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Modelos de financiamento da cadeia de gros no Brasil
Felipe Prince Silva, Ms. Economista Economista-scio da
Consultoria Agrosecurity Gesto de Agro-Ativos LTDA.
Mestre em Economia Agrcola pela UNICAMP
[email protected]
Luis Eduardo Rebolo Lapo, Eng. Agrcola
Banco Original Engenheiro Agrcola formado pela UNICAMP
[email protected]
2 Conferncia em Gesto de Risco e Comercializao de
Commodities
Modelos de financiamento da cadeia de gros no Brasil
Felipe Prince Silva, Ms. Economista Economista-scio da
Consultoria Agrosecurity Gesto de Agro-Ativos LTDA.
Mestre em Economia Agrcola pela UNICAMP
[email protected]
Luis Eduardo Rebolo Lapo, Eng. Agrcola
Banco Original Engenheiro Agrcola formado pela UNICAMP
[email protected]
2 Conferncia em Gesto de Risco e Comercializao de
Commodities
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Resumo
Com a crise fiscal e de endividamento do Estado brasileiro dcada
1980, houve queda dos
recursos destinados ao financiamento agrcola para os produtores.
Nesse contexto, o mercado
precisou se organizar para desenvolver mecanismos privados de
crdito, com o objetivo de atender
a demanda do setor, que cresceu fortemente a partir do final da
dcada de 1970 no pas,
especialmente em funo da expanso da produo agrcola no
Centro-Oeste. Atualmente, junto
com os bancos e as cooperativas de crdito, as empresas
fornecedoras de insumos, tradings,
agroindstrias e exportadores atuam como agentes importantes na
concesso de crdito aos
produtores de gros no Brasil.
Essa concesso ocorre atravs de mecanismos que esto fora do
Sistema Nacional de
Crdito Rural (SNCR) e que sero abordados no presente artigo. Um
dos instrumentos mais
importantes ocorreu atravs da criao da Soja Verde, na dcada de
1980, e posteriormente a
criao da CPR (Cdula de Produto Rural) com liquidao fsica, em
1994 e, posteriormente, com a
liquidao financeira em 2001. Operaes como o barter (troca de
insumos por gros), vendas a
prazo safra e pagamento antecipado dos gros constituem-se hoje
como mecanismos
fundamentais na concesso de crdito dos fornecedores e tradings
aos produtores de gros no
Brasil.
Ser demonstrado, atravs da exposio de modelos e dos dados
estatsticos associados ao
crdito, que h diferentes riscos associados s duas principais
regies produtoras de gros no Brasil,
a saber, Sul e Centro-Oeste. Tambm sero mostrados os principais
fatores de mitigao dos
principais aspectos de risco, tanto do ponto de vista
microeconmico, quanto de ponto de vista de
polticas pblicas setoriais.
Palavras-Chaves: financiamento, gros, fornecedores
Abstract
Due to a fiscal crisis and the indebtdness of the Brazilian
State in the 1980s, there was a decrease in the resources allocated
to agricultural finnancing. The market had to organize itself and
develop private funding mechanisms in order to meet the demands of
the sector that had been growing since the late 1970s. Currently,
raw material suppliers, trading companies, agroindustries and
exporters act as great credit agents for grain producers in Brazil,
along with banks and credit unions.
This credit granting occurs through mechanisms that are out of
the Sistema Nacional de Crdito Rural (SNCR) and will be addressed
in this article. The creation of Soja Verde in the 1980s, followed
by the creation of CPR (Cdula de Produto Rural) with physical
settlement in 1994 and thereafter the financial settlement in 2001
have proved to be one of the most important instruments.
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The existance of different risks associated with the two main
grain-producing regions in Brazil will be shown through the
exhibiton of patterns and credit statistics data. It will also be
presented the mitigatin factors of the risks traits from the
microeconimic perspective as well as the public sector
policies.
Keywords: Finnancing, Grains, Suppliers
1. Introduo
Podem-se separar os modelos de crdito agrcola para cadeia de
gros no Brasil em dois
grandes grupos: o crdito agrcola oficial e o crdito agrcola
comercial privado ou no-oficial. Os
modelos de crdito agrcola oficial esto ligados ao crdito obtido
junto ao sistema bancrio e s
cooperativas de crdito, dentro das normas balizadas pelo Sistema
Nacional de Crdito Rural
(SNCR) e pelo Manual de Crdito Rural (MCR), Esses recursos podem
ser controlados (taxas
subsidiadas) ou livres, e suas principais fontes so: recursos
obrigatrios, poupana rural, fundos
constitucionais e Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Quanto aos modelos de crdito agrcola comercial ou no-oficial,
seus recursos so
disponibilizados pelos fornecedores de insumos, seus
distribuidores (revendas e cooperativas
agropecurias), as tradings e exportadores de gros e seus
derivados. Esses recursos no esto
ligados ao SNCR e so dispostos pelas empresas, predominantemente
multinacionais, de acordo
com as suas estratgias de marketing, operaes de gesto de custo e
planejamento logstico da
venda de insumos e compra da matria-prima para exportao,
processamento e venda no mercado
interno.
Podemos classificar os modelos de crdito dentro desses dois
grupos em cinco: 1) Crdito
Bancrio; 2) Crdito das cooperativas de crdito, 3) Compra de
insumos com pagamento a prazo
safra; 4) Venda antecipada da produo e 5) Operao de Troca
(Barter). Os dois primeiros
modelos esto dentro do grupo de crdito oficial e os trs ltimos
ao grupo de crdito no-oficial.
No artigo, sero abordados aspectos referentes ao risco para cada
modelo.
2. Um breve histrico da evoluo do crdito rural
Em 1931, no primeiro governo de Getlio Vargas, quando a
principal atividade econmica
do pas era o caf, ocorreu o primeiro mecanismo oficial de
financiamento rural no Brasil. Os
instrumentos criados para sustentar as atividades do setor foram
a Carteira de Crdito Agrcola e
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Industrial (CREAI) do Banco do Brasil e o Departamento do Caf
(Guedes, 1999). No entanto, nas
dcadas seguintes (1940-50), pouca importncia foi atribuda ao
setor rural por parte do Estado, o
que se caracterizou pela ausncia de mecanismos e instrumentos de
interveno mais efetivos.
Apenas em 1965, no entanto, ocorreu o grande marco do
financiamento rural, atravs da Lei
4.829, que criou o Sistema Nacional de Crdito Rural (SNCR),
agregando agentes como: Banco
Central, Banco do Brasil, bancos estaduais, bancos regionais de
desenvolvimento, bancos privados,
caixas econmicas, sociedades de crdito, investimento e
financiamento, cooperativas, rgos de
assistncia tcnica e extenso rural. O objetivo do SNCR era
fortalecer a classe dos produtores
rurais atravs do financiamento de seus custos e da criao de
incentivos para a formao de
capitais e novas tecnologias no campo (Buainain e Souza,
2001).
