Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014 95 MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA BACIA DO RIBEIRÃO JACUTINGA, ZONA DA MATA MINEIRA Carlos Anthony Heider MARTINS Discente do curso de Geografia Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário Bairro São Pedro – Juiz de Fora - MG [email protected]Elver Lonie Nunes RODRIGUES Discente do curso de Geografia Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário Bairro São Pedro – Juiz de Fora - MG [email protected]Geovane Caon de OLIVEIRA Discente do curso de Geografia Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário Bairro São Pedro – Juiz de Fora - MG [email protected]Johnny de Souza DIAS Discente do curso de Geografia Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário Bairro São Pedro – Juiz de Fora - MG [email protected]Dr. Roberto MARQUES NETO Prof. Adjunto do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário Bairro São Pedro – Juiz de Fora – MG [email protected]RESUMO: O presente artigo se pautou na elaboração da carta geomorfológica da bacia do Ribeirão Jacutinga, localizado na serra da Mantiqueira no extremo sul da zona da mata de Minas Gerais. Para isso foram necessárias revisões bibliográficas, trabalhos em gabinete, principalmente na plataforma GIS, além de análises de campo para que se obtivesse uma concreta interpretação do contexto geomorfológico local. PALAVRAS CHAVE: cartografia geomorfológica, Ribeirão Jacutinga, Serra da Mantiqueira.
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MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA BACIA DO RIBEIRÃO JACUTINGA, ZONA DA MATA MINEIRA.
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MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA BACIA DO RIBEIRÃO JACUTINGA,
ZONA DA MATA MINEIRA
Carlos Anthony Heider MARTINS Discente do curso de Geografia
Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário
Prof. Adjunto do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Campus Universitário
RESUMO: O presente artigo se pautou na elaboração da carta geomorfológica da bacia do Ribeirão Jacutinga, localizado na serra da Mantiqueira no extremo sul da zona da mata de Minas Gerais. Para isso foram necessárias revisões bibliográficas, trabalhos em gabinete, principalmente na plataforma GIS, além de análises de campo para que se obtivesse uma concreta interpretação do contexto geomorfológico local. PALAVRAS CHAVE: cartografia geomorfológica, Ribeirão Jacutinga, Serra da Mantiqueira.
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ABSTRACT: This article was based on the elaboration of geomorphological letter from the stream of Jacutinga, located in the Serra da Mantiqueira in the extreme south of the forest zone of Minas Gerais basin. For this literature review, work in the office, especially in GIS platform were needed, plus analysis of field should be obtained for a concrete analysis of the local geomorphological context. KEYWORDS: geomorphology, geomorphological mapping, Ribeirão Jacutinga Mantiqueira Mountain Range.
INTRODUÇÃO
Segundo Summerfield (1991), a Geomorfologia estuda as formas de relevo e
os processos endógenos e exógenos responsáveis pela sua gênese e modelagem
ao longo do tempo geológico. Sendo assim, conhecer esses processos,
parcialmente ou em sua totalidade, é ação científica de grande valia para o
estabelecimento das atividades humanas no espaço geográfico (HUGGET, 2007). A
Geomorfologia adaptou-se às novas tecnologias e incorporou em seu rol de técnicas
o mapeamento de grandes unidades do relevo a partir de técnicas de
geoprocessamento e sensoriamento remoto. Segundo Xavier-da-Silva (2007), uma
das maiores contribuições dessa ciência reside justamente na obtenção de dados
extremamente úteis para o planejamento urbano e territorial.
Dando suporte às análises geomorfológicas, a cartografia geomorfológica é um
dos mais importantes veículos de comunicação e análise dos resultados obtidos nos
estudos das formas e da compartimentação do relevo. Deste modo, o mapeamento
geomorfológico, de acordo com Ross (1992), tem como princípio a ordenação
hierárquica dos fatos geomorfológicos, a fim de que possam representá-los em uma
metodologia que agrupe os sucessivos conjuntos de modelados de relevo em
unidades geomorfológicas. A cartografia geomorfológica se faz de grande utilidade
para a gestão físico-territorial, podendo direcionar o uso e ocupação da terra, seja
este de utilidade ambiental, agrícola, urbana ou de atividades minerais e industriais.
