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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
Alfio BrandenburgJeane RucinskiPedro Silva Junior
Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos:a associao de
consumidores de produtos orgnicos
do Paran ACOPA
Introduo
Este trabalho analisa a emergncia de novos atores1, tomando
comoreferncia o consumo de alimentos ecolgicos2 e a construo
daAssociao de Consumidores de Produtos Orgnicos do Paran(ACOPA). A
criao da Associao foi acompanhada, desde o seuincio, nas suas
diversas atividades por um dos pesquisadores, le-gitimando-se dessa
forma a tcnica de investigao observao-participante.
Complementarmente, com o propsito de realizar acoleta de dados e
informaes, foram aplicados questionrios erealizadas entrevistas com
os associados, e feita uma anlise docu-mental de boletins
informativos e panfletos utilizados nas campa-
Alfio Brandenburg professor do Departamento de Cincias Sociais
daUFPR ([email protected]); Jeane Rucinski mestre em sociologia,
Pro-grama de Ps-Graduao em Sociologia da UFPR
([email protected]); Pedro Silva Junior mestrando em
sociologia, Programa dePs-Graduao em Sociologia da UFPR
([email protected]).
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
nhas da Associao. Merecem destaque as entrevistas com
infor-mantes qualificados, isto , com aqueles que tiveram uma
partici-pao ativa na criao da associao. No entanto, para serem
obti-das informaes sobre o processo de participao na construoda
associao foram entrevistados todos os associados que contri-buam
com a anuidade, totalizando um universo de 31 informan-tes.
Trata-se, pois, de um estudo de caso que alia um conjunto detcnicas
de investigao, visando melhor apreender as diversasdimenses
relacionadas com a mobilizao dos atores.
O processo de formao desses novos atores da esfera do consu-mo
foi analisado com base na perspectiva construtivista que
buscacompreender, segundo Hannigan (1995), como os
problemasambientais so reunidos, apresentados e contestados. Nesse
senti-do, foi fundamental para entender os processos de formulao
econtestao dos problemas ambientais a idia de rede (SCHERER-WARREN,
1999) e de atores sociais (TOURAINE, 1994). A associ-ao, como ator,
s adquire sentido contestatrio quando articula-da com um conjunto
de atores na forma de rede. Assim sendo,duas unidades
institucionais merecem destaque: de um lado, aAssociao de
Agricultores Orgnicos do Paran, diretamente en-volvida com a produo
de alimentos e, de outro, a Associao deConsumidores. Isso nos levou
igualmente a considerar aspectosda relao rural-urbano na anlise da
reconstruo das relaessocioambientas. O consumo de alimentos
ecolgicos, ao mesmotempo que reconstri relaes com o ambiente
natural e promovea estratgia de sobrevivncia de agricultores no
espao agrrio,apresenta-se como alternativa para a segurana
alimentar do con-sumidor e restabelece formas solidrias de relao
entre agentesprodutores e consumidores. Assim, outro aspecto deve
ser ressal-tado na anlise das relaes entre esses atores, qual seja,
o nasci-mento de um ator que no apenas constri novas relaes
socioam-bientais, mas ao mesmo tempo constri-se como sujeito, que
dian-te de sua experincia busca dar sentido a um projeto de vida
quearticula racionalidade e subjetividade, ou razo e
identidade.
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
O mercado de alimentos na sociedade de consumo
Tornou-se senso comum o fato de que a moderna sociedade
demercado massificou-se, dando origem a condutas padronizadasde
consumo, o que se poderia designar de conseqncia da inds-tria
cultural. A industrializao, uma das quatro principais dimen-ses da
modernidade conforme Giddens (1991), apropria-segradativamente dos
processos naturais, como por exemplo, o deproduo de alimentos, at
ento reservada atividade agrcola.Dessa forma, surge a indstria
agroalimentar que produz macia-mente segundo padres de qualidade,
tornando o consumo maisatraente, do ponto de vista de sua
apresentao, seguindo a lgicado conjunto de produo de mercadorias.
Esse processo deagroindustrializao est fundamentado num modelo de
produ-o tcnico-cientfico que inclui sementes hbridas, enxertos,
inter-venes genticas, agroqumicos, formas de cultivo e explorao
einstrumentos tcnicos, em que se pode identificar, dentre
outrosparmetros da modernidade, a aparncia do alimento:
atenodirigida e eleita como uma das favoritas da sociedade de
consu-mo. Ao consumidor, diante da oferta do mercado, no haveria
outrasada a no ser consumir o que for produzido pela indstria.
No entanto, se deixarmos de lado a viso clssica da sociedade
demercado, como se configura atualmente o mercado de alimentos?Para
esclarecer esta pergunta, preciso lanar um olhar sobre arealidade
concreta, analisar a produo e oferta do mercado dealimentos e,
conseqentemente, como isso se reflete na sociedade,ou, mais
apropriadamente, na atitude do consumidor.
Ao se pensar a questo do consumo, compreende-se a
sociedadecontempornea articulada ao cotidiano do consumidor, pois,
en-tre os consumidores, h diferenas no modo de consumir, seja
quan-to maneira de satisfazer suas necessidades, seja quanto aos
seusanseios e desejos. Observe-se, ainda, que a sociedade de
consumono est atrelada somente simples relao de oferta e
procura,mas tambm s vises de mundo, aquilo que chamado de pecu-
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
liaridades culturais. A tendncia da cultura de consumo para
di-ferenciar, para estimular o jogo das diferenas, precisa ser
matiza-da pela observao de que as diferenas precisam ser
reconheci-das e legitimadas socialmente. (FEATHERSTONE, 1995:
125).
Entretanto, algumas vertentes que tm como objeto de anlise
asociedade de consumo ou cultura de massa tendem a considerartodas
as manifestaes culturais como absolutamente padroniza-das,
reduzindo os indivduos a seres passivos e conformistas.Touraine
(1994) critica essas linhas tericas que explicam o atorpelo
sistema, dizendo que o consumidor se desprende de seu lu-gar na
ordem social, o ator se desprende do sistema. A entrada nasociedade
de consumo significa, mais que qualquer outra mudan-a social, a
sada da sociedade moderna, uma vez que o melhorque a define que as
condutas so determinadas pelo lugar dosatores no processo de
modernizao (TOURAINE, 1994: 153).
No h como conceber a sociedade agindo imperativamente sobretodos
os comportamentos, todas as manifestaes individuais comose supunha
classicamente. H movimentos e lgicas que no secorrespondem entre
si, e a realidade comporta conflitos e diversi-dades. As prticas de
consumo esto inseridas nas sociedades sobvrias manifestaes.
Mercados diferenciados, produtos artesanaise ecolgicos so
alternativas para o consumidor. Nessa perspecti-va, ganha corpo o
consumo do verde, quer na forma de produtos,quer na forma de
imagens, ambientes ou espaos. Os alimentosecolgicos ganham lugares
diferenciados e comeam a disputarespaos de redes de mercado, at h
pouco tempo de domnio ex-clusivo da agroindstria. Para um mercado
diferenciado equivaledizer consumidor diferenciado e, no caso de
alimentos, consumi-dor ecolgico.