Na dcada de 1960, as principais fontes de financiamento criadas
eram duas: 1) Destinao
de recursos lastreados no Tesouro Nacional, atravs de fundos e
programas (recursos fiscais e
parafiscais) administrados pelo Banco Central, e repassados aos
produtores principalmente por
intermdio do Banco do Brasil e 2) Exigibilidade de 10% sobre os
depsitos vista dos bancos
comerciais, com destinao ao financiamento do setor
agropecurio.
Adicionalmente, diversos incentivos e subsdios foram criados ao
setor na dcada de 1960.
A taxa de juros cobrada nos emprstimos aos produtores, por
exemplo, no podia ser superior a
75% das taxas cobradas nos bancos comerciais em operaes normais,
para facilitar a contratao.
Outros incentivos foram dados, como o financiamento com taxas
reais de juros que chegaram a ser
negativas e com prazos e carncias elsticas (Delgado, 1985). O
principal banco de financiamento
do setor agropecurio nesse perodo foi o Banco do Brasil, que
operava em nome do Tesouro.
Um dos grandes mecanismos para a emisso de crdito ocorria atravs
da chamada Conta
Movimento, que era uma conta elstica que o Tesouro mantinha
junto ao Banco do Brasil, para
permitir que este realizasse operaes de crdito e simplesmente
debitasse da Conta Movimento.
Em ltima instncia, esse mecanismo conferia a cada agncia do
Banco do Brasil a funo de
emissor de moeda, j que no havia limites para a emisso de
crdito. Esse mecanismo foi abolido
em 1985, j que impossibilitava um controle monetrio e fiscal
mais rgido por parte do Estado, em
um contexto de alta inflao.
At a dcada de 1980, houve uma forte participao do Estado como
financiador do setor
agrcola no Brasil. No entanto, com a crise fiscal da dcada de
1980, houve diminuio da
capacidade de expanso de crdito para atender s crescentes
demandas do setor, especialmente no
Centro-Oeste, com a expanso da soja. Nesse contexto, foi
necessrio o desenvolvimento de
mecanismos privados de financiamento agrcola, que foram
estimulados pelo prprio
desenvolvimento e modernizao do setor, especialmente naquela
regio, a nova fronteira agrcola
da poca.
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Assim, inicia-se uma srie de inovaes para buscas de fontes
extraordinrias de
financiamento, como a operacionalizao da Soja Verde no
financiamento da produo de soja no
Cerrado nos anos 1980 e a emisso de ttulos privados. A partir
desse mecanismo, as tradings
multinacionais passam a ter papel fundamental no fornecimento de
recursos para os produtores que,
em contrapartida, lhes garantia o devido abastecimento com o
fornecimento da matria-prima. A
introduo dessa inovao aumentou significativamente a
disponibilidade de recursos para o
financiamento do setor, j que essas empresas tinham maior acesso
aos mercados de crdito
internacional, alm de terem acesso a mecanismo de hedging atravs
de contratos em bolsas de
mercadoria internacionais.
3. Ps-dcada de 1990: novo padro de financiamento
A partir da dcada de 1990, configura-se no Brasil um novo padro
de financiamento rural,
caracterizado por maior participao dos agentes privados na
destinao de recursos ao setor. No
entanto, mesmo a participao dos setores privados tendeu a ser
limitada, no disponibilizando
crdito suficiente para a classe produtora como um todo. Essa
participao limitada pode ser
explicada basicamente por dois motivos: A primeira o cenrio de
endividamento da classe
produtora na poca, o que diminuiu a sua credibilidade em relao
aos agentes financiadores. A
segunda era a prpria poltica econmica vigente, especialmente aps
o plano de estabilizao de
1994, que foi caracterizado por juros elevados, o que
dificultava ainda mais a tomada de crdito por
parte dos produtores.
A partir da segunda metade da dcada de 1990, a participao dos
bancos privados no
repasse de crdito rural aumentou significativamente. Em 1995, o
repasse dos bancos privados
representava 12,3% do total de crdito bancrio agropecurio,
contra 87,7% de repasse dos bancos
pblicos. J no incio de 2010, a participao dos bancos privados na
concesso de crdito rural
subiu para 41,9% do volume total de crdito agropecurio, contra
58,1% dos bancos pblicos.
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Figura 1 - Evoluo da participao de bancos privados e pblicos no
repasse de crdito agropecurio ao produtor R$ bilhes
Fonte: Banco Central
Nessa poca, surgem no pas importantes instrumentos de captao de
recursos por parte dos
produtores, como a Cdula de Produto Rural (CPR), criada pela Lei
8.929, de 24/08/1994, na
modalidade fsica. A CPR um tipo de contrato a termo, em que o
produtor recebe antecipadamente
um montante em dinheiro correspondente quantidade de produto
comprometida para entrega
futura. Ou seja, o produtor vende a termo sua produo, recebendo
o valor da venda vista,
comprometendo-se a entregar o produto negociado na quantidade,
qualidade, data e local
estipulado. Por se tratar de um contrato a termo, destaca-se que
a CPR tambm funciona como um
instrumento de proteo de preos para o produtor. Dessa forma, ao
utilizar a CPR, o produtor
realiza um hedging de venda j que, quando emitido o ttulo, o
preo travado, estando o produtor
assim protegido contra movimentos de baixa.
No entanto, a exclusividade de liquidao fsica da CPR impedia a
expanso do negcio
para demais agentes que desejavam participar do financiamento do
crdito rural no pas, j que era
grande a dificuldade de se conciliar um comprador que demandasse
um produto com as mesmas
especificaes que o produtor ofertava. Isso impedia uma expanso
mais significativa da CPR entre
os produtores e agentes financiadores.
Nesse sentido, em 2001, foi criada a CPR com liquidao
financeira, para incorporar novos
agentes participantes do financiamento do agronegcio como um
todo, aumentando os potencias
compradores da Cdula. A diferena fundamental entre as duas
modalidades de CPR (liquidao
fsica e financeira) que a ltima no exige a liquidao do contrato
unicamente por intermdio de
entrega fsica da mercadoria do produtor para o seu financiador,
mas tambm permite que a
liquidao seja feita em dinheiro, atravs da converso do valor da
mercadoria no momento do
vencimento do contrato (Pimentel e Souza, 2005).
