UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO UFRJ ESCOLA DE COMUNICAO
- ECO INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAO EM CINCIA E TECNOLOGIA IBICT
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DA INFORMAO PPGCI GIOVANI MIGUEZ
DA SILVA O CONCEITO DE INFORMAO SIMBLICA A Filosofia da Cincia da
Informao entre a Realidade e a Idealidade Rio de Janeiro 2015
GIOVANI MIGUEZ DA SILVA O CONCEITO DE INFORMAO SIMBLICA A Filosofia
da Cincia da Informao entre a Realidade e a Idealidade
ProjetodeDissertaoapresentadocomorequisitoparcialpara
obtenodottulode Mestreao ProgramadePs-Graduaoem Cincia da Informao,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com o
Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia.LinhadePesquisa:Comunicao,Organizaoe Gesto da Informao e
do Conhecimento. Orientador: Prof. Dr. Gustavo Silva Saldanha
Co-Orientador: Prof. Dr. Antonio Tadeu Cheriff dos Santos Rio de
Janeiro 2015 GIOVANI MIGUEZ DA SILVA O CONCEITO DE INFORMAO
SIMBLICA A Filosofia da Cincia da Informao entre a Realidade e a
Idealidade ProjetodeDissertaoapresentadocomorequisitoparcialpara
obtenodottulode Mestreao ProgramadePs-Graduaoem Cincia da Informao,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com o
Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia.LinhadePesquisa:Comunicao,Organizaoe Gesto da Informao e
do Conhecimento. Aprovado em 05 de Agosto de 2015. Banca de
Qualificao: _____________________________________________ Prof. Dr.
Gustavo Silva Saldanha (Orientador) Instituto Brasileiro de
Informao em Cincia e Tecnologia IBICT
______________________________________________ Prof. Dr. Antonio
Tadeu Cheriff dos Santos (Co-Orientador) Instituto Nacional de
Cncer Jos Alencar Gomes da Silva INCA
_________________________________________________ Prof. Dr. Aldo
Albuquerque Barreto Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia IBICT _________________________________________________
Profa. Dra. Ldia Silva de Freitas Universidade Federal Fluminense
UFF _________________________________________________ Prof. Dr.
Rodolfo Petrnio da Costa Arajo Universidade Federal Estado do Rio
de Janeiro - UNIRIO Rio de Janeiro 2015 SUMRIO 1 CONSIDERAES
INICIAIS
...................................................................................
005 2 A CINCIA DA INFORMAO E SUA FILOSOFIA
............................................... 016 2.1 Aspectos
gerais do conceito de informao
.......................................................... 016 2.2.
Algumas relaes entre informao, linguagem e simbolismo
............................ 020 2.3 Rafael Capurro e a Filosofia
da Informao
.......................................................... 031 3
FILOSOFIA DA INFORMAO: IDEALIDADE OU REALIDADE
.......................... 037 3.1 Simbolismo e Linguagem em Ernst
Cassirer ........................................................
037 3.2 Algumas aporias hermenuticas da filosofia das formas
simblicas .................. 042 3.3 Inteligncia e Realidade em
Xavier Zubiri
............................................................. 048 4
REFLEXES METODOLGICAS
...........................................................................
057 5 PERSPECTIVAS DA PESQUISA
............................................................................
063 REFERNCIAS
...........................................................................................................
065 APNDICE: CRONOGRAMA DE EXECUO DA PESQUISA
................................. 071 1CONSIDERAES INICIAIS
Umafilosofia,portanto,caracteriza-semaispelaformulaodosseus
problemas do que pela soluo que lhes dada. Langer (1971, p.16)
Tendoemvistaaconstruodeumaabordagemfilosficacontemporneada
informao,demodogeral,edaFilosofiadaCinciadaInformao,mais
especificamente,apartirdenomescomoRafaelCapurro,ErnstCassirereXavier
Zubiri, oferecemos nesse projeto uma perspectiva investigativa que
pretende delimitar o conceito de informao simblica como categoria
essencial de uma Filosofia da Cincia
daInformao,quesedesdobrarianesseesforoinvestigativoemumaAntropologia
Filosfica1;ouseja,deslocandoacentralidadedainformaoparaohomememsua
estrutura essencial e como a informao, a linguagem e o smbolo
enquanto obras e funes deste se relacionam com
ele.Paraessaempreita,partiremosdeCapurro(2014a),quetemseocupadode
fundamentararelaoentreCinciadaInformaoeHermenutica;estasendoparte
daRetrica,cujaconcepopoderiasersintetizadacomoumasuperaodavirada
cognitivistapelaviradapragmtica.Aapreensodainformao,apartirdessa
perspectiva, estaria orientada por um processo de interao com o
mundo. Ainformao,nessesentido,noseriaumacoisa,masseriaconsideradaum
meio(linguagem/smbolo)pelaqualascoisasreaispodemserestudaspelasua
dimensosimblica.Ejustamenteessadimensoquenosinteressa,poissendoo
homemumanimalsimblico(Cassirer)que,comoveremosadiante,sconsegue
entrar em contato com a realidade atravs de formas simblicas, no
estaria a realidade
comprometidadiantedasinmerasaporiasexistenteemumafilosofiadainformao
que parta de uma filosofia das formas simblicas? 2 1 No
discutiremos nesse primeiro momento a Antropologia Filosfica.
Entretanto, a ttulo de justificativa, achamos necessrio informar
que sobre essa questo bebemos na fonte do Doutor Manfredo Arajo de
Oliveira, cujo trabalho desenvolve-se a partir da concepo de
subjetividade comoquesto fundamental na antropologia filosfica
contempornea. Para ele, se podem distinguir trs grandes direes a
respeito
daproblemticaqueoserhumano.Soelas:(a)ofisicalismo;(b)asfilosofiasdafinitude;e,
finalmente, (c) o Pragmatismo.(OLIVEIRA, 2012)2 A perspectiva
cassireriana de uma filosofia das formas simblicas e suas
respectivas aporias (PORTA,
2010)seroapresentadasnasubseo3.1e3.2,respectivamente,entreaspginasp.37e47,do
presente projeto. 6
SeconsiderarmosaCinciadaInformaocomoumcampodaRetrica,ou
seja,umaHermenutica,conformeCapurro,aCinciadaInformaopoderiaestar
sujeitaaumainfinidadededificuldadesque,nossonossosentender,atransformaria
em um palco de subjetividades. Nesse sentido, mesmo preservando, a
sua dimenso
simblica,acreditamosencontrarnafilosofiadaintelignciaedarealidadezubiriana3
umasadaparaalgumasaporiasdafilosofiadasformassimblicasquecorroboraria
paraconfirmaratesedeCapurroouseja,adequeaCinciadaInformaoseria
umadisciplinaHermenutica,masquecarecedeelementostericoseprticos,
conforme questionamento feito por Matheus (2005, p. 162).4
Discute-senosestudosinformacionais,nocontextoatual,queinformaoo
conjunto de dados registrados numa memria qualquer, seja digital ou
vegetal, a espera de serem interpretados por algum; a espera de
serem significados. Pode ser ainda um
conjuntodeconhecimentoserecordaes,alojadasnanossamemria,localizadano
nossocrebro,nocontedodeumlivroedetodososlivros,jornais,revistase
documentosdetodasasbibliotecas.Ouseja,tudooqueestgravadoemqualquer
materialdesdeosmaisprimitivosaosmaisevoludosseriainformao.Sejaela,
passivaeinerte,ainformaotemimplicaesqueaconferemumaimportncia
extraordinria para a humanidade, pois ela vista por muitos
indivduos e corporaes como combustvel da evoluo humana. A existncia
da informao parece implicar, com base nas definies at aqui, na
existncia matria que a suporte, linguagem queaenrede, energiaquea
reproduza e inteligncia que a compreenda. Parece ainda sugerir que
a possibilidade de reproduo
achaveparaodesenvolvimentohumano,comdesdobramentosfilosficos,
sociolgicoseantropolgicospassveisdeprofundareflexo.Afinal,ainformaoque
pode ser armazenada num tempo e recuperada noutro possibilita, alm
de correo de rumos e mais assertividade nas decises humanas, a
construo de toda uma narrativa
daespciehumana.Ssabemosdopassadodanossaespciegraasaosrastros
informacionais deixados pelas civilizaes que nos precederam. 3
Sintetizamos a perspectiva zubiriana na subseo 3.3, entre as pginas
48 e 56, desse projeto. 4 Conforme citao da pgina 35. 7
Asdefiniesesboadasnosdoispargrafosacimasooriundasdealgum
momentodagrandenarrativahumanaeforamesculpidasmuitopossivelmentepor
filsofos, cientistas e poetas, mas que no so mais que impulsos
intelectuais extrados
pornsdeconversasdespretensiosasentreinterlocutorescomformaoculturalbem
diversificada sem o compromisso com uma definio cientfica ou
filosfica.So,portanto,definiesapoiadasnicaeexclusivamenteemanotaes
pessoaissobreespeculaesdosensocomum,pautadasemdesejoseanseiosde
quememalgumdiainteressou-sepelosencantosdeummaravilhosomundo
informacional e todas as possibilidades de estudo e reflexo por ele
suscitado. Essecarterpolissmicodeelaboraoedeinterpretaodoconceitode
informaoemsijseriaumagrandejustificativaparatorn-lacomoumobjetode
estudo. Mas, como poderemos ver adiante, existem muitas definies de
informao e,
portanto,aperguntaquesecolocoudurantemuitosmomentosduranteoesforo
intelectual para definir o objeto deste trabalho foi: No seria
necessria a convergncia das definies e/ou conceitos de informao?
Partirmosinicialmentedahipteseque,seohomemconhece,esse conhecimento
informao. Se reflete, o faz porque manipula as informaes que tem
armazenadas de forma criativa.Se age, e pela ao transforma a si e
ao mundo, o faz porque est informado. Assim, esse movimento de
conhecer, refletir, agir e transformar sugere um movimento
informacional de grande importncia para ns humanos. E essa
crenareforaumsentimentoinicial,respaldadoporpelomenosumautordocampo,
dequeainformaononecessariamenteumacoisa,mascoisaspodemser estudas
como informao (HJRLAND, 2000).
Entretanto,mesmodiantedaclaraimportnciadainformao,anossa
sociedadevive,deacordocomPozo(2004),umparadoxo:aomesmotempoemque
existem tantas pessoas aprendendo tantas coisas ao mesmo tempo, as
pessoas cada vez mais apresentam dificuldades para aprender aquilo
que a sociedade exige delas. 8
Seporumlado,aquantidadedeinformaesquesurgemsimultaneamente,
proporcionouaohomemvriasmaneirasdeadquirireteracessoamltiplostiposde
conhecimentos, gerando a necessidade de se desenvolver competncias
para que eles consigam olhar de forma crtica para tais informaes.
Por outro, toda e qualquer informao tem apenas um sentido em relao
a uma situao,
aumcontexto"[ese]"aculturageralcomportavaapossibilidadedebuscara
contextualizao de toda informao ou ideia, a cultura cientfica e
tcnica, por causa de sua caracterstica disciplinar e especializada,
separa e compartimenta
ossaberes,tornandocadavezmaisdifcilacolocaodestesnumcontexto
qualquer (MORIN, 2000, p. 12).
NoobstanteaCinciadaInformaoterinterfacesclaraseamplamente
investigadas com asCincias da Comunicao,daBiblioteconomia, da
Lingustica, da
CinciasCognitivasedasCinciasdaComputao(SARACEVIC,1992;PINHEIRO,
LOUREIRO,1995)5,ointeressepelopresenteestudonasceuapartirdaleiturade
EvoluoemQuatroDimenses:DNA,comportamentoeahistriadevida,obrasobre
biologia evolucionista, mas que sugere um olhar diferenciado sobre
a temtica. Em sntese, as autoras argumentam que a prpria evoluo
humana , em certo
sentido,umprocessoemqueinformaessotransmitas,emsereshumanos,
simultaneamenteporsistemasdehereditariedadegentica,epigentica(clulascom
DNAidnticossocapazesdetransmitirsuascaractersticassclulas-filhas),
comportamental (animais transmitem seus comportamentos e suas
preferncias atravs do aprendizado social) e simblica (JABLONKA;
LAMB, 2011). De acordo com Jablonkae Lamb (2011, p. 14-15), ns,
seres humanos, temos
umquarto[sistema],porqueumaheranabaseadaemsmbolos,alinguagemem
particular desempenha um papel importante na nossa evoluo. Essa
quarta dimenso refere-se a como a informao transmitida atravs da
linguagem e de outras formas de dimenso
simblica.Longedeserumfenmenoneutroedeimportnciaapenasnoscrculos
acadmicosecientficos,osinteressessobreainformaosopermeadoscoma
5PinheiroeLoureiro(1995)consideramaCinciadaInformaocomoumacinciainterdisciplinar
emergente,masnoconsolidada,naqualatuamprofissionaisdasmaisdiversasformaeseque
possuiemsuaconfiguraoestrutural,umcartereminentementeinterdisciplinar,e,aindaquehoje
coexistam mltiplas reflexes e pensares. 9 inteno de direcionar as
aes humanas (PRADO, 2013). Por isso, antes do problema
cientfico,humagamadeproblemasfilosficosaseremcolocadosjque,segundo
CapurroeHjrland(2007,p.193),fcilperderaorientaoquandoseestuda
informaoe,assim,sugeremquesefaaaseguinteperguntapragmtica:Que
diferena faz se usarmos uma ou outra teoria ou conceito de
informao? Sendo muitas as possibilidades de descrever o fenmeno
informacional e sendo
muitososconceitosinseridosemestruturastericasmaisoumenosexplicitas
(CAPURRO;HJRLAND,2007,P.193),tantoasuadescrioquantoseuscontextos
tmpassadoporinmerasrupturas,sendopossvel,deacordocomGonzlezde
Gmez(2006,p.30),identificarparmetrosquepermitamalgumasequivalncias
nessas plurais definies que fazem do termo informao uma expresso
metafrica de operaes ou domnio de integrao sobre os conhecimentos
ou sobre a linguagem e suas inscries.
