XV SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO A Cidade, o Urbano, o Humano Rio de Janeiro, 18 a 21 de setembro de 2018 O PARQUE PIAUÍ EM 50 ANOS: de periferia a subcentro da zona sul de Teresina-Pi VILAS E CIDADES, URBANIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO ANA LÚCIA RIBEIRO CAMILLO DA SILVEIRA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ ALANA CARINE CARVALHO DE SIQUEIRA – INSTITUTO CAMILLO FILHO ALINE SULUANE FERREIRA DE SOUSA SANTOS – INSTITUTO CAMILLO FILHO ANA ELISA CAVALCANTE MIRANDA – INSTITUTO CAMILLO FILHO LORENA EULÁLIO NUNES – INSTITUTO CAMILLO FILHO RAMON DE SOUSA E SILVA – INSTITUTO CAMILLO FILHO RESUMO O espaço urbano é produzido e apropriado por diversos agentes, entre os quais a produção pública da habitação para baixa renda tem um grande impacto nas cidades. Os interesses de cada um desses agentes entram muitas vezes em conflito e dependem da oferta dos serviços públicos, como as vias de circulação e os relacionados ao saneamento ambiental. A cidade é um produto em processo de permanente modificações e conflitos de interesses. Na década de 1960, com a criação do Banco Nacional de Habitação, o papel do estado na produção da habitação social teve grande impulso, criando grandes conjuntos habitacionais nas periferias das grandes e médias cidades brasileiras, modificando o espaço urbano e criando novos vetores de crescimento nas cidades. Esse trabalho analisa as modificações ocorridas no bairro Parque Piauí, construído a partir de 1967, pela COHAB-PI, com um total de 2294 habitações. Foram analisadas as mudanças de uso do solo em relação ao projeto original, transformando os lotes residenciais em comerciais e de uso misto, ampliando o comercio e serviços inicialmente previsto apenas para a população do bairro, para toda a região sul da cidade, sendo o bairro hoje considerado um subcentro consolidado. PALAVRAS-CHAVE: Transformações, Habitação Popular e Parque Piauí.
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XV SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO
A Cidade, o Urbano, o Humano Rio de Janeiro, 18 a 21 de setembro de 2018
O PARQUE PIAUÍ EM 50 ANOS: de periferia a
subcentro da zona sul de Teresina-Pi
VILAS E CIDADES, URBANIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO
ANA LÚCIA RIBEIRO CAMILLO DA SILVEIRA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ ALANA CARINE CARVALHO DE SIQUEIRA – INSTITUTO CAMILLO FILHO ALINE SULUANE FERREIRA DE SOUSA SANTOS – INSTITUTO CAMILLO FILHO ANA ELISA CAVALCANTE MIRANDA – INSTITUTO CAMILLO FILHO LORENA EULÁLIO NUNES – INSTITUTO CAMILLO FILHO RAMON DE SOUSA E SILVA – INSTITUTO CAMILLO FILHO
RESUMO
O espaço urbano é produzido e apropriado por diversos agentes, entre os quais a produção pública da
habitação para baixa renda tem um grande impacto nas cidades. Os interesses de cada um desses
agentes entram muitas vezes em conflito e dependem da oferta dos serviços públicos, como as vias de
circulação e os relacionados ao saneamento ambiental. A cidade é um produto em processo de
permanente modificações e conflitos de interesses. Na década de 1960, com a criação do Banco
Nacional de Habitação, o papel do estado na produção da habitação social teve grande impulso, criando
grandes conjuntos habitacionais nas periferias das grandes e médias cidades brasileiras, modificando
o espaço urbano e criando novos vetores de crescimento nas cidades. Esse trabalho analisa as
modificações ocorridas no bairro Parque Piauí, construído a partir de 1967, pela COHAB-PI, com um
total de 2294 habitações. Foram analisadas as mudanças de uso do solo em relação ao projeto original,
transformando os lotes residenciais em comerciais e de uso misto, ampliando o comercio e serviços
inicialmente previsto apenas para a população do bairro, para toda a região sul da cidade, sendo o
bairro hoje considerado um subcentro consolidado.
PALAVRAS-CHAVE: Transformações, Habitação Popular e Parque Piauí.
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PARQUE PIAUÍ IN 50 YEARS: FROM SUBURBS TO A
LOCAL CITY CENTER FOR PEOPLE OF TERESINA
SOUTH ZONE
ABSTRACT /RESUMEN
The urban space is built and owned by many agents, in which the public habitation production for low
income population has a big impact in cities. The interests of each of those agents are usually in conflict
and depend on the offer of public services such as circulation plans and the ones related to
environmental sanitation. The city is a product in a permanent stage of changes and interest conflicts.
In the 1960s, after the creation of the Banco Nacional de Habitação, the role of the state on the
production of social habitation had a great impulse by making big housing estates on the outskirts of big
and medium Brazilian cities, modifying the urban space and creating new growth vectors. This work
analyses the modifications made in Parque Piauí (neighbourhood), established in 1967 by COHAB-PI,
with a total of 2294 households. The analysis changes in the land use comparing to the original project,
turning the residential land into commercial and mixed-use ones, expanding commerce and services,
originally provided only for the neighbourhood population, to all the city south zone, where the district it
became a local city center for people of south zone.