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PRIVADO PBLICO
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Assim, a CPR aumentou as opes de financiamento dos produtores
agrcolas e provocou
um processo de desintermediao bancria no financiamento ao setor.
Houve um aumento da
liquidez e maior atrao de investidores institucionais, o que
contribuiu para o fortalecimento dos
Complexos Agroindustriais do Brasil, especialmente no segmento
de gros.
Em 2004, atravs da Lei 11.076/2004, foram criados cinco novos
ttulos de financiamento
do agronegcio que, a exemplo da CPR, tambm representam uma forma
de captar recursos no
mercado financeiro por parte dos agentes do agronegcio. Os
ttulos criados foram cinco:
CDCA/WA (Certificado de Depsito Agropecurio e Warrant
Agropecurio), LCA (Letra de
Crdito do Agronegcio), CRA (Certificado de Recebveis do
Agronegcio) e CDCA (Certificado
de Direitos Creditrios do Agronegcio). Esses ttulos tambm servem
para captao de recursos
por parte de armazns, instituies financeiras e companhias
securitizadoras de direitos creditrios.
Assim, junto com a CPR, os novos ttulos do agronegcio
contriburam para complementar
os recursos disponibilizados pelo Estado para o financiamento do
setor, atravs de instrumentos
mais estruturados e atrativos para as instituies financeiras e
pela maior canalizao de recursos de
fundos de investimento para o agronegcio.
4. Modelos de financiamento atual da cadeia de gros
Com a criao e difuso da CPR na dcada de 1990, observa-se que h
uma nova
sistematizao na concesso de crdito rural aos produtores
brasileiros. Alternativamente, para
aproveitar as oportunidades comerciais oferecidas pela expanso
da produo de soja no Centro-
Oeste brasileiro, as empresas a montante (fornecedores de
insumos) e a jusante (tradings e
exportadores) criaram e disseminaram arranjos contratuais para
oferecer recursos fsicos e
monetrios para o fornecimento de crdito de custeio para os
agricultores.
Os fornecedores passaram a vender os insumos produtivos
(sementes, fertilizantes e
defensivos) com a concesso de prazos entre 180 a 210 dias, com
entrega dos insumos antes do
plantio e pagamento acordado para depois da colheita e
comercializao do gro (ativo fsico),
quando ento ocorre a liquidao financeira do contrato. Esse
mecanismo conhecido no mercado
como venda a prazo safra, e trata-se de um importante mecanismo
nos dias atuais para concesso
de crdito aos produtores. Destaca-se que um mecanismo que merece
especial ateno nas reas
de vendas e marketings dos fornecedores de insumos, como
ferramenta competitiva para aumento
do market share. Destaca-se ainda que a concesso pode ocorrer
atravs de venda direta ao produtor
(do prprio fabricante) ou entre o fabricante e o distribuidor de
insumos (revenda ou cooperativa),
que ento repassar a condio de prazo safra ao produtor (o seu
cliente).
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Quanto s tradings e exportadores, para garantir o recebimento da
matria-prima, esses
agentes comearam a adiantar os recursos aos produtores para o
plantio da safra, atravs do
mecanismo de compra antecipada da safra. Uma importante operao
tambm o barter (troca de
insumos por gros), que envolve simultaneamente os fornecedores
de insumos e as tradings na
disponibilizao de crdito ao produtor.
Dessa forma, atualmente, podemos dividir os mecanismos de
financiamento rural em dois
grandes grupos: 1) Crdito rural bancrio ou oficial e 2) Crdito
rural comercial ou informal (Silva,
2012). Os agentes participantes do primeiro grupo so os bancos
comerciais e as cooperativas de
crdito, que so regidos por normas do Banco Central e compem o
Sistema Nacional de Crdito
Rural (SNCR). Dentro do crdito rural bancrio, enquadra-se o
crdito oficial, sendo que parte dele
disponibilizado atravs de juros subsidiados pelo Governo. A taxa
de juros controlada, bem como
o volume de crdito disponibilizado para as atividades agrcolas,
so anunciados anualmente pelo
Ministrio da Agricultura, atravs do Plano Agrcola e Pecurio,
conhecido tambm como Plano
Safra. O Manual de Crdito Rural (MCR) do Banco Central regula as
operaes de crdito contidas
nesse grupo. Em relao ao grupo de crdito rural comercial ou
informal, os agentes participantes
so os fornecedores e distribuidores de insumos, as tradings,
cerealistas, agroindstrias e
exportadores.
De forma resumida, podemos ilustrar os mecanismos de crdito
rural utilizados na cadeia de
gros no Brasil atravs da Figura abaixo:
Figura 2 - Modelos de financiamento da cadeia de gros no
Brasil
Fonte: elaborao prpria
Crdito Bancrio
Concesso de prazos e operaes de troca
Adiantamento de recursos (comercializao antecipada)
Produtor
BUNGECargillADMLCDetc
BayerBasfDuPontSyngentaMonsantoetc
Banco do BrasilBradescoSantanderetc
CrditoSICREDISICOOBetc
Bancos comerciais
Cooperativas de CrditoFornecedores e
distribuidores de Insumos
Tradings, Agroindstrias eExportadores
CRDITO OFICIALCRDITO COMERCIAL
/ NO OFICIAL
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Do lado esquerdo da Figura 2, h o crdito oficial, em que os
agentes que concedem o
crdito so os bancos comerciais e as cooperativas de crdito. Do
lado direito, h o crdito
comercial ou no-oficial, em que as concedentes so as tradings,
agroindstrias e exportadores,
atravs de adiantamento de recursos para compra antecipada da
safra e os fornecedores e
distribuidores de insumos, que concedem crdito atravs da
concesso de prazo-safra para
pagamento e operaes de troca, envolvendo tambm os compradores de
gros.
Segundo dados do Banco Central, em 2011, o total de crdito
agropecurio repassado pelos
bancos e cooperativas (crdito bancrio ou oficial, grupo 1) foi
de R$ 94,1 bilhes, divididos em R$
64,9 bilhes para a agricultura e R$ 29,2 bilhes para a pecuria.
A maior parte do crdito destina-
se para atividades de custeio, que representou R$ 53,1 bilhes,
seguida pela finalidade de
investimento e comercializao, conforme a Tabela 1:
Tabela 1 - Crdito agropecurio repassado por bancos e
cooperativas em 2011 por atividade e finalidade (R$ bilhes)
Fonte: BACEN (2011), Anurio Estatstico de Crdito Rural.