O consumidor ecolgico crtico pode ser definido como aquele
que,alm da relao qualidade/preo, inclui, em seu poder de esco-lha,
os critrios ambiental e social. Ele seria a mola propulsora parao
uso e desenvolvimento de tecnologias limpas, se exigisse o
aten-
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
dimento a suas preferncias na hora da compra e boicotasse
osprodutos que degradam o meio ambiente. Mediante sua
atitudeindividual, o consumidor pode ser o responsvel pelas
mudanasnas matrizes energticas e tecnolgicas do sistema de
produo.
Complementando essa lgica, vale destacar que o consumo temsido
visto como lugar, por excelncia, de exerccio de cidadania.Canclini
(1995) ressalta que as mudanas na maneira de consumirvm alterando
as formas de exercer a cidadania, surgindo umacumplicidade entre
consumo e cidadania. Vale lembrar os cdigosde defesa do consumidor
e as associaes de consumidores de de-terminados produtos, como, por
exemplo, a Associao dos Con-sumidores de Produtos Orgnicos do Paran
(ACOPA). Entida-des como esta, que lutam para difundir novas
alternativas de con-sumo, podem reforar o surgimento de um
consumidor que sejatambm cidado (PORTILHO, 2005). Assim, consumir
torna-se si-nnimo de participar, assumindo uma conotao no apenas
deum dever e obrigao cvica, mas de um ao contestadora, de
umareivindicao, uma reao em que a cidadania passa a ser exercita-da
mediante novos padres.
O consumidor ecolgico tem na sua escolha a
responsabilidadeambiental que evocada nesse tipo de agricultura e
simultanea-mente mostra-se crtico quanto ao consumo massificado e
desme-dido que provoca a degradao do meio ambiente. Visto
dessamaneira, tal consumidor tambm se v entre as contradies
domercado e opta por consumir alimentos ecolgicos primordialmen-te
para precaver-se de riscos com relao sua sade.
Novos atores na esfera do consumo de alimentos
Diante das contradies da sociedade de mercado, o
consumidorecolgico surge como um crtico ou um contestador das
prticasde produo agroindustrial. Uma contestao que nasce dos
efei-tos implcitos dessas prticas, as quais passam a ser
percebidoscomo de risco para a sade e para a qualidade de vida. Os
indi-
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
cadores de risco alimentar, tais como o mal da vaca louca e a
mortepor intoxicaes, que proliferam nessa etapa da modernidade,
cons-tituem os chamados efeitos colaterais de que fala Beck (1995).
Elesseriam, juntamente com outros indicadores de carter ambiental
esocial, resultantes de uma construo social que nos conduzem auma
sociedade de riscos. Nesse contexto, no h mais como teruma confiana
cega, passiva e plena nas instituies, empresas ena prpria cincia.
Faz-se necessrio estabelecer uma confianaativa, ou seja, uma
confiana que esteja sempre regenerando suacrena perante os fatos
(GIDDENS, 1991).
Diante de tal problemtica, existem consumidores que se negam
aconsumir produtos da agroindstria e encontram na
agriculturaorgnica uma opo segura, como indicou a pesquisa
realizadapor Rucinski (1999), na qual 94% dos consumidores de
alimentosorgnicos apontam a sade como o principal motivo para
compra-rem produtos orgnicos.
Essa reconstruo de padres de confiana significa, no caso
dasegurana alimentar, uma opo por alimentos livres de agrotxicose
resduos qumicos. Essa opo leva os consumidores a se organi-zarem e
a se posicionarem como atores sociais que reivindicam aconsolidao
de suas escolhas, visando a manuteno de uma ali-mentao saudvel.
No entanto, esse processo de conquista de alternativas e opes
dealimentos oriundos de diferentes modelos de produo implica aao de
diferentes atores de forma articulada. dessa forma que aatuao em
rede permite que a ao possa ser organizada de for-ma complementar
pelos diferentes atores que dela participam.Assim, na perspectiva
construtivista de tratamento das questesambientais, a primeira
etapa relativa construo social do pro-blema aquela formulada, nesse
caso, pelos consumidoresdispersos na sociedade de consumo e que
comeam a perceber ris-cos para a sade nos produtos
industrializados. Essa percepo,contudo, passa ao mesmo tempo pela
formulao de certas exi-
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
gncias que encontram legitimidade na esfera dos especialistas,ou
seja, nos resultados de pesquisa dos profissionais da cincia.
Na sua primeira fase, a da construo do problema ambiental,
importante destacar o conjunto de dados e indicadores que
sus-tentam as reivindicaes. Nesse sentido, deve-se destacar o
Pri-meiro Encontro de Consumidores Orgnicos, realizado em novem-bro
de 2001, na Casa do Estudante Luterano Universitrio emCuritiba.
Nessa oportunidade, especialistas das reas mdica, ali-mentar e
agronmica apresentaram dados de pesquisa indicandoque, de fato, o
uso indiscriminado de agrotxicos afeta o meioambiente, agricultores
e consumidores.
Os resduos de agrotxicos em vegetais e frutas cada vez mais
somotivos de preocupao da populao em geral, sendo de conhe-cimento
da sociedade que alguns agrotxicos podem causar cn-cer. A
literatura cientfica apresenta tambm muitos trabalhos
demutagenicidade dos agrotxicos (GRISOLIA, 2005). Os riscos des-ses
efeitos adversos dependem da quantidade e da variedade dasformulaes
utilizadas, isto , o nvel de risco est associado doseda intensidade
de exposio.3 Estudos realizados no sentido deavaliar a qualidade de
hortcolas convencionais, orgnicas ehidropnicas identificaram ndices
de resduos txicos em alimen-tos, superiores aos permitidos pela
legislao brasileira. A anlisede diversos produtos cultivados na
Regio Metropolitana deCuritiba mostrou que, entre as hortcolas, a
alface, o espinafre, oagrio e a cenoura foram as que apresentaram
maior risco ao con-sumo humano. Ainda segundo este estudo, o uso de
aditivos qu-micos muda estruturalmente os alimentos e interfere em
sua com-posio nutricional (STERTZ, 2004).
Os anabolizantes, bem como os hormnios artificiais,
antibiticos,tranqilizantes e demais compostos qumicos que so usados
nacriao de animais, atuam como agentes transformadores,
dese-quilibrando o organismo. Segundo o mdico Cludio
Paciornick,4
os compostos organoclorados e organofosforados, quando
ingeri-
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61
Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
dos, alteram 510 sistemas no ser humano, entrando em uma ca-deia
de combinao qumica sem que se saiba quais sero as con-seqncias.
Nessa mesma perspectiva, o estudo do mdico e pes-quisador Higashi
(2002), que acompanhou 124 pacientes, identifi-cou em 100% deles a
presena de algum tipo de agente qumico,conforme indica a tabela
1.