Assim,[...]adistinomaisimportanteinformaocomoobjetooucoisa(por
exemplo,nmerodebits)einformaocomoconceitosubjetivo,informao como
signo; isto , como dependente da interpretao de um agente
cognitivo.
Avisointerpretativadeslocaaatenodosatributosdascoisasparaos
mecanismosdeliberaoparaosquaisaquelesatributossorelevantes
(CAPURRO; HJRLAND, 2007, P. 193).
Domesmomodoqueainformao,alinguagempossuicaractersticas
interdisciplinaresqueperpassamafilosofia,asociolinguistica,aantropolinguistica,a
psicolinguistica, a geolinguistica, a neurolinguistica (FIORIN,
2008. p. 45). Tomada em seu todo, a linguagem multiforme e
heterclita; cavalgando sobre diferentes domnios, ao mesmo tempo
fsico, fisiolgico e psquico, ela pertence ainda ao domnio
individual e ao domnio social; ela no se deixa classificar em
nenhumacategoriadosfatoshumanos,eporissoquenosabemoscomo determinar
sua unidade (SAUSSURE, 2006, P. 16).
SegundoJohnson(1997,p.136),alinguagemummecanismofundamental,
poisatravsdela,conseguimoscriarosignificadodaexperincia,dospensamentos,
dos sentimentos, da aparncia e do comportamento humano; possuindo
diversos usos
navidasocial,nospermitindoarmazenar,manipularetransmitirconhecimentoe
informao. 10
NoentendimentodeCapurro(2003,apudMATHEUS,2005,p.158),alis,a
informao [aproxima-se] da linguagem que por sua vez pode ser
expressa atravs da fala, que transmitida atravs deuma mensagem.
Fazendo o caminho inverso,a fala
podetransmitirumamensagematravsdalinguagem,resultando,ouno,deum
significadosemntico,ainformao.Poressemotivo,eleutilizaafundamentao
filosfica que sebaseia na fala, a fim de discutir como ahermenutica
pode contribuir para os estudos da CI.
Considerandoqueanoodeinformaoemergenombitodaao
comunicativa,mediadapelalinguagem(GONZLEZDEGMEZ,2009,p.120),
impe-se que, na vida em sociedade,
[...]oindivduo[tenha]queescolherdiversaspossibilidades,significados,
sentidosouinterpretaes,questionandoetentandomostraraogrupoou
comunidadeemqueestinseridootipodecomportamentos,deposies,de
pontosdevistadeinterpretaesqueeleconsideramaisapropriados,mais
corretos ou mesmo inteiramente certos (ILHARCO, 2003, p.
49).Alinguagem,oelementocomunicacionalbasilarnoprocessodeinterao
entre o sujeito e o contexto informacional, onde a dimenso semntica
da informao um fator estrutural nos atributos das capacidades
cognitivas. Tratando-se, assim, de um objeto de discusso e rupturas
paradigmticas (PRADO, 2013).
Apsessasbrevesconsideraesintrodutrias,nosquestionamos:Sea
informaofazparte,comoindicado,daevoluodohomem,eseaCinciada
Informaoafirmaseresteoseuobjetoprioritrio,oqueseriaainformaoparaa
CinciadaInformao?Ou,ainda,paraqueserviriaessaCinciadaInformao?E,
talvez mais pertinentemente, em que bases filosficas se
sustentariam uma Filosofia da Cincia da Informao?
Umavezqueconformeproporemosmaisfrente,comoescopopossvelpara
esseestudo,umapossibilidadede interpretao da linguagem como
informaoepor
isso,ainformaoassumiriaumadimensosimblica,caberiaaquiumadiscusso
sobre a essncia da linguagem? Trata-se de uma pergunta necessria,
uma vez que 11
[...]aposiodohomemdesafiadopelaordenanadorealcomoinformao
nosmostraquequantomaisopadroinformacionaldevidaseespalhaese
absolutizacomonico,maispareceinsustentvelaideiadequealinguagem
possasercompreendidacomoumapropriedadehumana(HOEPFNER,2011, P.
170). Anossareflexopartirdopressupostodequeainformaohumanapossui
uma dimenso simblica, entre elas a linguagem, passvel de
interpretao atravs das
muitasformascomoelasemanifestaatravsdotempo.Porisso,geradorade
opinies,conceitos,juzosevalorespsicolgicos.Dessemodo,acreditamosqueno
existiriainformaonestadimensosimblica,semaintelignciahumana;estacapaz
de significar, registrar, reproduzir e utilizar a informao que cada
ser humano possui na sua memriaconsciente, expandidae inconsciente.
Para isso, servem-seos humanos da linguagem.
Essaperspectiva,anossover,pressupeumacertasubstancializaoda
linguagemquemereceriaumolharmaisatentoeprofundo.Naesteiradoqueprope
Hoepfner (2001,178), a partir de Heidegger, a informao vistaem
conexo com a
essnciadalinguagem,masalemdissocomoaformabsicaadisposiodiretiva
elementar o modo de ser do homem
hoje.Diantedoexpostoataqui,otrabalhoquepropomospretendeinvestigaro
conceitodeinformaoesuasrelaesfortescomosconceitosdelinguageme
smbolocomoobjetodeestudodaCinciadaInformao(CI),emumaperspectiva
filosfica,apoiadapelosuportetericooferecidoporRafaelCapurro,emdilogocom
doisfilsofossituadosentreoidealismoeorealismoqueconstruramseussistemas
filosficos na primeira metade do sculo XX.
Essedilogopartir,portanto,dohorizonteoferecidoporCapurro(2014a);ou
seja, a possvel relao entre hermenutica e Cincia da Informao com
base em uma eventual subordinao da Cincia da Informao Retrica. Mas,
o que Capurro quer, exatamente, dizer com isso? Como podem Cincia e
Retrica serem equiparados como saberes cientficos? Em linhas
gerais, o que acreditamos encontrar em nosso caminho investigativo
um espao para discutir a mediao retrica da Cincia da Informao
comosabercientficodemodoasustentarapossibilidadedeumaracionalidade
12
retrica,reorientandofilosoficamenteopoderdalinguagem,pararepensaranossa
realidade (ROHDEN, 2010, p. 164). A racionalidade retrica
equivaleria a razo provisria (CARDOSO E CUNHA, (2005, p. 9), e se
prope a ser o que de mais provisrio se apresenta construo de pura
racionalidade, pretendida pelo saber cientfico. A noo de uma razo
provisria
desenvolvidaporCardosoeCunhaencontra-seamparadonoseguinteargumentode
Abbagnano: Searazoinfalveleainvestigaohumanapodeserconfiadasregras
infalveisemqualquercampo,nohlugarparaaRetrica,queaarteda
persuaso.Mas,se,naesferadosaberhumano,apartedoincerto,do
provvel,doaproximativomaisoumenosampla,apersuasopodeter alguma funo
e a sua arte pode ser cultivada (ABBAGNANO, 2007, p. 57). Desse
modo, se podemos entender que os sentidos da informao no passam de
mera abstrao atravs de conceitos e da linguagem; conforme o
entendimento dos estudiosos da Retrica, a lngua palco da oposio
entre diferentes pontos de vista e
doconfrontodassubjetividades(MOSCA,2004,p.17).Assim,sendoaretricaesse
palcodesubjetividades,noscolocamosaquestionaremquebasealinguagem,a
informaoeosmbolosearticulamcomarealidade.Eporessecaminhoquetentaremoscaminharcomdoisfilsofos,aparentementedivergentes,masque,se
dialogarem por intermdio de Capurro, nos parecem em certo sentido
complementares para a compreenso de um Cincia da Informao enquanto
Hermenutica. De um lado, analisaremos a filosofia de Ernst Cassirer
(1874-1945), um idealista alemo de origem judaica que pertenceu a
Escola de Marburg, sendo o mais destacado
representantedochamadoneokantismoeautordeumainteressantefilosofiadas
formassimblicas.Dooutro,XavierZubiri(1898-1983),umfilsofoespanholrealista
cujapesquisaereflexoseconcentrou,fundamentalmente,noscamposdaTeoriado
Conhecimento, da Ontologia e da Gnosiologia, tendo desenvolvido, no
nosso entender, uma consistente teoria da realidade e da
inteligncia. Para Zubiri (2011b,p. 127), conhecer oqueuma coisa
inteligir sua realidade
profunda,inteligircomoestatualizadaemseufundamentoprprio,comoest
construdanarealidade comoprincipio mensurante.Assim, oconhecimento
sem 13
dvidaintelecoporserapreensodorealcomoreal.Nafilosofiazubiriana,o
homem constitudo como um animal de realidades. Por outro lado,
Cassirer (2012, p.48) afirma que no estando mais num universo
meramentefsico,ohomemviveemumuniversosimblico.Fazempartedesse
universo,alinguagem,omito,aarte,areligioeacincia.Assim,nafilosofia
cassireriana das formas simblicas, o homem deixa de ser um animal
racional e passa
aserconstitudocomoumanimalsimblico,poisarrebatadopelacrescente
complexidade da realidade do mundo, o homem serve-se de um sistema
simblico para
conhec-la.AcreditamosqueodilogoentreCassirer/CapurroeZubiri/Capurropodernos
indicarpistassobreseseriaainformaosimplesmentelinguagem-smboloouuma
expresso essencial da realidade. O conceito de realidade tomado com
freqncia em oposio ao de idealidade.
Nessesentido,humaparentedesencontroentreafilosofiadarealidadeeda
inteligncia zubiriana e a filosofia das formas simblicas
cassireriana; o que no sugere,
entretanto,aimpossibilidadedeseinvestigararecolocaodosconceitosde
informao,linguagemesmbolonumeventualdilogoentreessesautoreseRafael
Capurro, autor amplamente utilizado pelo campo, em uma perspectiva
integradora.
Oestudoquepropomos,portanto,temcomoobjetivodiscutirasmargensde
definiodeumconceitodeinformaosimblica,dotadonosdeclareza
terminolgica,mastambmtilnacolocaodoproblemadarealidadeentreduas
perspectivas, umarealista e outra idealista, no mbito de uma
Filosofia da Cincia da Informao. Trata-se, portanto, de um problema
filosfico e no cientfico que vai alm de definir simplesmente o que
Cincia da Informao, mas para que serve a Cincia da Informao atravs
de um dilogo entre Cassirer e Zubiri, no entre si, uma vez que
talvezessedilogonosejapossvel,mas
entreesteseRafaelCapurro,umautorde
refernciaparaocampoquenosofereceumaabordagemsatisfatriasobreas
perspectivas e horizontes que acreditamos ser possvel para a
presente investigao. 14 Coloca-se, nesse nterim, a questo que
nortear o presente estudo:
Emquebasessearticulamasrelaesconceituaispossveisentre informao,
linguagem e smbolo, em um dilogo entre concepes realistas e
idealistas, e de que modo esses conceitos podem servir para a
construo deumconceitodeinformaosimblicanocontextodeumaFilosofiada
Cincia da
Informao?Nossahiptese,portanto,baseia-senapossibilidadedainformao,enquanto
linguagem-smboloserexpressodarealidadeeumamanifestaoaristotlicana
naturezasocialdohomemnologos;e,aCinciadaInformao,enquantouma Cincia
Hermenutica estar amparada filosoficamente por uma Filosofia da
Cincia da informao enquanto uma Antropologia Filosfica. Nesse
sentido, supomos que dilogo entre Ersnt Cassirer e Xavier Zubiri,
intermediado de Rafael Capurro, poderia ser til no
aprofundamentodaCinciadaInformao,ondeaoconhecimentoexpressar-se-ia
comolinguagem-smboloeaCinciadaInformaoseriaumagrandeferramentade
interpretao dessa informao simblica. Nossa expectativa clarear e
ampliar a viso
deCapurroouseja,daCinciadaInformaocomoumaHermenuticada
informaoenquantolinguagem-smbolo,oferecendo,entretanto,aperspectiva
zubiriana como sada para as eventuais aporias da filosofia das
formas simblicas, na construo de um conceito de informao no como
coisa, mas como uma expresso
darealidade,ouseja,retornandoscoisasmesmasdeslocandoacentralidadeda
FilosofiadaCinciadaInformaoparaumareflexosobreohomem,parauma
Antropologia Filosfica.
