém de diferentes partidas, poderiam originar desi-
gualdades no tingimento, como sucede por exemplo no
caso de poliamidas com diferentes graus de estiragem e
suas mudanças de afinidade pelos corantes em função
dessa variável.
As fibras regeneradas merecem menção a parte, pois
suas origens são muito diferentes e podem variar desde
os desperdícios de lavagem, das cardas, fiações, teares,
até os tecidos já usados, que são triturados e suas fibras
voltam a ser fiadas. A diversidade de matérias e seu
grau de deterioração vão originar múltiplos problemas
na tinturaria, especialmente um rendimento mais baixo
do que as fibras de qualidade, tendo, além disso, o in-
conveniente de sua baixa resistência, pelo que a possi-
bilidade de reprocesso, nesse caso, é mínima.
2.2. Defeitos devidos a uma preparação incorreta
Uma desengomagem, descrude, lavagem ou alveja-
mento incompletos ou mal realizados podem influir no-
tavelmente no resultado do tingimento.
As gomas devem ser eliminadas totalmente, pois seus
restos diminuem a hidrofilidade e, se forem eliminadas
desigualmente, produzem tingimentos manchados, com
zonas mais claras e outras mais escuras.
Um descrude deficiente pode deixar sem destruir par-
te das impurezas naturais que tem o algodão, com especi-
al incidência na capacidade de absorção do material,
podendo originar uma igualização precária no tingimento
posterior. Os problemas de tingimento podem também
vir de uma neutralização incompleta do álcali.
No alvejamento do algodão são eliminadas, em meio
oxidante, as cascas que ainda podem estar nas fibras, as-
sim como os pigmentos, além de se conseguir uma base
limpa para o tingimento de cores claras ou para outras co-
res cuja pureza de tonalidade a necessitem. A acidulação
posterior deve eliminar os restos de água oxigenada não
consumida no alvejamento, pois existem corantes que não
são estáveis em presença da mesma. Se o alvejamento for
excessivo, pode provocar uma perda de resistência do te-
cido por oxidação de boa parte da celulose a oxicelulose,
além de produzir tonalidades mais claras no tingimento.
2.3. Defeitos devidos a água e vapor utilizados
Entre os numerosos defeitos que podem ser produzidos
no processo de tingimento, merecem ser citados de forma
especial os que têm sua origem na qualidade da água em-
pregada, que precisa ser a mais depurada possível. Para
isso, necessitamos considerar os seguintes fatores.
Em primeiro lugar, temos que observar sua turbidez,
que pode ser devida a presença de partículas em sus-
pensão, seja de natureza inorgânica, tal como a terra, ou
orgânica, como matéria vegetal, microorganismos, óle-
os etc. Essas partículas deixam as cores opacas e po-
dem produzir manchas nos tecidos, pelo que uma pre-
caução elementar será filtrar inicialmente a água.
Em segundo lugar, sua alcalinidade e seu grau de
salinidade. A alcalinidade provém dos hidróxidos, bicar-
bonatos ou carbonatos de metais alcalinos ou alcalinos
terrosos que contêm e que podem modificar o pH inicial
de tingimento, pelo que sempre é conveniente comprovar
esse detalhe para evitar esgotamentos inadequados,
tingimento desiguais ou até prejuízo para as fibras. A sali-
Quadro 1. Classes de defeitos
- Devidos ao material têxtil.- Devidos a uma preparação incorreta.- Devidos a água e ao vapor utilizados.- Devidos ao equipamento.- Derivados à má seleção ou má aplicação dos corantes.- Devidos a erros humanos.
nidade prejudica especialmente o tingimento em tonali-
dades claras de fibras de celulose com corantes diretos.
Em terceiro lugar, a dureza da água devida a presença
de sais de cálcio e magnésio que, em alguns casos, pro-
duzem compostos insolúveis que precipitam sobre as fi-
bras de forma irregular, produzindo manchas no tingi-
mento. Assim, no caso da lã, uma excessiva dureza da água
fará com que depois de tingir e secar fique uma quantidade
de cal depositada sobre a mesma, de forma que, segundo
determinadas cores, apagará sua vivacidade. O problema
da dureza é maior quando a água procede de poços.