As principais fontes de financiamento do crdito rural oficial so
os recursos obrigatrios
(exigibilidade de 28% sobre os depsitos vista), que contriburam
com 47,3% do crdito em 2011,
a poupana rural, com participao de 30,8% e os Fundos
Constitucionais, com participao de
7,6%. Ainda so utilizados recursos do FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador) para o crdito
rural. Para consulta, vide a Tabela 2 abaixo:
Tabela 2 Fontes de recursos de crdito rural concedido a
produtores e cooperativas 2011
Fonte: BACEN (2011), Anurio Estatstico de Crdito Rural
Atividade/Finalidade Custeio Investimento Comercializao
Total
Agrcola 39,6 12,3 13,0 64,9
Pecuria 13,4 12,4 3,4 29,2
Total 53,1 24,6 16,4 94,1
Fontes de Recursos R$ mil %
Recursos Obrigatrios 44.526.683,4 47,3%
Poupana Rural 28.976.099,2 30,8%
Fundos Constitucionais 7.182.326,0 7,6%
Recursos BNDES / FINAME 6.429.006,1 6,8%
Recusos Livres 2.658.414,9 2,8%
Recursos do FUNCAFE 1.471.693,1 1,6%
Recursos Externos - 63 Rural 1.341.918,1 1,4%
FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador 1.226.704,6 1,3%
Recursos de Outras Fontes 138.560,0 0,1%
Recursos do Tesouro 128.575,3 0,1%
Recursos Governos Estaduais 32.685,7 0,0%
Total 94.112.666,5 100,0%
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Quanto aos recursos de crdito informal ou comercial privado,
esses so disponibilizados
atravs de prprios recursos dos fornecedores de insumos e
compradores de gros, seja atravs da
contratao de linhas de crdito bancria, como ACC (Adiantamento de
Contratos de Cmbio) e
ACE (Adiantamento de Contrato a Exportadores). E tambm com
prprios recursos das empresas
multinacionais, atravs de lucros obtidos em exerccios anteriores
e eventuais transferncias da
matriz para as filiais e captaes feitas no mercado de crdito e
capitais nacional ou internacional.
Na prxima seo, sero feitas as anlises estatsticas, atravs de
dados do Banco Central e da
Consultoria Agrosecurity referente contratao de crdito de
custeio para as culturas da soja e
milho na Safra 2009/10 nas regies Centro-Oeste e Sul.
5. Anlise de dados estatsticos
Sero utilizados dados do Anurio Estatstico de Crdito Rural de
2010, publicado pelo
BACEN, para analisar a distribuio da concesso do financiamento
dos bancos e cooperativas
de crdito nas regies Centro-Oeste e Sul, para os cultivos da
soja e do milho nesse ano. Foi feito
um levantamento por UF das duas regies, segundo os critrios de
nmero de contratos, valor
financiado e rea financiada. Primeiramente, apresentada uma
tabela com os dados da cultura
da soja para os dois primeiro critrios.
Tabela 3. - Nmero de contratos e valor financiado de crdito
oficial de custeio para a cultura da soja em 2009 e 2010 nos
estados do Centro-Oeste e Sul do Brasil
Fonte: BACEN
Por esse critrio, verifica-se o maior valor nos estados do Rio
Grande do Sul (76,8 mil
contratos) e no Paran (55,8 mil contratos), que so os dois
principais estados produtores da regio
Sul. Em Santa Catarina, o nmero de contratos bem menor (7,1
mil). O total de contratos na
UFNmero de Contratos
Valor financiado (R$ mil)
GO 5.810 1.063.546,5
MS 4.654 657.811,5
MT 3.767 1.254.513,3PR 55.868 1.911.712,7RS 76.836 1.650.882,0SC
7.163 188.449,1
Total Centro-Oeste 14.231 2.975.871Total Sul 139.867
3.751.044
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regio Sul foi de 139,8 mil. Nos estados do Centro-Oeste, o nmero
de contratos
significativamente menor. O maior nmero de contratos nessa regio
foi em Gois (5,8 mil
contratos). No Mato Grosso, estado que apresenta a maior rea de
cultivo da soja do pas (6,3 mil
hectares na Safra 2010/11), o nmero de contratos foi o menor
entre todos os estados analisados -
3,7 mil contratos. No Mato Grosso do Sul, foram 4,6 mil
contratos. O total de contratos na regio
Centro-Oeste foi de 14,2 mil.
Agora, para os mesmos estados, ser analisado o critrio de valor
financiado. Segundo
esse critrio, Paran e Rio Grande do Sul tambm so os estados com
maiores valores. O montante
de crdito oficial disponibilizado em 2010 para financiamento do
custeio da soja foi de R$ 1,91
bilho no Paran e R$ 1,65 bilho no Rio Grande do Sul. O menor
valor de financiamento, dentre
todos os estados, ocorreu em Santa Catarina, com R$ 188,45
milhes. No Centro-Oeste, o estado
que apresentou maior valor de financiamento foi o Mato Grosso,
com o montante de R$ 1,25
bilho, seguido por Gois, com R$ 1,06 bilho. Por fim, temos o
estado de Mato Grosso do Sul,
com o valor de R$ 657,8 milhes. O total financiado pelo sistema
de crdito oficial foi de R$ 2,97
bilhes no Centro-Oeste e R$ 3,75 bilhes no Sul em 2010, segundo
dados do BACEN.
Pelo critrio de rea financiada, apresentado abaixo na Tabela
4.2., observa-se que, em
2010, o montante total da regio Sul foi de 6,3 milhes de
hectares, o que representa 69,8% do total
de rea de soja cultivada na Safra 2010/11 (utilizando-se dados
de rea cultivada da CONAB1). J
na regio Centro-Oeste, o total de rea financiada pelo sistema
oficial de crdito foi de 3,4 milhes
de hectares, o que representa 32,4% da rea cultivada da cultura
na Safra 2010/11.
O estado que apresentou maior rea financiada em 2010 foi o
Paran, com o equivalente a
80%. Em seguida, temos o Rio Grande do Sul, com 60% da rea
financiada pelo sistema oficial de
crdito. Depois, temos Santa Catarina, com 53,7%. Os estados que
apresentam menor participao
do sistema oficial de crdito no custeio da safra de soja 2010/11
so os estados do Centro-Oeste:
Gois, com 45,9%, Mato Grosso do Sul, com 43% e Mato Grosso, com
apenas 23,9% da rea
financiada, segundo dados do BACEN.
1 Uma considerao de metodologia deve ser feita nesse ponto, pois
nem todo o financiamento concedido no ano de 2010 refere-se ao
cultivo da Safra 2010/11. O Anurio Estatstico de Crdito Rural no
disponibiliza dados por ano-safra contratado, mas sim por
ano-calendrio contratado (ex: crdito contratado em 2010, e no na
Safra 2009/10 ou Safra 2010/11), diferentemente da CONAB, que
realiza levantamento de rea cultivada e produo agrcola por
ano-safra. Assim, para realizar o indicador utilizado na ltima
coluna da Tabela 4.2., foi utilizado o crdito contratado em 2010 e
a rea da Safra 2010/11.