Natentativadeconseguirumarespostasatisfatriaparanossapergunta
norteadora,propomosqueosseguintesobjetivossejamperseguidospelo
empreendimento intelectual proposto no presente estudo: 1.Geral: 15
Investigar de que modo o conceito de informao simblica pode servir
como categoria de anlise deuma Filosofia da Cincia da Informao
orientada para a interpretao da realidade. 2.Especficos:
Descreveroconceitodeinformaoapartirdoquesetemestudado
nocampodaCI,demodogeral,enaobradeRafaelCapurro,em
especial,apartirdosaspectosfilosficoseparadigmticosque norteiam
esse autor; Descreverosconceitosdelinguagemesmboloesuaspossveis
relaes,apartirdaperspectivacassireriana,discutindoasrelaes possveis
com o conceito de informao.
Descrever,soboenfoquezubiriano,osconceitosdeintelignciae
realidadeesuasrespectivasrelaesediscutindoaspossveis relaes entre
esses conceitos o conceito de informao.
Exploraraspossibilidadesdaaplicaodoconceitodeinformao simblica em
seus aspectos hermenutico-filosficos na CI a partir do dilogo entre
a idealidade e a realidade, a partir das filosofias de Ernst
Cassirer e Xavier Zubiri, em contraponto ao horizonte de uma
Filosofia da Cincia da Informao em Rafael Capurro.
Nossapropostametodolgica,emsntese,sugereaadoodomtodo uma pesquisa
terica do tipo exploratria orientada para a recuperao, atravs
depesquisabibliogrficadosconceitosdeinformao.Emseguida
descreveremososconceitodelinguagem,smbolo,intelignciaerealidade
centraisnosfilsofosescolhidos;ouseja,CassirereZubiri.E,finalmente,
promoveremos uma anlise explicativa conjugando uma hermenutica em
torno dosautoresemdilogocomRafaelCapurroe,finalmente,umaanlise
conceitual para a constituio de um mapa do conceito de informao
simblica a partir do nosso referencial terico. 16 2 A CINCIA DA
INFORMAO E SUA FILOSOFIA A diversidade de conceitos sobre informao
nos obriga a um esforo conceitual a fim de buscar uma definio que
sirva aos propsitos da investigao que se prope;
ouseja,nocasodopresenteestudo,aaproximaoentreinformao,linguageme
smbolo,emumaperspectivafilosficacujomaiorproblemarelacionarinformao
comlinguagemesmboloemumaperspectivadialgicaentreduasconcepes:uma
idealista e outra realista.
Nessecaptulo,propomos,emprimeirolugar,resgataralgunsconceitosmais
freqentesnaCinciadaInformao,iniciandoporZeman(1970),Belkin(1978),
passandoporFarradane(1979),Brookes(1980),Buckland(1991;1999),Rayward
(1996),Eugenio,FranaePerez(1996),Bates(1999),HJRLAND(2000),Wilden
(2001), Floridi (2002) e, finalmente, desaguando em Capurro (1985,
2000, 2003, 2014a,
2014b).Apsesseresgate,partiremosdeCapurro,quesernossoprincipalaporte
tericoparaodesenvolvimentodeumaabordagemfilosficaquesirvaparaa
compreenso no do que se proporia ser uma filosofia da cincia da
informao. 2.1 Aspectos gerais do conceito de informao
Se,conformedisseEinsteinaHeisenberg,verounoumadeterminadacoisa
dependedateoriaqueutilizamos,sendoateoriaquedecideoquepodeser
observado(apudILHARCO,2003,p.45),anodefiniodeinformaoaceita
universalmentefazcomquemuitoscaminhospossveispossamsertomadosquando
olhamos para a informao enquanto objeto cientfico.
DeacordocomZeman(1970,p.156),ainformao,porumaabordagem filosfica
idealista, seria algo criado e ativado pelo pensamento. Por outro
lado, em uma abordagem materialista, haveria, atravsdeuma prtica
social, a unio entre sujeito e
objeto,oqueresolveriaumacontradioentreidiaerealidadeatravsdoato.Para
esse autor, informao qualidade da realidade material a ser
organizada (qualidade
deconservaresseestadoorganizado)esuacapacidadedeorganizar,declassificar
em sistema, de criar (capacidade de desenvolver organizao). 17
NoescopodaCinciadaInformao,apartirdeumaleituradeBelkin(1978),
destacamosoconceitodeinformaocomoumaespciededescritordeinteraes
nofsicasentrehumanos,mquinaseuniversos;umdescritorparaoconhecimento;
comoumaspectodacomunicao;comoestruturaqueresultadaorganizaode
dadosedeexperincias;ou,ainda,comoumaestruturaodesignos,textosou
mensagensorganizadoscomaintenodeafetaraestruturacognitivadequem
recebe. NaconcepodeFarradane(1979),informaoseriaumaformafsicade
representaodoconhecimentoe/oupensamentousadacomfinalidade
comunicacional.Paraqueessarepresentaotenhasentido,necessrio,segundo
esseautor,quehajarelaoentrequemproduzequemafetadopelainformao
representada.Assim,arepresentaodainformaonecessitaestarconectadaaos
fenmenos mentais do indivduo e deve constituir-se de uma comunicao
intencional.
Brookes(1980),porsuavez,defineinformaocomoumcontedointelectual,
existenteapenasnombitocognitivooumentalqueapenaspodeseracessvelans
comolinguagem.Paraele,ainda,ainformaorepresentaumelementopara
incrementodeconhecimento,onde,umnovoestadodeconhecimentoalcanado
quandoumincrementodeconhecimento,adquiridopormeiodeumincrementode
informao, acrescentado ao estado de conhecimento pr-existente.
Qualquercoisaoudeveserinformativaetudooudeveserinformao,
conformeBuckland(1991;1999).Entretanto,comoentidadequeequivaleenergiae
radiaodefiniotambmpresenteemBates(1999)-quenosenvolve,a informao
necessita de aparelhos e rgos que passam a captar em uma
determinada freqncia ou quando nossos sentidos esto preparados para
reconhec-la. Para esse autor, ainda, a informao deve ser
considerada apenas por conta de sua relao com
conhecimento;poresseltimoderivardelaque,emcertosentidoseriaconsiderada
comoumprocessocapazdeinformar,comunicare,porsuavez,reduzirincertezas;
conceito tambm presente em Eugnio, Frana e Perez (1996). 18
Rayward(1996),recuperandoMackey(1950),defineinformaocomoquase
tudo.Paraele,ahistriadouniversoaprpriahistriadoprocessamentoda
informao; assim como, em um contexto social, a histria humana
tambm. Para este
autor,ainda,informaoseriatudoaquiloqueapreendidooudito;ouseja,
inteligncia, notcia etc. Na virada do sculo, Hjrland (2000),
afirmou que informao no uma coisa,
masquecoisaspodemserconsideradascomoinformao.Paraele,oconceitode
informaopossuiambigidade,podendoserumaformasubstitutadotermo
documento,assimcomoumaunidadeintangveloudadosempotencialcapazesde
serem processadas e gerenciadas por um sistema de informao.
DeacordocomWilden(2001,p.11),umtericosocialbritnico,ainformao tem
dois sentidos: um clssico, ou mtrico, como quantidade; e um outro
pertencente a uma abordagem diversa e qualitativa; a organizao da
prpria variedade. Para ele, a informao biolgica, tal como a
informao social, caracterizada invariavelmente por distines
qualitativas, de nveis e tipos de variedade e ordem (p. 26).
Enquanto a abordagem mtrica ocupa-se, sobretudo, com uma nica e
limitada forma de valor de troca na comunicao; a outra, a abordagem
qualitativa, interessa-se por vrios nveis e tipos de e tipos de
valores de troca (e.g., o simblico) e tambm
peloproblemamuitomaiscomplexodosvaloresdeusonacomunicao(p.12),ou
seja, informao para que finalidade e para quem.
ParaWilden,oconceitodeinformaofacultauminstrumentoparaexplicar
porquerazesocontextonecessrioaosignificado(p.15).Paraesseautor,sem
contextonopodehaverinformao,umavezqueainformaospodenascerno
mbitodocontextodesistemasfinalizados,tambmcontextualizadosporordemde
complexidade.
Nombitodafilosofiadainformao,Floridi(2002)defineinformao,emum
sentido tcnico forte, como dados bem formados e significativos e,
num sentido tcnico fraco, como dados registrados ou documentos.
Para ele, pode configurar-se como algo 19
quepoderserdito,ouseja,terumcarterfactual,mastambmserumfenmeno
relacional,umprocessocapazdedarformaaalgoquepossaseridentificadoou
compreendido e, ainda, um elemento que substitui a coisa que ela
representa, ou seja, dados, fatos, eventos ou conhecimento das
coisas.
Comoarecuperaodealgunsautorespodedemonstrar,umaparentedesafio
paraodesenvolvimentodeestudosemCinciadaInformao(CI)afaltadeum
consenso sobre o que informao, mesmo dentro do prprio campo.De
acordo com
Brookes(1980,128),aCIummisturapeculiardelingstica,comunicao,cincia
dacomputao,estatstica,mtodosdepesquisa,juntocomalgumastcnicasde
biblioteconomia, tais como indexao e
classificao.Matheus(2005,p.141)afirmaqueasdificuldadesencontradasnadefiniode
umconceitobsicoeainterdisciplinaridadequecaracterizaareaacabamlevando
diversos autores a empreender esforos nas experincias
interdisciplinares e no prprio
conceitodeinformao.Oquefaz,segundoele,conduziraabordagensmutuamente
exclusivas, baseadas em disputas paradigmticas, que no ajudam a
concentrao de esforos de pesquisa e dilogo na rea (ibidem). A viso
desse autor, de certo modo, compartilhada por Dantas (2012, p. 21)
que afirma ter uma ntida impresso que cada
pesquisadorouestudioso,aodefrontar-secomumasituaoquelheparece
relacionada informao, precisando caracteriz-la, conforma-se em lhe
sugerir uma definio ad hoc, utilitria, quando no intuitiva.
claroque,porserumelementocapazdedirecionarasaeshumanas,a informao
no um fenmeno neutro e muito menos circunscrito apenas aos crculos
acadmicosecientficos.Assim,naperspectivaabordadaporCapurroeHjrland
(2007, p. 193), fcil perder a orientao quando se estuda informao.
Afinal, muitas so as possibilidades de descrever o fenmeno
informacional e muitos so os conceitos
inseridosemestruturastericasmaisoumenosexplicitas;oquenosimpema
necessidadedeumaanlisedistanciada,pormampladainformaoedaCI,
enquanto campo de estudo dos fenmenos informacionais. 20 A partir
dos conceitos levantados at aqui, partiremos para uma breve descrio
dosconceitosdelinguagemesmboloapartirdeumreferencialfilosficoquepossa
estabelecerconexescomainformaocomessesdoisconceitos.Aseoque
iniciaremosprope-se,portanto,aesboarumasriedeconsideraessobrea
linguagem e o simbolismo linguistico que, mais a frente, desaguar
em Rafael Capurro, com a sua proposta de uma sada hermenutica para
os estudos informacionais.2.2 Algumas relaes entre Informao,
Linguagem e Simbolismo [...] a linguagem, longe de ser um meio
transparente que ele [o filsofo] gostaria deimaginar, ouapriso
mtica cujaslimitaesele teme, est emsuas mos para ser transformada
(NEF, 1995, p. 163). Uma abordagem filosfica da linguagem pressupe
um olhar atento histria da
filosofia.Assim,dospr-socrticosaWittgenstein,passandopelaIdadeMdiaepelo
Iluminismo, muitos filsofos pensaram a linguagem e, com isso,
podemos entender que
muitosfilsofosestabeleceramaseuprpriomodoumaFilosofiadaLinguagem
(SALDANHA; GRACIOSO, 2014, p. 3).
Afilosofiadalinguagemsurgecomopossibilidadeconcretadeanliseda
informaoesuarelaocomosprocessosdeaprendizagem,umavezquea linguagem
tambm desempenha um papel fundamental na formulao de informaes,
realizandoseuprocessamento,seuarmazenamento,suarecuperaoesua
organizao(LOGAN,2014,p.80),alinguagemtambmumaferramentaparao
desenvolvimento de novos conceitos e idias (VIGOTSKY, 2008).
NaesteiradeumaFilosofiadalinguagempragmticaouordinria,oinciodo
sculo XX marcado pelo aparecimento de alguns estudos que comearam
arebaterasideiasquedefendiamaexistnciadeumalinguagemidealea
linguagemcomeaaserentendida,ento,deacordocomsuafuno comunicacional,
de modo que a construo de seus sentidos se estabeleceria a
partirdastrocassimblicaspraticadasporsujeitosparticipantesdeumaao
de comunicao (SALDANHA; GRACIOSO, 2014, p. 21). Assim, o argumento
desses autores gira em torno da ideia de que as formas de
vidaquecompartilhamoshoje,ouseja,oconjuntodehbitos,crenas, 21
Comportamentosnosonemjogosdelinguagemnemfrutosdeumaevoluo histrica
e linear dos acontecimentos. As formas de vida que poderemos vir a
compartilhar, os juzos, os consensos a
queiremoschegarnosoprevisveisemsuatotalidade,damesmamaneira
queosjogosdelinguagemnooso.Emcadapoca,formasdevidaso
estabelecidaseoutrasdeixamdeserseguidas,oqueocorretambmcomos
jogos.Osignificadodeumaexpressoseriaafunodotipodeusodo
simbolismodentrodeumaformadevida(SALDANHA;GRACIOSO,2014,P. 23-24).