Tabela 1 Distribuio de agentes qumicos (agrotxicos) em
124pacientes, analisados entre jan. e set. de 2000, Londrina,
PR
ocimuqetnegA)ocixtorga(
aicnqerFsetneicaped.n(
oiubirtsiD
enadniL 18 36,37
edirteriP 46 81,85
sohpodimnahteM 36 72,75
nirtemreP 36 72,75
D-4,2 95 36,35
aidrulicA 35 81,84
otalircaixoteM 94 45,44
setahpecA 54 09,04
anizartA 14 72,73
ociltemnoihtaraP 13 81,82
etasofilGopurG 03 71,72
sodarofsofonagrO 92 63,62
lozairtopurG 82 54,52
Fonte: HIGASHI (2002).
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
Muitos desses princpios ativos so encontrados nos
agrotxicos(HIGASHI, 2002). Sabe-se que h quadros agudos de
intoxicao,identificados nos agricultores que manipulam agrotxicos,
e queapresentam problemas gastrointestinais, no aparelho
respiratrioe no sistema nervoso central que podem levar
incapacidade e morte. H tambm o problema de intoxicao crnica, que
se dpor meio da ingesto diria de pequenas ou mdias
quantidadesdesses produtos e que com o passar dos anos acumulam-se
no or-ganismo.5
Os dados e informaes aqui citados referendam a conduta de
con-sumidores cticos, no apenas quanto ao consumo de alimentosde
origem industrial, mas tambm em relao ao conhecimentoque orienta a
sua produo. Desse modo possvel entender comoa sabedoria popular e o
saber cientfico tendem a complementar-se resultando em novas
condutas e prticas cotidianas. Identifi-cam-se, assim, outros
saberes que, em conjugao com a cincia,6
apontam para a busca de alternativas para
determinado(s)pblico(s), resultando em um microcomponente
transformador decondutas sociais, mesmo que de maneira
aparentemente incipiente.Nesse sentido, Morin (1994) afirma que o
conhecimento cientficocomporta um eixo na razo, mas tambm composto
por outrasfacetas da racionalidade no-cientfica.
H registros do cotidiano que provm do senso comum e auxiliamna
legitimao dos riscos advindos de alimentos contaminados
poragrotxicos, como nos seguintes depoimentos:
A partir da idia de que o produto com agrotxico vem embala-do
naquelas condies e com todas aquelas advertncias, leva acrer que
ele tem um poder ofensivo. Eu acredito que o alimentoorgnico
melhor. Eu peguei o fim de uma poca que o comr-cio de frutas e
verduras era feito de uma forma bem rudimen-tar, nas portas das
casas, que alguns ainda vinham com suascarroas vender na cidade.
Existia a tarefa de escolher o alimen-to com aparncia melhor, mas
algo que saiu da terra e foi paraa carroa. Ou a mudana da forma de
comercializao de frutas
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
e verduras com introduo dos supermercados, a prpria mu-dana de
mentalidade que as pessoas comearam a exigir fru-tas e verduras
bonitas, escovadas e perfeitas, lgico que existea demanda, a ponta
da oferta vai procurar montar aquele pro-duto e para fazer isso de
uma forma rpida e produtiva aten-dendo o capitalismo, sem nenhum
agrotxico na cadeia de pro-duo ... no comeo todo mundo achava timo
e o coitado queestava com frutas que no eram bonitas foi tendo que
sair domercado ou passar a comprar os agrotxicos para poder
sobre-viver que demorou esta retomada de conscincia da populao...
durante muito tempo se voc quisesse encontrar algo dife-rente, no
encontrava diferente daquilo que o mercado oferecia(associado da
ACOPA).
Ou ento:Minha filha quando criana manifestou alergia uva, que
umade suas frutas prediletas. A cada vez que comia, o corpo
delaficava repleto de feridas. Certa vez, quando fui feirinha
deorgnicos, trouxe alguns cachos de uva, ela no resistiu e co-meu.
Para nossa surpresa no surgiu nenhuma ferida sequer.Ento o que ela
tem no alergia uva, mas sim quantidadede agrotxicos que absorvida
pela uva (associada da ACOPA).
Como esses, h vrios relatos relacionados a outras frutas,
verdu-ras, gros e demais alimentos, informando que, aps um
check-upmdico, a orientao clnica recaiu na mudana de hbitos
alimen-tares e que, ao transformar a alimentao e torn-la orgnica,
ossintomas desapareceram.
Aqui fica notrio que nas percepes e apreenses dos fatos quese
inicia o processo de reconstruo da realidade social. Essa per-cepo
no se restringe somente sade humana, mas abrange asade do planeta,
referindo-se a uma produo que envolve o solo,os lenis freticos, os
animais, a vegetao.
Os riscos dos agrotxicos esto contaminando toda a natureza,comea
pela natureza, pelo ar, pelo mar e o corpo humano, um dos maiores
agressores. Se voc tem uma plantao de ba-tatas no morro, o
agrotxico vai estar correndo pelo rio, notem como dimensionar os
estragos. Na agricultura orgnica no
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se corta rvore para se fazer o plantio, vai ser em meio s
rvo-res, no se desfaz das ervas daninhas, tudo na natureza h
umafinalidade (associada da ACOPA).
Apesar do malefcio do produto em si, h a falta de critrio nouso.
Existe a forma de produo sem a utilizao de equipa-mentos de proteo
como mscaras e luvas. O agricultor notem conhecimento e preparo
[muitos so analfabetos e no con-seguem ler e interpretar o modo de
usar descrito nos rtulosdas embalagens]. Precisaria haver uma
reformalao geral, atpelo restrito mercado, no uma gama de produtos,
no umafonte orgnica que alcance a totalidade (associado da
ACOPA).
A Associao dos Consumidores de Produtos Orgnicos doParan
(ACOPA)
A ACOPA congrega cerca de 260 simpatizantes, ou seja, so
pes-soas que podem aderir aos propsitos da Associao.
Aproxima-damente, esto cadastrados 35 associados. Nosso estudo
consta-tou duas categorias de associados: os atuantes, que seriam
aque-les que, alm de pagar anuidade, participam ou participaram
efe-tivamente de alguma maneira na atuao da ACOPA, e os
no-atuantes, que apenas contribuem com a anuidade e tm uma
par-ticipao que poderia ser considerada passiva perante a
Associ-ao, pois no se articulam com os demais integrantes.
Entre os associados atuantes, o nmero de mulheres e homens
equivalente, e todos possuem nvel superior de ensino. Com rela-o
aos associados no-atuantes, com exceo de um, todos tmterceiro grau
completo.
Os riscos dos alimentos que os associados da ACOPA mais
perce-bem esto relacionados com o meio ambiente,
responsabilizandopor eles o Estado, o industrialismo, o consumismo
exacerbado, ouainda a falta de informao. Entre os tpicos mais
citados comoproblema ambiental esto: o lixo, a gua, o ar, o solo,
os alimentos,a falta de educao ambiental.