Em quarto lugar, o conteúdo de determinados me-
tais, especialmente o ferro. O ferro pode estar contido
na água devido a sua origem, especialmente quando pro-
cede de mananciais ferruginosos, ou ainda devido a cor-
rosão de tubulações ou depósitos. Inclusive, está com-
provado que pequenas quantidades de ferro tornam a
água inadequada para a obtenção de tonalidades vivas.
Por outro lado, os sais que formam esses metais
“amarelam ou acastanham” as fibras têxteis, atuando como
agentes catalíticos nos processos de alvejamento e dani-
ficando seriamente as propriedades das fibras. No tingi-
mento, produzem precipitações dos corantes, alterando
sua tonalidade, a intensidade e inclusive as solidezes.
Quanto ao vapor, é conveniente conhecer as impure-
zas que arrasta, especialmente quando se trabalha com
aquecimento por vapor direto. De todos os modos, o maior
problema que produz o vapor direto é a corrosão quando
as tubulações são de ferro, arrastando partículas desse
metal e produzindo os problemas citados no caso da água.
Também temos que estar atentos aos descal-
cificadores de água por que, as vezes, por avaria ou mal
funcionamento do descalcificador ou de alguma válvula
“by pass”, entra água dura no sistema de água branda,
com os conseqüentes problemas.
2.4. Defeitos devidos ao equipamento
Quanto ao equipamento de tingimento, este poderá
ocasionar problemas por três causas principais:
- Construção inadequada: uma construção defeituosa que
tenha como conseqüência uma deterioração parcial ou
geral do aparelho, com o tempo pode originar defeitos
de todos os tipos. Acontece que, algumas vezes se aponta
um defeito de construção, o que na realidade não é mais
do que um problema de manutenção inadequada ou de
ter sido superado o ciclo de vida útil do equipamento.
- Deterioração por uso ou por imperfeições devidos a
uma manutenção inadequada. Uma máquina que está
funcionando com freqüência e que não recebe a manu-
tenção adequada terminará dando problemas. É por isso
que as vezes se produzem alterações nas características
físicas dos tecidos, ocasionadas por tensões imprópri-
as, ou aparecem de forma inexplicável partes raspadas
e marcadas no tecido, ou se produzem tingimentos desi-
guais, ou que restos de corante depositados em algum
ponto escondido venham a gotejar no momento mais
inoportuno, manchando o tecido.
- Utilização incorreta: quando se usa para aplicações
não previstas pelo fabricante, ou quando são forçadas
as condições de trabalho, seja por excesso ou defeito da
carga, ou por velocidades inadequadas etc.
2.5. Defeitos derivados de má seleção ou má
aplicação dos corantes
Uma seleção incorreta dos corantes pode ser conse-
qüência de incompatibilidade entre eles ou de que suas
solidezes não sejam suficientes e pode conduzir a um
tingimento não reprodutível ou desuniforme. No quadro
2 estão representados alguns dos fatores mais impor-
tantes para uma boa seleção de corantes.
Em primeiro lugar, e ainda que pareça óbvio, deve-
rão ser selecionados os mais adequados para cada tona-
lidade desejada, visto que, se partirmos de cores croma-
Quadro 2. Para a correta seleção de corantes
- Selecionar os indicados para a tonalidade desejada.- Boa compatibilidade entre eles (tricromia).- Que possam obter cores uniformes.- Que os tingimentos tenham reprodutibilidade.- Solidezes adequadas à aplicação prevista para a finali-
- Pesagem errada de corantes ou de produtos auxiliares.
Troca de produtos.
- Dissolução incorreta dos produtos.
- Adição de produtos em momento inadequado.
- Condução errônea de programas ou interpretação de-
ficiente destes, especialmente quando se trabalha de for-
ma manual.
- Carga irregular da mercadoria.
- Limpeza deficiente do equipamento quando da troca
de cores, especialmente de escuras para as mais claras.
- Se a máquina não dispõe de certos mecanismos de
segurança, como o dispositivo de controle de parada,
falta de atenção para detectar qualquer anomalia que
possa afetar a qualidade do tingimento.
- Atenção geral: não obstante o que foi dito, a tinturaria é
uma fábrica onde trabalham muitas pessoas e, portanto, os
erros humanos produzidos no primeiro escalão podem ser
detectados e corrigidos no segundo ou terceiro escalão.