Desse modo, um olhar sociolingustico do conhecer ganha destaque
indo at o
solodasprticasdeconstruoedesconstruodainformao.Oquepossibilitaa
emergnciadeumpensamentoqueseapianasinstveisestruturasdocotidianoe
articula-senainteraodossujeitosqueelaboramconhecimentosedeliberam
representaes.Oquedeoutromodo,podemoschamardeconsensossimblicos
sedimentadosemmodelosdehabilidadesintticapelosquaisoshomensse
comunicam.Assim,alinguagemcolocadacomoamaisrudimentarestruturado
cotidianoaserobservada;eprovavelmenteamenosinstvel(SALDANHA;
GRACIOSO, 2014, P. 26).
ACinciadaInformaoteveemsuaspesquisas,nasltimasdcadas,
contribuiesdeteoriasoriundasdediferentescampos.Entreelas,destaca-seum
processodereorientaodesuaepistemologia,voltando-separaumametarreflexo
focadanalinguagem(SALDANHA;GRACIOSO,2014,p.05).Essedeslocamento
filosfico,tambmconhecidocomogirolingusticoseespalhoupordiversas
disciplinas.Nessavirada,alinguagemganhacentralidadeetomadacomoobjeto,
comopedradetoqueparacompreensodarealidade,estejaelainseridaemum
discurso mentalista ou fisicalista (Ibidem).Osargumentos construdos
por essesautores (SALDANHA; GRACIOSO,2014, P. 27), a partir de uma
leitura da Filosofia da Linguagem e da Cincia da Informao na
AmricaLatina,conduzemapossibilidadedeexistnciadeumpragmatismo
informacionalqueacontecedentrodeumateoriasimblicadascinciassociaise
humanas;oquesugereaarticulaodeatividadeshermenuticaseetnogrficas,
baseadas em metodologias qualitativas. 22
Dessemodo,cabedestacarquesendoalinguagemomeioemqueas
conversasocorremeomeiopeloqualcompreendemos.Nessesentido,conforme
Schmidt (2013, p. 188) sintetizou, a partir de Gadamer, uma
disciplina hermenutica do
questionamentoedainvestigaopodegarantiraverdadesemsebasearomtodo
cientfico.
Neff(1995)destacagrandestemasdafilosofiadalinguagem.Soelesa condio
metafsica da gramtica; a relao entre lgica e linguagem, entre
linguagem
epensamento,entrelinguagemerealidadeeaorigemeanaturezadalinguagem.
Assim, para ele, necessrio diferenciar o ponto de vista linguistico
do ponto de vista
filosfico,poisoprimeirotemumadimensocrtica.Afinal,seporumladoa
linguisticaseinteressapelasignificao,excluindoasversesradicalmente
comportamentalistas; por outro, a filosofia se pem a interrogar
sobre as condies da
possibilidadedasignificao.E,paradiferenciar,eleargumentaqueparaquehaja
umadiscussodotipofilosfico,pelosmenosdoisdostraosqueseseguemdevem
estar combinados:
Superaodoconceitoempricodelnguaporumconceitogeralde linguagem,
passagem da diversidade das lnguas para a unidade da linguagem.
Olinguistadescobreuniversaisdalinguagemaofimdeumaanliseformale de
uma descrio comparativa; o filsofo prope universais formais.
Existnciadeumaproblemticadaorigemdalinguagem,enquantoa lingustica
exclui explicitamente essa questo do seu campo.
Estabelecimentodeumarelaoentrelinguagemeasoperaesdo
esprito,maisprecisamenteentrelinguagemepensamento,aopassoque essa
relao afastada da lingustica (e, para esta, liga-se ao
psicologismo).
Problematizaodaquestodarealidadepelalinguagem,enquantoa lingustica
estrutural elimina a realidade do seu campo).
Avaliaodalinguagemcomoinstrumentodeaescognitivas(raciocnio,
expressodasemoesetc.),podendoiratacrticadalinguagemnatural (NEF,
1995, P. 8-9, grifos nossos). Para ele, a conceituao que, sempre,
marca o carter filosfico, e enfim, no
sedeveterumaconcepodemasiadaestreitadafilosofiadalinguagem.Edestaca,
embora na histria da filosofia, em muitos casos, os cortes so
situados em relao emergncia e realizao da razo; no mbito da
filosofia da linguagem, o verdadeiro corte se situa no sculo XIV,
com o aparecimento do nominalismo radical, e mais tarde pelo
aparecimento da lingustica e da lgica formais, no fim do sculo XIX,
com Frage (Ibdem). 23 Seguindo a esteira da anlise de Nef (1995, p.
161), conclumos que emergiram
aolongodahistriadasteoriasfilosficasdalinguagemmuitostemas.Aquesto
metafsicadagramtica,segundoele,estfortementepresentenaquestoda
categorizao(diferenasnome-verbo,partesdodiscursoetc)emostrouqueas
grandescategoriasgramaticaisesemnticassosolidriasdeumaconceitualizao
metafsica.Jnarelaoentrelgicaelinguagem,Neff(1995,p.61)argumentaque
houveumaevoluoqueresultouprogressivamenteemumalgicadalinguagem
natural,desdeadoutrinadostermos,emPlato,nooquinianadeparfrase.Sendoalgicaumalinguagemenoapenasumclculo,oautorargumentaquea
relaoentrelgicaelinguagemnoumarelaodeexterioridade.Dessemodo, essa
relao se daria entre dois tipos de
linguagem,oprimeirodesprovidodeimprecisoedeambigidade,construdopara
exprimirsimbolicamenteoraciocniocorreto,cientficoeprincipalmente
matemtico;osegundo,imperfeitoparaexprimiroraciocnio,adaptadoa
impreciso da comunicao cotidiana. [...] A procura da essncia da
linguagem, da sua significao para a humanidade
inseparveldeumaprofundamentodologoscomolgica.Seohomemo
animalquesabefalar,tambm,segundoAristteles,oanimalquesabe
raciocinarlogicamente,construirnormaslgicasdoseuprprioraciocnio.As
atividades que consistem em dizer as coisas, em raciocinar e em
refletir sobre o raciocnio correto so todas as atividades lgicas,
no sentido de atividades do
logoshumano,soaparentadas,eodivrciofundadordeumacinciada
linguagemdiantedalgicadeveserreservadohistoriadosmtodos empricos
dedescrio das lnguas. (NEF, 1995, P. 162, grifo nosso). Para Nef
(ibidem), uma mutao na relao entre lgica e linguagem teria menos
avercomumaemancipaodascinciasdalinguagemqueamutaodaprpria
lgica.Paraele,comateoriadasdescriesdaFrege,umnovoregimedeestudo
lgicodalinguagemestariailuminando,forteedecisivamente,ascapacidadesda
linguagem de referir e significar. Parece notvel, para ele, que a
teoria das descries
tenhainspiraonessalgicarenovadasemdeixardesepreocuparcomumclssico
problema da referncia das entidades no existentes.
Avanando,Nefafirmaquenarelaoentrelinguagemepensamento,as
noesdelinguagemmentalesignificadoproposicionalsocategorias
problematizadoras.Dessaforma,deAgostinhoaOccam,averdadeiraquestoda
24 linguagemmental,emsntese,sabersobreoseugraudeparentescocoma
linguagem em geral, e em que medida ela admite essa ou aquela forma
gramatical.A
existnciadalinguagemmental,apartirdareflexodoautor,incontestvel;assim
como as proposies de que ela composta referem-se segundo ele a
entidades
comstatusontolgicoespecfico.Nessesentido,oautorconcluiqueahistria
filosficadalinguagememgrandeparteahistriadastransformaese
deslocamentosdoconceitodesignificadoproposicional,daquiloquesignificadopor
uma proposio (p. 163). No escopo da relao entre linguagem e
realidade, Nef argumenta que se trata de uma relao pode ser
traduzidaporumaevoluodorealismo,dorealismoplatnicodasideiasatFrege,e
pela emergncia de uma teoria da referenciam da teoria desde a
suposio at Russell. O nominalismo, que finalmente apenas um
realismo do singular, no incompatvel com o realismo interno ou
imanente (NEF, 1995, P. 163). Duas questes temticas ainda ganham
ateno do autor. Para ele, o problema
daorigemdalinguagem,longededesaparecer,comoseacreditou,deslocou-se,da
controvrsia entre convencionalismo e nominalismo at a ontognese da
referncia. E, finalmente, a natureza da linguagem natural ser
convencional e limitada (Ibidem). Feito essebreve passeio por
algumas conclusesde Nefa partirda histriada filosofia da linguagem,
passaremos agora tentativa de compreender as relaes entre
linguagemesimbolismo,apartirdeumaleituraaindasintticadeTodorov(2014a,
2014b)eBakhtin(1997),masquecertamenteserampliadanopercursodesta
pesquisa.Posteriormente,tentaremosestabeleceralgumasrelaesentreessesdois
conceitos e a informao conforme aplicado por Rafael Capurro. na
linguagem que temos o uso livre e consumado do simbolismo, o
registro do
pensarconceitualarticulado;semalinguagemparecenoexistirnadasemelhanteao
pensamento explcito (LANGER,1971, p. 111). Um argumento, alis, que
encontra eco
emTodorovquepropeumasolidariedadedosimblicoedainterpretao
(TODOROV,2014a,p.22).Entretanto,elediferenciasimbolismolinguisticode
simbolismotoutcourt,garantindoaoprimeiromaiorimportnciaparaoestudo,
amparado na seguinte justificativa: 25 [...] os conhecimentos de
que j dispomos sobre simbolismo verbal so de uma
riquezaincomparvelemrelaoquelesqueconcernemaoutrasformasde
simbolismo.(Conhecimentos,verdade,dispersosemcampostovariados
quantoalgicaeapotica,aretricaeahermenutica.)[...]porqueo simbolismo
linguistico o mais fcil de manejar (de preferncia palavras sobre
umapgina,enoanimaisdecircosoumodosdesociedade),mesmosendo
provavelmenteamanifestaomaiscomplexadosimbolismo.Razesento
estrategicamente importantes, mas que no devem mascarar a
contingncia da juno entre simbolismo e lingustica (TODOROV, 2014a,
p. 21). Para Todorov, a defesa de sua crena na existncia dos fatos
simblicos deve-se a recusa de dois pontos de vista bem diferentes:
sejam empiristas ou dogmticos. O
primeiro,adoslingistas,quesegundoele,refere-seaumarecusaporno
reconhecimentoaofatodequeoslingistas,demodogeral,contentam-seem
assinalarquenoseocuparodecasosmarginaisdousolinguistico;ouseja,a
metfora,aironiaouaaluso.Assim,paraessegrupo,sexisteaquiloque
perceptvel, aquilo que diretamente oferecido aos sentidos. O que
para Todorov so
princpiosdeumempirismocaricaturalmentesimplificados(sic)numaprimeira
abordagem, e em seguida assimilados sem reserva (p. 16-17).
Emsegundolugar,humavisoprovavelmenteadvindadarecusaromntica
dashierarquias,estassituadasnoseiodalinguagem.Trata-sedeumaviso
nietzscheana de que no h sentido prprio, que tudo metfora s h
diferenas de
grau,nodenatureza.Umavisoqueafirmaqueaspalavrasjamaiscapturama
essnciadascoisas,sasevocamdiretamente.ParaTodorov,setudometfora,
nadao.Aorecusaressesdoispontosdevista,Todorovreafirmasuacrenana
especificidade e, portanto, na existncia de um simbolismo
linguistico (p. 17). A interpretao do smbolo, segundo Bakhtin
(1997, p. 402), continua sendo ela
mesmasmbolo,apenasumpoucoracionalizada,ouseja,umpoucomaisprximado
conceito.Entretanto,paraele,osentidonosolvelnoconceito.Naleitura
bakhtiniana,umaexplicaodasestruturassimblicastemdeentranhar-sena
infinidade dos sentidos simblicos; por isso no pode tornar-se uma
cincia na acepo
destapalavraquandosetratadascinciasexatas.Emboraaumainterpretaodos
sentidosnopossaserdeordemcientfica,elaconservaseuvalorprofundamente
cognitivo.Pode,ainda,servirdiretamenteprticaqueconcernescoisas.
preciso, ainda segundo esse autor, citado Averintsev, reconhecer
que a simbologia no 26
umaformano-cientficadoconhecimento,masumaformacientfica-diferentedo
conhecimento,dotadadesuasprpriasleisinternasedeseuscritriosdeexatido.
ParaBakhtin,ossmbolossooselementosmaisestveise,aomesmotempo,os mais
emocionais; referem-se forma e no ao contedo (p. 409).