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
O comportamento que um nmero crescente de cidados assume exigir
mais informao, tentando escapar do status incmodo deleigo, fazendo,
de forma competente ou no, propostas para me-lhorar o sistema
social e produtivo. Esses personagens agem nonvel da probabilidade
e querem diminuir o risco de uma falha nosistema que possa afetar
sua sade.
Os modos como os associados apreendem os riscos no ocorremde
forma isolada, h sempre relaes que lhes so conferidas. importante
saber como o problema absorvido no cotidiano paraque se possa
entender como o processo de construo de exignci-as realizado pelo
grupo em questo (HANNIGAN, 1995).
O espao da feira ecolgica e um novo ator coletivo
A posio dos novos atores diante dos produtos da agroindstria
contestatria; logo, as condies para a criao de uma associa-o
perpassam pela vontade poltica que repercute em formasassociativas
de organizao social. A ao dos atores aponta parao desejo de
conquistar um objetivo, pela fora da unio dos indiv-duos, associada
ao projeto de querer legitimar a sua identidadeperante a sociedade.
Essa busca est presente por parte tanto da-queles que esto
diretamente envolvidos no consumo como dosagricultores que se
organizam em associaes, ou que buscam oapoio de ONGs, institutos ou
outras instituies que visam con-trapor-se agroindstria e fazer com
que a agroecologia se legiti-me e cresa.
A Acopa surge como um elo da Associao de Agricultores Org-nicos
do Paran (AOPA), que, por meio da estratgia das feiras deprodutos
orgnicos, busca, na relao direta com o consumidor,atender s suas
necessidades econmicas.
A feira ecolgica que se realiza por um grupo de
agricultoresfiliados AOPA ocorre em dois espaos pblicos, duas vezes
porsemanas, na cidade de Curitiba, no Paran. No entanto, esses
es-
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
paos no constituem apenas alternativas de relao com o merca-do
ou de comercializao direta. Eles tambm se traduzem em es-paos de
sociabilidade, de reeducao de sabores, de troca de in-formaes, de
encontros informais, de reconhecimento e, assim,de afirmao da
identidade de um personagem que sabe mais doque somente plantar e
cultivar: o agricultor agroecolgico.
A atmosfera criada pela feira caracterizada pela descontraoque
propicia conversas, constri relaes de confiana e uma soci-abilidade
comunitria que parece estar extinta nos diversos ambi-entes
urbanos. um ambiente que d vida a uma economia maissolidria ou,
segundo Morin (1997), uma economia mutualista,que inclua
iniciativas que apiem solidariedades locais para for-mar
cooperativas e associaes sem fins lucrativos, para prestarservios
sociais de proximidade. Sob essa perspectiva solidria umaligao
prxima entre consumidor e agricultor se estabelece.
Eu gosto de fazer amigos entre os feirantes, alguns eu
visitocomo amiga. Como participante da ACOPA, no conheo to-dos, mas
me sinto muito bem de saber que quem vende omesmo que planta. Eu
percebi que, mesmo que os produtoresno tendo um nvel de
escolaridade alto, possvel conversarlongamente com eles sobre
questes ambientais, sociais, eles tmuma conscincia interessante.
Esta opo por trabalhar com agri-cultura orgnica no isolada, pois j
tem conscincia de ou-tros aspectos. Isso foi para mim uma
descoberta muito gratifi-cante. (associada da ACOPA).
uma experincia reveladora para alguns consumidores, pois
boaparte dos agricultores no possui alto grau de instruo, mas
mes-mo assim detm saberes e conhecimentos relacionados com o
pro-cesso da produo orgnica. Os consumidores reconhecem aindaque as
feiras orgnicas so distintas das convencionais (onde ocontato
somente de compra e venda), pois ali o vendedor tam-bm aquele que
produziu, portanto sabe informar a origem doproduto, quais so os
ciclos dos alimentos, sob que condies cli-mticas a produo se
desenvolveu etc.
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
Eu acho excelente, vamos comparar a feira verde com a
con-vencional: aqui voc est realmente comprando com o produ-tor,
ele sabe como produzido, ento se tem algum problemacom o produto,
se o tomate est furado, se a batata ficou peque-na ele ter as
explicaes para estas questes: porque choveumuito, porque teve seca,
no consegui plantar ou plantei numaterra que no era muito boa. Isso
no acontece na feira conven-cional, porque os feirantes que esto
nestas feiras convencio-nais compram tudo no CEASA e no sabem a
procedncia doproduto, ento no tem esta rastreabilidade daqui, onde
vocsabe que est comprando daquele produtor e mesmo que eletenha
pego de outro produtor vizinho dele, ele ir falar da ori-gem do
produto, sabe de onde vem e se der algum problema,voc chega no
problema. Agora este vendedor da feira que com-pra no CEASA, voc
nem sabe de onde vem o produto, de ondeele comprou, o risco de voc
estar comprando um alimento con-taminado bem maior. Ento eu acho
que a relao aqui mui-to boa, ento uma relao bem direta
consumidor-produtor.Antigamente a feira era assim como a orgnica,
mas hoje emdia j descaracterizou (associado da ACOPA).
O espao da feira livre funciona como uma espcie de ponto
deacesso ao conhecimento de como se produz e tambm de
relacio-namento com o profissional da produo, no caso o agricultor
eco-lgico. Pode ainda ser identificado como ponto estratgico de
re-conquista de confiana, como indica Giddens (1991), num contex-to
de uma sociedade em que os modernos processos produtivos ede relaes
sociais distanciam o produtor do consumidor.
A confiana o elemento fundamental nesse relacionamento
deaproximao. Todo incio pressupe uma espcie de confirmaoda noo de
confiabilidade especfica de cada grupo e de rituaissem formalidades
que ocorrem num encontro aproximado e que social. Essa interao
entre comprador e produtor enseja um reco-nhecimento do trabalho
deste ltimo, bem como a compreensodas razes de o produto ecolgico
ser um pouco mais caro que oconvencional.7
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
Essa relao faz um circuito adverso ao cenrio marcado
pelaindividualizao estabelecida na era da globalizao, que serve
depalco de incertezas, de relaes frias e impessoais que destroem
asegurana e que conseqentemente ativam e disseminam carnci-as
individuais que acabam sendo compensadas pelo consumismodesmedido.
O que parece vital aqui so as premissas fraternas deum clima
informal que colabora para uma maior proximidade eno se rende a
relaes fragmentadas, distantes e frias.
A feira proporciona um lugar para conhecer a vida do
agricultorna rea rural, suas dificuldades, seus limites, suas
apreenses, comotambm suas singularidades. Enfim, todo o seu
contexto absor-vido pelo associado que no o v como um vendedor de
mercado-rias, mas sim como algum que lhe familiar.
Eu vejo um amigo, uma relao diferente de outras feiras
con-vencionais que eu freqentava e nunca fiz amizade. Agora
nafeira, eu gosto de tantas pessoas l da feira, mas um gostarmesmo.