-
Tabela 4. - rea financiada de soja em 2010 pelo sistema oficial
de crdito e rea cultivada da cultura na Safra 2010/11
Fonte: BACEN (2010) (A) e CONAB (2011) (B)
Em relao ao financiamento da cultura do milho em 2010, tambm foi
feita uma relao
entre a rea cultivada e a rea financiada, que apresentada na
Tabela 5. Nesse ano, os estados que
apresentam maior proporo de rea financiada pelo sistema oficial
de crdito para essa cultura so:
Santa Catarina, com 94,9%, Rio Grande do Sul, com 63,6% e Paran,
com 48,3%. As menores
participaes esto no Centro-Oeste: Gois, com 44,8%, Mato Grosso
do Sul, com 39,3% e,
finalmente, Mato Grosso, com 21,5% da rea total de cultivo de
milho em 2010. No Centro-Oeste, a
proporo mdia de rea financiada foi de 31,6%, o que equivale a R$
876,5 milhes e, no Sul, essa
proporo foi de 59,1%, o que representa R$ 2,12 bilhes.
Tabela 5. - rea financiada de milho em 2010 pelo sistema oficial
de crdito, rea cultivada da cultura na Safra 2010/11 e valor total
financiado.
Fonte: BACEN (A e C) e CONAB (B)
Para o caso do milho, um dos fatores que contribui para a
explicao da menor participao
do Centro-Oeste que, nessa regio, a maior rea de milho (86,4%)
cultivada na Safra Inverno,
diferentemente da regio Sul, onde a maior rea do cereal
cultivada na Safra Vero (58,4%). Na
Safra Inverno, o risco de quebra de safra por fenmeno climtico
maior (na regio Centro-Oeste,
UFrea
financiada (mil ha) (A)
rea cultivada - Safra 2010/11 (mil
ha) (B)(A) / (B)
GO 1.170,1 2.549,5 45,9%MS 757,1 1.760,1 43,0%MT 1.516,2 6.331,6
23,9%PR 3.688,0 4.610,7 80,0%RS 2.434,9 4.055,7 60,0%SC 245,8 458,2
53,7%
Total Centro-Oeste 3.443,4 10.641,2 32,4%Total Sul 6.368,7
9.124,6 69,8%
UFrea
financiada (mil ha) (A)
rea cultivada - Safra 2010/11 (mil
ha) (B)
Total financiado
(R$ mil) (C)(A) / (B)
GO 382,6 853,2 376.376,7 44,8%MS 383,0 975,5 265.804,7 39,3%MT
394,9 1.840,8 234.332,8 21,5%PR 1.109,9 2.297,6 952.278,3 48,3%RS
727,7 1.143,3 649.304,6 63,6%SC 521,2 549,2 524.011,7 94,9%
Total Centro-Oeste 1.160,5 3.669,5 876.514,2 31,6%Total Sul
2.358,7 3.990,1 2.125.594,6 59,1%
-
em funo da estiagem e na regio Sul, em funo de estiagem e
geadas) o que faz com que s
instituies financeiras sejam mais avessas concesso de crdito
nesse ciclo produtivo.
Em resumo, a Figura 3 demonstra que a participao do crdito
oficial no financiamento das
culturas de soja e milho em 2010 significativamente maior no Sul
em relao ao Centro-Oeste,
segundo dados do BACEN. Na primeira regio, 69,8% da rea
cultivada de soja e 59,1% da rea
total cultivada de milho apresentaram financiamento repassado
pelo sistema de crdito oficial.
Enquanto isso, no Centro-Oeste, 32,4% da rea cultivada de soja e
31,6% da rea cultivada de
milho foi financiada com recursos de crdito oficial.
Figura 3. Proporo de rea financiada pelo crdito oficial (bancos
e cooperativas de crdito) para as culturas da soja e do milho em
2010
Fonte: elaborao prpria a partir de dados de BACEN e CONAB
Conforme dados levantados pela Consultoria Agrosecurity2 e
apresentados em Silva (2012),
tambm confirma-se que a participao do crdito bancrio
significativamente maior no Sul do
Brasil no financiamento da cultura da soja. J no Centro-Oeste, h
uma presena mais efetiva do
crdito comercial ou informal, com atuao mais forte dos
fornecedores de insumos e tradings no
financiamento da produo, conforme demonstrado na Figura 4:
2 Da qual um dos autores economista-scio.
32,4% 31,6%
69,8%
59,1%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
Soja Milho
Centro-Oeste Sul
-
Figura 4. - Matriz de financiamento de custeio da soja nas
regies Sul e Centro-Oeste
Fonte: Consultoria Agrosecurity
Dessa forma, conclui-se que atualmente os recursos privados e
informais exercem um papel
to importante quanto os recursos de crdito bancrio ou oficial
para o financiamento de custeio da
atividade da cadeia de gros no Brasil. Ou seja, no apenas os
bancos e cooperativas de crdito so
os responsveis por disponibilizar esses recursos, mas tambm os
agentes comerciais que fazem
parte da cadeia produtiva com um todo, atravs da concesso de
prazo na venda dos insumos e da
compra da safra com pagamento antecipado ao produtor.
Em relao concesso de crdito dentro dos segmentos de insumos,
junto aos
entrevistados, a Consultoria Agrosecurity coletou informaes de
concesso em dez importantes
municpios das regies Centro-Oeste e Sul3, referentes distribuio
da forma de pagamento para
os trs segmentos de insumos (fertilizantes4, defensivos e
sementes). De forma didtica, foram trs
as formas de pagamento levantadas, e que so explicadas
brevemente abaixo:
- vista / Prazo Curto: nessa modalidade, o pagamento
(desembolso) pela venda do
insumo efetuado no mesmo momento da entrega do insumo
(modalidade vista) ou at o prazo
de 90 dias (modalidade prazo curto, sendo os mais comuns de 15,
30 e 60 dias). No mercado de
insumos agrcolas, comum a denominao prazo curto para identificar
as vendas a prazo cujo
pagamento ocorre antes do momento da colheita. Nesse caso, no
considerado como um
mecanismo de financiamento da safra, j que o desembolso pela
compra ocorre antes de o ativo
(gro) estar disponvel para comercializao e passvel de ser
convertido em ativo monetrio para
pagamento da compra do insumo. No um mecanismo de financiamento
da safra;
3Na regio Centro-Oeste: Rio Verde/GO, Mineiros/GO, Primavera do
Leste/MT, Lucas do Rio Verde/MT, Sapezal/MT e Dourados/MS. Na regio
Sul, os municpios foram: Londrina/PR, So Miguel do Iguau/PR,
Medianeira/PR e Iju/RS. 4 Foram coletados apenas dados de
fertilizantes de plantio, de macronutrientes (N P K). No foram
coletados dados de fertilizantes de micronutrientes, apesar de esse
ser um segmente de importncia crescente no pas.