KEY-WORDS: In the land use, Popular Housing and Parque Piauí (neighbourhood).
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1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho consiste na análise do Bairro Parque Piauí sob um olhar essencialmente
arquitetônico e urbanístico, após 50 anos de sua construção, levando em consideração os aspectos
históricos, econômicos, sociais e principalmente os funcionais, relacionados às alterações ocorridas no
uso do solo deste espaço urbano e por conseguinte a sua atual conformação de subcentro da cidade
de Teresina.
Inicialmente, recorre-se as informações que dizem respeito à origem do Bairro Parque Piauí e as
motivações para sua construção, sendo o ponto crucial para interpretação deste bairro, o entendimento
do contexto político à época de sua criação.
Com a deposição de Getúlio Vargas a partir do golpe militar, diversas mudanças ocorreram na
administração do país. No que diz respeito às políticas públicas, o setor da habitação teve especial
atenção e criou o Sistema Financeiro Habitacional (SFH), que tinha como objetivo, reduzir o déficit
habitacional brasileiro existente na época. Assim, na década de 1960, surge o Banco Nacional de
Habitação que deu início a construção de grandes conjuntos habitacionais nas periferias das grandes
e médias cidades brasileiras, resultando o que atualmente chamamos de espraiamento urbano.
Em concordância com o cenário nacional, ocorreu na cidade de Teresina a criação da Companhia de
Habitação do Piauí – COHAB que foi a responsável, entre os anos de 1966 e 1969,pela construção de
cinco conjuntos habitacionais, localizados em maioria na Zona Sul da cidade, sendo os quatro primeiros
menores, contando em média entre 100 e 150 moradias, e o Parque Piauí, carente de infraestrutura,
marcado pela tipologia residencial térrea e distante 7km do centro da cidade, destacou-se por ser o
maior entre estes conjuntos, com um total de 2.294 unidades e provocou um grande crescimento da
cidade na direção Sul.
Posteriormente, a ocupação da área urbana na direção sul para além da área já ocupada pelo Parque
Piauí, tornou o bairro um subcentro, uma referência para uma população que habita em bairros criados
ainda mais ao Sul, suprindo-os de comércios e serviços e evitando o constante deslocamento destas
pessoas até o centro original da cidade.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A produção do espaço urbano e a criação do BNH
Na produção do espaço urbano existem muitos conflitos e interesses, do capital, do Estado e da
população, que fazem com que esse espaço esteja em permanente mudanças e transformações. A
cidade é um produto em processo de permanente modificações e aparece “como um bem material,
como uma mercadoria consumida de acordo com as leis da reprodução do capital”, de acordo com
Carlos (2003, p. 28).
As produção espacial da cidade dependerá de vários fatores que tem influência na localização das
várias atividades que abriga. Assim o lugar das atividades produtivas procura a diminuição dos seus
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custos. A atividade comercial e de serviços, a proximidade do mercado consumidor, as vias de
circulação procuram diminuir o tempo dos percursos e o uso habitacional dependerá do papel que cada
indivíduo possui na divisão social do trabalho e da produção (CARLOS, 2003).
No que se refere à habitação, o espaço urbano apresenta-se estratificado, com as classes de maior
renda ocupando as melhores áreas, com mais acesso a infraestrutura, lazer e áreas verdes e as classes
com menor poder aquisitivo ocupam as zonas centrais já deterioradas ou a periferia, onde os terrenos
são mais baratos e não dispõe de infraestrutura.
Campos Filho (2003, p.91) explica que o espaço urbano é produzido e apropriado pelos seguintes
agentes: os loteadores privados, a autoconstrução pela população de baixa renda, os proprietários
privados, os “rentistas” que constroem ou compram para alugar, os “incorporadores” que constroem e
vendem no mercado imobiliário, a produção pública da habitação para baixa renda e a produção publica
para requalificação urbana de áreas degradadas de uma cidade. Os interesses de cada um desses
agentes entram muitas vezes em conflito e dependem da oferta dos serviços públicos, como as vias de
circulação e os relacionados ao saneamento ambiental.
Na década de 1960, com a criação do Banco Nacional de Habitação, o papel do estado na produção
da habitação social teve grande impulso, criando grandes conjuntos habitacionais nas periferias das
grandes e médias cidades brasileiras, modificando o espaço urbano e criando novos vetores de
crescimento nas cidades.
No século XX, com o crescente processo de urbanização, as capitais brasileiras começam a sofrer as
consequências da modernização, problema que surge por conta da migração de pessoas que residiam
nas zonas rurais na esperança de melhores condições nesses centros urbanos, o processo de
industrialização acelerado e o crescimento da população brasileira. As cidades não estavam
preparadas para abrigar esse número crescente de pessoas, o que leva o estado a buscar uma nova
solução, a habitação de interesse social.
Para que tal solução funcionasse, levando em consideração que os centros das cidades já estavam em
constante crescimento, era necessário alocar essas habitações em áreas mais periféricas onde o
processo de modernização ainda não havia chegado. Porém ainda tinha uma parcela da população
que não conseguia ser atendida por esse recurso, que as levavam a procurar abrigos com menor
salubridade gerando as favelas (FERNANDES et al., 2014).