Se me chamar para tomar um caf eu vou com o maiorprazer e eu sei
que ela vai estar me convidando de corao.Conseguimos estabelecer
uma relao naturalmente e eu per-cebo que isso ocorre com a maioria
dos consumidores, umarelao de amizade (associada da ACOPA).
Outro ponto a destacar a troca de experincias. H um encontrode
conhecimento, uma mescla de saber cientfico e popular que secomunga
e se dissemina.
Quando voc vai feira se v nitidamente pela feio do rostodo
agricultor que ele tem uma outra vibrao, no como nafeira
convencional. So pessoas que esto de bem com a vida,so cultas, tem
engenheiro agrnomo; mesmo outros que notenham o ensino formal tm
princpios pela prpria escola davida, fora o que voc aprende com
eles que nenhum graduadopoderia proporcionar. O relacionamento
timo, um prazerir feira encontrar aquelas pessoas. Outra coisa que
eu percebo que sempre que eu precisei de alguma informao nunca
mefoi sonegada. O objetivo do conhecimento transmitido, existeuma
solidariedade fora do lugar comum que procura se ajudar(associado
da ACOPA).
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
Essa relao, que se construiu e se constri no espao da feira,
pro-longa-se e ultrapassa a dimenso comercial.8 Foi o
prolongamentodessa relao que proporcionou o surgimento da Associao
dosConsumidores, pois foi mediante o convvio que os consumidoresse
conheceram e gestaram o propsito de contribuir de algumaforma com o
crescimento da agricultura ecolgica e, conseqente-mente, com o
fornecimento de um alimento de qualidade. No in-cio, alguns
consumidores tomaram a iniciativa de informalmentepromover visitas
s propriedades agrcolas e elaborar boletins in-formativos sobre a
alimentao com produtos ecolgicos. Simul-taneamente ao surgimento
deste primeiro ncleo organizacionaldo consumidor, a AOPA prope aos
consumidores ocuparem umavaga no Conselho de Agricultura Orgnica do
Estado do Paran9.A participao no Conselho pesou substancialmente na
criao daAssociao dos Consumidores, que surge impulsionada por
agen-tes ligados Associao de Agricultores e desta forma fortalece
arede de relaes que envolvem a produo e o consumo de produ-tos
ecolgicos.
A construo social da ACOPA
A partir da idia dos riscos que os alimentos industrializados
re-presentam para os consumidores, o foco principal da ACOPA passaa
ser a mobilizao dos seus associados no sentido de apresentarpara a
sociedade as diversas implicaes relacionadas com a pro-duo de
alimentos. Corresponde, na abordagem construtivista deHannigan
(1995), ao processo de criao das exigncias. O pressu-posto dessa ao
est fundamentado na seguinte formulao: como domnio de informaes, o
consumidor passa a demandar pro-dutos que, segundo sua avaliao,
correspondem aos seus interes-ses de atenuar riscos e obter
alimentos que assegurem a qualidadenutricional. Dessa forma, so as
atividades de disseminao deinformaes propriamente dita que
predominam nas aes dessesnovos atores. So aes que se situam numa
rede de entidades que
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70 Estud.soc.agric, Rio de Janeiro, vol. 16, no. 1, 2008:
54-82.
Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
reconstroem novas condutas em relao sociedade de consumoe em
relao natureza.
Dentre as atividades para alcanar a meta de construir-se
comoator, esto: visitas s unidades de produo; criao e distribuiode
boletins informativos (com o intuito de esclarecer sobre os
dife-rentes alimentos, dicas para uma vida mais saudvel, alguns
tpi-cos para vivenciar prticas ecolgicas etc.); participao no
Conse-lho Estadual de Agricultura Orgnica do Paran; campanhas
paraangariar novos associados; campanha dos reciclados
(sensibilizaodos consumidores para a retornarem os recipientes
utilizados pe-los feirantes, beneficiando o agricultor e o meio
ambiente); realiza-o do primeiro Encontro de Consumidores de
Alimentos Orgni-cos;10 criao da logomarca; confeco de cartazes
sobre alimenta-o orgnica, flder e filipeta para livros; e de
camisetas e bonscom a logomarca da ACOPA11 (RUCINSKI, 2003).
Entre as estratgias elaboradas por esse grupo de
consumidorespara atingir seus propsitos, merecem ainda destaque as
visitas sunidades de produo agrcola, pois proporcionam o
fortalecimen-to da relao produtor-consumidor. Ao entrar em contato
diretocom as condies de origem do produto, o consumidor reavivasua
confiana na agricultura ecolgica e, simultaneamente, passaa
valorizar mais o trabalho do agricultor. Constata-se in loco a
pr-tica de uma experincia cuja informao foi inicialmente obtida
nafeira ou em conversas informais, conforme j mencionado.
A ACOPA no desenvolve estratgias agressivas nem uma
lutademasiado conflituosa para consolidar sua legitimidade perante
asociedade. preciso deixar claro que os associados atuam de
ma-neira quase subterrnea na sociedade, ou melhor, atuam
comoobreiros ou artfices no sentido de construir uma obra,
levandosempre em considerao que um trabalho voluntrio situado
nombito de um microcosmo social que pode ter um maior ou me-nor
grau de ressonncia na sociedade ao longo do tempo. A tarefade
disseminar informaes tendencialmente tem efeitos
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Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
multiplicadores, ao que tudo indica, nos elos da rede de
produode alimentos ecolgicos em que a agroecologia sublinhada.
A formao do ator em rede
Como no Brasil no h um forte apoio poltico que fomente a pro-duo
ecolgica12 nem existe um marco referencial nas polticas
dedesenvolvimento que a impulsione, por meio das ONGs, associ-aes,
institutos e cidados organizados voltados para essa ques-to que
novos caminhos para a expanso desse movimento po-dem ser criados.
As novas vias de comercializao que viabilizama economia
agroecolgica so constatadas em feiras, disk-orgni-co, armazns,
exposies, convenes com bancas para degusta-o ou venda nas prprias
propriedades, como j foi dito.
No mbito do mercado convencional, h alguns anos eram poucosos
supermercados que vendiam alimentos ecolgicos. Atualmen-te, tais
produtos esto presentes na maioria das grandes redes
desupermercados. No entanto, o que se constata que, em geral,
osalimentos ecolgicos so postos em meio a outros produtos
deno-minados selecionados, alimentos advindos da agricultura
con-vencional ou hidropnica, embalados com pacotes plsticos
oucolocados em uma bandeja de isopor. Isso leva a constatar que
hcerto aproveitamento do apelo ecolgico, pelos supermercados,pois h
uma confuso das terminologias e marcas, e por vezes amesma fonte
comercializa ambos os tipos de produtos: convencio-nal e ecolgico.