17,3%
6,5%
23,6% 23,7%
29,0%31,0%
13,5%
20,0%
7,2%
28,3%
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
Bancos Coops de Crdito Fornecedores de Insumos Tradings,
agroindstrias e exportadores
Capital Prprio
Centro-Oeste Sul
-
- Prazo Safra: nesse caso, o pagamento pelo insumo adquirido
ocorre aps a colheita do
gro, conforme explicado anteriormente. Assim, um mecanismo de
financiamento da safra e
- Barter ou troca: o pagamento pelo insumo ocorre atravs entrega
do gro na ps-
colheita, sem a intermediao monetria. um mecanismo de
financiamento da safra, tambm
conforme explicado anteriormente.
Na Tabela 6, mostra-se a distribuio da forma de pagamento dos
insumos da soja na Safra
2009/10 para os municpios analisados:
Tabela 6. Forma de pagamento dos insumos adquiridos na Safra
2009/10 para os municpios analisados
Fonte: elaborao prpria, a partir de dados da Consultoria
Agrosecurity
Observa-se que, para o segmento sementes, a maior parte das
vendas concentrou-se na
modalidade de pagamento vista/Prazo Curto, cuja mdia aritmtica
entre os municpios
analisados foi de 71%. Em seguida, temos a modalidade de Prazo
Safra, que representou mdia
de 15% das vendas totais e, por ltimo, modalidade Troca, que
representou mdia de 14% do
total da forma de pagamento nos municpios analisados. O municpio
que apresentou maior valor de
vista/Prazo Curto foi Medianeira/PR, com 93% e, para o grupo
Prazo Safra, foi Lucas do Rio
Verde/MT, com 39%; o municpio com maior proporo de pagamento na
modalidade Troca foi
Londrina/PR, com 35%.
Quanto ao segmento fertilizantes, a maior parcela das compras
concentrou-se tambm no
grupo vista/Prazo Curto, com mdia de 62% entre os municpios. Em
segundo lugar, temos a
forma de pagamento Troca, com 22% e, finalmente, o grupo Prazo
Safra, que representou
mdia de 16% do total de forma de pagamento desse insumo na Safra
2009/10. Mais uma vez, os
municpios que apresentaram maior modalidade de pagamento
vista/Prazo Curto foram os
municpios do sudoeste do Paran; o municpio com maior valor de
pagamento na modalidade
Prazo Safra foi novamente Lucas do Rio Verde/MT, com mdia de 71%
do total do insumo
adquirido. J para a modalidade Troca, o municpio com maior valor
foi Mineiros/GO, com 44%.
Grupo de Insumo
Municpio vista/Prazo
CurtoPrazo Safra
Troca vista/Prazo
CurtoPrazo Safra
Troca vista/Prazo
CurtoPrazo Safra
Troca
Rio Verde/GO 72% 16% 12% 77% 5% 18% 21% 68% 11%Mineiros/GO 60%
22% 18% 52% 4% 44% 38% 13% 49%Dourados/GO 57% 32% 11% 88% 9% 3% 29%
61% 10%
Primavera do Leste/MT 77% 9% 14% 28% 7% 65% 20% 19% 61%Lucas do
Rio Verde/MT 33% 39% 28% 22% 71% 7% 28% 64% 8%
Sapezal/MT 85% 9% 6% 77% 6% 17% 12% 14% 74%Londrina/PR 60% 5%
35% 60% 5% 35% 45% 15% 40%
So Miguel do Iguau/PR 91% 4% 5% 94% 2% 4% 78% 19%
3%Medianeira/PR 93% 5% 2% 96% 3% 1% 85% 13% 2%
Iju/RS 84% 8% 8% 30% 44% 26% 27% 58% 15%Mdia 71% 15% 14% 62% 16%
22% 38% 34% 27%
Sementes Fertilizantes Defensivos
-
Para o segmento defensivos, observa-se uma distribuio mais
igualitria entre as trs
formas de pagamento. A modalidade vista/Prazo Curto continua
sendo ainda a de maior
volume, com mdia de 38% das vendas totais. Em seguida, temos a
modalidade de Prazo Safra,
com mdia de 34% e, por ltimo, a modalidade Troca, que
representou mdia de 27% do total da
forma de pagamento para os municpios analisados. Novamente, os
municpios com maior
proporo de forma de pagamento vista/Prazo Curto foram os do
sudoeste do Paran. Quanto
modalidade Prazo Safra, foram os municpios de Rio Verde/GO e
Lucas do Rio Verde/MT. Para
a modalidade Troca, o municpio com maior participao foi
Sapezal/MT.
De forma resumida, percebe-se que, nos trs segmentos de insumos
analisados, a mdia da
modalidade vista/Prazo Curto est mais elevada na regio Sul. Por
outro lado, para as
modalidades de pagamento Prazo Safra e Troca, a regio
Centro-Oeste apresenta propores
superiores nos trs segmentos de insumos. Dessa forma, esses
dados demonstram que os
fornecedores de insumos apresentam maior participao no
financiamento da regio Centro-Oeste
(atravs da modalidade Prazo Safra), em conjunto com as tradings,
agroindstrias e exportadores
(pela modalidade Troca). No Sul, a maior parte dos pagamentos na
compra de insumos ocorra de
forma vista / Prazo Curto, utilizando o financiamento obtido
junto aos agentes do sistema de
crdito oficial, a saber, bancos e cooperativas de crdito. A
Figura 5 resume a distribuio mdia
dos dados coletados no municpio, segundo o peso de cada municpio
dentro da UF da qual faz
parte:
Figura 5. Distribuio mdia da forma de pagamento por grupo de
insumos nas regies Sul e Centro-Oeste Safra 2009/10
Fonte: elaborao prpria, a partir de dados da Consultoria
Agrosecurity e PAM (Produo Agrcola Municipal 2009), do IBGE.