Segundo Bonduki (1994; apud OLIVEIRA, 1971), esse processo teve impulso na era Vargas (1930-
1954) marcado pela intervenção do estado que “buscava impulsionar a formação e fortalecimento de
uma sociedade de cunho urbano-industrial, capitalista, mediante uma forte intervenção estatal em todos
os âmbitos da atividade econômica”. Uma de suas principais medidas foi o decreto-lei do inquilinato,
em 1942:
Trata-se de medida de grande repercussão social e económica, que suspende o direito absoluto de propriedade e que, para se legitimar no quadro do Estado capitalista, requereu uma justificativa onde se assume a peculiaridade da habita- ção como uma mercadoria especial, onde o interesse social ultrapassa os mecanismos de mercado. Reforça, portanto, independentemente da intenção de seus idealizadores, a visão da habitação social no Brasil. (BONDUKI, 1994, p.719).
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Contudo, por mais que o problema da moradia tenha sido parcialmente resolvido surgem outras
necessidades desses novos moradores, como afirma Maricato (1982, p.75) que “a questão da
habitação está relacionada também a da saúde, do saneamento básico, da cultura, dos transportes,
etc. [...] a habitação é depois da alimentação o componente que mais pesa no orçamento do
proletariado”.
Com o fim da era Vargas o Brasil é tomado pelo regime Militar e com isso ocorre uma série de mudanças
nos mais diversos setores da administração do país. No caso da habitação é fundado o Sistema
Financeiro Habitacional (SFH), Maricato (1987, p.30) diz que “o SFH possibilitou a capitação das
empresas ligadas à provisão de habitações, permitiu a estruturação de uma rede de agentes financeiros
privados, permitiu a realização do financiamento à produção e também o financiamento do consumo”.
O SFH tinha como objetivo reduzir o déficit habitacional brasileiro existente na época, que era marcado
por elevado nível de desemprego e queda da renda, e o setor imobiliário seria mobilizado para, através
da suposta multiplicação de renda e emprego da construção civil, minorar os efeitos desta crise, como
mostra Oliveira (2014, apud SMOLKA, 1987).
O segmento popular (para famílias de até três salários mínimos e depois até cinco salários mínimos)
seria atendido pelas COHABs (companhias de habitação a nível municipal ou estadual). O segmento
econômico (para famílias com renda familiar de três a seis salários mínimos, faixa ampliada
posteriormente) foi atendido por cooperativas habitacionais (associações sem fins lucrativos que se
formam a partir de categorias profissionais e são intermediárias entre os mutuários e o BNH). O
segmento médio visava atender famílias com renda mensal acima de seis salários mínimos, e nele
atuavam principalmente agentes privados (Sociedades de Crédito Imobiliário, Associações de
Poupança e Empréstimo) que formam o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo e atendem à
chamada classe média e também seus setores de construção de luxo, que formariam o segmento
superior (OLIVEIRA, 2014; apud VÉRAS, BONDUKI, 1986).
Com a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), nos anos 1960, foi priorizada a política habitacional nos projetos urbanos nos estados e criada a Companhia de Habitação do Piauí – COHAB, dando início à construção de vários conjuntos habitacionais. Mereceu destaque o Conjunto Parque Piauí por seu tamanho, possuindo um total de 2.294 habitações, havendo consequentemente um crescimento da malha urbana da cidade de Teresina. (CARVALHO, ANTUNES E ROCHA, 2010, p.03; apud FAÇANHA, 2003).
2.2 A formação dos bairros e dos subcentros
Campos Filho (2003, p. 60) apresenta quatro tipos básicos de tecido urbano que formam os bairros em
relação ao traçado das quadras e das vias de circulação e dos usos e que passam por transformações
até que serem consolidados:
a) O tipo 1 que nasce e se desenvolve isoladamente, normalmente na periferia do espaço urbano,
onde o comercio e serviços se desenvolvem aolongo das vias de ligação com outros bairros;
b) O tipo 2 que vai se formando a medida que o território urbano vai se expandindo e mantem
relações com os bairros já existentes;
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c) O tipo 3, normalmente planejado e implantado nas periferias, como os conjuntos habitacionais
para as classes populares;
d) O tipo 4 que se transformou em central dado à expansão urbana ou devido ao adensamento
do próprio bairro.
Os quatro tipos básicos podem ser podem ser desdobrados em diversos outros tipos e tem sua
ocupação e uso do solo determinados pelo mercado e pela iniciativa privada ou pública. No caso dos
conjuntos habitacionais, tipo 3, o setor de serviços e de comercio pode ser concentrado em um só local
ou crescer mais espontaneamente, ocupando os lotes residenciais ao longo das principais vias de
circulação. As centralidades lineares se estabelecem ao longo das vias coletoras ou arteriais, por onde
passam as linhas de ônibus ou podem ser polarizadas, no cruzamento das principais vias. Os terminais
de transportes coletivos são também elementos que polarizam centralidades no tecido urbano.