Com base nas recomendações da subcomissão de cartografia geomorfológica
da UGI (União Geográfica Internacional), o mapa geomorfológico deve conter dados
essenciais, quais sejam: morfogenéticos, morfográficos, morfométricos,
morfocronológicos e estruturais. No entanto, a comunidade geomorfológica brasileira
padece da falta de uma metodologia unificada para o mapeamento geomorfológico,
bem como para o estabelecimento de uma escala de mapeamento sistemático
capaz de representar todas as informações supracitadas de forma que viabilize uma
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boa leitura do documento cartográfico final, conforme ressaltado por Florenzano et
al. (2008). A respeito desta questão, cabe a seguinte reflexão de Ross (1990 p.55)
“o que parece mais problemático é a questão relativa à padronização ou uniformização da representação cartográfica, pois ao contrário de outros tipos de mapas temáticos, não se conseguiu chegar a um modelo de representação que satisfaça os diferentes interesses dos estudos geomorfológicos”
Ciente das problemáticas inerentes à cartografia geomorfológica, o presente
trabalho assume por incumbência levar a efeito o mapeamento geomorfológico da
bacia do Ribeirão do Jacutinga, localizada no município de Santa Rita do Jacutinga
(MG), circunscrita no domínio geomorfológico referente à faixa de dobramentos
remobilizados (RADAMBRASIL, 1983), inserido na porção meridional da Serra da
Mantiqueira.
METODOLOGIA
A metodologia do presente trabalho congregou procedimentos de compilação
bibliográfica, interpretação de produtos de sensoriamento remoto e das bases
planialtimétricas correspondentes, bem como trabalhos de campo como auxílio na
interpretação do sistema geomorfológico, ocasião na qual foram também
georreferenciados pontos de interesse.
Para o presente trabalho, foi adotada a proposta metodológica propugnada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (NUNES et al. 1994), revista e
aplicada por Cunha (2012), associada ao sistema taxonômico de Tricart (1965),
adaptado ao contexto brasileiro por Ross (1992), sistematizando-se o mapeamento
na unidade de grandeza dada pelos padrões de formas semelhantes.
A rotina de trabalho consistiu em uma compartimentação inicial em imagem de
satélite Landsat (bandas 5, 4 e 3) segundo os elementos texturais para o
reconhecimento dos modelados de agradação (A) e de dissecação (D). Tais
procedimentos se deram sincronicamente a mensuração dos seguintes parâmetros
morfométricos: dimensão interfluvial e profundidade de dissecação, mensurados
diretamente nas folhas topográficas. Tais parâmetros foram representados na
legenda em quadro a parte conforme a proposta de Nunes et al. (op cit), que
prescreve a construção de um quadro síntese para os padrões morfométricos dos
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diferentes tipos de modelado, no qual a dimensão interfluvial é plotada nas colunas e
a profundidade de dissecação nas linhas. Para ambas são atribuídos índices de 1 a
5 em conformidade com os valores medidos (sendo que quanto maior o valor, mais
acentuado é o potencial morfodinâmico). Tais valores se cruzam para formar um
sistema binário indicador do quadro de fragilidade a partir de 25 correlações
possíveis, nas quais a situação 1/1 é representativa do quadro de fragilidade mais
baixa discernível (dimensão interfluvial muito grosseira e entalhe vertical muito
fraco); em extremo oposto, a maior fragilidade potencial se consubstancia no
cruzamento 5/5 (dimensão interfluvial muito fina e entalhe vertical muito forte). A
morfometria foi complementada pela elaboração da carta de declividade, executada
no Software Arc.Gis 10, por meio da ferramenta ArcToolBox a partir de imagens de
radar SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). Em seguida, a declividade foi
correlacionada à profundidade de dissecação para definição da nomenclatura dos
modelados de dissecação, em consonância à proposta de Ponçano et al. (1981).