Emumcontextohermenutico,porm,ossmbolosdesignamummodo especfico de
funcionamento da linguagem (SILVA, 2010, p. 48).O smbolo sempre
linguagem e no existe antes do homem que fala, mesmo que o seu
poder mergulhe as suas razes em algo mais profundo e anterior
linguagem (Ibidem). Nesse sentido, as possibilidades de interpretao
da funo significativa da linguagem-smbolo, a partir de
PaulRicoeur,soduas,radicalmenteopostas,segundoCeia(2015).Porumlado,a
hermenuticadaconfiana,queacreditanopoderprospectivoereveladordos
smbolos.Poroutro,ahermenuticadasuspeita,que,porsuavez,acentuaoseu
poderdissimuladoreefetuaumainterpretaoredutoraearqueolgicadetodaa
simblicahumana.NasperspectivasdeRicoeur,humanecessidadede
enfrentamentodacomplexidadedesseconflito,tornandocompreensveladimenso
significativaouhermenutico-especulativadaprprialinguagemfaladapeloseaos
homens. Assim, a explicitao do n semntico de toda a hermenutica,
tarefa em que
Ricoeurconcentra,alis,oncleodasuahermenutica,exigeumareflexosobrea
ambigidadeouparadoxoconstitutivodaprpriaestruturasignificativada
linguagem, que funciona como smbolo. Smbolo, alis, que para Ricoeur
(apud Silva, 2010, p. 48) no existe sem interpretao e
sactuaquandoasuaestruturainterpretada,pois,comefeito,na
interpretaoquesedescortinamosdoisnveisdesignificadoda
intencionalidadesimblica;oprprioreconhecimentoenoosentidodo
sentidoliteraldosmboloquepermitepercebercomoesteremeteparaoutra
dimensosignificativa,semaqualeleprprionadasignifica(SILVA,2010,P.
48). Mas,Porquepossuemoshomenslinguagem?perguntaLanger(1971,p.
146).Aresposta,segundoelamesma,,porquetodososhomenstmamesma
naturezapsicolgica,quealcanou,naraahumanainteira,umestgio
desenvolvimentoemqueousodesmboloseafeituradesmbolosconstituem
atividades dominantes. 27 Na teoria geral do simbolismo, proposta
por Langer (p. 147), em vez de restringir
aintelignciaformasdiscursivaserelegartodaaoutraconcepoaalgumreino
irracionaldesensaoeinstintoelaincorporatodaatividadementalrazo.Opensamentodiscursivo,paraessaautora,daorigemcincia,eumateoriado
conhecimento limitada a seus produtos culmina na crtica
cincia.Asdiferenasentreasreaesorgnicaseasrespostashumanas,nafilosofia,
sorealadasporCassirer(2012,p.48).Paraele,noestandomaisnumuniverso
meramente fsico, o homem vive em um universo simblico. A linguagem,
o mito, a arte e a religio so partes de universo. H em Ricoeur
(apud SILVA, 2010, p.49), entretanto, uma concepo demasiado lata do
smbolo, que em Cassirer, acaba por fazer equivaler a funo simblica
a uma funogeraldemediaopormeiodaqualaconscinciaconstritodososseus
universosdepercepoedediscurso.Paraele,talconcepoaounificartodasas
funesdemediao[queoespritorealizaentreohomemeoreal]sobotema
simblicodaesteconceitoamesmaextensoqueosconceitosentrederealidadee
de cultura. H para Ricoeur um aspecto importante do simblico:
Querer dizer algo diferente daquilo que se diz, eis o que
constitui, num contexto
hermenutico,afunosimblicadalinguagemque,paraalmdadupla dualidade
estrutural do signo, a do significante e do significado e da
significao
edacoisa,lheacrescentaumaoutra:adosentidoaosentido(SILVA,2010,p.
49). Umavezqueainscriodarelaocomunicativanaprpriaraizdosentido
queosmboloexprime,asimblicaouseja,umacinciadosmbolo,deveser
analisadacomoomeiodeexpressolingusticadeumacomunicaoque
simultaneamentedoaodesentidoeiniciativadedecifrao.Destarte,aqueleque
compreende o smbolo, compreende a realidade e a linguagem, mas uma
linguagem
diferentedahabitualqueapreende,emeporummeiodoslimitesdaproposio
declarativa(Ibidem).Aligaoentresmbolo,reflexoeinterpretao,segundo
Ricoeur, aquesto filosfica fundamental suscitadapelaepistemologiado
smbolo;e, nesse sentido, ele afirma que o grande interesse
filosfico do smbolo tem, pois, a ver 28 com o tipo de reflexo que
ele se encerra (p. 50).Assim, ao meditar sobre o smbolo,
elerompecomombitoencantadodafilosofiadareflexoedaconscinciadesie
repensaascondiesdoatofilosfico,assumindoqueacondiohermenutica,
linguisticoencarnadaeporissomesmointersubjcetivadopensarqueamistura
originria de smbolo e interpretao faz meditar (p. 51).
Ealinguagemcomobasedacomunicaohumanaquepermitiuaohomem,
segundoMessias(2005,p.29),intercambiarsuasidias,emoeseexperincias,
promovendoodesenvolvimentodecivilizaesmodernasondetrocaeaquisiode
informao um processo constante. Paradoxalmente, a mesma linguagem
que atua comoarmazenamentodapercepoecomotransmissordaspercepese
experincias de uma pessoa ou de uma gerao para outra ao atuar como
tradutora e
celeirodaexperinciatambmredutoraedeformadoradessamesmaexperincia
(MCLUHAN: 1974, p. 162). No pensamento bergsoniano6 (apud McLuhan,
1974, p. 97-98), a projeo do
homemnafalaquepermiteaointelectodestacar-sedavastidoreal.Assim,sema
linguagem,aintelignciahumanateriapermanecidototalmenteenvolvidanosobjetos
de sua ateno. Para Bergson, a linguagem para a inteligncia o que a
roda para os ps, pois lhes permite deslocar-se de uma coisa a outra
com desenvoltura e rapidez, envolvendo-se cada vez menos; e, assim,
ela projeta e amplia o homem, mas tambm
divideassuasfaculdades.afalaqueestende,manifestaeexpetodososnossos
sentidos a um s tempo. Assim, a linguagem sempre foi considerada a
mais rica forma de arte humana, pois que a distingue da criao
animal.
Messias(2005,p.29)argumentaquearepresentaodasideiasmediantea
utilizaodesmbolosoquecaracterizaalinguagemcomosendoindispensvelao
processodecomunicaoetransmissodeinformao.Mas,cabeaquiumapausa
paraquestionamento,antesdeprosseguir:seriaalinguagemapenasummeiode
6 Henri Bergson foi um filsofo francs que viveu e escreveu dentro
de uma tradio de pensamento que consideravaa lngua como uma
tecnologiahumana que debilitoue rebaixouosvalores do inconsciente
coletivo.(MacLuhan, 1974, p. 98) 29
transmissodainformao,umaespciedeinformaocompartilhadaouseriaa
linguagem a prpria informao? De acordo com o fsico e filsofo C. F.
von Weizsaecker7 (apud PEREIRA: 2002,
p.347-349),natentativaderesponderperguntasetodaalinguagemsedeixa
comutartotalmenteemquantadeinformao,quesesituarianocontextodo
conceitoplatnico-aristotlicodeforma,atualizada,segundooautor,sobnovas
roupagens.Destarte,eleargumentaqueoconceitodeinformaopressupeporsi
mesmoumaespciedelinguagem,quesenopodeconvertereminformao(p. 347). A
informao uma forma ou estrutura de um grau superior de abstraco,
com o carcter lingustico comum forma da escrita e s sries na
corrente de uma
mquinadecalcular,masondepredominaaunivocidadedesentidocomono clculo
lgico. A linguagem no pode reduzir-se informao nem formalizar-se
totalmente, porque toda a reduo e formalizao pressupem sempre o uso
da linguagemnaturaloumetalinguagememquesefalasobreoclculoouas
linguagensartificiais.Quemfaladeinformao,nopodeesquecerquetal
discursospossvelapartirdeumalinguagemnatural,prximadavidae
irredutvel a toda a informao unvoca. (PEREIRA: 2002, p.349)A
palavra falada foi a primeira tecnologia pela qual o homem pde
desvincular-se
deseuambientepararetom-lodenovomodo.Aspalavrassoumaespciede
recuperaodainformaoquepodeabrangeraaltavelocidade,atotalidadedo
ambienteedaexperincia.Aspalavrassosistemascomplexosdemetforase
smbolosquetraduzemaexperinciaparaosnossossentidosmanifestosou
exteriorizados. Elas constituem uma tecnologia da explicitao
(McLuhan, 1974, p.
76-77).ParaAuroux(2009,p.21),oprocessodeaparecimentodaescritaum
processodeobjetivaodalinguagem,ou,derepresentaometalingustica
considervelesemequivalenteanterior.Aescritateria,segundoesseautor,
desempenhado um papel fundamental na origem das tradies lingusticas
(p. 22). Em
sntese,aobradeAurouxsustentaatesedequeagramatizaorepresentauma
revoluotecnolgicaqueteriasidoresponsvelpelatransformaodaecologiada
comunicaohumana,favorecendoaoocidenteummeiodeconhecimentoe
7ConfernciaintituladaLinguagemcomoInformaopronunciadapornaAcademiaBvaradeBelas
Artes, em 1959. 30 consequente dominao sobre as demais culturas do
planeta. Para ele, essa revoluo tecnolgica teria sido to importante
quanto a revoluo agrria do perodo Neoltico e a Revoluo Industrial
do sculo XIX. ParaLogan(2014,p.67),alinguagemomeiopeloqualainformao
simblicaformuladaecomunicada.Esteautordescreveaorigemdalinguageme
suas conexes com o pensamento e a informao. Para ele, a linguagem
evolui a partir
dafala,passandopelaaescrita,pelamatemtica,pelascincias,pelacomputaoe,
finalmentepelainternet.Eleprocuracompreenderasrelaesentreinformao,
linguagem e cultura e a propagao da organizao na simbolosfera.Para
Logan (p. 118), simbolosfera definida como a mente humana,
inclusive o
pensamentosimblicoabstrato,alinguagemeaculturaeincluitecnologia,cincia,
governo e economia. Todos esses elementos representam, para ele, a
propagao da
organizao.Porsermosanicaespciecapazdeconceituaoesimbolizao,
somoscapazesdelidarcomprocessamentodeinformaessobrealgoquenoest
presenteaosnossossentidosnoespaoenotempo.Ouseja,somoscapazesde
entraremumarelaosemiticacomumsmboloabstrato(p.120-121).A
simbolosferaloganianaformadaportrselementos:mente,linguagemecultura(p.
172). PodemosextrairdotrabalhodeLogan(p.253-256),algumasconsideraes
interessantes. Primeiro, a informaono um invariante e suadefinio
depende do contexto no qual est sendo usada. Segundo, a cultura
humana e suas subunidades, a saber: linguagem, tecnologia, cincia e
economia so organismos vivos, simbiontes
obrigatriosquepropagamsuaorganizaoeestoabertasinformao.E,
finalmente,ainformaosimblicadopensamentohumanodiferentementeda
informaobitica,contidanoDNA,RNAeprotenasimaterial,umpadrode
smbolos.Assim,todasasformasdevidaatualmenteconhecidascontminformao
baseadaempercepo,massomenteossereshumanospossueminformao simblica.
31 Ateaquiconceituamosinformaoemseusaspectoscientficosefilosficos.
Estabelecemos alguns pontos a nosso ver centrais nas possveis
abordagens filosficas
sobrealinguagemeumabreveintroduosobrearelaoentrelinguageme
simbolismoquepretendemosaprofundarapartirdaleituradeErnstCassirer.Agora,
passaremosaumadescriodasnoescapurrianasdeinformao,dacinciada
informaoesuafilosofia.RafaelCapurroumautorcentralnonossopercurso,pois
serporintermdiodelequetentaremospromoverumdilogohermenutico8entre
ErnstCassirereXavierZubiri,dilogoquesedarnodecorrerdenossopercurso
investigativo. 2.3 Rafael Capurro e a filosofia da informao
NascidoemMontevidu,noUruguai,em1945,RafaelCapurroumfilsofoe
professoracadmico uruguaio quedesenvolveu sua carreiraacadmica na
Alemanha,
maisespecificamentenaEscolaSuperiordeMdiasdeStuttgart(Hochschuleder
Medien Stuttgart). Dedica-se aos estudos informacionais, mais
precisamente nas reas de Cincia da Informao e tica da Informao. Uma
de suas preocupaes tem sido fundamentar a relao entre Hermenutica e
Cincia da Informao a partir de uma clara subordinao entre a retrica
e a Cincia
daInformao.ParaCapurro,aHermenuticapartedaRetrica.Nessesentido,ele
entendequeaCinciadaInformaoseriaumaespciedeumasub-disciplinada
retrica.(CAPURRO,2014a).Praele,umaconcepohermenuticapoderiaser
traduzida como um ser no mundo em relao aos outros. A inteno de
Capurro oferecer uma contraposio virada cognitivista em que
sepressupunhaumarelaodestitudadecontextoentreosseres.Aalternativa
oferecidaporeleseriaasuperaodestaviradaporumaviradapragmticaorientada
para a apreenso da informao atravs da nossa interao do homem com o
mundo. 8 Segundo Bleicher (2002, p. 359), no escopo da hermenutica
contempornea, o dilogo segue a lgica
doquestionamento,emqueaquelequequestionaestaaserquestionado(Gadamer);ouainda,
desenvolve-se a partir do reconhecimento recproco de sujeitos e,
consequentemente, inclui uma relao dialtica entre o geral e o
individual (Habermas). 32 No entendimento de Capurro (2014b, p.