Villaça (1998, p.293) apresenta o conceito de subcentro que são formados em bairros e apresentam
uma diversidade de serviços e comércio que atendem à população local e a residente em bairros
próximos. De acordo com o autor, o “subcentro consiste, portanto, e numa réplica em tamanho menor
do centro principal, com o qual concorre em parte, sem, entretanto, a ele se igualar”. Alguns subcentros
se especializam e tendem são utilizados por toda população, outros surgem em áreas mais acessíveis
e próximas das zonas residenciais mais distantes dos centro.
3. O PARQUE PIAUÍ
O bairro Parque Piauí localiza-se na zona sul da cidade de Teresina (Figura 01) e teve origem pela
construção a partir de 1967 do Conjunto Habitacional Parque Piauí. Teresina, capital do estado do Piauí
tem uma população de 814.230 pessoas e o bairro Parque Piauí possui 11.307 habitantes (IBGE,
2010). A maioria é do sexo feminino (56%) e 52% da população tem entre 18 a 49 anos. Atualmente
possui 3024 domicílios, 94% casas e 78% habitações próprias. O bairro possui 100% dos domicílios
com abastecimento de água, energia elétrica e serviço de coleta de lixo e 78% com esgotamento
sanitário do tipo fossa séptica (SEMPLAN, 2016).
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Figura 01: Localização do bairro Parque Piauí na cidade de Teresina
Fonte: Google Earth modificado pelos autores.
3.1 Histórico do bairro
Teresina foi fundada em 1852, com a transferência da capital de Oeiras para um local às margens do
rio Parnaíba, em função da importância da navegação fluvial para o comercio da província na época.
A cidade iniciou-se com um traçado ortogonal de tabuleiro em xadrez, com as primeiras 100 quadras e
sua expansão deu-se no sentido norte e sul até a década de 1960, quando teve início a expansão na
zona leste, do outro lado do Rio Poti.
Entre as décadas de 1950 e 1960, a população da cidade passou de 90.723 habitantes para 142.691
habitantes, 70% deles na zona urbana, registrando um aumento de 57% da população do município,
de acordo com o IBGE. A partir da década e 1950, com o desenvolvimento da rede de transportes
rodoviários, a dinamização da economia do estado e a ampliação da rede de comercio e serviços da
capital atraiu para Teresina moradores de outras cidades e dos estados vizinhos, provocando a
expansão da cidade. Com a criação da COHAB-PI, em 1965, a construção de conjuntos habitacionais
teve forte influência também na expansão do tecido urbano.
De acordo com Façanha (2003) em Teresina, no final da década de 1960 foram construídos cinco
conjuntos habitacionais, onde o Parque Piauí, localizado na zona Sul merece destaque. A Agência de
Desenvolvimento Habitacional (ADH) informa que este conjunto habitacional teve o início de suas obras
datado em maio de 1967, no governo Helvídio Nunes, pela Construtora Lourival Parente, com
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conclusão e inauguração em setembro de 1968. O bairro possuía em sua fundação três modelos de
plantas baixas, totalizando 2.294 unidades. Em seus primeiros anos teve sua ocupação dificultada pela
ausência de infraestrutura.
Segundo a redação do site Entrecultura (2016) o Parque Piauí fora:
Entregue no ano de 1968, o Conjunto Habitacional Parque Piauí foi produto das primeiras políticas habitacionais implementadas no Piauí e representou incríveis 78% de todas as moradias construídas na década de1960 na cidade de Teresina. Por isso cabe ressaltar as vias pelas quais foram elaborados os planos para implantação desse conjunto: o bairro que já nasceu periférico (Figura 02), foi o responsável por abrir as fronteiras ao extremo sul da cidade de Teresina. Fruto da perversa lógica imobiliária e do lucro estatal, as 2.294 moradias ali construídas abrigaram boa parte da população que chegou na cidade no fim da década de 1960 (Figura 03) e início da década de 1970 (Figura 04), vindas principalmente do interior do estado do Piauí e estados vizinhos, em busca do sonho da casa própria ou aquelas expulsas das áreas nobres de Teresina.
Figura 02: Teresina em 1984 (à esquerda) e em 2016. (à direita).
Fonte: Google Earth modificado pelos autores. Fonte: Google Earth modificado pelos autores.
Segundo Monte (2010), essa expansão direcionada pela construção do conjunto habitacional Parque
Piauí, no entanto, não ocorreu de forma natural, já que a política habitacional, posta em prática pelo
poder público, forçou a expansão da área.
A falta de planejamento racional na política habitacional em Teresina redundou na localização dos conjuntos Parque Piauí [...], a uma distância de sete km do centro da cidade forçando um crescimento artificial [...], acarretando grandes restrições aos cofres públicos pela demanda de serviços e equipamentos em áreas totalmente desabilitadas. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO DE TERESINA, 1969, p.13)
Figura 03: Conjunto Habitacional Parque Piauí em 1968. Figura 04: Conjunto Habitacional Parque Piauí em 1977.
Fonte: Site Entrecultura Fonte: Acervo particular COHAB-PI.