Da a importncia de realizar aes por parte dasorganizaes dos
consumidores para que seja informada com cla-reza a diferena entre
os diversos tipos de produtos como diet, light,natural, de
qualidade, ecolgico etc. Essa exploso de diversida-de de produtos
agroindustriais que ocorreu nos ltimos anos nofala por si s; ao
contrrio, so produtos com embalagens e rtulosde difcil distino pelo
pblico leigo. Seja como for, trata-se deesclarecer as derivaes que
surgem de acordo com o prprio cres-cimento do mercado de
ecoprodutos.
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
Se pensarmos na atuao da ACOPA isoladamente, constata-se queem
princpio no h confrontos oriundos do mbito da subpoltica,no se
configurando uma contestao explcita. No entanto, se forpensada como
uma conduta que se alia ao movimento da rede daagricultura
ecolgica,13 sua importncia assume outra dimenso.
Antes de tudo, est em jogo o prprio consumo, pois sem deman-da
no h oferta, isto , se no houvesse consumidores, a agricul-tura
ecolgica no existiria. Um dos objetivos principais da ACOPA
aumentar no s o nmero de associados, mas tambm o nme-ro de
consumidores e, assim, fazer com que aumente acomercializao
mediante os meios de divulgao que elabora e,desta forma, torn-la
compreensvel, desmistificando-a.
A ACOPA, em seu micromovimento, realiza-se como um ator quese
integra na rede agroecolgica. Seu apoio se faz, mesmo que
in-diretamente, mediante interferncias que tornam possvel o am-plo
movimento da agricultura ecolgica. Este movimento no con-texto
atual j encontrou legitimidade social, proporcionou mudan-as no
sistema legal, contestou a agricultura convencional e fezcom que o
agricultor familiar encontrasse na agroecologia umaoportunidade de
permanecer no campo. A maior sustentabilidadenas suas dimenses
sociais, econmicas e tcnicas da agriculturaecolgica foi demonstrada
por Darolt (2002), ao estudar os agri-cultores orgnicos da Regio
Metropolitana de Curitiba.
Por enquanto, a ACOPA est restrita Regio Metropolitana
deCuritiba, mas isso no impede que avance em outros plos e
queestabelea novas alianas nesta rede, mesmo porque pode abran-ger
o Estado do Paran, uma vez que j foi solicitada a atuar emoutros
ncleos.
Sublinha-se aqui que na relao com o outro que o ator
reco-nhecido, portanto no contato direto entre consumidor e
produ-tor que os elos so reforados. Ento, conviver revitaliza a
solida-riedade que corresponde ao elemento construtor e mediador
de
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73
Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
novas relaes sociais. A ACOPA foi fundada sob esses princpiose
em tais circunstncias os elos se confirmam, se articulam e
sealastram pela rede que configura o movimento ecolgico.
O que se pode considerar hipoteticamente que a atuao daACOPA
junto com o movimento de agricultores ecolgicos, emescala maior,
tem perspectivas de consolidar outros elos. H no-vos plos surgindo,
como o caso da prpria rede ECOVIDA, for-mada por 21 ncleos
constitudos por 180 grupos de famlias. Aotodo participam 2 mil
famlias, portanto cada grupo possui cercade 11 famlias. A rede tem
100 feiras cadastradas, cinco cooperati-vas de consumo, oito
empresas de alimentos e conta com o apoiode 21 ONGs. assim que a
ACOPA torna-se mais um elo no movi-mento orgnico em geral.
H uma comunicao informal que se institui entre todos os pon-tos
que formam a rede do movimento agroecolgico, ainda que sepossam
estabelecer outras comunicaes. Possivelmente a prprianoo de rede
induz a pensar em algo semelhante idia de quetudo ocorre de maneira
sincrnica. Dessa forma, o aumento doconsumo de alimentos ecolgicos
aproxima-nos do pensamentode Giddens (1991) medida que contribui
com feixes de princpi-os de polticas de vida. Por isso, salutar
identificar de que modoos atores conduzem suas iniciativas, que
destacam seu modo deconstruir o mundo, bem como as alianas que
podero se formarno mbito local e no regional.
Ressalta-se que a religao do urbano com o rural via
consumidorimpulsiona a rede, pois, ao se relacionar com o
agricultor, o consu-midor absorve um pouco do universo rural
presente em suas razes.Esse reencantamento das relaes sociais
permite pensar o ruralno urbano e vice-versa. uma integrao que
viabiliza o resgatede identidades rurais muitas vezes apagadas da
memria dos cita-dinos que no questionam como se d o percurso dos
alimentosdesde a sua produo at a chegada aos pontos de venda. A
rela-o direta entre consumidor e produtor reconstri saberes que
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
apontam dimenses rurais que resistem ao processo de
industria-lizao da agricultura. O consumo de alimentos ecolgicos se
fazsocialmente relevante ao possibilitar ao agricultor sua
permann-cia nas atividades rurais e ao mesmo tempo revigora a
dimensonatural da produo agrcola valorizando saberes e modos de
vidaconstrudos e concebidos no meio rural.
Entretanto, necessrio dizer que criar condies para a
sobrevi-vncia do espao rural uma tarefa rdua. um desafio que
oagricultor no consegue enfrentar sozinho, da a importncia deuma ao
societria, como a da ACOPA, que faz com que se ex-panda o mercado
de produtos agrcolas e se dinamize a produo.Se a demanda crescente,
como constatado em dados recentes so-bre a evoluo da agricultura
orgnica no Paran (DAROLT, 2002), por obra da sociedade, de
consumidores e de produtores.
O consumo de produtos ecolgicos pode redefinir, em certa
medi-da, a lgica produtiva, pois nessa perspectiva se inserem uma
re-organizao do sistema produtivo e a emergncia de um agricul-tor e
de um consumidor que, contrapondo-se lgicaagroindustrial, constroem
relaes socioambientais. Dessa forma, possvel elaborar um conceito
de consumidor que simultanea-mente reconhece a lgica da produo e
redefine relaes sociaisdominantes.14
O consumo desse ator emergente considerado um mecanismoprincipal
de legitimao, de controle social e de formao de iden-tidades nas
sociedades modernas avanadas no final do sculo(SORJ, 2000: 45).
Ento, segundo essa anlise, o consumo tem acapacidade de integrar
fenmenos sociais, articular valores do ru-ral e do urbano e mediar
relaes que permitem que o processo deintensificao e
institucionalizao da agricultura agroecolgica seorganize
progressivamente.
No contexto das relaes contrudas pela ACOPA est a procurada
cidadania, tanto do consumidor como do produtor. Assim, omercado
passa a ter um outro peso social, valoriza saberes e prti-
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75
Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
cas que at ento pareciam estar ultrapassadas. Verifica-se o
res-gate de particularidades rurais, como um estilo de vida
possvel,mesmo com todas as interferncias das diferentes dimenses
damodernidade.
O perfil e a subjetividade dos atores
Os consumidores associados so crticos cultura de massa
ditadapela sociedade de consumo. medida que buscam divulgar
umdeterminado tipo de alimentao, cujo padro no
homogneo,posicionam-se como diferentes quanto aos hbitos
alimentares, mastambm se apresentam como interlocutores de uma nova
maneirade estar no mundo e de responsabilizar-se por ele.