64%
21%15%
57%
17%
26% 25%
40%36%
82%
6%
13%
70%
14%17%
59%
26%
15%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
vista/Prazo Curto
Prazo Safra Troca vista/Prazo Curto
Prazo Safra Troca vista/Prazo Curto
Prazo Safra Troca
Sementes Fertilizantes Defensivos
Mdia Centro-Oeste Mdia Sul
-
Destaca-se que, pela nossa percepo atravs das entrevistas, os
valores de crdito
concedido podem variar muito de uma safra para outra, em funo
das campanhas de vendas
realizadas pelas empresas de insumos, devido s estratgias
concorrenciais, em que as condies de
pagamentos so revisadas anualmente, de acordo o padro de
concorrncia para cada ano-safra.
Em relao operao de troca, muito comum a adoo de pacotes
tecnolgicos,
como forma de facilitar a venda de insumos por parte dos
fornecedores e a compra de produo por
parte dos compradores de gros em uma mesma operao. Os
fornecedores oferecem um pacote
com um determinado grupo de insumos necessrios para o cultivo da
cultura (sementes, herbicidas,
fungicidas etc) em contrapartida de um nmero previamente de
sacas de gros a ser colhido5.
Na Figura 5, observa-se a maior participao das operaes de trocas
para aquisio do
segmento fertilizantes. Isso ocorre pelo fato de as empresas que
comercializam adubos tambm
atuam na compra e processamento de gros, ou seja, possuem um
posicionamento verticalizado na
cadeia, como o caso da BUNGE do Brasil e da LDC.
Dessa forma, em apenas uma operao, a empresa garante tanto o
mercado de venda do
insumo (fertilizantes), quanto a compra do gro, oferecendo ao
produtor um mecanismo de
financiamento da safra. Adicionalmente, a operao funciona como
um mecanismo de hedging
natural ao produtor, pois o volume de sacas de gros a ser
entregue j est estabelecido em contrato.
Na Figura 5, nota-se ainda que as empresas do segmento de
defensivos so as que
conferem maior volume de crdito atravs da modalidade prazo
safra. Como esse o mercado
mais competitivo dos trs grupos de insumos, essa forma de venda
constitui-se em arma importante
para aumento de market share. Esse mecanismo ocorre em menor
proporo para as empresas do
segmento de fertilizantes e sementes. No Quadro 1, logo abaixo,
feita uma distino entre os
segmentos de insumos, pelos critrios de grau de nmero de
fabricantes (players), grau de
diferenciao de produtos e grau de concesso de crdito aos
produtores, em trs nveis: baixo,
mdio e alto.
Quadro 1. -- Caractersticas dos segmentos de insumos agrcolas no
Brasil
Fonte: elaborao prpria
5 As campanhas de troca com pacotes tecnolgicos iniciaram no
Cerrado, mas difundiram-se bastante na regio Sul na dcada de 2000,
o que uma forma de mitigao de risco para os produtores.
Inicialmente, era mais utilizado para o cultivo da soja, mas agora
tambm utilizado bastante para o cultivo de outros gros,
especialmente o milho e o trigo.
SegmentoGrau de Nmero de fabricantes (players )
Grau de Diferenciao de produtos
Grau de Concesso de crdito aos produtores
Sementes Mdio Alto Mdio
Fertilizantes (1) Baixo Baixo BaixoDefensivos Alto Mdio Alto
(1) macronutrientes
-
No segmento de sementes, o grau de nmero de fabricantes
(players) mdio e o grau
de diferenciao de produto alta, o que determinado pelo material
gentico das cultivares.
Nesse segmento, conforme os dados levantados, o grau de concesso
de crdito aos produtores
mdio. No segmento de fertilizantes, o grau de nmero de
fabricantes baixo; o grau de
diferenciao de produtos (macronutrientes) tambm baixo. Nesse
sentido, o fertilizante um
produto commoditizado. Conforme os dados levantados, o grau de
concesso de crdito aos
produtores nesse segmento baixo. J para o segmento de
defensivos, o grau de nmero de
fabricantes alto, especialmente aps a maior entrada de empresas
de produtos denominados
genricos, tambm chamados no mercado de produtos de segunda
linha. Consideramos o grau
de diferenciao de produtos nesse segmento como mdio, pois
existem alguns produtos que so
possudos por apenas algumas empresas, enquanto outras frmulas so
utilizadas por quase todas as
empresas, especialmente aps o vencimento das patentes. Como
conseqncia desses fatores, o grau
de concesso de crdito aos produtores nesse segmento alto,
segundo os dados levantados.
6. Natureza e grau do risco para o financiador e mitigadores
O Quadro 2 resume os cinco modelos de financiamento observados
na cadeia de gros do
Brasil, segundo o grupo a que faz parte, os agentes
participantes, a moeda de pagamento e a taxa de
juros praticada na Safra 2010/11. Observou-se que os modelos de
crdito agrcola comercial
privado ou no-oficial apresentam taxas de juros superiores s
linhas de crdito agrcola oficial,
repassadas por bancos comerciais e cooperativas de crdito.
Quadro 2. - Modelo de financiamento, agentes participantes,
moeda de pagamento e taxas de juros praticadas na Safra 2010/11 de
gros no Brasil
Fonte: Consultoria Agrosecurity
Grupo Modelo de Financiamento Agentes participantesMoeda de
pagamento
Taxa de juros a.a. - Safra 2010/11
Crdito Bancrio (1) Bancos comerciais R$Controladas (6,75%)
ou
Livres (at 10,75%)
Cooperativas de Crdito (2) Cooperativas de crdito R$Controladas
(6,75%) ou
Livres (at 10,75%)
Compra de Insumos com Pagamento a Prazo Safra (3)
Fornecedores e Distribuidores (revendas e cooperativas
agropecurias)
R$ ou US$ Mercado (12% a 20%)
Venda Antecipada da Produo (4)
Tradings , agroindstrias e exportadores R$ ou US$ Mercado (12% a
20%)
Operao de Troca (barter ) (5)
Fornecedores e Distribuidores (revendas e cooperativas
agropecurias) + Tradings , agroindstrias e exportadores
Gro Mercado (12% a 20%)
Crdito agrcola oficial
Crdito agrcola comercial privado ou
no-oficial
-
Em relao aos principais fatores de risco identificados nas duas
principais regies
produtoras de gros do Brasil, so feitas algumas consideraes a
partir do Quadro 3.
Quadro 3. - Modelo de financiamento, agentes participantes,
moeda de pagamento e taxas de juros praticadas na Safra 2010/11 de
gros no Brasil
Fonte: elaborao prpria a) Risco Climtico (secas, geadas): o
risco alto na regio Sul, e baixo na regio
Centro-Oeste. Os mitigadores para os financiadores podem ocorrer
atravs da
difuso da contratao de seguros agrcolas6 e maior assistncia
tcnica, para
manejo correto da cultura e plantio nos perodos adequados, de
acordo com o ciclo
de cultivar utilizado (super precoce, precoce, mdio ou
tardio);
b) Preos das commodities (volatilidade): apesar de os preos das
commodities
afetarem ambas as regies de forma conjunta, identifica-se que,
na regio Sul, a
oscilao dos preos das commodities afetam de forma mais acentuada
a receita
financeira dos produtores em comparao aos produtores da regio
Centro-Oeste.