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Cabe destacar que, originariamente, esse conjunto habitacional surgiu com proposito de ser popular,
porém a Companhia de Habitação do Piauí – COHAB-PI amarrou ao contrato um prazo de quitação de
25 anos, com parcelas distribuídas de forma que comprometia uma fração muito alta da renda dos
moradores do local, porém as pessoas não tinham como pagar as casas e começaram a abandona-
las. Percebe-se, com isso, que o conteúdo social desta área, naquela época, caracterizava-se por
estratos sociais de baixo poder econômico. Além disso, representava, também, um lugar distante do
resto do tecido urbano, configurando uma dispersão urbana. Dessa maneira, estas características
sociais refletem sobre a espacial, na forma de uma área desprovida de total infraestrutura naquela
época.
Lacerda (2013) nos relata que a situação socioeconômica do Parque Piauí na época da sua entrega
era caótica, que seus moradores sofriam com falta de água, saúde, energia e transporte, total falta de
atuação do estado.
A ocupação do Parque Piauí foi ocorrendo com a necessidade, e assim foi enfrentando os problemas
e tomando forma. O crescimento populacional e urbano feito muitas vezes desordenadamente era mais
rápido do que ações sociais do estado e numero contingente de pessoas que buscavam novas
alternativas de trabalho na capital e de moradia nos bairros que proliferavam ao redor do centro urbano
principal. Monte (2010, p.55) diz categoricamente:
É para esta cidade de forte influência regional, sede administrativa e o centro mais dinâmico do Piauí, que muitos migrantes se dirigiram em busca de oportunidade de emprego, moradia, saúde ou educação que lhes assegurassem uma vida mais estável e sem tantas atribulações. Eram pessoas que se desfaziam do pouco que possuíam no campo e migravam para a cidade, onde a realidade, muitas vezes, se mostrava adversa a imaginada. Sem recursos, essas pessoas passam a se instalar em áreas irregulares ou em terrenos baldios, construído barracos que modificaram substancialmente o aspecto físico da cidade que recebia um intenso contingente de imigrantes.
Com o aumento da população e suas necessidades, as estratégias utilizadas pela população de baixa
renda para obter a sobrevivência era através do mercado informal e se fazia nas tarefas de vendedores
ambulantes, sapateiros, engraxates, barbeiros, movimentando assim o comercio da região, o que
disfarçava uma situação patente de desemprego que circundava o cinturão periférico dos desassistidos
socialmente, criando polos de comercio.
Entre 1991 e 2010 a população do bairro diminuiu 27%, de acordo com o IBGE (2010), por conta do
grande crescimento do comercio na região e da valorização dos lotes, que incentiva as pessoas a
migrarem para outros bairros e vender ou alugar suas casas para transformar em comercio. A renda
dos moradores do bairro aumentou muito comparada a sua criação, O valor do rendimento nominal
mediano mensal dos domicílios particulares permanentes em 2010 do bairro é de R$ 1.720,00 acima
da média da zona Urbana do município de R$ 1.110,00.
3.2 O projeto original do Parque Piauí
A construção do Parque Piauí, iniciada em 1967, teve quatro fases (Figura 05). Em amarelo destaca-
se a primeira fase de construção do conjunto habitacional Parque Piauí, sendo inaugurado com 300
habitações em setembro de 1967. A segunda fase, em laranja, ocorre em setembro de 1968 com a
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inauguração de 2.294 unidades. Em 1976 o bairro sofre mais uma ampliação, e inaugura em maio de
1977 um total de 500 unidades, constituindo a terceira fase, em roxo. A última fase, em azul, segundo
a COHAB – PI (1984) o loteamento possuía áreas livres que foram loteadas e financiadas pela COHAB
– PI e BNH.
Figura 05: Fases do Conjunto Habitacional.
Fonte: Arquivo Pessoal Alana Carine.
O partido urbanístico foi estruturado em terreno situado entre duas rodovias, a BR316 e a PI 130, tendo
a Avenida Juarez Távora como principal acesso ao bairro e ligando as duas rodovias. As vias locais de
acesso às quadras e lotes são de pequena largura 8 e 10m, e projetadas de forma descontínua, de
maneira a evitar o trânsito nas áreas residenciais. O bairro pode ser dividido em duas partes, com as
áreas institucionais e verdes, previstas pela legislação em vigor, distribuídas nos dois lados.
As quadras residenciais são formadas por lotes de forma regulares, de 09 x 18m ou de 10 x 20m,
possibilitando uma alta ocupação do terreno, que apresenta uma densidade demográfica de 102,8
hab/hectare, uma das maiores da cidade, apesar de ser um bairro com predominância de edificações
térreas. O tamanho dos quarteirões varia entre 126 a 81 metros por 36 ou 40 metros, formando
retângulos regulares que permitem no menor custo com a implantação de infraestrutura, de acordo com
Mascaró (2003).
O tecido urbano resultante do projeto de implantação do Parque Piauí pode ser classificado como do
tipo 3, de acordo com Campos Filho (2003, p.61), em função do traçado básico das quadras e das vias
de trânsito, delimitado pelas vias de ligação interbairros, as moradias e os lotes para serviços, comércio
e instituições distribuídas no interior da gleba.