111), um dos grandes temas filosficos do sculo XX tem sido a relao
entre homem, mundo e linguagem; esta no algo um
neutroetransparentequenosfazperceberarealidadecomoela,mascomo
possibilidade inevitvel de conhecimento e ao humana.
Conformedemonstradoataqui,oconceitodeinformaovemsofrendo,no
decorrerdotempo,umprocessonaturaldeevoluoemodificao.Otermo,apesar
de ter ganhado mais destaque no sculo XX, onde foi freqentemente
confundido com
comunicao,dado,instruoeconhecimento,remontaaantiguidade(CARDOSO,
1996,p.71),nosendopossvelafirmarcomprecisoemqueperodootermofoi
cunhadopelaprimeiravez.Capurro(1985),entretanto,afirmatersidoSoTomsde
Aquinooprimeiroacunharotermoinformatioemlatimimplicandoaelesentidos
ontolgicos,epistemolgicos,pedaggicoselingsticos.Capurro,nessesentido,
refere-seutilizaoepistemolgica,apontandoaexistnciadeumaestreitaligao
entre informao e os conceitos de inteligncia e percepo.Para
Capurro, a partir de
Aquino,acompreensohumananonempuramenteintelectualnempuramente
sensvel, mas uma unidade de
ambos.Navisocapurriana,conformeindicadoporseusignificadooriginalemlatim,o
termo informatio est muito perto de seu significado para o conceito
de representao, que um conceito-chave da cincia cognitiva moderna.
Entretanto, o autor levanta trs tipos de problemas a respeito do
conceito moderno de representao. So eles: (a) tipo de conhecimento
a ser representado; (b) como deve ser representado; e, (c) para
quem deve ser representado. A partir de Machlup, em The
StudyofInformation9,Capurro afirma que asduas
primeirasquestesestoconcentradasnombitodascinciascognitivas.Aterceira,
segundoele,estdirecionadaparaumproblemabsico.Asrepresentaesdo
conhecimentonopodemserconsideradascomotalporqueessasrepresentaes
estorelacionadasaumintrprete.Esseproblemalevantaumaquestosobreo
entendimentohumanocomoumprocessodeinterpretao,emespecial,como
9F.MachlupandU.MansfieldEds.:TheStudyofInformation.InterdisciplinaryMessages.NewYork,
Wiley 1983 (apud CAPURRO, 1985) 33 interpretao do conhecimento
representado. Trata-se, portanto, de uma questo-chave da abordagem
hermenutica.Emseuartigode1985,Capurroiniciaumesboodoqueseriaumafundao
hermenutica da CI, delimitada no que diz respeito a uma teoria
geral de informao e
comunicao.Paraele,taisdelimitaesso,geralmentecontroversas,poisocampo
dainformaocientficaetcnicaprovousermuitorestritanoquedizrespeito
informao da sociedade e para todos os tipos de informao
profissional que no so produzidospor centros depesquisa e
similares. Nesse sentidoamplo, o autor utiliza o termo informao
especializada.OconceitodeinformaoemCI,apartirdeCapurro,incluitrselementos:(a)
umacomunidadeprofissionalcompostaporprodutores,intrpreteseusuriosde
informaoespecializada;(b)umcampoespecficodeinvestigaooudeaopara
qualcontedosobjetivadosdevemsereferirprincipalmente;e,(c)umprocessode
comunicao atravs do qual eles so compartilhados pela comunidade de
intrpretes.
Emsntese,esseseria,segundooautor,oparadigmahermenuticodeumaCincia
que,segundoMarthaWilliams(apudCapurro),buscadecompreenderanaturezada
informao, a interao do homem com a informao, e o processo de
comunicao. O tema da CI seria informao e as comunicaes humanas
seriam seu problema.
Combasenaretricaaristotlica(CAPURRO,1991,p.9;CAPURRO;
HJRLAND,2003,p.365),apresentamtrsdilemasrelativosbuscadeuma
unificao do conceito de informao:
a)Univocidadeatentativadeusaromesmosignificadodeinformaoem todos os
nveis e reas do conhecimento poderia causar a perda de todas as
diferenas qualitativas;
b)Analogiaconsiderandotodoconceitodeinformaocomoalgosimilar,se deve
definir qual o significado original;
c)Equivocidadeconsiderandoinformaocomoalgodiferente,comoocorre, por
exemplo, com a informao na fsica e na educao. 34
DeacordocomMatheus(2005),oprimeirodilemaimplicariaemperdade
informaoqualitativa;osegundo,nadificuldadedeidentificaroconceitobsicoou
primrio ao qual as analogias se referem; e, o terceiro, implicaria
em enganos, uma vez que os conceitos so diferentes. Para Matheus, O
Trilema de Capurro, bem como conseqentes dificuldades oriundas da
busca deumadefiniouniversalmenteaceitadotermoinformao,podeserassim
sintetizado:aomesmotempoemquenopossvelestabelecerumconceito
nicoparainformaoemtodasasreasdoconhecimento,asdiferentes
disciplinascientficasbuscamconceitoscompatveisafimdepermitira
interdisciplinaridadeeodilogo,oquepodelevarperdadequalidade,a
analogias inadequadas e a equvocos (MATHEUS, 2005, p. 154).
Emumaperspectivahermenutica,ainformaopodeserentendiacomo
processonecessrioformaodoconhecimentohumano,permitindoaoindivduo
uma troca dos contedos internos com o mundo exterior, apreendendo
os sentidos dos objetos materiais exteriores a ele. Atravs dessa
abordagem, o homem na condio de
serqueconheceganhariaacapacidadedeinformaromundoqueocercaatribuindo
sentidoscoisas,poisainformaoseefetivariaporumamediaoentreamente
humanaeosobjetospercebidospelosnossossentidos.Emsntese,acompreenso
humanano se darianem puramentepelo intelectonem puramente pelo
sentido, mas
pelauniodessasduasformasdeperceberarealidadequeseriaapreendidapelos
sentidos, representada pela imaginao e finalmente tornada
inteligvel pelo intelecto.Assim, para Matheus (2005) a hermenutica
seria o nico paradigma disponvel
paraarea,sugerindoqueapesquisaemCIdeveseocorreratravsdeprogramas
depesquisainterdisciplinares,comabordagensfilosficas,tericaseprticas,
agregados em torno de temas, ou problemas.
Emumaabordagemhermenutica,conformepropostoporCapurro,Matheus
identificaquestesessenciaisemrelaoinformao:anecessidadedeanlisede
seuimpactosocial,ainformaoeadesinformaoeaexistnciadediferentes
discursos e interesses pessoais e sociais. A necessidade de
interpretar a informao
(hermenutica);necessidadedecontextoparapermitirainterpretaodainformao;
informaocomoumconceitointerdisciplinarsocolocadascomocaractersticas
35 essenciaisdainformao(CAPURRO;HJRLAND,2003,p.356),umavezqueela
temsignificadosdiferentesparasujeitosdiferentes,quetmdiferentesinteresses.
Nessaperspectiva,considerandoascaractersticasessenciaisdainformao,eno
apenasainformaocomocoisa(materializada),possvelavaliarosaspectos
pragmticos,ouresultadoseinteressessociais,envolvidosnouso,geraoe
disseminao da informao (CAPURRO; HJRLAND, 2003, p. 396-397). De
acordo com
Matheus,ApropostadetornaraCIumadisciplinadahermenuticaparecedemasiado
influenciadapelaformaofilosficadeCapurro,ecolocaimportantes
realizaes desta rea do conhecimento em segundo plano. Por outro
lado, ele
teorizasobretemas,conceitosepesquisadoresessenciaisnaCI,concluindo,
ora que a CI uma disciplina da hermenutica, ora que a teoria da
mensagem umafundamentaotericaadequadaparaaCI.Noentanto,nodetalha
comoseria a prticada pesquisaemCItomando tais abordagens oriundasda
filosofiacomobase.Pode-se,assim,concluirqueahermenuticauma
possibilidadedefundamentaofilosficaparaaCI,masnoanica,eque faltam
elementos tericos e prticos a serem considerados (MATHEUS,2005, p.
162).Seahermenutica,grossomodo,umaartedainterpretao,paraCapurro
(2000)qualquerinterpretaopressupeumprocessodetransmissodemensagens,
ondeotextoaserinterpretadotemqueserpreviamentetransmitidoecomunicado.
Assim,paraoautor,todahermenuticapressupeumaAngeltica;ouseja,uma
cinciadasmensagensedosmensageirosqueseocupariatantodofenmenode
construo da mensagem como no contexto de ao e compartilhamento da
mesma. Smith(2000)afirmaqueapreocupaodeCapurrodecorreriadeuma
preocupaoanteriorcomosfundamentosepistemolgicosefilosficosdaCIcomo
interesse de unificar a compreenso do papel da informao no cerne da
vida humana
edasociedadeglobalemumatentativadeumadefiniounificadaparaesclarecera
fundamentaodoprprioconceitodeinformao;queseriatomadocomouma
mensagemquefazdiferena,sejacomoforma,sejacomoumaespciedeofertade
sentido,umateoriaquetantosereportanoogreco-latinadainformaocomo
perspectivacomunicacionalmodernaquebuscaria,nalinguagem,apossibilidadede
pensaromediadorentreoshomens,oatorque,apartirdareflexoedaprxis
informacional, prope solues para os dilemas do mundo (SALDANHA:
2014, 118). 36 Nessa situao, a hermenutica seria uma das
perspectivas filosficas para a CI,
masnoumparadigmanicoparaarea.Comotrabalhosfuturos,osprogramasde
pesquisainterdisciplinaresnaCIdevemserabordadoscommaiorprofundidade.Alm
disso,existeapossibilidadedesefazerumestudomaisdetalhadosobrepossveis
analogiasediferenasentreateoriamatemticadacomunicao,deShannon,ea
teoriadamensagem,deCapurro.TalestudopoderretomarapropostadeWeaver
feitaem1949(SHANNON;WEAVER,1949),possivelmenteatravsdeumcaminho
capazdeestudarasrelaesentreainformaocomosinalfsico(sintaxe),a
informao como significado (semntica) e os efeitos da informao
(pragmtica).
ApsessasntesedopensamentodeRafaelCapurro,passaremosnocaptulo
seguinteaexaminarosoutrosfilsofos(ErnstCassirereXavierZubiri)quesero
fundamentaisparaaconstruodosargumentosqueservirodebaseparaa
construodonossocaminhotericoe,consequentemente,paraquepossamos
alcanar os objetivos da pesquisa que estamos propondo. 37 3.
FILOSOFIA DA INFORMAO: IDEALIDADE OU REALIDADE?
Seoconceitodeinformaosimblicapossuirelaescomosconceitosde
linguagem,smbolo,intelignciaerealidade,eessesconceitosemumaperspectiva
dialgica tm relevncia para os questionamentos no mbito da Filosofia
da Cincia da Informao, acreditamos que se impe investigar as
possveis relaes da Filosofia da Cincia da Informao com o idealismo
cassireriano e o realismo zubiriano.
Nessecaptulo,apartirdaleituraeinterpretaodessesautores(Zubirie
Cassirer),tentaremosestabeleceraproximaescomdeconceitosfundamentaisem
cadaumdossistemasfilosficosessesautorescomosuportetericooferecidopela
CinciadaInformao,tentandocomissodesfazeroaparentedesencontroentreos
pressupostosrealistaseidealistas,apontandoaspossibilidadesderecolocaodos
conceitos de informao, linguagem, smbolo com os de inteligncia e
realidade dentro as perspectivas filosficas oferecidas por Rafael
Capurro.3.1 Smbolo e Linguagem em Cassirer
NascidoemBreslau,naAlemanha,em1874,ErnstCassirerdedicou-seaos
estudosdodireito,dafilologia,daliteratura,dafilosofiaedamatemtica,emBerlime
Marburgo. considerado como um dosgrandes nomes movimento
filosficochamado
neokantismo,lecionounaUniversidadedeBerlimentre1906e1919eposteriormente
migrouparaaUniversidadedeHamburgoondesetornoureitorem1930.Entretanto,
com a ascenso de Adolf Hitler e a chegada dos nazistas ao poder,
renunciou ao cargo
eexilou-seem1933naInglaterra,naSuciae,finalmente,nosEstadosUnidosonde
exerceuomagistrionasUniversidadesdeYaleedeColmbiaatsuamorte,em
1945.