Isso porque nessa regio, h um nvel maior de venda antecipada da
safra e de
operaes de barter (troca), mecanismos esses que funcionam como
um hedge
natural aos produtores, Os mitigadores para os riscos provocados
pela volatilidade
dos preos das commodities so os seguros de preo, que o Banco do
Brasil
comeou a oferecer a partir da Safra 2010/11. Um mitigado tambm o
hedge de
6 Apesar da obrigatoriedade da contratao do seguro rural, a sua
participao ainda muito baixa no total de produo agrcola. Segundo
dados do Ministrio da Agricultura e AgraFNP (estudo: Seguro Rural:
avanos e perspectivas), apenas 18% da rea total de soja no Brasil
apresentou seguro rural no Brasil na Safra 2009/10. A principal
crtica dos agentes da cadeia em relao ao modelo de seguro rural no
Brasil a adoo de uma produtividade considerada baixa, coletada pelo
IBGE. Isso faz com que muitos produtores, especialmente no
Centro-Oeste, onde o risco climtico mais baixo que a regio Sul,
interpretem a contratao obrigatria do seguro rural apenas como um
nus aplicado no custo de produo da safra e cujo benefcio muito
baixo ou nulo.
Natureza de Risco Sul Centro-Oeste Mitigadores
Climtico (secas, geadas) Seguro Agrcola / Assistncia Tcnica
Preos das commodities
(volatilidade)
Seguro de preos - Melhor gesto do produtor (venda
antecipada) / Hedge de preos
Variao cambial Seguro de preos / Hedge Cambial
Assimetria de informaes Melhora de estatsticas / Polticas
Pblicas
Juros (risco financeiro)Juros reais controlados j negativos /
Porm, necessidade de
maiores entrantes / Consequncia de assimetria de informaes
Alto
Mdio
Baixo
-
preo em bolsas (mais viveis a acessveis a produtores de maior
porte) e, por fim,
a melhora da prpria gesto de comercializao da safra por parte do
produtor;
c) Variao cambial: a variao cambial classificada como risco de
natureza
mdia para ambas as regies, visto que afeta os preos em R$ das
importaes
dos insumos (notadamente fertilizantes e defensivos, que so, na
maioria,
importados, e que afetam os custos de produo) e tambm dos
produtos de
exportao, como a soja e, recentemente, o prprio milho, cujo
volume exportado
aumentou significativamente em 2012 (segundo dados da CONAB e
que afetam a
receita econmica dos produtores). Os mitigadores esto nos
prprios programas
de seguros de preos e em operaes de hedge cambial por parte dos
produtores;
d) Assimetria de informaes: esse um fator relacionado a todos os
setores da
economia e que, especificamente na agropecuria, mais elevado, em
funo da
deficincia de dados pblicos uniformizados e atualizados a nvel
microrregional e
de municpios, em funo dos custos elevados de captao de
informaes.
Classificou-se o risco no Centro-Oeste como alto, visto que essa
uma regio
que apresenta grande parcela de financiamento rural atravs de
mecanismos
informais, conforme abordado nas sees anteriores, e que no so
contabilizados
pelo Banco Central ou outro rgo oficial7. Os mitigadores dos
riscos dessa
natureza consistem na prpria melhora de dados estatsticos para o
setor e
e) Juros (risco financeiro): conforme mostrado no Quadro 3, a
taxa de juros de
recursos de mercado (com bancos privados, recursos livres,
fornecedores de
insumos, tradings e agroindstrias) chegam a ser 2 a 3 vezes
superior taxa de
juros controlados. Como no Centro-Oeste h um maior volume de
crdito captado
fora da esfera oficial, classificou-se o risco de juros como
alto nessa regio. J no
Sul, como grande parte do crdito contratado a taxa de juros
controladas
(subsidiadas), classificou-se o risco como baixo.
7 O SIAGRI, da prpria BMF Bovespa, tem sido uma tentativa, j que
se prope a cadastrar as operaes de crdito das empresas de insumos e
tradings.
-
7. Concluses
Atravs da exposio de dados estatsticos disponibilizados pelo
Banco Central e coletados
pela Consultoria Agrosecurity, concernentes ao crdito contratado
pelos produtores de gros nas
regies Sul e Centro-Oeste, mostrou-se que h diferenas na
natureza e grau dos riscos nas duas
regies.
No Sul, h uma maior participao do crdito oficial e o risco nas
operaes de
financiamento para os bancos e cooperativas financiadoras
mitigado pela contrapartida da
contratao do seguro agrcola, obrigatrio na contratao de recursos
controlados. Porm, mais
elevado pelo critrio de maiores riscos climticos e menor nvel de
comprometimento antecipado da
safra, o que funciona como um mecanismo de hedging aos
produtores.
Quanto aos produtores de gros do Centro-Oeste, o financiamento
apresenta maior
participao dos fornecedores de insumos e tradings, que, por sua
vez, captam parte dos recursos no
mercado de crdito e capital nacional e internacional e atravs da
transferncia de suas matrizes,
fora do pas. Nessa regio, os riscos associados s assimetrias de
informao so mais elevados do
que na regio Sul. Porm, os riscos associados s oscilaes dos
preos das commodities so
menores, em funo da maior proporo de hedging por parte dos
produtores.
Em relao ao Centro-Oeste, destaca-se que um cenrio de crise
econmica externa e queda
de liquidez e confiana no mercado financeiro podem provocar
diminuio da disponibilidade de
crdito para a regio. Adicionalmente, a taxa de juros contratada
fora do Sistema Nacional de
Crdito Rural mais elevada, o que torna o financiamento mais caro
para esses produtores, o que
eleva o custo de produo e, consequentemente, o risco econmico e
de gesto das operaes com
esses produtores.
Nesse sentido, fundamental a compreenso as diferenas existentes
na matriz de
financiamento dos produtores das duas principais regies
produtoras de gros, para a criao de
polticas mais eficazes e que possam atender as necessidades dos
produtores no tocante
necessidade de crdito de custeio para o financiamento da produo
de gros.
-
Referncias Bibliogrficas
BACEN - BANCO CENTRAL DO BRASIL. Anurio Estatstico de crdito
rural. Disponvel em: www.bcb.gov.br Acesso em: agosto de 2011
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