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Observa-se através do mapa abaixo (Figura 06) o estudo de uso do solo do bairro em 1968. Destaca-
se o caráter totalmente residencial, composto por habitações térreas (hachura de cor azul), um centro
comercial (hachura laranja), áreas institucionais em roxo e sobras de terreno, áreas verdes e vazios
urbanos (hachuras verdes)
Figura 06: Mapa de Uso do Solo em 1968.
Fonte: Arquivo Pessoal Alana Carine.
Com relação ao gabarito observado no bairro, antigamente, praticamente inexistiam construções de
dois ou múltiplos pavimentos e agora, como consequência de um maior adensamento no bairro são
recorrentes ao longo de sua extensão. No que diz respeito as áreas verdes, na época da fundação do
bairro, elas existiam em maior quantidade, pois constavam vazios urbanos dotados de vegetação,
entretanto na década de 80, estes terrenos foram loteados.
4. ANÁLISE E RESULTADOS
Após 50 anos de implantação do Parque Piauí o bairro já se encontra consolidado e pode ser
considerado um subcentro na região sul da cidade, em função da oferta de serviços e comercio que
atende não só aos seus moradores como também a população dos bairros mais próximos. Essa
posição de sub-centralidade tende a ser intensificada com a operação do novo sistema de transportes
urbanos e do novo terminal de integração a ser implantado no bairro.
Realizou-se uma comparação entre o Parque Piauí como no projeto original e a realidade que se tem
nele nos dias de hoje, tendo sido avaliados os efeitos atrelados à pós-ocupação do bairro pela
população e como isto se reflete até o momento atual. Deste modo, o foco da discussão será pautado
nas mudanças no uso do solo, visto que este aspecto contempla as maiores alterações ocorridas.
4.1 Mudanças no uso do solo
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No que concerne aos aspectos funcionais, relacionados ao uso do solo no Bairro Parque Piauí, a
(Figura 07) abaixo, demonstra um perfil de ocupação majoritariamente voltado para o uso residencial
(hachuras na cor azul claro), composto por habitações térreas, de dois pavimentos e de múltiplos
pavimentos. Este caráter essencialmente residencial do Parque Piauí está atrelado à sua origem, pois
desde a sua fundação, em 1967, a partir do programa Cohab, este bairro foi criado para ser um dos
primeiros conjuntos habitacionais de Teresina.
Figura 07: Mapa de Uso do Solo atual
Fonte: Arquivo Pessoal Alana Carine.
Atualmente, sabe-se que um bairro composto exclusivamente por moradias contrapõe a lógica de
desenvolvimento sustentável e gera diversos problemas urbanos, dentre os quais podem ser
evidenciados: maiores gastos com mobilidade urbana e precariedade de acesso à serviços públicos e
privados, bem como aos espaços de lazer e cultura.
Contudo, uma comparação entre o uso do solo atualmente e o projeto original (Figura 06), indica a
inserção de edificações mistas, aquelas que integram usos diferentes na mesma construção, como por
exemplo: comércio de pequeno/médio porte e residência (hachuras na cor vermelha).
A significativa presença de edificações mistas no Parque Piauí se justifica como uma forma encontrada
pelos moradores para solucionar a carência de espaços destinados à serviços e comércios no projeto
inicial, caracterizando-se como um exemplar típico do cenário brasileiro no que diz respeito a
concepção projetual de conjuntos habitacionais de interesse social, visto que é recorrente neste tipo de
empreendimento, a prioridade em dispor o maior número de moradias sem a devida preocupação com
fatores essenciais à sustentabilidade, dentre eles, a versatilidade de tipologias arquitetônicas.
A situação esplanada acima, pode ser fortemente representada pela substituição que ocorreu de
grande parte das residências que originalmente compunham a Avenida Juarez Távora (Figura 08), no
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Parque Piauí, por pontos comerciais que tornaram esta avenida um polo comercial, capaz de abranger
o mercado consumidor dos demais bairros da zona Sul.
Figura 08: Av. Juarez Távora, principal avenida do Parque Piauí em 1974 (à esquerda) e em 2018 (à direita)
A partir da análise da figura 07 e de dados fornecidos pela Prefeitura de Teresina (2016), referentes ao
perfil do Parque Piauí, nota-se outra diferença percebida em relação ao projeto original, que diz respeito
à quantidade expressiva de edificações destinadas exclusivamente ao uso comercial (hachuras na cor
laranja), uma tipologia que antigamente ocupava apenas dois lotes, hoje difundiu-se por toda parte.
A mudança de uso ocorrida principalmente na Avenida Juarez Távora, que se transformou numa via
comercial, trouxe também reflexos negativos para o bairro por tornar o espaço subutilizado, visto que
no período noturno o comércio fecha e o local fica abandonado, gerando insegurança.
Com relação ao gabarito observado no bairro, antigamente, praticamente inexistiam construções de
dois ou múltiplos pavimentos e agora, como consequência de um maior adensamento, estão
recorrentes ao longo de sua extensão.
De acordo com os dados do Plano Diretor de Teresina em atualização (PMT, 2017), o bairro Parque
Piauí é um dos bairros que possui grande concentração de empresas, na área de comercio, serviços,
construção civil e indústrias (Figura 09) e é considerado uma centralidade já consolidada na zona sul
do município.