O consumidor como ator social no quer ser somente resultado
daditadura formada pela escolha da maioria. Ele quer sobressair
comominoria, fazer valer sua escolha por uma alimentao saudvel,por
uma vida distinta da que posta pela conduta padronizada,que sufoca
a liberdade de criar, de tentar ser indivduo, de conse-guir
expressar sua vitalidade, sua arte.
Portanto, a ACOPA, como ator social, constri um microuniversoque
resiste aos imperativos ditados pelo sistema. preciso ter cla-ro
que durante muito tempo a modernidade foi apenas definidapela
eficcia da racionalidade instrumental, a dona do mundo quese tornou
possvel pela cincia e tcnica (TOURAINE, 1994: 219).Hoje, no
entanto, os novos atores redefinem a modernidade. Omundo subjetivo
permaneceu ignorado, relegado pelo imprio darazo e da objetividade
absoluta, e a subjetividade muitas vezesresultou em
irracionalidade. A fora da subjetividade faz ver hojeo quanto o seu
movimento inseparvel da racionalidade.
possvel estabelecer novas formas de viver que se fundamentamem
elementos da subjetividade. Esse grupo tem como premissas orespeito
pelo meio ambiente, a busca de sentido para suas vidasou uma nova
prtica civilizatria, como defendida por Guatarri (1991).
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
Ao analisar os integrantes da ACOPA, v-se que se trata de
umgrupo diferente, mais solidrio, cuja preocupao se desprendedo
foco inicial, que seria sua prpria sade, para se estender bus-ca de
um mercado justo, da preservao do meio ambiente, comotambm
contribuir para que o agricultor continue com seu traba-lho
rural.
O anseio pela qualidade de vida perpassa pela interao com
ou-tros saberes, traduz-se por bem-estar no sentido existencial e
noapenas no sentido material. Incluiu a qualidade das comunicaescom
os outros e das participaes afetivas e afetuosas (MORIN,1997: 153).
Assim, o consumo ecolgico evoca uma dimenso quetranscende o produto
em si, pois nele esto subsumidos elemen-tos que tm uma significao
prpria para esses associados.
A viso do produto ecolgico atinge outros patamares que
sorevitalizados por ideais solidrios. Ao mesmo tempo que a
solida-riedade regeneradora, ela reveladora da identidade da
ACOPA.Ela pode ser decodificada como uma vertente principiante da
eco-nomia ecolgica, visto que se desenvolvem aes
socioambientaiscoletivas de interesses mtuos. Consiste em um grupo
pequenode consumidores que elaboram conhecimentos subjetivos que
noanulam suas anlises objetivas, examinando criticamente os
pro-dutos sob a tica da qualidade e dos efeitos que podem
desenca-dear. Nesta experincia, pode-se afirmar que os consumidores
sereeducam, se auto-regulam e se auto-organizam com a intenode
estabelecer e rever prticas mais equilibradas em relao ao
meioambiente.
Ento, verificamos, por meio desta pesquisa, que se constri
umanova cultura de consumo, alternativa aos padres convencionais,em
que o elemento subjetividade tem papel relevante, especifica-mente
como ressignificador da racionalidade, pois aciona aesreais da vida
diria, do cotidiano. So significados, valores, ideais,crenas que
compem as decises destes associados, ou seja, prin-cpios
constituintes da subjetividade que reavivam o exerccio da
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77
Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
cidadania, que fazem valer suas opes e convices, reafirmandoo
pensamento de Touraine (1984) quando define que o ator odesejo de
ser indivduo, de explorar a vida segundo suas experi-ncias
individuais com o universo social. Existe o desejo de elabo-rar
prticas objetivas calcadas em vivncias subjetivas, isto , ao
seconsumir, prima-se por elementos da subjetividade que so
resga-tados e passam a ter sentido no cotidiano. Como afirma Souza
San-tos (1997: 235), uma relao complexa entre cidadania e
subjeti-vidade construda na vida diria, por isso mais uma vez
precisoressaltar a importncia de estudar casos que adquirem sentido
nombito local.
Finalizando, poder-se-ia perguntar: qual o principal foco a
seratingido por esses associados mediante esta juno racional e
sub-jetiva, detectada pelas anlises realizadas? Tendencialmente,
dir-amos que construir relaes socioambientais, tanto no plano
ide-olgico quanto no plano prtico, tendo em vista que se trata de
umconsumo ecolgico que visa diminuir a presso sobre osecossistemas
e, concomitantemente, preza no somente por suagerao, como tambm
pelas futuras.
Consideraes finais
Este trabalho procurou entender como uma questo ambiental
apresentada socialmente na forma de um problema e como se rea-liza
o encaminhamento de busca de alternativas conjuntas de so-luo. O
problema em questo so os alimentos agroindustriais,tidos pelos
consumidores como produtos que apresentam riscospara a sade.
A ACOPA emerge como um ator que busca construir estratgiascom a
finalidade de difundir informaes relacionadas com alter-nativas
ecolgicas de alimentao. Surge num espao decomercializao de produtos
ecolgicos organizado pela Associa-o de Agricultores Orgnicos do
Paran (AOPA): a feira munici-pal de produtos orgnicos. Nesse
sentido, a feira proporciona re-
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Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
laes diretas entre produtor e consumidor, estimulando a
cons-truo de relaes sociais que extrapolam a dimenso econmica
eultrapassam o seu mbito de comercializao. Pode-se afirmar,assim,
que os consumidores que irrompem na forma de atores so-ciais
encontraram nas relaes interpessoais de sociabilidade, quese
construram na feira, foras para construir um projeto coletivode
mobilizao social. Um dos principais motivos que levaram essesatores
a se organizar foi a idia de risco dos
alimentosagroindustriais.
A associao construda mediante diversas atividades informati-vas,
tendo como eixo a divulgao da forma de produo, decomercializao e de
componentes dos alimentos. A aproximaodos consumidores com os
produtores, inicialmente na feira e de-pois nas unidades de produo
agrcola, forma pontos de ligaoentre consumidor e produtor e, dessa
forma, se restabelece a con-fiana entre profissionais da produo de
alimentos ecolgicos(agricultores) e consumidores. Esse processo de
reaproximaoenvolve dimenses subjetivas e objetivas na anlise de
produodos alimentos.
A contestao das formas convencionais de produo de alimen-tos,
contudo, no ocorre apenas no mbito restrito da Associaodos
Consumidores, como em princpio se poderia supor. A ACOPArepresenta
uma das unidades de uma rede de atores, e nesseconjunto articulado
que a contestao realizada na sua prtica,vale dizer, mais
diretamente no mbito da organizao das rela-es sociais e tcnicas de
produo.