A apreciação dos aspectos estruturais teve como suporte o mapa geológico
produzido pela CODEMIG (2003), em escala de 1/100.000, que serviu de base para
a elaboração de uma carta com informações litológicas, também editada em ArcGIS.
O documento cartográfico final foi editado em software ArcGis 10 (ESRI) a
partir da carta raster de Santa Rita do Jacutinga, Folha SF-23-Z-A-II-2, (IBGE 1973),
em escala de 1:50000. No mesmo ambiente digital foram inseridos símbolos
representativos de aspectos morfométricos, morfogenéticos e morfodinâmicos, como
focos de arenização, escarpas de falha, etc. As curvas mestras foram mantidas no
documento cartográfico final para fins de visualização da altimetria dos diferentes
compartimentos geomorfológicos mapeados.
ÁREA DE ESTUDO
A Bacia do Ribeirão do Jacutinga está localizada no município de Santa Rita do
Jacutinga, no extremo sul da Zona da Mata Mineira, nas proximidades com a divisa
do estado do Rio de Janeiro. Pode ser localizada pelas coordenadas 22º 00’ e
22º15’ de latitude sul e 44º00’ e 44º15’ de longitude oeste (figura 1).
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Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Ribeirão do Jacutinga.
Em relação à geologia (figura 2), a bacia é composta por cinco grandes
unidades principais e outras três unidades menores, o que resulta em certa
variedade litológica com significações no relevo. Os materiais predominantes são os
gnaisses e os quartzitos, ou seja, rochas metamórficas pré-cambrianas que foram
retrabalhadas em eventos tectônicos posteriores, fundamentalmente durante a
remobilização mesozoica. Percebe-se também que o relevo é significativamente
controlado estruturalmente, verificando-se sobreposições entre conjuntos de formas
e a base geológica.
Os solos da bacia são em sua maioria caracterizados por textura argilosa,
representados basicamente por Latossolos e Argissolos. Em alguns pontos da bacia
onde as declividades são mais acentuadas podem ser encontrados Neossolos
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Litólicos e Quartzarênicos (no compartimento quatzítico) associados ou não a
Cambissolos.
Figura 2. Carta litológica da bacia do Ribeirão do Jacutinga.
Em seus aspectos geomorfológicos, a região caracteriza-se por estar
localizada no domínio dos dobramentos remobilizados inseridos na Mantiqueira
Meridional. Por estar sobre efeito de tectonismo ativo a bacia proporciona uma
variada gama de feições geomorfolólogicas dinamizadas por morros mamelonizados
e presença de cristas alinhadas, patamares escalonados, planícies altimontanas,
entre outras.
De acordo com a classificação de Köppen, a bacia apresenta dois tipos
climáticos diferentes. Na alta bacia, onde a média altimétrica está acima dos 1000
m, avulta o clima tropical de altitude (Cwb), com temperatura média anual abaixo
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dos 18ºC. Na baixa bacia, setor altimetricamente rebaixado, o clima é classificado
como tropical típico, com temperaturas médias anuais acima dos 18ºC.
A vegetação local, de acordo com IBGE (1992), se enquadra no tipo Floresta
Estacional Semidecidual Sub-montana e Floresta Estacional Semidecidual Montana
nas regiões de menor altimetria (baixa bacia). Já na alta bacia ocorrem
agrupamentos de Floresta Estacional Semidecidual Alto-montana e Floresta
Ombrófila Densa Alto-montana, dominante em segmentos escarpados. Nas faixas
O uso da terra na bacia é marcado pela presença da pastagem intercalada a
focos de mata em regeneração, assim como algumas extensões de silvicultura na
parte alta da bacia. A malha urbana da cidade de Santa Rita do Jacutinga encontra-
se à jusante, em sua maioria sobre planícies alúvio-colúvionares.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A área de estudo compreende altitudes entre 1400 m em seu limite norte e 400
m no baixo curso do Ribeirão do Jacutinga, perfazendo uma amplitude altimétrica de
aproximadamente 1000 m. De forma geral, o relevo é movimentado, com
mamelonização bem marcada em morros emoldurados em gnaisses, embutidos
entre cristas gnáissicas e quartzíticas que se sobressaem altimetricamente a compor
os patamares de cimeira na bacia em apreço. A figura 3 consiste na carta
geomorofológica que foi gerada para a área de estudo, reservando-se à figura 4 a
incumbência de representação da legenda, cuja quantidade de informações
demandou, para fins de representação, a organização de uma figura própria.