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Figura 09 – Mapa com número de empresas por bairro (à esquerda) e centralidades na zona urbana (à direita).
Fonte: PMT – Plano Diretor de Teresina em atualização (2017)
Em terceiro lugar entre as tipologias arquitetônicas mais presentes no Parque Piauí estão as
institucionais (hachuras na cor amarela), predominantemente ocupada por escolas, sendo 6 municipais
e 7 estaduais, mas também dispõe de Mercado Público, Lavanderia Comunitária,4° DP e CSU. Todos
esses equipamentos urbanos atendem não somente a população do bairro mas também atraem
moradores de outros bairros da zona sul.
A partir da observação de que existe uma quantidade excessiva de escolas no Bairro Parque Piauí,
procurou-se levantar por meio de dados fornecidos pelas escolas públicas e privadas, que a quantidade
de estudantes no bairro, perfaz um total de mais de 5054 alunos, somente em escolas públicas.
Entretanto, analisando informações fornecidas pela Prefeitura de Teresina (2016), constatou-se que o
Parque Piauí tem 11.307 habitantes dentre os quais aproximadamente 17% estão em idade escolar,
entre 5 e 17 anos, levando a conclusão de que grande parte dos alunos que estudam no Parque Piauí
habitam em outros bairros.
O Mercado Público conta com boxes para venda de verduras, frutas, carnes, vísceras e lanchonetes
que funcionam no turno da manhã, além de lojinhas que funcionam nos turnos da manhã e da tarde.
Possui um elevado fluxo de pessoas e constitui-se de um atrativo para moradores de outros bairros da
Zona Sul que não dispõem de Mercados Públicos em seus bairros.
O 4° DP de acordo com a Prefeitura Municipal de Teresina (2016), localizado em frente a Quadra 11,
no Parque Piauí, é um Distrito Policial, responsável por promover a segurança pública de 33
localidades, entre vilas e bairros da Zona Sul.
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O Centro Social Urbano do Parque Piauí conta com serviços de retirada de documentos, academias
de circo e artes marciais, salão de beleza comunitário e Delegacia da Mulher. A presença destes
serviços no Parque Piauí, evita o deslocamento da população residente na Zona Sul até o centro da
cidade para realização de necessidades consideradas cotidianas.
4.2 O novo terminal de integração
A cidade de Teresina está passando pelo processo de mudança do sistema de transporte coletivo,
onde deixará de utilizar o sistema radial, que tem início de sua rota em um bairro periférico e seu fim
em área central, para o sistema de rede integrada de transportes coletivos. O sistema de rede integrada
de transportes coletivos, tende a separar o sistema de transporte coletivo em zonas (Zona Norte, Zona
Leste, Zona Sul, Zona Sudeste e Centro) e em cada uma delas comportará dois terminais de
integração. Esse método consiste em dividir as rotas em linhas alimentadoras, linhas troncais e linhas
inter-terminais. As linhas alimentadoras são feitas pelos ônibus com rota bairro-terminal, as linhas
troncais com rota terminal-centro e as linhas inter-terminais com rota terminal-terminal.
Localizado na zona Sul da cidade, o bairro parque Piauí foi escolhido para locar um dos terminais de
integração desta zona, devido a sua posição de centralidade na zona sul de acordo com estudos da
PMT. Segundo o Plano diretor de transporte e mobilidade urbana de Teresina (2008) o terminal seria
alocado em um terreno nas margens da avenida Henry Wall de Carvalho, contudo, o terminal foi
construído no cruzamento das avenidas Henry Wall de Carvalho e Rua C, como mostra a figura 10.
Ainda antes de construírem nesse novo local, houve a tentativa da Prefeitura de Teresina de construir
onde existe a Praça das Ações Comunitárias. No final do ano de 2015, a comunidade reivindicou o seu
espaço perante a cidade e a participação nos planos que visam a qualificação urbana do Município de
Teresina, dando início ao maior movimento de ocupação urbana da cidade, retomando a posse do seu
patrimônio comunitário. A Praça das Ações Comunitárias é caracterizada por uma extensa área verde,
fazendo parte do cotidiano da comunidade. No plano, 177 árvores seriam trocadas por concreto e metal
de um terminal de ônibus. (ENTRECULTURA 2016)
Figura 10: Local de construção do Terminal Parque Piauí segundo Plano diretor (à esquerda) e atual local de construção do Terminal Parque Piauí (à direita).
Fonte: Plano diretor de transportes e mobilidade urbana de Teresina (2008).
Fonte: Google Mapas 2018, modificado pelos autores.
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O terminal será alimentado por 12 linhas alimentadoras, que atenderá 12 áreas da zona sul de Teresina,
e terá 7 linhas troncais que levarão os usuários em direção ao centro da cidade e à Universidade.
Com isso, é notável o impacto que o bairro sofrerá com o aumento do fluxo de pessoal que circularão
em sua zona, tendo em vista que ele funcionará como ponto central para abastecer o transporte público
de parte da zona Sul da cidade.
A implantação do Terminal de ônibus, de serviços, escolas, Mercado Público, Distrito Policial e Centro
Social, todos tendo em comum uma abrangência populacional superior à que habita no bairro,
corroboram com a afirmativa de que hoje, o Parque Piauí é um subcentro da cidade de Teresina.