A rede de produo-consumo de alimentos ecolgicos reconstri,assim,
relaes entre o rural e o urbano, em que, de um lado, oagricultor
revitaliza o campo, mediante relaes socioambientais,e, de outro, o
consumidor, ao demandar produtos ecolgicos quelhe conferem maior
segurana alimentar, constri-se como um atorsocial e como um novo
cidado.
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79
Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
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80 Estud.soc.agric, Rio de Janeiro, vol. 16, no. 1, 2008:
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Notas1 Noo definida por Alain Touraine, conforme se explicitar
ao longo
do texto.2 A expresso alimentos ecolgicos refere-se a produtos
alimentares de
diversas correntes da agricultura ecolgica (orgnica,
agroecolgica,biodinmica e outras), embora este texto trate da
construo de uma as-sociao de consumidores que se identificam como
orgnicos.3 Na maioria dos pases, existe uma poltica de proteo ao
consumidor
que estabelece limites mximos de resduos de agrotxicos nos
alimen-tos, de acordo com uma srie de parmetros toxicolgicos. Aqui
no Bra-sil, foi editado em 4 de janeiro de 2002, o Decreto n.
4.074, que regula-menta a Lei n. 7.802 (Lei dos Agrotxicos),
dispondo de modo muitomais amplo as instrues sobre pesquisa e
experimentao, produo,embalagens e rotulagem, transporte e
armazenamento, comercializao,propaganda comercial, importao,
exportao e destino final dos res-duos e das embalagens dos
agrotxicos. Nesse decreto, est previsto oestabelecimento de postos
de recebimento para armazenamento provis-rio das embalagens vazias
de agrotxicos, com o objetivo de reciclagem,incinerao ou destinao
adequada. O abandono das embalagens nocampo e o seu
reaproveitamento para outros fins sempre foram um pro-blema
toxicolgico e ambiental no pas. Esse decreto define com
maiorclareza as atribuies de cada rgo federal responsvel, quer
sejam osMinistrios da Agricultura e da Sade (Agncia Nacional de
VigilnciaSanitria), quer seja o Ministrio do Meio Ambiente (Ibama),
visandomanter atualizados e aperfeioados os mecanismos destinados a
garantira qualidade dos agrotxicos, tendo em vista sua eficcia
agronmica e asegurana sade humana e proteo ambiental.4 Cf. palestra
proferida no Primeiro Encontro de Consumidores Org-
nicos do Paran, realizado em novembro de 2001, na Casa do
EstudanteLuterano, em Curitiba.5 Anotaes de palestra do Primeiro
Encontro dos Consumidores Org-
nicos do Paran, realizado em novembro de 2001, na Casa do
EstudanteLuterano, em Curitiba.
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81
Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior
6 Evidencia-se aqui uma crise paradigmtica decorrente das falhas
dacincia moderna, dentre as quais a recusa em admitir o carter
racionalde outras formas de conhecimento (senso comum, arte,
filosofia, literatu-ra, religiosidade etc.), determinando-se
detentora da verdade absoluta.7 Segundo agricultores e analistas, a
produo ecolgica requer mais
mo-de-obra e ainda perde em produtividade.8 Essa relao
diferenciada no tocante ao consumidor tradicional fruto
de uma fidelidade na transao comercial atestada pela freqncia
cons-tante dos feirantes. Segundo a pesquisa realizada, 58% dos
freqentadoresso consumidores permanentes da feira orgnica. Nesse
caso, pode-seafirmar que a alimentao orgnica tornou-se hbito na
dieta alimentar,incorporando-se na composio do estilo de vida
desses consumidores(RUCINSKI, 1999).9 O Conselho de Agricultura
Orgnica do Estado do Paran composto
por rgos do Governo do Estado e representantes da sociedade
civil.10 Ciclo de palestras que envolveram profissionais
pesquisadores na rea
de sade.11 Todas essas atividades podem ser muito importantes
para despertar
o pblico para a problemtica ambiental (HANNIGAN,1995: 63).12 No
entanto, deve-se observar que na atual poltica de apoio
agricul-
tura familiar (o PRONAF) j existe incentivo agricultura
ecolgica.13 A rede de agricultura ecolgica ECOVIDA abrange os
Estados do
Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, alm de uma atuao
emrede, inovou na forma de certificao dos agricultores: implementou
umprocesso de autocontrole da produo ou fiscalizao participativa.14
O fato de constatar-se que esto ocorrendo mudanas nas lgicas de
produo e nas relaes de consumo no significa dizer que
estasredefinies se tornaro hegemnicas no contexto da sociedade
atual.
Alfio Brandenburg, Jeane Rucinski & Pedro Silva Junior, Os
novosatores e o consumo de alimentos ecolgicos: a associao de
con-sumidores de produtos orgnicos do Paran ACOPA. EstudosSociedade
e Agricultura, abril 2008, vol. 16 no. 1, p. 54-82. ISSN
1413-0580.
Resumo. (Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos:
aAssociao de Consumidores de Produtos Orgnicos do Paran Acopa).
Este texto trata da emergncia de novos atores na socieda-
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82 Estud.soc.agric, Rio de Janeiro, vol. 16, no. 1, 2008:
54-82.
Os novos atores e o consumo de alimentos ecolgicos...
de de consumo. Mediante um estudo de caso, analisa-se como
umgrupo de consumidores de alimentos ecolgicos se mobiliza
nosentido de construir uma associao de consumidores: a Associa-o de
Consumidores de Produtos Orgnicos do Paran-Acopa.Trata-se de um
estudo orientado pela abordagem construtivista,segundo
Hannigan(1995). Nesse sentido, apresentam-se as condi-es para o
surgimento de novos atores na esfera do consumo dealimentos, bem
como analisa-se como os consumidores articula-dos em rede
constroem-se enquanto ator coletivo. O estudo mos-tra que a relao
entre a Rede Ecovida de Ecologia e a Associaode Consumidores-Acopa
constitui uma forma de relao rural-ur-bano em que dois tipos de
atores instituem-se: o agricultorsocioambiental e o
consumidor-cidado.
Palavras-chaves: atores consumidores; organizao do consumi-dor;
abastecimento alimentar; consumo de alimentos ecolgicos
Abstract. (New Actors and the Consumption of Ecological Food:
TheParan Organic Products Consumers Association). This text deals
withthe emergence of new actors within the context of consumer
society.I use a case study to analyze how a group of consumers of
organicagricultural products get together to build a consumers
association:the Paran State Association of Consumers of Organic
Products (Associao de Consumidores de Produtos Orgnicos do
Paran-ACOPA.) My study uses a constructivist approach, as
suggestedby Hanigan (1995). Following in this vein, I discuss the
conditionsin which new actors in the sphere of food product
consumptionhave emerged. I then go on to analyze how consumers put
networkstogether and thus become a collective actor. The study
specificallydemonstrates how the relations established between the
EcovidaEcology Network and the ACOPA constitute a type of
rural-urbanrelationship within which two types of actores come into
existence:the socio-environmental farmer and the
citizen-consumer.
Key words: consumer actors; consumer organization; food
supply;consumption of organic food products.