3. Um exemplo: defeitos mais correntes no tingimento
por esgotamento de tecidos em corda
Dado o amplo leque de formas de apresentação da
mercadoria a tingir, nos concentramos como exemplo
no tingimento de tecidos em peça por esgotamento, em
corda. Os aparelhos utilizados para esse tipo de
tingimento são normalmente as barcas de torniquete e
os Jets. Nesse caso concreto, e sem pretender ser exaus-
tivo, poderíamos encontrar um ou mais dos defeitos enu-
merados a seguir, a maioria deles válidos para qualquer
tipo de fibra, se bem que outros se referem somente ao
caso de fibras celulósicas.
- Falta de uniformidade centro-orelas e entre as orelas.
- Faixas de cor mais intensa no urdume/trama, por mis-
tura de fios de diferentes partidas.
- Alteração de tonalidade entre as peças, no mesmo ba-
nho de tingimento, por utilização de diferentes partidas
de fios ou por mistura de peças de diferentes partidas.
- Manchas produzidas por diferenças de afinidade no teci-
do devido a deficiência na desengomagem ou no descrude.
- Manchas intensas produzidas por precipitação do corante
devido a dureza da água ou a presença de sais metálicos.
- Manchas locais nas cores verdes e turquesas tintas com
corantes reativos, devido a precipitação do corante.
- “Bronzeados” em algumas zonas do tecido no tingi-
mento com corantes diretos do tipo “B”, por dosificação
deficiente do eletrólito neutro.
- Manchas brancas regulares produzidas por ataque da
umidade à fibra ou tecido durante armazenamento em cru.
- Salpicado de manchas brancas por ataque local de al-
gum produto químico.
- Manchas brancas de amaciante por reação com restos
de produtos do tingimento.
- Manchas de cal em cores escuras por tratar o tecido
com água dura.
- Marcas de rugas com rajadas mais escuras por exces-
so de carga no aparelho ou nos tecidos muito grossos,
como os felpudos.
4. O reprocesso
O reprocesso do material tinto consiste em todas as
operações que seriam necessárias realizar para corri-
gir um resultado inadequado. Essas operações (qua-
dro 4) nas quais se atua sobre os defeitos detectados e
que só se efetua quando não existe outro remédio, con-
some tempo e dinheiro, atrasa o serviço com o conse-
guinte aborrecimento do cliente e diminui a qualidade
do artigo pelos sucessivos tratamentos, em alguns ca-
sos muito agressivos e que o deterioram por ataques
tanto físicos como químicos, levando, em ocasiões
extremas, à perda do mesmo.
Quadro 4. Inconvenientes do reprocesso
- Aumenta o tempo de tratamento com a conseguinte di-minuição da produção.- Supõe um custo econômico importante.- Diminui a qualidade do artigo, podendo inclusivedeteriorá-lo gravemente.- Atrasa o serviço, gerando aborrecimento do cliente.- Prejudica sempre a imagem da empresa.
materiais, ajudando a proteína na coloração do algodão.
Aparentemente a eficiência das proteasas sobre a prote-
ína no algodão varia significativamente, como foi men-
cionado em estudo sobre a proteasa Bacillus Sublitis,
que não tem efeito sobre o valor de luminosidade(6).
O tratamento com pectinasa A, por outro lado, não
tem efeito sobre o valor de luminosidade, apesar da lava-
gem alcalina (figura 5). Não obstante, a absorção aquosa
melhorou no tratamento com pectinasa A (figura 6). Isso
confere com os resultados do ESCA (tabela 4) e apóia a
hipótese de uma união química entre as pectinasas e as
ceras(1). Resultados similares foram obtidos por Lange(19).
Surpreendentemente, a remoção de proteína do material
de algodão prejudicou a absorção aquosa do mesmo.
Conclusões
As impurezas do algodão podem ser removidas com
enzimas específicas. Cerca de 30% das pectinas e 50%
das proteínas podem ser eliminadas das fibras nos
tratamentos enzimáticos, onde as ceras são menos
suscetíveis à ação enzimática. A remoção de
pectinas resulta em menores quantidades de ceras
na superfície do algodão e, conseqüentemente, em
uma melhora da absorção aquosa do material. A
remoção das proteínas melhora a cor do material.
Neste trabalho as pectinasas, lipasas e proteasas
foram utilizadas separadamente, não obstante, com
o uso simultâneo se espera obter mais benefícios
adicionais e potenciais das enzimas.
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