4.2 Sistema Viário
De acordo com a (Figura 11), é possível observar que o sistema viário desenvolveu-se a partir de um
plano categoricamente ortogonal e entender hierarquia e o sentido das vias.
Figura 11: Mapa do Sistema Viário
Fonte: Arquivo Pessoal Alana Carine
A única via expressa ou de trânsito rápido (marcada de verde), presente no bairro em estudo, é a BR
316, esta definição está relacionada ao limite de velocidade previsto para esta via de até 80km/h e aos
seus acessos especiais com trânsito livre. Nesta via expressa, inexistem semáforos, cruzamentos,
retornos, interseções e travessias de pedestres em nível e por ela é impossível acessar diretamente os
lotes lindeiros.
Entende-se a Avenida Henry Wall de Carvalho e a Pista Auxiliar (na cor azul) como vias arteriais, pois
possuem sentido duplo, funcionam como uma demarcação do bairro e como formas de ligações às
demais regiões da cidade, dispõem de interseções em nível auxiliadas por semáforos, acessibilidade
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tanto aos lotes lindeiros como às vias coletoras e locais, além de que nelas é permitido por lei atingir
uma velocidade de até 60km/h.
As marcações feitas na cor telha, dizem respeito a Avenida Marechal Juarez Távora, Avenida 19 de
outubro, as ruas 01,77,107,115 e a rua Valfrifo Salmito, consideradas vias coletoras, visto que a
velocidade permitida para este tipo de via é ainda mais baixa, sendo de no máximo 40 km/h e a
finalidade das mesmas de coletar e distribuir o trânsito, para ingressar ou mudar para outra via, como
a de trânsito rápido ou arterial, por exemplo.
As demais vias sem demarcações, são as locais, cujas características principais são as suas
destinações geralmente para deslocamentos locais, a ausência de semáforos e o limite de velocidade
permitida, ainda inferior a 40 Km/h.
Com relação as larguras das vias, conclui-se que em maioria, as vias locais apresentam de 6 a 8.5
metros e as avenidas aproximadamente 9m. Todavia, entre as quadras 65 e 117, observa-se a invasão
de parte da via 77, que no projeto original constava com 15 m e atualmente apresenta apenas 8 m,
tendo perdido espaço para invasão de novos lotes lindeiros com testada de 7m.
4.3 As áreas verdes
O Parque Piauí possui 10 praças distribuídas no bairro, todas de pequeno porte, de acordo com o
projeto original. São as Praças da Integração, Praça das Ações Comunitárias, Praça da Concórdia,
Praça da União, Praça São Pedro, Praça da Igreja São João Batista e Igreja São João Evangelista,
Praça da Faveira, Praça das Crianças, Praça das Mangueiras e Praça Vereador Paulo Fortes. Além
das praças, existem poucas áreas verdes nos lotes residenciais, que tem praticamente toda a área do
lote construída. (Figura 12)
Figura 12 – Distribuição das áreas verdes no bairro Parque Piauí.
Fonte: Google Earth modificado pelos autores.
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A partir de 21 de dezembro de 2015, em Teresina, a Lei Complementar N°4.851 define que um
percentual de 10% deve ser destinado a áreas verdes no parcelamento do solo, contudo tendo o seu
projeto iniciado em 1967, anterior a lei em questão, o Parque Piauí possui um percentual de apenas
4,61% da área total do bairro, destinado à áreas verdes, configurando portanto um percentual
relativamente baixo para os parâmetros urbanísticos atuais.
Além do exposto acima ,dentre os treze terrenos definidos como áreas verdes, dois destes espaços
são de propriedade particular, um está ocupado por um equipamento institucional e somente dez deles
estão realmente funcionando como praças e servindo às finalidades que lhes são comum, como o lazer,
à convivência urbana e as práticas esportivas e culturais, nota-se ainda uma distribuição irregular
destas praças no bairro, concentradas próximas as residências da parte norte, estes espaços atendem
somente uma parcela da população. Percebe-se ainda que a existência de alguns vazios urbanos
contribuíram com a presença de áreas verdes, todavia, a partir da década de 80, estes terrenos foram
loteados e ocupados por construções.
CONCLUSÃO
A pesquisa analisou as alterações ocorridas no Conjunto Parque Piauí desde sua implamtação há
aproximadamente 50 anos, feitas pela população que procura ocupar os espaços em função de suas
necessidades, considerando que o bairro deve atender não sómente à função de moradia, mas
também de lazer, de trabalho e serviços como de educação e saúde.
Os primeiros moradores tiveram grandes dificuldades devido à falta de infraestrutura do bairro, que foi
inaugurado praticamente somente com as casas construídas e se situava à época numa região
totalmente isolada do tecido urbano, na periferia da zona sul.
Todas as alterações ocorridas corroboraram para a transformação do bairro em um subcentro, de
acordo com o conceito apresentado por Villaça (1998), em função principalmente da implantação de
serviços variados, do comercio, mercado público, igrejas e escolas públicas e privadas e finalmente do
terminal de integração, que atrairá um número maior ainda de usuários para a área.
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