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Figura 3. Carta geomorfológica da bacia do Ribeirão do Jacutinga.
Figura 4. Legenda da carta geomorfológica da bacia do Ribeirão do Jacutinga.
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Dois padrões gerais, em morros mamelonares e cristas alongadas, perfazem o
conjunto dos modelados de dissecação, distribuídos em dois compartimentos
maiores que separam um domínio altimontano e outro segmento depressionário.
A influência da neotectônica no sistema geomorfológico em questão pode ser
detectada através de anomalias de drenagem em função da própria sensibilidade
destes elementos da paisagem a efeitos deformacionais ativos. Entre as feições
morfotectônicas mais recorrentes inscrevem-se segmentos de canal encaixados
anomalamente retilíneos, deflexões abruptas de cursos d’água com formação de
shutter ridges, capturas fluviais, vales altimontanos desconectados dos níveis de
base locais, entre outros indicativos. Evidências no relevo como a presença de
facetas trapezoidais em vertentes escarpadas, desalinhamento de cristas e
escalonamento de blocos basculados completam o rol de elementos típicos de
deformações neotectônicas.
As evidências supramencionadas são recorrentes na Serra da Mantiqueira,
região geomorfológica de gênese tectônica estruturada em zonas de cisalhamento
de significativa expressão espacial que constituem eixos preferenciais de
basculamento engendradores de abruptos rejeitos verticais, reafeiçoados tectônica e
erosivamente e desalinhados por falhas transcorrentes produtos de campos de
tensão mais recentes. Tal configuração geomorfológica, caracterizada por altos
declives e entalhe profundo, contribui para uma dinâmica gravitacional que se
expressa pela desagregação do material das encostas e por constantes
retrabalhamentos nos fundos de vale, processos estes catalisados pela retirada da
vegetação nativa para a implantação de pastagens, prática que tem proporcionado
um forte aumento dos processos erosivos, mais precisamente a erosão laminar em
conjunto a alguns focos de ravinamento. Estes processos são influenciados
diretamente pela dissecação do relevo, e se estabelecem mais frequentemente em
padrões em morros e morrotes, malgrado tais modelados apresentarem declividades
mais moderadas, sugerindo como fato determinante no desencadeamento de tais
processos físicos o transcurso histórico de desmatamento dessas áreas em prol de
atividades agropastoris. As manifestações erosivas aumentam na alta bacia,
fundamentalmente no compartimento de morros altimontanos, que se definem após
a transposição de degraus reafeiçoados que conectam dois compartimentos
desnivelados altimetricamente de forma deveras acentuada. Em geral, as unidades
mapeadas a partir de morros e morrotes apresentam coberturas argilosas mais
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profundas, com ocorrência de Latossolos e solos com horizonte B textural, os mais
atacados pelas referidas modalidades erosivas. Nos domínios altimontanos, se
avultam a incrementar o quadro morfodinâmico, processos de movimentos de massa
na forma de escorregamentos rotacionais (predominantes) e translacionais, além de
movimentações induzidas por abertura de estradas e corte em segmentos das
vertentes a modificarem os sistemas de atração vigentes.
Em contraposição, na unidade de cristas alinhadas festonadas, mesmo que
caracterizadas por um maior grau de declividade, os processos erosivos são menos
intensos. Os declives desafiadores inibem o fomento de usos mais intensivos, o que
vem favorecendo a manutenção de remanescentes de fisionomias florestais que
atuam veementemente na contenção de processos físicos nas encostas.