AoladodeHermannCohen(1854-1918)ePaulNatorp(1854-1924)integroua
chamada Escola de Marburgo, conhecida por integrar autores que
teriam suas filosofias marcadas por um retorno s idias de Kant, nas
reas da filosofia da cincia e da teoria
doconhecimento.EmboraostericosdedaEscolaMarburgotenhamforteatuao
intelectualnascinciasexatasdanaturezaedamatemtica,Cassirerdesenvolveu
38
afinidadescomneokantistasdaEscoladeBaden,entreelesWilhelmWindelbande
Heinrich Rickert. Essa afinidade teria o levado a se interessar,
tambm, pelas cincias culturais, histricas e pela teoria dos valores
e, portanto, a pesquisar assuntos histrico-culturais (CASSIRER,
1972, p.
10-11).EmEnsaiosobreohomem,ErnstCassirer(2012),sintetizasuafilosofiadas
formassimblicasafirmandoquens,humanos,nosdiferenciamosdosanimais,pois
enquantoestespercebemomundoinstintivamente,nscriamosumuniversoprprio
graas aos significados simblicos atribuem e delineiam nossa percepo
de realidade.
Esonessesuniversossimblicossesituaalinguagem,almdomito,dareligioe
dacincia.Emboraaracionalidadesejaumtraoinerenteatodasasatividades
humanas, na perspectiva cassireriana, o homem seria um animal
simblico. Noestandomaisnumuniversomeramentefsico,ohomemviveemum
universosimblico.Alinguagem,omito,aarteeareligiosopartesdesse
universo. So os variados fios que tecem a rede simblica, o
emaranhando da experincia humana. Todo o progresso humano
empensamento e experincia refinada por essa rede, e a fortalece. O
homem no pode mais confrontar-se com a realidade imediatamente; no
pode v-la, por assim dizer, frente a frente. A realidade fsica
parece recuar em proporo ao avano da atividade simblica
dohomem.Emvezdelidarcomasprpriascoisasohomemest,decerto modo,
conversando constantemente consigo mesmo.Envolveu-sede tal modo
emformaslingsticas,imagensartsticas,smbolosmticosouritoreligiosos
quenoconsegueverouconheceralgumacoisaanoserpelainterposio desse
meioartificial.Sua situao a mesma tanto na esfera terica como na
prtica. Mesmo nesta, o homem no vive em um mundo de fatos nus e
crus, ou segundoasuanecessidadededesejosimediatos.Viveantesemmeiosa
emoes imaginrias, em esperanas e temores, iluses e desiluses, em
suas fantasias e sonhos (CASSIRER, 2012, p. 48-49). Mas, o que ,
para Cassirer, uma forma simblica?
Porta(2011,p.59),Cassirerentendeporformasimblicatodomodode
compreenso do mundo, ou seja, a objetivao dos dados sensveis em
fenmenos, que obedea a maneiras particulares, especficas e
irredutveis de articular um dado e um significado.Em uma definio
explicita,[...]nsassimilamosodadosensveloriginrioemdiferentesformas
simblicas(enformando-oatravsdelas)quandolheatribumossignificados
diferentes. O conceito de forma simblica , pois, um derivado do
conceito de enformaosimblica(SymbolischeFormung).Aenformao,isto,a
constituio do objeto acontece atravs de um processo de simbolizao,
na 39 medida em que consiste outorgar sentido a um dado sensvel
(PORTA, 2011, p. 58).10
Sendoafilosofiadasformassimblicasumateoriadadiversidadedas
descriesdomundo,suateseprincipalopluralismo,isto,aafirmaodeuma
multiplicidadedemodosigualmentelegtimosdedescriodomesmomundo,
podemos entend-la, numa perspectiva kantiana, com um idealismo
pluralista (p. 60).Para
Cassirer,Arealidade,comoemKant,produtodaespontaneidade;pormaocontrrio
deste,estaespontaneidadenoconsisteemsntese,masematribuiode
sentido,ejustamenteporissoelapodeexercer-sedemodosdiferentes.Ela no
conforma o material sensvel de uma nica maneira, mas de vrias; no d
lugaraumnicomundofenomnico,masavrioscoexistentes.Aidia
fundamentaldeCassirer,pois,queomesmo(oestratosensvelprimitivo)
podeserestruturadodemodosdiferentes,aindaqueigualmentevlidosou
verdadeiros (PORTA, 2011, P. 60).
OconceitocentralparaacompreensodaantropologiafilosficadeCassirer
seria,ento,anoodesmbolo,quesegundooautor,certamentenoso[os
smbolos]umtipodesignos,aindaquandooinversonovalha,poissignossopara
Cassirer momentos de um tipo de smbolos; no representando o smbolo
cassireriano em funo de uma correspondncia analgica de nenhum tipo
(PORTA, 2011, p. 62).
Sobearelaosigno-smbolo,numaperspectivadafilosofiadasformas
simblicas,Porta(2011,p.62)observaquesignosnodevemserentendidoscomo
unidades de significante e significado. Diferentes dos smbolos que
no so somente
convencionais,ossignosdevemserentendidoscomosubstratossensveis
intersubjetivamente acessveis e convencionais, um caso particular
de simbolizao que no se limita nem ao uso nem a produo de signos.
Aprprialinguagem,segundoCassirer(2012,p.49),foicomfreqncia
identificada razo, ou a prpria fonte da razo. Mas, ao mesmo tempo
em que existe
umalinguagemconceitual,existeumaoutralinguagememocional;mesmoquando
desenvolvemosumalinguagemcientfica,outra,imaginativaepoticautilizadapara
representarmosarealidade.Alinguagem,nessaperspectivasimblica,noexprime
10 O autor, em nota de rodap, afirma que o conceito de forma
simblica seria equivalente aos conceitos de: 1. manifestaes
culturais; 2. formas de esprito; 3. objetivaes; 4. modalidades de
conhecimento; 5 compreenso do mundo e 6. modos bsicos de experincia
(PORTA, 2011, p. 58). 40
pensamentosouidias,massentimentoseafetos,sendoaconscinciaacausaea
condio da funo simblica da linguagem (ALLEAU, 2001,
p.183).Entretanto, Cassirer (2012, p. 213-214), argumenta que a
filosofia da linguagem enfrenta o mesmo dilema que aparece no
estudo de toda forma simblica. Para ele, a
maisaltatarefadetodasessasformas,naverdadeanica,uniroshomens.Cassirer
argumenta que sem a fala no haveria comunidade dos homens. No
entanto, no h obstculo mais srio a essa comunidade que a
diversidade de fala. Para Alleau (2001, p. 184), uma sociedade sem
smbolos no pode, pois, deixar de descer ao nvel
dassociedadesinfra-humanasquandosoagitadasedeterminadasporsinaise
estmulos-sinais. Nessa perspectiva,
CassirercoincidecomlinhasprogramticasdaFilosofiadaVida:partirda
expressolingusticacomodimensobsicadacompreensodemundo,
reabilitaromitocomoformapr-cientficadevida,premrelevoopapeldo
corpo,analisaracinciacomoformasimblicadacompreensodomundo (PEREIRA,
2002, p. 8).
ParaPorta(2011,p.66),afilosofiacassirerianacarecedeumaanlisedo
principionicoapartirdoqualsoderivadasasdiversasformassimblicas.Oautor
menciona trs funes simblicas: expresso, representao e significado
puro. Porfunosimblicadevemosentendermodoscaractersticoseirredutveis
deinter-relaoentresentidoedadosensvelouentrerepresentantee
representado.Oespecficodaexpressoofatodenodiferenciarosigno
dosignificado,odadosensveldeseusentido.estediferenciaroque
caracterizaarepresentao.Osignificadopuro,finalmente,oprodutoda
autoconscinciadaplenaespontaneidadedefinitriadoesprito(Geist),que
nosdistingueoelementosensvelmas,almdisso,implicaa impossibilidade
de reconduzir um a outro (PORTA, 2011. P. 66-67) No se deve,
entretanto, tomar essa classificao como absoluta e rigorosa, mas
apenascomoumaestruturaorientadora.Tomandoduasformassimblicas(mitoe
linguagem), como exemplo, no podemos tratar com rigor o fato de que
o fenmeno da
expressoestejapresentesnomito;ouqueosfenmenosdarepresentaoesteja
presenteapenasnalinguagem.Mas,apenasqueumaformaseorientamaisporum
fenmeno que por outro (PORTA, 2011, p. 67).
Omundodalinguagemomundodavidacotidianaorientadademodo
prioritrioporinteressespragmticos.Suaestruturafundamentalaestrutura
objeto-propriedade, queatua como ordenadora e reguladoradenossas
aes. 41
Eletemumcarteressencialmentesensvel-intuitivo,definindooobjetoda
percepo (PORTA, 2011, p. 67-68).
Dessemesmomodo,graasaoqueCassirerchamoudeteoriamodaldas categorias,
alm da linguagem, em todas as outras formas simblicas ou seja,
mito,
cincia,arte,religio,tica,tcnicaetcencontram-sepresentesasmesmas
categorias, entretanto com um ndice diferente dado pela funo
simblica fundamental que define cada uma delas (p. 68). Em sntese,
a filosofia das formas simblicas contm quatro teses bsicas que
pressupem, por conta de seu pluralismo um problema de objetividade
que precisa ser levado em conta j que se o conhecimento fosse
compreendido realisticamente como cpia da realidade em si, s
poderia haver uma nica descrio vlida do mundo (p. 69).
ParaCassirer,(i)todaformadecontatocomorealdependesemprede mediao
que, em ltima instncia, (ii) trata-se de uma mediao de natureza
simblica que (iii) pode variar em funo da existncia de diferentes
formas simblicas, nenhuma
delascpiadarealidade,eportanto,(iv)todaspossuemomesmograudevalidezj
que so sempre o produto da
mediao.SegundoPorta(2011,p.70),afilosofiadasformassimblicascarecedeuma
metateoria da objetividade enquanto intersubjetividade se
admitirmos que toda forma simblica tem o mesmo grau de
objetividade, se por objetividade (como de esperar
emumafilosofiatranscendental)entendemosintersubjetividadejquenohna
teoriacassirerianaoconceitodeobjetividadenoestlegitimadopeloseuprprio
sistema. Algumas questes colocadas pela filosofia das formas
simblicas, os conduzem
algumasincertezasquemerecemumolharatentoparaquepossamosdesenvolver
commaiorcertezanossopropsitonessetrabalho.Porisso,antesdepassarmosa
Xavier Zubiri, vamos nos debruar sobre a anlise de Porta (2010) de
algumas aporias hermenuticas contidas na filosofia de Ernst
Cassirer. 42 3.2 Algumas aporias hermenuticas da filosofia das
formas simblicas
Natentativadedesenvolverumahermenuticadafilosofiadasformas
simblicas,Porta(2011,p.295)apontaumconjuntodequestesaporticase
interpretaesdivergentesaosistemafilosficoestabelecidoporCassirer.Oautor
colocaasquestesnorespondidasdivididastrsgrandegrupos:a)Oconceitode
forma simblica; b) O sistema da filosofia das formas simblicas; e,
c) A metafsica das formas simblicas. Discorreremos brevemente sobre
cada um desses grupos, mas nosso foco ser nessa ltima, por
entendermos serem essas, questes mais prximas ao nosso objeto de
estudo. Noprimeirogrupoouseja,sobreoconceitodeformasimblica
destacaremosalgumasdasquestesnorespondidas,levantadaspeloautorque,no
nosso entender so centrais: a) O que so formas simblicas? b) Qual a
relao entre conceitos de forma simblica e signos? c) Existe para
cada forma simblica um sistema
designoprpriooutosomenteumusoparticulardesistemasdesignosque,em
realidade podem ser comuns a
vrias?Nosegundogrupo,asquestesdeocupamdeestabeleceroquepoderiavira
serumaarquitetnicadasformassimblicas.Trata-sedeumgrupocomquestes
maiscomplexasemmaiornmero.Nele,questesrelativasquantidadedeformas
simblicasequaisseriamessasformassimblicassocolocadas.Assim,umadas
questes interessantes colocadaspor Porta : Existealgo assim comouma
deduo
metafsicadasformassimblicas,deformatalquesejapossvelestabelec-las
medianteumprocedermetdico?Noficaclaro,ainda,nafilosofiadasformas
simblicas,segundoPorta(2011,p.299),secadaformasimblicarepresentaum
momentododesenvolvimentohumano,sucedendoumasoutras,ouseelasso
aspectossimultneosecoexistentesdeumatotalidade.Outraquestoanossover
importante no que diz respeito a uma certa superao da fase mtica
pela linguagem. Nesse caso, so mito e linguagem duas formas
simblicas distintas ou acaso o mito uma primeira fase no
desenvolvimento rumo linguagem? Nesse caso no fica claro, segundo
oautor, se em Cassirer, possvel falar em mito como uma forma
simblica ou to somente como uma fase mtica da linguagem. 43 Sobre
isso, especificamente,Cassirer desenvolve expressamente uma lei de
trs estgios para a linguagem
edistingueumestgiomimtico,umanalgicoeumsimblico.Valeessalei
apenasparaalinguagemouparatodasasformassimblicas?Sesim,qual seria a
fase mimtica da cincia e qual seriaa fase simblicado mito? [...] Se
estaleidedesenvolvimentodevevalerparatodaformasimblica,comodeve
valeratesesegundoaqualtodasasformassimblicassurgemdomito? (PORTA,
2011, P. 299-300)
Umaoutraquestoaindareferenteaosegundogrupodizrespeitoaseguinte
pergunta:Seasformassimblicascoexistemousucedem-seumassoutras,oque
issosignificaemrelaopretensodevalidadeouobjetividadedelas?E,ainda:
Todasasformassimblicastmumaigualaspiraovalidadeouobjetividade
(assim,pois,mitoelinguagemoumitoecincia)?E,nessecaso,seasformas
simblicas possussem as mesma aspirao objetividade ou validade, no
conduziria esta tese, em ltima instncia, a um relativismo?
Seguindo,ainda,osrastrosdeumaaportica,conformesugeridoporPorta
colocada pelas questes arquitetnica, colocamos em evidncia a
seguinte
questo:afilosofiadasformassimblicasumafilosofiatranscendentalouto
somenteumateoriaempricadohomem?Oquesignificaofatodeque
Cassirerfinalizeseutrabalhosistemticocomumaantropologiafilosfica?
DeveCassirersercompreendidocomoummomentonoprocessode reconciliao da
filosofia transcendental com a subjetividade concreta, e isto de
tal forma que ele culmina abertamente em uma antropologia sem
nenhuma pretensotranscendental?Einversamente:secertoque,emltima
instncia,Cassireraspiraaumteoriaempricadohomem,acasoelese encontra
livre do rastro transcendental? (PORTA, 2011, p. 301, grifo nosso).
E, finalmente, chegamos ao terceiro grupo de questes. Esse
referente relao entre as formas simblicas e a realidade. O que,
para Porta (ibidem) equivaleria a uma
relaoentreteoriadasformassimblicaseaontologia.Nessegrupo,oautorafirma
existirumempenhodeCassirereprocederdeummodototalmentenometafsico,
que e tese colocaria dvidas sobre a sustentabilidade dessa
pretenso; uma vez que a Filosofia das Formas Simblicas no seria uma
ontologia? Para Porta, se, por um lado,
aalternativarelativistanosatisfaz,entoseimpeaperguntapelarelaodas
formas simblicas com a realidade:
Comodesenvolvimentodasformassimblicasalcanadaumacrescente
objetividade(eistonosentidodeumaprofundaacomodaorealidade)?
Comodeveser,emgeral,entendidooprocessodedesenvolvimentodas 44
formas simblicas [...] So as formas simblicas meios para o
conhecimento do
mundoouconstituicadaumadelasseuprpriomundo?(PORTA,(2011,p. 301) A
partir dessas aporias hermenuticas, Porta (2011, p. 302), nos
conduz a uma
viagempelasinterpretaesdafilosofiadasformassimblicas,estabelecendouma
reviso crtica dessas interpretaes.
UmaprimeiravertenteinterpretativadefinidaapartirdatesedequeCassirer
teriaampliadoafilosofiatranscendentalkantianaeneokantianarumoauma
antropologia. Na crtica de Porta (2011, p. 308), O problema
principal dessa interpretao que ela no consciente de que a
ampliao(Erweiterung)nooutracoisaqueumametfora,metforaque
sugereumacrscimopuramenteaditivodetemasnovosfilosofia
transcendental,masqueperguntadecisivasobreaqualdeveserseu resultado
(PORTA, 2011, p. 308).O argumento, em sntese, que Kant teria se
limitado cincia, tica e arte
porqueunicamenteapenasnessasformaspoderiamserencontradasaspiraes
legtimas validade universal, no estendendo, assim, essa reflexo
transcendental ao mito ou linguagem (p. 309-310).
Portaestuda,ainda,umsegundogrupodeautoresqueafilosofiadasformas
simblicasemvnculocomasemitica,enessecaso,comtrsvariantespossveis.
Almdeumapossveltransformaodafilosofiatranscendentalnadireoda
semitica, Cassirer seria alado ao status de cofundador da semitica
como disciplina cientfica com aspirao universal, e nesse caso, ele
se situaria no contexto da filosofia
alemdosanosde1920.Umaterceiravertente,afirmaqueCassirerteria
fundamentadoasemiticacomodisciplinafilosficafundamentale,nessecaso,os
intrpretesdessesegundogrupotendemavincularCassireraPierceeao
neopragmatismo anglo-saxo. Nesse caso, especialmente, Cassirer
seria entendido no contexto da superao do motivo consciencialista a
favor do motivo sgnico
oucomunicativo,sejasaudandoafilosofiadasformassimblicascomouma
teorialinguisticadasubjetividade(Lorenz,Peters),seja,concomitantemente,
ressaltando-seaslimitaesdela(Habermas,Apel,Oheler).(PORTA,2011, p.
304).
ArevisocrticadePorta(2011,p.3010)consideraqueodefeitofundamental
dessainterpretaoconsisteemqueelacomprimeopensamentocassirerianodentro
45
deumaalternativaimposta,umavezqueemCassireromotivosemiticoconvive
com o motivo consciencialista. Destarte, ao ressaltar que toda
relao com o objeto mediada pelo signo, ao
mesmotempoemqueasemiticaartificialseapiaeseconstrisobreuma
simbologia natural [...] Cassirer no est pensando aqui propriamente
em signo algum,
esimnumcarterfundamentaldaprpriaestruturadaconscincia.Enfim,atribui-se,
nessecaso,aCassirerumconceitodesmboloquenooseu,umavezquepara
ele,smboloesignonosodemodoalgumsinnimos.Anfasenoconceito
cassireriano de smbolo se encontra no conceito de sentido (p. 311).
Numltimoponto,motivadopelaausnciasobreasrazespelasquaisuma
filosofiadasformassimblicasdeveserconsideradacomoumafilosofia
transcendental, Porta lana a seguinte questo:
acasototalmenteabsurdoeinsustentvelqueateoriadapragnncia
simblicacontmumateseempricacomrespeitoaestruturaspercepitivas,
umaafirmaodefatoeque,portanto,noemnenhumsentidobvioque
sejaporsimesmatranscendental?Comoentender,deoutromodo,as reflexes
cassirerianas sobre apraxias e afasias sempre festejadas pela
crtica? (PORTA, 2011, p. 312)11 Um dos principais argumentos de
Porta apoiados nos estudos de John Michael Kroiz sobreessaquesto
resideno fato de que arelao entreCassirereKantno
podeserentendidasimplesmentepelaampliaodeumateoriadoconhecimento,
umavezqueCassirerfazantecederateoriadoconhecimentopelateoriado
significado(Ibdem).Entretanto,aprofundandonaquestopropostaporKroiz,ele
pergunta: Que significa propriamente que a teoria do conhecimento
(da verdade) deva ser antecedida por uma teoria do significado?
Para ele, isto significaria uma das quatro coisas seguintes: a.Que
a pergunta pela existncia e pela captao de pensamentos idnticos
(Gedanken) ou, eventualmente, pela intersubjetividade do
significado deve anteceder a pergunta pela atribuio de valores de
verdade intersubjetivos ou a pergunta pela validade universal;
11EmCassirer(2011,p.239),pragnnciasimblicaentendidapelomodocomoumavivncia
perceptual, ou vivncia sensvel entranha ao mesmo tempo, um
determinado significado no intuitivo
querepresentadoconcretaeimediatamenteporela.,assim,acondiodepossibilidadedetoda
forma simblica, pois ela evidencia o carter simblico originrio da
nossa percepo. 46
b.Queaperguntapelaconstituiodosentidocomoconstituiodeum mundo
significativo deve anteceder a pergunta pela deciso de aspiraes
devalidadedentro(ounocontexto)destemundodosentidoou significao;
DadoqueCassirer,defato,ocupa-secomapluralidadedosmundos
significativos, o que foi dito anteriormente pode ser precisado na
medida em que se introduz uma ulterior distino, a saber,
c.trata-seemCassirerdavalidadeuniversal,ouseja,dapossibilidadede
principiodeintersubjetividadedentrodecadauniversosignificativo
(Sinnwelt)particular(ouseja,porexemplo,dentrodaarte,domito,da
linguagem etc.) d.ou, ademais, da validade universal justamente da
pluralidade de universos
significativosenquantotais(ouseja,daarte,domito,dalinguagemetc.)?
(PORTA, 2011, P. 313-314) Embora a possibilidade de pensamentos
intersubjetivos idnticos seja colocada por Cassirer em vrios
momentos, ele no toma uma posio definitiva e inequvoca o que sugere
duas observaes crticas: Sendo o principal objetivo de Cassirer o
item a,
PortaafirmaqueatravsdeoutrocaminhoCassirerchegamesmaconstelaode
problemasquepreocuparamFregeeHusserle,nessecaso,relacionarCassirercom
esses autores no seria uma comparao possvel a menos que se
reescreva a histria da filosofia do sculo XX. Por outro lado, se o
interesse de fundamental de Cassirer se dirige constituio de uma
pluralidade de universos significativos Item b, impe-se colocar uma
srie de perguntas ou, pelo menos, acrescentar que a Cassirer
interessa a fundamentao de intersubjetividade dentro de cada um dos
universos significativos e, ao menos, em relao cincia, isso
quedizer queas condies da possibilidade da
atribuiodeumvalordeverdadeuniversalantecedidoagorapelotemadas
condiesdepossibilidadedaapreensodeumpensamentoidnticoporsujeitos
diferentes.Nessecaso,oqueessapremissarepresentaemrelaoaomitoou
linguagem.Afinal,nosentidoemqueexisteacincia,noexistealinguagem
(PORTA, 2011, p. 314-316).
Aindasobreastesesinterpretativas,cabefalardeumaterceira,ouseja,ada
interpretaoneokantiana.Nessatese,Cassirerestariasendocolocadoemposio
de continuidade filosofia transcendental kantiana e no e
contraposio conforme as
duasanteriores(asaber:atesedeampliaoeatesedeinterpretaosemitica).
Essa tese parte da premissa que o neokantismo no reduziu a
filosofia a uma teoria do
conhecimento,mastrata-sedeumateoriadavalidadeuniversale,porisso,seu
47 objetivo era a fundamentao da validade de todos os tipos de
manifestaes culturais
enomeramentedacincia.Nestecaso,Cassirerteriasemantidofielaesse
programa original, se diferenciado de Nartop e Cohen, por exemplo,
quando insistiu na radicalidade do programa tematizando a cultura
de maneira mais rica e abrangente. A
nfasedessaterceirainterpretaoestnofatodequetantoaprimeiraquantoa
segundateseanulamoutornamaomenosproblemtica(namesmamedida,ainda
quando por diferentes motivos), a saber, a dimenso de validade da
reflexo proposta pela filosofia de Cassirer (PORTA, 2011, P.
305-306).
NarevisocrticaoferecidaporPorta(2011,p.316-317),essatesepossuia
vantagem de se basear em uma clara ideia do que foi o neokantismo,
muito distante da
tesedeampliao,quesegundoele,trata-sedeumagrosseirasimplificao
retrospectivanaqualHeidegger[inclusive]deixousuamarca.Assim,a
fundamentao transcendental cassireriana consistiria ento no
seguinte: um indivduo
oualgoparticularseelevaaalgovlidouniversalmenteenquantocategorialmente
determinado.EcomoascategoriassomodalizadasporCassirer,omencionado
enquadramento,considerandoqueoconceitodeexperinciafoiampliadoecontm
agoradiferentestipos(mito,linguagem,cinciaetc.)equeelemodificaconformea
istoateoriadascategorias,todoesseenquadramentospodeserencontradono
textodeCassireresobreissonopodehaverdiscusso.Permanece,portanto,uma
dificuldade sistemtica que imanente ao pensamento
cassireriano.Naesteiradopensamentocassireriano,considerandotodasassuasaporias
hermenuticas,emespecialarelaoentreafilosofiadasformassimblicasea
realidade,pretendemosextrapolarnossareflexosobreinformao,linguageme
smbolo, enquanto expresso social do homem no lgos, confrontando-os
com conceito de realidade. Desse modo, admitindo que haja na
filosofia de Cassirer uma relao com
asnoesdesmbolocomasnoesderealidadeedeintuiosensvel,partiremos
parauma sntesedopensamento deXavier Zubiri, um filsofoque, a nosso
entender, podepreencheressalacuna,umavezqueosimbliconoosparecer,
necessariamente, se opor ao real e ao intuitivo. 48 3.3 Inteligncia
e Realidade em Zubiri O processo da filosofia governado no por
movimentos subjetivos, mas pelo
dinamismodarealidade,atualizadanoespritodofilsofo.Arealidade
primeira em relao filosofia, e a filosofia primeira em relao ao
filsofo: A
filosofianoobradofilsofo;ofilsofonoobradafilosofia.12[...]A
filosofianopodejamaissetornarumatcnica,nemserformuladaemleis
universalmenteaceitveisporqualquerum.[...]Aideiadefilosofia
diferente para cada filsofo, pois cada filsofoconstruiusua
filosofia. 13
Ofilsofosumfilsofoapartirdopontodevistadafilosofiaqueele construiu,
e um filsofo de um tipo particular em funo do carter da filosofia
resultantedomovimentodasuaalma.(CAPONIGRI,2014,P.49-49,grifo
nosso).Aepgrafede