Nas cristas dissecadas em patamares escalonados, expressiva personalidade
geomorfológica emoldurada sobre litologia quartzítica, as vertentes encontram-se
atacadas por uma série de focos de arenização gerados pela exposição e expansão
de células arenosas pela ação hídrica e, acessoriamente, eólica. Tal processo é
recorrente ao longo de um vasto plantel de cristas quartzíticas dispostas nas faixas
móveis intracratônicas em função da copiosa exposição das areias quartzosas sob
vegetação aberta de campos rupestres.
As morfologias agradacionais na bacia do Ribeirão do Jacutinga são
caracterizadas por planícies descontínuas presentes tanto nos compartimentos
altimontanos como nos depressionários. Tais planícies são interrompidas por
controles morfotectônicos locais, a exemplo do que se verifica na passagem de uma
falha remobilizada que marca o contato do compartimento de morros alongados
profundamente dissecados e morros e morrotes, situação que determina um
pronunciado encaixe do Ribeirão do Jacutinga após este vencer uma soleira rochosa
e passar a talhar o espelho de falha, exposto em afloramento de gnaisse
cataclástico, densamente diaclasado e submetido a processos de esfoliação
esferoidal, que se conjugam na definição de intensas quedas de blocos. Nesse
setor, o aumento abrupto da energia da corrente tem desencadeado potentes
corridas de detritos intensificadas por “trombas d’água”, o que vem engendrando
profundas reorganizações erosivas, com exumação do assoalho, exposição das
baixas vertentes, formação de caos de blocos e pontos de anastomose em função
da abrasão marginal e posterior acomodação de bancadas sedimentares formadas
tanto por materiais finos como por fenoclastos.
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Na baixa bacia, a planície do tronco coletor principal, interpretada como de
natureza alúvio-coluvionar, o forte controle estrutural engendra uma área de
acumulação estreita e retilínea implantada em linha de falha, com maior
desenvolvimento pela margem direita, pela qual chega a formar um terraço
desnivelado do talvegue em aproximadamente 10 m. A própria planície atualmente
funcional se eleva acima do talvegue, indicando entalhamento vertical significativo.
Praticamente toda ocupada pela malha urbana, a exposição dos depósitos nesse
segmento de planície é restrita. Nos setores altimontanos desenvolvem-se pequenas
planícies alveolares, também descontínuas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia acionada para o mapeamento geomorfológico da bacia do
Ribeirão do Jacutinga se mostrou adequada à escala trabalhada, na qual foi
exequível a compartimentação dos padrões de formas quanto à sua gênese,
morfometria e morfodinâmica, admitindo ainda a inserção de símbolos
representativos de aspectos genéticos, estruturais e acerca da própria dinâmica
atual. Da mesma forma, as referências metodológicas adotadas admitiram
tratamento digital em ArcGIS, ambiente cujas ferramentas faz viável a edição digital
da carta geomorfológica.
A escala de 1/50.000 é referência para uma série de programas voltados para
o planejamento ambiental, como os planos diretores em municípios de considerável
extensão territorial e planos de manejo em unidades de conservação. Para a bacia
do Ribeirão do Jacutinga, a representação a partir dos padrões de formas
semelhantes permitiu uma diferenciação entre os principais processos físicos
vigentes, estreitamente relacionados com as unidades de uso da terra que se
estabelecem. Dessa forma, o mapeamento nesse nível hierárquico é capaz de
discernir, pelo menos em alguma medida, diferentes aptidões de uso da terra e
adequações distintas no que se refere aos sistemas de manejo, o que ressalta o
valor da cartografia geomorfológica no reconhecimento de potencialidades e
restrições de uso da terra, de diferentes quadros de resilência e vulnerabilidade,
servindo diretamente ao planejamento territorial e do seu patrimônio natural
intrínseco.
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